TEATRO-BAILE, INSTAURANDO A FESTA! EDIÇÃO Nº 0 - INVERNO DE 2016 UMA PUBLICAÇÃO DA CTI - CIA TEATRO DA INVESTIGAÇÃO
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“POR QUE EU FAÇO TEATRO POPULAR? Porque eu acho que o povo precisa muita mais do teatro do que as elites. O povo precisa de teatro, porque o povo vai encontrar no teatro uma resposta para perguntas que eles não conseguiram respostas, e que o teatro pode ajuda-los a pensar nisso. Não acho que o teatro dê palavras de ordem, o teatro não dá palavras de ordem, o teatro ajuda a pensar. Quando uma peça de teatro é boa, a gente entra de um jeito e quando a gente sai da peça a gente sai OUTRO.’’ CHICO DE ASSIS (1933-2015)
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ÍNDICE 06 MÃOS À OBRA! 10 APRESENTAÇÃO
12 INVESTIGAR É PRECISO 13 PEQUENO CORDEL 14 LEITE PÃO 15 TRAJETÓRIA 16 NÚCLEO ARTÍSTICO 20 OS TRANSFORMADORES 22 OS CONVIDADOS 23 INSTAURANDO A FESTA
A OLARIA DO JACKSON DO PANDEIRO VOLTA ÀS AULAS
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26 VIVER A FESTA 27 APRENDER
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28 MEMÓRIAS
29 CONSTRUINDO UM CAMINHO
32 A CASA DE FARINHA DO GONZAGÃO 34 MANIFESTO DE IEMANJÁ! 36 QUEBRADAS 37 COZINHAR O ESPETÁCULO 38 DESCONTRUÇÃO 39 BAIÃO DE DOIS 40 RECEITAS 42 RELATO DE UMA VIVÊNCIA 48 A IMPORTÂNCIA DE UMA SEDE 50 O BODE 52 A SARAVAN 53 AGRADECIMENTOS 56 FICHA TÉCNICA
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Muito prazer, Sou a Cia. Teatro da Investigação, Mas pode me chamar de CTI. Venho com meu TEATRO-BAILE, Mas não foi mole chegar até aqui; Venho lá de dois mil e três, Lá se vão treze anos, Vividos um de cada vez, Paixão, vocação, abnegação, devoção, Inspiração, Transpiração, transpiração, transpiração; Na orquestra do meu peito Batem muitos corações, Cores, ações; Trago no peito o sentimento do mundo, O desejo transformações; Na estrada que traço até aqui, Sempre me reinvento, Reinvento a fé, O fazer, a força, o prazer, o querer; Até que em dois mil e doze, Iluminado pela obra de Luiz Gonzaga, Se reavivou o meu fazer teatral, Foi um divisor de águas, Que me fez dar um passo além do normal;
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Chamo de TEATRO BAILE, O Teatro, Que põe o público pra dançar, Dançar o jogo do Teatro, Que é o jogo que eu sei jogar; E agora esse é o farol, Que ilumina o meu caminhar Eu vou seguindo com o meu TEATRO-BAILE Teatro-Bailando sem parar; Agora é a vez de INSTAURAR A FESTA, Juntando a Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro; E do homem e da mulher comuns, cada vez mais, Me aproximar; Me aproximar por inteiro; Atualizar o espaço da festa, Do povo brasileiro; Do homem e da mulher A festa popular; Do povo periférico, Do povo marginal, Que me faz imaginar; A porta está aberta, Pode entrar; Muito prazer, Sou a Cia. Teatro da Investigação, Mas pode me chamar de
CTI.
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Luiz Gonzaga abre passagem para Jackson do Pandeiro.
É teatro e é baile, É baile e é teatro, Viva o Brasil, o país da contradição. Aqui deu o rei do ritmo, aqui deu o rei do baião. Morar é preciso, viver não é preciso não. Da farinha, sustento, sustança, renda; Da chuva, fartura, alegria, vida; Do trabalho, dureza, padecer, resistência; Da luta, labuta. Do barro, tijolo, teto;
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Da luta, labuta. Do barro, fortaleza, alegria, tristeza, trabalho festa; Vamos fazer desse lugar nosso lugar de viver, comer, beber, morar. Bora, viver, comer-morar! Viva o povo brasileiro! Viva Luz Gonzaga! Viva Jackson do Pandeiro!
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MÃOS À OBRA!
Por Geovane Fermac
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er contemplado significou à CTI a possibilidade de dar continuidade a uma pesquisa que desenvolvemos desde 2012, quando iniciamos os trabalhos para criação de A Casa de Farinha do Gonzagão. A pesquisa que intitulamos TEATRO-BAILE já nos rendeu duas peças (“A Casa de Farinha do Gonzagão” em 2012 e “A Olaria do Jackson do Pandeiro em” 2015) e uma Instalação/documentário/festa (A Feira de Chico, Gonzaga e Jackson em 2015.) E com a realização do projeto percebemos o quanto ainda temos que caminhar, o quanto ainda podemos investigar e quanto trabalho temos pela frente. O projeto Teatro Baile Instaurando a Festa da CTI – Não foi só uma circulação de repertório, Cia. Teatro da Investigação da Cooperativa Paulista foi a possibilidade de olharmos para os trabalhos de Teatro é contemplado na 2ª Edição do Prêmio Zé que tínhamos em mãos e poder revisitá-los, moRenato de difusão e circulação de Teatro da Secre- dificá-los e testá-los de acordo com o material taria municipal de Cultura da Cidade de São Paulo. que íamos colhendo a cada apresentação, a cada troca de experiência que tínhamos com o público nos lugares onde passamos, na poesia que deixaNão podemos negar nossa mos e principalmente nas poesias que trouxemos.
alegria!
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“O mais importante no Teatro é o público” (Chico de Assis, Mestre de dramaturgia do SemDA, 1933 - 2015). Para oferecer ao público o melhor de nós, identificamos que precisaríamos de ajuda, teatro não se faz sozinho. Decidimos convidar alguns artistas para nos orientar nessa tarefa. Chamamos o Carlos Simione do grupo LUME para fazer um trabalho de Corpo e Voz, A Cida Almeida para máscara e interpretação, o Sérgio de Carvalho da Cia. do
Latão para falar de Dramaturgia, O Fernando Alabê do Coletivo Negro e Fefê Camilo para um treinamento de percussão e o José Cetra para acompanhar e documentar o processo. O processo teve início em setembro de 2015, com reuniões de produção para definirmos uma agenda de atividade para o período setembro 2015 à março de 2016. Decidimos: Ensaios e treinamentos às quintas e sextas das 13hs às 22hs; Reunião de produção segunda, terça e quarta das 10hs às 18hs; Apresentações/festas aos sábados e/ou domingos com chegada no bairro escolhido às 10hs, onde iniciaríamos o processo de instauração da festa. O processo foi rico e transformador. Tivemos uma linda experiência baseada na escuta e no olhar para o outro, tanto entre os atuadores quanto as pessoas do público que participavam ativamente das peças. A troca foi significativa e acrescentou muito no desenvolver do projeto, começamos de um jeito e termimamos de outro, sim o teatro modificou a CTI também, não fomos apenas reprodutores de uma ideia, nos deixamos levar pelas histórias das pessoas e essas histórias nos contagiaram e nos proporcionaram a reflexão de que temos um caminho longo pela frente.
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O Teatro-Baile chega e instaura a festa. Estabelece ali a mudança no cotidiano, e faz a proposição de uma espaço poético, aberto, fértil para participação do público. A festa se faz presente em todas as sociedades, seja ela celebração, comemoração, fruição, diversão, espetáculo, ritual, brincadeira, investimento, trabalho, religião. Inúmeras são as festas, ao mesmo tempo em que são únicas, singulares. Cada uma delas exprime o modo de viver dos grupos sociais, que nelas produzem e reproduzem sentidos e significados diversos. Desse modo, diz de nós mesmos, de nossas sociedades e das relações que as pessoas estabelecem entre os grupos com seus mitos, com o sagrado, o simbólico, uma ancestralidade, a história. Numa perspectiva sócio antropológica, investigar sobre a festa, portanto, é compreender um pouco mais sobre nós mesmos e nossa vida em sociedade.
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INVESTIGAR É PRECISO A importância de realizarmos a circulação em comunidades onde há ocupação de trabalhadores sem teto é que essas comunidades tem pouco ou nenhum equipamento cultural, o nosso público alvo está nestas comunidades que geralmente são formadas por homens e mulheres comuns que tem raízes no nordeste do país e que sentem na pele as adversidades de viver precariamente, sem uma moradia digna na cidade de São Paulo.
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PEQUENO CORDEL DO INSTAURANDO A FESTA Por Edu Brisa
E quando chegô Agosto, Eu logo tomei gosto, Foi quando vei a Notícia, Do Prêmio Zé Renato, Eu achei o maior barato, Botô todo mundo pra trabaiá; Setembro Planejamento, Outubro chegô que eu nem vi, Daí me danei nos ensaio, que tambem é trabaio, Foi tanto treinamento, Desenvolvimento, Com gente da mais alta estirpe, Que como aquela eu nunca vi, Tinha: Carlos (Simioni) Cida (Almeida) Fernando (Alabê) Fefê (Percussa) José (Cetra) Sérgio (De Carvalho) Que alumiô nosso caminho, E caminhando Vamô seguí;
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E quado chegô Novembro, Eu tava tinindo, Foi aquele reboliço, Foi aquele alvoroço, Que eu fiquei até com medo de trupicá por riba do pescoço, Assim como o sábio que sabia que o sabiá sabia assobiá, Aumentemo nossa qualidade e capacidade de trabaiá; E no decorrer de Novrebro de 2015 a Fevereiro de 2016 Fizemos teatro-baile em comunidades – 16 Era tanta gente interessada, Nos portão, portão E nas calçada, Que chega o coração palpitava; Mais de mil batida de cada vez; Esse trabalho deu foi o que falá; Fez muita gente trabaiá; Só que eu contei foi 23, Isso do trabaiadô direto, Já os indireto não deu ném pra contá. Não digo que já posso morrê; Mas já posso dizê que já vivi. Eu fiz Teatro-baile; Bem pertinho do povo; E tô pronto pra fazê de novo. Pode escrevê, Pois eu já Escrevi.
