Sobre a arrogância Reverendo Gyoten Shirai Matéria de Estudo para o Núcleo de Fevereiro
Havia um samurai chamado Miyamoto Musashi (cerca de 1584 – 1645) no início do Período Edo do Japão. Sua máxima é a seguinte: “Todos, além de mim, são meus mestres”. Pois bem, a “arrogância” é algo com que devemos nos preocupar nos exercícios da prática da fé. Arrogância refere-se ao fato de orgulhar-se por se considerar importante, desprezando os demais, e o budismo revela os sete tipos de arrogância. O primeiro é “arrogância (man)”. É a pessoa formar um conceito em relação a alguém que está abaixo dela: “ele é inferior a mim”. E também julgar quem está no mesmo nível dela: “ele está no mesmo nível”. É um tipo de percepção formada por todos e que, à primeira vista, pode parecer um julgamento adequado, mas para fazer essa comparação de si mesmo com os demais, já está escondido o broto da arrogância. O segundo é “arrogância por presunção (ka man)”. É formar o conceito de que uma pessoa é inferior a si, quando ela está no mesmo nível, ou então, de que alguém está no mesmo nível, quando na verdade lhe é superior. Ou seja, é ter uma opinião excessivamente boa e elevada sobre si mesmo. O terceiro é “arrogância por excesso de presunção (man ka man)”. É considerar alguém que lhe é superior como alguém inferior a si. É um pensamento tolo, de desdenhar alguém que na verdade lhe é superior. O quarto é “arrogância por egoísmo (ga man)”. Esse termo, em japonês “gaman” é utilizado na sociedade com o sentido de “resistir e suportar”. Mas o seu sentido original é: “arrogância de considerar a si mesmo como o mais elevado”. Pensar: “eu galguei essa posição, sem depender da ajuda de ninguém” também se encaixa nesta “arrogância por egoísmo”. O quinto é “arrogância superlativa (zojo man)”. É pensar que já atingiu a percepção, embora ainda não tenha compreendido o budismo. No Capítulo Kanji, décimo terceiro do Sutra de Lótus, está revelado que há três tipos de “arrogância superlativa (zojoman)”: 1. arrogância superlativa dos leigos (zokushu zojoman): pessoas leigas que desconhecem o budismo e insultam e caluniam o Devoto do Sutra de Lótus; 2. arrogância superlativa dos clérigos: sacerdotes que se opõem ao Devoto da Verdadeira Lei, ludibriam as pessoas com o seu discernimento distorcido, adulam a quem considera ser mais poderoso e julgam ser comparáveis a um Buda. 3. arrogância superlativa dos veneráveis: orientadores
K A I S E N
que, embora se apresentem como alguém respeitável, na realidade explanam sobre o ensino visando o benefício próprio e são aclamados na sociedade como se fossem verdadeiros santos. O sexto é “arrogância subserviente (hi man)”. É ter o seguinte pensamento sobre alguém que lhe é incomparavelmente superior: “eu sou apenas um pouco inferior a ele” ou “ele não é inferior a mim”. Aparenta modéstia, mas na realidade está olhando a pessoa com altivez. Embora seja “incomparavelmente” inferior à pessoa, considerar que é “apenas um pouco” inferior a ela, não passa, afinal, de uma supervalorização de si próprio. Pensar: “há muitas pessoas superiores a mim, mas também não sou tão inferior” é arrogância. O sétimo é “arrogância por distorção (ja man)”. É pensar, mesmo não tendo virtudes, que: “sou uma pessoa cheia de virtudes; sou importante”. E, apesar de ter feito algo errado, alegar que agiu corretamente. Uma pessoa assim tem forte tendência de falar bem de si mesma. Vamos fazer uma autoavaliação para verificar se o nosso coração não contém arrogância. Certamente vamos constatar que todos nós possuímos arrogância, seja em grandes ou menores proporções. É importante vivermos a nossa vida com algum tipo de convicção ou confiança em si mesmo. Mas quando nos esquecemos da humildade de sempre fazer uma autorreflexão, essa convicção ou confiança em si mesmo se transforma em arrogância, e até a convicção na Verdadeira Lei poderá vir a se tornar a arrogância por distorção. Dessa forma, não conseguirá avaliar corretamente os fatos e virá a cometer o erro de caluniar a Verdadeira Lei. Se isso ocorrer, até os benefícios da Lei Mística escorrerão e terá, como resultado, angústias e sofrimentos. Nichiren Daishonin afirma na escritura “Carta a Niike (Niike Gosho)”: Muitas pessoas que começam a crer neste Sutra parecem prosseguir na prática da fé, mas no meio do caminho se enfraquecem na fé, não reverenciam mais os sacerdotes nem fazem oferendas e, tornando-se arrogantes, expõem opiniões distorcidas. Deve-se temer isto; deve-se temer! Façam a prática da fé, do início ao fim, senão arrependerse-ão. (Heisei Shimpen Gosho, pág. 1457)
Coloquemos esse dito dourado em prática e, sem nos esquecermos da alegria que sentimos no início da conversão, vamos nos dedicar ao gongyo, recitação de daimoku, e realizar o shakubuku e a semeadura!
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