"A contagem dos sonhos" TAG Inéditos - Abril/2025

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TAG INÉDITOS

A contagem dos sonhos

TAG — Experiências Literárias

Tv. São José, 455

Porto Alegre, RS (51) 3095-5200 (51) 99196-8623

contato@taglivros.com.br www.taglivros.com @taglivros

Publisher Rafaela Pechansky

Edição e textos Débora Sander, Rafaela Pechansky e Tatiana Cruz

Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia

Designer Bruno Miguell Mesquita

Capa Luna Bastos

Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland

Impressão Impressos Portão

Olá, tagger

Em mais de dez anos de TAG, já tivemos muitos marcos que nos encheram de alegria, entusiasmo e brilho no olho — talvez você tenha vivido alguns deles junto com a gente, talvez esteja chegando agora. O que importa é que você chegou a tempo de vibrar com este momento inesquecível: estamos enviando a milhares de associados, em primeira mão, o novíssimo romance de Chimamanda — um nome que dispensa credenciais e até sobrenomes, e isso diz muito sobre sua grandeza. Oito anos depois de ser nossa curadora com o livro As alegrias da maternidade, de Buchi Emecheta, a escritora nigeriana volta à TAG como autora do mês. A contagem dos sonhos chega ao Brasil em lançamento mundial pela TAG, em uma parceria incrível com a Companhia das Letras.

E cabe dizer que isso quase não aconteceu: foi aos 15 minutos do segundo tempo da prorrogação que conseguimos, com o coração saindo pela boca e uma enorme euforia, aprovar o lançamento pelo clube com os agentes da autora. Adrenalina pura, mas sempre vale a pena dar tudo de nós para enviar novidades incríveis a você. A contagem dos sonhos é o primeiro romance lançado por Chimamanda desde Americanah, livro que a alçou ao sucesso internacional, publicado em 2013. Após mais de uma década, a escritora nos presenteia com uma narrativa de fôlego que explora de forma brilhante, atual e profunda as vivências múltiplas de mulheres africanas.

Para uma experiência visual à altura deste lançamento, a capa da nossa edição do livro traz um bordado da artista brasileira Luna Bastos, simbolizando a força e a profundidade da narrativa que ela carrega. Se jogue de peito aberto e sensibilidade acesa nesta história e vamos descobrir juntos o que ela é capaz de transformar em cada um de nós.

Boa leitura!

ser livre. Ainda questão que não parece em sua vida. sobre o luto, escrito Chimamanda Ngozi sobre a história de sendo uma delas personagem real perda da mãe. Um envolvente, que aborda da mulher, ao passo sensibilidade da amizade

Experiência do mês

Seu livro além do livro: para ouvir, guardar, expandir, crescer

Uma história sublime sobre quatro mulheres de classes, vozes, origens e personalidades distintas, mas cujos desejos,

;

pescoço;

de

pela

ensaios feministas Para educar Notas sobre o luto; lenço de cetim da Nwa Grace-James. os Estados Unidos. publicada pela Letras.

Mimo

A paixão por ler e espalhar boas histórias foi o que deu vida à TAG. Não só as histórias dos livros, mas também aquelas do dia a dia, as nossas e as de cada um de vocês. Por isso, nos unimos à Nescafé® para multiplicar essas narrativas. Na caixinha deste mês, além de uma grande obra literária, você encontra um mimo cheio de surpresinhas, que convida cada um a descobrir histórias incríveis de produtores envolvidos na cadeia do café e também a capturar sua própria história — de quebra, degustando um café delicioso!

PODCAST

A contagem dos sonhos

— uma narrativa que se ramifica em quatro perspectivas, que desvela camadas de sentido e entrelaça com força e delicadeza múltiplas esferas de ancestralidade. Nos bordados da artista, tramas de sofisticada beleza revelam essa conexão com a tradição e o lançar de um olhar atento para o futuro.

Depois de terminar o livro, convidamos você a seguir pensando, sentindo e compartilhando o que bateu por aí a partir dessa leitura. No Papo de Livro, nosso podcast, tem sempre uma entrevista exclusiva para aprofundar a experiência pós-leitura!

