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Apresentação do Diagnóstico
APRESENTAÇÃO
Exemplar significativo da colonização açoriana na Ilha de Santa Catarina, o Sobrado da Dona Lóquinha situa-se num encantador refúgio da ilha, a Costa da Lagoa da Conceição, acessada unicamente por transporte lacustre ou caminhando por trilha.
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Um caminho único, com todos os encantos que a Mata Atlântica pode oferecer e uma ocupação orgânica dos moradores, a maioria descendentes dos antigos colonizadores, portugueses dos Açores. Há muitos resquícios da antiga ocupação, de quando a Costa abrigava engenhos de farinha de mandioca, alambiques e eiras de café. Ainda hoje é possível encontrar pés de bergamota e café pela trilha.
A ocupação da freguesia da Lagoa data de 1750. O sobrado é datado de 1780, um remanescente original da época, que tem seu tombamento municipal junto ao caminho desde 1986 e com processo de tombamento estadual em andamento. Totalmente integrado ao ambiente, as paredes externas construídas com pedra e barro e as internas com adobes assentados sobre as tábuas do assoalho, não sendo descarregada diretamente num baldrame, nem nos barrotes, evidenciando a lógica construtiva, nesse caso, de assoalhar todo o espaço interno para, na sequência, fazer as divisões e compartimentar em cômodos, salas, quartos etc. A cozinha ficava na parte posterior, hoje em ruínas.
DESCRITIVO ARQUITETÔNICO
O revestimento é em duas camadas, pintura à cal. Telhado em quatro águas, com cumeeira curta, em telha capa e canal, arrematado em cimalha de argamassa, com os espigões frontais apresentando acabamento primoroso do sistema construtivo tradicional, em conjunto com os cunhais marcados em argamassa saliente.
Aberturas com enquadramento em madeira, desenho particular no encontro entre ombreira e peitoril, algumas com vestígios de esquadrias, usadas em época posterior à sua construção, na sua maioria possuindo vergas retas, excetuando o conjunto de duas janelas e a porta dos fundos. Esta porta dava acesso internamente à antiga cozinha (hoje inexistente), com vergas em arco abatido, que hoje é uma das portas de acesso ao exterior. A outra porta de acesso se encontra na lateral sul, com um terraço de tijoleiras cerâmicas e guarda-corpo, que possuía detalhes geométricos confeccionados com tijolos maciços.
Piso em assoalho de madeira (grande parte peroba/canela) sobre barrotes em toda área do pavimento térreo e em parte do porão, com lajotas cerâmicas no piso dos intradorsos, terraço e na Eira. A divisão interna dos cômodos quase não sofreu alterações. Pelas evidências e análises, somente o compartimento denominado Quarto 1 sofreu alterações, com a retirada de uma parede entre o Quarto 1 e o compartimento Depósito 1, onde vestígios na alvenaria e no piso deixam evidente, conformando mais uma alcova, não existindo janela nesse compartimento formado. Outra alteração é uma divisória em madeira, instalada no interior do Quarto 1. São dez compartimentos no nivel térreo e o Porão, localizado sob o Quarto 1, Sala 1 e Sala 2 e acessível por duas portas na face Leste e um alçapão na Sala 1. O Porão não possui janelas, mas sim uma seteira na lateral Norte, que tem como detalhe uma enorme pedra in natura, usada como parte da alvenaria lateral, sendo visível tanto pelo lado interno como externo.
A Estratigrafia do revestimento do sobrado apresenta duas camadas, depois da pedra assentada com argila cinza. Os vãos entre as pedras embrechados com pedras menores recebia um emboço de areia grossa, concha moída e solo argiloso avermelhado regularizando a superfície, depois uma camada de menor espessura composta de areia média e cal. Em alguns elementos, com a cimalha, encontramos uma terceira camada, de granulometria muito fina, num traço mais rico em aglomerante ou algum aditivo, resultando num acabamento bem liso, mesmo acabamento encontrado em reboco interno, coberto pela pintura à cal.

Cobertura

Planta-baixa atual - fechamento com tábuas em azul (lado esquerdo acima)

Planta-baixa porão
AS RUÍNAS DA COZINHA
A parte posterior da edificação apresenta resquícios de suas paredes em pedra e barro, mesmo sistema e materiais utilizados no restante do sobrado. A cobertura era feita com caibros roliços num prolongamento da água do telhado na face oeste.

FACHADA OESTE 2022

Fachada interna 1993 (cozinha)

1984 mostra o encontro da antiga Fachada Oeste, hoje em ruínas, e a Fachada Sul, uma das portas de acesso à cozinha

Fachada Oeste em 1984, porta na fachada Norte e a Eira.
MAPEAMENTO DE DANOS
Versão resumida para leitura rápida. Confira o detalhamento no PDF: https://issuu.com/tombo.producoes/docs/diagnostico_redux

1993

2009

2016

março 2020

junho de 2022
FACHADA SUL
A sequência de imagens acima mostra a evolução das deteriorações. Num primeiro momento, uma argamassa no encontro do portal com a alvenaria e a umidade no rodapé externo, respingo do beiral. Depois, vemos todo o contorno do portal da janela pós intervenção com argamassa incompatível, destacando-se à sua maneira, diferente do restante da face. Vemos o revestimento sobre a verga da porta de entrada e uma parte ao lado do medidor de energia com coloração diferente, por serem intervenções feitas posteriormente, sem pintura. Hoje, a fachada toda está com o revestimento comprometido, com umidade, microorganismos e vegetações, agravadas exponencialmente com a falta de telhas no beiral, onde a vegetação de porte fez com que as telhas se deslocassem e suas raízes interferissem estruturalmente na cimalha, deslocando as amarrações dos tijolos maciços na parte central, onde a maior quantidade de água escorre há algum tempo, infiltrando-se tranquilamente entre o revestimento e o substrato, no caso alvenaria de pedra e barro, com a umidade o barro seco da argamassa de assentamento se molha e se desestabiliza, é formada uma rede de raízes que separam o reboco do emboço. O reboco quando úmido, pesa e estufa, desplacando-se e deixando o emboço à mostra, que rapidamente tambem é lixiviado.

Parapeito, 2009

Seu Cassimiro e Dona Lóquinha, 1984
O elemento decorativo localizado no parapeito da entrada principal, confeccionado em tijolo maciço, vasado, não está mais em seu lugar. Alguns elementos que faziam parte do conjunto ainda puderam ser encontrados.

Ilustração do parapeito

1983

1993

1993

1993

2022
FICHA TÉCNICA
Produção Executiva: Tombô Produções Museológicas
Responsável técnico: Marcos Borges (CAU nº A1144-5)
Assistência: Sônia Rocha Melim · Suzana de Souza (CAU no A205850)
Editoração: Fernanda do Canto
Projeto realizado com o Prêmio Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, Edição 2021