FILIPE RAPOSO | ØBSIDIANA, VOL.2 - 2022

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FILIPE RAPOSO ØBSIDIANA,vol.2 20 - 21 OUTUBRO

© Filipe Ferreira

TRI LOG IA DAS COR ES


ØBSIDIANA pertence a uma trilogia de discos que parte da reflexão artística sobre a influência de três cores: o vermelho, o preto e o branco. Este sistema ternário de cores representa desde a Antiguidade Clássica um papel simbólico. Na literatura, a predominância do vermelho, do preto e do branco é profundamente evidente. Em contos e fábulas serve para distinguir personagens e funções sociais: o vermelho associado aos guerreiros, o preto associado ao trabalho e o branco ligado à função sacerdotal. Na fábula A Raposa e o Corvo de Esopo, por exemplo, toda a narrativa se desenrola à volta desta triangulação cromática: a raposa vermelha, que apanha um queijo branco, largado por um pássaro negro. O preto foi durante muito tempo contestado. Seria uma cor, a sua ausência ou a consumação de todo o espectro? Com Newton acontece a revolução cromática e o preto perde o estatuto de cor, recuperando-o apenas no séc. XX, com o modernismo. Ao longo da história, o seu percurso foi irregular: associou-se à morte e ao luto; de tom pobre passou a cor luxuosa, sofisticada e elegante, com o aperfeiçoamento dos pigmentos; por vezes sugere dignidade, poder e mistério. No Egipto, o negro era o símbolo da fecundidade. É sinónimo de caverna e de abismo, das entranhas da terra; vincula-se às trevas e ao caos primordial; representa a obscuridade das origens, precede a criação em todas as religiões. Cor da condenação, torna-se também a cor da renúncia à vaidade. Insurge-se contra o vermelho dos excessos, do pecado e do luxo dos reformadores protestantes cromoclastas. Para Homero, as águas profundas do oceano eram negras. É uma cor conotada com maturidade e autoridade, prudência e constância na tristeza, paciência e capacidade de saber esperar. O medo da noite e a procura da luz existem desde a nossa pré-história. Poeticamente, na “noite escura da alma” desvenda-se o breu luminoso da auto-compreensão. O simbolismo da ØBSIDIANA liga-se à rocha ígnea – a pedra do fogo. Plínio, o Velho, estabelece a etimologia do nome pela sua semelhança com o vidro vulcânico encontrado na Etiópia por Obsius, um explorador romano. A obsidiana forma-se quando a lava, o material de que é originária, arrefece rapidamente sem permitir a cristalização da maioria dos seus componentes. No Antigo Egipto utilizou-se para fins decorativos, sendo importada das ilhas do Mediterrâneo oriental e das regiões do sul do Mar Vermelho. Utilizada como espelho ou objecto ornamental, a capacidade de formar lâminas cortantes de elevada dureza fez com que fosse utilizada como ferramenta de corte, em circuncisões rituais – pela sua agudez e maneabilidade –, assim como em pontas de flechas. Perceber a cor – as cores – e o seu simbolismo tem sido uma das questões fundamentais ao longo desta reflexão, transformada em inquietude. Neste ensaio sonoro, a cor e a música estão intimamente ligadas naquilo que é, inevitavelmente, o meu universo simbólico-artístico. Filipe Raposo 2

© Filipe Raposo

“Sem dizer fogo vou para ele. Sem enunciar as pedras, sei que as piso [...] Por isso caminho, caminho porque há um intervalo entre tudo e eu, E nesse intervalo, caminho e descubro o meu caminho.» António Ramos Rosa in Sobre o Rosto da Terra



20 e 21 outubro 2022 música

FILIPE RAPOSO ØBSIDIANA, VOL.2 TRILOGIA DAS CORES Sala Bernardo Sassetti quinta e sexta, 19h M/6; €15

© Filipe Raposo

Filipe Raposo, piano e composição

Direção Artística Aida Tavares Direção Executiva Ana Rita Osório Assistente da Direção Artística Tiza Gonçalves Adjunta Direção Executiva Margarida Pacheco Secretária de Direção Soraia Amarelinho Direção de Comunicação Elsa Barão Comunicação Ana Ferreira, Gabriela Lourenço, Nuno Santos Mediação de Públicos Téo Pitella Direção de Produção Mafalda Santos Produção Executiva Catarina Ferreira, Marta Azenha, Tiago Antunes Direção Técnica Hernâni Saúde Adjunto da Direção Técnica João Nunes Produção Técnica Margarida Sousa Dias Iluminação Carlos Tiago, Cláudio Marto, Ricardo Campos, Sérgio Joaquim Maquinaria António Palma, Miguel Rocha, Vasco Ferreira, Vítor Madeira Som João Caldeira, Gonçalo Sousa, Nuno Saias, Rui Lopes Operação Vídeo João Van Zelst Manutenção e Segurança Ricardo Joaquim Coordenação da Direção de Cena Marta Pedroso Direção de Cena Maria Tavora, Sara Garrinhas Assistente da Direção de Cena Ana Cristina Lucas Camareira Rita Talina Bilheteira Diana Bento, João Reis, Pedro Xavier

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