Jornal AORP

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ESPAÇO OPINIÃO. ANDREA TETTRI

ESPAÇO OPINIÃO

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ANDREA TRETII QUAL O FUTURO DAS EMPRESAS DE OURIVESARIA EM PORTUGAL?

Quantas vezes ouvi esta entre outras perguntas nos últimos anos! Embora entenda muito bem as preocupações que levam a questionar-se sobre o futuro, infelizmente nem eu nem vocês temos o dom de o prever. Gostava assim de partilhar convosco algumas reflexões que amadureci nos últimos tempos, de forma ajudar, em conjunto, a encontrar o nosso caminho. Vindo de experiências noutros sectores muito diferentes, entrar em contacto com as empresas de ourivesaria, provocou-me uma sensação ao mesmo tempo de sincera maravilha e de forte interesse. A fragmentação em centenas, ou até milhares de entidades fortemente especializadas em actividades muito restritas. A dimensão muito reduzida das empresas, bem abaixo da média nacional da indústria de transformação. A gestão familiar, com estrutura, funções e relacionamentos internos/ externos geralmente muito informais. São só algumas das características que me marcaram, características extremamente interessantes, que conferem de um lado uma grande flexibilidade, do outro expõem-se mais facilmente aos factores externos que as empresas não controlam. Tentando sintetizar uma situação bastante complexa, com a sobreposição da crise económico-financeira à prolongada recessão do sector, as empresas hoje em dia encontram-se a enfrentar de uma forma geral os seguintes problemas: • Dificuldade em impôr uma marca com forte reconhecimento por parte do cliente final; • Escassa capacidade financeira, agravada pelo contínuo aumento do valor da matéria-prima para além do câmbio euro-dólar desfavorável; • Limitadas capacidades de planeamento estratégico,

investimento em pesquisa e design do produto; • Forte separação entre empresas comerciais e produtivas, com falta de ligação mutuamente vantajosa: - para os produtores: grande dependência dos armazenistas para atingir e “perceber” o público-alvo; - para os comerciantes: dificuldade em assegurar um fornecimento com elevada relação qualidade/ preço, com resposta rápida e níveis de serviço satisfatórios. Eu sei, que até agora pouco ou nada de novo disse, que vocês já não soubessem. Preferi começar por descrever a situação do sector de ourivesaria... em Itália! De facto, apesar da posição de liderança em todos os mercados do mundo, como vemos o Made in Italy afinal não está muito longe da nossa realidade. Entre 2004 e 2008 a Itália registou a maior queda entre os maiores países transformadores quer no trabalho do ouro (-44%) e quer no da prata (-36%). Durante a VicenzaOro First 2010 o presidente Roberto Ditri lançou uma mensagem muito eloquente: “Temos que ser conscientes que o 2010 para a economia mundial se abre no signo da incerteza. [...] A nossa única resposta possível para o sector é reagir com força e capacidade de mudar, apostando na inovação, formação e internacionalização. Arregaçar as mangas e continuar a trabalhar!”. Exactamente um ano depois, finalmente o optimismo começou a aparecer timidamente entre os operadores do Sector. E é o próprio Ditri a comentar: “Internacionalização é a palavrachave no desafio global. Este ano lançamos as bases para o que será o nosso futuro de player mundial de primeiro nível no Sector. Os factos deram-nos razão.”

INOVAÇÃO • Estudar combinação dos metais preciosos com metais diferentes; • Design para nos diferenciar, com novas formas, cores, etc.; • Design para reduzir o consumo de matéria-prima preciosa e conceber peças agradáveis com preço mais acessível; • Ligação aos outros sectores da Moda, aos quais o da Ourivesaria está sempre mais próximo; • Ligações às outras empresas do próprio Sector, através de cooperação, parcerias, etc.; • Exploração das novas tecnologias para a divulgação da Marca e dos produtos; FORMAÇÃO • Aprender com os nossos competitors, visitando feiras não só em busca de produto ou de clientes, mas também para conhecer as tendências e trazer novas ideias; • Aproveitar o menor volume de trabalho para analisar as nossas fraquezas e estudar a melhor forma de os minimizar; • Utilizar todas as oportunidades que nos são oferecidas (AORP, QREN, ...) em benefício à nossa actividade, procurando maximizar a boa ajuda para nos permitir melhorar e crescer;

Por fim, na esperança que o meu italiano aportuguesado não representou grande dificuldade em transmitir de forma mais contida possível um assunto tão vasto, queria deixar uma última consideração sempre válida em qualquer momento: não ganha quem trabalha mais, mas quem trabalha melhor! Sobretudo nesta época não devemos cair na tentação de sacrificar da qualidade em favor do preço, mas sim o seu oposto: aumentar a qualidade percebida pelo cliente final, sem aumento de preço.

INTERNACIONALIZAÇÃO • Procurar novos mercados para aumentar o nosso volume de negócio; • Diferenciar os mercados de destino por forma a reduzir a dependência do mercado interno; • Prestar grande atenção ao marketing, por exemplo divulgando e insistindo na origem do produto como imagem de qualidade.

Gestor e Engenheiro Industrial Consultor do programa Formação PME


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