E-book Congresso Leiria 2017

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VIII Congresso Internacional ASPESM

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VIII Congresso Internacional ASPESM EDIÇÃO E PROPRIEDADE: A SOCIEDADE PORTUGUESA DE ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL

TÍTULO: E-book: VIII Congresso Internacional ASPESM Sub-Título: A saúde Mental ao Longo do Ciclo Vital COORDENAÇÃO DA EDIÇÃO: Carlos Sequeira José Carlos Carvalho Luís Sá Mafalda Siva Odete Araújo COMISSÃO EDITORIAL: Bruno Santos Francisco Sampaio Lia Sousa Joana Coelho Sónia Teixeira Divulgação: ASPESM Suporte: E-book (formato. pdf) ISBN:

Nota: Todos os artigos publicados são propriedade d’ASPESM, pelo que não podem ser reproduzidos para fins comerciais, sem a devida autorização da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental. A responsabilidade pela idoneidade e conteúdo dos artigos é única e exclusiva dos seus autores. A opção do texto com o novo acordo ortográfico ficou a cargo de cada autor. Citação - APA Style: 1. Sequeira, C.; Carvalho, J.C.; Sá, L., Silva, M. & Araujo, O. (Eds.) (2017). VIII Congresso Internacional ASPESM: A Saúde Mental ao Longo do Ciclo Vital. Porto: ASPESM.

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VIII Congresso Internacional ASPESM

Conteúdos

Enquadramento do congresso .................................................................................... 4 Resumos ..................................................................................................................... 7 Violência contra a pessoa idosa e o impacto na saúde mental ............................... 7 A eficiência da terapia da reminiscência na promoção da autoestima .................. 16 Qualidade de Vida, capacidade funcional e sintomatologia depressiva em pessoas com experiência de doença mental ....................................................................... 30 Gestão do stress e ansiedade nos indivíduos alcoólicos em setting terapêutico .. 42 Prevenção da Infeção do Trato Urinário relacionada com a presença de Sonda Vesical em doentes hospitalizados ........................................................................ 60 A Importância dos Nutrientes na Saúde/Doença Mental: Revisão Sistemática de Literatura ................................................................................................................ 75 Impacto da Prática de Atividade Física na Qualidade de Vida do Adulto .............. 84 “Mente Ativa em Corpo Ativo” – Projeto de Estimulação de Pessoas Assistidas com Demência ............................................................................................................... 93 “Re…Lembrar” um contrato terapêutico .............................................................. 104 Aplicabilidade das práticas integrativas de saúde para a melhoria do padrão de sono ............................................................................................................................. 116 Controlo percebido como fator de bem-estar emocional ..................................... 126 Diagnósticos de enfermagem psicossociais em idosos acerca da vulnerabilidade ao HIV/Aids ............................................................................................................... 137 Efetividade das técnicas de Estimulação Cognitiva em pessoas com doença mental em fase aguda: uma revisão ................................................................................ 147 Estratégias de atenção integral à saúde da mulher no centro de atenção psicossocial ............................................................................................................................. 159 Cuidar na demência: grupos de ajuda mútua para cuidadores informais ............ 168 Relaxamento muscular progressivo: uma intervenção de enfermagem para pessoas com diagnóstico de ansiedade presente.............................................................. 178 Saúde mental em jovens estudantes: GSHS ....................................................... 190 Atenção à gestante usuária de álcool na unidade básica .................................... 199 Relação entre o grau de dependência de pessoas com Acidente Vascular Encefálico (AVE) e o nível de ansiedade nos/as cuidadores/as informais ............................ 209 Saúde mental na infância e adolescência: principais desafios na atualidade ..... 220

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VIII Congresso Internacional ASPESM

Enquadramento do congresso O VIII Congresso Internacional da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental inseriu-se no âmbito das atividades regulares da ASPESM, no qual se pretendeu debater o “Saúde mental ao longo do cilclo vital. Neste evento foi dada ênfase à evidência científica e à prática clínica, inserida num contexto que se promotor de Saúde mental, de modo a que os Enfermeiros e/ou outros profissionais de saúde, possam potenciar o seu contributo na implementação de práticas de qualidade que facilitem a autonomia, adaptação e integração. Preparamos um programa geral com uma matriz construída por conferências (mais concetuais) e comunicações livres e posters (mais práticos e contextuais) de modo a que cada um, em função dos seus interesses/necessidades possa beneficiar da experiência e do saber dos nossos oradores, possibilitando por esta via um maior envolvimento de todos na discussão das temáticas. Agradecemos a todos os palestrantes a sua disponibilidade para nos presentearem com o seu saber e a sua experiência. Tudo fizemos para lhes proporcionar uma experiência positiva. Agradecemos às instituições de assistência e de ensino que se associaram a esta iniciativa da ASPESM, em Especial, ao Instituto Politécnico de Leiria e à Ordem dos Enfermeiros. De modo a permitir a divulgação de um maior número de experiências/conhecimentos, a organização possibilitou um espaço de debate que integrou comunicações orais, simpósios e posters que complementaram o programa científico. Temáticas do evento: Curso 1 – Hipnose Clínica e Relaxamento Moderador: Lia Sousa & Eugénia Pinheiro Dinamizadores: Miguel Teixeira Curso 2 – Saúde Mental na Adolescência: Literacia, comportamentos aditivos e violência no namoro Moderador: Carolina Henriques & Leonilde Pereira Dinamizadores: Helena Catarina; Maria dos Anjos Dixe e Catarina Tomás Curso 3 – Emoçõs em Saúde

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VIII Congresso Internacional ASPESM Moderador: Sónia Teixeira & Genoveva Carvalho Dinamizadores: Paula Diogo Curso 4 – Estratégias de Enfermagem na Ansiedade e Depressão Moderador: Luís Silva & Graça Farelo Dinamizadores: Pedro Renca & Rui Paixão

I CICLO DE CONFERÊNCIAS
 Moderador: José Carlos Carvalho Principais desafios da Infância e adolescência na atualidade José Carlos Baltazar / José Carlos Nelas – Centro Hospitalar do Porto e Centro Hospitalar de Coimbra Primeiros Socorros das Emoções
 Maria Palha – Consultora de Saúde Mental
Projeto europeu THERAPY 2.0 - Counselling and Therapeutic Interactions with Digital Natives Artemisa Rocha Dores – Instituto Politécnico do Porto II CICLO DE CONFERÊNCIAS
 Moderador: Claudia Mara Tavares
 Articulação entre os cuidados de Saúde Primários e Hospitalares – uma experiência em Espanha Isalud Flores - Hospital Infanta Cristina - Badajoz - Espanha
 Estratégias de Promoção da Saúde Mental no Local de Trabalho
Marina Cordeiro – Escola Superior de Saúde do IPL
Procura da felicidade - O desafio da Espiritualidade em saúde mental
José Nuno Silva

CONFERÊNCIA
 Moderadores: Luís Sá
 Medo e Ansiedade Perante a Morte
Joaquim Tomas-Sábado – Escuelas Universitarias Gimbernat - Barcelona, Espanha Humanitude em Saúde Mental
 Rosa Melo – Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Contributos da Esperança em Saúde Mental
 Ana Querido - Escola Superior de Saúde do IPL

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VIII Congresso Internacional ASPESM DESAFIOS FUTUROS
 Moderador: Helena Quaresma
Diagnósticos e Intervenções exclusivas dos enfermeiros especialistas em Enfermagem Saúde Mental Comissão Regional de Peritos de Saúde Mental (SRNOE)
 Padrões de Qualidade em Saúde Mental – estado atual arte – Ordem dos Enfermeiros
- Carlos Sequeira

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VIII Congresso Internacional ASPESM

Resumos

Violência contra a pessoa idosa e o impacto na saúde mental Ana Karênina de Freitas Jordão do Amaral*, Maria de Fátima Duarte de Holanda**, Nilsonete Gonçalves Lucena Ferreira***, Lazuir Braga Matos do Nascimento****, Ronaldo Bezerra de Queiroz***** & Saneyde de Carvalho Almeida******

*Fonoaudióloga; Doutora; Docente do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Paraíba, Rua Inácio Ramos de Andrade, n. 65, Jardim Cidade Universitária, cep: 58052-210, João Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail: akfjafono@hotmail.com **Psicóloga; Mestre; Docente do Instituto Superior da Paraíba – Iesp/Unavida, RuaAdalida Suassuna Barreto, 280, apto 101, Pedro Gondim, cep: 58030-112, João Pessoa, Paraíba, Brasil. Email: fatima13dh@gmail.com ***Psicóloga; Mestre; Docente da Faculdade Santa Emília de Rodat; Av. Oceano Pacífico, 1436, apto 301, Intermares, cep: 58102-236, Cabedelo, Paraíba, Brasil. E-mail: nilsonete@hotmail.com ****Enfermeira; Complexo Hospitalar Clementino Fraga; Av. São Gonçali, 110, apto 403, Manaíra, cep: 58038-332, João Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail: lazuirlbm@gmail.com, mailto:ex@esenf.pt ****Médico neurologista; Doutor; Médico neurologista da Universidade Federal da Paraíba; Av. Umbuzeiro, 1237, apto 402, Manaíra, cep: 58038-182, João Pessoa, Paraíba, Brasil. Email: queirozrqb@gmail.com ****Enfermeira; Especialista em Saúde Pública com ênfase em Programa de Saúde da Família; Enfermeira da atenção básica da Prefeitura Minicipal de João Pessoa, Rua Francisco Claudino Pereira, 608, Manaíra, cep:58038-431, João Pessoa, Paraíba, Brasil. E-mail: sanfono@hotmail.com RESUMO CONTEXTO: A violência contra a pessoa idosa corersponde aum ato/omissão intencional ou voluntário subdividido em violência física, psicológica, sexual, abandono, negligência, abuso financeiro/economico, autonegligência. De toda forma causa sofrimento desnecessário, lesão, dor, perda ou violação de direitos, provocando impactos à saúde mental. OBJETIVO(S): Identificar os tipos de violência contra a pessoa idosa e o impacto na saúde mental. MÉTODOS: Estudo documental a partir de informações de denúncias de violência contra pessoa idosa registradas em um banco de dados junto ao Conselho Municipal dos Direitos do

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VIII Congresso Internacional ASPESM Idoso (CMDI-JP), no municipio de João Pessoa, Paraíba, Brasil, no período de 2014 a 2016. Os dados foram compilados para análise contemplando informações dos idosos, agressores e denunciantes, organizados em um banco de dados e analisados pela estatistica descritiva simples. RESULTADOS: Foram identificados vários tipos de violência contra a pessoa idosa, dentre as 200 denuncias realizadas. A negligência apareceu em primeiro lugar, com mais de 38% dos casos; seguida da exploração financeira, com 22,85% denúncias e 10,48% das denúncias de agressão psicológica. Achados em outros estudos reinteram que nas denúncias realizadas em outros municípios, conjugam presença de diferentes tipos de violência contra a pessoa idosa em uma mesma denúncia. CONCLUSÕES: Identificou-se três tipos de violência contra a pessoa idosa de maior impacto para saúde mental: negligência, exploração financeira e o abuso psicológico. Os cenários domésticos são responsáveis pela maioria das situações violentas, apontando os próprios familiares como aqueles que mais cometem abusos, principalmente se o idoso é dependente física, mental e economicamente. Palavras-Chave: violência; maus tratos; idoso; saúde mental. ABSTRACT BACKGROUND: Violence against the elderly responds to an intentional or voluntary act or omission subdivided into physical, psychological, sexual violence, abandonment, neglect, financial / economic abuse, self-neglect. In any way it causes unnecessary suffering, injury, pain, loss or violation of rights, causing impacts to mental health. AIM (S): To identify types of violence against the elderly and the impact on mental health. METHODS: A documentary study based on information on reports of violence against elderly persons registered in a database of the Municipal Council for the Rights of the Elderly (CMDI-JP), in the municipality of João Pessoa, Paraíba, Brazil, in the period from 2014 to 2016. The data were compiled for analysis contemplating information of the elderly, aggressors and whistleblowers, organized in a database and analyzed by simple descriptive statistics. RESULTS: Several types of violence against the elderly were identified, among 200 reported cases. The negligence appeared first, with more than 38% of the cases; followed by financial exploitation, with 22.85% reported and 10.48% reported psychological aggression. Findings in other studies reinteramed that in the denunciations made in other municipalities, conjugate presence of different types of violence against the elderly person in the same complaint. CONCLUSIONS: Three types of violence against the elderly with the greatest impact on mental health were identified: neglect, financial exploitation and psychological abuse. Domestic scenarios are responsible for most violent situations, pointing to family members as those who commit the most abuse, especially if the elderly are physically, mentally and economically dependent. Keywords: violence; mistreatment; old man; mental health.

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VIII Congresso Internacional ASPESM RESUMEN CONTEXTO: La violencia contra la persona anciana correspone un acto / omisión intencional o voluntario subdividido en violencia física, psicológica, sexual, abandono, negligencia, abuso financiero / económico, autoejección. De todas formas causa sufrimiento innecesario, lesión, dolor, pérdida o violación de derechos, provocando impactos a la salud mental. OBJETIVO (S): Identificar los tipos de violencia contra la persona de edad y el impacto en la salud mental. METODOLOGÍA: Estudio documental a partir de informaciones de denuncias de violencia contra personas mayores registradas en un banco de datos ante el Consejo Municipal de los Derechos del Anciano (CMDI-JP), en el municipio de João Pessoa, Paraíba, Brasil, en el período de 2014 a 2016. Los datos fueron compilados para análisis contemplando informaciones de los ancianos, agresores y denunciantes, organizados en un banco de datos y analizados por la estadística descriptiva simple. RESULTADOS: Se identificaron varios tipos de violencia contra la persona anciana, entre las 200 denuncias realizadas. La negligencia apareció en primer lugar, con más del 38% de los casos; seguida de la explotación financiera, con 22,85% denuncias y 10,48% de las denuncias de agresión psicológica. Los hallazgos en otros estudios reintertieron que en las denuncias realizadas en otros municipios, conjugan presencia de diferentes tipos de violencia contra la persona anciana en una misma denuncia. CONCLUSIONES: Se identificaron tres tipos de violencia contra la persona mayor de mayor impacto para la salud mental: negligencia, explotación financiera y abuso psicológico. Los escenarios domésticos son responsables de la mayoría de las situaciones violentas, apuntando a los propios familiares como aquellos que más cometen abusos, principalmente si el anciano es dependiente física, mental y económicamente. Palabras Clave: la violencia; malos tratos; personas de edad avanzada; salud mental. INTRODUÇÃO Simone de Beauvoir, em seu livro “A Velhice” relata a história de um princípe Sidarta, quando ainda não era Buda, que em uma de suas saídas do palácio viu um homem enfermo, desdentado, todo enrugado e escarnecido, curvado numa bengala, titubeante. Sobre o que viu o cocheiro lhe explicou que era um velho: “... que tristeza!: exclamou o princípe – que os seres fracos e ignorantes embargados pelo orgulho próprio da juventude, não vejam a velhice...”. O velho descrito que suscita desperezo e repulsa, parece atual em pleno século XXI quando se tem que enfrentar a realidade da violência que sofrem muitas pessoas que envelhecem na contemporaneidade, embora a perspectiva atual para o envelhecimento seja de autonomia e independência (Beauvoir, 1990). O envelhecimento populacional é uma realidade mundial inconstestável. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) o número de pessoas acima de 80 anos deve

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VIII Congresso Internacional ASPESM quadruplicar para quase 400 milhões até o ano de 2050. O Brasil ocupará, no ranking internacional, o nono lugar na proporção de idosos na população, à frente, por exemplo, de países como Estados Unidos, México e Rússia. Mas essa indiscutível realidade também traz desabores quando pessoas idosas são vítimas das mais diversas formas de violência, inclusive no âmbito da família (OMS, 1996; Minayo, Assis, Souza, 2006). A violência contra a pessoa idosa corresponde a um ato/omissão intencional ou voluntário, que compreende: violência física, psicológica, sexual, abandono, negligência, abuso financeiro/econômico e autonegligência. O abuso pode ser de natureza física ou psicológica, ou ainda envolver maus-tratos de ordem financeira/material. De toda forma, causa sofrimento desnecessário, lesão/dor, perda/violação dos direitos, além da redução da qualidade de vida (Krug, Dahlberhg, Mercy, Zwi, Lozan, 2003; Brasil, 2014; Silveira, Luna, Silva, Moreira, Saintrain, Vieira, 2014). O Estatuto do Idoso (2003) define que a violência é o contrário dos direitos. Além desse prisma legal, a violência traz sofrimento psíquico para quem dela é vítima e em consequência uma grande propensão de comprometimento da saúde mental. Não se pode considerar saúde mental dissociada da saúde geral. A mesma, compreende uma dimensão importante do estado de saúde total, sendo o fator básico que contribui para a manutenção da saúde física e da eficácia social (Anthikad, 2005). Assim sendo, questiona-se: o que é considerado violência para pessoa idosa e o seu impacto na saúde mental? Neste sentido, este estudo tem o objetivo de identificar os tipos de violência contra a pessoa idosa e o impacto na saúde mental, considerando que a violência é um fenômeno biopsicossocial, bastante complexo e dinâmico, no qual seu espaço de surgimento/desenvolvimento é a vida em sociedade, sendo um comportamento aprendido e internalizado culturalmente. MÉTODOS Estudo documental realizado a partir de informações de denúncias de violência contra pessoa idosa registradas em um banco de dados junto ao Conselho Municipal dos Direitos do Idoso (CMDI-JP), no municipio de João Pessoa, Paraíba, Brasil, no período de 2014 a 2016. A coleta dos dados realizou-se a partir de um instrumento elaborado especificamente para esta pesquisa contemplando formulário com informações das denúncias realizadas por telefone, de forma anônima ou não junto ao Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, destacando os tipos de violências perpetrados contra os idosos, em seguida tais informações foram organizadas em um banco de dados no software Excell® e analisados pela estatistica descritiva simples. As denúncias foram realizadas pelo telefone sendo incluídas as de forma anônima ou não. Foi previamente elaborado um instrumento de coleta tipo formulário, contendo as informações das denúncias. Os dados foram organizados em tabela.

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VIII Congresso Internacional ASPESM O Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa de João Pessoa foi fundado pela Lei n° 9.373/12/200 e tem por finalidade e competência propor políticas, programas, projetos e ações, contribuindo para a integração e participação efetiva da pessoa idosa na família e na sociedade, além de acompanhar ações e implementações de Políticas Públicas pelo Governo Municipal

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. Disponibiliza dados a respeito da violência contra os idosos tendo em vista sua

função profícua de defender e implementar os direitos do idoso. Este estudo não foi submetido a Comitê de Ética em Pesquisa para apreciação, pois trata-se de pesquisa documental, cujas informações são de acesso público nos termos da Lei n.12.527 de 18 de novembro de 2011, segundo a Resolução 510 de 07 de abril de 2016. RESULTADOS No período de 2014-2016 o Banco de Dados do CMDI-JP registrou um total de duzentas (200) denúncias anônimas de violência contra a pessoa idosa. Vale salientar que é possível constatar que o número absoluto de tipos de violência é maior que o número absoluto de denúncias. Isto se deve ao fato dos idosos sofrerem mais de um tipo de violência, o que vai ao encontro de outros autores (Tabela 1). Dentre estas denúncias, foram identificados: a negligência em primeiro lugar, com mais de 38% dos casos (103); seguida da exploração financeira, com 61 denúncias (22,85%); 28 denúncias de agressão psicológica (10,48%); 18 denúncias de agressão verbal (6,74%); 16 denúncias de maus tratos (5,99%) e 15% tratam de outros tipos (46). Verifica-se que a negligência, a exploração financeira e o abuso psicológico configuram-se como as formas de violência mais evidentes, corroborando com outros achados presentes na realidade brasileira. Achados pontuados em outros estudos reinteram que nas denúncias realizadas em diversos municípios, conjugam presença de diferentes tipos de violência contra a pessoa idosa em uma mesma denúncia. Neste estudo constatou-se que os idosos sofrem múltiplas formas de violência capazes de comprometerem a qualidade de vida, gerando consequências na sua saúde mental difíceis de serem superadas. Tabela 1 : Tipos de Violência denunciadas contra as vítimas idosas, no período 2014-2016. Tipos de Violência

2014

2015

2016

Total

N

%

N

%

N

%

N

%

Agressão psicológica

12

11,01

09

11,5%

07

8,6%

28

10,48

Agressão verbal

09

8,26

05

6,4%

04

4,9%

18

6,74

Negligência

38

34,86

30

38,5%

35

43,2%

103

38,58

Cárcere privado

03

2,75

01

5,3%

00

0,0%

04

1,49

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VIII Congresso Internacional ASPESM Auto-negligência

03

2,75

04

5,1%

03

3,7%

10

3,75

Exploração financeira

23

22,01

16

20,5%

22

27,2%

61

22,85

Abandono

01

0,92

04

5,1%

01

1,2%

06

2,25

Maus tratos

05

4,59

04

5,1%

07

8,6%

16

5,99

Agressão física

08

7,34

05

6,4%

02

2,5%

15

5,62

Ameaças

01

0,92

00

0,0%

00

00%

01

0,37

Agressão moral

05

4,59

00

0,0%

00

00%

05

1,88

Total

108

100

78

100

81

100

267

100

N= frequência; %=percentual

DISCUSSÃO Violência contra o idoso é definida como qualquer ação ou omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico (Estatuto do Idoso, 2003). A OMS subdivide a violência contra a pessoa idosa em subtipos: violência física, violência psicológica, violência sexual, abandono, negligência, abuso financeiro e econômico, autonegligência. Todos esses subtipos foram constatados nesse estudo; apenas a violência sexual não foi citada; entretanto, sabe-se da existência das subnotificações principalmente porque a pessoa idosa se sente constrangida, ameaçada e tem medo de dizer da existência desse tipo de violência, especialmente quando acontece dentro de sua própria residência (OMS, 1996; Brasil, 2014). A Organização Mundial da Saúde - OMS analisa o impacto da violência sobre a vida e o adoecimento das pessoas (Brasil, 2014). Toda e qualquer forma de agressão provocam adoecimento nas pessoas podendo até sucumbir (Silveira, Luna, Silva, Moreira, Saintrain, Vieira, 2014). De modo particular as pessoas idosas estão mais suscetíveis ao adoecimento, especialmente se seus direitos mais básicos forem negados, como é no caso da violência do tipo negligência (38,8%), apontada na tabela 1. Este tipo de violência diz respeito a neglicenciar atenção, cuidados e assistência ao idoso, independente da capacidade funcional; gera uma situação de fragilidade psicólogica pelo sentimento de abandono ou desamparo que experimenta gerando involuntariamente medo, ansiedade e insegurança, o que já representa uma ameaça para integridade psicológica, por vezes não vista por ser um campo subjetivo (Dahlberg, Krug, 2007; Silveira, Luna, Silva, Moreira, Saintrain, Vieira, 2014; Brasil, 2014). Todas as formas de agressão/violência impactam à vida, seja de forma visível ou invisível, por isso, a violência da exploração financeira, com 61 denúncias (22,85%) – não pode ser

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VIII Congresso Internacional ASPESM considerada menos grave do que a anterior. O abuso financeiro-econômico e patrimonial, ocorre normalmente no âmbito privado; os familiares ou pessoas próximas, mas também a instituição jurídica quando se apossam iliciatamente dos bens dos idosos e por vezes esse tipo de violência potencializa a violência de negligência, pois vai aumentar a possibilidade de faltar ao idoso suas necessidades básicas (Minayo, 2006; Silveira, Luna, Silva, Moreira, Saintrain, Vieira, 2014; Brasil, 2014). A quebra da confiança dos idosos em situação de violência em relação aos agressores familiares, pessoas mais próximas, cuidadores ou quem convive ou gerencia seus recursos econômicos pode gerar um sentimento de desproteção, ameaça e insegurança. Podendo ainda compromoter a segurança em relação a e própria autonomia e independência e esse estado de vulnerabilidade que impacta a saúde mental e geral (Minayo, 2006; Silveira, Luna, Silva, Moreira, Saintrain, Vieira, 2014; Brasil, 2014). A terceira denúncia diz respeito a agressão psicológica com 28 denuncias (10,48%). Este tipo de violência se apresenta de forma muito sutil, portanto dificil de ser identificada pela vítima. Mais do que um simples conflito ou desrespeito, causa um enorme sofrimento psíquico pela intencionalidade do agressor. Estudos mostram que o sofrimento mental provocado por esse tipo de maltrato contribui para processos depressivos e autodestrutivos, por vezes levando à ideação, tentativas de suicídio ou mesmo ao suicídio consumado (Dahlberg, Krug, 2007; Minayo, Cavalcante, 2010). Verifica-se que a negligência, a exploração financeira e o abuso psicológico configuram-se como as formas de violência mais evidentes, corroborando com outros achados presentes na realidade brasileira. Outros estudos reinteram que nas denúncias realizadas em diversos municípios, conjugam presença de diferentes tipos de violência contra a pessoa idosa em uma mesma denúncia (Krug, Dahlberhg, Mercy, Zwi, Lozan, 2003; Brasil, 2014; Silveira, Luna, Silva, Moreira, Saintrain, Vieira, 2014). Neste estudo constatou-se que os idosos sofrem múltiplas formas de violência capazes de comprometerem a qualidade de vida, gerando consequências na sua saúde mental difíceis de serem superadas. Violência deixa marcas de experiências desagradáveis, muitas vezes penosas, causam quebra de confiança e reduzem a autoestima. Como consequência, compromete a qualidade de vida e a afetividade de quem sofre violência. Com o aparelho psíquico afetado pelas tensões internas e externas experimentadas pelo ser humano em situação de ansiedade, angústia, medo, pânico, sem dúvida o estado de violência vai reverberar na saúde geral e em de forma particular ameaçando a saúde mental (Anthikad, 2005). CONCLUSÃO Identificou-se três tipos de violência contra a pessoa idosa de maior impacto para saúde mental, como: negligência, exploração financeira e o abuso psicológico. Os cenários

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VIII Congresso Internacional ASPESM domésticos são responsáveis pela maioria das situações violentas contra a pessoa idosa, apontando os próprios familiares como aqueles que mais cometem abusos, principalmente se o idoso é dependente física, mental e economicamente, sendo considerado um estorvo, um peso social. Para muitos autores, portanto, as raízes da violência estariam nos conflitos familiares e repercutem diretamente na condição de saúde mental. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLINICA Todo e qualque tipo de violência pode gerar uma multiplicidade de sintomas, a exemplo da ansiedade, sentimento de isolamento, medo, depressão. Ao considerar que as pessoas idosas estão mais vulneráveis ao comprometimento da saúde e a comorbidade aumenta-se a probabilidade de comprometimento à saúde mental das pessoas idosas vitimas de violência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS Anthikad, J. (1ªed.). (2005). Psicologia para enfermagem. São Paulo, SP: Reichmann & autores editores. Beauvoir, S. (1990). A velhice. (1a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira. Brasil. Planalto. (2003). Estatuto do Idoso. Brasília: Presidência da República. Brasil. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. (2014): Manual de enfrentamento à violência contra a pessoa idosa. É possível prevenir. É necessário superar. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Dahlberg, L.L. & Krug, E.V. (2007). Violência: um problema global de saúde pública. Ciência & Saúde Coletiva, 11(Supl),1163-1178. doi: 101590/S141381232006000500007 Krug, E.G., Dahlberg L.L., Mercy, J.A., Zwi. A.B. & Lozan, R. (2003). Informe mundial sobre la violencia y la salud. Washington, D.C.: Organización Panamericana de la Salud; Revista do Instituto

de

Medicina

Tropical

de

São

Paulo,

45(3),

374.

doi:

10.1590/S0036-

46652003000300014 Minayo, M.C.S., Cavalcante, F.G. (2010) Suicide in elderly people: a literature review. Revista de Saúde Pública, 44(4),750-757. doi: 10.1590/S0034-89102010000400020 Minayo, Maria, C.S., Assis. S.G., & Souza, Edinlisa.R. (2006). A violência na sociedade contemporânea e suas repercussões na saúde coletiva [editorial]. Ciência e Saúde coletiva, 11 (2), 1144. doi: org/10.1590/S1413-81232006000500001 Organização Mundial de Saúde. (1996). Global Consultation on Violence and Health. Violence: a public health priority. Genebra: WHO.

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VIII Congresso Internacional ASPESM Silveira, E.A.R., Luna, G.L.M., Silva, I.Z.F., Moreira, G.A.R., Saitrain, M.V.L., Vieira, L.J.E.S. (2014). Notificação de violência contra idosos na atenção primária sob a ótica dos profissionais de saúde. In: Saintrain M.V.L., Gondim A.P.S., Silva V.T.B.L. (Orgs). O sistema único de saúde cuidando da pessoa idosa. pp.64-87. Fortaleza(CE): EduECE.

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VIII Congresso Internacional ASPESM

A eficiência da terapia da reminiscência na promoção da autoestima Inês Nunes* & Paulo Seabra** *Mestranda em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa; Mestre em Enfermagem Avançada; Enfermeira; Centro Hospitalar Lisboa Norte - Hospital de Santa Maria, Avenida Professor Egas Moniz, 1649-095, Lisboa, Portugal. E-mail: inesrobalonunes@gmail.com **Doutor em Enfermagem; Professor Auxiliar Convidado; Universidade Católica Portuguesa, Escola de Enfermagem; Centro de Investação Interdisciplinar em Saúde (CIIS), Palma de Cima, 1649-023 Lisboa, Portugal; pauloseabra@ics.lisboa.ucp.pt RESUMO CONTEXTO: A terapia da reminiscência tem efeitos comprovados na autoestima. No entanto, a investigação disponível tem apresentado um enfoque preferencial nos efeitos desta intervenção na pessoa idosa, em particular com o diagnóstico médico de demência. OBJETIVO: Identificar a eficiência da terapia da reminiscência na promoção da autoestima da pessoa sem demência ou outro compromisso do foro cognitivo. MÉTODOS: Realizou-se uma revisão integrativa da literatura, nas plataformas EBSCO e BON, em junho de 2017. Pesquisámos estudos empíricos publicados entre 2007 e 2017. Utilizou-se o método PI(C)OS para orientar o processo de seleção e análise dos artigos selecionados. Os descritores utilizados foram Self-esteem, Reminiscence Therapy. RESULTADOS: Foram identificados e analisados 8 artigos que cumpriam todos os critérios de inclusão. Apenas um não demonstrou um aumento com significado estatístico do nível de autoestima, após a implementação de um programa de intervenção com terapia da reminiscência. Todas as intervenções foram realizadas em grupo. Apenas dois estudos foram realizados no âmbito da Enfermagem. CONCLUSÕES: Os resultados da evidência científica disponível, ainda que escassos, sustentam a eficiência da terapia da reminiscência enquanto intervenção promotora de autoestima nas pessoas sem compromisso cognitivo. Prevalece a investigação realizada com idosos, pelo que se recomenda a realização de investigação com populações mais jovens. Palavras-Chave:

Autoestima;

Terapia

da

Reminiscência;

Revisão

da

Literatura;

Enfermagem.

