Revista Tela Viva - 245 - Março de 2014

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anos. As grades mudam a cada seis meses, não dá para esperar, então os produtores estão pondo dinheiro do próprio bolso”, disse Krishna Mahon, do History. Mônica, da Discovery, também lamentou o veto, para efeito de cotas, do uso de formatos internacionais. “O Brasil tem capacidade, mas há carência de projetos bem estruturados. Um programa como ‘Desafio em Dose Dupla’ é 100% nacional, toda a equipe, os talentos. Mas não entra na cota porque é formato estrangeiro, nos faz pensar se vale a pena produzir. No momento em que a indústria está se capacitando, poderia se beneficiar do formato internacional, traz experiência, aprendizado”, disse. Produtores Do lado da produção, a lei também é vista como positiva, mas os gargalos ainda são enormes. “A lei é um marco. Produzimos cinco séries em 21 anos, e agora, só no ultimo ano e meio, fizemos oito séries e temos seis em desenvolvimento”, contou Andrea Barata Ribeiro, da O2. Mas ela se queixa da burocratização. “Tenho mais gente cuidando de Ancine do que de produção, metade do meu tempo é para lidar com questões burocráticas”, conta. O produtor Marcio Yatsuda, da Movioca, aproveitou seu background em TI para contribuir no debate. “O Brasil tem uma lei abrangente em documentos digitais, a lei de pagamentos permite que documento digital tenha validade legal. A Ancine poderia usar isso, acabar com o envio de papel”. “O timing na aprovação de projetos cria uma deturpação. Nosso caso mais exitoso levou nove meses da aprovação aos recursos.

“Muito do que nos pedem são formas de borrar os limites do que a lei estabelece, e isso não vamos permitir.” Manoel Rangel, da Ancine

Como existe mais dinheiro e possibilidades de negocio, as empresas que têm alavancagem são competitivas, podem esperar um ano. Os canais estão privilegiando estas empresas, o que diminui a competitividade com base na criação”, disse o produtor Belisário França. Andrea, da O2, diz que a questão da propriedade da produção deveria ser mais flexível. Segundo ela, as verbas de captação são limitadas, e o mercado está aquecido, com cachês altos, o que dificulta a realização de produções de maior valor. “Mesmo que o canal queira por mais dinheiro, fazer coisas maiores, não faz, porque não terá os direitos. Só faz sitcom, que não passa de R$ 200 mil o episódio. Um ‘Game of Thrones’ não tem como fazer, nenhum canal vai botar R$ 30 milhões”, diz a produtora. “É legal a Ancine proteger o produtor, mas tem que pensar outras possibilidades. Perdi uma série cara porque o canal ia financiar R$ 15 milhões, o fundo setorial R$ 3 milhões, e eu ia ficar com os direitos e poderia vender depois para um concorrente”, conclui.

Quanto às reprises, ele diz que a agência continua acreditando na autorregulamentação. “Detectamos esforços dos programadores. A pressão interna é positiva”, afirmou. Na questão dos preços de produção, ele diz que há um esforço central na produção de conteúdo de alto valor agregado, que possa viajar para outras janelas. Ele lembra que a Ancine também teve um grande desafio de adaptação, com suas novas funções de fiscalização e a explosão de demanda. “O mercado aquecido rebate lá de maneira forte, e não recebemos os meios para nos expandir. O acréscimo de servidores está chegando agora, bem como os recursos de TI, mas não na velocidade necessária”, disse Rangel. Ele conta que a agência investe hoje de 24% a 30% de seu orçamento na área de TI, para atender às demandas. “Nossa aposta principal para resolver os gargalos é no desenvolvimento de sistemas. Mas há toda a dificuldade da administração pública, a forma rocambolesca de contratar. Temos que particionar a contratação de um sistema em cinco empresas diferentes, que têm que fazer um único produto. Aí a contratada perde a equipe no meio do processo... nessa área há muita escassez de mão de obra”, aponta.

ancine quer estabilidade das regras, mas já cogita rever questões pontuais.

Respostas Na sessão em que recebeu estes comentários e deu sua resposta, Manoel Rangel disse que a premissa é a estabilidade das regras da lei e regulamentos, “mas entendemos que há massa crítica para examinar questões pontuais”. Segundo ele, estas mudanças estão incorporadas na agenda regulatória deste ano. “Mas não é simples, tem que encontrar um ponto de equilíbrio entre interesses diversos. Um movimento pode resolver uma parte do problema, mas criar outro”, disse.

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O jornalista viajou a convite do Rio Content Market.

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