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TRAJETÓRIA - CTI
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undada em 2003, A CTI - CIA TEATRO DA INVESTIGAÇÃO desenvolve desde então pesquisa continuada de experimentação cênica e dramatúrgica que investiga o homem e a mulher comum do Brasil. Ao longo desses doze anos a Cia. realizou 16 espetáculos, participou de festivais importantes como o Mostra de dramaturgia do Arena, Festival de Curitiba 2011, III Festival de Cenas cômicas do espaço Parlapatões 2009, 2ª Mostra Cena Breve Curitiba 2006 e I Mostra de dramaturgia Contemporânea do Teatro do Centro da Terra 2005. Foi contemplada em 2014 com o edital ProAC 14/2014 Circulação para Teatro de Rua realizando circulação com a peça baile “A CASA DE FARINHA DO GONZAGÃO” por 15 cidades da grande São Paulo atingindo um publico aproximado de 5000 pessoas. Em 2015 é contemplada com a 2ª Edição do Prêmio Zé Renato com o projeto TEATRO BAILE INSTAURANDO A FESTA que circulará por 16 regiões da periferia da cidade de São Paulo. A CTI põe em ação o homem e a mulher comum do Brasil e busca captar com humor e profundidade a alma do seu povo. Vem exercitando a experimentação cênica no espaço público: rua, parques, tendas, praças, na busca de diversidade de linguagens e possibilidades de investigar a fundo a relação do público com o nosso material artístico, colocando o público como participante do evento teatral, não só como contemplador, mas principalmente como atuador, que interfere e acrescenta à obra. Acreditamos que o teatro é o lugar de encontro, e assim sendo, buscamos a cada novo trabalho criar um espaço para a participação do público sem a dicotomia de palco e plateia, ressignificando o espaço da Rua, o Teatro-baile promove uma interação do público com o bem cultural interferindo propositivamente na rotina da Rua e do público.
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Trajetória
A FEIRA DE CHICO GONZAGA E JACKSON 2016
A OLARIA DO JACKSON DO PANDEIRO 2015
CORA CORALINA Removendo Pedras e Plantado Flores - 2014
A CASA DE FARINHA DO GONZAGÃO - 2012
O BANG DO LOCO - 2011
SUDATÓRIUM - 2009 18 | TEATRO-BAILE
EFÊMEROS#2 – monólogos - 2010
CTI “abre as pernas” 06 ANOS DE INVESTIGAÇÃO - 2009
PIANTAO - 2007
A QUASE VIRGEM - 2009
CRUA REALIZADE - 2009 ALARIDO - 2008
ENCALACRADO - 2005
360 DO AVESSO - 2006
PONTE CULTURAL - Janeiro de 2007 Tanhaçu – BA
A COR DA ROSA – 2005
ANTE-O-ÁLCOOL - 2003 INSTAURANDO A FESTA | 19
EDU BRISA
CAMILA BORGES
CRIS
HARRY DE CASTRO
JOSI ROUSE
BETO BELLINATI 20 | TEATRO-BAILE
JULIANA CRIFES
THA
CAMILO
APYÓKA
GEOVANE FERMAC
CAROL GUIMARIS
NATÁLIA BAVIERA
TALLY CAMPOS
DANUZA NOVAES
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ARTISTAS TRANSFORMADORES
CARLOS SIMIONI
CIDA ALMEIDA
FEFÊ CAMILO
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FERNANDO ALABÊ
SÉRGIO DE CARVALHO
JOSÉ CETRA
ARTISTAS CONVIDADOS
ANA CRISTINA RAMOS
RAYRA MACIEL
CELSO CARRAMENHA
MARIANA PAUDARCO
WILAME SIMÕES
SELMA PAIVA
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A OLARIA DO JACKSON DO PANDEIRO Renan da Silva Leal
Uma obra teatral que faz uma forte crítica social, sobre os direitos políticos dos sem teto. No decorrer da peça é mostrado o percurso histórico da maioria dos brasileiros que se encontram na condição de sem teto. Na grande maioria agricultores que saem da escassez e da miséria para tentar a vida em grandes capitais. E ao fazerem tal migração, são marginalizados e abandonados pelo poder público. A consequência dessa violação dos direitos humanos são as invasões de propriedades privadas ou públicas com a intenção de fundarem moradias. Essas com potencial de favelas, que futuramente causam problemas sociais como: desmatamento de áreas sobre proteção ambiental, saturamento de serviços públicos (escolas, hospitais, segurança pública, etc.) e a própria segurança das famílias em áreas de risco. Diante dessa possibilidade, o governo impõe a retirada dessas pessoas. Muitas das vezes de forma violenta e turbulenta. Sem se importar em oferecer uma recolocação de moradia digna. No sentido de criticar e provocar os espectadores, A Olaria do Jackson (do Pandeiro), instiga-nos a seguinte reflexão: Quem foi o primeiro a cercar o primeiro pedaço de terra e torná-la propriedade privada? Por que os excluídos só se tornam cidadãos em épocas de campanha eleitoral? A finalidade de nos pôr a pensar foi certeira. Muitos dos que estavam presentes são de comunidades carentes que se formaram da mesma forma que a peça apresentou. E que agora enxergam de outra forma as relações do povo para com o governo. Os organizadores e atores merecem ser parabenizados pelo projeto teatral. E devem continuar com as apresentações para assim cativar mais estudantes que certamente levarão a diante novas concepções de cidadania. *Renan da Silva Leal é funcionario da Arcolimp na EMEF Prof. Mario Marques de Oliveira
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VOLTA ÀS AULAS NA EMEF PROFESSOR MARIO MARQUES DE OLIVEIRA Profº Marcos Cesário Primeiro dia de aula dos alunos da Educação de Jovens e Adultos, às 19h00 os alunos são recebidos pelos professores e equipe gestora no refeitório, enquanto isso, na quadra os atores estão se preparando para a apresentação da Olaria do Jackson do Pandeiro. Separados em diversos grupos pelo refeitório os alunos estão envolvidos em uma dinâmica, logo, adentram o recinto os atores com seus instrumentos musicais, os olhares então começam a focar na companhia. Uma cena é desenvolvida, a partida de uma das personagens na esperança de uma vida melhor, os alunos acompanham o desenrolar da ação, após os instrumentos musicais preenchem o espaço e uma música vai preenchendo o ar, os alunos são convidados a percorrerem o trajeto, uma paradinha um samba envolve os espectadores que cantam e dançam com os personagens-atores, pronto o público está preso a trama. Encerrada a etapa no refeitório, os alunos acomodam-se na quadra em cadeiras postas, e as cenas começam a desenrolar, a falta de moradia, a mão opressora do sistema capitalista, as canções que alegram e entristecem vão ecoando prendendo o público da EMEF PROF. MARIO MARQUES DE OLIVEIRA, é visível nos olhares, no processo de escuta, na face o envolvimento e a identificação com a trama apresentada. Os personagens convidam a interação, uma mesa é montada para partilhar, alunos, funcionários e professores, envolvem-se no processo, todos se servem, a trama prossegue, no final, alguns professores, funcionários e alunos, compõem a cena com alguns instrumentos musicais, e todos são convidados a cantar. Assim a Olaria de Jackson construiu um percurso que encantou todos os participantes ativamente, o público não estava passivo diante, das dores da ausência do direito a moradia, pelo contrário, riram, emocionaram-se e mostraram no dia seguinte como foi impactante a vivencia, falas com os professores, falas pelos corredores, elogiando a companhia e destacando como foi importante vivenciar o teatro na escola, para muitos era a primeira vez que viam uma peça teatral. Outros associaram as suas vivencias cotidianas, que já viram gente ser expulso do seu local de moradia, enfim, é o teatro que deixa a sua marca em uma grande aula de vida e politica.