16


VIII Congresso Internacional ASPESM ABSTRACT CONTEXT: Reminiscence therapy has proven effects on self-esteem. However, the available research presents a preferential focus on the effects of this intervention for the elderly, particularly for those with dementia. OBJECTIVE: To identify the efficiency of reminiscence therapy in promoting self-esteem of people without dementia or other cognitive impairment. METHODS: An integrative literature review was carried out on the EBSCO and B-ON platforms in June 2017. We have investigated empirical studies published between 2007 and 2017. The PI(C)OS method was used to guide the selection process and analysis of selected articles. The descriptors used were Self-esteem, Reminiscence Therapy. RESULTS: Eight articles meeting all inclusion criteria were identified and analysed. Only one did not demonstrate a statistically significant increase in the level of self-esteem, after the implementation of an intervention program with reminiscence therapy. All the interventions were performed in a group. Only two studies were carried out in the Nursing field. CONCLUSIONS: The available evidence, although scarce, supports the efficiency of reminiscence therapy as a self-esteem promoting intervention for people without cognitive impairment. Research with the elderly prevails, so research with younger samples is recommended. Keywords: Self-esteem; Reminiscence Therapy; Literature revision; Nursing. RESUMEN CONTEXTO: La terapia de la reminiscencia tiene efectos comprobados en la autoestima. Sin embargo, la investigación disponible ha presentado un enfoque preferencial en los efectos de esta intervención en los ancianos, en particular en aquellos con el diagnóstico médico de demencia. OBJETIVO: Identificar la eficiencia de la terapia de la reminiscencia en la promoción de la autoestima de la persona sin demencia u otro compromiso del foro cognitivo. MÉTODOS: Se realizó una revisión integrativa de la literatura, en las plataformas EBSCO y B-ON, en junio de 2017. Investigamos estudios empíricos publicados entre 2007 y 2017. Se utilizó el método PI(C)OS para orientar el proceso de selección y análisis de los artículos seleccionados. Los descriptores utilizados fueron Self-esteem, Reminiscence Therapy. RESULTADOS: Se identificaron y analizaron 8 artículos que cumplían todos los criterios de inclusión. Sólo uno no demostró un aumento con significado estadístico del nivel de autoestima, tras la implementación de un programa de intervención con terapia de la reminiscencia. Todas las intervenciones se realizaron en grupo. Sólo dos estudios se realizaron en el ámbito de la Enfermería.

17


VIII Congresso Internacional ASPESM CONCLUSIONES: Los resultados de la evidencia científica disponible, aunque escasos, sostienen la eficiencia de la terapia de la reminiscencia como intervención promotora de autoestima de personas sin compromiso cognitivo. Prevalece la investigación realizada con ancianos, por lo que se recomienda la realización de investigación con poblaciones más jóvenes. Palabras clave: Autoestima; Terapia de la Reminiscencia; Revisión de literatura; Enfermería. INTRODUÇÃO A autoestima reflete o valor que cada um se atribui, com uma orientação tendencialmente positiva ou negativa e, e reflete o respeito por si próprio. Constitui a componente emocional de um conceito mais abrangente - o autoconceito (Rosenberg, 1965). Uma autoestima adequada reflete uma visão positiva de si próprio, fundamentada em capacidades e conquistas reais, no respeito por si e pelos outros e conduz a sentimentos de competência, adequação e valorização pessoal. Pelo contrário, uma autoestima diminuída representa uma visão negativa de si e da relação com o mundo, criando sentimentos de inferioridade, incapacidade, desadequação e desamparo (Rosenberg, 1965) e tem implicações reais nas capacidades de desempenho, nas relações interpessoais, na saúde física e mental (Orth, Robins, & Widaman, 2012). Existem várias intervenções terapêuticas promotoras de uma autoestima adequada, nas quais se inclui a Terapia da Reminiscência. A Reminiscência, enquanto conceito e terapia, nasceu nos anos 60, no âmbito da gerontopsiquiatria (Webster, Bohlmeijer, & Webster, 2010). Foi inicialmente definida como um processo espontâneo e natural de evocação de memórias e experiências significativas do passado - desenvolvido particularmente por pessoas idosas - e evoluiu para o seu entendimento enquanto estratégia de intervenção com um caráter estruturado e intencional (Cappeliez, O’Rourke, & Chaudhury, 2005). Atualmente, a terapia da reminiscência pode ser definida como uma intervenção baseada na recuperação e utilização de memórias e experiências do passado (incluindo sentimentos, pensamentos e comportamentos) com uma finalidade terapêutica, promotora da adaptação às circunstâncias do presente (Lopes, Afonso, & Ribeiro, 2014) As intervenções baseadas na reminiscência podem assumir formas de complexidade crescente, desde a reminiscência simples (não estruturada) à terapia de revisão de vida (mais estruturada e integradora de toda a história de vida) (Webster et al., 2010). As intervenções estruturadas de reminiscência enquadram-se numa abordagem cognitivo-comportamental e baseiam-se no pressuposto que a recordação de eventos positivos ou negativos do passado e a sua partilha ativa contribuem para que os indivíduos ultrapassem sentimentos negativos e dificuldades no presente (Soniya, 2015). Pode ser realizada individualmente ou em grupo, idealmente constituído por 8 a 12 pessoas e para além da narrativa verbal, outros recursos

18


VIII Congresso Internacional ASPESM podem ser mobilizados, incluindo fotografias, documentos, filmes, música, dramatização, jogos e tradições, entre outros (Soniya, 2015). Os benefícios da terapia da reminiscência têm sido largamente estudados na população idosa e incluem a adaptação a eventos e transições, a melhoria do bem-estar e da satisfação com a vida, o desenvolvimento de sentimentos de competência e mestria, a redução dos sintomas depressivos e a melhoria da autoestima (Gonçalves, Albuquerque, & Martín, 2008). Em particular, a terapia da reminiscência constitui uma das intervenções psicossociais mais reconhecidas no cuidado à pessoa com demência (Huang, et al., 2015), tendo efeitos comprovados ao nível da cognição, do humor, da capacidade funcional, da diminuição da sobrecarga dos familiares, da sintomatologia depressiva, do bem-estar, da qualidade de vida e da comunicação (Lopes et al., 2014). No entanto, de acordo com a meta-análise desenvolvida por Chin (2005), existe ainda uma evidência limitada no que respeita aos seus efeitos clínicos no adulto sem demência ou outro compromisso do foro cognitivo. MÉTODOS A presente revisão integrativa da literatura tem como principal objetivo identificar a eficiência da terapia da reminiscência na promoção da autoestima da pessoa sem demência ou outro compromisso da função cognitiva. Elaborou-se um protocolo de pesquisa, tendo como alvo os resultados da investigação produzida entre 2007 e 2017, para dar resposta à questão de investigação formulada com a estratégia PI(C)OS: “Qual a eficiência da terapia da reminiscência (I) na promoção da autoestima (O) da pessoa sem demência/outro compromisso da função cognitiva (P) obtida em estudos empíricos (S)?”. Realizou-se uma pesquisa, em junho de 2017, nos motores de pesquisa EBSCO e B-ON, para acesso a bibliotecas virtuais e bases de dados como: CINAHL, Psychology and Behavioral Sciences Collection, Education Source, PsycARTICLES, ScienceDirect, SciELO, Directory of Open Access Journals, Academic Search Complete, Medline, Social Sciences Citation Index, Complementary index, Science Citation Index, Academic OneFile, Directory of Open Access Journals, Supplemental Index e SPORTDiscus. Recorremos aos operadores boleanos para formular a equação de pesquisa: Self-esteem (AND) Reminiscence Therapy (NOT) dementia, alzheimer’s, cognitive impairment e memory loss. Aplicamos a equação de pesquisa no resumo. Aplicaram-se ainda critérios de inclusão e exclusão (Tabela 1).

19


VIII Congresso Internacional ASPESM Tabela 1 - Critérios de inclusão e exclusão Critérios de Inclusão ●

Estudos empíricos primários com qualquer tipo

Critérios de Exclusão ●

de metodologia; ●

Estudos onde fosse apurada a efetividade ou

sistemática da literatura; ●

eficácia ou eficiência das intervenções. ●

Publicado em revista científica entre 2007 e 2017;

Idioma: inglês, espanhol, francês e português;

Texto completo, cumprindo a estrutura PICOS.

Artigos de revisão integrativa ou Teses, dissertações, editoriais ou artigos de opinião;

Não responder à questão de investigação.

Para a seleção dos estudos seguimos as guidelines PRISMA para a identificação, seleção, elegibilidade e inclusão dos estudos na RIL (Moher, Liberati, Tetzlaff, Altman, & Group, 2009). Através da conjugação booleana foram identificados 112 artigos, que resultaram numa amostra final de 8 artigos (fluxograma 1).

20


VIII Congresso Internacional ASPESM Fluxograma 1 - Processo de seleção dos artigos

RESULTADOS A informação relativa aos artigos selecionados encontra-se sintetizada e sistematizada na Tabela 2, tendo em conta os parâmetros preconizados pelo método PI(C)OS. Tabela 2 - Resultados da Revisão da Literatura - PI(C)OS

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VIII Congresso Internacional ASPESM Autor

Participantes

Objetivos / Intervenção

Resultados

Tipo

País

de

Estudo

Ano Chiang et

75

Homens

al.

com mais de

Taiwan

65

Imediatamente

Quantitativ

aleatoriamente entre um grupo

após a intervenção,

o

controlo e um grupo experimental,

os

Quasi-

2008

idade,

com o objetivo de avaliar os efeitos

autoestima

residentes

de um programa de grupo de

aumentaram

numa

revisão de vida na autoestima e na

forma

instituição para

satisfação com a vida. Escalas

estatisticamente

veteranos

Rosenberg Self Esteem Scale e

significativa

Life Satisfaction Index A foram

grupo experimental.

aplicadas

Os efeitos positivos

anos

de

de

guerra.

Participantes

antes

em

foram

três

da

divididos

momentos: intervenção,

imediatamente após o seu término

níveis

de

experiment de

al

no

mantiveram-se após 1 mês.

e 1 mês depois. O programa foi implementado por um enfermeiro e desenvolveu-se ao longo de 8 semanas, com sessões semanais de 1-1h30. Wu, L.F.

74

Homens

Taiwan

com mais de

2011

65

Verificou-se que os

Quantitativ

aleatoriamente em 4 grupos, cada

níveis

o

um constituído por um grupo

autoestima

idade,

controlo e um grupo experimental,

satisfação

residentes

com o objetivo de avaliar os efeitos

vida aumentaram e

numa

de um programa de terapia da

os

instituição para

reminiscência

depressivos

veteranos

autoestima, satisfação com a vida

diminuíram

e sintomas depressivos.

forma

Escalas Life Satisfaction Index A,

estatisticamente

Rosenberg Self Esteem Scale e

significativa apenas

Geriatric Depression Scale Short

nos

Form

experimentais.

anos

guerra.

de

de

Participantes

foram

divididos

integrativa

aplicadas

em

na

dois

de com

e

Quasi-

a

experiment al

sintomas de

grupos

momentos: antes da intervenção e imediatamente

após

o

seu

término. O programa foi implementado por uma equipa de enfermeiros e desenvolveu-se ao longo de 12 semanas, com uma frequência

22


VIII Congresso Internacional ASPESM semanal, tendo as sessões a duração de 1h. Preschl,

36

Idosos

B. et al.

(mediana

da

aleatoriamente entre um grupo

aumento

Suiça

idade

70

controlo e um grupo experimental,

mas

Quasi-

2012

anos)

com

com o objetivo de avaliar os efeitos

estatisticamente

experiment

de um programa de terapia de

significativo

da

revisão de vida nos sintomas

autoestima

no

depressivos,

grupo experimental.

de

depressão ligeira

a

moderada

Participantes

foram

divididos

autoestima,

Verificou-se

um ligeiro,

satisfação com a vida e bem-estar.

Os

Instrumentos: Beck Depression

com níveis iniciais

Inventory, Rosenberg Self-Esteem

de autoestima mais

Scale,

elevados foram os

Life

Satisfaction

Index,

que

apresentaram

Reminiscence Questionnaire.

uma

menor

Os instrumentos foram aplicados:

diminuição

antes

sintomas

intervenção,

imediatamente após o seu término

o

al

participantes

WHO Five Well-being Index e

da

Quantitativ

nos

depressivos.

e 3 meses depois. Dois psicólogos implementaram um programa com a duração de 6 semanas,

de

periodicidade

semanal. Cada sessão tinha a duração de 1 a 1h30 e combinava interações

presenciais

e

interações virtuais, com base no programa

informático

“Butler

System”. Zhou

et

125

Idosos

Participantes

foram

divididos

Não se verificaram

Quantitativ

al.

com mais de

aleatoriamente entre um grupo

diferenças

o

2012

60

de

controlo e um grupo de teste, com

estatisticamente

Quasi-

China

idade, a viver

o objetivo de avaliar os efeitos da

significativas

na

terapia

nos

nível de autoestima

comunidade

sintomas depressivos, autoestima

após a intervenção.

anos

da

reminiscência

no

experiment al

e equilíbrio emocional em idosos na comunidade. Instrumentos Geriatric Depression Scale,

Rosenberg

Self-Esteem

Scale e Affect Balance Scale foram

aplicados

antes

da

23


VIII Congresso Internacional ASPESM intervenção e imediatamente após o seu término. Durante 6 semanas, o grupo controlo participou em sessões de educação para a saúde e o grupo teste em sessões de educação para

a

saúde

e

terapia

da

reminiscência. Meléndez

34 Idosos com

Participantes

-Moral et

mais

Após a intervenção,

Quantitativ

65

aleatoriamente entre um grupo

os

de

o

al.

anos de idade,

controlo e um grupo experimental.

autoestima

do

Quasi-

2013

residentes em

Objetivo: avaliar a utilidade da

grupo experimental

experiment

Espanha

dois lares

terapia da reminiscência em grupo

aumentaram

al

nos sintomas depressivos, na

forma

autoestima, satisfação com a vida

estatisticamente

e

significativa,

de

foram

bem-estar.

Geriatric

divididos

Instrumentos

Depression

Scale,

níveis

de

comparativamente

Rosenberg Self-Esteem Scale e

aos do grupo de

Philadelphia

controlo.

Geriatric

Center

Morale Scale, aplicados antes da intervenção e imediatamente após o seu término. O programa de 8 semanas foi implementado por um psicólogo, com sessões semanais com a duração de 1 hora. Pishvaei,

34

Homens

et al.

viúvos

com

2015 Irão

Participantes

divididos

Após a intervenção,

Quantitativ

aleatoriamente entre um grupo

os

de

o

idade superior

experimental e um grupo controlo.

autoestima

do

Quasi-

a 60 anos

O primeiro teve acesso a um

grupo experimental

experiment

programa

aumentaram

al

de

terapia

da

níveis

reminiscência, implementado por

forma

um psicólogo ao longo de seis

estatisticamente

semanas

significativa,

(frequência

semanal;

de

cada sessão com a duração de 1

comparativamente

hora); o grupo de controlo não foi

aos do grupo de

alvo de qualquer intervenção.

controlo.

Foram

aplicadas

as

escalas

Rosenberg Self-Esteem Scale e General

Anxiety

Questionnaire

24


VIII Congresso Internacional ASPESM antes e imediatamente após a intervenção. Meléndez

34 Idosos com

Participantes

-Moral, et

mais

Após a intervenção,

Quasi-

65

aleatoriamente entre um grupo

os

de

experiment

al.

anos,

não

controlo e um grupo experimental,

autoestima

do

al

2015

institucionaliza

com o objetivo de avaliar a

grupo experimental

República

dos

utilidade

aumentaram

de

divididos

da

Dominica

reminiscência

na

sintomas

terapia em

da

grupo

nos

depressivos,

na

níveis

de

forma estatisticamente

autoestima, satisfação com a vida,

significativa,

bem-estar

comparativamente

e

integridade.

Instrumentos: Depression

Geriatric Scale,

Rosenberg

aos do grupo de controlo.

Self-Esteem Scale, Life Integration Scale, Life Satisfaction Index A e Ryff

Psychological

Well-Being

Scales, antes da intervenção e imediatamente

após

o

seu

término. O programa de 8 semanas foi implementado por um psicólogo, com sessões semanais com a duração de 1 hora. Hallford &

321

Adultos

Mellor

jovens,

2016

idade

Austrália

de 25,5 anos

com média

Participantes aleatoriamente

em

distribuídos

Apenas

as

Quantitativ

4

atividades

de

o

grupos,

correspondendo cada um a tipos

reminiscência

diferentes

relativas

de

atividades

de

reminiscência a serem realizadas

resolução

online: 1) resolução de problemas,

problemas

2)

identidade

identidade;

3)

reviver

a

amargura, 4) controlo. Foram

aplicados

instrumentos,

antes

Quasià de e

aumentaram vários da

Experiment al

à de

forma estatisticamente

intervenção e imediatamente após

significativa

a

a mesma.

autoestima

dos

Foi dada a instrução inicial comum

participantes.

a todos os participantes para que identificassem

uma

memória

significativa. Cada memória foi abordada com questões distintas

25


VIII Congresso Internacional ASPESM de acordo com a categoria de reminiscência que se pretendia implementar.

DISCUSSÃO De forma global, a presente revisão da literatura sustenta a hipótese de que a terapia da reminiscência constitui uma intervenção adequada e com efeitos positivos na autoestima. Este resultado é demonstrado por um aumento estatisticamente significativo do nível de autoestima na totalidade dos estudos apresentados, à exceção do trabalho de Zhou et al. (2012). Os resultados deste último estudo podem ser explicados por diferenças importantes no que respeita tanto às características da amostra como à implementação da intervenção, nomeadamente a realização concomitante de psicoeducação, desconhecendo-se os conteúdos abordados e estratégias utilizadas, por não se encontrarem especificadas no artigo. A maioria dos resultados incluídos na presente revisão foram obtidos com amostras de dimensões relativamente reduzidas e constituídas maioritariamente por pessoas com idade superior a 60 anos. No entanto, Hallford & Mellor (2016) demonstraram igualmente a eficiência da terapia da reminiscência num grupo de adultos jovens. A investigação sobre as estratégias de intervenção para a autoestima diminuída na pessoa idosa parece ser particularmente relevante, já que a autoestima tende a aumentar a partir da adolescência e ao longo da vida adulta, atingindo o seu pico máximo aos 50/60 anos de idade, altura a partir da qual se inicia uma cinética descendente, com riscos para o desenvolvimento de resultados e experiências de vida negativas para a pessoa idosa (Orth et al., 2012). Verificou-se ainda que todas as intervenções foram realizadas em grupo, constituídos por 8 a 12 pessoas, o que está de acordo com as recomendações para a realização de terapia da reminiscência (Wong & Watt, 1991). A partilha entre os elementos do grupo permite o envolvimento de todos os participantes, potencia a partilha de memórias e eventos da história de vida, promove a socialização e a aquisição de novos significados através da interação com o outro. No entanto, importa realçar que a terapia da reminiscência pode ser igualmente realizada em contexto individual, tendo o terapeuta a função de promover a narrativa das memórias significativas e de assistir o indivíduo na construção dos significados subjacentes (Wong & Watt, 1991). À exceção do estudo de Hallford & Mellor (2016) – pela sua variante metodológica – todos os outros estudos incluídos na presente revisão apresentam um programa de intervenção estruturado, com sessões de frequência semanal, com a duração de 60 a 120 minutos e que variam num total de 6 (Preschl, et al., 2012; Zhou, et al., 2012; Pishvaei, et al., 2015) a 12

26


VIII Congresso Internacional ASPESM sessões (Wu, 2011). Também os temas abordados, ainda que trabalhados em sequências distintas, apresentam uma sobreposição relevante de conteúdos, incluindo memórias desde a infância à terceira idade, da história familiar, da vida laboral, das relações interpessoais, das conquistas pessoais e das expectativas para o futuro. Nas sessões de terapia da reminiscência foram ainda mobilizados vários recursos recomendados na literatura (Meléndez-Moral et al., 2015; Soniya, 2015), nomeadamente músicas, jogos, filmes, fotografias e tradições. Apesar de todos os estudos apresentarem uma avaliação longitudinal dos efeitos da terapia da reminiscência na autoestima – com uma avaliação prévia à intervenção e outra imediatamente após o término da mesma – apenas os estudos de Chiang et al. (2008) e de Preschl, et al. (2012) realizaram uma avaliação dos efeitos num prazo mais alargado, após um e três meses, respetivamente. No que respeita ao enquadramento disciplinar subjacente, identifica-se que todos tiveram por base uma abordagem enraizada na Psicologia, e que a maioria foi desenvolvida por profissionais desta área. Apenas dois estudos (Chiang et al., 2008; Wu, 2011) foram desenvolvidos por enfermeiros, ainda que não se fundamentem de forma explícita em pressupostos científicos de Enfermagem. Limitações: Apesar de se ter alargado o horizonte temporal de pesquisa a um período de dez anos, foram identificados apenas 8 artigos, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão definidos, o que demostra uma aparente escassez de investigação nesta área. CONCLUSÃO A revisão sistemática da literatura reforça a evidência sobre a eficiência da terapia da reminiscência enquanto intervenção promotora de autoestima em pessoas sem compromisso cognitivo. Em termos metodológicos, é possível reconhecer o predomínio claro de uma abordagem quantitativa ao fenómeno em estudo, com a implementação de estudos do tipo quasiexperimental. No entanto, ainda que este facto possa ser justificado pela adequação metodológica, importa questionar se esta constituirá a única via de acesso à investigação sobre a autoestima e as intervenções promotoras da mesma. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Nos resultados desta revisão, prevalece a investigação realizada com idosos, pelo que se recomenda a realização de investigação com populações mais jovens. A ausência de investigação qualitativa pode indiciar a necessidade de explorar a metodologia qualitativa ou mista, como meio para aceder à experiência individual de viver com uma

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VIII Congresso Internacional ASPESM autoestima diminuída, e às potencialidades da terapia da reminiscência na melhoria do diagnóstico. Considera-se ainda pertinente, a realização de investigação com amostras de maior dimensão e com um maior horizonte temporal, por forma a permitir a avaliação dos efeitos a longo prazo da intervenção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS Cappeliez, P., O’Rourke, N., & Chaudhury, H. (2005). Functions of reminiscence and mental health in later in life. Aging and Mental Health, 9(4), pp. 295-310. Chiang, K.-J., Lu, R.-B., Chu, H., Chang, Y.-C., & Chou, K.-R. (2008). Evaluation of the effect of a life review group program on self-esteem and life satisfaction in the elderly. International Journal of Geriatric Psychiatry, 23, pp. 7-10. Chin, A. (2007). Clinical effects of reminiscence therapy in older adults: a meta-analysis of controlled trials. Hong Kong Journal of Occupational Therapy, 17(1), pp. 10-22. Gonçalves, D., Albuquerque, P., & Martín, I. (2008). Reminiscência enquanto ferramenta de trabalho com idosos: Vantagens e limitações. Análise Psicológica, 1(XXVI), pp. 101-110. Hallford, D. J., & Mellor, D. (2016). Brief reminiscence activities improve state well-being and self-concept in young adults: a randomised controlled experiment. Memory, 24(10), pp. 13111320,. Huang, H., Chen, Y., Chen, P., Hu, S., Liu, F., Kuo, Y., & Chiu, H. (2015). Reminiscence Therapy Improves Cognitive Functions and Reduces Depressive Symptoms in Elderly People With Dementia: A Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. JAMDA Journal of PostAcute and Long-Term Care Medicine, 16(12), pp. 1087-194. Lopes, T., Afonso, R., & Ribeiro, O. (Dezembro de 2014). Impacto de intervenções de reminiscência em idosos com demência: revisão da literatura. Psicologia, Saúde & Doenças., 15(3), pp. 597-611. Meléndez-Moral, J., Ruiz, L., Rodríguez, T., & Galán, A. (2013). Effects of a reminiscence program among institutionalized elderly adults. Psicothema, 25(3), pp. 319-323. Meléndez-Moral, J., Terrero, F., Galán, A., & Rodríguez, T. (2015). Effect of reminiscence therapy on depression, well-being, integrity, self-esteem and life satisfaction in older adults. The Journal of Positive Psychology, 10(3), pp. 240-247. Moher, D., Liberati, A., Tetzlaff, J., Altman, D. G., & Group, T. P. (2009). Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses : The PRISMA Statement. PLOS Medicine, 6(7). http://doi.org/10.1371/journal.pmed.1000097. NANDA International. (2015). Diagnósticos de enfermagem da NANDA : definições e classificação - 2015-2017 (10ª ed.). Porto Alegre: Artmed.

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VIII Congresso Internacional ASPESM Orth, U., Robins, R., & Widaman, K. (2012). Life-span development of self-esteem and its effects on important life outcomes. Journal of Personality and Social Psychology, 102, pp. 1271-1288. Pishvaei, M., Moghanloo, R., & Moghanloo, V. (2015). The efficacy of treatment reminders of life with emphasis on integrative reminiscence on self-esteem and anxiety in widowed old men. Iranian Journal of Psychiatry, 10(1), pp. 19-24. Preschl, B., Maercker, A., Wagner, B., Forstmeier, S., BaĂąos, R., AlcaĂąiz, M., . . . Botella, C. (November de 2012). Life-review therapy with computer supplements for depression in the elderly: a randomized controlled trial. Aging & Mental Health, 16(8), pp. 964-974. Rosenberg, M. (1965). Society and the adolescent self-image. Princeton, NJ: Princeton University Press. Soniya, G. (Abril de 2015). Reminiscence Therapy to Reduce Depression Among Elderly. International Journal of Nursing Education, 7(2), pp. 160-164. Webster, J., Bohlmeijer, E., & Webster, E. (2010). Mapping the future of reminiscence: a conceptual guide for research and practice. Research on Aging, 32(4), pp. 527-564. Wu, L.-F. (2011). Group integrative reminiscence therapy on self-esteem, life satisfaction and depressive symptoms in institutionalized older veterans. Journal of Clinical Nursing, 20, pp. 2195-2203. Zhou, W., He, G., Gao, J., Yuan, Q., Feng, H., & Zhang, C. (2012). The effects of group reminiscence therapy on depression, self-esteem, and affect balance of Chinese communitydwelling elderly. Archives of Gerontology and Geriatrics, 54, pp. 440-447.

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VIII Congresso Internacional ASPESM

Qualidade de Vida, capacidade funcional e sintomatologia depressiva em pessoas com experiência de doença mental Jorge Façanha*, Daniel Falcão**, Anabela Almeida***, & Emanuel Oliveira**** * Mestre em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Enfermeiro Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria; Instituto das Irmãs Hospitaleiras na Casa de Saúde Rainha Santa Isabel, Condeixa-a-Nova, Portugal. jorgefacanha@gmail.com ** Mestre em Psicologia Clínica; Psicólogo Clínico; Instituto das Irmãs Hospitaleiras na Casa de Saúde Rainha Santa Isabel, Condexa-a-Nova, Portugal. danielfalcaopsi@gmail.com *** Mestre em Psicologia Clínica e Saúde na Universidade Coimbra; Psicóloga Junior; Faculdade

de

Psicologia

e

de

Ciências

da

Educação,

Coimbra,

Portugal.

anabela.almeida@hotmail.com **** Doutor em Ciências do Desporto na Universidade Coimbra, Terapeuta Ocupacional Mestre em Saúde Mental, Instituto das Irmãs Hospitaleiras na Casa de Saúde Rainha Santa Isabel, Condeixa-a-Nova, Portugal. emanuelto@gmail.com RESUMO CONTEXTO: Os cuidados de saúde mental em Portugal são centrados actualmente nos modelos de base comunitária e na implementação de programas de reabilitação psicossocial que potenciam a adopção de estilos de vida saudáveis e mais adaptativos. A capacidade funcional é crucial para a qualidade de vida, determinando a capacidade das pessoas viverem de forma mais independente na comunidade (WHO), 2003). Também estudos indicam a presença de défices significativos de funcionalidade em utentes deprimidos (Goldney, Fisher, Wilson, & Cheok, 2000) e qualidade de vida substancialmente inferior (Papakostas et al, 2004). OBJETIVO(S): Verificar a relação entre qualidade de vida, capacidade funcional e sintomatologia depressiva em pessoas com doença mental. MÉTODOS: Estudo observacional do tipo analítico de cohorte. Amostra não probabilística de conveniência (N=14), do sexo feminino, domiciliadas na Casa de Saúde Rainha Santa Isabel. Aplicados os seguintes Instrumentos: EUROHIS-QOL-8 (Pereira, Melo, Gameiro, & Canavarro, 2011), IAFAI (Simões et al, 2015), GDS (Simões, 2015). RESULTADOS: Existe uma correlação positiva entre qualidade de vida e capacidade funcional e particularmente com o módulo atividades básicas de vida diárias, atividades instrumentais de vida avançadas.

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VIII Congresso Internacional ASPESM Verifica-se uma correlação negativa entre sintomatologia depressiva e qualidade de vida, e uma correlação positiva entre qualidade de vida e capacidade funcional. CONCLUSÕES: A avaliação da qualidade de vida demonstra a importância de intervenções dirigidas à sintomatologia depressiva e capacidade funcional. As pessoas com doença mental em programas de reabilitação psicossocial devem usufruir de acções que permitam o aumento da funcionalidade e diminuição da sintomatologia depressiva, mantendo-as na comunidade com o máximo de independência e qualidade de vida. Palavras-Chave: Qualidade de Vida; Capacidade funcional; Sintomatologia depressiva; Reabilitação psicossocial; ABSTRACT BACKGROUND: Health care providing in Portugal is currently focused on community-based models and the implementation of psychosocial rehabilitation programs that promote healthy and adaptive lifestyles, with consequent improvement in Functional Capacity and Quality of Life. Functional Capacity is of crucial importance to Quality of Life, determining the ability of people to live more independently in the community (WHO, 2003). Furthermore, several studies point to the presence of significant functional deficits in depressed patients (Goldney, 2000) and substantially lower Quality of Life values than those in the general population (Papakostas et al, 2004). AIM: To examine the relation between Quality of Life, Functional Capacity and depression symptoms in people with severe mental illness, living in moderate support homes. METHODS: Cohort study, with a non-probability sample of convenience, consisting of 14 female individuals. The following instruments have been applied: EUROHIS-QOL-8 (Pereira, 2011), IAFAI (Simões, 2015), GDS (Simões, 2015). RESULTS: There is a correlation between Quality of Life and Functional Capacity in particular with the basic activities of daily living module, advanced instrumental activities of life. There is a negative correlation between depression symptoms and Quality of Life and a positive correlation between Quality of Life and Functional Capacity. CONCLUSIONS: The assessement of Quality of Life shows the importance of maintaining interventions aimed at depression symptoms and Functional Capacity. Thus, people with severe mental illness in psychosocial rehabilitation programs should benifit from actions that allow the increase of functionality and decrease of depression symptoms, keeping them in community settings for as long as possible with maximum independence and Quality of Life. Keywords: Quality of life; Functional capacity; depression symptoms; Psychosocial rehabilitation;

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VIII Congresso Internacional ASPESM RESUMEN CONTEXTO: La prestación de asistencia de salud mental en Portugal se centra actualmente en los modelos de base comunitaria y la implementación de programas de rehabilitación psicosocial que mejoran la adopción de estilos de vida saludables y más adaptables, con la consiguiente mejora de la capacidad funcional y calidad de vida. La capacidad funcional es de crucial importancia para la calidad de vida, determinando la capacidad de las personas para vivir de manera más independiente en la comunidad (WHO, 2003). Además, varios estudios indican la presencia de déficits significativos de funcionalidad en usuarios deprimidos (Goldney, 2000) y valores de calidad de vida sustancialmente inferiores a los de sujetos de la población general (Papakostas et al, 2004). OBJETIVO(S): Verificar la existencia de relación entre la calidad de vida, la capacidad funcional y la sintomatología depresiva en personas con experiencia de enfermedad mental, insertadas en residencias de apoyo moderado. METODOLOGÍA: Estudio observacional del tipo de cohorte. El muestreo es, no probabilístico por conveniencia, constituido por 14 individuos, del sexo femenino. Se aplicaron los siguientes instrumentos: EUROHIS-QOL-8 (Pereira, 2011), IAFAI (Simões, 2015), GDS (Simões, 2015). RESULTADOS: Existe una correlación positiva entre la calidad de vida y la capacidad funcional y en particular con el módulo actividades básicas de la vida diaria, actividades avanzadas de la vida diaria. Se observa una correlación negativa entre la sintomatología depresiva y la calidad de vida y una correlación positiva entre la calidad de vida y la capacidad funcional. CONCLUSIONES: La evaluación de la dimensión calidad de vida demuestra la importancia de existencia y mantenimiento de intervenciones dirigidas al foco sintomatología depresiva y capacidad funcional. De esta manera las personas con experiencia de enfermedad mental insertadas en programas de rehabilitación psicosocial deben gozar de acciones que permitan el aumento de la funcionalidad y disminución de la sintomatología depresiva, manteniéndolos en la comunidad por el mayor tiempo posible con el máximo de independencia y calidad de vida. Palabras Clave: Calidad de vida; Capacidad funcional; Sintomatología depresiva; Rehabilitación psicosocial; INTRODUÇÃO As perturbações de natureza psiquiátrica são reconhecidas há vários séculos, no entanto só nos últimos 100 anos é que se verificaram mudanças significativas no campo da psiquiatria e saúde mental (Cordeiro, 2002). Dado o aumento da prevalência das perturbações mentais e sendo a saúde mental uma componente indispensável e fundamental à saúde em geral, esta assumiu, ao longo do tempo, um papel de evidência na capacidade funcional e

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VIII Congresso Internacional ASPESM consequentemente na promoção da autonomia e da qualidade de vida (QdV) (WHO, 2013). Deste modo, a DGS (2016) e a WHO (2013) consideram a saúde mental como um dos principais desafios do século XXI. Segundo a WHO (2001), saúde mental é um “estado físico, mental e social de completo bemestar e não apenas a ausência de doença”, no qual a pessoa tem a capacidade para identificar as suas competências, realizar as suas atividades/tarefas, lidar com eventuais situações de stress, trabalhar de forma produtiva e ainda ter um papel ativo na sociedade. Por outro lado, a doença mental é definida como “alterações do modo de pensar e do humor (emoções) ou por comportamentos associados com a angústia pessoal e/ou deterioração do funcionamento”, despontando em determinado momento da vida (WHO, 2001). No entanto vários autores também enunciam a doença mental grave, na maioria dos casos, como causa de dificuldades a nível emocional, físico, social e cognitivo potencializando a diminuição da capacidade funcional geral e/ou específica (American Psychiatric Association/APA, 2013; Axer, 2012; Schalock & Luckasson, 2013). Estudos epidemiológicos recentes revelam que a doença mental é uma das principais causas de incapacidade, morbilidade e morte prematura (DGS, 2016; WHO, 2013), nomeadamente a esquizofrenia e a perturbação bipolar (Bowie et al., 2010; DGS, 2016; Mantovini, Teixeira & Salgado, 2015;). Em Portugal, a prevalência das perturbações mentais é superior a outros países europeus, como é possível constatar nos dados do Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental (2013). De acordo com condições clínicas anteriormente descritas, a capacidade para viver de forma autónoma e independente na comunidade pode estar comprometida. Sendo as intervenções preventivas e de promoção da saúde imprescindíveis, para a otimização das oportunidades para a saúde, a participação e a segurança, com o objetivo de melhorar a QdV(WHO, 2002). Deste modo, manter ou recuperar os níveis de autonomia e de independência, durante o maior tempo possível, assume-se como um objetivo principal na reabilitação de pessoas com experiencia em doença mental. Um número significativo de pessoas com doença mental, tornam-se menos capazes de cuidar de si após cada recaída com declínio do auto-cuidado e das capacidades funcionais o que faz com que se tornem mais desabilitados e isolados. Alguns estudos parecem apontar para o facto de o envolvimento dos familiares no processo de reabilitação contribuir para a diminuição das taxas de recaída e melhoria do funcionamento psicossocial (Marques-Teixeira, 2005). A prestação de cuidados de saúde mental em Portugal é progressivamente centrada em modelos de base comunitária e na implementação de programas de reabilitação psicossocial que potenciam a adopção de estilos de vida saudáveis e mais adaptativos, com consequente melhoria da capacidade funcional e QdV (Oliveira, 2011).