Visite o app para saber mais sobre o livro e participar da comunidade. PLAYLIST

Para a trilha sonora da sua leitura, preparamos uma seleção especial com artistas africanos e afrodiaspóricos. Do nigeriano Fela Kuti ao jamaicano Bob Marley, passando pela sul-africana Miriam Makeba e voltando ao Brasil com Chico César. Dá o play!

bem-sucedida, inteira traçada em após ser abandonada futuro tão certo É então que, junto e da mãe cética, a rota — para enfim em quem menos Kadiatou, empregada cria com orgulho

Unidos depois de com origem na Guiné, consigo uma extensa e traumas. Ao finalmente em um novo lugar, provação inconcebível, que trabalhou tanto

Omelogor, prima vive na Nigéria e finanças que decide área completamente de si, atropela quem sua inabalável autoconfiança

CHIMAMANDA
NGOZI
ADICHIE
CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE
A contagem dos sonhos
Chiamaka vive nos e sonha em publicar relatos de viagens despreocupada existência vindas é paralisada durante a pandemia, se vê totalmente apartamento, evocando do passado e refletindo escolhas e seus arrependimentos. Zikora, sua melhor advogada
TRADUÇÃO DE JULIA ROMEU

sumário

Por que ler este livro

Um espaço todo seu, para aproximar e celebrar a maior comunidade leitora do Brasil 04 06 10 13 14 16

Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais

A autoria

Um retrato caprichado de quem está por trás da história

Dois dedos de prosa

De onde veio, do que fala, o que é o livro que você vai ler

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês

Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

Espaço da comunidade

“Adichie faz com que contar histórias pareça tão fácil quanto o canto dos pássaros.”
- The Daily Telegraph
“O grande marco das publicações de 2025.”
- The Observer

sobre de classes, personalidades

desejos, anseios estão interligados.

depois da Americanah, romance Chimamanda com outra investigação sobre as que são relação entre ser mulher contemporâneo. vibra com emocional, trazendo do coração verdadeira alcançável? passageiro? devemos ser com conseguirmos ser amados?

CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

A contagem dos sonhos

Chiamaka vive nos Estados Unidos e sonha em publicar em livro seus relatos de viagens pelo mundo. Sua despreocupada existência de idas e vindas é paralisada pelo lockdown durante a pandemia, quando ela se vê totalmente sozinha no próprio apartamento, evocando relacionamentos do passado e refletindo sobre suas escolhas e seus arrependimentos.

Zikora, sua melhor amiga, é uma advogada bem-sucedida, com a vida inteira traçada em detalhes. Porém, após ser abandonada grávida, seu futuro tão certo de repente desmorona. É então que, junto de seu recém-nascido e da mãe cética, ela precisa recalcular a rota — para enfim encontrar apoio em quem menos esperava.

Kadiatou, empregada de Chiamaka, cria com orgulho a filha nos Estados Unidos depois de uma longa jornada com origem na Guiné, carregando consigo uma extensa bagagem de abusos e traumas. Ao finalmente se estabelecer em um novo lugar, ela depara com uma provação inconcebível, que ameaça tudo que trabalhou tanto para conseguir. Omelogor, prima de Chiamaka, vive na Nigéria e é uma gênia das finanças que decide se arriscar em uma área completamente diferente. Tão ciente de si, atropela quem for preciso com sua inabalável autoconfiança para vencer

Por que ler este livro

O novo romance da premiada autora nigeriana se debruça de forma cativante e arrebatadora sobre dilemas fundamentais da experiência feminina, africana e afrodiaspórica. Chimamanda Ngozi Adichie nos conta uma grande história, envolvente e profunda, enquanto joga luz sobre os pontos de encontro entre as trajetórias de quatro mulheres africanas, seus amores, saudades e desejos. Neste mergulho intenso, a autora coloca o leitor frente a frente com questões incontornáveis, como quais são as escolhas que fazemos, quais são feitas por nós e qual vida, afinal, desejamos viver.

CHIMAMANDA NGOZI
JULIA ROMEU

Contando modos de estar no mundo

Em uma obra madura que inclui romances, contos, ensaios e palestras, a autora nigeriana mais lida da atualidade dialoga com multidões, com provocações originais e indispensáveis para navegar com encanto, força e lucidez crítica pelo nosso tempo

“Sempre há outra maneira de viver.”

Ao terminar as mais de 400 páginas de A contagem dos sonhos, essa breve e oportuna afirmação ficou martelando na mente desta que vos escreve. Dita por uma das quatro protagonistas em certo ponto da narrativa, a frase condensa um sentido que predomina em toda a obra de Chimamanda Ngozi Adichie: a abertura à diferença.

