O poder do sim
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O poder do sim
Um dramaturgo procura entender a crise financeira
David Hare
tradução Clara Carvalho
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Sobre esta edição
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Prefácio O retorno da dramaturgia verbal: o teatro verbatim de David Hare Anna Stegh Camati
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O poder do sim: um dramaturgo procura entender a crise financeira
141 Posfácio Leda Maria Paulani Anexos 165 Ficha técnica da estreia 167 Notas biográficas sobre os personagens 172 Glossário – Termos, personalidades e instituições financeiras 180
Sobre o autor
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Sobre a tradutora
Sobre esta edição No dia 15 de setembro de 2008, o estadunidense Lehman Brothers foi à bancarrota. Aparentemente, não havia motivo para preocupações, já que se tratava de um banco de investimento que atendia a investidores qualificados e habituados ao mercado financeiro. Se eles assumiram os riscos, que aceitassem as consequências! Assim pensou o Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, ao recusar-se a intervir para salvá-lo. O que este não previa era que, ao vê-lo evaporar, milhares de pessoas corressem às filas de todos os bancos para resgatar o dinheiro de suas contas. Nenhum banco, por mais sólido que fosse, poderia dar conta de tamanha demanda sem ir à falência. Diante da crise instaurada naquele ano, surgiram dúvidas. Afinal, o que teria acontecido naquela data? O que estava por trás do colapso do Lehman Brothers? O poder do sim, de David Hare, nasceu como uma tentativa de responder a essas questões. Leigo, como talvez seja a grande maioria dos leitores, mais do que trazer respostas às nossas dúvidas, o autor se faz personagem de sua própria peça e questiona diretamente os envolvidos nesse alvoroçado sistema financeiro: investidores, presidentes de bancos, jornalistas, políticos, acadêmicos etc. O poder do sim fica, desse modo, a meio caminho entre um diálogo ficcional e uma sequência de relatos e depoimentos documentais, os quais se acumulam e ficam ressoando, sem conduzir a uma síntese. No prefácio à edição brasileira, Anna Stegh Camati aborda esses procedimentos à luz de uma nova tendência da dramaturgia pós-dramática, que hoje tem ganhado força e já ocupa o centro da cena teatral britânica: o teatro verbatim. Trata-se de uma das maneiras de retorno da dramaturgia verbal – mas 8
não do drama aristotélico –, após um período em que os experimentos cênicos e a performance tendiam a relegar o texto a um lugar subalterno. A economista Leda Maria Paulani ressalta, em seu posfácio, a inversão entre ficção e realidade presente na peça e as vantagens que essa escolha formal traz para o teatro documental, ao permitir retratar o real na chave do absurdo e do irracional, que lhe são próprios quando a matéria é o sistema financeiro. Instalando-se neste lugar entre ficção e realidade, Paulani separa os personagens em diferentes grupos, conforme a posição que cada um ocupa nesse tumultuado universo, e, na sequência, acompanha suas falas e diálogos ao longo dos nove quadros que compõem a peça, retomando em cada um deles os fios da realidade a que se referem. Dada a complexidade da trama, esta edição traz também, na seção “Anexos”, Notas biográficas sobre os personagens (p. 167), na ordem em que aparecem no texto de Hare, e um Glossário de termos, personalidades e instituições financeiras (p. 172). Espera-se que com esses paratextos, o assunto de que trata esta obra torne-se menos complexo e que se possa debatê-lo tanto a partir do contexto econômico e financeiro, com base na atual situação brasileira, como do dramatúrgico.
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Prefácio O retorno da dramaturgia verbal: o teatro verbatim de David Hare Anna Stegh Camati
Em 1999, Hans-Thies Lehmann lança Postdramatisches Theater, uma de suas obras mais polêmicas, traduzida para o português sob o título Teatro pós-dramático, em 2007.1 Ao longo de seu influente estudo, o teórico alemão discorre sobre a pluralidade da cena das três últimas décadas do século XX que rompe com a tradição dramática, principalmente com elementos aristotélicos, tais como a imitação ilusionista, o diálogo interpessoal e a ação. A esse respeito, o crítico francês Patrice Pavis esclarece que tudo o que até meados do século XX “passava pela marca do dramático – diálogos, conflito e situação dramática, noção de personagem – não é mais condição sine qua non do texto destinado à cena ou nela usado”.2 É importante mencionar, no entanto, que os espetáculos teatrais, denominados por Lehmann de pós-dramáticos e descritos em seu livro, não apresentam características comuns, mas se definem por práticas cênicas radicalmente diferentes umas das outras. Apesar de o cênico e o performativo serem privilegiados em seu livro, Lehmann, em uma palestra proferida no Instituto Goethe de São Paulo em 2003, publicada na revista Sala Preta no mesmo
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Hans-Thies Lehmann, Teatro pós-dramático. Tradução de Pedro Süssekind. São Paulo: Cosac Naify, 2007. Patrice Pavis, Dicionário de Teatro. Tradução sob a direção de Jacó Guinsburg e Maria Lucia Pereira. São Paulo: Perspectiva, 1999, p. 405.