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VIII Congresso Internacional ASPESM A reabilitação psicossocial é dirigida para ensinar as competências necessárias para viver em comunidade, permitindo às pessoas com doença mental trabalhar, fazer compras, cuidar de si mesmas, manter uma casa e relacionar-se com outras pessoas. Embora possam ser necessárias quer a hospitalização durante as recaídas graves, o objectivo geral é conseguir que as pessoas com doença mental vivam dentro da comunidade (Ouden et al., 2013). A incapacidade pode ter diferentes causas, natureza, forma de aparecimento e implicações que contribuem negativamente no bem-estar e na QdV (WHO, 2002;). Entre todos os fatores determinantes da incapacidade funcional destacam-se o processo de envelhecimento, as perturbações mentais, as morbilidades, os fatores socioeconómicos e demográficos, os défices a nível cognitivo e psicomotor e a sintomatologia depressiva (WHO, 2002; Ouden et al., 2013; Patterson & Mausback, 2010). Defenindo a capacidade funcional como a aptidão, a habilidade e a competência para a acção, necessárias para o desempenho das atividades significativas de forma independente e autónoma (Millán-Calenti et al., 2010; Neri, 2005) e participar de forma ativa na sociedade (Millán-Calenti, 2010). Neste sentido, o declínio da capacidade funcional é identificado através da perda progressiva de capacidade para o desempenho das Atividades de Vida Diária/ AVD com autonomia (capacidade de controlar, lidar com as situações e tomar decisões sobre a sua vida de acordo com os seus próprios valores e preferências) e/ou independência (capacidade de realizar AVD sem ajuda ou com pequena ajuda de outrem) (WHO, 2002). A capacidade funcional é de importância crucial para a QdV das pessoas, determinando a capacidade das pessoas viverem de forma mais independente na comunidade (WHO, 2003). Neste enquadramento, a reabilitação psicossocial parece ser um meio efectivo de promover as competências funcionais de pessoas que experienciam uma doença mental, através de programas e estruturas de empregos protegido, de habitação apoiada, e serviços de controlo de medicação e consultaria. A percepção de QdV nas pessoas com sintomatologia depressiva, apresenta valores substancialmente inferiores aos apresentados na população geral (Papakostas et al, 2004). Estes programas podem representar uma opção importante para muitas destas pessoas, contribuindo de forma significativa para a promoção de estilos de vida mais saudáveis e adaptativos e consequentemente para uma melhoria efectiva da funcionalidade e QdV (Oliveira, 2011) A abordagem da saúde mental comunitária dá cada vez maior ênfase à manutenção das pessoas com doença mental na respectiva comunidade residencial, com promoção da sua autonomia e integração social. Todos os estudos comparando estes novos serviços com os tradicionais serviços de base hospitalar demonstraram que os serviços comunitários são mais efectivos e são largamente preferidos pelos doentes e suas famílias (CNSM, 2008; Oliveira, 2011).

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VIII Congresso Internacional ASPESM

MÉTODOS Amostra: A caraterização da amostra quanto a variáveis demográficas (idade, estado civil, escolaridade e tempo de internamento) encontra-se na Tabela 1. A amostra, de conveniência, é constituída por 14 participantes do sexo feminino, inseridas em residências de apoio moderado, com idades compreendidas entre os 31 e os 66 anos (M=51.93; DP=9.067), com diagnóstico de DMG, inseridos no programa de reabilitação psicossocial da CSRSI. Relativamente à escolaridade, há 5 utentes que têm entre 0 a 4 anos (35.7%) de frequência escolar, 5 utentes (35.7%) que têm entre 5 a 9 anos de escolaridade e 4 utentes (28.6%) 10 ou mais anos de escolaridade. Verifica-se que a média de tempo de internamento na CSRSI é de 19.73 anos (DP=16.305). Salvaguardamos, no entanto, que este tempo de internamento não diz respeito ao tempo de internamento nas unidades de reabilitação onde as utentes estão presentemente integradas. Foram considerados os seguintes critérios de inclusão: (i) residente em uma das unidades de reabilitação: UGA, Quinta das Romãzeiras, Apartamentos (Re)partir; e (ii) diagnóstico clínico de doença mental grave. Tabela 1. Descritivos das variáveis demográficas da amostra total Amostra Total (N=14) Idade

-

M±DP [Min.– Máx.]

51.93 ± 9.067 [31-63] Solteiro

9 (64.3)

Estado Civil

Divorciad

N (%)

o Viúvo 0

a

5

a

N (%)

anos 10 mais

M±DP [Min.– Máx.]

4 9 ou

5 (35.7) 5 (35.7) 4 (28.6) 4.97 ± 4.605 [0-15]

<10

3 (21.43)

Internamento

11-30

7 (50.0)

N (%)

31-50

4 (28.57)

Tempo

de

M±DP [Min.– Máx.]

4 (28.6) 1 (67.1)

anos Escolaridade

-

19.73±16.305 [1-44]

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VIII Congresso Internacional ASPESM Procedimentos: A administração do protocolo de avaliação exigiu a realização de duas sessões, com duração de aproximadamente 60 minutos cada. Na primeira sessão, foi recolhida a informação demográfica, familiar, social e clínica através de um guião de entrevista semiestruturada, foi ainda administrado o Inventário de Avaliação Funcional de Adultos e Idosos (IAFAI). O IAFAI, além de ter sido administrado a cada utente, foi igualmente utilizado junto das monitoras, com vista à obtenção da medida funcional por parte dos informadores. A segunda sessão envolveu a administração do Índice de QdV EUROHIS-QOL-8 e a Escala de Depressão Geriátrica (Geriatric Depression Scale – 30; GDS30). Para o tratamento estatístico dos dados do presente estudo utilizou-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS – versão 22). A caracterização da amostra total quanto às variáveis sociodemográficas foi efetuada através de estatísticas descritivas (frequências, médias, desvios-padrão, mínimos, máximos). Para explorar a associação entre variáveis foram calculadas correlações através do coeficiente rho de Spearman recorrendo-se à classificação de Pestana e Gageiro (2014) para a sua análise qualitativa: (|R| < 0.2 muito fraca; 0.2 ≤ |R| < 0.4 fraca; 0.4 ≤ |R| < 0.7 moderada; 0.7 ≤ |R| < 0.9 elevada; 0.9 ≤ |R| ≤ 1 muito elevada). Instrumentos de avaliação: O EUROHIS-QOL-8 (Índice de Qualidade de Vida (Versão Original: Power, 2003; Versão Portuguesa: Pereira, Melo, Gameiro, & Canavarro, 2011)) é uma medida breve de QdV, constituída por oito itens. Foi desenvolvida a partir dos instrumentos genéricos WHOQOL-100 e WHOQOL-Bref e avalia 4 domínios de funcionamento: físico, psicológico, relações sociais e ambiente (constituídos por dois itens cada). O resultado global é calculado a partir do somatório dos oito itens, sendo os valores mais elevados indicativos de melhor perceção de QdV. Os referenciais normativos para a população portuguesa consideram o serviço de origem dos doentes (Psiquiatria, Ginecologia, Medicina III/Reumatologia, Centros de Saúde, Ortopedia/Oncologia e População geral). No nosso estudo, consideramos os referenciais normativos para o serviço de Psiquiatria por ser o que melhor se ajusta à amostra (atendendo aos diagnósticos das utentes incluídas na presente investigação). A GDS-30 (Escala de Depressão Geriátrica (Geriatric Depression Scale; Yesavage et al., 1983; Versão Portuguesa: Simões, Prieto, Pinho & Firmino, 2015)) foi especificamente desenvolvida para o rastreio de sintomatologia depressiva na idade adulta avançada. Permite aceder a sintomas afetivos e comportamentais da depressão, avaliados tendo como referência a última semana. É constituída por trinta itens de resposta dicotómica (sim/não), com pontuação máxima de 30 pontos, sendo valores mais elevados indicativos de maiores níveis de sintomatologia depressiva. A escala permite estimar a intensidade de sintomatologia depressiva em três níveis: ausência de sintomatologia depressiva (0-10 pontos);

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VIII Congresso Internacional ASPESM sintomatologia depressiva ligeira (11-20 pontos) e sintomatologia depressiva grave (21-30 pontos). O IAFAI (Inventário de Avaliação Funcional de Adultos e Idosos (Sousa, Simões, & Vilar, 2013; Sousa, Vilar, & Simões, 2015)) é um instrumento destinado ao exame funcional de adultos e adultos idosos que contempla 50 itens para a avaliação das ABVD, AIVD-F e AIVD-A. O IAFAI é

administrado

em

formato

de

entrevista

semiestruturada

ao

próprio

e/ou

ao

cuidador/informador. Em cada um dos itens é determinada a ausência de incapacidade funcional (realização da atividade de modo independente e sem dificuldade), a presença de incapacidade funcional (realização da atividade com dificuldade, com adaptação/ajudas técnicas, ajuda ou supervisão de terceiros) e/ou a não aplicabilidade (por exemplo, devido questões

de

género).

São

obtidos

vários

indicadores

(em

valores

percentuais),

nomeadamente: incapacidade funcional global, incapacidade funcional nas ABVD, AIVD-F e AIVD-A, incapacidade funcional devida a fatores de natureza física, cognitiva e emocional. Valores mais elevados são indicadores de maior incapacidade funcional, sendo os resultados neste estudo interpretados em função dos parâmetros normativos para a população portuguesa, considerando o género e a idade. RESULTADOS De forma a verificar a associação entre a variável QdV e a Incapacidade funcional foi calculado o coeficiente de correlação de Spearman (Tabela 2) tendo-se verificado a existência de uma correlação elevada com significado estatístico entre os valores do EUROHIS-QOL-8 e o IAFAI Total (0.776). Verificou-se também uma correlação negativa moderada estatisticamente significativa entre os resultados da escala de QdV e a incapacidade funcional ao nível das ABVD (-.691) e ao nível das AIVD-A (-0.72). Estes dados sugerem que quanto maior for a perceção da QdV, menor é a incapacidade funcional reportada pelo sujeito. Tabela 2- Correlação entre a perceção da QdV e a Incapacidade funcional (N= 14) IAFAI

EUROHIS-QOL-8

Total

ABVD

AIVD -F

AIVD -A

-.776**

-.691**

-.154

-.720**

Legenda: ** p <0.01; * p <0.05

Atendendo à Tabela 3 verificou-se uma correlação elevada negativa estatisticamente significativa entre a sintomatologia depressiva e a perceção da QdV (-.729). Deste modo, uma maior perceção de QdV está correlacionada com uma menor presença de sintomatologia depressiva.

37


VIII Congresso Internacional ASPESM Tabela 3- Correlação entre a sintomatologia depressiva e a perceção da QdV (N= 14) EUROHISQOL-8 GDS

-.729**

Legenda:

**

p

<0.01

Foi determinada a relação entre a sintomatologia depressiva e a incapacidade funcional (Tabela 4) tendo-se verificado uma correlação positiva elevada com significado estatístico entre a sintomatologia depressiva e o IAFAI Total (.704). Observou-se ainda uma correlação positiva moderada entre a Sintomatologia depressiva e a Incapacidade Funcional ao nível das AIVD-F (.536) e das AIVD-A (.579). Tabela 4- Correlação entre a Sintomatologia depressiva e a Incapacidade funcional (N=14) IAFAI

GDS

Total

ABVD

AIVD -F

AIVD -A

.704**

456

.536*

.579*

Legenda: ** p <0.01; * p <0.05

DISCUSSÃO Da análise dos resultados ressalta que uma intervenção dirigida à sintomatologia depressiva parece demonstrar melhoria ao nível da perceção da qualidade QdV e da capacidade funcional. Num estudo realizado por Santos (2017) encontrou-se uma correlação positiva moderada com resultado estatisticamente significativo entre a sintomatologia depressiva e o valor do IAFAI Total. Segundo Snyder (2013) a sintomatologia depressiva diminui o funcionamento cognitivo e por sua vez está implicado na manutenção das AVDs. À semelhança Pereira et al ,.2011 no estudo que realizaram obteve coeficientes de correlação significativos entre a perceção da QdV avaliada pelo EUROHIS-QOL-8 e a sintomatologia depressiva expressa pelo BDI(r=.61, p<.001). Verificou-se uma correlação negativa moderada estatisticamente significativa entre os resultados da escala de QdV ao nível das ABVD sendo que estes resultados vão de encontro ao obtido por Santos (2017) onde encontrou uma correlação negativa moderada estatisticamente significativa entre a perceção da Qdv e a incapacidade funcional nas ABVD.

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VIII Congresso Internacional ASPESM CONCLUSÃO A avaliação da dimensão QdV demonstra a importância de existência e manutenção de intervenções dirigidas ao foco Sintomatologia depressiva e capacidade funcional. Deste modo as pessoas com experiência de doença mental inseridas em programas de reabilitação psicossocial devem usufruir de acções que permitam o aumento da funcionalidade e diminuição da sintomatologia depressiva, mantendo-os na comunidade pelo maior tempo possível com o máximo de independência e QdV. O presente estudo acarreta limitações que devem ser consideradas na interpretação dos resultados obtidos, assim como em investigações futuras tais como o tamanho reduzido da amostra (N=14) e a sua homogeneidade. Consideramos ainda que realização de uma avaliação cognitiva prévia representaria uma mais valia, para a análise e interpretação dos resultados. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLINICA O planeamento e implementação de intervenções multidisciplinares (particularmente desenvolvidas por Enfermeiro Especialista de Enfermagem de Saúde Mental Psiquiátrica, Psicólogo, Terapeuta Ocupacional e Técnico de Serviço Social) com ênfase não médico, demonstram a efetividade em dimensões como a Qualidade de Vida e capacidade funcional num setting comunitário e em pessoas com experiência de doença mental grave.

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Psicologia

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e

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subárea

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VIII Congresso Internacional ASPESM

Gestão do stress e ansiedade nos indivíduos alcoólicos em setting terapêutico Teresa Moreira*, Margarida Ferreira**, Carlos Ferreira*** & José Teixeira**** *

Doutora; Professora Auxiliar; Faculdade de Ciências da Saúde-Universidade Fernando

Pessoa, Praça 9 de abril, 349, 4249-004 Porto, Portugal. tmoreira@ufp.edu.pt **

Doutora; Professora Auxiliar; Faculdade de Ciências da Saúde-Universidade Fernando

Pessoa, Praça 9 de abril, 349, 4249-004 Porto, Portugal. E-mail: mmferreira@ufp.edu.pt ***

Mestre; Enfermeiro Chefe; Hospital Magalhães Lemos, R. Prof. Álvaro Rodrigues, 4149-003

Porto. carlosferreira@hmlemos.min-saude.pt ****

Licenciado; Professor; Faculdade de Ciências da Saúde-Universidade Fernando Pessoa,

Praça 9 de abril, 349, 4249-004 Porto, Portugal. joseteix@ufp.edu.pt RESUMO Contexto: O fenómeno do uso abusivo de substâncias psicoativas na sociedade atual constitui uma problemática complexa e, embora as transformações histórico-culturais e as inovações tecnológicas tenham sido marcantes nos últimos anos, as conceções e modelos da abordagem prática de tal fenómeno não têm avançado significativamente e requerem estudos e reflexões relacionadas às intervenções, bem como às políticas e saberes teóricos que têm subsidiado as mesmas (Souza & Kantorski, 2007). O consumo de álcool e outras drogas está inserido no cotidiano de grande parte da população mundial. Os Problemas Ligados ao Álcool (PLA) constituem em Portugal um problema de saúde pública. De acordo com o Plano Nacional para a Redução dos PLA 2010 – 2012 (2009) estima-se que existam cerca de 580.000 pessoas dependentes do álcool em Portugal, ou seja 7% da população com idade superior a 15 anos. Tal realidade está associada a uma série de situações de risco para a saúde (Souza & Kantorski, 2007; PNS, 2016). Tanto a ansiedade como o alcoolismo, são distúrbios diferentes, que afetam o organismo do indivíduo, dependendo do estado de consciência do mesmo (Pânico, 2015). Assim, qualquer forma de aumento de ansiedade, desde pânico a nervosismo, pode ser observado durante 312 meses após ter cessado de beber (Schuckit, 1998 e Pânico, 2015) Assim sendo, o consumo de álcool, faz com que cada vez mais os indivíduos, tenham esse hábito de consumo, para tentar refugiar-se do mundo, e dos problemas da vida (Pânico, 2015).

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VIII Congresso Internacional ASPESM Objetivos: 1) Caraterizar socio-demograficamente a amostra; 2) identificar o papel que desempenha o álcool na gestão da ansiedade e do stress nos indivíduos alcoólicos em recuperação; 3) enumerar e especificar os tipos de ajuda mais procurados. Estes objetivos têm por finalidade contribuir para o desenvolvimento de Intervenções Especializadas de Enfermagem de Prevenção da recaída no utente com Dependência Alcoólica. Material e métodos: Trata-se de um estudo descritivo, transversal, quantitativo, sendo a amostra de conveniência, constituída por 30 indivíduos presentes nas Instituições dos Alcoólicos Anónimos (AAA). Resultados: Dos 30 indivíduos que integram o nosso estudo, predomina o género masculino 57%, com idade compreendida entre os 46-65 anos. Relativamente ao papel que a ansiedade e o stress desempenham nos indivíduos alcoólicos em fase de recuperação, 63% dos inquiridos referem que em alguns momentos o consumo de álcool ajuda a diminuir a ansiedade e o stress. Quanto ao papel que a ansiedade desempenha nestes indivíduos em fase de recuperação, 39,2% sentiam maior ansiedade em ingerir bebidas alcoólicas durante a noite. Constatamos também que 47% dos indivíduos, referem aumento da ansiedade, desde pânico a nervosismo, em ocasiões festivas. Relativamente ao stress nos indivíduos alcoólicos em fase de recuperação, 50% consideram que o álcool foi o principal causador. Constatou-se também que 87%dos inquiridos referem que sentiam que o seu dia-a-dia se tornava menos stressante, aquando da ingestão de bebidas alcoólicas. Quanto ao tipo de ajuda mais procurada pelos inquiridos, verificamos que maioritariamente (80%), os inquiridos referem a procura de terapias de grupo, 14% procuraram as psicoterapias e 6% as terapias individuais. Conclusão: Através dos resultados obtidos pode-se observar que o álcool tem um carácter destrutivo, prejudicando todos os aspetos da vida do individuo, desde a sua saúde até aos seus familiares, aumentando os níveis de stress e ansiedade, trazendo desvantagens para a vida de um individuo. Torna-se imprescindível contribuir com a reflexão dos profissionais de saúde quanto aos seus saberes e práticas, ressaltando a necessidade de compreender os sujeitos considerados “dependentes químicos”, desenvolvendo intervenções breves de Enfermagem de Prevenção da recaída, pois estes indivíduos são acima de tudo seres humanos, que em algum momento de suas vidas não souberam lidar com situações complicadas ou se perderam na sua própria curiosidade não conseguindo estabelecer limites para si próprios. Palavras-chave: Ansiedade, Stress, Alcoolismo, intervenções breves.

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VIII Congresso Internacional ASPESM ABSTRACT Background: The phenomenon of abusive use of psychoactive substances in today's society is a complex problem and, although historical-cultural transformations and technological innovations have been striking in recent years, the conceptions and models of the practical approach to this phenomenon have not advanced significantly and require studies and reflections related to the interventions, as well as to the theoretical policies and knowledge that have subsidized them (Souza & Kantorski, 2007). The consumption of alcohol and other drugs is part of the daily life of a large part of the world population. Problems linked to alcohol (PLA) constitute a public health problem in Portugal. According to the National Plan for the Reduction of PLA 2010 - 2012 (2009) it is estimated that there are approximately 580,000 people dependent on alcohol in Portugal, or 7% of the population aged over 15 years. This reality is associated with a number of health risk situations (Souza & Kantorski, 2007; PNS, 2016). Both anxiety and alcoholism are different disorders that affect the individual's organism, depending on the individual's state of consciousness (Panic, 2015). Thus, any form of increased anxiety, from panic to nervousness, can be observed for 3-12 months after having ceased drinking (Schuckit, 1998 and Panic, 2015). Therefore, alcohol consumption causes more and more the individuals, have this habit of consumption, to try to take refuge from the world, and from the problems of life (Pânico, 2015). Objectives: 1) Characterize socio-demographically the sample; 2) identify the role of alcohol in the management of anxiety and stress in recovering alcoholics; 3) list and specify the most wanted help types. These objectives are intended to contribute to the development of Specialized Nursing Interventions to Prevent Relapse in Alcohol Dependent Patients. Material and methods: It is a descriptive, cross-sectional, quantitative study, the convenience sample being composed of 30 individuals present in the AAA. Results: Of the 30 individuals included in our study, the male gender predominates 57%, aged between 46-65 years. Regarding the role that anxiety and stress play in recovering alcoholics, 63% of respondents report that at times alcohol consumption helps to reduce anxiety and stress. Concerning the role that anxiety plays in these individuals in the recovery phase, 39.2% felt more anxiety about drinking alcohol at night. We also found that 47% of individuals reported increased anxiety, from panic to nervousness, on festive occasions.

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VIII Congresso Internacional ASPESM Regarding stress in recovering alcoholics, 50% consider that alcohol was the main cause. It was also found that 87% of the respondents reported that they felt that their daily life became less stressful when drinking alcohol. Regarding the type of help most sought by the respondents, we found that the majority (80%) reported the demand for group therapies, 14% sought psychotherapies and 6% individual therapies. Conclusion: Through the results obtained it can be observed that alcohol has a destructive character, impairing all aspects of the life of the individual, from his health to his relatives, increasing the levels of stress and anxiety, bringing disadvantages to the life of an individual. It is essential to contribute to the reflection of the health professionals on their knowledge and practices, emphasizing the need to understand the subjects considered "chemical dependents", developing brief interventions of Nursing Prevention of relapse, since these individuals are above all beings human beings who at some point in their lives have not been able to deal with complicated situations or have lost their own curiosity and can not set limits for themselves. Key words: Anxiety, Stress, Alcoholism, brief interventions. RESUMEN Contexto: el fenómeno del abuso de sustancias psicoactivas en la sociedad actual es un complejo y problemático, aunque los cambios histórico-cultural y las innovaciones tecnológicas han sido sorprendentes en los últimos años, las concesiones y los modelos de enfoque práctico en este fenómeno no han avanzado significativamente y requieren estudios y reflexiones relacionadas con las intervenciones, así como las políticas y los conocimientos teóricos que han subvencionado el mismo (Sharma, Kantorski & 2007). El consumo de alcohol y otras drogas se inserta en la vida cotidiana de gran parte de la población mundial. Los problemas vinculados a la forma de alcohol (PLA) en Portugal un problema de salud pública. Según el plan nacional para la reducción de PLA 2010-2012 (2009) se estima que hay cerca de 580.000 personas dependientes del alcohol en Portugal, es el 7% de la población de más de 15 años. Tal realidad está asociada con un número de situaciones de riesgo para la salud (Souza, 2007 Kantorski &; PNS, 2016). Mucho como alcoholismo, ansiedad son trastornos diferentes que afectan el cuerpo de la persona, dependiendo del estado de conciencia de la misma (pánico, 2015). Por lo tanto, cualquier forma de mayor ansiedad, nerviosismo, pánico puesto que se observan durante 312 meses después de haber dejado de beber (Schuckit, 1998 y pánico, 2015), el consumo de

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VIII Congresso Internacional ASPESM alcohol, provoca más y más personas tienen este hábito de consumo, para intentar refugiarse del mundo y los problemas de la vida (pánico, 2015). Objetivos: Este estudio pretende 1) característica socio-demográficas de la muestra; 2) identificar el papel que juega la alcohol en el manejo de la ansiedad y el estrés en los alcohólicos en recuperación; 3) enumerar y especificar los tipos de ayuda. Estos objetivos están orientados a contribuir al desarrollo de especializado las intervenciones de enfermería para la prevención de la recaída en la persona con dependencia alcohólica. Material y métodos: Es un estudio descriptivo, transversal, cuantitativo, siendo la muestra de conveniencia, conformada por 30 individuos presentes en las instituciones de Alcohólicos Anónimos (AAA). Resultados: De 30 individuos que son parte de nuestro estudio, el 57% varones, edad 46-65 años. En cuanto al papel que la ansiedad y el estrés juegan en alcohólicos en fase de recuperación, 63% de los encuestados que a veces el consumo de alcohol ayuda a disminuir la ansiedad y el estrés. El papel que juega la ansiedad en estas personas en la fase de recuperación, 39,2% sienten mayor ansiedad de beber bebidas alcohólicas durante la noche. También observamos que el 47% de los individuos, mayor ansiedad, pánico ya que el nerviosismo en ocasiones festivas. Con respecto a la tensión en los alcohólicos en fase de recuperación, 50% creen que el alcohol era la causa principal. Se encontró que 87% de los encuestados reportaron que se sentían que su día a día cada vez menos estresante cuando la ingesta de bebidas alcohólicas. Cómo ayudar a más buscado por los encuestados, principalmente (80%), los encuestados se refirió a la demanda de terapia de grupo, 14% buscó las psicoterapias y el 6% las terapias individuales. Conclusión: a través de los resultados obtenidos puede observarse que el alcohol tiene un carácter destructivo, dañando todos los aspectos de la vida del individuo, desde su salud hasta sus familias, aumentando los niveles de estrés y la ansiedad, traer desventajas para la vida de un individuales. Se convierte en esencial para contribuir a la reflexión de profesionales de la salud para su conocimiento y práctica, haciendo hincapié en la necesidad de comprender el tema considerado "drogadictos", desarrollo de breves intervenciones de enfermería prevención de recaída porque ante todo son seres humanos, que en algún momento de sus vidas no han aprendido a lidiar con situaciones difíciles o se perdieron en su propia curiosidad pudiendo establecer límites para ellos mismos. Palabras clave: Ansiedad, estrés, alcoholismo, las intervenciones breves.