Mas é tão simples, bonito e unidimensional celebrar a diferença em um parágrafo qualquer. O que a escritora nigeriana tem feito em quase três décadas na literatura é demonstrar o quanto é difícil — e fundamental — perseguir verdadeiramente essa abertura. Afinal, quando falamos de contrastes socioeconômicos, culturais, sexuais, raciais e religiosos — temas transversais na construção dos personagens da autora —, estamos falando não só do que é vibrante, belo e potente nessa diversidade, mas também da violência e da incompreensão que existem no encontro com outras realidades. Nos deparamos com a possibilidade dolorosa de que sejamos nós a reproduzir violências, ainda que a abertura à diferença esteja aparentemente assimilada no nosso discurso. Falamos do choque entre tradição e contemporaneidade que atravessa as relações entre pais e filhos, de profundas feridas coloniais, da desigualdade de poder que existe — queiramos ou não — entre aqueles que por sorte ou azar nasceram em um lugar ou outro do globo.

Sim, há muitos temas duros no novo e grandioso romance da escritora nigeriana. Mas também não faltam tantos outros aspectos de encantamento: delicadeza, profundidade afetiva e personagens tão complexas, humanas e reais quanto eu e você.

Chimamanda se debruça sobre dilemas cheios de camadas da forma mais genuína possível: puxando os leitores para dentro da experiência de suas personagens, onde mergulhamos no modo como cada uma caminha pela vida, nas suas memórias e emoções.

Das quatro protagonistas de A contagem dos sonhos , a primeira que conhecemos é Chiamaka, uma mulher nigeriana nascida em uma família rica, que vive nos Estados Unidos e viaja pelo mundo escrevendo sobre os lugares que conhece. No começo da pandemia de Covid-19, ela se vê restrita à própria companhia e começa uma jornada por suas lembranças, revisitando um desejo profundo de viver o amor que tanto idealiza e lembrando de cada vez em que pensou ter encontrado a pessoa com quem realizaria esse sonho. Ao narrar os encontros da personagem com homens de vários países, a autora explora as potencialidades e conflitos que se revelam nos contrastes entre diferentes culturas.

Conectadas a Chia, estão três outras mulheres: Zikora, sua melhor amiga, uma advogada nigeriana que também mora nos Estados Unidos; Omelogor, sua prima confiante e independente, que construiu uma carreira sólida no setor financeiro na Nigéria; e Kadiatou, sua governanta, uma mulher da Guiné que buscou asilo com a filha nos Estados Unidos depois de sofrer duras experiências no seu país natal.

Pela perspectiva de cada uma, conhecemos suas relações familiares, suas memórias de infância, as alegrias e as dores das tradições de suas comunidades. Aos poucos, entendemos como cada uma absorveu, questionou ou transpôs, em maior ou menor grau, os preceitos sociais de sua cultura — como a centralidade do casamento e da maternidade para as mulheres nigerianas ou a prática da mutilação genital feminina na Guiné. Ao mesmo tempo que explora a linguagem e os costumes das etnias Igbo e Fula, a autora também faz tiradas bem-humoradas com hábitos e vícios das culturas americana e europeia, em um discreto lembrete de que todas as pessoas — não só as populações originárias de territórios colonizados — estão emaranhadas na cultura. Cada uma das quatro mulheres também terá uma experiência muito particular com a condição de imigrante nos Estados Unidos.

Este é um livro intensamente habitado, populoso: além das protagonistas, você vai conhecer uma galeria de personagens cheios de nuances, capazes de despertar os sentimentos mais variados. Não há dúvida: você vai se enxergar em alguns deles, vai sentir muita raiva de outros, possivelmente vai encontrar diálogos muito parecidos com alguns que você já teve com sua família ou com sua melhor amiga. Essa é a mágica de Chimamanda: ela nos leva para longe, nos puxa para perto e revela, nesse movimento de identificação e estranhamento, nossa humanidade compartilhada.