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APRENDER Por Beto Bellinati
Aprender. É o que podemos, quando nos propomos a fazer Teatro. Circular com dois trabalhos – que partem de um mesmo princípio, mas, enveredam por caminhos bem distintos – pelas bordas da cidade São Paulo foi individualmente e coletivamente pessoalmente e artisticamente um processo de crescimento. Aprender caminhos, bairros; aquecimentos, respirações; a fazer teatro em 11 pessoas; a tocar pandeiro, surdo, zabumba; a fugir da chuva, ou colocar a chuva em cena; a usar microfone, ou não usar e ser ouvido mesmo com motos passando sobre o cenário; a encontrar tomadas 110v; a conhecer o local da apresentação de antemão; a improvisar; aprender, sobretudo, que existem mundos
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abandonos, carinhos e públicos que nunca foram ao teatro mas que assistiram e sabiam, direitinho, o que tinham que fazer. Fica a certeza de que não acabou. De que voltaremos. Melhores. A certeza que estamos em construção construindo peças construindo pontes possibilidades sonhos O desejo de encontrar mais e de novo de rever de ver e atender crianças em novas jornadas. Por dificuldades estruturais – edifícios teatrais são raros e caros – fomos expulsos para a Rua. Pisamos fundo. Não queremos mais voltar
INSTAURANDO A FESTA Por Josi Rouse Instaurando a festa Instaurar, reinventar, viver a festa, A rua, os sorrisos, os olhares, os cheiros, os sabores... Aprender a aprender com o outro, a comungar, A partilhar emoções que falam pelos olhos marejados. Festa que é feita de alegrias, mas também de tristezas, Partidas, chegadas, encontros, desencontros, reencontros e esperanças. Festa do sol, festa da chuva, do vento, do bêbado, do mendigo, De todos os corpos. Genuína festa das ruas, das periferias, do povo que espera a festa. E quando ela chega é hora de brincar, brindar, comer, dançar, Chorar as alegrias, sorrir as dores e abrandar as feridas. Que a festa seja comoção, emoção e ação. Que seja flor a desabrochar amor. Que seja minha, sua, nossa festa.
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MEMÓRIAS Por Cris Camilo
As minhas raízes e a vida presente se fundiram neste projeto de uma forma muito especial.
Ainda criança, fui levada a uma casa de farinha. Lembro vagamente dos objetos, das mulheres sentadas ralando a mandioca, de homens espremendo e outros torrando a mandioca. Em outros momentos lembro-me das festas com rodas de viola, forró, samba, dança... Tudo isso ficou muito bem guardado e quando começamos o projeto “Teatro-Baile” essas lembranças me trouxeram um saudosismo reconfortante. Durante o projeto tive a oportunidade de me reencontrar, festejar, aprender, desaprender, compartilhar, partilhar... Foram 16 comunidades muito especiais, parcerias importantes, pessoas buscando um mesmo desejo: partilhar a arte, levar para a comunidade um contato com o teatro tão ausente, fazer rir, despertar lembranças, trazer conforto, identificação, reflexão, fazer sonhar e ter esperança... Olhando para o que vivemos nesses 4 meses, mais parece que foi um sonho, um sonho bom e gratificante. De Outubro a Fevereiro parece que os dias voaram. Cada semana em um lugar diferente, com histórias diferentes, com rostos diferentes. Ter a oportunidade de ouvir relatos reais de pessoas sobre a sua vida nas casas de farinha, ou alguém contando que seu avô recebeu Lampião e Maria Bonita, outros contando da dificuldade de moradia em São Paulo, dos paus-de-arara, etc, me fez pensar que estávamos no caminho certo. Fomos acolhidos em cada lugar que passamos. Conversas e histórias foram brotando nas cozinhas por onde passamos, enquanto preparávamos o Baião de Dois, servido ao público durante os espetáculos. E assim, encerramos o projeto com a certeza e a alegria de ter despertado algo naquelas muitas pessoas que dedicaram um pouquinho do seu tempo festejando e compartilhando conosco o nosso Teatro-Baile. 28 | TEATRO-BAILE
CONSTRUINDO UM CAMINHO Por Camila Borges Munidos de histórias para contar, percorremos os quatro cantos de uma cidade. Das bordas ao centro, a multiplicidade de lugares e pessoas impressiona mesmo os que nasceram e cresceram em São Paulo. Enquanto estávamos em cena, contávamos histórias (que são sempre atravessadas pelas histórias de quem as assiste), mas enquanto preparávamos a cena, ouvíamos as histórias dessas pessoas e lugares os quais visitamos. Estas histórias que ouvimos chegaram através de olhares, de danças, de cantares e falas... Começamos em Ermelino Matarazzo, onde as crianças nos viram montar o cenário e preparar doces para serem servidos durante a peça. “Vocês são muito ricos! A casa de vocês deve ser MUITO GRANDE!”, eles diziam. Durante a peça, que fala de direito a moradia, nós perguntamos: “Qual o melhor lugar do mundo pra você?”. Um destes mesmos meninos respondeu: “Não é a minha casa, não”. As crianças eram sempre as primeiras a chegar. A curiosidade e a coragem faziam com que elas chegassem perto, investigassem. Elas ficavam horas à nossa volta, às vezes assistindo a uma simples montagem de cenário. O espetáculo, para elas, começava quando nós chegávamos. Em alguns lugares crianças muito vibrantes, em outros, crianças tímidas, contidas. Uma dessas meninas, que assistia muito quieta, com muita atenção, se aproximou de nós no final e disse “Gostei muito, um dia eu ainda vou no teatro!”. Isso foi na Favela da Felicidade, onde apresentamos no “Campinho”, que não tinha um raminho de grama sequer. Fiquei imaginando a distância do teatro mais próximo daquele lugar. Lugar que apesar da distância, tem pessoas capazes de uma mobilização invejável a qualquer produtor cultural, sem as quais seria impossível a realização de eventos como a apresentação da peça. A mobilização não parava nas pessoas que tinham se disposto a nos receber, mas se multiplicava e se alastrava pelas vizinhanças. Um bar oferecia cadeiras, outro comida, outro estrutura para cozinharmos. Fomos aceitando um pouco de cada um e aos poucos conhecendo mais dos lugares e das pessoas. A solidariedade regeu o nosso processo, presente tanto na atitude das pessoas das comunidades na hora dos imprevistos, quanto na escolha dos nossos espaços de apresentação. Graças a esse trabalho, construímos muitas novas parcerias. No Itaim Paulista, um senhor de olhar muito sério durante a peça toda, se aproximou de mim ao final. Ele me contou que tinha aprendido um pouco de sanfona na juventude, mas com o tempo foi obrigado a trabalhar com outras coisas e não pôde seguir tocando. Ele me olhou emocionado e disse: “Nunca desista. É muito bom ver alguém fazendo aquilo que a gente não teve chance de fazer”. Estas palavras eu me esforcei pra levar comigo o tempo inteiro. Esse processo nos deu a chance. Vamos aproveitá-la, sem desistir, para fazer cada vez mais e melhor. Vamos resistir!
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A CASA DE FARINHA DO GONZAGÃO Por Paulo Goya
A primeira metade do século XX sem sombra de dúvidas pode ser definida pelo absurdo das duas Grandes Guerras. A segunda metade do século, no ponto de vista artístico, e em particular nas artes cênicas foi uma resposta e um apelo para a Paz. Contra todas as atrocidades cometidas. Outro aspecto foi o desejo claro de dar título de nobreza a todos àqueles que antes tinham sido esquecidos nos palcos. Os deuses da Grécia, ou os nobres e a grande burguesia que tinha chegado ao poder depois de 1789 é substituída pelo homem comum. A palavra lhe é dada. Importa saber o que pensam os pequenos, as classes oprimidas, o homem comum. O processo é claro no Brasil. Nossos grandes dramaturgos não hesitam em fazer falar o suburbano ou o marginal da sociedade. A estética também tinha que se renovar. A cor, a musicalidade, os falares, penso no Nordeste brasileiro quando ocupam e colorem e sonorizam a caixa preta. Nos grandes centros urbanos, o espaço exíguo da maloca da favela é mostrado como agora o lugar ideal para que o público e cada indivíduo entendam quais os conflitos que devem ser assimilados e geridos pela sociedade como um todo. A censura imposta pela ditadura civil militar a partir de 64 tenta por todos os meios apagar essa imagem. 32 | TEATRO-BAILE
Essas reflexões. O que se segue é uma luta pela sobrevivência simplesmente. Passado esse período as novas gerações querem agora falar de como se sentem. De suas preocupações. Querem afastar de si uma herança odiosa. Querem ser ouvidos e vistos e respeitados. Alguns como é o caso de Chico de Assis se propuseram a ouvir atentamente os anseios dessa nova geração. E continuar, sabendo que o passado só poderia servir de alicerce para a construção de uma nova dramaturgia, de uma nova estética. Fico profundamente comovido ao ver que os atores e músicos da Companhia Teatro da Investigação, porque alguns deles foram discípulos daquele a quem chamam de Mestre, se interessaram por esse processo. E sobretudo se interessam em preservar a memória dos espetáculos e dar uma continuidade à reflexão dramatúrgica do Chico. Pierre Debauche, no Conservatoire National Supérieur d’Art Dramatique, nos anos 70 me ensinou que não era possível, ‘sofrer’ com as desgraças de Efigenia do Racine se a atriz que a interpretasse, fosse e fizesse dela uma coitadinha. E sobretudo sem sex appeal! E isso é vero, como se diz. O terror da seca do Nordeste esta na Baleia e não no retirante nos fez ler Graciliano Ramos. A vida e o cotidiano não são dignos de lágrimas em