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VIII Congresso Internacional ASPESM INTRODUÇÃO O fenómeno do uso abusivo de substâncias psicoativas na sociedade atual constitui uma problemática complexa e, embora as transformações histórico-culturais e as inovações tecnológicas tenham sido marcantes nos últimos anos, as conceções e modelos da abordagem prática de tal fenómeno não têm avançado significativamente e requerem estudos e reflexões relacionadas às intervenções, bem como às políticas e saberes teóricos que têm subsidiado as mesmas (Souza & Kantorski, 2007). Em todo o mundo, atualmente, cerca de 2000 milhões de pessoas consomem bebidas alcoólicas, e destas cerca de 76 milhões possuem perturbações diagnosticadas relacionadas com o uso de álcool. Sabe-se que o consumo médio mundial é da ordem de 5,1 litros de álcool puro, por pessoa/ano, na população acima dos 15 anos (Ferreira-Borges e Filho, 2007). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2010) o consumo de álcool na Europa é o dobro da média mundial, e a Europa é a zona do mundo com consumo mais elevado de álcool. A Europa constitui a zona do mundo com mais elevado consumo de álcool, em que 5% dos Homens e 1% das mulheres apresentam dependência alcoólica. Em Portugal, os problemas relacionados com o consumo de álcool constituem um importante problema de saúde pública. De acordo com Kiritzé-Topor e Bénard (2007) consumo abusivo engloba as categorias de consumo de risco, consumo nocivo e consumo com dependência. Segundo a OMS, considera-se consumo de risco ingerir mais de 24 gramas de álcool/dia no homem e mais de 16 gramas de álcool/dia na mulher (OMS, 2010). Os Problemas Ligados ao Álcool (PLA) constituem em Portugal um problema de saúde pública. De acordo com o Plano Nacional para a Redução dos PLA 2010 – 2012 (2009) estima-se que existam cerca de 580.000 pessoas dependentes do álcool em Portugal, ou seja 7% da população com idade superior a 15 anos. Tal realidade está associada a uma série de situações de risco para a saúde (Souza & Kantorski, 2007; PNS, 2016). O álcool é uma substância tóxica sabida desde sempre, tendo o seu consumo sido generalizado, tornando-se notório um confuso esbatimento de fronteiras entre o ato de beber recreativo ou social e o abuso do álcool. É uma das substâncias que o próprio indivíduo tira proveito com maior frequência, sendo que este consumo já é conhecido (Nunes e Jólluskin, 2007). O conceito de dependência de álcool é definido como um padrão de consumos caracterizado por um conjunto de fenómenos fisiológicos, cognitivos e comportamentais, que podem desenvolver-se após repetido uso de álcool. Inclui um desejo intenso de consumir bebidas,

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VIII Congresso Internacional ASPESM descontrolo sobre o seu uso, continuação dos consumos independentemente das consequências, uma alta prioridade dada aos consumos em detrimento de outras actividades e obrigações, aumento da tolerância ao álcool e sintomas de privação quando o consumo é descontinuado (Babor et al, 2001; Kiritzé-Topor e Bénard, 2007). Muito utilizado pelos seus efeitos desinibidores, antidepressivo e de fácil acesso, tornou-se num dos maiores problemas de saúde pública que afetam homens e mulheres em todas as idades e classes sociais, o alcoolismo, encontra-se associado ao forte desejo de beber e dificuldade em controlar o consumo e a utilização insistente apesar das consequências negativas que o álcool produz (Mansur, 2004). De acordo com alguns autores, o consumo de álcool, para além de libertar a tensão, tem a capacidade de colocar o indivíduo mais desinibido, podendo o mesmo ter diferentes posturas, que por vezes um indivíduo sóbrio não teria (Loureiro, 2005) e (Serra, 2007). Do ponto de vista da saúde o alcoolismo é uma doença crônica, com aspetos comportamentais e socioeconómicos, caraterizada pelo consumo compulsivo de álcool, na qual o usuário se torna progressivamente tolerante à intoxicação produzida pela droga e desenvolve sinais e sintomas de abstinência, quando a mesma é retirada (Varella, 2011). A ingestão do álcool de maneira abusiva, está relacionada a causar diversas patologias e transtornos como os mentais em geral, cirrose hepática, pancreatite, câncer, além de estar associado à ocorrência de acidentes de viação e homicídios (Ferreira-Borges e Filho, 2008). O stress e o alcoolismo são duas conjunturas que transportam ao esgotamento de qualquer indivíduo que se deixe absorver pelo mesmo, o álcool nunca é uma verdadeira solução para se libertar do stress mas antes uma condição que irá provocar muito mais stress a médio e longo prazo, na vida diária dos indivíduos com dependência alcoólica (PNS, 2016). O indivíduo bebedor compulsivo sofre diversas exclusões sociais, pois perde sua identidade social, perde sua autoestima, autoconfiança, de perspetivas de futuro, de motivações e sonhos. Então se pode dizer que o alcoolismo, antes de ser um problema familiar é um problema social que, por afetar o indivíduo em todos os campos da sua vida, afeta também todas as classes, todos os gêneros e todas as esferas da vida em sociedade direta ou indiretamente. Afeta económica, psicológica, familiar e socialmente não só os doentes, mas também aqueles que os rodeiam. Com o consumo excessivo de álcool, o indivíduo sente euforia, pelo facto de o mesmo sentir que todos os problemas da vida diária, desaparecem, mesmo que seja apenas por um

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VIII Congresso Internacional ASPESM pequeno período de tempo, fazendo com que o consumo seja cada vez maior, e com maior regularidade (Pafaro & Martino, 2004) e (Serra, 2007). Atualmente o tratamento do álcool não se prende apenas com a conceção de determinadas técnicas terapêuticas, mas com a evolução de estratégias para a motivação. Para isso é essencial levar o indivíduo a ter um processo de tomada de perceção acerca do seu problema e das respetivas consequências (Nunes & Jólluskin, 2007). Todas as intervenções requerem conhecimento e motivação por parte do indivíduo para este comportamento e para esta mudança. Para que o indivíduo tenha a capacidade de ter um processo de apreensão e consciência, devido ao seu problema do consumo de álcool, de forma a minimiza-lo e implicar de forma ativa e empenhada no próprio tratamento (Echeburua, 2002) e (Nunes & Jólluskin, 2007). MÉTODOS Estudo descritivo, transversal, quantitativo. Amostra de conveniência, constituída por 30 indivíduos presentes nas Instituições dos Alcoólicos Anónimos (AAA). Meio de realização do Estudo - a colheita de dados foi em duas Instituições dos Alcoólicos Anónimos, após consentimento das mesmas. Foi realizado em meio natural. O instrumento de colheita de dados utilizado para esta investigação foi um questionário O questionário foi construído no sentido de dar resposta aos objetivos de investigação propostos. Como variáveis dependentes definiram-se, a Ansiedade e o Stress e como variável independente o Álcool. Critérios de inclusão utilizados (Os indivíduos que estiveram presentes nas reuniões dos Alcoólicos Anónimos; Saber ler e escrever; Indivíduos com idade superior a 18 anos). Na entrega dos questionários aos indivíduos alcoólicos, era necessário um consentimento informado para ter a autorização dos mesmos, para a recolha dos dados de forma a agir de acordo com os direitos dos inquiridos. Assim sendo, as investigadoras estiveram presentes numa reunião prévia com os responsáveis de ambas as instituições e explicaram como teria de ser feito o procedimento. Os responsáveis das instituições, acharam mais indicado serem eles a entregar os questionários, de forma a preservar o anonimato e a confidencialidade dos indivíduos. Assim sendo, foi lido e foi dado o consentimento oral foi dado. pelos participantes e o preenchimento do questionário foi a aceitação da condição para participar no estudo.

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VIII Congresso Internacional ASPESM Análise e tratamento de dados O programa utlizado foi o Microsoft Office Excel 2007 e a análise e tratamento desses mesmos dados, foi realizada através das frequências absolutas (nº) e relativas (%). Os dados foram apresentados em gráficos e tabelas de maneira a que a interpretação dos dados fosse clara. Desta forma, analisaram-se os resultados obtidos, sendo que a primeira parte refere-se à caracterização da amostra, a segunda parte refere-se às bebidas alcoólicas e o seu padrão de consumo, e a última parte refere-se ao papel que desempenha o álcool na gestão da ansiedade e do stress nos indivíduos alcoólicos em recuperação. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS A amostra é constituída por 30 indivíduos, predominantemente do género masculino 17 (57%) com uma idade compreendida entre os 46-65 anos.

43% 57%

Feminino Masculino

Gráfico 1 - Género

Os inquiridos responderam de forma autónoma de acordo com o papel que desempenha a ansiedade e o stress nos indivíduos alcoólicos em fase de recuperação. O álcool quando entra no organismo de um indivíduo pode-se manifestar de diversas formas, podendo ser caracterizadas como relaxantes, destrutivas ou motivadoras. Perante a amostra, quando inquiridos, 16 (53,3%), no início da recuperação definiam o álcool como destrutivo, nove (30%) como relaxante e apenas cinco (16,7%) o caracterizam como motivador.

50


VIII Congresso Internacional ASPESM

60.0 50.0 40.0 30.0 20.0 10.0 0.0

Relaxante

Motivador

Destrutivo

Outro

%

30.0

16.7

53.3

0.0

N

9

5

16

0

Gráfico 2 - Questão: “Se no inicio da sua recuperação tivesse que definir o álcool, qual o aspeto que melhor o caracteriza” Através dos resultados obtidos pode-se observar que o álcool tem um carácter destrutivo. Segundo o SICAD (2014), o álcool prejudica todos os aspetos da vida do individuo, desde a sua saúde até aos seus familiares. A taxa de mortalidade devido ao álcool tem vindo a aumentar. Segundo o mesmo, esta taxa é de 2 428 óbitos, sendo assim é necessário alertar para o consumo de bebidas alcoólicas e para o carácter destrutivo do álcool, que só traz desvantagens para a vida de um individuo. Podemos então verificar que os resultados estão em concordância com outros estudos e conclui-se que serão necessários usar medidas preventivas para diminuir o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, que são prejudiciais para o indivíduo. Para além de consequências físicas, o álcool pode levar ao aparecimento de alterações psicológicas, segundo os inquiridos estes responderam náuseas (18 correspondente a 21,4%), excitação (17 indivíduos correspondente a 20,2%), a ansiedade (16 correspondendo a 19%) e vómitos 14 (16,7%) dos 30 inquiridos.

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VIII Congresso Internacional ASPESM

25.0 20.0 15.0 10.0 5.0 0.0 Naúsas

Vómitos Tremores

Alteraçõe Ansiedad s na visão e

Insónias

Agressivid Excitação ade

%

21.4

16.7

8.3

2.4

19.0

3.6

8.3

20.2

N

18

14

7

2

16

3

7

17

Gráfico 3 - Questão: “Após o consumo de bebidas alcoólicas que alterações sente no seu corpo?” Ao longo da vida de um indivíduo, a excitação é o efeito que mais se exterioriza, isto é faz com que o próprio individuo se sinta mais descontraído, que se consiga envolver mais na sociedade, levando a que o mesmo sinta maior satisfação em consumir álcool. Mesmo assim, outros sintomas que podem estar associados ao consumo é as náuseas e os vómitos, visto que este provoca adulterações no seu campo de visão na sua audição (Cabral, 2007). A ansiedade e o stress desempenham um papel importante nestes indivíduos quando se encontram em fase de recuperação, sendo assim, dos 30 inquiridos, 19 (63%) responderam que em alguns momentos o consumo de álcool ajudava a diminuir a ansiedade e o stress, oito (27%) referem que sim e apenas três (10%) referem que não.

27% 63%

Sim 10%

Não Alguns momentos

Gráfico 4 - Questão: “O consumo de álcool ajudava a diminuir a ansiedade e o stress do seu dia-a-dia?”

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VIII Congresso Internacional ASPESM Para Brady e Sonne (1999) e Cabral (2007) observa-se uma relação direta entre a adição ao álcool e as experiências stressantes que faziam parte da sua vida profissional. Ou seja, a maneira como o stress profissional influência o consumo de álcool depende também do tipo de stress experienciado. Na verdade, os mesmos autores concluíram que empregos com alta exigência e pouco controlo (do trabalhador sobre a sua própria atividade) implicam geralmente um risco maior de desenvolvimento de distúrbios relacionados com o consumo de álcool, quando comparados com ocupações de menor exigência e de maior controlo. Contudo, este aumento de problemas com o álcool foi maior para indivíduos com atividades profissionais muito exigentes em termos físicos do que para indivíduos cujas atividades têm maior exigência psicológica. O consumo de bebidas alcoólicas pode levar á dependência, e esta por si só, provoca ansiedade e aumenta o consumo de bebidas alcoólicas. Com a realização do questionário, 22 indivíduos (39,2%) sentiam maior ansiedade em ingerir bebidas alcoólicas á noite, 13 (23,3%) ao meio-dia e 11 (19,6%) à tarde.

50.0 40.0 30.0 20.0 10.0 0.0

Manhã

Meio do dia

Tarde

Noite

%

17.9

23.2

19.6

39.3

N

10

13

11

22

Gráfico 5 - Questão: “Em que situação do dia sentia maior ansiedade em ingerir bebidas alcoólicas? Como complemento, numa outra representação gráfica verifica-se que 14 (47%) dos inquiridos referiram que ficavam ansiosos pelas ocasiões festivas porque as associavam ao consumo de álcool, nove (30%) não apresentavam ansiedade e sete inquiridos (23%) em algumas ocasiões ficam ansiosos.

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VIII Congresso Internacional ASPESM

23%

47%

Sim Não

30%

Algumas ocasiões

Gráfico 6 - Questão: “Ficava ansioso pelas ocasiões festivas porque as associava ao consumo de álcool?” Assim, observa-se que a maior percentagem de consumo referido era á noite porque associavam essa ingestão a ocasiões festivas. Existem ocasiões festivas frequentes como aniversários, jantares de amigos ou família, saídas á noite, praxes académicas queima das fitas, concertos, entre outras ocasiões em que está presente o consumo de bebidas alcoólicas. O consumo de álcool nestas ocasiões aumenta porque a cultura portuguesa associa o consumo de álcool a festas, com o pensamento de que não existe problemas se ingerirem bebidas alcoólicas nestas ocasiões. Contudo, são nestes dias que existem mais acidentes de viação, maior número de entradas nas urgências e internamentos (Balsa, Vital, & Pascueiro, 2007). Para além da ansiedade, o stress também é prejudicial para esta população, que pode advir de fatores externos (trabalho, família) ou internos (efeitos do álcool no organismo). Quando inquiridos, 15 (50%) consideram que o álcool foi o principal causador de todo o seu stress e 15 (50%) consideram que o álcool não foi o causador do seu stress.

50%

50%

Sim Não

Gráfico 7 - Questão: “Alguma vez o álcool foi o principal causador de todo o stress causado em si?”

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VIII Congresso Internacional ASPESM Para complementar estes resultados, observou-se, noutro gráfico que 26 (87%) dos 30 inquiridos referem que com a ingestão de álcool o seu dia-a-dia tornava-se menos stressante e apenas quatro (13%) referiram o contrário. 13%

Sim 87%

Não

Gráfico 8 - Questão: “Na ingestão de bebidas alcoólicas sentia que o seu dia-a-dia se tornava menos stressante?” Destes resultados pode-se observar que os inquiridos referem existir um equilíbrio quanto ao facto de o álcool ser ou não causador de stress. Apesar desse equilíbrio observa-se que a maior parte dos inquiridos ingere bebidas alcoólicas para aliviar o stress causado pelo seu dia-a-dia. Quer o stress advenha do álcool ou do quotidiano do indivíduo, vai haver um aumento do consumo de bebidas alcoólicas de modo a diminuir o stress sentido pelo indivíduo podendo provocar outras alterações prejudiciais a si mesmo e aos que o rodeiam (Costa, 2014). A adição ao álcool, como a outras drogas, é um problema complexo determinado por múltiplos fatores, incluindo componentes psicológicas e fisiológicas. O stress é considerado o fator que mais contribui para a iniciação e continuação do consumo de álcool (Kathleen & Sonne, 1999) e (Rozin & Zagonel, 2011). Para os indivíduos que se encontram nesta situação, ou seja, no consumo excessivo de álcool, a procura de ajuda é um dos meios para atingir a recuperação total, pelo que as ajudas mais procuradas, segundo os inquiridos, são as terapias de grupo respondido por 28 indivíduos (80%), as psicoterapias por cinco (14%) e as terapias individuais por dois (6%).

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VIII Congresso Internacional ASPESM

6% 80%

14%

Psicoterapias Terapias de grupo Terapias individual

Gráfico 9 - Questão: “Que tipo de ajuda procurou para resolver o seu problema com o consumo de álcool?” Em suma, o consumo de álcool vai interferir na vida dos inquiridos de forma a diminuir a ansiedade e o stress em alguns momentos da sua vida. No seu dia-a-dia os indivíduos sentiam maior necessidade de ingerir bebidas alcoólicas no período noturno, pois estes associavamno a ocasiões festivas como jantares de amigos e de família. Quando inquiridos sobre o álcool como principal causador de stress, os mesmos encontravam-se igualmente divididos, sendo que 50% afirmava positivamente e os outros 50% negativamente. Assim sendo, quer o stress resulte da ingestão de bebidas alcoólicas quer não, o individuo considerava que o seu dia-adia se tornava menos stressante, porque de uma forma ou de outra recorria ao consumo de álcool. No quotidiano dos indivíduos havia maior necessidade de consumir bebidas alcoólicas no período noturno, associando-o a ocasiões festivas. Quanto ao facto de o álcool ser o principal causador de stress, os inquiridos encontravam-se igualmente divididos quanto a esta questão. Assim sendo, quer o stress resulte da ingestão de bebidas alcoólicas ou não, o dia-a-dia deste indivíduos tornava-se menos stressante, apesar de que de uma forma ou de outra recorriam ao consumo de álcool. Porém, na procura de ajuda a maior parte dos inquiridos recorriam aos alcoólicos anónimos, ou seja, as terapias de grupo, de modo a restabelecer o seu bem-estar geral. Devem ser utilizados instrumentos de rastreio adequados e utilizar as intervenções breves de base motivacional específicas em função do nível de risco identificado no intuito de diagnosticar precocemente e intervir junto do consumidor de risco, com consumo nocivo ou em situação de dependência (DGS, 2012). As intervenções breves (IB) têm como objetivo primordial a deteção de consumo de risco e nocivo de bebidas alcoólicas e motivar o indivíduo a modificar comportamentos. São estratégias baseadas na abordagem motivacional, que têm como objetivo identificar os níveis de risco de consumo de álcool e ajudar a pessoa na mudança de comportamento, reduzir ou

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VIII Congresso Internacional ASPESM parar o consumo de bebidas alcoólicas (Babor et al., 2001; Barroso, Rosa, Jorge, & Gonçalves, 2012; Tariq et al, 2009, Ribeiro, 2014). Em Portugal, existem diretrizes da Direção Geral de Saúde (DGS, 2012) que recomendam a sua utilização, nomeadamente a Norma 30 da DGS, todavia as IB não estão disseminadas na prática clinica e os estudos neste domínio são escassos. O rastreio do consumo de risco e nocivo de álcool e as IB são por isso um importante recurso para os enfermeiros e devem ser dissiminados em todos os contextos terapêuticos (Barroso, Castanhola, Marta, & Claro, 2010; Gonçalves, Ferreira, Abreu, Pillon, Jezus, 2011) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Babor, T., Higgins-Biddle, J., Saunders, J., & Monteiro, M. (2001). The alcohol use disorders identification test: guidelines for use in primary health care [Internet]. World Health Organization. Recuperado de: http://www.talkingalcohol.com/files/pdfs/WHO_audit.pdf. Balsa, C., Vital, C. & Pascueiro, L., (2007). O consumo de bebidas alcoólicas em Portugal: Prevalências e Padrões de Consumo. Instituto da Droga e da Toxicodependência, I. P. ed. Lisboa: s.n. Barroso, T., Rosa, N., Jorge, F., Goncalves, C. (2012). Drinking among adolescents and young adults: outcome of brief intervention. Alcoholism-Clinical and Experimental Research, 36(2), 131A -131A. Recuperado de: http://www.rcaap.pt/detail.jsp?id=oai:repositorio.esenfc.pt:4438 Barroso, T., Castanhola, R., Marta, M., & Claro, M. (2010). Effectiveness of brief alcohol interventions by clinical nurse specialists in primary care settings. Alcoholism-Clinical and Experimental Research, 34(8),128 –12 Borges, C., Filho, C. (2008). Uso de Substâncias: Álcool, Tabaco e outras Drogas. Lisboa. Coisas de Ler Edições. ISBN: 978-972-8710-98-9. Cabral, L. R., (2007). Consumo de bebidas alcoólicas em rituais/praxes académicas, Porto: ICBAS. Costa, D. G., (2014). Perceção da vulnerabilidade ao stress em função do estatuto laboral num contexto de crise ecónomica, Porto: Universidade Lusófona do Porto. Direcção-Geral da Saúde (2014). Programa Nacional de Saúde Escolar. Lisboa: Ministério da Saúde. Direção Geral de Saúde. (2012). Plano nacional de saúde 2012-2016. Recuperado em Junho, 2012, a partir de http://pns.dgs.pt/pns-em-portugues/

57


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Um

Erro

Comum

Que

Piora

Sua

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ansiedade/. PNS (2016). Plano Nacional de Saúde 2012-2016, s.l.: s.n. Ribeiro, C. (2014). Medicina Geral e Familiar e Abordagem do Consumo de Álcool: Deteção e Intervenções Breves no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários. Acta Médica Portuguesa, 66(3), 420-8. Recuperado de: file:///C:/Users/Maria%20Odete/Downloads/1480-2130-1PB%20(1).pdf Rozin, L. & Zagonel, I. S., (2011). Fatores de risco para dependência de álcool em adolescentes. s.l.:s.n. Schuckit, M. (1998). Abuso de álcool e drogas. 1ª ed. Lisboa: Climepsi.

58


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59


VIII Congresso Internacional ASPESM

Prevenção da Infeção do Trato Urinário relacionada com a presença de Sonda Vesical em doentes hospitalizados Margarida Ferreira*; Teresa Moreira**; Carlos Ferreira*** & José Teixeira**** *

Prof. Doutora; Professora Auxiliar; Faculdade de Ciências da Saúde-Universidade Fernando

Pessoa, Praça 9 de abril, 349, 4249-004 Porto, Portugal. mmferreira@ufp.edu.pt **

Prof. Doutora; Professora Auxiliar; Faculdade de Ciências da Saúde-Universidade Fernando

Pessoa, Praça 9 de abril, 349, 4249-004 Porto, Portugal. E-mail: tmoreira@ufp.edu.pt ***

Mestre; Enfermeiro Chefe; Hospital Magalhães Lemos, R. Prof. Álvaro Rodrigues, 4149-003

Porto. carlosferreira@hmlemos.min-saude.pt ****

Licenciado; Professora; Faculdade de Ciências da Saúde-Universidade Fernando Pessoa,

Praça 9 de abril, 349, 4249-004 Porto, Portugal. joseteix@ufp.edu.pt RESUMO CONTEXTO: As infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS) constituem um problema de saúde, com elevados custos associados e elevada morbilidade e mortalidade. A infeção do trato urinário (ITU) é o tipo mais comum de IACS. Cerca de 75% estão relacionadas com o uso de cateter urinário(CU) e 80% ao uso e ao tempo de permanência deste. Cerca de 1525% dos utentes hospitalizados são alvo deste tipo de dispositivo médico, ao longo do internamento (Gould, 2009). O uso prolongado de CU, representa o maior fator de maior risco para o desenvolvimento de ITU, pelo que se recomenda que estes sejam utilizados quando estritamente necessários e removidos logo que possível (Gould, 2009; Pina, 2013). Estudos referem ser possível evitar até 69% das ITU´s, desde que aplicadas medidas de controlo de infeção adequadas (Gould, 2009). Com o avançar da tecnologia e da investigação, estas infeções têm vindo a ser analisadas na procura de medidas de carater preventivo para reduzir a sua incidência, preservando a segurança do utente (Silva, 2008; Costa, 2011). OBJETIVO(S): Reconhecer a prevalência de ITU em doentes algaliados em internamento; analisar fatores de risco para a ITU e sistematizar intervenções de enfermagem baseadas na evidência da prevenção da ITU. MÉTODOS: Revisão integrativa da literatura. Premiou a formulação da questão; seleção dos estudos; extração dos dados; análise e avaliação dos estudos. RESULTADOS: Os artigos evidenciam que medidas simples como indicações precisas para o uso do CU, lavagem das mãos antes e depois da manipulação do cateter, utilização de sistemas de drenagem fechados e assepsia ao manipular o cateter urinário, estão relacionadas com uma à redução do risco de ITU. Sugerem a avaliação da necessidade do

60


VIII Congresso Internacional ASPESM CU, promovendo a sua remoção sempre que necessário. A aplicação de um lembrete e de ordens de “stop” contribuem para a redução do número de dias de algaliação e a taxa de ITU. CONCLUSÕES: podemos concluir que a aplicação de medidas simples, realização de auditorias periódicas, a aplicação de protocolos e de feixes de intervenção, têm um impacto positivo na redução do risco de ITU, diligenciando a segurança do utente. Palavras-chave: Cateter Urinário; ITU; IACS; estratégias de intervenções. ABSTRACT BACKGROUND: Health care associated infections (HCAI) are a health problem, with high associated costs and high morbidity and mortality. Urinary tract infection (UTI) is the most common type of HCAI. About 75% are related to urinary catheter (UC) use and 80% to the use and length of stay of the urinary catheter. Approximately 15-25% of hospitalized patients are the target of this type of medical device during hospitalization (Gould, 2009). Prolonged use of UC is the major risk factor for the development of UTIs, so it is recommended that these are used when strictly necessary and removed as soon as possible (Gould, 2009; Pina, 2013). Studies have reported that it is possible to avoid up to 69% of UTIs, as long as adequate infection control measures are provided and applied (Gould, 2009). With the advancement of technology and research, these infections have been analyzed in the search for preventive measures to reduce their incidence, while preserving the safety of the user (Silva, 2008; Costa, 2011). AIM: To recognize the prevalence of UTI in hospitalized patients; analyze risk factors for UTI, and systematize nursing interventions based on evidence of UTI prevention. METHODS: Integrative literature review. It rewarded the formulation of the question; selection of studies; extraction of data; analysis and evaluation of the studies. RESULTS: The articles show that simple measures such as precise indications for the UC use, hand washing before and after catheter manipulation, use of closed drainage systems and asepsis when handling the urinary catheter are related to a reduction of the risk of UTI. They suggest the assessment of the need for UC, promoting its removal whenever necessary. The application of a reminder and "stop" orders contribute to the reduction of the number of days of storage and the ITU rate. CONCLUSIONS: we can conclude that the application of simple measures, periodic audits, the application of protocols and intervention bundles, have a positive impact on the reduction of the risk of UTIs, ensuring the safety of the user. Keywords: Urinary catheter; UTI; HCAI; intervention strategies

61


VIII Congresso Internacional ASPESM RESUMEN CONTEXTO: Las infecciones asociadas a la atención de salud (IACS) constituyen un problema de salud, con altos costos asociados y alta morbilidad y mortalidad. La infeción del tracto urinario (ITU) es el tipo más común de IACS. Cerca del 75% están relacionadas con el uso de catéter urinario (CU) y el 80% al uso y al tiempo de permanencia de éste. Cerca del 15-25% de los pacientes hospitalizados son objeto de este tipo de dispositivo médico, a lo largo de la internación (Gould, 2009). El uso prolongado de CU, representa el mayor factor de mayor riesgo para el desarrollo de ITU, por lo que se recomienda que estos sean utilizados cuando sean estrictamente necesarios y removidos lo antes posible (Gould, 2009; Pina, 2013). Los estudios indican que es posible evitar hasta un 69% de las ITU, siempre que se apliquen medidas de control de la infección apropiadas (Gould, 2009). Con el avance de la tecnología y la investigación, estas infecciones se están analizando en la búsqueda de medidas de carácter preventivo para reducir su incidencia, preservando la seguridad del usuario (Silva, 2008, Costa, 2011). OBJETIVO(S):: Reconocer la prevalencia de ITU en pacientes algalizados en internamiento; analizar factores de riesgo para la ITU y sistematizar intervenciones de enfermería basadas en la evidencia de la prevención de la ITU. METODOLOGÍA: Revisión integrativa de la literatura. Se premió la formulación de la cuestión; selección de los estudios; extracción de datos; análisis y evaluación de los estudios. RESULTADOS : Los artículos evidencian que medidas simples como indicaciones precisas para el uso del CU, lavado de las manos antes y después de la manipulación del catéter, utilización de sistemas de drenaje cerrados y asepsia al manipular el catéter urinario, están relacionadas con una a la reducción del riesgo de ITU. Sugeran la evaluación de la necesidad del CU, promoviendo su remoción siempre que sea necesario. La aplicación de un recordatorio y de órdenes de stop contribuye a reducir el número de días de algalía y la tasa de ITU. CONCLUSIONES: podemos concluir que la aplicación de medidas simples, la realización de auditorías periódicas, la aplicación de protocolos y de haces de intervención, tienen un impacto positivo en la reducción del riesgo de ITU, procurando la seguridad del usuario. Palabras clave: Cateter Urinario; ITU; IACS; estrategias de intervención INTRODUÇÃO A Infeção Associada aos Cuidados de Saúde (IACS) continua a ser um grave problema, com crescimento exponencial, considerada mesmo pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma “endemia surda” (Ribeiro, 2011). De acordo com os Centers Diseases Control and

62


VIII Congresso Internacional ASPESM Prevention (CDC), estas infeções são evitáveis em cerca de um terço dos casos, pelo que a capacidade de as prevenir constitui um indicador de qualidade dos cuidados (Silva, 2008). As ITU’s são o tipo mais comum de infeções associadas aos cuidados de saúde. Podem surgir em 1 a 2% dos utentes submetidos ao cateterismo urinário intermitente, e em 10 a 20% dos utentes submetidos ao cateterismo de demora. Entre aquelas que são adquiridas no hospital, cerca de 75% estão associadas ao uso de cateter urinário (Gould, 2009). Entre 15-25% dos doentes hospitalizados são alvo deste tipo de dispositivos médicos, ao longo de todo o período de internamento. Estes utentes, estão mais propensos a adquirir ITU, dependo de múltiplos fatores para o desenvolvimento da ITU. (Pina, 2013). Cateteres urinários devem ser utilizados quando estritamente necessários e devem ser removidos logo que possível (Gould, 2009). O risco diário de adquirir uma infeção urinária varia entre 3 e 7% quando está colocada uma algália (Pina, 2013). Dados do estudo de prevalência de infeção adquirida no hospital e do uso de antimicrobianos nos hospitais portugueses, foram identificadas 444 infeções das vias urinárias adquiridas no hospital, o que corresponde a uma taxa de 2,4% de doentes internados. Uma vez que a ITU pode representar uma fonte de custos diretos com cuidados de saúde ou ser um fator determinante na morbilidade e mortalidade, é vital que se tomem medidas que visem a sua prevenção, contribuam para a redução de complicações e custos de tratamento devido à alta incidência das ITUs em ambiente hospitalar (Pina, 2013). Os profissionais nas diversas instituições de saúde executam, de maneira diferente, a técnica de inserção e manutenção do cateter urinário, verificando-se discordância no que se refere à melhor prática. Não existe uma padronização ou consenso entre os profissionais e instituições em relação às etapas do procedimento, apesar da existência de normas de prevenção recomendadas e divulgadas pelo CDC e Direção Geral de Saúde (DGS), que destacam o uso adequado do cateter urinário (Gould, 2009). A Sociedade Americana de Epidemiologia para Cuidado de Saúde, estima que entre 17% a 69% das ITU’s podem prevenir-se mediante recomendações de controlo de infeção, basadas em evidências (Andrade, 2016). Medidas simples como a higiene de mãos, cumprimento rigoroso dos requisitos para a seleção e inserção do cateter urinário, manutenção do sistema de drenagem fechado e remoção, bem como a avaliação da sua necessidade, cuidados com o meato urinário e a utilização de uma técnica de colheita estéril (Andrade, 2016; DCP,2009; DGS, 2015). A prática baseada em evidências, apoia-se em resultados de relevância científica, destaca-se pela adoção de uma cultura que procura a qualidade de cuidados e segurança do doente.

63


VIII Congresso Internacional ASPESM Deve ainda assegurar-se a formação adequada de todos os profissionais de saúde que prestem cuidados a doentes cateterizados, promovendo informação sobre todas as complicações que esta técnica implica (Gould, 2009; DCP,2009; DGS, 2015) Esta revisão integrativa da literatura teve como questão de investigação: Quais as estratégias adotadas pelos Profissionais de Saúde na implementação das normas/diretrizes para a prevenção da ITU em doentes internados com presença de sonda vesical? Tem como principais objetivos: 1) reconhecer a prevalência de ITU em doentes algaliados em regime de internamento; 2) analisar fatores de risco para a ITU e 3) sistematizar intervenções de enfermagem baseadas na evidência da prevenção da ITU associada à algaliação. MÉTODOS Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura, que premiou as etapas preconizadas pelo Joanna Briggs Institute (2014): formulação da questão para a elaboração da revisão integrativa da literatura, especificação dos métodos de seleção dos estudos, procedimento de extração dos dados, análise e avaliação dos estudos incluídos, extração dos dados e apresentação da revisão/síntese do conhecimento produzido e publicado. A definição de critérios de inclusão (tabela 1), teve como finalidade orientar a pesquisa e selecionar a literatura em função dos resultados pretendidos e da questão formulada. Tivemos presente a data da publicação, últimos 5 anos, apresentados em texto integral, idiomas inglês, português e espanhol, e cujo título e/ ou resumo fizessem referência á questão de investigação, bem como o desenho do estudo. Tabela 1 – Critérios de Seleção Critérios de Seleção

Critérios de inclusão

Horizonte temporal

Artigos publicados entre 2011 e 2016.

Tipo de Texto

Artigos em full text.

Participantes

Referir-se a doentes adultos.

Idioma

Artigos em língua portuguesa, espanhola ou inglesa.

Contexto do estudo

Referir-se a CU, ITU e estratégias de prevenção.

Desenho do estudo

Estudos de abordagem qualitativa ou quantitativa.

Estratégia de pesquisa A estratégia de pesquisa combinou os termos de busca, os operadores booleanos e os componentes da estratégia PICO.

