Take 31

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WWZ: GUERRA MUNDIAL

Título original: World War Z Realização: Marc Forster Elenco: Brad Pitt, Mireille Enos, James Badge Dale Ano: 2013

ANÍBAL SANTIAGO

Os problemas que rodearam o desenvolvimento de World War Z, a adaptação cinematográfica da obra literária homónima, foram sobejamente noticiados, tendo culminado no caricato episódio de ter visto o seu último terço refeito devido ao facto do mesmo não ter agradado ao estúdio. Infelizmente, World War Z raramente consegue manter o nível de interesse da novela dos bastidores. A ideia surge relativamente interessante, com Marc Foster a procurar dar uma escala global à epidemia, a tentar explorar a atmosfera de paranóia que envolve a história de Gerry Lane (Pitt), um elemento ao serviço das Nações Unidas que procura uma possível cura para o vírus que está a contaminar e dizimar a população mundial, viajando com a sua equipa por vários locais ao redor do Mundo, enquanto espera que a organização mantenha a família em segurança. World War Z não é o típico filme de zombies onde estes surgem como seres lentos, sanguinolentos e visceralmente violentos, tendo sido elaborado para ser um blockbuster de sucesso e chegar a um público alargado, ou seja, a violência que surge associada a estas obras é trocada por cenas de acção grandiosas, mas relativamente inconsequentes, cujos efeitos raramente são sentidos. Sim, algumas cenas são impressionantes e contam com alguns planos que ficam na memória, mas será que causam algum impacto a nível emocional? Sentimos dor pela perda de algum personagem? Nem por isso, até porque as mortes em World War Z raramente surgem acompanhadas por uma carga emocional que nos faça preocupar com os personagens. Diga-se que não é apenas nas mortes que World War Z causa uma impressionante indiferença. É sobretudo na sua incapacidade em desenvolver os relacionamentos humanos, em estabelecer a dinâmica da família, em dar a dimensão política e social que promete, com o argumento a não conseguir dar o escopo grandioso que as imagens em movimento e os efeitos especiais conseguem oferecer.

No entanto, no último terço da narrativa esta “grandiosidade” global conhece algumas alterações para as quais não devemos ficar alheios ao contexto da elaboração do filme. Deixamos de ter a grandiosidade dos espaços abertos, para passarmos a ter um laboratório, ou seja, o "terror" à escala global é trocado por um espaço fechado, com o bom trabalho de fotografia a adensar o clima sufocante em volta das cenas, mas a não esconder o facto de parecer que estamos no interior de uma obra diferente. O cimento que acaba por unir todas estas diferenças é Brad Pitt. Este dá uma enorme credibilidade e intensidade ao seu personagem, procurando que o mesmo cause impacto no espectador, mesmo quando o argumento faz "o favor" de nem sempre conseguir explorar as temáticas e os personagens secundários que o envolvem. A incapacidade de desenvolver devidamente a maioria dos personagens secundários é o paradigma da falta de capacidade de World War Z em dar tudo aquilo a que se propõe. Quer ser um thriller mesclado com terror e muitos zombies velozes e furiosos mas esbarra na sua censura PG13 (EUA). Quer apresentar uma jornada à escala global, mas não aproveita as idiossincrasias culturais entre os diversos países, ou seja, falha em várias das suas pretensões, sobretudo a explorar uns EUA em paranóia, em explorar a falta de uma estrutura política no país que conseguisse lidar com uma ameaça. Ao terminarmos de ver World War Z percebemos que o filme não é o desastre que se anunciava, mas também não consegue atingir todo o seu potencial. Poderia ser um dos grandes filmes de zombies da década, mas prefere ser apenas mais um para agradar a "Gregos e Troianos", resultando numa obra com grandes objectivos e intenções, que cedo são cerceadas pelo poder controlador do estúdio, um argumento problemático e um desenvolvimento rocambolesco que resulta numa obra bem intencionada, com uma excelente interpretação de Brad Pitt, mas incapaz de alcançar a grandeza que almeja. “(...) incapaz de alcançar a grandeza que almeja.” 9


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