‘A Casa de Farinha do Gonzagão’ mas o riso do absurdo da volta do emigrado Zeca da Soninha, ou a crença de Zefa em dias melhores nas cidades do Sul nos purgam como se quis sempre com a tragédia grega. A tragédia como gênero maior é trabalhada de forma exemplar neste trabalho, nessa criação. Tragédia sim como a de um Lear e seu bobo, ou nos coveiros do Hamlet. O sonho eterno de uma obra completa com teatro, dança e música, com a qual um Wagner sonhou se pode ver em todo o processo de criação do teatro-baile e do seu método quando do instalar a festa. Então a oportunidade que poder propiciar através de uma ocupação simbólica promovendo-a, forte como sempre é, uma ocupação de um espaço; sobretudo um a quem tenho me consagrado desde 2003 como espaço para preservar a memória como é o Casarão do Belvedere e poder fazer valer o poder que a memória pode ter para as novas gerações por meio de suas pesquisas e realizações, só pode ser de antemão uma atitude
que reputo eficaz diante dos erros enormes que se está cometendo fomentando ainda que com fins nobres meios que nada mais farão do que consagrar o que a mesma e eterna elite financeira quer para continuar, e sempre como o fez, servir-se disso para aumentar seus lucros e nada além disso (num ‘ame-o ou deixe-o’, ou ‘quando o bolo crescer a gente divide com todos’ !); e aprofundar a monstruosidade da mais-valia, explorando aqueles que ainda cheios de juventude acreditam – o que é próprio da juventude – que um outro mundo é possível
*Paulo Goya é Ator e Diretor do Casarão do Belvedere
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Gonzaga e a chuva ou manifesto do dia de Iemanjá? Por Gustavo Guimarâes
((("... até onde o nosso cinismo suporta!?"))) Senhoras e senhores... Senhoras e senhores, com licença. Peço: Por “obséquio” assistam ao teatro. Não! Não diga que não é pra vocês, é sim! É sim! Desculpe, sou ator, sim, mais um ator que gosta de teatro, porém, desses fazedores de cultura que tem que cavar fundo pra fazer cultura, porque tá faltando espaço. Somos Muitos! Somos um rio que não quer virar esgoto. E vejo teatro, amo a cena a catarse, a quebra... - Mas seu moço, sou dos tempos em que artistas me alimentaram, me disseram o que era alienação ou não... Mas sabe, cansei do drama de todo dia e sua hierarquia. Cansei de tudo, virei palhaço. Ponho o nariz vermelho, as vezes me acho sem graça, procuro a graça, estudo e sou apaixonado por ela, a Graça! E no teatro que pego tá tudo tão sem graça... Enquanto a alta cultura evidência seu sadomasoquismo intelectual, referenciando a violência do pós contemporâneo, se fechando no palco umbilical, nas ruas, denunciando para alguns que já sabem o que está denunciado, fazendo a gente se sentir mal... É tanto teatro defendendo teoria das Europas, é tanta catarse pós – pós – pós. Que me enche de vida ter
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visto um milagre... Um espaço da cota? Uma pseudo democracia? - Vi Luiz Gonzaga! Lambuzando música, dançando alegria, bailando espetáculo. O teatro quando procura o povo, cultua o Deus dos escravos que colhiam uvas pro vinho. E vi o rito da ceia de início de ano! No dia que vi essa peça chorei, mas quem chorou mais ainda foi o céu. Não era a sociedade do espetáculo, era a poesia conquistando corações. Dia de peça. Dia de chuva. Tempo fechando... Os atores trocam de posição, mas o que é? Banda e publico na parte coberta, atores fazendo na chuva... Meu santo Lampião! Olhe só como é o artista e a arte: Gonzagão que cantava pra doutor e pro povo, povo esse que se sofria a caatinga. Senhoras, senhores, teve teatro debaixo da chuva! Perdigotos e pingos de chuva se uniam, o sagrado figurino combinava com a chuva, não era de açúcar, podia molhar. O som dos pés dos atores não era de tablado, não era espaço pra justificar projeto, era chão escorregadio. Sim, molhado. Senhoras, senhores, teve teatro debaixo da chuva! E era pro povo... Teatro de rua, nua e crua. Um baile espetáculo que contava história, que convida o povo pro teatro.
Duas horas antes da peça não teve Globo pro povo ir... Teve carro de som pela comunidade, e muita gente foi: mesmo com medo da chuva, encontraram cobertura! Senhoras e senhores... Será o teatro de pesquisa, que procura pelo público uma cota? Tem mais fazedores querendo pesquisar, tem mais fazedores... E o espaço? E o espaço pra sobreviver nesse mundo capital? Ditado pelos grandes, alguns que encontram-se sentados nos tronos da esquerda? Não teve crítico de jornal nenhum, o açúcar deles não permite. Mas espere... Já vejo: Vai ter teatro debaixo de chuva, feito pelos intelectos-açucarados. Tão vindo pro espaço, também é deles, sobra espaço, pena que não sobre capital pra poder fazer pro povo. Porque assim, do jeito que as coisas tão, vocês, cabeças duras, ainda não vão ao encontro do povo. Ocupem as ruas também, a gente da rua precisa. Mas respeitem o nosso público, porque só eles fazem do teatro = teatro. Viva edital Zé Renato! (Que ainda tenha espaço pro teatro que procura público). O grupo veio ao Campo Limpo graças a ele. Viva VAI I e II (Pena que pouco dinheiro pra muita gente e ideia pra mudar a cidade) Viva Cultura Viva Comunitária Viva fomento ao circo (Que não
seja esquecido) Viva agente de cultura comunitária (Não ao retrocesso, que ele continue em 2016) Obrigado teatro baile, que as trilhas sejam longas, que a busca por espaços para o teatro popular continue, e deixo aqui a brincadeira com a poesia de um que passou pela Zona sul de Sampa, Pernambuco, Rio, ser dançante, cantante, pintor brincante = Com licença Solano, mas preciso adaptar... E como diz o texto de uma peça: "... até onde o nosso cinismo suporta!?" Tem gente com fome Trem sujo da Distribuição, Correndo, correndo, Parece dizer: Tem gente com fome, Tem gente com fome, Tem gente com fome... Piiiii! Trabalhadores da cultura, De novo a correr, De novo a dizer: Tem gente com fome; Tem gente com fome, Tem gente com fome... Periferias Paulistanas, O que é nomeado como interior Brincantes, atabaques, sprays, teatro infantil, literatura Marginal, indígenas, berimbaus, griôs, Carolina de Jesus, Artistas sem espaço, danças de quem tem bunda e
peitos, América Latina - SUB: desenvolvida traída, notada, grave, posta, negada sub, sub, sub Trem sujo da Distribuição, Correndo, correndo Parece dizer: Tem gente com fome, Tem gente com fome, Tem gente com fome... Tantas caras tristes, Querendo chegar, Em algum destino, Em algum lugar... Trem sujo da Distribuição Correndo, correndo, Parece dizer: Tem gente com fome, Tem gente com fome, Tem gente com fome. Só nas estações, Quando vai parando, Lentamente, Começa a dizer: Se tem gente com fome, Dai de comer... Se tem gente com fome, Dai de comer... Mas o freio de ar, Senhor do medo Com possibilidade de um jurado não gostar Ou dos “senhores” da classe deserdarem Todo autoritário, Manda o trem calar: Psiuuuuu...
*Gustavo Guimarâes é Palhaço de profissão, diretor dos Ciclistas Bonequeiros e da Casa Casa Paulo Eiró
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QUEBRADAS Por Harry de Castro
Acho que a principal arma do artista é informar, e que seja por base da Arte, claro! Arte essa que nós da CTI desempenhamos de maneira lúdica e sensata. Como foi lindo observar públicos tão a fim de entenderem a nossa linguagem, a nossa Arte. Fomos a tantas ”Quebradas” para levar aquilo que sabemos fazer de melhor com dois ícones da música brasileira, Dois ícones nordestinos que através de suas artes tem o principal foco de mostrar o povo brasileiro, E quando digo mostrar o povo brasileiro deixo a interpretação livre... Pois é, Assim foram todas essas apresentações na circulação do Prêmio Zé Renato. Tive o prazer de ver a troca do público através do riso, do choro, da revolta e até da esperança da nossa volta. Esse é o grande prazer que tenho em fazer teatro de rua, pois sinto que o público se torna parte do que estamos ali informando. E quando vem a música, que é a minha área, a festa se instaura e essa festa se prolonga em seus corações. Mas festa com a temática da realidade, dolorosa, mas que tem de ser encarada. Como foi importante levar Gonzaga e Jackson às “Quebradas”. Energia renovada a cada apresentação, Ah, a emoção ficou nas nuvens...! Obrigado “Quebradas”. A CTI resiste por vocês terem nos aplaudido, e nos entregado suas energias. Sem mais. Até logo!