Foi selecionada uma questão temática: “Quais as

estratégias adotadas pelos Profissionais de Saúde na implementação das normas/diretrizes para a prevenção da ITU em doentes internados com presença de sonda vesical?” Foram utilizados os descritores: ITU, cateter urinário, intervenções de enfermagem. A pesquisa

64


VIII Congresso Internacional ASPESM decorreu nos dias 01 a 08 de julho de 2017, nas bases de dados EBSCO, B-on, Scielo e RCAAP. Identificação e inclusão dos estudos A seleção dos estudos foi efetuada por dois revisores e inclui a realização de testes de relevância de acordo com as recomendações de Pereira & Bachion, 2006. Realizou-se a seleção dos estudos, de acordo com a questão norteadora e os critérios de inclusão. Os estudos foram avaliados por análise dos títulos e resumos. Quando estes se mostraram insuficientes, procedeu-se à leitura da íntegra da publicação. As pesquisas conduziram a uma amostra de 158 estudos científicos. Após leitura integral, 75 foram excluídos por repetição, 32 pelo resumo, 38 por inadequação aos critérios de inclusão, resultando uma amostra de 7 artigos. Na Figura 1, apresenta-se o processo de seleção dos estudos incluídos. Potenciais estudos identificados pela pesquisa de literatura (n = 158)

Estudos excluídos por repetição (n = 75)

Estudos excluídos após leitura do resumo n=38) Estudos para análise de texto integral (n = 45) Estudos excluídos por não cumprirem critérios de inclusão (n = 38) Estudos incluídos na Revisão Sistemática (n = 7)

Figura 1 - Processo de seleção dos estudos incluídos

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS Os 7 artigos selecionados que satisfizeram os critérios de inclusão pré-definidos, foram analisados de forma a dar resposta à questão de investigação, são apresentados na tabela 2, constando na mesma o ano de publicação, o título e autoria. Tabela 2 – Artigos analisados segundo ano de publicação, publicação e autoria Nº

Autores

Título Avaliação da eficácia do lembrete de

1

Sanchéz, M.

algaliação na redução de dias de algaliação

Ano/Local publicação 2014

e da taxa de infeção urinária associada à

biblioteca.portalbolsas

algaliação

deestudo.com.br/?q=algaliação

65


VIII Congresso Internacional ASPESM

2

Reyes, F., et al.

Infección del tracto urinario por uso del

2014

catéter vesical en pacientes ingresados en MEDISAN

cuidados intensivos

2011 3

Conterno, O., et al.

Uso excessivo do cateter vesical em pacientes internados em enfermarias de

Revista

da

Escola

de

hospital universitário

Enfermagem da Universidade de São Paulo

4

5

6

Mazzo, A., et al.

urinário:

facilidades

dificuldades

relacionadas

e

à

A-voiding

Mori, C.

Texto & Contexto Enfermagem

catastrophe:

implementing

a

nurse-driven protocol Auditing

Dailly, S.

urinary

2011

sua

padronização

2014 Medsurg Nurs.

catheter

care.

Nurs

Standart

Medding,

2012

J.;

Rogers 7

Cateterismo

Reducing unnecessary urinary catheter use

MA,

Krein

and other strategies to prevent catheter-

SL,

Fakih

associated

MG, Olmsted

urinary

tract

infection:

an

2013 NCBI

integrative review

RN, Saint S. 1.

Após a análise dos textos na íntegra, foi realizada síntese dos dados, contemplando a amostra, os objetivos do estudo, a metodologia utilizada e os resultados e conclusões a que chegaram esses estudos, os quais constam da tabela 3.

66


VIII Congresso Internacional ASPESM Tabela 3 – Síntese das evidências encontradas Artigo

Amostra

Objetivos

Metodologia

Resultados/Conclusões

343

Estabelecer

a

Estudo

Menciona alguns fatores de risco

Utentes

relação

o

analítico-

intrínsecos

como

número de dias de

observaciona

feminino,

imunodepressão

algaliação

l

desnutrição.

entre

dos

utentes e a taxa

1

de

caso-

idade,

Refere

sexo

também

e a

presença habitual de 2 ou mais

controlo

de infeção urinária

fatores

de

risco

para

o

associada

à

desenvolvimento de infeção urinária.

algaliação

no

internamento hospitalar 37 Utentes

Identificar

as

Estudo

Referencia

aos

fatores

que

principais causas

observaciona

contribuem para a ITU, relacionados

de ITU

l, descritivo e

com o sexo masculino, idade superior

transversal

a 60 anos, com cateter urinário durante mais de 15 dias. Os fatores que propiciam a infeção podem estar

2

associados

à

permanência

prolongada do CU, grupo etário, presença

de

bacteriúria,

sistema

aberto de drenagem e administração de antibioterapia. Identificar

no

Estudo

de

processo

coorte

dos utentes internados usaram CU. O

assistencial falhas

prospetivo

tempo médio de uso foi de 6,8 dias. A

potencialmente 3

254 Utentes

Durante o período do estudo, 14%

modificáveis

indicação do CU foi inadequada em e

29%; o tempo de permanência foi

importantes para

inadequado em 49% dos utentes do

a prevenção da

foro médico e 66,9% dos utentes

ITU com presença

cirúrgicos.

Utentes

de

inadequado

de

cateter

com

cateter

uso

urinário

tiveram mais ITU’s e maior tempo de

urinário.

internamento.

4

9

Verificar

Instituiçõe

existência

s

fatores

hospitalar

relacionados

a de à

Estudo

Evidencia

a

necessidade

descritivo,

reavaliar os protocolos existentes nos

exploratório.

hospitais estudados, com discussões interdisciplinares,

verificar

de

se

se

os


VIII Congresso Internacional ASPESM es de uma

padronização

do

protocolos estão a ser seguidos e

cidade de

cateterismo

encontrar estratégias de treino e

São

urinário

ensino passíveis de aplicação.

Paulo. Todos os

Avaliar a eficácia

Estudo

Liderada uma equipa de enfermeiros

utentes

de

prospetivo

especializados

internado

urinário residente

Quantitativo

progresso de um protocolo para a

s

conduzido

foram

um

cateter

e

médicos

no

por

orientação prática, com base em

submetid

enfermeiros e a

diretrizes dos CDC 2009, para a

os

sua remoção de

necessidade

cateteris

acordo

manutenção de cateterização. Este

mo

Protocolo

a

com

CU

e

registo

da

protocolo permite aos enfermeiros

vesical

decidir

de

forma

autónoma

a

durante a

interrupção do cateterismo.

hospitaliz

Os enfermeiros receberam treino

ação.

sobre as orientações, aplicando-as sob a forma de Protocolo de Cateter vesical. Os resultados consistiram:

5

Pré intervenção (n=389): nº de dias cateterismo: 1,280; incidência de cateterismo: 37,6%; ITU associada al cateterismo: 0,77%. Pós intervenção (três meses depois) (n=282): nº de dias cateterismo: 1,025; incidência de cateterismo: 27,7%;

y

ITU

associada

ao

cateterismo: 0,35%. Os resultados sugerem o uso de protocolos dirigidos por enfermeiros, para reduzir a incidência e duração do CU e incidência de ITU associada a CU.

6

400

Compreender de

Estudo

Construção

utentes

que

descritivo

Urinary Catheter Assessment and

do Royal

aplicação de uma

Monitoring form – o enfermeiro avalia

Hampshir

ferramenta

de

e documenta a necessidade de CU e

e Hospital

monitorização do

sua manutenção. Registam-se as

submetid

cateter

urinário,

práticas realizadas de acordo com as

os

pode diminuir a

diretrizes e a necessidade de manter

taxa de infeção

o cateter. Melhora nos registos sobre

cateteris

a

forma

a

de

um

documento-


VIII Congresso Internacional ASPESM mo

associada

urinário

cateter.

ao

a técnica de inserção e manutenção do

cateterismo

vesical

em

em junho

comparação com os registos antes da

de 2009

aplicação do Formulário de Avaliação e Monitoração. Aumento das auditorias mensais aos utentes submetidos a CU. Promove melhores práticas e produz evidências de que os cuidados foram fornecidos.

7

30

Resumir

Revisão

Foram

Estudos

intervenções que

sistemática

para a remoção de CU. Constatou-se

contribuam para o

prévia

(até

que a taxa de CAUTI (episódios por

uso

outubro

de

1000 cateter-dias) foi reduzida em

desnecessário do

2012)

e

53% (taxa 0,47; IC 95% 0,30 a 0,64,

cateter

meta-análise

p <0,001) usando uma lembrança ou

urinário

por lembretes ou

identificadas

intervenções

ordem de stop.

“stop orders”. Os lembretes de CU e as ordens de “Stop” parecem reduzir as taxas de CAUTI e devem ser usadas para melhorar a segurança do utente. Várias orientações baseadas em evidências avaliaram as estratégias preventivas da CAUTI, bem como evidências pacotes

emergentes de

sobre

os

intervenção.

As

estratégias de implementação são importantes porque a redução do uso de

Cateter

mudança

Urinário de

estabelecidos.

envolve

hábitos

a

bem


VIII Congresso Internacional ASPESM RESULTADOS/DISCUSSÃO A ITU é uma das complicações mais frequentes relacionadas diretamente com o procedimento de cateterização. Cerca de 15-25% dos utentes hospitalizados são submetidos ao cateterismo urinário (Pina et al., 2013). O cateterismo urinário é um procedimento muito utilizado pelos enfermeiros nos cuidados em ambiente hospitalar, devendo ser livre de riscos, preservando a segurança do utente e mantendo a qualidade de assistência prestada. Existem determinadas condições que potenciam o desenvolvimento de ITU podendo estas estar divididas em fatores inerentes ao utente e ao procedimento. Os fatores intrínsecos que contribuem para o aparecimento de ITU em utentes algaliados são a idade, seguido da imunodepressão, o sexo feminino e desnutrição. Considera-se ainda como fator de risco relevante para o desenvolvimento de ITU a presença de cateter urinário e o uso prolongado do mesmo (Sanchéz, 2014). Os utentes portadores de doenças do aparelho respiratório e circulatório tem maior suscetibilidade de adquirir ITU. Quanto maior o número de fatores intrínsecos, maior o risco de desenvolver ITU. Quanto ao tempo de internamento, este foi mais elevado nos utentes que desenvolveram ITU nosocomial. (Sanchéz, 2014; Reyes, 2014). O cateter urinário, constitui um procedimento invasivo, aumenta o risco de infeção, sendo influenciado pela técnica, indicação, duração da algaliação, tipo de sonda utilizada e suscetibilidade do hospedeiro, sendo que a uma única algaliação se associa um risco de 1 a 2% de desenvolver ITU. A maioria dos utentes com indicação para cateterismo urinário em ambiente

hospitalar

encontram-se

em

período

pós-operatório,

utentes

instáveis

hemodinamicamente, com retenção urinária, com maior controlo de diurese e imobilizados no leito (Conterno et al, 2011). A duração da algaliação está associada ao risco de ITU, sendo o risco de incidência de bacteriúria, proporcional ao número de dias de algaliação. O risco diário de adquirir uma infeção urinária varia entre 3 e 7% na presença de algália, podendo a equipe de saúde reduzir o risco, garantindo a prestação de cuidados baseados em evidências e removendo o cateter quando não seja necessário (Pina, 2013 & Dailly, 2012). Mazzo (2011), acrescenta que no cateterismo intermitente, realizado em intervalos rotineiros, os cateteres são retirados após o esvaziamento da bexiga, o que implica menores taxas de ITU. Por outro lado, na algaliação permanente o risco de ITU aumenta após as 72h de permanência do cateter e pode ser agravado pelo trauma do tecido uretral na sua inserção. Constatamos que à medida que aumenta o número de dias de algaliação, aumenta o número de ITU’s. A redução do tempo de algaliação e a taxa de ITU associada à algaliação significa na prática um menor incómodo e um menor prejuízo para o utente, evitando-se assim gastos na terapêutica da ITU. A presença de ITU conduz a um prolongamento do tempo de


VIII Congresso Internacional ASPESM internamento, aumenta os custos, pelo custo da terapêutica, e pelo gasto diário global da estadia hospitalar (Sanchéz, 2013; Conterno, Lobo, & Masson, 2011; Mazzo, 2011). Nos últimos anos foram realizadas e atualizadas algumas recomendações/orientações clínicas de prevenção, diagnóstico e tratamento da ITU associada á algaliação, estando recomendado o uso de sistemas de drenagem estéreis, fechados e contínuos, devendo estes incluir o cateter urinário e saco coletor com válvula. Evidenciam medidas simples e de acesso universal: indicações precisas para o uso do cateter urinário; evitar o uso inapropriado ou prolongado da algália, lavagem das mãos antes e depois da manipulação do cateter; máxima assepsia ao manipular o cateter urinário; existência de procedimentos de escolha do material, manutenção e remoção da algália; indagar alternativas á algaliação e formação dos profissionais de saúde (Medding, 2013; Reyes, 2014 & Gould, 2009). Recentemente iniciou-se o desenvolvimento da utilização de lembretes (“reminders”) e/ou ordens automáticas de desalgaliação (“stop orders”), para recordar de forma automática aos profissionais de saúde, a presença da algália ou a necessidade da sua interrupção, após verificação de determinados pré-requisitos, com o desígnio de diminuir o número de dias de algaliação e evitar algaliações indevidas (Medding, 2013). Constatamos a importância da existência de um protocolo nas instituições de saúde relativamente ao cateterismo urinário e estratégias de prevenção, proporcionando aos profissionais maior segurança no “saber fazer”, contribuindo para o aumento da qualidade dos cuidados de enfermagem e segurança do utente (Mazzo, 2011). A implementação de protocolos e a sua avaliação diária por parte dos enfermeiros com função de gestão, propondo a extração ou não do cateter vesical, constitui uma boa estratégia de redução da ITU, permitindo aos enfermeiros decidir de forma autónoma a interrupção do cateterismo (Mori, 2014; Dailly, 2012). A aplicação destes Protocolos como tomada de decisão baseada em evidências, necessita de treino e formação dos enfermeiros, de forma a contribuírem para uma diminuição do uso desnecessário do cateter vesical (Mori, 2014; Dailly, 2012). A realização de auditorias periódicas aos utentes submetidos a cateterismo urinário, constitui também uma ferramenta de monitorização, que promove a melhoria das práticas clinicas e produz evidências de que os cuidados foram fornecidos (Dailly, 2012). É fundamental que os Enfermeiros tenham conhecimentos teóricos que lhes dê segurança para uma atitude próativa em relação aos utentes algaliados, incluindo na sua prática de cuidados diários, a necessidade de se questionar acerca da necessidade de manutenção de cateter urinário (Conterno, Lobo & Masson, 2011; Mazzo, 2011).


VIII Congresso Internacional ASPESM CONCLUSÃO O papel do enfermeiro e equipe de saúde é fundamental na prevenção das ITUs, devendo adotar diretrizes baseadas em evidências para garantir a qualidade da assistência e minimizar a ocorrência da ITU. O uso de um feixe de intervenção, está diretamente ligado com a segurança do doente, além de ser enfatizado como método eficaz para prevenir e reduzir a infeção do trato urinário associada á algaliação. As intervenções baseadas em evidências sugerem a avaliação e a necessidade do cateterismo urinário, promovendo a sua remoção sempre que necessário, contribuindo para a diminuição das ITUs. Os estudos demonstraram que o cateterismo intermitente é um procedimento mais seguro e com menor taxa de complicações e de ITU, quando comparado à cateterização de demora. Acrescentam, que a utilização segura do cateter urinário e a sua remoção precoce, está associada à redução do risco de ITU e menor tempo de hospitalização. Evidenciam que medidas simples como indicações precisas para o uso do cateter urinário, lavagem das mãos antes e depois da manipulação do cateter, utilização de sistemas de drenagem fechados e assepsia ao manipular o cateter urinário, estão relacionadas com uma à redução do risco de ITU. A aplicação de um lembrete de algaliação e de ordens de “stop” não só lembram da presença de algália, mas também das indicações basilares para a algaliação, contribui para a redução da ITU, aumentando a segurança do utente. A realização de auditorias periódicas aos utentes submetidos a cateterismo urinário promove a melhoria das práticas clinicas. As orientações baseadas em evidências demonstram a emergência da implementação de feixes de intervenção. As estratégias de implementação são marcantes para a redução do uso e do tempo de permanência do Cateter Vesical, envolvendo a mudança de hábitos e comportamento. Um terço das IACS são seguramente evitáveis, pelo que consideramos ser prioritário investir ao nível de programas de vigilância epidemiológica, divulgar e monitorizar os feixes de intervenção do cateter urinário, incluindo formação/educação dos profissionais de saúde visando a implementação de estratégias de prevenção das ITU’s.

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e

da

taxa

de

infeção

urinária

biblioteca.portalbolsasdeestudo.com.br/?q=algaliação.

associada

à

algaliação.


VIII Congresso Internacional ASPESM

A Importância dos Nutrientes na Saúde/Doença Mental: Revisão Sistemática de Literatura Vânia Lemos* *Especialista; Enfermeira Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria; Enfermeira, Hospital Dr. Nélio Mendonça, Avenida Luís de Camões, nº 57, 9004-514 Funchal, Portugal. Telefone 969130367 E-mail: lemux_7@hotmail.com RESUMO Este estudo surgiu após reflexão crítica da importância do enfermeiro especialista em saúde mental e psiquiatria conter um vasto leque de saberes para que possa ter uma intervenção mais autónoma e especializada. Teve como objetivo analisar a produção científica acerca da importância dos nutrientes na saúde/doença mental, mais especificamente na esquizofrenia e na depressão, publicada em artigos científicos de 2010 a 2016. Realizei uma revisão sistemática de literatura pesquisando artigos de acordo com os seguintes critérios: estudos que analisem os nutrientes e a importância dos mesmos na depressão e na esquizofrenia; estudos analisados por especialistas e estudos com texto completo. Procedi a uma pesquisa eletrónica na base de dados CINAHL, MEDLINE e Cochrane. A amostra constituiu-se de dez artigos. As publicações analisadas descrevem a importância e a eficácia dos nutrientes na prevenção e no tratamento adjuvante de doenças psiquiátricas. Constatei que determinados nutrientes têm um impacto profundo na psiquiatria. Contudo há necessidade de maiores ensaios controlados randomizados. Palavras-Chave: Psiquiatria; Nutrição; Esquizofrenia; Depressão. ABSTRACT This study arose after a critical reflection of the importance of the nurse specialist in mental health and psychiatry to contain a wide range of knowledge so that it can have a more autonomous and specialized intervention. It aimed to analyze the scientific production about the importance of nutrients in health / mental illness, more specifically in schizophrenia and depression, published in scientific articles from 2010 to 2016. I carried out a systematic review of literature searching articles according to the following criteria: Studies that analyze the nutrients and their importance in depression and schizophrenia; Studies analyzed by specialists and studies with full text. I carried out an electronic search in the database CINAHL, MEDLINE and Cochrane. The sample consisted of ten articles. The reviewed publications describe the importance and efficacy of nutrients in the prevention and adjuvant treatment of


VIII Congresso Internacional ASPESM psychiatric disorders. I have found that certain nutrients have a profound impact on psychiatry. However, there is a need for larger, randomized controlled trials. Keywords: Psychiatry; Nutrients; Schizophrenia; Depression. RESUMEN Este estudio surgió tras la reflexión crítica de la importancia del enfermero especialista en salud mental y psiquiatría contener una amplia gama de saberes para que pueda tener una intervención más autónoma y especializada. El objetivo de este trabajo fue analizar la producción científica sobre la importancia de los nutrientes en la salud / enfermedad mental, más específicamente en la esquizofrenia y la depresión, publicada en artículos científicos de 2010 a 2016. Realizé una revisión sistemática de la literatura buscando artículos de acuerdo con los siguientes criterios: estudios que analizan los nutrientes y la importancia de los mismos en la depresión y la esquizofrenia; estudios analizados por especialistas y estudios con texto completo. He procedido a una búsqueda electrónica en la base de datos CINAHL, MEDLINE y Cochrane. La muestra se constituyó de diez artículos. Las publicaciones analizadas describen la importancia y la eficacia de los nutrientes en la prevención y el tratamiento adyuvante de enfermedades psiquiátricas. He comprobado que ciertos nutrientes tienen un impacto profundo en la psiquiatría. Sin embargo, se requieren mayores ensayos controlados aleatorizados. Palabras Clave: Psiquiatría; la Nutrición; Esquizofrenia; La Depresión. INTRODUÇÃO Segundo o relatório “Portugal – Saúde Mental em Números 2015”, as perturbações mentais e do comportamento mantêm um peso significativo no total de anos de vida saudável perdidos pelos portugueses, com uma taxa de 11,75%. Simultaneamente, as perturbações mentais representam 20,55% do total de anos vividos com incapacidade (Direção Geral de Saúde, 2015). Hoje sabe-se que a alimentação desempenha um papel fundamental na saúde mental, como tal, atualmente já existe uma maior preocupação em investigar. No entanto, esta continua a ser mais abordada na saúde física. Segundo Gomes (2014) vários estudos demonstram a eficácia dos nutrientes na prevenção e no tratamento de doenças psiquiátricas. A nutrição é um processo biológico em que os organismos, com a utilização de alimentos, assimilam nutrientes para a realização das suas funções vitais. No domínio da saúde e medicina, a nutrição é o estudo das relações entre os alimentos ingeridos e a doença ou o bem-estar. A boa nutrição depende de uma dieta regular e


VIII Congresso Internacional ASPESM equilibrada, ou seja, é preciso fornecer às células do corpo não só a quantidade como também a variedade adequada de nutrientes importantes para o seu bom funcionamento. De entre as diversas patologias psiquiátricas, a esquizofrenia é uma patologia crónica e de origem multifatorial, que prevalece em aproximadamente 1% da população mundial. Esta é uma doença com etiologia desconhecida, embora exista uma forte correlação entre fatores fisiológicos, genéticos, nutricionais, sociais e ambientais. Os primeiros sinais e sintomas da doença aparecem mais comumente durante a adolescência ou no início da idade adulta. Apesar de poderem surgir de forma repentina, o quadro mais frequente inicia-se de maneira insidiosa (Silva, 2006). A esquizofrenia carateriza-se por diversos sintomas, sendo os sintomas prodrómicos pouco específicos, os quais incluem a perda de energia, a perda de iniciativa, humor depressivo, isolamento, comportamento inadequado, negligência com a aparência pessoal e a higiene, e estes podem surgir e permanecer por algumas semanas ou até meses antes do aparecimento de sintomas mais caraterísticos da doença. Os familiares e os amigos em geral percebem-se de mudanças no comportamento do doente, nas suas atividades pessoais, no contacto social e no desempenho no trabalho e/ou escola. Os aspetos mais caraterísticos da esquizofrenia são alucinações e delírios, transtornos de pensamento e linguagem, perturbação das emoções e do afeto, déficits cognitivos e avolição (Silva, 2006). Relativamente a outra patologia psiquiátrica, a depressão é também muito abordada, segundo a Organização Mundial de Saúde, 9,5% das mulheres e 5,8% dos homens passarão por um episódio depressivo num período de 12 meses, mostrando uma tendência ascendente nos próximos vinte anos (Organização Mundial da Saúde, 2001). Atualmente, a Organização Mundial de Saúde determinou que a depressão é classificada em quarto lugar na lista global de carga de doenças. As taxas de depressão continuam a aumentar e a OMS prevê que será o segundo fardo global mais comum da doença até 2020. A depressão tem sido uma das perturbações psicológicas mais discutida e avaliada devido à enorme quantidade de pessoas que afeta e afetará. Embora a caraterística mais típica dos estados depressivos seja a proeminência dos sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os doentes relatam a sensação subjetiva de tristeza. A depressão é uma doença bem definida do ponto de vista médico, cujos sintomas são intensos, prolongados no tempo e interferem nas atividades de vida diárias. Os sintomas passam por alterações no apetite ou peso, alterações no sono e na atividade psicomotora, diminuição da energia, sentimentos de desvalorização pessoal ou culpa, dificuldades em pensar, concentrar-se ou em tomar decisões, pensamentos recorrentes a propósito da morte


VIII Congresso Internacional ASPESM ou ideação, planos ou tentativas suicidas. No diagnóstico da depressão existem sintomas psíquicos, fisiológicos e evidências comportamentais (Rivero, 2009). MÉTODOS Trata-se de um estudo de revisão sistemática de literatura, que é adequado para buscar consenso sobre alguma temática específica e sintetizar o conhecimento de uma dada área por meio da formulação de uma pergunta, identificação, seleção e avaliação crítica de estudos científicos contidos em bases de dados eletrónicas. A partir desse processo, ela permite, além de aprofundar o conhecimento sobre a temática investigada, apontar lacunas que precisam ser preenchidas por meio da realização de novas investigações. A pergunta de pesquisa foi: qual é o conhecimento científico já produzido, sobre quais os nutrientes essenciais na esquizofrenia e na depressão? A busca de artigos foi realizada nas bases de dados eletrónicas, CINAHL, MEDLINE e Cochrane, por meio das palavras-chaves selecionadas segundo a classificação dos Descritores em Medical Subject Headings (MeSH): nutrientes, psiquiatria, enfermagem, esquizofrenia e depressão. No total obtive 290 artigos. Para seleção dos artigos realizei, primeiramente, a opção de artigos com texto completo dos últimos seis anos (2010-2016), analisados por especialistas, dos quais obtive 85 artigos. Em seguida, procedi a uma avaliação prévia dos documentos recolhidos, excluindo artigos repetidos e fazendo uma triagem com base na leitura dos respetivos resumos. Foram excluídos artigos cujo conteúdo não correspondia aos critérios definidos. A lista final de artigos incluiu dez, que foram analisados em função do assunto, objetivos, metodologias, principais conclusões e sugestão de investigações futuras. Os artigos são todos em idioma Inglês. A avaliação crítica dos artigos consistiu na leitura do estudo na íntegra e, em seguida, na elaboração de um quadro com os dados coletados com informações de cada pesquisa, a saber: autores/data/tipo de estudo, objetivo da pesquisa, principais resultados e conclusões. RESULTADOS Sabe-se que um dos primeiros pesquisadores a examinar o tratamento vitamínico para a esquizofrenia foi o psiquiatra canadense Abraham Hoffer, que começou o seu trabalho na década de 1950, que incluiu o tratamento com doses elevadas de vitaminas e nutrientes. Seu contemporâneo, Thomas Ban, contrapôs-se argumentando que não existe nenhuma evidência replicável de ensaios controlados que justifiquem os suplementos vitamínicos (Brown & Roffman, 2014). Assim, os benefícios do tratamento vitamínico na esquizofrenia têm sido discutidos há muito tempo e, ainda não surgiu uma resposta confiável.


VIII Congresso Internacional ASPESM Segundo Roffman, et. al (2013), os sintomas negativos da esquizofrenia foram previamente associados a níveis reduzidos de ácido fólico e vitamina B. Jacka e Berk (2014) referem que graves deficiências de nutrientes durante o período de desenvolvimento humano podem originar patologias, tais como a depressão e a esquizofrenia. Recentemente, Colleen e Kathleen (2014) assim como Penckofer, Kouba, Byrn e Estwing (2010) associaram baixos níveis de ácidos gordos polinsaturados e vitamina D na depressão major e na esquizofrenia. McGrath, Burne, Féron, Mackay-Sim e Eyles (2010) referem que a carência de vitamina D pré-natal está associada a alterações persistentes na estrutura e função do cérebro, incluindo alterações da função dopaminérgica. Curiosamente, o mecanismo pelo qual a vitamina D pode estar associada aos transtornos mentais não é claramente entendido. Foi relatado que existem recetores de vitamina D no hipotálamo, que podem ser importantes no funcionamento neuro endócrino (Penckofer, Kouba, Byrn & Estwing, 2010). Na Holanda e na China foram feitos estudos, que afirmam que os nutrientes essenciais na possível prevenção da esquizofrenia são a vitamina D, o ácido fólico e o ferro (McGrath, Brown & St Clair, 2011). Apesar dos dados serem escassos e não existir dados de ensaios clínicos controlados, estudos iniciais de coorte sugerem que além da deficiência de vitamina D, a deficiência do ferro e do ácido fólico são biologicamente relevantes para o desenvolvimento da esquizofrenia (McGrath, Brown & St Clair, 2011). Contudo, diversos autores aludem que podem existir diversas variáveis associadas à alteração dos nutrientes, tais como a sua insuficiente ingestão. Deste modo, Hardy e Gray (2011) desenvolveram um estudo baseado na alimentação diária das pessoas com esquizofrenia, ao que concluíram que a maioria não tinha conhecimento de uma alimentação saudável. Todavia, existe ainda a questão se a diminuição dos níveis de vitaminas está associada à doença ou se é consequência da própria doença. Tsai, Yuan-Ti e Tsui-Lan (2010) reforçam ainda que as pessoas com transtorno mental têm riscos adicionais de problemas nutricionais por causa do autocuidado, incapacidade de comprar ou preparar alimentos, estilo de vida pouco saudável, medicação e interações entre drogas e nutrientes. Logo, alterações não desejadas de peso, problemas comportamentais e distúrbios alimentares são comuns nestas pessoas.


VIII Congresso Internacional ASPESM Todavia, além destas vitaminas anteriormente referidas, McGrath, Brown e St Clair (2011) referem ainda que o ferro é essencial para uma infinidade de processos metabólicos que são essenciais para a função cerebral. Estes incluem o seu papel como uma coenzima de síntese de dopamina e a sua relação com a densidade do recetor de dopamina, sabendo que anormalidades dopaminérgicas são uma caraterística marcante da esquizofrenia. Como metal de transição, o ferro é de particular importância no sistema límbico e a sua incorporação em enzimas tais como a tirosina hidroxilase, a fenilalanina hidroxilase e o triptofano hidroxilase, que catalisam a conversão de fenilalanina em tirosina e triptofano em 5-hidroxitriptofano (precursores de catecolaminas e serotonina, respetivamente) (Roffman, et al, 2013). Também foi documentado, em ratos, que a deficiência de ferro pré-natal altera a atividade do citocromo C oxidase, conduzindo a uma taxa reduzida de fosforilação oxidativa, particularmente no hipocampo e córtex pré-frontal. Uma redução semelhante é observada no estriado e na amígdala (Roffman, et al, 2013). Relativamente à depressão, os autores anteriormente referenciados defendem que a depressão é uma condição mental caraterizada por sintomas de aumento da infelicidade, anedonia, irritabilidade, dificuldades de concentração, perda de apetite e alterações do sono. Roffman, et al. (2013) referem ainda que outro elemento importante a nível cerebral é o cobre e que a deficiência do mesmo causa várias alterações neurológicas, como por exemplo a mielopatia com marcha espástica e ataxia sensorial, a desmielinização do sistema nervoso central, a neurite ótica, a neuropatia periférica e a doença de Menkes. Assim, a deficiência de cobre merece maior análise e estudo como um possível componente destas doenças. O selénio é outro elemento que em quantidades diminuídas é também responsável por lesões neurológicas progressivas, evidenciado por alteração da memória espacial, déficits de potencialização de longo prazo no hipocampo e déficits de função motora que se manifestam como espasticidade. A deficiência de selénio pode ser fatal se os níveis adequados de selénio não forem restaurados. Resumidamente, Torres-Vega, Pliego-Rivero, Otero-Ojeda, Gómez-Oliván e Vieyra-Reyes (2012) referem que deficiências de nutrientes como aminoácidos, vitaminas, lípidos e oligoelementos durante a gestação e início da infância têm fortes efeitos nocivos sobre o desenvolvimento do sistema límbico, que podem ser irreversíveis, mesmo quando o suplemento adequado é fornecido em estádios de desenvolvimento posteriores. Os progressos recentes na neuroquímica identificam a importância dos elementos (ferro, cobre, zinco e selénio) numa variedade de funções celulares e estão a identificar algumas


VIII Congresso Internacional ASPESM repercussões das deficiências e excessos destes elementos sobre o desenvolvimento do sistema nervoso central, especialmente no sistema límbico (Torres-Vega et al, 2012). Na depressão, as atividades da amígdala e do córtex são elevadas. Estas áreas são inervadas por projeções neuronais que libertam as monoaminas dopamina, serotonina e noradrenalina e a depressão tem sido associada a uma redução nos níveis destes neurotransmissores (Roffman, et al, 2013). Os elementos ferro, zinco, cobre e selénio desempenham funções estruturais e catalíticas em proteínas e enzimas envolvidas em funções estruturais, metabólicas e antioxidantes e também participam na síntese de neurotransmissores, especificamente as catecolaminas, em especial, a dopamina e a noradrenalina. A dopamina regula os sentimentos de bem-estar, a interação social, o controle dos movimentos voluntários e a aprendizagem. A noradrenalina modula a alta proatividade motivacional, o comportamento motivacional relacionado à alimentação, à memória e ao desenvolvimento cerebral (Roffman, et al, 2013). CONCLUSÃO A prática de saúde mental precisa incorporar outras modalidades de tratamento que atendam às necessidades das pessoas, visando modificar os sintomas, restaurar a função e promover a recuperação. Com este conhecimento, os enfermeiros de saúde mental podem potencialmente contribuir para o desenvolvimento de estratégias e abordagens para complementar os tratamentos atuais e, portanto, garantir melhores resultados de saúde. No entanto, outras pesquisas são necessárias para desenvolver tratamentos com maior eficácia e reduzir o fardo pessoal, social e económico na área da saúde mental. Sabendo que existe uma quantidade elevada de pessoas que não aderem à terapêutica, bem como elevadas taxas de recaída, é importante considerar outros fatores que possam ser direcionados para minimizar as patologias (Penckofer, Kouba, Byrn & Estwing, 2010). Avaliações nutricionais bem planeadas raramente ocorrem em ambientes de saúde mental, logo deve ser algo a avaliar (Tsai, Yuan-Ti & Tsui-Lan, 2010). Relativamente à prevenção primária da esquizofrenia, a vitamina D parece ser um candidato atraente do ponto de vista da saúde pública, sendo uma intervenção barata, segura e relativamente simples que poderia potencialmente evitar uma vasta gama de doenças, além da esquizofrenia (McGrath, Brown & St Clair, 2011). No entanto, segundo Brown e Roffman (2014), as conclusões são limitadas pelo pequeno tamanho da amostra e a falta de comparação com indivíduos saudáveis.


