WESTERN AMERICANO UMA HISTÓRIA DE TERRA, SANGUE E AMBIGUIDADE SAMUEL ANDRADE
“For the West is America’s empire” — do prefácio de Aliança de Aço (1939, Cecil B. De Mille)
no Western. Dependendo da visão, o povo nativo dos Estados Unidos foi representado como hostil [Cavalgada Heróica (1939, John Ford)] e infame [Comanche (1956, George Sherman)], um potenciador de ruptura social e familiar [A Desaparecida (1956, John Ford)], um exemplo de heroísmo [A Flecha Quebrada (1950, Delmer Daves)] ou como a vítima expropriada de uma filosofia expansionista de agressão [Um Homem Chamado Cavalo (1970, Elliot Silverstein].
Não existe género cinematográfico mais Americano do que o Western. Através dos seus mecanismos, sons, imagens e protagonistas, encerra-se a mitologia histórica dos Estados Unidos da América, desde a formação da sua identidade enquanto nação até ao surgimento de uma simbologia social e cultural que se perpetuou até aos nossos dias.
A partir da representação cinematográfica deste conflito entre “índios e cowboys”, a qual assenta na atitude histórica dos colonos que ocuparam as terras e os recursos dos nativos norte-americanos, sobressai talvez uma das principais repercussões do Western no imaginário sócio-cultural norte-americano: a glorificação da arma de fogo.
Da sua riqueza visual e temática, a exploração e o povoamento do deserto Americano são elementos primordiais e recorrentes do género. Seja motivado por perspectivas comerciais [O Rio Vermelho (1948, Howard Hawks)], a busca de riqueza [A Terra das Mil Aventuras (1960, Henry Hathaway)] ou pela necessidade de repor ordem e progresso a todo o custo [A Última Caravana (1956, Delmer Daves)], o incessante fluxo (i) migratório das personagens do Western, indissociável de uma noção de expansão territorial, é inegável símbolo, deliberado ou não, daquilo que a História designou de “Imperialismo Americano” — ou, por outras palavras, o Oeste converteu-se, também no Cinema, na “Terra Prometida” do povo Americano. Nessa dinâmica, a figura do índio norte-americano é presença regular
Temática de manifesta e permente actualidade, a violência e “a lei da bala” sempre surgiram como os principais veículos de mediação dos conflitos, num género que não hesitou em referir armas [Winchester '73 (1950, Anthony Mann); Quarenta Cavaleiros (no original: Forty Guns, 1957, Samuel Fuller)] ou em destacar — com algum romantismo — a disputa entre pistoleiros [Duelo ao Sol (1946, King Vidor)] no título dos seus filmes. Como estranhar essa circunstância se uma das primeiras imagens mais memoráveis do Cinema Americano é, precisamente, a do 6