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COZINHAR O ESPETÁCULO Por Wagner Gama Foi uma das apresentações que mais gostei de ver na vida!! A gente vira público... Na síntese da palavra!! A gente que é ator, as vezes fica metido a não se emocionar ao ver outros espetáculos... A gente fica CHATO!!! Na apresentação da Cia C.T.I. a gente vive o teatro de antes... Puro, claro, oportuno!!! Grato Geovane Fermac pela beleza, sutileza, aspereza, tristeza e alegrias!!! Teatro bom tem que ter cara de teste pro coração! E vocês fazem isso!! É um teste pro coração!!! Lindo!!! Vocês são loucos!!! Dona Lia que o Marcello Nascimento de Jesus (que foi quem indicou e que foi até a casa dela pra apresentar a Companhia) Também é louco!!! Beatriz Jordan que fotografou a casa também é louca!! O Bom que o rango foi distribuído depois! (também é louco)Também (duas vezes) é louca a Dona da casa onde vocês cozinharam... foi louco o público por receberem vocês pra COZINHAR O ESPETÁCULO! Eita loucura boa!!! Ano que vem tem mais!! Grato!!! *Wagner Gama – Artista e Arte educador militante cultural da Zona Leste
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DESCONSTRUÇÃO Por Danuza Novaes
CTI - Cia. Teatro da investigação, ser inserida nesse grupo de teatro para mim tem sido uma honra. Tenho aprendido muito. A ideia que é passada do teatro e a que eu tinha era aquela em que um mandava e os outros faziam, eu a cada dia no grupo venho tentando e aprendendo como desconstruir as relações de trabalho, como se ver também pensador dessa coisa toda de fazer teatro. E o nosso é ainda mais desafiador, como fazer teatro popular, teatro para o povo. Como tentar fazer o melhor para as pessoas que geralmente não vão ao teatro pois suas vidas são consumidas pela rotina: trabalho, transito, moradia indigna. Pessoas essas que são a base da construção de São Paulo, e que aqui ao invés de serem enaltecidos são discriminados. Eu, sudestina de nascença, carrego com orgulho o sangue do norte, nordeste, negro e indígena. Tanto que no processo da peça A casa de Farinha do Gonzagão como na Olaria do Jackson do Pandeiro, pude ver retratada a vida de muitos familiares meus, pessoas comuns porém com histórias lindas de superação e resiliência. No processo do prêmio Zé Renato, circulamos pelas periferias da cidade e passamos por diversas vivências. Estar na rua é sempre um desafio. É sempre um desafio trocar experiências com as pessoas. As histórias contadas nas peças são um reflexo real da vida delas, que vivem à margem, que lutam pra sobreviver. Pessoas educadas, solidárias que instauram a festa sempre, e sabe por quê? A vida precisa ser vivida, dificuldades existem e precisamos lutar, mas também se divertir, aproveitá-la, sorrir. Eu não me considero boa no que faço e tenho muito o que me aprimorar, mas não para alimentar meu ego, preciso poder fazer algo que chegue nas pessoas. Longe de mim salvá-las, de todo esse processo que vivi, elas que me salvam e preciso agradecer. Preciso agradecer por elas terem gostado do que faço, por elas permitirem de estar no quintal de suas casas fazendo teatro. A gratidão é a palavra que resume a troca recíproca do prêmio Zé Renato! Obrigada!
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Baião de Dois
Nas apresentações compartilhamos baião de dois, o “dicumê”, de cena com o público. A primeira parte dessa partilha é na feitura. Em cada comunidade encontramos uma casa que recebe a gente e sede sua cozinha para prepararmos o baião dois, o que sempre é uma experiência rica, ali cozinhando com a gente os moradores compartilham suas histórias, aprimoram nossa receita e nosso trabalho, nessas cozinhas garimpamos os valores, sentimentos, saberes, e a civilidade que enriquecem nosso trabalho.
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Baião de Dois Ingredientes: 1kg de arroz 1kg de feijão fradinho 4 gomos de calabresa cortada em cubos 500g de bacon 1kg de carne seca 1kg de queijo coalho cortado em cubos 2 cebolas médias picadas 1 cabeça de alho picado 1 maço de cheiro verde 2 pimentões cortado em cubinhos 1 garrafa de manteiga de garrafa Sal e tempero baiano a gosto.
Modo de preparo: Em uma panela coloque um pouco da manteiga de garrafa, alho e cebola e refogue o arroz, em outra
panela cozinhe o feijão só com água e sal. Enquanto isso dessalgue a carne seca, colocando-a na panela de pressão por 30 minutos. Quando a carne já tiver dessalgada e pré cozida corte-a em pedaços pequenos. Em uma panela frite o bacon, quando o bacon estiver dourado junte a calabresa cortada e a carne, com esses ingredientes fritos junte cebola e alho e deixe fritar por mais 3 minutos e acrescente os pimentões cortados em cubos acrescente sal e tempero baiano a gosto, deixe no fogo baixo por mais uns 5 minutos mexendo de vez em quando. Em um refratário grande misture todos os ingredientes, arroz, feijão, a mistura de carnes, mexendo bem acrescente o cheiro verde, o queijo coalho e coloque a manteiga de garrafa!
Aí é só servir !!!
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KARIRI
Além do “Baião de Dois” ofertamos ao público uma boa cachacinha pra alegrar a vida. A mistura com cachaça mel e limão é colocada dentro de uma “pata de vaca” e servida aos presentes.
Ingredientes: 1 garrafa de kariri com K (cachaça) 12 limoões 1/2 litro de Mel
MODO DE PREPARO Misture tudo num recipiente e ai é só “entorná”
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RELATO DE UMA VIVÊNCIA COM A CTI Por, José Cetra Filho
I - INTRODUÇÃO No mês de setembro de 2015 fui procurado pelo Edu Brisa, fundador da Companhia Teatro da Investigação, popularmente chamada de CTI, que me convidou para acompanhar o processo de ensaios e as apresentações de duas peças que compunham o projeto contemplado na 2ª edição (2015) do Prêmio Zé Renato de apoio à produção e desenvolvimento de atividade teatral para a cidade de São Paulo. Minha função seria escrever um relato sobre o grupo, os ensaios e as apresentações com observações e sugestões sobre o que pude ver. Este é o resultado de minha convivência de mais de quatro meses com o grupo. II – O GRUPO A Companhia Teatro da Investigação é composta por 13 integrantes entre técnicos, atores e músicos sendo que estes últimos em vários momentos assumem também a função de atores. São oito mulheres e cinco homens, sendo que uma atriz está afastada por ter se tornado mamãe há pouco tempo e um músico também está afastado por estar se aventurando como carreteiro pelas estradas deste mundo de meu Deus. A idade média do grupo é de 33 anos, tendo a mais jovem 27 anos e a mais velha 41 anos. A companhia foi criada em 2003 por Edu Brisa e os integrantes atuais foram se incorporando a partir de 2006; a maioria entrou no grupo em 2012. Apesar de quase todo o elenco ser de São Paulo, a companhia tem fortes laços com a cultura nordestina, quer pela origem familiar de boa parte do grupo, 42 | TEATRO-BAILE
quer pelo interesse demonstrado pela arte daquela região do país. Poucos têm artistas na família e a maioria tem formação nas artes (teatro e/ou música); com exceção de dois integrantes o restante do grupo sobrevive apenas de atividades artísticas. Creio que nessas breves linhas sintetizo o perfil do grupo, obtido através de respostas individuais a um questionário que organizei. Edu Brisa me apresentou ao grupo em um ensaio no Palacete dos Artistas no dia 15/10/2015. Fui acolhido com muita simpatia e muitos sorrisos por parte de todos. Segue abaixo o nome artístico e a função de cada integrante da CTI: BETO BELLINATTI – ator e músico. CAMILA BORGES – sanfoneira e atriz. CAROL GUIMARIS – atriz, produtora e sonoplasta. CRIS CAMILO – atriz. DANUZA NOVAES – cantora e atriz. EDU BRISA – ator, dramaturgo e diretor. GEOVANE FERMAC – ator e produtor. HARRY DE CASTRO – cantor e ator. JOSI ROUSE – atriz. JULIANA CRIFES – atriz (afastada). NATÁLIA BAVIERA – atriz. TALLY CAMPOS – documentarista. THAPIOCA – músico e ator (afastado). III – O PROJETO O projeto premiado O TEATRO BAILE – INSTAURANDO A FESTA propõe, segundo as palavras do grupo, “a fusão das duas peças-bailes da CTI, que investigam o homem e a mulher comuns do Brasil nas obras de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro”. A ideia é unir por meio de um cortejo o ambiente rural de A Casa de Farinha do Gonzagão com aquele urbano de A Olaria de Jackson do Pandeiro. O cortejo começa com a partida de uma personagem, a migrante Zefa, para o sul e termina com sua morte diante de um espaço na cidade grande do sul que foi desocupado pela polícia. Foram previstas apresentações em 16 comunidades.