O FENÔMENO CHIMAMANDA

Nascida em 15 de setembro de 1977, em Enugu, Chimamanda cresceu em Nsukka, cidade universitária localizada a cerca de 600 quilômetros da então capital da Nigéria, Lagos. Sua mãe foi a primeira mulher a trabalhar na secretaria da Universidade da Nigéria, e seu pai, o primeiro professor de estatística do país. Por acaso ou por destino — interprete como quiser —, a residência da família Adichie, localizada no campus universitário, havia sido, anos antes, a casa de Chinua Achebe, um dos mais importantes escritores nigerianos da história.

Aos 19 anos, Chimamanda partiu para os Estados Unidos para estudar Comunicação e Ciências Políticas e formou-se com distinção na Universidade Estadual de Connecticut. Depois, concluiu um mestrado em Escrita Criativa na Universidade Johns Hopkins e outro em Estudos Africanos na Universidade Yale. Aos 20 anos, publicou a coletânea de poemas Decisions (1997), seu primeiro livro. Seu romance de estreia, Hibisco roxo (2003), foi aclamado pela

crítica e recebeu prêmios como o Commonwealth Writers' Prize, além de ter sido finalista do Booker Prize. Entre 2005 e 2012, a autora conquistou três bolsas acadêmicas, nas universidades de Princeton e Harvard e na Fundação MacArthur, permitindo que ela se dedicasse exclusivamente à escrita.

Em 2006, publicou Meio sol amarelo (2006), vencedor do Baileys Women’s Prize (antigamente chamado de Orange Prize for Fiction). A obra faz um mergulho de fôlego nas histórias humanas de sobrevivência e de sonhos em meio aos horrores da Guerra de Biafra, no final dos anos 60. Em 2009, lançou a coletânea de contos No seu pescoço. Com Americanah (2013), Chimamanda ampliou as dimensões de seu sucesso a nível global. Vencedor do National Book Critics Circle Award e escolhido um dos dez melhores do ano pelo New York Times, o livro explora os dilemas de uma jovem nigeriana que deixa para trás seu país e seu primeiro amor na década de 90, durante o governo militar, para estudar nos Estados Unidos. Longe de casa, ela se depara com o sabor agridoce de sua escolha: as desejadas oportunidades no meio acadêmico vêm enredadas nas agruras do racismo e da condição de imigrante, mulher e negra na cultura do país.

Além dos romances, a escritora proferiu duas conferências inesquecíveis no TED, que acumulam milhões de visualizações no YouTube. As falas foram transformadas em dois de seus livros mais conhecidos: Sejamos todos feministas (2014) e O perigo de uma história única (2019). Em 2017, publicou o ensaio Como educar crianças feministas, adaptação de uma carta enviada a uma amiga da escritora, que pedia conselhos para criar sua filha atenta a valores de igualdade de gênero. Em 2021, lançou o ensaio Notas sobre o luto, sobre a dor de perder seu pai. A contagem dos sonhos, o livro que você acaba de receber, é dedicado à mãe da autora, que faleceu poucos meses depois. Em 2024, Chimamanda publicou seu primeiro livro infantil, O lenço de cetim da mamãe, uma parceria com a ilustradora Joelle Avelino. A obra é uma narrativa terna e delicada sobre as alegrias cotidianas da vida em família.

Ao longo da carreira, Chimamanda recebeu títulos de doutora honoris causa em mais de 15 universidades e teve seu trabalho traduzido para mais de 30 idiomas ao redor do mundo.

“Penso em mim como uma estudante da vida e uma estudante pela vida. Eu acordo e penso em todos os livros que não li e as coisas que não sei e que quero saber. Para mim, o feminismo é a mesma coisa. Quero sobretudo aprender sobre a vida das mulheres em várias partes do mundo e como as mulheres enfrentam os desafios que surgem por elas serem mulheres.”

Chimamanda, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em junho de 2021.

Africanidades plurais

A importância de multiplicarmos as narrativas que temos sobre o imenso e diverso continente africano e um pouco mais sobre a literatura afropolitana, corrente que dialoga diretamente com os livros de Chimamanda

Na inesquecível conferência “O perigo de uma história única”, Chimamanda Ngozi Adichie afirmou que “o problema com estereótipos não é que eles não sejam verdadeiros, mas que eles são incompletos”. A cada nova história que ouvimos sobre um território, uma cultura ou população que não conhecemos, nos aproximamos de uma ideia mais completa (e, ao mesmo tempo, sempre parcial) dessa realidade. O continente africano é historicamente alvo de estereótipos rasos e racistas. Afinal, por muito tempo, só foram disseminadas amplamente narrativas que expressavam o ponto de vista europeu, plantando em muita gente uma imagem estática e uniforme da África: pobreza e guerras, pouca ou nenhuma diferenciação entre a história, as culturas e etnias, os idiomas e costumes de seus mais de 50 países, uma leitura simplista de tradições e modos de vida dessas populações. Quantas histórias deixamos de ouvir?

