Painel de Controle - Janeiro 2017

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Um exemplo claro desse cenário mais positivo é a queda da inflação em percentual superior ao esperado pelos analistas de mercado. Um segundo sinal vem do nível de atividade. O indicador da produção industrial de dezembro, quando divulgado, revelará uma elevação considerável da produção física, resultante, principalmente, do bom desempenho da indústria de automóveis, ônibus e caminhões. Neste último caso, o comportamento está possivelmente associado ao terceiro sinal positivo: uma safra agrícola muito boa, cujo escoamento impulsiona a indústria e os serviços. Ainda em relação à atividade econômica, outro motivo para moderado otimismo é o esperado efeito sobre o consumo das famílias da tão aguardada liberação dos recursos das contas inativas do FGTS. De fato, a injeção dos cerca de R$ 30 bilhões na conta corrente das famílias ainda no primeiro semestre resultará em um aumento de seu consumo não antevisto nas projeções anteriores. Em relação ao PIB, as projeções do Ibre quanto à variação no quarto trimestre de 2016 foram atualizadas, passando de -0,5% para -0,6% em relação ao terceiro trimestre. Com isso, o crescimento estimado para o ano cheio caiu para -3,6% e o carregamento estatístico para 2017 passou a ser de -0,9%. Para o primeiro trimestre de 2017, a projeção permanece sendo de alta de 0,1% em relação ao quarto trimestre do ano anterior (2016). No que diz respeito à inflação, depois de uma surpresa positiva em 2016, a desaceleração dá sinais de que irá continuar em 2017. Embora quase dois pontos percentuais acima da meta, a inflação de 2016, de 6,29%, foi bem recebida quando comparada com o ano anterior (2015), que apresentou alta de 10,67% no IPCA. Essa desaceleração inflacionária em 2016 foi motivada, em grande parte, pelos preços da alimentação, livres do impacto negativo do fenômeno El Niño. Contribuiu, também, o setor de serviços livres que tiveram um aumento de preços menor do que o esperado.

Deve-se considerar que a recente trajetória de queda da inflação resulta também do quadro recessivo instalado no país. Dadas as circunstâncias, cedo ou tarde, o ritmo de crescimento dos preços cederia de qualquer maneira, mas, segundo os analistas, essa queda também ocorreu graças às mudanças na política econômica e à postura firme e independente do Banco Central nos últimos seis meses. A perspectiva de que a economia brasileira dificilmente experimentará recuperação expressiva nos próximos trimestres e a possibilidade de o desempenho da economia dos EUA sob o novo governo vir a frustrar as expectativas otimistas originariamente formadas dão respaldo à confiança do Bacen acerca do “novo ritmo” da taxa Selic. Sendo assim, somente a eventualidade de severo revés no campo fiscal e das reformas ou a mudança drástica no cenário internacional serão capazes de impedir que, antes mesmo do fim do ano, a Selic real chegue a 5,0% a.a. Neste ponto, provavelmente se reacenderá o debate em torno do que seria apropriado fazer, do ponto de vista estrutural, para trazer o juro real do país ainda mais para baixo. O mercado de trabalho formal permaneceu fraco no final de 2016, no entanto, o emprego não-sazonal surpreendeu positivamente. As séries produzidas pelo Ibre no mês de novembro/2016 apresentaram: i) forte crescimento da população ocupada nãosazonal; ii) expressivo aumento da população economicamente ativa não-sazonal, sendo este acréscimo inclusive superior ao apresentado pela população ocupada não-sazonal. Este aumento chama atenção por ser o mais expressivo desde janeiro de 2015, interrompendo meses de trajetória de queda. Trata-se de um resultado surpreendente, em meio à fraqueza do cenário econômico. Para 2017, a projeção é de leve piora do desemprego logo no início do período, seguida de lenta e gradual recuperação a partir

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