Em paralelo, o projeto prevê o aprimoramento artístico do grupo para além das apresentações previstas. Para esse aprimoramento foram convidados profissionais que a CTI chamou de “artistas transformadores”. São eles Carlos Simioni, Cida Almeida, Fernando Alabê, José Cetra Filho e Sergio Carvalho. IV – ENSAIOS A CTI reúne-se para ensaiar às quintas e sextas feiras das 19h às 22h em variados locais (Palacete dos Artistas, residência de um dos integrantes, Casarão do Belvedere) cumprindo essa tarefa de maneira ativa e disciplinada, consciente da importância da mesma: O ensaio é uma relação de troca e compromisso. Busco fazer a minha parte e apresentar propostas que ajudem a solucionar os problemas. (Beto Bellinati) O ensaio é lugar da experimentação da criatividade, da entrega. Perceber que o nosso material está de fato se transformando é instigante. O lugar do ensaio é sagrado, o tempo do ensaio é sagrado. (Edu Brisa) É pra mim um dos momentos mais sagrados do trabalho do ator, por que é nesse momento que estamos inteiros e vulneráveis, criando a todo vapor, tudo é e tudo pode ser ação para entrar no espetáculo, tendo aproveitar o máximo esses momentos que me tornam mais forte com o meu trabalho. (Geovane Fermac) Sinto-me construindo algo que é nosso, e sendo parte de algo que ficará para além de nós, por isso me coloco numa posição em que procuro provar e experimentar todas as propostas de cena ainda que não concorde a princípio, seja uma proposta do diretor ou de outro, porque quando alguém está em dificuldade com algo os outros desejam ajudar, às vezes funciona, às vezes não, mas vamos tentando até achar um lugar que seja interessante para a obra e não individualmente. (Josi Rouse) A peça A Casa de Farinha do Gonzagão já vinha sendo encenada há algum tempo e apenas sofreu pequenos ajustes durante os ensaios. A Olaria do Jackson do Pandeiro, no entanto, teve que ser bastante reformulada sofrendo alterações
inclusive no texto e nas personagens requerendo, portanto, maior tempo de preparação. A seleção da trilha da peça composta por músicas de Jackson do Pandeiro também foi alterada para se adequar à nova ação proposta. Fazendo jus à palavra que carrega em seu nome, a companhia investiga os vários caminhos da encenação buscando aquilo que acredita que seja o melhor. O diretor interrompe as ações várias vezes para sugerir e direcionar. Tudo funciona de maneira democrática com grande participação de todo o grupo na busca das melhores soluções. O cortejo citado acima também ocupou boa parte do tempo dos ensaios quer na seleção das músicas, quer na movimentação e na interpretação dos atores. Com muita disciplina, paciência e boa dose de bom humor o elenco chegou a repetir esta cena de três a quatro vezes em determinados ensaios. Paralelamente a isso ocorreu o já citado aprimoramento artístico, atividade que vai além das peças e busca maior embasamento artístico a longo prazo para todos os atores. A atriz e diretora Cida Almeida participou de vários ensaios (um deles em seu estúdio) dando noções e treinamento sobre máscaras e em especial sobre a máscara neutra de Jacques Lecoq. Cida também fez trabalho de coro com o grupo. O encenador Sergio de Carvalho também participou de ensaios dando noções de teatro épico que poderiam ser aplicadas não só nas peças ora apresentadas, mas também em futuros trabalhos da CTI. O ator Carlos Simioni da Cia. Lume de Campinas realizou oficina de 20 horas cujo tema básico foi Presença/Expansão da Presença. Realizado de 29 de outubro a 02 de novembro na sede do Teatro do Incêndio esta atividade foi uma verdadeira imersão do grupo em busca dos limites de expansão do corpo. No último dia houve apresentação de cada integrante mostrando os progressos obtidos com o conhecimento do corpo e o controle da respiração. Fernando Alabê, através de seu pandeiro também deu importantes noções de ritmo e de uso de instrumentos de percussão para o grupo. Esses encontros foram bastante animados e produtivos ocasionando, talvez, algum incomodo apenas para os vizinhos! INSTAURANDO A FESTA | 43
rado in loco junto com o pessoal da comunidade V- AS APRESENTAÇÕES o Baião de 2 que será servido durante a peça. No encerramento dos trabalhos realizam-se essas ta O projeto prevê 16 apresentações no cen- refas ao contrário. O coletivo realiza essas tarefas tro e em bairros periféricos com comunidades cade maneira unida e organizada. rentes de atividades culturais. Contemplando-se Cabe notar que a Saravan é lindamente as zonas norte (ZN), sul (ZS) e leste (ZL). Segue decorada externamente numa vibrante cor, com abaixo a lista das datas e dos locais de apresenta- logotipo do grupo e uma frase de Chico de Asção: sis (grande mestre do teatro popular com função político-social e mentor artístico de Edu Brisa e 07/11/2015 – Ermelino Matarazzo – ZL Geovane Fermac e, por consequência, de todo o 14/11/2015 – Itaim Paulista –ZL grupo): 21/11/2015 – José Bonifácio –ZL 28/11/2015 – Brasilândia –ZN Por que faço teatro popular? Porque o 05/12/2015 – M’Boi Mirim –ZS povo vai encontrar no teatro uma resposta para 13/12/2015 – Centro (Casarão do Belvedere) perguntas que ele não conseguiu respostas. Quan19/12/2015 – Pirituba – ZN do uma peça de teatro é boa a gente entra de um 16/01/2016 – Socorro – ZS jeito e quando ela acaba a gente sai de OUTRO. 24/01/2016 – Jardim Piracuama –ZS (Chico de Assis) 25/01/2016 – Centro (Baixada do Glicério) 30/01/2016 – Jardim Vista Alegre – ZN O grupo se posiciona em relação à 11/02/2016 – EMEF Prof. Mário Marques de função política e social do teatro: Oliveira – JD Ângela- ZS 13/02/2016 – Jardim Ângela –ZS Acredito sim que é instrumento político, 14/02/2016 – Centro (Av. São João) social e transformador. Não por si só, mas tem 20/02/2016 – Guaianases – ZL um papel muito importante de reflexão. Pode 27/02/2016 – Perus – ZN ser mero entretenimento, mas não é o tipo que 28/02/2016 – Marsilac – ZS me interessa fazer. Acho que é preciso encontrar equilíbrio entre essas intenções de fazer teatro, São 16 apresentações propostas, 17 RE- porque penso que se o trabalho não tiver nada ALIZADAS; O centro foi contemplado com três de entretenimento, nada de lúdico, ele acaba faapresentações, a zona norte com quatro, a zona lhando em cumprir a sua função política. Quando sul com cinco e a zona leste com quatro. existe essa ausência, ou ele não toca ninguém ou A militância do grupo exigiu apresenta- acaba falando somente a um público que já sabe ções extras em função da ocupação das escolas e já compartilha das nossas ideias, com quem não secundárias, do aniversário de nascimento de Luiz traria coisas novas para o diálogo. Seria mais fácil Gonzaga e do MOTIN (Movimento dos Teatros e talvez mais útil, nesse caso, escolher outras linIndependentes). guagens para o diálogo. Penso que o teatro mais político, tem que ter algo de entretenimento. A preparação das apresentações é digna (Camila Borges) do que se convencionou chamar de teatro mambembe. Todo material de cena, instrumentos mu- Acredito num teatro político, social e de sicais, equipamentos de som e os alimentos e be- entretenimento também. Se pensar em entretenibidas que serão distribuídos durante o espetáculo mento como diversão faz todo sentido acreditar são acondicionados na perua do Edu Brisa e na que o teatro perpassa por esse caminho. Nossa van do grupo carinhosamente apelidada de Sa- pesquisa é a partir da festa, do contato direto ravan (junção de Saravá e van). Saravan também com o público e principalmente da troca e relacarrega o grupo para os locais de apresentação. ção que se instauram durante a apresentação. O Carregado o material, o grupo dirige-se para o teatro coloca a alma em xeque o tempo todo. local de apresentação onde o material será des- São reavaliações das próprias posturas e comporcarregado e montado no espaço previsto. No tamentos, São revisões do mundo social do qual caso de A Casa de Farinha do Gonzagão é prepa- fazemos parte. E essas reflexões devem aconte44 | TEATRO-BAILE
cer senão no público ao menos no artista. (Carol Guimaris) Acredito e defendo o Teatro como instrumento de proposição de social e política, mas que também tem entretenimento, precisa saber dosar, eu acho. O motivo de eu fazer teatro é que acredito que ele possa de fato afetar e promover transformações em quem faz e em quem é público. O teatro é a arte do encontro e esse encontro de espetáculo e público deve ser sempre uma experiência de transformação de exercício do pensamento e de troca. O teatro precisa pôr os fazedores e o público em experiência, daí ele já é mais que mero entretenimento, daí ele já é uma ferramenta social e política. Certa vez me disseram que o maior ato político do artista é fazer sua arte, acho um pouco por aí também, desde que o conteúdo desta arte proponha algo que seja relevante, de interesse público de importância para a reflexão sobre a sociedade onde vivemos. (Edu Brisa) Quanto ao fato de se apresentar fora dos espaços convencionais na periferia da cidade o grupo também tem posicionamento bastante claro: Quando a gente sai da sala de teatro, começa a não escolher mais com quem vamos falar. Não sabemos quem vai parar para nos ver, quem vai interferir, quem vai se emocionar, quem vem nos abraçar e contar uma história depois. Os caminhos para chegar nesses lugares são mais longos e mais variados. Eu acho incrível o potencial que ganhamos ao sair dos espaços convencionais. Muitas vezes nos apresentamos para quem nunca viu nada de teatro na vida, isso se repete inúmeras vezes desde que começamos e nunca deixa de ser emocionante. (Camila Borges) É importante levar o teatro para lugares com pouco acesso à cultura e a arte. A periferia, a rua, são lugares onde é possível alcançar aquelas pessoas que não tem o hábito de ir a teatro. (Cris Camilo) Vejo o teatro na periferia como um caminho natural de aproximação com o público. A não formalização, a acolhida mutua entre espetáculo e público é o frescor de que o teatro precisa para se fortalecer. Nos últimos três anos com a Casa de Farinha do Gonzagão, realizamos nosso trabalho