Por retratar mulheres nigerianas que migraram para outros territórios e escapam a estereótipos convencionais sobre pessoas africanas, Chimamanda é frequentemente listada como um grande nome da literatura afropolitana. O termo foi popularizado em 2005 pela escritora de ascendência ganense-nigeriana Taiye Selasi, no aclamado artigo “Bye-bye Babar, ou O que é um afropolitano?”, que apontou para a experiência de africanos diaspóricos conectados a diferentes lugares do mundo, mas que mantêm vínculos profundos e múltiplos com suas raízes. A literatura afropolitana costuma falar, direta ou indiretamente, desse choque entre pessoas reais, em toda a sua complexidade, e o estereótipo que invariavelmente cai sobre elas no contato com pessoas de outros continentes, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa.

Alguns autores afropolitanos migraram para escapar do autoritarismo, de guerras civis ou de outros contextos de violência. Outros simplesmente tiveram o desejo e a oportunidade de estudar em universidades no exterior, ou são filhos de outra geração da diáspora. Trata-se de uma corrente literária que nos ensina a dissolver as ideias fechadas que temos sobre as histórias africanas, a expandir nosso imaginário da africanidade, a assumir nosso desconhecimento e escutar vozes plurais para preencher essa longa lacuna.

AUTORES E LIVROS PARA CONHECER

Yaa Gyasi nasceu em Gana em 1989 e cresceu em Huntsville, no Alabama, Estados Unidos. Seu romance de estreia, O caminho de casa, acompanha as trajetórias de duas irmãs separadas pela escravidão e das gerações seguintes, do século 18 até os dias atuais, destacando com força singular os impactos da escravidão e do colonialismo dos dois lados do Atlântico. O livro levou Gyasi à lista anual de escritores com menos de 35 anos da National Book Foundation, ganhou o prêmio PEN/Hemingway 2017 e entrou para a lista de best-sellers do New York Times. Atualmente, a autora mora em Berkeley, na Califórnia.

Scholastique Mukasonga, nascida em Ruanda em 1956, sobreviveu ao genocídio dos tútsis em 1994, um episódio que matou mais de 800 mil pessoas, incluindo dezenas de familiares da escritora. Refugiada na França desde 1992, sua obra é marcada pela memória e pela experiência de exílio, entre a autobiografia e a ficção. Em Baratas, A mulher de pés descalços e Nossa Senhora do Nilo (finalista do Prêmio Goncourt), ela reencontra, por diferentes ângulos, o doloroso massacre que marcou a história de seu país.

O angolano Kalaf Epalanga, nascido em 1978, tornou-se escritor depois de ter construído uma carreira na música. Durante uma década, ele esteve à frente da banda Buraka Som Sistema, que popularizou o ritmo do kuduro. Em 2017, conquistou reconhecimento internacional com o livro Também os brancos sabem dançar. Na narrativa, o autor revisita suas memórias ao contar a história de um músico angolano que é impedido de cruzar uma fronteira e, enquanto espera seu visto, reflete sobre a infância no seu país de origem, a migração para Lisboa e os desafios de ser um artista africano na Europa.

Alain Mabanckou nasceu na República do Congo em 1966 e passou sua infância na cidade de Pointe-Noire, onde se formou em Letras e Filosofia. Aos 22 anos, foi estudar na França e, três anos mais tarde, começou a publicar suas histórias. Foi amplamente aclamado por romances como Copo quebrado, Memórias de porco-espinho (Prêmio Renaudot de 2006) e Black Bazar. Em 2015, foi finalista do Booker Prize com Moisés negro, enviado pela TAG Curadoria em 2021. Atualmente, vive na Califórnia e leciona literatura francófona na UCLA.

