Modelos de Negócio das Organizações de Economia Social

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Modelos de Negócio das Organizações de Economia Social Luís Matos Martins, Teresa Preta Territórios Criativos

Abstract—As organizações de Economia Social assumem um papel fundamental no desenvolvimento da sociedade e deparamse com um desafio constante: identificar estratégias que garantam a sua sustentabilidade financeira. Este paper pretende refletir, baseando-se em revisão de literatura, em artigos científicos e em estudos de caso, sobre os modelos de negócio das organizações de Economia Social, através de uma abordagem que visa minimizar os patrocínios e a dependência de terceiros e que potencia a geração e partilha de conhecimento. Keywords-Economia Social; organizações; sustentabilidade financeira; modelos de negócio

I. INTRODUÇÃO As organizações de Economia Social, que assumem um papel fundamental no desenvolvimento da sociedade, deparamse com desafios constantes na identificação de estratégias que garantam a sua sustentabilidade financeira. Para uma abordagem clara ao tema da sustentabilidade financeira das organizações de Economia Social, que por norma possuem escassos recursos humanos e financeiros, importa refletir sobre o conceito de Economia Social, as suas origens e definições, bem como o tipo de entidades que podem ser assim denominadas. Na Europa, e no caso específico de Portugal, estas organizações representam uma fatia importante do emprego, e são agentes de elevado impacto na sociedade e também na economia. É um setor que responde de forma imediata e inovadora a novos problemas sociais, quando o Estado e o setor privado ainda não satisfizeram as necessidades do mercado. Em traços gerais, estas organizações de génese distinta estão no mercado, a competir com o Estado e com o setor privado, pelo que urge adaptarem-se e melhorarem os seus modelos de gestão de forma a assegurarem a sua sustentabilidade e competitividade. É importante que as instituições mais antigas se modernizem, se profissionalizem, visem a eficiência, caminhem em direção à não dependência do Estado e repliquem os modelos de gestão das empresas, aceitando a ideia de que se pode ter lucro, e que este seja reinvestido na concretização da sua missão social e não no enriquecimento dos seus associados ou dirigentes.

Através da análise dos modelos de negócio de algumas entidades de Economia Social portuguesas e das suas fontes de receita, bem como da disponibilização de ferramentas de gestão adaptadas, espera-se que estas organizações encontrem estratégias que visem minimizar os patrocínios e a dependência de terceiros. II.

A ECONOMIA SOCIAL

A. A origem do conceito A origem do conceito de economia social, nem como os seus “reacendimentos” ao longo da história, foram motivados para dar resposta às necessidades sociais de grupos mais desfavorecidos. A economia social aparece no início do século XIX, consequência do impacto negativo e das injustiças sociais provocadas pela revolução industrial, nomeadamente com o aparecimento do proletariado, que vivia em condições de vida e de trabalho precárias. Como se refere no relatório do Ciriec (2017: 31), para responder às necessidades desta “nova sociedade industrial”, surgiram associações e outras organizações de benevolência, como as cooperativas e as mutualidades, que garantiam o rendimento dos trabalhadores, os riscos de saúde, etc. O “reacendimento do conceito” (Roque Amaro, 2015) ocorre depois, na década de 80 dos anos XX, com a globalização e o agravamento dos problemas sociais, como a imigração, o desemprego. As organizações de economia social distanciam-se do modus operandi de desenvolvimento de ações de caridade e filantrópicas sem contrapartidas, promovendo atividades em que o lucro não é o objetivo fundamental, mas um meio para a sustentabilidade, e em que os beneficiários são ativos no seu próprio destino. Assim, a motivação das organizações de economia social deve promover a velha máxima: “Não dar o peixe, mas ensinar a pescar”. Marcondes (2007) vai mais longe, afirmando que “dar o peixe a quem tem fome é filantropia; ensinar a pescar para garantir o alimento é responsabilidade social; no entanto, cuidar da qualidade da água do rio, preservar margens e nascentes, cuidar de poluição e assoreamento é sustentabilidade”. B. A evolução dos conceitos Até se chegar recentemente a um conceito instituído de “economia social” em Portugal, pela Lei de Bases da Economia


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