na rua, no metrô, em praças, parques, quadras e sempre tivemos muita gente interessada no nosso trabalho, por que ele vai ao encontro a uma necessidade. Não me lembro de apresentações com predominância de outros atores ou de familiares, coisa que no teatro convencional acaba acontecendo. Apresentar fora dos espaços convencional é um fenômeno e isso precisa ser feito Sempre e cada vez mais. A periferia é para mim o lugar mais apropriado para as ações culturais, nela tem gente com vontade, com desejo com carência de atividades culturais, olhos espantados sempre se apresentam para o nosso trabalho. Pra quem eu quero fazer teatro? Para os homens e mulheres comuns e eles estão em sua maioria nas periferias. Aqui se configura o Teatro como ferramenta social e política. Não sei se fazer um Brecht na FAAP ou no Teatro Renaissance vai afetar a quem de fato deve ser afetado e mais que isso - se valoriza, ou torna pertencente quem de fato precisa.(Edu Brisa) O teatro é do povo de todos sem diferenciar a situação sócio econômica. Mas não é bem assim que se prática, geralmente se faz teatro pra sala fechada nos centros das cidades, colocando barreira de acesso ao público restringindo o prestigio do teatro ao “determinado” tipo de público com condições diferenciadas. O teatro tem a função de mostrar ao público sua obra e não simplesmente escolher quem pode ou quem não pode. É difícil para quem mora na Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade de São Paulo ou no Marsilac, extremo sul da cidade, se deslocar de suas casas, muitas vezes casas dormitórios, e ir ao centro da cidade em busca de arte. Estamos falando de um percurso que leva em média duas horas de condução na ida e duas horas na volta, some isso ao um dia de trabalho cansativo e temos uma parte do resultado a outra parte é o custo de se consumir teatro e não podemos deixar de comentar, imagine uma família com cinco pessoas, que deseje ir ao teatro, mesmo sabendo da aventura de se chegar ao “espaço convencional”, que em sua maioria estão no centro da cidade, considerando que utilizarão o ônibus como meio de transporte teremos ai no melhor cenário um gasto de R$ 35,00. E se eles quiserem tomar um café, um sorvete, um lanche? Pra quanto não vai o gasto? Sem contar no ingresso é claro. Deixo aqui registrado que não sou contra o teatro praticado em salas convencionais no centro da cidade, pelo contrário ele é necessário, mas faço esse INSTAURANDO A FESTA | 45
breve levantamento para refletir sobre o acesso ao bem cultural em locais periféricos, mas afastados dos grandes centros. É preciso pensar nas periferias é preciso pensar em seus moradores e justo que eles também tenham a possibilidade de participarem de uma peça de teatro. E é assim que vamos paras as periferias e é assim que conhecemos tantas gentes que nunca foram ao teatro, umas que não tiveram a possibilidade financeira, outras por questões de tempo/distancia, outras e aqui destaco um numero grande de pessoas que acham que o teatro não é pra elas, quantas vezes eu ouvi “isso é que é teatro? Ah eu pensava que era outra coisa... Teatro é pra gente também... Nossa eu nunca tinha visto uma peça agora sempre que eu puder quero ver...” Quando o teatro deixa seu lugar de conforto e busca novas possibilidades ele renova sua função e cria rupturas no cotidiano e dialoga de maneira viva com a cidade. O lugar do teatro não é na sala o lugar do teatro é onde o público está! (Geovane Fermac) Como se pode notar é bastante coerente o pensamento da CTI com o trabalho que apresenta. As funções a que pude assistir foram realmente verdadeiras festas com participação maciça do público e das crianças que se encantam com um bode que também é um tonel de cachaça. A molecada monta no bode e quer tirar fotos com ele. O público acompanha atentamente a evolução da ação e o auge acontece nos números musicais e no momento do baile onde os atores e as atrizes convidam alguém do público para dançar, convite sempre aceito com o maior entusiasmo. Outro momento de agitação ocorre na distribuição dos alimentos, seja o Baião de 2 em Gonzagão, seja a paçoquinha e o pé de moleque em Jackson. O teatro–baile da maneira como é realizado pela Companhia Teatro de Investigação revela-se como importante ferramenta de mobilização social levando esse público não acostumado ao fazer teatral a refletir sobre suas vidas e seus problemas de maneira lúdica. Brecht preconizava isso e a CTI o realiza de maneira surpreendente. Um bom exemplo é aquele que talvez tenha sido um dos melhores momentos deste bem sucedido projeto: a apresentação na comunidade do Jardim Santo Elias em Pirituba no dia 19/12/2015. Em uma manhã ensolarada e quente chegamos à comunidade que está instalada em vol46 | TEATRO-BAILE
ta de uma grande praça repleta de simpáticos botecos e que também leva o nome de Santo Elias. Nessa praça realizam-se os eventos sociais e culturais organizados por uma equipe formada por residentes da comunidade. A maioria dos habitantes do Jardim Santo Elias é proveniente do nordeste do país. Fomos acolhidos com muito carinho e atenção pelo pessoal. E agora se tratava de instaurar a festa. Enquanto uns se encarregavam da preparação do Baião de 2 que seria servido durante a apresentação de A Casa de Farinha do Gonzagão, outros tratavam de descarregar o material de cena. O pessoal da comunidade, por sua vez, instalava o toldo na forma de lona de circo que iria abrigar a peça e montava o aparelho de som. Tudo isso em ambiente de verdadeira festa comunitária regada a cerveja e a Cariri (cachaça mais mel mais limão) preparado pela Camila. Todas essas atividades eram supervisionadas pelos olhares atentos do Edu e do Geovane. O já citado bode fez muito sucesso com a garotada, mas em certo momento ele foi resgatado pelos adultos para enchê-lo com cachaça misturada com groselha. Agora ele estava nas mãos dos adultos para tristeza das crianças e alívio dos cachorros que se assustavam ao vê-lo. O almoço preparado por e para o elenco também foi compartilhado com o pessoal presente em um ambiente fraterno e amistoso. A partir das 14h30 o Edu e o Geovane anunciavam pelo alto falante a apresentação que teria início às 16h. Cadeiras colocadas defronte ao espaço cênico foram imediatamente ocupadas pelas crianças. Aos poucos a praça foi sendo tomada por grande público interessado em ver o espetáculo. A apresentação começou com o baile que teve adesão espontânea do público. Uma senhora vestida de vermelho dançou muito e participou inclusive de cenas da peça portando-se como uma verdadeira guest star. A peça tem forte apelo popular sendo que os adultos e as crianças participaram ativamente, acompanhando atentos e rindo nas horas certas. As músicas executadas ao vivo e que têm papel importantíssimo na trama também foram muito apreciadas por todos. No momento da festa em que é distribuído o Baião de 2 houve verdadeira invasão na cena com o pessoal disputando com garra o precioso manjar. Alguns saíram com dois ou três, enquanto outros ficaram sem.
A natureza que nos havia privilegiado com uma bela manhã trouxe uma forte tempestade quase ao final da peça que impediu que se fizesse o cortejo. Abrigados debaixo do toldo, público e elenco se congraçaram e trocaram opiniões. Na hora de recolher o material não se achava o bode. Onde estava o bode? Fui procurá-lo e o encontrei escondido em uma prateleira no bar do Demais (alcunha do Amauri, que abrigou as nossas cozinheiras) Eles queriam ficar com o troféu alegando que o bode era patrimônio da comunidade! Argumentei que o bicho faz parte dos elementos de cena e que tínhamos que levá-lo embora. Após relutar, Demais me devolveu o bode que carreguei como um troféu até a perua do Edu. Tenho certeza que esse dia tão especial para a CTI teve significado ainda maior para a acolhedora comunidade do Jardim Santo Elias.
VI – CONCLUSÃO Investigação. Substantivo feminino. Ato ou efeito de investigar; busca, pesquisa.
tudo o que foi escrito acima: CELEBRAÇÃO, BRASIL, SERTÃO, MÚSICA, ENCONTRO, FRATERNIDADE, RESISTÊNCIA, DESAFIO, MERGULHO, DESCOBERTA, AMOR, CONHECIMENTO, ALEGRIA, TRANSPIRAÇÃO, ARTE, TRABALHO, RESGATE, RAÍZES, DESAFIO, POVO, REALIDADE, FESTIVIDADES, VERDADE, APRIMORAMENTO, PÚBLICO, INVESTIGAÇÃO, FESTA, COMPARTILHAMENTO, MEMÓRIAS, COMUNHÃO, LUTA, NECESSIDADE, FOCO, ENTREGA, RITMO, CORO, CULTURA, PERRENGUE, ESPERANÇA, LABUTA, CANTO, LUGAR, FORÇA.
VIVA O TEATRO!