Nascida em 1981 no Zimbábue, apenas um ano após a independência de seu país, NoViolet Bulawayo foi para os Estados Unidos concluir seus estudos acadêmicos e se lançou na literatura em uma trajetória de grande reconhecimento, com um Prêmio Caine e duas indicações ao Booker Prize. Seu romance de estreia, Precisamos de novos nomes, acompanha uma menina cativante e irreverente, suas desventuras e aventuras no bairro onde mora e a nova vida nos Estados Unidos, que revela o sabor agridoce de firmar chão longe de casa.

Imbolo Mbue nasceu em 1981 em Camarões e também foi cursar o ensino superior nos Estados Unidos. Sua própria experiência e o contato com outros imigrantes inspiraram seu primeiro romance, Aqui estão os sonhadores, que explora os contrastes entre as realidades de uma família de camaroneses e outra de americanos brancos de elite durante a crise econômica de 2008, em Nova York. O livro foi reconhecido com o Prêmio PEN/ Faulkner de Ficção e o Prêmio Blue Metropolis Words to Change e também indicado para o clube de livros de Oprah Winfrey.

Da mesma estante

Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês, para quem quiser continuar no assunto

TRADIÇÃO E MODERNIDADE

Histórias habitadas por personagens que desafiam tradições e despertam reflexões cativantes e profundas sobre o diálogo entre diferentes tempos

AS IRMÃS MAKIOKA,

Jun'ichiro Tanizaki

Estação Liberdade, 744 pp.

Tradução de Leiko

Gotoda, Kanami Hirai, Neide Hissae Nagae e Eliza Atsuko Tashiro

Na obra-prima de Tanizaki, acompanhamos as perspectivas múltiplas de quatro irmãs de uma abastada família japonesa sobre os dilemas sociais de uma cultura em plena transformação durante a Segunda Guerra Mundial. Um marco da literatura japonesa.

TODAS AS CORES DO CÉU,

Amita Trasi

HarperCollins, 384 pp.

Tradução de Caroline Chang

Uma história emocionante, realista e cheia de camadas sobre o laço profundo entre duas meninas indianas de castas e realidades sociais muito diferentes. Um mergulho brutal, complexo e instigante na cultura indiana, com reflexões potentes sobre injustiças que atravessam o tempo e a luta por emancipação feminina.

BORDADOS, Marjane Satrapi

Quadrinhos na Cia, 136 pp.

Tradução de Paulo Werneck

O olhar da autora iraniana sobre as tardes de bordados entre as mulheres da família. Além de designar a atividade manual historicamente feminina, o bordado iraniano remete à cirurgia de reconstituição do hímen — decisão pragmática de mulheres que não abrem mão da vida sexual antes do casamento, mas precisam corresponder às expectativas das forças moralistas do país.

Universo do livro

Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês

o conservadorismo e ser livre. Ainda assim, há uma questão que não parece estar bem resolvida em sua vida. Depois de para o falecido pai, Chimamanda Ngozi Adichie se debruça sobre a história de quatro mulheres — sendo uma delas inspirada em uma personagem real — para tratar da perda da mãe. Um romance atual e envolvente, que aborda as paixões e agruras da mulher, ao passo que pincela com sua sensibilidade característica o poder da amizade e da maternidade.

CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

nasceu em Enugu, na Nigéria, em 1977. Com livros publicados em mais de

O MUNDO SE DESPEDAÇA

Uma história sublime sobre quatro mulheres de classes, vozes, origens e personalidades distintas, mas cujos desejos, traumas e anseios estão profundamente interligados.

Mais de dez anos depois da Americanah, romance

best-seller mundial, Chimamanda Ngozi Adichie volta com outra obra-prima, uma investigação sobre as escolhas que fazemos e as que são feitas por nós, sobre a relação entre mãe e filha, sobre ser mulher no mundo contemporâneo. A contagem dos sonhos vibra com urgência emocional, trazendo observações pungentes do coração humano, e questiona: a verdadeira felicidade é de fato alcançável? Ou é apenas um estado passageiro? E quão honestos devemos ser com nós mesmos para conseguirmos amar e ser amados?

livro de Chinua Achebe ambientado na Nigéria pré-colonial, considerado uma das obras fundamentais da literatura africana. O autor é um dos maiores escritores do século 20 e uma referência literária incontornável de Chimamanda.