VIII Congresso Internacional ASPESM Diversos autores referenciam que além da vitamina D, os suplementos de vitamina, particularmente com ácido fólico e vitamina B12, podem desempenhar um papel importante no tratamento da esquizofrenia. Embora haja menos provas convincentes para o tratamento com outras vitaminas, e até mesmo algumas provas em contrário, estudos adicionais são necessários para tomar decisões no tratamento. Contudo, existe uma clara necessidade de ensaios de controlo randomizados que examinem o tratamento vitamínico, em particular em relação à dosagem, ao genótipo e aos tipos específicos de sintomas e em combinação com medicamentos antipsicóticos específicos. Seria

também

informativo

examinar

a

incidência

de

esquizofrenia

em

países

subdesenvolvidos com desnutrição, assim como amostras de sangue e soro pré-natal poderiam ajudar a determinar os níveis de deficiência e idealmente de resposta. Além disso, pode ser útil examinar padrões de incidência e gravidade da esquizofrenia em países que adotaram recentemente a fortificação obrigatória de ácido fólico. Finalmente, enquanto as vitaminas são geralmente consideradas seguras e bem toleradas, vários pesquisadores relacionaram altas doses de ingestão de vitaminas com risco de cancro, embora isso tenha sido contestado em outras meta-análises. Além disso, deve-se notar que há sempre a possibilidade de um viés de publicação dada a falta de estudos negativos publicados (Brown & Roffman, 2014).

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VIII Congresso Internacional ASPESM

Impacto da Prática de Atividade Física na Qualidade de Vida do Adulto Mariana Barroso Saraiva*, & Maria Margarida S. V. Ferreira** * Licenciada; Enfermeira; Enfermeira na Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima; Calçada do Senhor dos aflitos, 4990-034 Ponte de Lima, Portugal. E-mail: marianabarrososaraiva@hotmail.com **Doutorada; Professora auxiliar da Faculdade de Ciências da Saúde da UFP-Porto; Rua D. Silva Teixeira 224 r.c, 4470-370 Maia, Portugal; E-mail: mmferreira@ufp.edu.pt RESUMO CONTEXTO: A atividade física (AF), a saúde e a qualidade de vida (QV) estão intimamente relacionados entre si. O corpo humano foi concebido para se movimentar e como tal necessita de AF regular com vista ao seu melhor funcionamento e de forma a evitar doenças. A prática regular de AF e a adoção de um estilo de vida ativo são necessários para a promoção da saúde e qualidade de vida durante o processo de envelhecimento (Direção Geral de Saúde, 2009). Os profissionais de saúde, como é o caso dos enfermeiros, que trabalham com indivíduos e comunidades podem proporcionar aconselhamento no que respeita aos benefícios da atividade física para a saúde (Orientações da União Europeia para a prática de Atividade Física, 2009, p.28). OBJETIVO(S): O objetivo da presente investigação foi conhecer o impacto da prática de atividade física na qualidade de vida do adulto de Ponte de Lima. MÉTODOS: Tratou-se de um estudo descritivo, transversal e quantitativo, que pretendia verificar se existia relação entre a prática de atividade física e a qualidade de vida. O estudo foi direcionado ao adulto residente no concelho de Ponte de Lima. Como instrumento de colheita de dados foi utilizado um questionário construído através de dois outros questionários já existentes denominados IPAQ e WHOQOL-Bref. A amostra é não probabilística por conveniência, constituída por 44 indivíduos do concelho de Ponte de Lima com idade entre os 18 e os 64 anos que estavam presentes no local e na data planeados. RESULTADOS/DISCUSSÃO: Os resultados obtidos neste estudo demonstraram uma relação salutar entre a prática de atividade física regular e a qualidade de vida em geral. O nível de atividade física habitual do adulto tem uma correlação positiva com as dimensões da Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde (QVRS), exceto na dimensão Desempenho Emocional.


VIII Congresso Internacional ASPESM CONCLUSÕES: Podemos consumar que a maior parte dos adultos do concelho de Ponte de Lima são considerados ativos em relação à prática semanal de atividade física. Por tal razão, conclui-se que a prática de AF tem um impacto positivo na QV do adulto residente em Ponte de Lima. Palavras-Chave: atividade física; sedentarismo; qualidade de vida; adulto. RESUMEN CONTEXTO: La actividad física (AF), la salud y la calidad de vida (QV) están estrechamente relacionadas entre sí. El cuerpo humano ha sido diseñado para moverse y, como tal, necesita AF regular para su mejor funcionamiento y para evitar enfermedades. La práctica regular de AF y la adopción de un estilo de vida activo son necesarios para la promoción de la salud y calidad de vida durante el proceso de envejecimiento (Dirección General de Salud, 2009). Los profesionales de la salud, como es el caso de los enfermeros, que trabajan con individuos y comunidades pueden proporcionar asesoramiento en lo que respecta a los beneficios de la actividad física para la salud (Orientaciones de la Unión Europea para la práctica de la Actividad Física, 2009, p.28). OBEJETIVO(S): El objetivo de la presente investigación fue conocer el impacto de la práctica de actividad física en la calidad de vida del adulto de Ponte de Lima. METODOLOGÍA: Se trató de un estudio descriptivo, transversal y cuantitativo, que pretendía verificar si existía relación entre la práctica de actividad física y la calidad de vida. El estudio fue dirigido al adulto residente en el municipio de Ponte de Lima. Como instrumento de recolección de datos se utilizó un cuestionario construido a través de otros dos cuestionarios ya existentes denominados IPAQ y WHOQOL-Bref. La muestra es no probabilística por conveniencia, constituida por 44 individuos del municipio de Ponte de Lima con edad entre los 18 y los 64 años que estaban presentes en el local y en la fecha planeados. RESULTADOS/DISCUSIÓN: Los resultados obtenidos en este estudio demostraron una relación saludable entre la práctica de actividad física regular y la calidad de vida en general. El nivel de actividad física habitual del adulto tiene una correlación positiva con las dimensiones de la calidad de vida relacionada con la salud (QVRS), excepto en la dimensión Desempeño Emocional. CONCLUSIONES: Podemos consumar que la mayor parte de los adultos del municipio de Ponte de Lima son considerados activos en relación a la práctica semanal de actividad física. Por tal razón, se concluye que la práctica de AF tiene un impacto positivo en la CV del adulto residente en Ponte de Lima.


VIII Congresso Internacional ASPESM Palabras Clave: actividad física; sedentarismo; calidad de vida; adulto. ABSTRACT BACKGROUND: Physical activity (PA), health, and quality of life (QOL) are closely related. The human body is designed to move around and as such needs regular PA in order to function better and avoid diseases. Regular practice of PA and the adoption of an active lifestyle are necessary for the promotion of health and quality of life during the aging process (General Direction of Health, 2009). Health professionals, such as nurses working with individuals and communities, can provide advice on the benefits of physical activity for health (European Union Physical Activity Guidelines, 2009, p.28). AIM: The objective of the present investigation was to know the impact of the practice of physical activity on the quality of life of the adult of Ponte de Lima. METHODS: It was a descriptive, cross-sectional and quantitative study that sought to verify if there was a relationship between physical activity and quality of life. The study was directed to the adult resident in the municipality of Ponte de Lima. As a data collection instrument, a questionnaire constructed using two other questionnaires, IPAQ and WHOQOL-Bref, was used. The sample is non-probabilistic for convenience, consisting of 44 individuals from the county of Ponte de Lima aged between 18 and 64 years who were present at the planned place and date. RESULTS/DISCUSSION: The results obtained in this study demonstrated a salutary relationship between the practice of regular physical activity and quality of life in general. The level of habitual physical activity of the adult has a positive correlation with the dimensions of the Health-Related Quality of Life (HRQoL), except in the dimension Emotional Performance. CONCLUSIONS: We can conclude that most adults in the municipality of Ponte de Lima are considered active in relation to the weekly practice of physical activity. For this reason, it is concluded that the practice of PA has a positive impact on the QoL of the adult resident in Ponte de Lima. Keywords: physical activity; sedentary lifestyle; quality of life; adult. INTRODUÇÃO Dados fornecidos pela Direção Geral de Saúde (DGS) (2002) indicam que um estilo de vida sedentário constitui um fator de risco para o desenvolvimento de diversas doenças crónicas, incluindo doenças cardiovasculares, aumentando a morbilidade, a mortalidade e reduzindo a qualidade e o tempo de vida.


VIII Congresso Internacional ASPESM A atividade física, a saúde e a qualidade de vida estão intimamente relacionadas entre si. A Organização Mundial de Saúde (OMS) (2014) define AF como sendo qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos (atividades físicas praticadas durante o trabalho, jogos, execução de tarefas domésticas, viagens e em atividades de lazer) que exijam gasto de energia. O corpo humano foi concebido para se movimentar e como tal necessita de AF regular com vista ao seu melhor funcionamento por forma a evitar doenças (Orientações da União Europeia para a Atividade Física, 2009). Dados fornecidos pela DGS (2002) indicam que, no mundo inteiro, mais de 60% dos adultos não efetuam os níveis suficientes de atividade física considerados benéficos para a saúde. Segundo Costa (cit in Becker, 2013), atualmente a QV passou a ser um “conjunto de equilíbrio harmonioso” que abrange as dimensões profissionais, fisiológicas, espirituais e emocionais do indivíduo. Efetivamente, a qualidade de vida do indivíduo deve ser entendida como um conceito que é influenciado por todas as dimensões da vida e não deve estar limitado à existência ou não de morbilidades. A prática regular de exercícios físicos promove um bem-estar fisiológico (controle da glicose, melhor qualidade do sono, melhoria da capacidade física relacionada à saúde); um bem-estar psicológico (relaxamento, redução dos níveis de ansiedade e stresse, melhora do estado de espírito, melhoras cognitivas) e social (indivíduos mais seguros, melhoria da integração social e cultural, a integração na comunidade, rede social e cultural ampliadas, além da redução ou prevenção de algumas patologias como osteoporose e desvios de postura (Nahas cit in Argento, 2010. A atividade física regular e a adoção de um estilo de vida ativo são necessários para a promoção da saúde e qualidade de vida durante o processo de envelhecimento. MÉTODOS Tratou-se de um estudo descritivo, transversal e quantitativo, com o objetivo de explorar a relação entre as variáveis, conhecendo o impacto da prática de atividade física na qualidade de vida dos adultos. Tratou-se de uma amostra não-probabilística acidental, constituída por 44 indivíduos com idade entre os 18 e os 64 anos que estavam presentes no dia da colheita de dados, no local planeado. A recolha de informação foi processada através de um questionário construído através de dois outros questionários já existentes denominados IPAQ e WHOQOL-Bref. Para o tratamento e


VIII Congresso Internacional ASPESM análise dos dados obtidos foi utilizado um programa informático denominado Excel, recorrendo-se à estatística descritiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO A caracterização da amostra final é constituída por 44 indivíduos, 31 do sexo feminino (70%) e 13 do sexo masculino (30%). Em relação à idade observou-se uma média de 36.1 anos, com predominância para a classe etária dos 21-30 anos (45.5%). O estado civil mais representativo entre os participantes é a situação de casado com 54.5%, para 43.2% de solteiros e 2.3% viúvos. O nível de escolaridade predominante é o 12º ano com 45.5%, destacando-se, posteriormente, a licenciatura com 27.3%, o 9º ano com 15.9%, o 6º ano com 6.8% e o 10º ano com 4.5%. Relativamente à situação profissional constatou-se que 75% dos participantes estavam empregados, 22.7% eram estudantes e apenas 2.3% se encontrava desempregado. Em relação ao estado de saúde das pessoas no momento em que foi aplicado o questionário, 89% da amostra referiu que não se encontrava doente e 11% referiu estar doente, o que permite inferir que estamos diante de uma população saudável. Grupos Variáveis Sexo Idade

Estado civil

Escolaridade

Situação Profissional

Situação Atual de Doença

N

%

Masculino

13

30

Feminino

31

70

21-30 Anos

20

45.5

31-40 Anos

5

11.4

41-50 Anos

13

29.5

51-60 Anos

6

13.6

Solteiro

19

43.2

Casado

24

54.5

Viúvo

1

2.3

6º Ano

3

6.8

9º Ano

7

15.9

10º Ano

2

4.5

12º Ano

20

45.5

Licenciatura

12

27.3

Empregado

33

75.0

Desempregado

1

22.7

Estudante

10

2.3

Sim

5

11

Não

39

89

44

100.0

Total

Tabela 3- Variáveis Sociodemográficas


VIII Congresso Internacional ASPESM Os resultados da investigação mostram, através do gráfico nº1, que a maioria dos adultos, isto é, 52,3% (23 pessoas), se encontrava num nível de atividade física moderado, enquanto 43,2 % (19 pessoas) ficaram classificados no nível baixo e apenas 4,5% (2 pessoas) no nível elevado. Um estudo realizado em Brasília numa amostra de 469 adultos (Thomaz, P. et alli, 2010) e que utilizou como instrumento de cálculo da AF dos adultos o questionário IPAQ, demonstrou que a maioria dos participantes (35%) foram considerados ativos quanto à prática semanal de atividade física. Estes resultados vão ao encontro dos resultados obtidos neste estudo que demonstram que a maior parte dos participantes pratica atividade física a um nível moderado. O mesmo estudo (Thomaz, P. et al., 2010), encontra-se também em concordância com o presente, relativamente ao reduzido número de indivíduos com um nível de AF elevado, visto que, apenas 17% se encontra assim classificado. Rodrigues, N. (2012) refere na sua investigação que diversos estudos experimentais sugerem que a prática de AF de intensidade moderada atua na redução de taxas de mortalidade e de risco de desenvolvimento de doenças degenerativas como as doenças cardiovasculares, hipertensão, osteoporose, diabetes, doenças respiratórias, entre outras. No que corresponde ao nível de atividade física por género, denota-se um maior destaque por parte do sexo feminino nos níveis de AF baixa e moderada, com 34,1% e 36,4% respetivamente, e maior destaque do sexo masculino no nível de AF elevado, com uma percentagem de 4,5%. Estes resultados estão em concordância com os resultados obtido por Thomaz, P. et al. (2010) que demonstram que os homens realizam mais atividades vigorosas do tipo correr, nadar, pedalar, enquanto as mulheres realizam com mais frequência caminhadas e atividades domésticas. O mesmo não se verifica na investigação feita por Rodrigues, N. (2012) numa amostra de 183 estudante da Universidade de Algarve, onde verificou que a maioria dos participantes do

Gráfico nº2 – Classificação do Nível de AF por Género

Gráfico nº 1 – Classificação do Nível de AF dos Adultos 40.0 60.0 50.0

52,3%

20.0

40.0 30.0

10.0

20.0

0.0

0.0

4,5% Baixo

Moderado

36,4%

30.0

43,2%

10.0

34,1%

Elevado

15,9% 9,1%

4,5% 0,0%

Feminino Masculino


VIII Congresso Internacional ASPESM género feminino pratica AF de nível baixo, ao contrário do género masculino que ficou classificado no nível moderado em relação à prática de atividade física regular. Relativamente aos dados fornecidos pela segunda parte do questionário, que avaliavam a QV dos participantes, foi construída a tabela abaixo apresentada onde são exibidas as médias relativas a cada domínio. Médias Nível

de

Domínio

Domínio

Domínio

das

Domínio

do

Faceta

AF

Físico

Psicológico

Relações Sociais

Ambiente

Geral

Baixo

71,61

71,02

77,19

64,47

70,39

Moderado

84,32

83,71

81,52

76,90

83,70

Elevado

85,71

87,5

83,33

65,63

75

Tabela nº 2 – Valor das médias dos diferentes domínios Após a análise dos resultados da tabela nº1 verifica-se que, no domínio físico, psicológico e das relações sociais, os indivíduos com um nível de AF elevado manifestam uma melhor perceção da sua QV. No entanto, no que se refere ao domínio do ambiente e à faceta geral, observa-se que as pessoas com um nível de AF moderado apresentam uma perceção superior da sua QV. Os resultados acima referidos vão ao encontro dos resultados de um estudo realizado na Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (Luz, T., 2015). Pois, numa amostra de 198 jovens adultos, onde a investigadora, apesar de ter utilizado questionários diferentes dos utilizados nesta investigação, verificou uma associação entre os domínios da qualidade de vida e a prática de atividade física. Ferreira, J., Diettrich, S. & Pedro, D. (2015) numa investigação feita a um grupo de 90 indivíduos com mais de 40 anos de idade constataram que a prática de AF pode influenciar o aumento da QV das pessoas, ao contrário daquelas que não praticam. CONCLUSÃO A prática de atividade física regular contribui para a adoção de um estilo de vida ativo, para a promoção da saúde, a prevenção da doença e o aumento da qualidade de vida do indivíduo adulto. Estudos epidemiológicos têm vindo a demonstrar alguma associação entre um estilo de vida ativo e uma melhor qualidade de vida. O presente estudo identificou que a maior parte dos adultos são considerados ativos em relação à prática semanal de atividade física.


VIII Congresso Internacional ASPESM Contudo, verificou-se que o género masculino manifesta maior tendência para praticar atividade de nível elevado ao contrário do género feminino que apesar de apresentar uma percentagem significativa, em relação à prática de AF de nível moderado, ainda apresenta valores preocupantes relativamente à prática de AF de nível baixo. Em relação às variáveis atividade física e qualidade de vida, verificou-se que no domínio físico, psicológico e das relações sociais, os indivíduos com um nível de AF elevado têm uma perceção elevada da sua QV. No entanto, no que se refere ao domínio do ambiente e à faceta geral, observou-se que as pessoas com um nível de AF moderado apresentam uma perceção da sua QV superior relativamente às pessoas que têm um nível de AF baixo e elevado. Ainda relativamente às variáveis AF e QV os valores obtidos nesta investigação denotam uma relação positiva entre a prática de atividade física e a qualidade de vida em geral. Por tal razão, conclui-se que a prática de atividade física apresenta um impacto positivo na qualidade de vida do adulto residente em Ponte de Lima. Podemos assim concluir que existe uma relação salutar entre a prática de atividade física regular e os diferentes domínios que compõem a qualidade de vida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS Becker, A. (2013). Exercício físico, qualidade de vida e autoestima global em idosos portugueses: um estudo exploratório do instrumento Whoqol-old. [Em linha]. Disponível em <https://estudogeral.sib.uc.pt/jspui/handle/10316/25068>. [Consultado em 22/03/2017]. Ferreira, J., Diettrich, S. & Pedro, D. (2015). Influência da prática de atividade física sobre a qualidade

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VIII Congresso Internacional ASPESM

“Mente Ativa em Corpo Ativo” – Projeto de Estimulação de Pessoas Assistidas com Demência Ana Mano* & Inês Matos** *Licenciatura em Enfermagem; Enfermeira Chefe na Casa de Saúde Santa Rosa de Lima, Praça 5 de Outubro 5, 2605-021 Belas, Portugal. E-mail: anasenf@gmail.com **Licenciatura em Enfermagem; Enfermeira na Casa de Saúde Santa Rosa de Lima, Praça 5 de Outubro 5, 2605-021 Belas, Portugal. Email: imnlourenco@gmail.com RESUMO CONTEXTO: O projeto “Mente Ativa em Corpo Ativo” foi desenvolvido no âmbito da estimulação cognitiva, motora e sensorial das pessoas assistidas com demência internadas na Unidade São José. O projeto visa dar resposta aos problemas identificados de presença de défice cognitivo, risco de queda e dependência parcial nas atividades básicas de vida diária, fatores considerados mais afetados pela demência e que interferem com a qualidade de vida das pessoas assistidas. Atividades de estimulação cognitiva, motora e sensorial foram desenvolvidas pela equipa multidisciplinar e integradas no Cronograma de Atividades da Unidade, com vista a proporcionar satisfação e bem-estar das pessoas assistidas. OBJETIVO(S): O objetivo geral do projeto é preservar ou aumentar a qualidade de vida das pessoas assistidas através da promoção da sua autonomia, manutenção do seu estado de saúde e valorização pessoal. Os objetivos operacionais são que no final do projeto as pessoas assistidas apresentem uma taxa de manutenção do Mini Mental State Examination (MMSE), da Escala de Equilíbrio de Berg e da Escala de Barthel igual ou superior a 75% e a sua taxa de participação seja igual ou superior a 75%. MÉTODOS: As pessoas assistidas foram reunidas em grupos de intervenção homogéneos. As atividades de estimulação foram planeadas pela equipa multidisciplinar e integradas no Cronograma de Atividades da Unidade, com periodicidade diária e duração aproximada de uma hora. RESULTADOS: A taxa de manutenção do MMSE foi de 48,0% no 1º Quadrimestre de 2016, 72,0% no 2º Quadrimestre de 2016 e 96,0% no 3º Quadrimestre de 2016. A taxa de manutenção da Escala de Equilíbrio de Berg foi de 92,0% no 1º Quadrimestre de 2016, 88,0% no 2º Quadrimestre de 2016, 100% no 3º Quadrimestre de 2016 e 92,0% no 1º Quadrimestre de 2017. A taxa de manutenção da Escala de Barthel foi de 100% no 1º Quadrimestre de 2016, 88,0% no 2º Quadrimestre de 2016, 100% no 3º Quadrimestre de 2016 e 92,0% no 1º


VIII Congresso Internacional ASPESM Quadrimestre de 2017. As taxas de participação foram de 69,5% no 1º Quadrimestre de 2016, 61,6% no 2º Quadrimestre de 2016, 55,7% no 3º Quadrimestre de 2016 e 67,5% no 1º Quadrimestre de 2017. CONCLUSÕES: O projeto “Mente Ativa em Corpo Ativo” combateu o percurso evolutivo da demência, demonstrando o benefício e a validade das intervenções terapêuticas não farmacológicas. A integração da pessoa assistida com demência num plano de atividades que engloba os vários domínios de estimulação permite um melhor desempenho cognitivo, um menor declínio longitudinal, promove a autonomia, reduz o impacto da patologia no quotidiano e prolonga o tempo com qualidade de vida da pessoa assistida e da sua família. Palavras-Chave: qualidade de vida; autonomia pessoal; atividades de estimulação; demência ABSTRACT BACKGROUND: The project “Active Mind in Active Body” was developed as part of the cognitive, motor and sensory stimulation of the assisted people with dementia admitted in the São José unit. The project aim is to respond to the identified problems such as presence of cognitive deficit, risk of falls and partial dependence on basic activities of daily living, because these are the factors considered more affected by dementia which interfere with the quality of life of assisted people. Cognitive, motor and sensory stimulation activities were developed by the multidisciplinary team and integrated into the unit’s activity schedule, in order to provide satisfaction and well-being for the assisted people. AIM: The overall objective of the project is to preserve or increase the quality of life of the assisted people by promoting their autonomy, maintaining their health status and personal valuation. The operational objectives are that at the end of the project the assisted people will present a maintenance rate of the Mini Mental State Examination (MMSE), of the Berg Balance Scale and of the Barthel Scale equal to or higher than 75% and their participation rate is equal to or higher than 75%. METHODS: The assisted people were distributed in homogeneous intervention groups. The stimulation activities were planned by the multidisciplinary team and were integrated in the Activity Schedule of the unit, with daily frequency and duration of approximately one hour. RESULTS: The maintenance rate of the MMSE was 48,0% in the 1st Quarter of 2016, 72,0% in the 2nd Quarter of 2016 and 96,0% in the 3rd Quarter of 2016. The maintenance rate of the Berg Balance Scale was 92,0% in the 1st Quarter of 2016, 88,0% in the 2nd Quarter of 2016, 100% in the 3rd Quarter of 2016 and 92,0% in the 1st Quarter of 2017. The maintenance rate of the Barthel Scale was 100% in the 1st Quarter of 2016, 88,0% in the 2nd Quarter of 2016, 100% in the 3rd Quarter of 2016 and 92,0% in the 1st Quarter of 2017. Participation rates were 69,5% in the 1st Quarter of 2016, 61,6% in the 2nd Quarter of 2016, 55,7% in the 3rd Quarter of 2016 and 67,5% in the 1st Quarter of 2017.


VIII Congresso Internacional ASPESM CONCLUSIONS: The project "Active Mind in Active Body" fought the evolutionary course of dementia, demonstrating the benefit and validity of non-pharmacological therapeutic interventions. The integration of people with dementia into an activity plan that encompasses the various domains of stimulation allows better cognitive performance, less longitudinal decline, promotes autonomy, reduces the impact of pathology on a daily basis and prolongs the quality of life of the person assisted and her family. Keywords: quality of life; personal autonomy; stimulation activities; dementia RESUMEN CONTEXTO: El proyecto "Mente Activa en Cuerpo Activo" fue desarrollado en el ámbito de la estimulación cognitiva, motora y sensorial de las personas asistidas con demencia internadas en la unidad São José. El proyecto pretende dar respuesta a los problemas identificados de presencia de déficit cognitivo, riesgo de caída y dependencia parcial en las actividades básicas de vida diaria, factores considerados más afectados por la demencia y que interfieren con la calidad de vida de las personas asistidas. Las actividades de estimulación cognitiva, motora y sensorial fueron desarrolladas por el equipo multidisciplinario e integradas en el Cronograma de Actividades de la Unidad, con el fin de proporcionar satisfacción y bienestar de las personas asistidas. OBJETIVO(S): El objetivo general del proyecto es preservar o aumentar la calidad de vida de las personas asistidas a través de la promoción de su autonomía, mantenimiento de su estado de salud y valorización personal. Los objetivos operativos son que al final del proyecto las personas asistidas presenten una tasa de mantenimiento del Mini Mental State Examination (MMSE), de la Escala de Equilibrio de Berg y de la Escala de Barthel igual o superior al 75% y su tasa de participación sea igual o superior al 75%. METODOLOGÍA: Las personas asistidas se reunieron en grupos de intervención homogéneos. Las actividades de estimulación fueron planificadas por el equipo multidisciplinar e integradas en el Cronograma de Actividades de la Unidad, con periodicidad diaria y duración aproximada de una hora. RESULTADOS: La tasa de mantenimiento del MMSE fue del 48,0% en el primer trimestre de 2016, el 72,0% en el 2º cuatrimestre de 2016 y el 96,0% en el tercer trimestre de 2016. La tasa de mantenimiento de la escala de equilibrio de Berg fue del 92,0% en el primer trimestre de 2016, el 88,0% en el 2º cuatrimestre de 2016, el 100% en el tercer trimestre de 2016 y el 92,0% en el primer trimestre de 2017. La tasa de mantenimiento de la escala de Barthel fue del 100% en el primer cuadrimestre de 2016, el 88,0% en el 2º cuatrimestre de 2016, el 100% en el 3º cuatrimestre de 2016 y el 92,0% en el 1º cuatrimestre de 2017. Las tasas de participación fueron del 69,5% en el primer trimestre de 2016, el 61,6% en el 2º cuatrimestre de 2016, el 55,7% en el 3º cuatrimestre de 2016 y el 67,5% en el 1º cuatrimestre de 2017.


VIII Congresso Internacional ASPESM CONCLUSIONES: El proyecto "Mente Activa en Cuerpo Activo" combatió el recorrido evolutivo de la demencia, demostrando el beneficio y validez de las intervenciones terapéuticas no farmacológicas. La integración de la persona asistida con demencia en un plan de actividades que engloba los diversos ámbitos de estimulación permite un mejor desempeño cognitivo, una menor declinación longitudinal, promueve la autonomía, reduce el impacto de la patología en el cotidiano y prolonga el tiempo con calidad de vida de la persona asistida y su familia. Palabras Clave: calidad de vida; autonomia personal; actividades de estimulación; demencia INTRODUÇÃO O projeto “Mente Ativa em Corpo Ativo” foi desenvolvido no âmbito da estimulação cognitiva, motora e sensorial das pessoas assistidas na Unidade São José da Casa de Saúde Santa Rosa de Lima, do Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus (IIHSCJ). A Unidade São José é uma unidade de psicogeriatria de longo internamento em que as pessoas assistidas nela internadas caracterizam-se por serem do sexo feminino, terem mais de 65 anos e várias comorbilidades do foro mental e psiquiátrico e do foro físico. A demência, uma patologia caracterizada pelo declínio cognitivo e pela progressiva perda de funções e capacidades mentais, é a doença que mais afeta o quotidiano destas pessoas assistidas. As suas capacidades motoras encontram-se também alteradas devido às alterações inerentes à idade e à perda de funções psicomotoras derivadas da demência. Estas alterações conduzem a défices sensoriais que afetam a capacidade de interpretação dos estímulos e condicionam uma resposta adequada aos mesmos, nomeadamente na perceção de riscos ou estímulos perigosos. Em conjunto, estas alterações conduzem à perda de autonomia da pessoa assistida, condicionam a sua perceção de um envelhecimento bem-sucedido e, consequentemente, da sua qualidade de vida e bem-estar. Com vista a proporcionar satisfação, bem-estar físico, psicológico, social e espiritual e a minimizar as alterações decorrentes do envelhecimento fisiológico e patológico, a equipa multidisciplinar da Unidade São José desenvolveu um conjunto de atividades de estimulação cognitiva, motora e sensorial que foram integradas no Cronograma de Atividades da Unidade. Sendo a qualidade de vida um conceito subjetivo, considerou-se os seguintes fatores como principais problemas decorrentes da evolução da demência nas pessoas assistidas: a presença de défice cognitivo, o risco de queda e a dependência parcial nas ABVD. Os instrumentos de avaliação utilizados para quantificar os problemas identificados foram o Mini Mental State Examination (MMSE), a Escala de Equilíbrio de Berg e a Escala de Barthel. O objetivo geral do projeto é preservar ou aumentar a qualidade de vida das pessoas assistidas através da promoção da sua autonomia, manutenção do seu estado de saúde e valorização pessoal. Os objetivos operacionais são que no final do projeto as pessoas


VIII Congresso Internacional ASPESM assistidas apresentem uma taxa de manutenção do MMSE, da Escala de Equilíbrio de Berg e da Escala de Barthel igual ou superior a 75% e a sua taxa de participação seja igual ou superior a 75%. MÉTODOS O projeto “Mente Ativa em Corpo Ativo” decorreu de 01/03/2016 a 30/04/2017 com a participação da equipa multidisciplinar. As pessoas assistidas foram distribuídas em grupos de intervenção conforme o seu grau de défice cognitivo e risco de queda, avaliados pelo MMSE e pela Escala de Equilíbrio de Berg, respetivamente. A distribuição foi realizada por seis grupos, sendo que cada pessoa assistida foi incluída num grupo numérico e num grupo alfabético: Grupos Numéricos Grupo 1 Sem

défice

cognitivo

Grupos Alfabéticos

Grupo 2

Grupo 3

Défice

Défice

cognitivo

cognitivo

ligeiro

grave

Grupo A

Grupo B

Grupo C

Baixo risco de

Médio risco de

Elevado risco

queda

queda

de queda.