José Cetra Filho, mestre em Artes Cênicas pelo Instituto de Artes da UNESP, pesquisador, membro da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), autor do livro O Teatro Paulistano de 1964 a 2014 – Memórias de Um Espectador (Editora Giostri) e editor do blog www.palcopaulistano. blogspot.com 26/02/2016 – 08/03/2016
Durante os quatro meses que convivi com a Companhia Teatro da Investigação constatei que o grupo faz jus ao substantivo que lhe dá nome. O diretor Edu Brisa e todo o elenco estão sempre prontos a alterar textos, músicas e cenas em permanente busca do melhor resultado cênico, assim como da mais eficiente comunicação com o público alvo. Isso aconteceu com A Olaria de Jackson do Pandeiro, com o cortejo e mesmo com A Casa de Farinha do Gonzagão que, a princípio, estava “pronta” no início do projeto. Aliás, o grande mérito do grupo é nunca rotular um trabalho de “pronto”, mas sim de algo em constante processo de investigação. Outro ponto importante a ser ressaltado é que os espetáculos do grupo têm caráter lúdico, mas jamais abrem mão dos aspectos sociais e políticos, tanto na escolha dos locais onde se apresentam como nos textos apresentados. Como já escrevi anteriormente a festa baile tem que ser considerada como evento social de maior importância e seria muito interessante realizar uma pesquisa sobre os efeitos do evento nas comunidades onde ele é apresentado. Pedi para que cada integrante da CTI definisse o projeto em cinco palavras. Encerro este relato dando mais uma vez a palavra ao grupo e constatando que essa nuvem de palavras sintetiza INSTAURANDO A FESTA | 47
as contas
A IMPORTÂNCIA DE UMA SEDE OU UM LABORATÓRIO DE CRIAÇÃO Por Geovane Fermac A CTI não possui sede própria, portanto, esse foi um fator que nos deixou um pouco preocupados, pois encontramos uma enorme dificuldade de achar um espaço para centralizar nossas ações e realizar nossos ensaios e treinamentos. Como já era prática nossa, iniciamos os trabalhos pingando de casa em casa dos integrantes do grupo, no caminho tivemos o apoio do Palacete dos Artistas que nos cedeu o espaço para fazermos alguns ensaios por lá e o Teatro do Incêndio que compartilhou o seu espaço para a realização do treinamento que fizemos como Simioni e até a Casa da Cida Almeida também entrou nos espaços visitados pela CTI e por fim o Casarão do Belvedere, que nos acolheu após nossa passagem por lá em 13 de dezembro de 2015. Demos paragem no Casarão e por ali pretendíamos ficar. Ficar e criar transformar nossa residência num grande laboratório criativo. Ficar e continuar a andar e levar nossa arte aqueles lugares que tem pouco ou nenhum acesso ao bem cultural ou a equipamentos culturais. Mas o destino nos revelou que não podíamos ali criar raízes, assim como em qualquer coletivo é necessário pagar 48 | TEATRO-BAILE
e fazendo um projeto para circular pela cidade em busca de públicos que não tem acesso, nos deparamos com os custos dessa empreita o que pra gente não é viável, ainda não. Não podemos seguir sem auxílio do poder público, logo recuamos a possibilidade de ter um espaço e vamos em buscas de outras alternativas, vamos pras ruas e praças parques e casas, enquanto construímos possibilidades de firmar paragem em um terreiro onde possamos instalar nossas vontades e abrir as portas para novas criações e junto ao público investigar o homem e mulher comum e seus anseios. A Circulação é algo irreversivel para o CTI a troca de experiência é necessária para nossa investigação e é ela que nos dá base para nossos experimentos, o tom dos espetáculos vem dessa troca Público X CTI que se afuniliam e se misturam e como numa receita de ingredientes e temperos dá o sabor para que a vivência se torne cada vez mais viva e dialogue com a relação estabelecida nas apresentações que fazemos. A Festa que investigamos é a comunhão
das nossas vontades com a vivência das pessoas com quem trocamos ideias nas comunidades onde vamos, como na reconstrução da peça A Olaria do Jackson do Pandeiro que se fez necessária com a circulação que fizemos do projeto Instaurando a Festa contemplado pela 2ª Edição do Premio Zé Renato. A Olaria do Jackosn do Pandeiro Começou de um jeito e terminou de outro. O Público mudou o andamento e a realização da peça. Estávamos atentos e dispostos a escutar e isso foi nosso maior ganho no processo, embarcamos na investigação e entendemos que é preciso estar disposto a descontruir para reconstruir algo pronto, deixar que o momento se transforme e nesse aspecto foi rico o bate papo com o Sérgio de Carvalho que problematizou a estrura escolhida e nos propôs experimentar outros caminhos de diálogo com o público, novas possibilidades de contar o que queríamos ao público, o que Cida Almeida complementou com muita maestria como a ideia chegaria ao publico através dos atores que foram completamente descontruídos de seus vícios com a imersão de voz e corpo de Carlos Simioni que propôs em sua interferência um novo horizonte em relação com o uso da voz e a presença do ator em cena. E compassos e mais compassos para sustentar o ritmo e a dinâmica musical conduzido por Fernando Alabe e Fefe Camilo que com a overdose de pandeiros e as batucadas do coração no surdo e na zabumba harmonizaram o ambiente cênico. Ivestigar é preciso e isso entendemos bem e escolhemos continuar investigando com a contemplação do Premio Zé Renato, como na fala precisa de Edu Brisa em um dos ensaios “Nada está ganho, temos que trabalhar atentos para no fim sermos artistas melhores do que hoje” E é isso que nos move, tudo é transformação, não podemos aceitar uma fórmula e executar um projeto sem pensar que ele pode se transfomar e buscar novas possibilidades de se mostrar. Transformar foi e é nosso ponto de reflexão mais caro, Transformar é preciso! Investigar é preciso! Sigamos em frente sempre movimentando sempre de olhos e ouvidos abertos para as mudanças que aparecencem em nosso caminho.
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Ceci n'est pas un BODE É o anfitrião da CTI. O Bode desperta o imaginário coletivo, aproxima as pessoas de suas raízes, quebra o gelo do dia corrido. É só colocar o bode em exposição e basta, enche de gente para tirar fotos, perguntar se é de verdade e querer saber o que vai ter ali. E assim as pessoas se sentem mais perto da gente e vice-versa.
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O BODE
Um bode de madeira, uma espécie de barril para pôr cachaça, uma replica perfeita. Encontramos no Brás, compramos e o que era para ser usado como cenografia virou o xodó das crianças (e dos adultos também), o Bode é anfitrião da CTI, assim que descarregamos a Saravan colocamos o bode em exposição e basta, enche de gente para tirar fotos, perguntar se é de verdade e querer saber o que vai ter ali. O Bode desperta o imaginário coletivo, aproxima as pessoas de suas raízes, quebra o gelo do dia corrido. E assim as pessoas se sentem mais perto da gente e vice-versa.
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A SARAVAN
A van da CTI. Ela é personalizada com a identidade visual do projeto e da Cia., assim que ela chega já atrai a atenção e cria ali um primeiro aperto de mão, quebrando qualquer resistência com relação a nossa presença na comunidade. Vale ressaltar que temos na porta do motorista a figura de Luiz Gonzaga e na do Passageiro a de Jackson do Pandeiro o que invariavelmente abre as portas para gente. O fascínio das pessoas por Luiz Gonzaga é algo inexplicável e daí eles vão se lembrando do Jackson também e vão ficando por perto. A Saravan é também um carro de som, com o qual circulamos pelas comunidades convidando os moradores para a apresentação do dia.
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Chegou a hora de agradecer! Somos gratos! Gratos por ter realizado um projeto importante! Gratos por termos ido aos quatro cantos da cidade de São Paulo. Gratos por termos conhecido tanta gente boa, militante da cultura! Viva! Somos gratos pelo interesse do público para com o nosso trabalho. Somos gratos! Hoje somos mais fortes! Temos mais estrada, mais amigos, mais vivência, mais gana! Hoje somos muitos! Finalizamos o Prêmio Zé Renato com uma bagagem enorme. Que tenhamos sabedoria para seguir em frente! Somos gratos!! Obrigado! Realizamos muito bem nosso projeto: TEATRO-BAILE | INSTAURANDO A FESTA Prêmio Zé Renato de apoio à produção e desenvolvimento da atividade teatral para a cidade de São Paulo – 2ª edição – 2015 PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO -SECRETARIA DE CULTURA.
AGRADECIMENTOS • Teatro do incêndio, Gabriela Morato. • CDM Délio de Carvalho. Luiz do Violão, Maria José Ferreira Maciel, Comunidade São Francisco, Dona Conceição. • Samara de Oliveira (Sarau o que dizem os umbigos?) • Vagner Gama, Valquiria gama, Casa de cultura Raul Seixas. • Movimento dos Secundaritas - Alunos da EE José Lins do Rego. Cristiano de Assis - Carlos Gomes - Professor Marcos - Emef Professor Mário Marques de Oliveira • Dimas (Sarau da Brasa) • Paulo Goya (Casarão do Belvedere) • Pepo Moacir e Camilo Pirituba • Comunidade Vila da Paz, Pedro Cosmos • Gustavo Guimarães (Casa Paulo Eiró De Descatracalização e Difusão Artística) • Tarlei Umbelino (PROGRAMA AUTONOMIA EM FOCO II) • Adílson Alexandrino, William Vista (Associação dos moradores do JD. Vista Alegre) • Comunidade Favela da Felicidade , Bar do Vida Loka, Michelle Mi. • CEU Jambeiro • Comunidade Cultural Quilombaque e Ocupação Casa Hip Hop Perus • Elisangela Duarte Bueno e Cris (Cultura de Garagem – Masilac) Sem dúvida, somos muitos e somos Fortes!! Saravá! INSTAURANDO A FESTA | 53
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FICHA TÉCNICA TEATRO BAILE INSTAURANDO A FESTA • ARISTAS TRANSFORMADORES Carlos Simioni (Lume Teatro) Corpo e voz. Cida Almeida - Direção Fernando Alabê, Fefê Camilo - Percussão José Cetra Filho - Documentação Sérgio de Carvalho (Cia. Do Latão) – Dramaturgia • CTI – Cia Teatro da Investigação da Cooperativa Paulista de Teatro DRAMATURGIA E DIREÇÃO: Edu Brisa ATUADORES: Beto Belinati, Camila Borges, Carol Guimaris, Cris Camilo, Danuza Novaes, Edu Brisa, Geovane Fermac, Harry de Castro, Josi Rouse, Mariana Paudarco, Natália Baviera, Rayra Maciel e Thapióka. DIREÇÃO MUSICAL: Camila Borges e Carol Guimaris CENÁRIO: Edu Brisa e Geovane Fermac FIGURINOS: Ana Figurino e Selma Paiva OPERADOR DE SOM: Samuel Gambini REGISTRO: Tally Campos DESING GRÁFICO – Celso Carramenha PRODUÇÃO: Carol Guimaris, Edu Brisa e Geovane Fermac EDIÇÃO DA REVISTA - Geovane Fermac REVISÂO REVISTA - Camila Borges, Carol Guimaris e Edu Brisa REALIZAÇÃO: Prêmio Zé Renato de apoio à produção e desenvolvimento da atividade teatral para a cidade de São Paulo – 2ª edição – 2015
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