T15 - Dezembro 2016

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Dezembro 2016

João Peres Guimarães Membro do Conselho Consultivo da ATP

Vitor Rego Direção Criativa do grupo Goucam

APONTAR AO COURAÇADO

THE TIMES THEY ARE A-CHANGIN'

A vida, das empresas ou das pessoas, é uma sucessão de lutas contra as adversidades. Ter sucesso não implica vencer exaustivamente todas as batalhas. Mas algumas, as mais importantes, não se podem perder. O dia a dia das empresas têxteis portuguesas está repleto de dificuldades: concorrência desmedida e muitas vezes desleal, custos energéticos elevados, carência de profissionais habilitados, falta de apoios financeiros adequados à dimensão das empresas, surdez dos agentes políticos às reais necessidades da indústria, legislação laboral e ambiental desajustada às necessidades e ao tempo que se vive... e por aí fora. Após muito sofrimento a ITV foi capaz de ultrapassar várias adversidades e neste momento é necessário apostar na continuação do crescimento verificado nos últimos anos. Para tal é preciso concentrar-mo-nos no essencial: liberdade e igualdade de oportunidades nas trocas comerciais, o que significa incrementar o número de acordos comerciais (Free Trade Agreements), acelerar os que estão em curso e simplificar os que já existem. Foi com agrado que finalmente assisti à assinatura do CETA (acordo comercial com o Canadá) e com apreensão que acompanho o andamento do TTIP. Mas independentemente da relevância que estes acordos terão para a têxtil portuguesa há um que me parece ainda mais importante e cuja discussão se arrasta há anos: o acordo entre a U.E. e os estados mediterrânicos. A assinatura do PanEuroMed Agreement é essencial para manter o ritmo de crescimento das nossas exportações têxteis. E paralelamente poderia ajudar a fixar no norte de África, em condições humanamente aceitáveis e vantajosas para todas as partes, os migrantes que se aventuram em travessias para a Europa. Nesta convenção, crucial para a ITV, é a questão das Regras de Origem. A nível europeu cada país tem uma industria têxtil com diferentes interesses no que diz respeito à melhor defesa dos seus objectivos o que se refletiu na dificuldade em obter uma posição comum nesta matéria. Após meses de acesa discussão entre os membros que constituem a nossa Federação Europeia – a Euratex – e na qual os interesses da ITV nacional são defendidos apenas e só pela ATP, foi possível , em 2011, chegar a um acordo interno. São regras complicadas sobretudo porque a ITV europeia precisa de se proteger de práticas desonestas e porque as tabelas alfandegárias não refletem as diferentes fases de produção da indústria de um modo adaptado à realidade e necessidade atuais. Penso que é esta uma das mais importantes batalhas que neste momento temos que vencer. E decide-se em Bruxelas. É para lá que devemos apontar as nossas baterias.t

Os estilistas e a indústria devem repensar o mercado, mudar formas de apresentar as suas coleções e os tempos de espera. Vivemos tempos de profundas mudanças na moda, em parte influenciada pelas alterações no clima mundial. As estações do ano deixaram de ser regulares e isso tem contribuído seriamente para maus resultados no negócio da moda. Também os meios de comunicação são um fator de imposição para que algo seja alterado. Durante muitos anos, homens e mulheres esperavam pacientemente pelo período de saldos e promoções. Hoje, todos os dias recebem propostas de descontos e promoções e isso retira, na minha opinião, a força à indústria e ao retalho que deixam de ter margens de rentabilidade. Indústria e criadores devem concentrar esforços para que estações e temporadas sejam reprogramadas. As coleções devem ser pensadas com as tendências mais atualizadas, com propostas mais adequadas ao clima e às necessidades dos compradores. Deixa por isso de fazer sentido pensar em coleções apenas duas vezes ao ano como se fazia antigamente, Verão e Inverno. Hoje os meios de comunicação através de plataformas digitais colocam-nos à distância de um simples clique para oferecer propostas e criar emoções aos clientes. Por outro lado, criadores e indústria têm hoje o seu foco na apresentação e preparação de novas propostas e coleções que asfixiam as linhas de produção com amostras e muitas das vezes os resultados quase não justificam o esforço e o desenvolvimento de tanto trabalho. Hoje temos em qualquer marca excelentes propostas, designs mais atrativos, mais irreverentes, apenas com um objetivo de inovar e pensar em algo que por ser diferente atrai o cliente. Quanto ao futuro, seria importante ter processos de produção mais rápidos, coleções mais reduzidas, coleções menos espaçadas no tempo ajustadas às tendências e ao clima. Perante isto, os criadores terão mais tempo para pensar o desenho e o produto, o esforço financeiro das empresa será mais repartido e os resultados serão talvez com menor esforço mais rentáveis. Em resumo, hoje o comprador deixou de pensar em temporadas e em estações e fundamenta as suas opções de compra em função do gosto e da sua necessidade. Estamos no fim de uma era e no início de outra.t


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