Tabela 1 – Grupos de Intervenção

Os grupos numéricos permitiram a distribuição homogénea das pessoas assistidas nas atividades de estimulação cognitiva e sensorial e os grupos alfabéticos nas atividades de estimulação motora. Esta distribuição foi dinâmica e acompanhou a evolução da demência das pessoas assistidas, ou seja, em cada monitorização ocorreu a sua redistribuição pelos vários grupos de modo a manter a sua homogeneidade e coesão. As atividades de estimulação, desenvolvidas com base em fundamentação científica atualizada, foram programadas tendo por base o Cronograma de Atividades da Unidade e decorreram diariamente, com a duração aproximada de uma hora por grupo de intervenção. Ao longo do projeto foram incluídas ou excluídas atividades conforme a adesão e a satisfação das pessoas assistidas. Sendo a qualidade de vida um conceito subjetivo, os instrumentos de avaliação selecionados para quantificar a presença de défice cognitivo, o risco de queda e a dependência nas ABVD foram o MMSE, a Escala de Equilíbrio de Berg e a Escala de Barthel, respectivamente. Estes instrumentos foram aplicados no momento de avaliação inicial e a sua monitorização ocorreu quadrimestralmente. Os indicadores utilizados para monitorização do projeto foram a taxa de manutenção do MMSE


VIII Congresso Internacional ASPESM đ?‘ Âş đ?‘‘đ?‘’ đ?‘?đ?‘’đ?‘ đ?‘ đ?‘œđ?‘Žđ?‘ đ?‘Žđ?‘ đ?‘ đ?‘–đ?‘ đ?‘Ąđ?‘–đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘?đ?‘œđ?‘š đ?‘Žđ?‘˘đ?‘šđ?‘’đ?‘›đ?‘Ąđ?‘œ, đ?‘šđ?‘Žđ?‘›đ?‘˘đ?‘Ąđ?‘’đ?‘›çãđ?‘œ đ?‘œđ?‘˘ đ?‘‘đ?‘–đ?‘šđ?‘–đ?‘›đ?‘˘đ?‘–çãđ?‘œ đ?‘šĂĄđ?‘Ľđ?‘–đ?‘šđ?‘Ž đ?‘‘đ?‘’ 2 đ?‘?đ?‘œđ?‘›đ?‘Ąđ?‘œđ?‘ đ?‘›đ?‘œ đ?‘ đ?‘?đ?‘œđ?‘&#x;đ?‘’ đ?‘‘đ?‘œ đ?‘€đ?‘€đ?‘†đ??¸ Ă—100 đ?‘ Âş đ?‘Ąđ?‘œđ?‘Ąđ?‘Žđ?‘™ đ?‘‘đ?‘’ đ?‘?đ?‘’đ?‘ đ?‘ đ?‘œđ?‘Žđ?‘ đ?‘Žđ?‘ đ?‘ đ?‘–đ?‘ đ?‘Ąđ?‘–đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘–đ?‘›đ?‘?đ?‘™đ?‘˘Ă­đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘›đ?‘œ đ?‘?đ?‘&#x;đ?‘œđ?‘—đ?‘’đ?‘Ąđ?‘œ a taxa de manutenção da Escala de EquilĂ­brio de Berg đ?‘ Âş đ?‘‘đ?‘’ đ?‘?đ?‘’đ?‘ đ?‘ đ?‘œđ?‘Žđ?‘ đ?‘Žđ?‘ đ?‘ đ?‘–đ?‘ đ?‘Ąđ?‘–đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘?đ?‘œđ?‘š đ?‘Žđ?‘˘đ?‘šđ?‘’đ?‘›đ?‘Ąđ?‘œ đ?‘œđ?‘˘ đ?‘šđ?‘Žđ?‘›đ?‘˘đ?‘Ąđ?‘’đ?‘›çãđ?‘œ đ?‘‘đ?‘œ đ?‘ đ?‘?đ?‘œđ?‘&#x;đ?‘’ đ?‘‘đ?‘Ž đ??¸đ?‘ đ?‘?đ?‘Žđ?‘™đ?‘Ž đ?‘‘đ?‘’ đ??¸đ?‘žđ?‘˘đ?‘–đ?‘™Ă­đ?‘?đ?‘&#x;đ?‘–đ?‘œ đ?‘‘đ?‘’ đ??ľđ?‘’đ?‘&#x;đ?‘” Ă—100 đ?‘ Âş đ?‘Ąđ?‘œđ?‘Ąđ?‘Žđ?‘™ đ?‘‘đ?‘’ đ?‘?đ?‘’đ?‘ đ?‘ đ?‘œđ?‘Žđ?‘ đ?‘Žđ?‘ đ?‘ đ?‘–đ?‘ đ?‘Ąđ?‘–đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘–đ?‘›đ?‘?đ?‘™đ?‘˘Ă­đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘›đ?‘œ đ?‘?đ?‘&#x;đ?‘œđ?‘—đ?‘’đ?‘Ąđ?‘œ a taxa de manutenção da Escala de Barthel đ?‘ Âş đ?‘‘đ?‘’ đ?‘?đ?‘’đ?‘ đ?‘ đ?‘œđ?‘Žđ?‘ đ?‘Žđ?‘ đ?‘ đ?‘–đ?‘ đ?‘Ąđ?‘–đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘?đ?‘œđ?‘š đ?‘Žđ?‘˘đ?‘šđ?‘’đ?‘›đ?‘Ąđ?‘œ đ?‘œđ?‘˘ đ?‘šđ?‘Žđ?‘›đ?‘˘đ?‘Ąđ?‘’đ?‘›çãđ?‘œ đ?‘‘đ?‘œ đ?‘ đ?‘?đ?‘œđ?‘&#x;đ?‘’ đ?‘‘đ?‘Ž đ??¸đ?‘ đ?‘?đ?‘Žđ?‘™đ?‘Ž đ?‘‘đ?‘’ đ??ľđ?‘Žđ?‘&#x;đ?‘Ąâ„Žđ?‘’đ?‘™ Ă—100 đ?‘ Âş đ?‘Ąđ?‘œđ?‘Ąđ?‘Žđ?‘™ đ?‘‘đ?‘’ đ?‘?đ?‘’đ?‘ đ?‘ đ?‘œđ?‘Žđ?‘ đ?‘Žđ?‘ đ?‘ đ?‘–đ?‘ đ?‘Ąđ?‘–đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘–đ?‘›đ?‘?đ?‘™đ?‘˘Ă­đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘›đ?‘œ đ?‘?đ?‘&#x;đ?‘œđ?‘—đ?‘’đ?‘Ąđ?‘œ e a taxa de participação đ?‘ Âş đ?‘Ąđ?‘œđ?‘Ąđ?‘Žđ?‘™ đ?‘‘đ?‘’ đ?‘?đ?‘Žđ?‘&#x;đ?‘Ąđ?‘–đ?‘?đ?‘–đ?‘?đ?‘Žçþđ?‘’đ?‘ đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘?đ?‘’đ?‘ đ?‘ đ?‘œđ?‘Žđ?‘ đ?‘Žđ?‘ đ?‘ đ?‘–đ?‘ đ?‘Ąđ?‘–đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ Ă—100 đ?‘ Âş đ?‘Ąđ?‘œđ?‘Ąđ?‘Žđ?‘™ đ?‘‘đ?‘’ đ?‘?đ?‘’đ?‘ đ?‘ đ?‘œđ?‘Žđ?‘ đ?‘Žđ?‘ đ?‘ đ?‘–đ?‘ đ?‘Ąđ?‘–đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘–đ?‘›đ?‘?đ?‘™đ?‘˘Ă­đ?‘‘đ?‘Žđ?‘ đ?‘›đ?‘œ đ?‘?đ?‘&#x;đ?‘œđ?‘—đ?‘’đ?‘Ąđ?‘œ Ă—đ?‘ Âş đ?‘Ąđ?‘œđ?‘Ąđ?‘Žđ?‘™ đ?‘‘đ?‘’ đ?‘ đ?‘’đ?‘ đ?‘ Ăľđ?‘’đ?‘ đ?‘&#x;đ?‘’đ?‘Žđ?‘™đ?‘–đ?‘§đ?‘Žđ?‘‘đ?‘Žđ?‘ RESULTADOS A aplicação do MMSE no momento de avaliação inicial a todas as pessoas assistidas revelou, atravĂŠs de uma variação percentual dos pontos de corte, que 36,0% nĂŁo apresenta dĂŠfice cognitivo, 20,0% apresenta dĂŠfice cognitivo ligeiro e 44,0% dĂŠfice cognitivo grave. Estes dados foram comparados com os dados obtidos no 3Âş Quadrimestre de 2015 do projeto “Estimulação da MemĂłria: Mente Ativa, MemĂłria Vivaâ€?, percussor do projeto aqui apresentado. Assim, a anĂĄlise destes dados revelou uma taxa de manutenção do MMSE de 48,0%. Devido Ă s caracterĂ­sticas de aplicação do MMSE, este nĂŁo foi utilizado no 1Âş Quadrimestre de 2016, pois necessita de um intervalo mĂ­nimo entre aplicaçþes de seis meses para produzir resultados fiĂĄveis. No 2Âş Quadrimestre de 2016 foi obtida uma taxa de manutenção de 72,0%. No 3Âş Quadrimestre de 2016 foi obtida uma taxa de manutenção de 96,0%, em que 44,0% das pessoas assistidas nĂŁo apresenta dĂŠfice cognitivo, 24,0% apresenta dĂŠfice cognitivo ligeiro e 32,0% dĂŠfice cognitivo grave. No final do projeto, no 1Âş Quadrimestre de 2017 o MMSE tambĂŠm nĂŁo foi aplicado pelos motivos anteriormente apresentados, considerando-se para efeitos finais os dados obtidos no quadrimestre anterior. A evolução dos dados ĂŠ apresentada no GrĂĄfico 1.


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Percentagem do score obtido pelas pessoas assistidas no Mini Mental State Examination

1º Q 2017 44%

3º Q 2016

24%

32%

2º Q 2016

32%

32% 36%

1º Q 2016 36%

Av. Inicial 0%

20%

Sem défice cognitivo

20% 40%

44% 60%

Défice cognitivo ligeiro

80%

100%

Défice cognitivo grave

Gráfico 1 – Percentagem do score obtido pelas pessoas assistidas no Mini Mental State Examination A aplicação da Escala de Equilíbrio de Berg no momento de avaliação inicial a todas as pessoas assistidas revelou que 68,0% apresenta baixo risco de queda, 24,0% médio risco de queda e 8,0% elevado risco de queda. No 1º Quadrimestre de 2016 os dados foram sobreponíveis traduzindo-se numa taxa de manutenção de 100%, no 2º Quadrimestre de 2016 foi obtida uma taxa de manutenção de 88,0% e no 3º Quadrimestre de 2016 foi obtida uma taxa de manutenção de 100%. No 1º Quadrimestre de 2017 foi obtida uma taxa de manutenção de 92,0%, em que 60,0% das pessoas assistidas apresenta baixo risco de queda, 24,0% médio risco de queda e 16,0% elevado risco de queda. A evolução dos dados é apresentada no Gráfico 2.


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Percentagem do score obtido pelas pessoas assistidas na Escala de Equilíbrio de Berg

60%

1º Q 2017

24%

16%

68%

3º Q 2016

20%

60%

2º Q 2016

28%

8% 12%

1º Q 2016

68%

24%

8%

Av. Inicial

68%

24%

8%

0%

20%

Baixo risco de queda

40%

60%

Médio risco de queda

80%

100%

Elevado risco de queda

Gráfico 2 – Percentagem do score obtido pelas pessoas assistidas na Escala de Equilíbrio de Berg A aplicação da Escala de Barthel no momento de avaliação inicial a todas as pessoas assistidas revelou que 16,0% são independentes na realização das ABVD, 76,0% apresenta dependência ligeira, 4,0% dependência moderada e 4,0% dependência severa. No 1º Quadrimestre de 2016 foi obtida uma taxa de manutenção de 92,0 %, no 2º Quadrimestre de 2016 foi obtida uma taxa de manutenção de 88,0% e no 3º Quadrimestre de 2016 foi obtida uma taxa de manutenção de 100%. No 1º Quadrimestre de 2017 foi obtida uma taxa de manutenção de 92,0%, em que 28,0% das pessoas assistidas são independentes na realização das ABVD, 56,0% apresenta dependência ligeira, 8,0% dependência moderada e 8,0% dependência severa. Em nenhuma das avaliações houve pessoas assistidas com dependência total. A evolução dos dados é apresentada no Gráfico 3.


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Percentagem do score obtido pelas pessoas assistidas na Escala de Barthel

28%

1º Q 2017

56%

8% 0%

8%

3º Q 2016

20%

68%

4%4% 0%

2º Q 2016

20%

64%

4%4% 0%

1º Q 2016

20%

64%

16%

Av. Inicial 0%

4%4% 0%

76% 20%

40%

8% 0%

8%

60%

Independente

Dependência ligeira

Dependência severa

Dependência total

80%

100%

Dependência moderada

Gráfico 3 – Percentagem do score obtido pelas pessoas assistidas na Escala de Barthel As taxas de participação foram de 69,5% no 1º Quadrimestre de 2016, 61,6% no 2º Quadrimestre de 2016, 55,7% no 3º Quadrimestre de 2016 e 67,5% no 1º Quadrimestre de 2017. DISCUSSÃO As atividades de estimulação cognitiva desenvolvidas foram essenciais para a manutenção do MMSE, demonstrando a importância de uma intervenção não farmacológica no atraso da progressão dos sintomas da demência em que atividades mentalmente estimulantes, como o treino de memória, o ensino de estratégias mnemónicas e organizativas, a estimulação da atenção/concentração e a terapia de orientação para a realidade representam grandes benefícios para as pessoas assistidas. Com as intervenções do projeto foi possível reabilitar algumas funções cognitivas das pessoas assistidas com défice cognitivo contrariando o percurso evolutivo da demência, destacando-se que nos casos em que ocorreu diminuição do score do MMSE esse declínio cognitivo ocorreu de forma ligeira e gradual. As atividades de estimulação motora foram importantes para a manutenção da Escala de Equilíbrio de Berg. No entanto, houve quadrimestres em que ocorreu diminuição dos scores obtidos, correlacionada com o agravamento das alterações cognitivas com repercussões psicomotoras na motricidade e no equilíbrio e devido a patologias físicas, como foi o caso de pessoas assistidas que sofreram fraturas ósseas. As atividades de estimulação nos vários domínios direcionadas para o treino das ABVD e à manutenção da funcionalidade e mobilidade contribuíram para a diminuição da dependência geral das pessoas assistidas. Nos quadrimestres em que ocorreu aumento da dependência geral das pessoas assistidas deveu-se à evolução da demência em que ocorre a perda de capacidades mentais e motoras necessárias à realização autónoma das ABVD. O aumento da dependência está também correlacionado com as lesões ortopédicas sofridas pelas


VIII Congresso Internacional ASPESM pessoas assistidas nos respetivos quadrimestres. No entanto, nestes casos as pessoas assistidas apresentam potencial de reabilitação para níveis de dependência semelhantes aos anteriores à lesão e possibilidade de readquirir a sua autonomia prévia. O aumento das pessoas assistidas independentes na realização das ABVD reforça a eficácia do projeto, mostrando que a melhoria das competências psicomotoras conseguida através das atividades de estimulação dos vários domínios beneficia também a execução das atividades quotidianas promovendo a autonomia e o bem-estar das pessoas assistidas. A maioria das pessoas assistidas demonstraram-se empenhadas e motivadas em participar nas atividades do projeto, reconhecendo os benefícios para a sua saúde e bem-estar. As pessoas assistidas com menores défices cognitivos foram as mais motivadas e interessadas e que por isso apresentaram maior assiduidade e proatividade. Considerando que foram desenvolvidas atividades com as quais as pessoas assistidas não estavam familiarizadas, estas mostraram-se disponíveis e recetivas para experimentar e colaborar nas mesmas. A diminuição da taxa de participação nos três primeiros quadrimestres relaciona-se com o agravamento do estado de saúde ou com alterações súbitas, desagrado com atividades específicas ou alterações do ambiente em que as atividades decorreram (ruído provocado por obras de construção no interior e exterior da unidade). A participação da equipa multidisciplinar foi fulcral para a obtenção destes resultados positivos, uma vez que permitiu realizar as atividades de estimulação de forma contínua e eficaz, como planeado. CONCLUSÃO O projeto “Mente Ativa em Corpo Ativo” visou contrariar o percurso evolutivo da demência, demonstrando que as intervenções terapêuticas não farmacológicas criam uma sinergia com o efeito neuroprotetor da terapêutica farmacológica, previnem as alterações das funções cognitivas e retardam a progressão dos sintomas da demência. As atividades de estimulação promoveram o aumento da autonomia e da qualidade de vida das pessoas assistidas, a manutenção do seu estado de saúde, a redução da ansiedade, o aumento da interação social e a sua valorização pessoal. Os resultados obtidos comprovam que a integração da pessoa assistida com demência num plano de atividades que engloba os vários domínios de estimulação permite um melhor desempenho cognitivo, um menor declínio longitudinal, reduzem o impacto da patologia no quotidiano e prolongam o tempo com qualidade de vida da pessoa assistida e da sua família. As condicionantes que comprometeram os resultados do projeto foram alvo de análise, tendo sido propostas melhorias para o seu futuro desenvolvimento, nomeadamente ao nível do aumento da participação das pessoas assistidas.


VIII Congresso Internacional ASPESM IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLINICA O projeto “Mente Ativa em Corpo Ativo” revelou-se pertinente e inovador na unidade em que foi desenvolvido, pois foi percursor de cuidados de qualidade e diferenciados na promoção da autonomia e bem-estar das pessoas assistidas. Este projeto revelou também o compromisso dos profissionais da Unidade São José em garantir cuidados promotores da saúde integral da pessoa assistida, um olhar holístico sobre a mesma e qualidade profissional na sua atuação, valores base do IIHSCJ. A intervenção da equipa multidisciplinar foi importante para a promoção do bem-estar físico, psicológico, social e espiritual das pessoas assistidas e permitiu uma estimulação contínua, sistemática e eficaz, beneficiando os resultados obtidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Cotelli, M.; et al (2012). Non-pharmacological intervention for memory decline. Frontiers in Human Neuroscience, 6 (46), 1-17. Direcção Geral de Saúde. (2006). Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas. Lisboa: Direcção Geral de Saúde. Rebelo, H. (2007). Psicoterapia na Idade Adulta Avançada. Análise Psicológica, 4, 543-557. Sequeira, C. (2010). Cuidar de Idosos com Dependência Física e Mental. Lisboa: Lidel – Edições Técnicas. Spar, J.; La Rue, A. (2005). Psiquiatria Geriátrica: Guia Prático de Medicina. Lisboa: Climepsi Editores. Tardif, S.; Simard, M. (2011). Cognitive Stimulation Programs in Healthy Elderly: A Review. International Journal of Alzheimer’s Disease, 2011. World Health Organization. (2012). Active Ageing: A Policy Framework. Madrid: Second United Nations Wolds Assembly on Ageing.


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“Re…Lembrar” um contrato terapêutico Manuel José Machadinho Paiva Bidarra* *Mestre em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria. ACES Oeste Sul, UCC de Mafra. E-mail: bidarra.m@gmail.com RESUMO O papel dos Cuidados de Saúde Primários e as respetivas Unidades Funcionais devem garantir a acessibilidade a todos os utentes com problemas de saúde mental de forma à deteção precoce e encaminhamento consoante as necessidades. Assumir a responsabilidade da continuidade dos cuidados e sua manutenção da saúde, reabilitar e integrar no contexto social em que estão inseridos. Assim, os cuidados de Enfermagem de Saúde Mental, no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários, têm como principal foco a atenção e a promoção. É

essencial

uma

articulação

com

os

vários

parceiros

da

comunidade

para

a

integração/reabilitação dos utentes com necessidade de cuidados de saúde mental, estabelecendo um contrato social que se torne num contrato terapêutico. Este projeto, de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, surgiu da necessidade de realizar uma intervenção na comunidade com a intenção de prestar cuidados nessa área, estando integrado na Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC). O principal objetivo é prestar cuidados de Enfermagem de Saúde Mental à pessoa/família/comunidade, sendo especialmente dirigido para a promoção, adaptação e reabilitação dos processos de saúde e doença, em especial idosos com demência e em risco de depressão. Desde 2012, início deste projeto, foram avaliados cerca de 450 utentes em contexto domiciliário, perto de 900 visitas domiciliárias por ano, com aproximadamente 1100 intervenções nos cuidados de Enfermagem de Saúde Mental, permanecendo ainda cerca de 100 utentes com necessidades de cuidados nesta área. A promoção da saúde, na área da saúde mental, em contexto domiciliário é um conceito recente, sendo habitualmente os cuidados dirigidos para a doença, mas é a permanência dos utentes no seio da comunidade que objetiva ganhos em saúde, diminuindo as hospitalizações ou os danos físicos dos utentes. Palavras-Chave: Saúde mental; cuidados saúde primários; comunidade; contrato.


VIII Congresso Internacional ASPESM ABSTRACT BACKGROUND: The role of Primary Health Care and its Functional Units should ensure accessibility to all users with mental health problems for early detection and referral as needed. Take responsibility for the continuity of care and its maintenance of health, rehabilitate and integrate in the social context in which they are inserted. Thus, Mental Health Nursing care in Primary Health Care has as its main focus attention and promotion. AIM: This project, Mental Health Nursing and Psychiatry, arose from the need to carry out an intervention in the community with the intention of providing care in this area, being integrated in the Community Care Unit (UCC). The main goal is to provide Mental Health Nursing to the person / family / community and being especially directed to the promotion, adaptation and rehabilitation of health and illness processes, especially elderly people with dementia and at risk of depression. METHODS: Since the beginning of this project, about 450 users have been evaluated in a domiciliary context, close to 900 home visits per year, with approximately 1,100 interventions in Mental Health Nursing care, and there are still about 100 users with care needs in this area. RESULTS: The promotion of health in the area of mental health in a home context is a recent concept, usually being care directed to the disease, but it is the permanence of the users within the community that aims at health gains, reducing hospitalizations or users’ physical damages. CONCLUSIONS: It is essential to articulate with the various partners in the community for the integration / rehabilitation of the users in need of mental health care, establishing a social contract that becomes a therapeutic contract. Keywords: Mental health; primary health care; community; contract. RESUMEN CONTEXTO: La tarea de las instituciones primarias de salud y la de sus respectivas unidades funcionales es de garantizar la accesibilidad a todos los usuarios con problemas de salud mental, como finalidad de la detección precoz y el encaminamiento seguro, según las necesidades de todos. Aún así, esa tarea deberá ser más amplía al asumir al igual la responsabilidad de la continuidad de los cuidados y él mantenimiento de la salud, tanto como rehabilitar e integrar los usuarios en el contexto social en él que están inseridos. Así, los cuidados de Enfermería de Salud Mental, en el ámbito de los Cuidados de Salud Primarios, tienen como principal foco la atención y la promoción. OBJETIVO(S): Este proyecto de Enfermería de Salud Mental y Psiquiátrica nació de la voluntad de llevar a cabo una intervención en la comunidad, con intención de prestar cuidados clínicos en esa área, y se encaja en la Unidad de Cuidados en la Comunidad (UCC). Su primer objetivo es prestar cuidados de Enfermería de Salud Mental a la persona / familia / comunidad, dirigiéndose especialmente a la promoción, adaptación y rehabilitación de los variados


VIII Congresso Internacional ASPESM procesos de salud y enfermedad, concretamente con ancianos con demencia o en riesgo de depresión. METODOLOGÍA: Desde el 2012, al principio de este proyecto, se han evaluado aproximadamente 450 usuarios en contexto domiciliar, en un total de 900 visitas domiciliarias por año y cerca de 1100 intervenciones en los cuidados de Enfermería de Salud Mental. Todavía permanecen cerca de 100 usuarios con necesidades de cuidados en esta área que no han sufrido ninguna intervención. RESULTADOS: La promoción de la salud, en esta área de la salud mental, en el contexto domiciliario es un concepto reciente, siendo habitualmente congeniados a los cuidados dirigidos a la enfermedad. Pero es la permanencia de los usuarios en el seno de la comunidad que objetiva ganancias en salud, disminuyendo las hospitalizaciones o los daños físicos de los usuarios. CONCLUSIONES: Es esencial una articulación con los diversos intervinientes de la comunidad para la integración / rehabilitación de los usuarios con necesidades de atención de salud mental, estableciendo un contracto social que se convierta, poco a poco, en un contracto terapéutico. Palabras Clave: Salud mental; asistencia sanitaria primaria; comunidad; contracto. INTRODUÇÃO Os cuidados de Enfermagem na área da saúde mental comunitária têm sofrido modificações ao longo destes tempos mais recentes, com a evolução demográfica, epidemiológica, política, social e económica, com mudanças significativas no modelo de intervenção. O conceito de doença mental é um conceito complexo que abrange perturbações do foro do funcionamento e comportamento emocional, social e intelectual. A doença mental é universal, afetando as pessoas de todo o mundo, não respeitando etnias, sexo, idade ou religião. Este projeto iniciado em 2012, na área da Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, surgiu da necessidade de fazer uma intervenção na comunidade com a intenção de prestar cuidados na área da saúde mental passando a estar ao dispor da população do concelho. Tem como objetivo geral prestar cuidados de Enfermagem de Saúde Mental à pessoa/família/comunidade, sendo especialmente dirigido para a promoção, adaptação e reabilitação dos processos de saúde e doença, em especial idosos com demência e em risco de depressão. As Atividades/Estratégias desenvolvidas foram: fornecer informação e participar na formação dos Enfermeiros das equipas das unidades funcionais; prestar cuidados ao utente com quadro


VIII Congresso Internacional ASPESM de demência e depressão no idoso; promover e reabilitar os cuidadores informais na demência. No entanto. ao longo dos anos as necessidades e solicitações de intervenção na área da saúde mental foram imensas, havendo assim, necessidade de prestar cuidados noutras patologias que não só as demências e depressões. Segundo o Despacho n.º 10143/2009, que regula a organização e o funcionamento da UCC, esta unidade tem como missão “presta[r] cuidados de saúde e apoio psicológico e social, de âmbito domiciliário e comunitário, especialmente às pessoas, famílias e grupos mais vulneráveis, em situação de maior risco ou dependência física e funcional ou doença que requeira acompanhamento próximo, e actua[r], ainda, na educação para a saúde, na integração em redes de apoio à família e na implementação de unidades móveis de intervenção.” (pág.15438) A UCC Mafra abrange 81.199 cidadãos residentes (Censos 2014), definitiva ou temporariamente, na área de intervenção geodemográfica. A UCC de Mafra pertence ao Centro de Saúde (CS) de Mafra que está integrado no ACES (agrupamento de centros de saúde) Oeste Sul. Duas Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), três Unidades de Saúde Familiar (USF), uma Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados (URAP), um Serviço de Atendimento Permanente - SAP, um Núcleo de Apoio a Crianças e Jovens e m Risco (NACJR), e uma Equipa para Prevenção da Violência em Adultos (EPVA). A Organização Mundial de Saúde (OMS.2002) define como “o estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stress normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere”. A Promoção da Saúde é o processo que permite capacitar as pessoas a melhorar e a aumentar o controlo sobre a sua saúde (e seus determinantes – sobretudo, comportamentais, psicossociais e ambientais). Nos Cuidados de Saúde Primários, os cuidados de enfermagem de saúde mental, tendencionalmente têm como enfoque a promoção. O papel dos Cuidados de Saúde Primários e as respetivas Unidades Funcionais é garantir a acessibilidade a todas os utentes com problemas de saúde mental de forma à deteção precoce e encaminhamento conforme as suas necessidades; assumir a responsabilidade da continuidade dos cuidados e sua manutenção da saúde; reabilitação e integração no contexto social que está inserido.


VIII Congresso Internacional ASPESM Segundo o Plano Nacional para a saúde Mental (2017, pág.15) as Metas para 2020 propõem: aumentar a acessibilidade das pessoas com perturbações psiquiátricas comuns aos Cuidados de Saúde Primários; aumentar a qualidade do tratamento das perturbações psiquiátricas nos Cuidados de Saúde Primários; apoiar a implementação dos Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental; melhorar a qualidade da continuidade de cuidados, da reabilitação e da reintegração das pessoas com perturbações psiquiátricas, nomeadamente das mais graves e incapacitantes; dinamizar a aplicação do Plano Nacional de Prevenção do Suicídio e desenvolver ações de prevenção da doença mental e promoção da saúde mental. Atualmente é essencial uma articulação com os vários parceiros da comunidade para a integração/reabilitação do utente com necessidade de cuidados de saúde mental, estabelecendo um contrato social que se torne num contrato terapêutico. METODOLOGIA No decorrer do ano de 2016, 101 utentes tiveram critérios de admissão ao projeto, no entanto, 31 utentes após discussão de casos, nas diferentes Unidades Funcionais e/ou Parceiros Sociais, não tiveram critérios para avaliação no domicílio.

Gráfico nº I – Nº de utentes por género

Houve uma maior tendência para elementos do género feminino do que do género masculino.

Gráfico nº II – Média de idades por género

A média de idade foi aproximadamente os 50 anos.


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Gráfico nº III – N.º de utentes com diagnóstico de enfermagem segundo a CIPE (Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem) Perante a análise do gráfico constata-se que a sociedade atual caracteriza-se pelo envelhecimento demográfico, problema transversal nas sociedades ditas desenvolvidas, em consequência do aumento dos níveis de esperança de vida. No entanto, esta maior esperança de vida é vivenciada com menos saúde mental.