A NEGRA DE…

TRADUÇÃO DE JULIA ROMEU

premiado filme de Ousmane Sembène sobre uma mulher senegalesa que se muda para a França para trabalhar como governanta na casa de uma família, mas se depara com uma realidade de racismo

AS ALEGRIAS DA MATERNIDADE

livro que lançou a obra da escritora nigeriana Buchi Emecheta no Brasil, a partir da indicação de Chimamanda aos associados da TAG Curadoria, em 2017.

CHIMAMANDA NGOZI
ADICHIE
CHIMAMANDA

SANGUE E ÁGUA

série sul-africana, disponível na Netflix, sobre uma adolescente que vai estudar em uma escola de elite e investiga se uma das alunas seria sua irmã, sequestrada ao nascer.

Chiamaka vive nos Estados Unidos e sonha em publicar em livro seus relatos de viagens pelo mundo. Sua despreocupada existência de idas e vindas é paralisada pelo lockdown durante a pandemia, quando ela se vê totalmente sozinha no próprio apartamento, evocando relacionamentos do passado e refletindo sobre suas escolhas e seus arrependimentos.

LIONHEART

Zikora, sua melhor amiga, é uma advogada bem-sucedida, com a vida inteira traçada em detalhes. Porém, após ser abandonada grávida, seu futuro tão certo de repente desmorona. É então que, junto de seu recém-nascido e da mãe cética, ela precisa recalcular a rota — para enfim encontrar apoio em quem menos esperava.

Kadiatou, empregada de Chiamaka, cria com orgulho a filha nos Estados Unidos depois de uma longa jornada com origem na Guiné, carregando consigo uma extensa bagagem de abusos e traumas. Ao finalmente se estabelecer em um novo lugar, ela depara com uma provação inconcebível, que ameaça tudo que trabalhou tanto para conseguir.

Omelogor, prima de Chiamaka, vive na Nigéria e é uma gênia das finanças que decide se arriscar em uma área completamente diferente. Tão ciente de si, atropela quem for preciso com sua inabalável autoconfiança para vencer 1/27/25 2:48 PM

filme de Nollywood, dirigido por Genevieve Nnaji, que narra os desafios e a determinação de uma mulher para manter a empresa de transportes do seu pai quando ele adoece.

FLAWLESS

música de Beyoncé lançada em 2013, com participação especial de Chimamanda recitando um trecho de sua famosa conferência no TED Talks, “Sejamos todos feministas”.

Espaço da comunidade

Madame TAG, eu criei o hábito de ler já adulta, há 2 anos (tenho 41), após um fato ruim na minha vida. Encontrei nos livros uma companhia, um refúgio e a possibilidade de estar em vários lugares e de conhecer diversas pessoas. Tô tão feliz com isso!

Os livros têm me salvado, porém há muitos deles na minha lista de espera e falta tempo pra ler todos, então eu deixo de fazer outras coisas. Eu não malho, não encontro os amigos, não vou ao cinema... Meu programa predileto é minha rede em casa e ler o livro da vez. A questão é que a lista de livros só aumenta! Me ajude, o que eu faço?

Cara leitora,

Você tem diante de si um dilema comum a qualquer apaixonado por livros. Acredite quando eu digo que entendo perfeitamente seu sentimento. Mas veja bem, até as nossas melhores obsessões podem se virar contra nós quando não as miramos do ângulo mais generoso. Já pensou que ter uma imensa lista de livros por desbravar pode ser, em vez de uma demanda pesada a cumprir, um horizonte de prazeres, mistério e descobertas à sua frente? Para quem ama ler, o que pode ser mais empolgante do que isso? Meu conselho é que você não permita que o apetite pelos livros que ainda não leu te arranquem da entrega à história que você está lendo agora — afinal, o presente é tudo o que temos de verdade.

E, se me permite mais um pitaco, querida leitora, abra um espaço na agenda para encontrar seus amigos, movimentar o corpo e ir ao cinema. Eu sei, é difícil deixar os livros, mas intercalar a leitura com outras atividades nos deixa mais inteiros para ler o mundo e enriquece nosso território afetivo. Sem contar que hábitos saudáveis vão lhe proporcionar mais energia e qualidade de vida para entregar-se, sem remorsos, à leitura. Você chegará a cada livro no tempo certo. Aproveite a jornada e confie!

Saudações de uma leitora desapressada, Madame TAG

“Deus,

quando você irá criar uma mulher que se sinta satisfeita com sua própria pessoa, um ser humano pleno, não o apêndice de alguém?”

– BUCHI EMECHETA

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