Entre a Cura e o Preconceito - Caderno especial

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VITILIGO: QUANDO A APARÊNCIA É O ÚNICO (E PIOR) SINTOMA O VITILIGO NÃO PRIVA PACIENTES DAS ATIVIDADES NORMAIS, DESAFIO É ENFRENTAR A REAÇÃO NEGATIVA DAS PESSOAS Texto: Natalia Albuquerque Thais Queiroz Fotos: Valter Andrade

A

penas um olhar é o bastante para perceber como o vitiligo influencia a vida do professor de Educação Física Fernando Ferreira. A pele morena, contrastada com as marcas claras no rosto, chama atenção. “As pessoas olham muito para mim. Quando conheço alguém pela primeira vez, percebo o susto que a pessoa leva”, conta. “O vitiligo se manifestou em uma parte horrível do meu corpo. Justamente no rosto”, desabafa. “Se fosse para ter vitiligo, queria que fosse em um lugar escondido, nas costas por exemplo”.

Fernando Ferreira, portador de Vitiligo 20 Entre a cura e o preconceito - 2008

Vítima da doença desde os 15 anos, ele conta que nem sempre foi assim. “No início foram apenas duas marquinhas ao lado da boca, que não chamavam tanta atenção”, lembra. A doença sempre esteve sob controle, até o ano passado, quando passou por momentos difíceis. “Eu estava mal porque não conseguia emprego. As manchas tomaram todo o meu rosto naquela época”. Fernando leva uma vida normal, embora reconheça que há momentos em que o preconceito revela-se evidente. Como quando estava procurando emprego, por exemplo. “Senti que minha aparência influenciou bastante em algumas entrevistas, até porque as manchas cobrem a maioria do meu rosto”, admite. Ele diz que busca nas sessões de terapia a força para diminuir os efeitos do vitiligo, já que a doença se manifesta principalmente em momentos emocionais difíceis. “Meu terapeuta me ajuda a administrar os problemas do dia-a-dia”, conclui. O problema pelo qual Fernando passa é o mesmo do vendedor João Carlos da Silva, 55 anos, que convive com o vitiligo há meio século. Tinha apenas cinco anos quando os primeiros sinais apareceram nos joelhos. Ele conta que na época da escola era tratado de um jeito diferente dos demais. “As crianças me olhavam desconfiadas porque eu era diferente do normal. Elas não estavam acostumadas. Eu era vítima de apelidos como ‘pintado’ e ‘enferrujado’”, diz. Hoje o vitiligo atinge as mãos, pés, o tórax e uma parte do rosto de João. Ele lembra que já passou por momentos constrangedores devido à sua aparência. “Em uma visita de trabalho eu cheguei em uma loja e estiquei a mão para cumprimentar o dono. Ele iria


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