Gráfico nº IV – N.º de utentes segundo a intervenção psicoterapêutica Observando o gráfico, foram realizados a 23 utentes o processo de aconselhamento,16 encaminhamentos e 34 consultas de enfermagem. Durante o ano de 2016, dos 101 utentes admitidos com necessidade de cuidados de Enfermagem de Saúde Mental, 43 deixaram de ter necessidade de visita domiciliária, 15 utentes não tiveram critérios para intervenção psicoeducativa no domicílio, os restantes mantêm-se integrados no projeto, com necessidades de cuidados nesta área de intervenção. RESULTADOS Durante o ano de 2016, foram efetuadas: 648 visitas domiciliárias e 101 consultas de enfermagem de primeira vez. Das intervenções realizadas 334 foram de consultas de


VIII Congresso Internacional ASPESM enfermagem, 59 de desenvolvimento cognitivo, 177 de aconselhamento e 218 Intervenções Psicoeducativas. Foram efetuadas 60 avaliações de diagnóstico com aplicação de escalas e 68 dos casos encaminhados/referenciados. Realizaram-se 58 reuniões de consultoria. Existiram 66 visitas em conjunto com equipa multidisciplinar, houve necessidade de efectuar 138 tratamentos e 140 outras atividades não presenciais, tais como telefonemas, relatórios, … As Consultas de enfermagem de Saúde Mental ao utente/família são marcadas para o utente/família conforme as necessidades, e têm a duração de cerca de 60 a 90 minutos. Após cada visita domiciliária é necessário cerca de 15 minutos para refletir, escrever o registo e redefinir intervenções sobre cada situação vivida. A consulta de Saúde Mental – é um espaço onde se efetua a colheita de dados possível do utente e família, estabelecendo-se uma relação de ajuda, onde se definem, em conjunto, de acordo com as necessidades, estratégias de intervenção, de forma a alcançar os objetivos estabelecidos. O desenvolvimento cognitivo realizado aos utentes com quadro de demência e a sua elucidação para a realidade consiste na orientação em todas as suas referências, como pessoa, tempo e espaço, com aplicação de estratégias e ensino à família. Este exercício pode ser feito diariamente. A desorientação desencadeia receios que podem ser precipitados, lapsos de memória e funcionalidade nas atividades da vida diária. A avaliação de diagnóstico com aplicação de escalas é registada na plataforma S-clinico. O encaminhamento/referenciação passa pela orientação do utente/família para os recursos quer hospitalares quer comunitários mais apropriados, tendo em conta o problema identificado de saúde mental, com a respetiva carta de encaminhamento e com o registo necessário de forma a não ser perdida informação. A referenciação e o encaminhamento pode ser para o médico de família, psiquiatra e/ou neurologista. As reuniões de consultoria consistem na discussão de casos clínicos com definição do projeto terapêutico para cada utente. O processo de aconselhamento, de certa forma, poderá facilitar a realização das opções das quais depende o desenvolvimento interior da pessoa, de modo a promover o desenvolvimento através de escolhas certas. Pode aplicar-se a educação, prevenção de apoio situacional, voltado para a solução de problemas. As visitas domiciliárias com a equipa multidisciplinar podem ser efetuadas, quer pelo Médico de Família, Terapeuta Ocupacional, Fisioterapeuta, Assistente Social da UCC, ISS (Instituto


VIII Congresso Internacional ASPESM Segurança Social), GNR (Guarda Nacional Republicana), dependendo da necessidade dos utentes. Grupos Psicoeducativos Multifamiliares – são intervenções psicoeducativas com a pessoa com doença mental e família, que permite uma aprendizagem direta e indireta entre os intervenientes devido ao ambiente terapêutico, aumentando a capacidade de resolução de problemas, redução do estigma, partilha de experiências, diminuição da sobrecarga e isolamento social. As Intervenções Psicoeducativas vão incidir sobre a Saúde Mental, a Doença Mental, os Sinais e Sintomas e Prevenção de Recaídas, a Adesão Terapêutica, a Gestão da Ansiedade, os Hábitos de Vida Saudável: Sono. DISCUSSÃO De forma a dar resposta aos objetivos propostos foram definidos alguns indicadores. Consideram-se ganhos em saúde sensíveis aos cuidados de enfermagem as evoluções positivas ou modificações operadas no estado de diagnóstico de enfermagem, após as intervenções nos indicadores definidos baseados na CIPE (Classificação Internacional da Pratica de Enfermagem). Essa construção de indicadores foi selecionada com base em alguns fenómenos mais importantes ao longo dos últimos relatórios. As escalas utilizadas de avaliação da aceitação do estado de saúde, tristeza e humor estão na plataforma S-clinico. Todos os utentes foram avaliados em relação à aceitação do estado de saúde, tristeza e humor, quer no primeiro contacto, quer no términos da relação quando atingidos os objetivos definidos inicialmente. Houve 43 utentes que deixaram de ter necessidade de cuidados de enfermagem no domicílio.

Gráfico nº V – Aceitação do estado de saúde Escala: 0-Sem aceitação do estado de saúde/ 6 -aceitação total do estado da saúde


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Na avaliação da Escala da Aceitação do estado de saúde, dos 43 utentes que foram avaliados no início e final da escala, 24 utentes apresentaram ganhos em saúde, enquanto 19 (0+n.d=19) não apresentaram qualquer evolução.

Gráfico nº VI – Escala de avaliação da tristeza Escala: 0-Sem tristeza/ 4-muito triste De acordo com o gráfico, dos 43 utentes que foram avaliados no início e final da escala, 23 utentes apresentaram ganhos em saúde, enquanto 20 (14+n.d=19) não apresentaram qualquer evolução.

Gráfico nº VII – Escala de avaliação do Humor

Escala: 0-sem alteração do humor 1-humor alterado Neste gráfico pode-se verificar que, dos 43 utentes que foram avaliados no início e final a escala 24 utentes apresentaram ganhos em saúde enquanto 19 (12+n.d=19) não apresentaram qualquer evolução. Apesar do registo na plataforma S-clinico de todas as visitas domiciliárias realizadas, há ainda muito a melhorar relativamente a algumas escalas de avaliação, intervenções e dados que poderiam ficar disponíveis para uma melhor avaliação da prática clínica.


VIII Congresso Internacional ASPESM No decorrer dos cuidados de enfermagem de saúde mental não houve danos físicos nos utentes mesmo nos utentes com grau dependência mais elevado. Durante o ano de 2016, dos 101 utentes, 3 utentes tiveram que ser internados compulsivamente uma vez que não tinham condições para se manterem no contexto domiciliário, havendo necessidade de reajuste terapêutico, medicação e avaliação diagnóstico. Manter o utente com necessidade de cuidados de saúde mental no seu meio natural e no seu domicílio, o seu processo de reabilitação e integração na sociedade fica mais facilitador, com melhor qualidade de vida e com ganhos em saúde. CONCLUSÕES Nos últimos anos, o conceito de cuidados de enfermagem de Saúde Mental Comunitária tem colocado novos desafios aos enfermeiros Especialistas de Saúde Mental e Psiquiatria, exigindo um conjunto de novas intervenções e desafios para responder às necessidades da pessoa e comunidade. Ao longo desde anos foram avaliados cerca de 450 utentes no seu contexto domiciliário, realizadas cerca de 900 visitas domiciliárias por ano, com cerca de 1100 intervenções nos cuidados de enfermagem saúde mental, permanecendo cerca de 100 utentes com necessidade de cuidados.

“Re…lembrar” um contrato terapêutico…. Com os parceiros da comunidade

GNR

Segurança social

Utente com necessidade de cuidados de enfermagem saúde mental

SAUDE

IPSS

CMM

A qualidade nos cuidados de saúde implica continuidade na metodologia aplicada pelos vários parceiros assistenciais. É importante lembrar que no domicílio, os cuidados, devem ser praticados por uma equipa multidisciplinar.


VIII Congresso Internacional ASPESM Todos os parceiros da comunidade, Hospitais, CM (Câmara Municipal), IPSS (Instituições particulares de solidariedade social),SCM (Santa Casa da Misericórdia), ISS (Instituto Segurança Social), GNR (Guarda Nacional Republicana),JF (Juntas de Freguesia);técnicos RSI (rendimento social de reinserção),Ordens Religiosas e voluntários, devem estar envolvidos, conforme o grau das necessidades de cuidados e complexidade dos utentes, de forma a estabelecer um contrato terapêutico individual para cada utente/família. Atualmente o contrato terapêutico com o utente/família, assim como as intervenções psicoeducativas efetuadas podem tornar-se insuficientes, se não se estabelecer um contrato social, ou de outro género, com as respetivas parcerias da comunidade. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Esta prática clínica permite estabelecer relações de confiança e parceria com o utente/família/comunidade de forma a aumentar o insight sobre os problemas e a capacidade de encontrar novas vias de resolução A diversidade de intervenções que atualmente existem, por parte de alguns parceiros da comunidade, tais como: GNR,CM, ISS e IPSS etc, levam à necessidade de resposta por parte da UCC, com situações de Perigo/Risco e com avaliações rigorosas dos cuidados a esse utentes/famílias. A promoção da saúde, na área da saúde mental, em contexto domiciliário é um conceito recente, sendo habitualmente os cuidados dirigidos para a doença, mas é a permanência dos utentes no seio da comunidade que objetiva ganhos em saúde, diminuindo as hospitalizações ou os danos físicos dos utentes. A articulação com todas as Unidades Funcionais do ACES tem sido um desafio constante de forma a dar reposta às necessidades dos utentes, bem como às necessidades de apoio a essas Unidades Funcionais. A articulação com a rede social e comunitária, assim como com as múltiplas unidades hospitalares, que dão resposta ao concelho, através da articulação com Psiquiatras, Neurologistas, Assistentes Sociais, Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais, Psicólogas e Assistentes Técnicas é fundamental, de forma a dar uma resposta mais adequada, atempada e adaptada às necessidades de cada utente/família. As solicitações, referenciações e encaminhamento aos longos destes anos têm vindo a aumentar de uma forma gradual e sólida, com uma necessidade sentida de cuidados de enfermagem de saúde mental, percebendo-se que não poderá haver saúde, sem saúde mental.


VIII Congresso Internacional ASPESM O papel do Enfermeiro de saúde Mental que presta cuidados especializados em contexto de domicílio é um privilégio para o técnico quer para o utente/família que está inserido no seu meio ambiente, reforça num espírito de colaboração, bem como a preocupação e aceitação no envolvimento de outros profissionais de forma mais ativa em todo o processo o que conduzirá ao sucesso de toda intervenção terapêutica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Diário da República, 2.ª série — N.º 74 — 16 de Abril de 2009. Regulamento da Organização e do Funcionamento da Unidade de Cuidados na Comunidade. Direcção - Geral da Saúde 2017 Programa Nacional para a Saúde Mental Instituto Nacional de Estatística -Censos - Resultados definitivos. Portugal – 2014 Organização Mundial de Saúde (2002).


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Aplicabilidade das práticas integrativas de saúde para a melhoria do padrão de sono Valquiria Farias Bezerra Barbosa*, Cláudia Sorelle Cavalcanti de Santana**, Êlizandra Regina dos Santos Gomes***, Ana Carla Silva Alexandre****, Silvana Cavalcanti dos Santos*****, Shimmeny Hilka Vasconcelos Ferreira****** *Enfermeira; Doutora em Ciências Humanas; Professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE Brasil; valquiria@pesqueira.ifpe.edu.br **Bacharelanda em Enfermagem; Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC CNPq; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco,

Campus

Pesqueira;

CEP:

55.200-000,

Pesqueira,

PE,

Brasil;

claudiascavalcanti@hotmail.com ***Bacharelanda em Enfermagem; Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Extensão – PIBEX; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE, Brasil; elizreginasg@outllok.com ****Enfermeira; Doutora em Ciências da Saúde; Professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE Brasil; ana.alexandre@pesqueira.ifpe.edu.br ***** Enfermeira; Mestre em Saúde Pública; Professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE Brasil; silvana.santos@pesqueira.ifpe.edu.br ****** Enfermeira; Especialista em Saúde Pública; Enfermeira no Centro de Atenção Psicossocial II; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE, Brasil. shimmenyferreira@hotmail.com RESUMO CONTEXTO: Em 2006, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PIC) passou a compor o Sistema Único de Saúde brasileiro, contemplando sistemas médicos e recursos terapêuticos cujas racionalidades consideram a visão integral do ser humano, do processo saúde-doença e a promoção global do cuidado humano e do autocuidado. OBJETIVO: Avaliar a aplicabilidade das PIC para a melhoria do padrão de sono dos usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). MÉTODOS: Estudo experimental, quantitativo, desenvolvido no CAPS II, Pesqueira, PE, Brasil, entre março e junho de 2017. A amostra foi composta por 10 usuários que, durante a fase de intervenção, foram assíduos às 10 sessões de PIC (auriculoterapia, relaxamento,


VIII Congresso Internacional ASPESM musicoterapia e práticas corporais), intercaladas semanalmente, com duração de 40 minutos. Foi utilizado o Índice da Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQSP), para avaliar a qualidade subjetiva do sono antes e após as sessões de PIC. Os dados foram armazenados e analisados através do SPSS versão 18.0, com intervalo de confiança de 95%. RESULTADOS: Para os componentes específicos qualidade subjetiva do sono, duração do sono, eficiência habitual do sono, distúrbios do sono e uso de medicação para dormir, quando analisados separadamente, não houve diferença significativa antes e após a intervenção. Porém, quando avaliado o escore global de todos os componentes do IQSP, houve melhora na qualidade do sono dos usuários após a intervenção com PIC (p<0,0001). CONCLUSÕES: As PIC ampliam a abordagem terapêutica não medicamentosa no CAPS, além de serem de baixo custo e ter boa adesão. Palavras-Chave: Enfermagem; Saúde Mental; Sono; Terapias Complementares. ABSTRACT BACKGROUND: Since 2006, the National Policy on Integrative and Complementary Practices (PIC) became part of the Brazilian Unified Health System, encompassing medical systems and therapeutic resources whose rationalities consider the integral vision of the human being, the health-disease process and the global promotion of human and self-care. AIM: To assess the applicability of PIC to improve the sleep pattern of users of a Psychosocial Attention Center (CAPS). METHODS: An experimental, quantitative study was carried out at CAPS II, Pesqueira, PE, Brazil, between March and June 2017. The sample consisted of 10 users who, during the intervention phase, had 10 sessions of ICP (auriculotherapy, relaxation, music therapy and bodily practices), interspersed weekly, lasting 40 minutes. The Pittsburgh Sleep Quality Index (IQSP) was used to assess subjective sleep quality before and after PIC sessions. Data were stored and analyzed through SPSS version 18.0, with a 95% confidence interval. RESULTS: For specific subjective sleep quality components, sleep duration, habitual sleep efficiency, sleep disturbances and use of sleeping medication, when analyzed separately, there was no significant difference before and after the intervention. However, when the overall score of all IQSP components was evaluated, there was an improvement in the quality of the patients' sleep after the intervention with PIC (p <0.0001). CONCLUSIONS: PIC extend the non-drug therapeutic approach in the CAPS, in addition to being inexpensive and having good adherence. Keywords: Nursing; Mental Health; Sleep; Complementary Therapies.


VIII Congresso Internacional ASPESM RESUMEN CONTEXTO: En 2006, la Política Nacional de Prácticas Integrativas y Complementarias (PIC) pasó a componer el Sistema Único de Salud brasileño, contemplando sistemas médicos y recursos terapéuticos cuyas racionalidades consideran la visión integral del ser humano, del proceso salud-enfermedad y la promoción global del cuidado humano y del autocuidado. OBJETIVO: Evaluar la aplicabilidad de las PIC para la mejora del patrón de sueño de los usuarios de un Centro de Atención Psicosocial (CAPS). METODOLOGÍA: La muestra fue compuesta por 10 usuarios que durante la fase de intervención, fueron asiduos a 10 sesiones de PIC (auriculoterapia, relajación, musicoterapia y prácticas corporales), intercaladas semanalmente, con una duración de 40 minutos. Se utilizó el Índice de Calidad del Sueño de Pittsburgh (IQSP), para evaluar la calidad subjetiva del sueño antes y después de las sesiones de PIC. Los datos fueron almacenados y analizados a través del SPSS versión 18.0, con un intervalo de confianza del 95%. RESULTADOS: Para los componentes específicos calidad subjetiva del sueño, duración del sueño, eficiencia habitual del sueño, trastornos del sueño y uso de medicación para dormir, cuando se analizan por separado, no hubo diferencia significativa antes y después de la intervención. Sin embargo, cuando se evaluó la puntuación global de todos los componentes del IQSP, hubo mejoría en la calidad del sueño de los usuarios después de la intervención con PIC (p <0,0001). CONCLUSIONES: Las PIC amplían el enfoque terapéutico no medicamentoso en el CAPS, además de ser de bajo costo y tener buena adhesión. Palabras Clave: Enfermería; Salud Mental; Sono; Terapias Complementarias. INTRODUÇÃO A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde (SUS) foi publicada em 2006, contemplando sistemas médicos complexos e recursos terapêuticos, denominados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de medicina tradicional e complementar/alternativa. Esses sistemas e recursos, cujas racionalidades consideram a visão integral do ser humano, do processo saúde-doença, a promoção global do cuidado humano e o autocuidado, têm abordagens estimuladoras dos mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por intermédio da integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade (OMS, 2006; Ministério da Saúde, 2013). De uma maneira geral, os transtornos e/ou sofrimentos mentais têm aumentado expressivamente no último século, sobretudo devido às profundas transformações ocorridas no âmbito econômico e cultural que foram acompanhadas por pressões de uma sociedade tecnológica e, principalmente, competitiva (Marchi, Bárbaro, Miasso, Tirapelli, 2013).


VIII Congresso Internacional ASPESM Nesse sentido, cada campo científico das ciências da saúde e sociais precisou investir esforços na produção de novas formas de enfrentar as questões relativas ao sofrimento psíquico de modo a incorporar as novas concepções introduzidas pela política de saúde mental (Barbosa, Lima, Simões, Pedroza, Guimarães, 2017). Nessa perspectiva, a aplicação das Práticas Integrativas e Complementares (PIC) como possibilidade de abordagem dos problemas de saúde-doença na prática clínica da enfermagem aponta outra via possível de cuidado, que pode ser complementar ou mesmo preferível a via biomédica (Tesser, Souza, 2012). De modo geral, sabe-se que os transtornos do sono trazem consigo diversas repercussões, provocando perda da qualidade de vida, disfunção autonômica, diminuição do desempenho profissional ou acadêmico e aumento na incidência de transtornos psiquiátricos, entre outros (Haddad, Medeiros, Marcon, 2012). O sono é um estado de inconsciência do qual a pessoa pode ser despertada por estímulos sensoriais ou outros. Para um estado ótimo de vigília, o adulto requer uma média de sete a oito horas de sono em um período de 24 horas, com despertares noturnos que representem até 5% do tempo total no leito. Os ciclos de sono caracterizam-se por apresentar um padrão no qual o indivíduo passa aproximadamente 30% em sono paradoxal, 20% em sono profundo e 50% em sono superficial (Costa, Ceolim, 2013). Além dos parâmetros fisiológicos, a qualidade do sono é um importante fator a ser avaliado uma vez que a dificuldade em adormecer ou permanecer dormindo são os principais fatores que a afetam em cerca 15 a 35% dos casos. Em segundo lugar, o sono de má qualidade é indicador de muitas doenças. Distúrbios na qualidade do sono podem afetar negativamente sentimentos, ideias e a motivação de uma pessoa (Vasconcelos et al, 2013). Em pesquisa conduzida no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), do município de Pesqueira, PE, Brasil, as autoras observaram relatos frequentes de má qualidade do sono por parte dos usuários em acompanhamento terapêutico, dificultando a suas atividades diárias, inclusive a participação em abordagens terapêuticas grupais. O CAPS é um serviço substitutivo de atenção em saúde mental que tem demonstrado efetividade na substituição da internação por longos períodos. Desenvolve ações no terrritório de seus usuários, abrangendo seus familiares e comunidade, possibilitando a recuperação e a integração social do indivíduo com transtorno mental e/ou sofrimento psíquico. É considerado um dispositivo estratégico para a organização da Rede de Atenção Psicossocial, encarregado de realizar a articulação entre todos os níveis de atenção e por integrar a atenção em saúde mental na atenção básica, estando em condições de promover a integralidade nas ações de saúde mental (Barbosa, Cavalcanti, Alcântara, Pedroza, Ferreira, 2017).


VIII Congresso Internacional ASPESM Nesse contexto, este estudo teve por objetivo avaliar a aplicabilidade das práticas integrativas de saúde para a melhoria do padrão de sono dos usuários de um Centro de Atenção Psicossocial. MÉTODOS Trata-se de um estudo experimental de abordagem quantitativa, desenvolvido no Centro de Atenção Psicossocial II do município de Pesqueira – PE, Brasil, entre março e junho de 2017. A população do estudo é representada por 60 usuários (as) em acompanhamento terapêutico no CAPS no período do estudo. Os critérios de inclusão dos sujeitos à amostra foram estar em acompanhamento terapêutico regular no CAPS e disponibilidade de participar assiduamente dos procedimentos de intervenção com periodicidade semanal. Foram excluídos do estudo os usuários com quadro mental instável que interferisse na sua autonomia de decisão de participar ou não do estudo. A pesquisa iniciou-se após o parecer favorável da Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação HEMOPE, Recife, PE, Brasil, sob o CAAE 56546216.0.0000.5195, atendendo as recomendações da resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012. A amostra foi composta por 10 usuários, a fim de garantir um melhor acompanhamento dos usuários participantes do grupo experimental potencializando-se a eficácia das técnicas utilizadas. Esses usuários também participaram dos demais grupos terapêuticos conduzidos semanalmente pela equipe técnica do CAPS, dando continuidade a sua participação nos horários acordados em seu projeto terapêutico singular no período do experimento. Durante a fase de intervenção, cada usuário foi submetido a 10 sessões de práticas integrativas que incluíram a auriculoterapia, o relaxamento, a musicoterapia e as práticas corporais, sendo que suas aplicações foram intercaladas semanalmente e conduzidas durante um período de 40 minutos. O levantamento de dados sobre a qualidade subjetiva do sono dos usuários participantes da pesquisa se deu mediante a aplicação de um instrumento pré-validado que mede o Índice da Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQSP). Instrumentos para medidas subjetivas do sono podem ser utilizados na rotina clínica para fins de diagnósticos, para monitorização da resposta aos tratamentos instituídos, em estudos epidemiológicos e em pesquisa clínica. É um recurso com confiabilidade e validade previamente estabelecidas (Araújo et al, 2015). O IQSP foi aplicado antes do início do grupo terapêutico das PIC e ao final deste, para posterior comparação dos escores. É composto de 19 variáveis auto administradas e 5 questões respondidas por seus companheiros de quarto, quando couber. Essas últimas são utilizadas somente para informação clínica. As variáveis são agrupadas em 7 componentes com peso distribuídos numa escala de 0 a 3. Os componentes do IQSP incluem queixas em


VIII Congresso Internacional ASPESM relação ao sono, o uso de medicamentos, a latência do sono, o uso de medicamentos para dormir e a disfunção diurna (Araújo et al, 2015). O IQSP foi calculado através do método proposto por Buysse e outros colaboradores no ano de 1989, segundo o qual a soma dos valores atribuídos produzem um escore global, que varia de 0 a 21, onde quanto maior a pontuação, pior a qualidade de sono. Um escore de 0 a 4 indica boa qualidade de sono, 5 a 10 qualidade de sono ruim e >10 presença de distúrbio de sono (Araújo et al, 2015). Os dados foram armazenados no editor de dados do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 18.0, que também funcionou como ferramenta de análise. Como as variáveis quantitativas distribuiram-se de forma normal, optou-se pelo Teste T Student para amostras relacionadas, considerando o intervalo de confiança de 95%. RESULTADOS Quanto as características sócio demográficas dos usuários do CAPS II, Pesqueira, PE, Brasil, que participaram do grupo experimental com as PIC, observa-se que 80% (8) dos sujeitos da amostra eram do sexo feminino com idade entre 28 e 71 anos. Quanto à raça, 60% (6) dos usuários se autodeclararam pardos e 100% possui renda mensal de um salário mínimo. Quanto à escolaridade, 60% (6) não concluiu o ensino fundamental, 20% (2) concluiu o ensino médio e os demais 20% (2) são analfabetos. Em relação ao uso continuado de medicamentos psicotrópicos, apenas um (10%) dos usuários não faz uso. Sobre o tempo de tratamento, a maioria (80%, 8) está em acompanhamento terapêutico no CAPS há mais de ano. Quanto à análise dos componentes do IQSP, na Tabela 1, dispõe-se a relação de todos os componentes em comparação com as médias dos escores e sua significância. Tabela 1 - Média de comparação dos escores dos usuários que participaram do grupo terapêutico das PIC em relação aos componentes do Índice de Qualidade do Sono de Pittsburg, Pesqueira, PE, Brasil, 2017. COMPONENTE DO

Média

de

IQSP

diferença

do

Desvio padrão

T student

P

Escore 1- Qualidade

,500

,707

2,236

,052

do

,900

,994

2,862

,019

do

,200

,789

,802

,443

subjetiva do sono 2- Latência sono 3- Duração sono


VIII Congresso Internacional ASPESM 4- Eficiência do

,400

,966

1,309

,223

,300

,483

1,964

,081

,200

,632

1,000

,343

1,100

,738

4,714

,001

sono 5- Distúrbio do sono 6- Uso

de

medicação para dormir 7- Disfunção durante o dia

DISCUSSÃO Foram analisadas as sete subcategorizações do instrumento, além do escore total, mensurado antes e após a aplicação das PIC. Para os componentes 1 - qualidade subjetiva do sono, 3 - duração do sono, eficiência habitual do sono, 5- distúrbios do sono e 6- uso de medicação para dormir não houve diferença significativa para a amostra antes e após a intervenção. Porém, quando avaliado o escore global de todos os componentes do IQSP a significância foi de p<0,0001, sendo assim, infere-se que há interferência no uso de PIC em relação à qualidade do sono. Observa-se uma diferença altamente significativa para os componentes 2 e 7, latência do sono e disfunção durante o dia, antes e após a aplicação das PIC significando que os usuários necessitaram de um menor período de tempo para realizar a transição da vigília para o sono total e menor dificuldade de se manter acordado durante o dia, antes e após a utilização das práticas integrativas e complementares. Configura-se então a importância dessas práticas para a melhoria da qualidade do sono em usuários que fazem uso regular de medicações psicotrópicas, devendo então, ser uma prática incentivada na atenção psicossocial (Souza, Opaleye, Noto, 2013). Para a avaliação do componente 6, que se refere ao uso de medicação para dormir, não foi atribuída significância, o que está relacionado ao fato de que apenas uma usuária não faz uso de medicação psicotrópica indutora do sono. Quanto aos demais, todos faziam uso de medicamentos para dormir, não havendo mudanças no padrão de uso antes e após a aplicação das PIC. A “medicalização social” liderada pela biomedicina como uma forma legitimizada de cuidados que reduzem a abordagem terapêutica com reflexão sobre o modo de vida, diminui o potencial cultural das pessoas para lidar com situações adversas. Em contrapartida, observa-se a crescente utilização de práticas alternativas que não são presentemente consideradas parte da biomedicina, mas que podem ser utilizadas em conjunto com esta, em paralelo a outras abordagens ou individualmente (Haddad, Medeiros, Marcon, 2012).


VIII Congresso Internacional ASPESM As evidências científicas apontam para a incorporação das PIC contemplando a integralidade no cuidado, contribuindo na redução da ansiedade, dor, estresse, quadros de depressão, confusão mental, sintomas psicóticos, níveis de pressão arterial; na melhora da qualidade do sono, níveis de satisfação e qualidade de vida; na promoção do relaxamento e bem estar; facilitando processos de comunicação, interação, empatia, vínculo e diálogo, expressão de emoções e sentimentos; estimulação de funções cognitivas e aprendizado; favorecendo a autonomia e reflexão sobre o cuidado de si; na melhora da autoestima e qualidade do cuidado de enfermagem (Schveitzer, Zoboli, 2014). Quando avaliado o escore do IQSP de cada usuário, antes e após a aplicação das PIC, observou-se que 30% (3) dos usuários passou da classificação de presença de distúrbio de sono para sono ruim, 20% (2) dos usuários passou de sono ruim para sono bom. Os demais 50% (5) ficaram na mesma classificação inicial de sono ruim, entretanto, o escore desses pacientes reduziu-se comparado à primeira avaliação. A mensuração do escore global de todos os componentes do IQSP demonstra que houve uma diferença altamente significativa entre a qualidade do sono dos usuários antes e depois da intervenção. Apesar das PIC aplicadas nesse estudo terem se apresentado como fator de melhoria do sono dos usuários, percebe-se ainda que estes apresentam-se com classificações de sono insatisfatórias do ponto de vista da qualidade. A proposta de introdução das PIC nos serviços de saúde mental se dá no sentido de diversificar as práticas de cuidado oferecidas para abranger diferentes concepções de saúde e cuidado, contribuindo assim para qualificar o processo de trabalho e cuiado em saúde (Barbosa et al 2017). A questão da implantação das PIC nos serviços de saúde não se resume apenas a estimular o uso alternado dos procedimentos biomédicos e complementares, a fim de possibilitar o acesso universal às práticas alternativas. A questão é se, de fato, ocorrem modificações na lógica do processo de trabalho com a valorização das tecnologias leves de diferentes racionalidades e compreensões de saúde para melhor cuidar, com integralidade (Lima, 2015). Assim, os resultados desse estudo sugerem que as PIC enriquecem o potencial terapêutico, através das múltiplas técnicas de cuidado, possuem baixo custo, são culturalmente adequadas, facilitam integralmente os mecanismos naturais de reequilíbrio orgânico, sendo satisfatoriamente efetivas, além de contribuirem para a promoção e prevenção da saúde dos usuários com transtorno mental. CONCLUSÃO As PIC proporcionam melhora do padrão do sono, assim como ampliam a abordagem terapêutica no CAPS. Apesar de não haver redução da medicamentalização dos usuários,


VIII Congresso Internacional ASPESM mostrou ser uma abordagem de baixo custo para o SUS e de relativa efetividade neste campo de atuação. Quanto às limitações da pesquisa tem-se que não há um grande quantitativo de estudos na literatura que relacionem o IQSP as PIC, como mostrado nessa pesquisa. O tamanho da amostra para aplicação das práticas foi reduzido, porém não interferindo na significância dos resultados da pesquisa. Assim, sugere-se a realização de estudos com maior controle das variáveis independentes e com um maior número amostral. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLINICA A enfermagem deve ser incentivada a apropriar-se dos conhecimentos sobre as tecnologias leves para o cuidado em saúde mental, em especial as práticas integrativas e complementares em

saúde,

proporcionando

uma

melhor

intervenção

no

processo

saúde-

adoecimento/sofrimento psíquico. Espera-se que outros serviços de saúde também possam implementar em sua rotina as PIC, assim como haja a adesão e ampliação da oferta das mesmas na rede SUS brasileira, nos níveis primários e secundários de atenção à saúde. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Araujo P.A.B., Sties S.W., Wittkopf P.G., Netto A.S., Gonzáles A.I., Lima D.P., Guimarães S.N., Aranha E.E., Andrade A., Carvalho T. (2015). Índice da Qualidade do Sono de Pittsburgh para uso na reabilitação cardiopulmonar e metabólica. Revista Brasileira de Medicina e Esporte. 21(6), 472-475. doi: https://dx.doi.org/10.1590/1517-869220152106147561

Barbosa V.F.B., Cavalcanti A., Alcântara M.C.A., Pedroza R.M., Ferreira S.V. (2017). O papel da atenção primária de saúde na constituição das redes de cuidado em saúde mental. Revista Online de Pesquisa Cuidado é Fundamental, 9 (3), 659-668. doi: https://dx.doi. org/10.9789/2175-5361.2017.v9i3.659-668 Barbosa V.F.B., Lima C.G., Simões J.P.S., Pedroza, R.M., Mello M.G. (2017). Tecnologias leves para o cuidado de Enfermagem na atenção psicossocial: contribuições à superação de estigmas sobre a doença mental. Extensio: Revista Eletrônica de Extensão, 14 (26), 119-132. doi: https://dx.doi.org/10.5007/1807-0221.2017v14n26p119 Ministério da Saúde. (2013). HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização. Brasília, Distrito Federal: Ministério da Saúde. Costa S.V. & Ceolim M.F. (2013). Fatores que interferem na qualidade do sono de pacientes internados. Revista da Escola de Enfermagem Universidade de São Paulo, 47 (1), 46-52.


VIII Congresso Internacional ASPESM Haddad M.L., Medeiros M., Marcon S.S. (2012). Qualidade de sono de trabalhadores obesos de um hospital universitário: acupuntura como terapia complementar. Revista da Escola de Enfermagem Universidade de São Paulo. 46 (1), 82-8. Lima P.T.R. (2015). Medicina Integrativa. Barueri, São Paulo: Manole. Marchi K.C., Bárbaro A.M., Miasso A.I., Tirapelli C.R. (2013). Ansiedade e consumo de ansiolíticos entre estudantes de enfermagem de uma universidade pública. Revista Eletronica de Enfermagem.15 (3), 731-9. doi: https://dx.doi.org/10.5216/ree.v15i3.18924 Organização Mundial de Saúde. (2006). Estratégia sobre medicina tradicional: 2002-2005. Genebra: OMS. Souza A.R.L., Opaleye E.S., Noto A.R. (2013). Contextos e padrões do uso indevido de benzodiazepínicos entre mulheres. Ciência & Saúde Coletiva. 18 (4), 1131-40.doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232013000400026. Schveitzer M.C. & Zoboli E.L.C.P. (2014) Role of complementary therapies in the understanding of primary healthcare professionals: a systematic review. Revista da Escola de Enfermagem

Universidade

de

São

Paulo.

48,

n.spe,

184-91.

doi:

http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420140000500026. Tesser C.D. & Sousa I.M.C. (2012). Atenção Primária, Atenção Psicossocial, Práticas Integrativas e Complementares e suas Afinidades Eletivas. Saúde e Sociedade. 21 (2): 33650. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12902012000200008. Vasconcelos H.C.A, Fragoso L.V.C., Marinho N.B.P., Araújo M.F.M., Freitas R.W.J.F., Zanetti M.L., Damasceno M.M.C. (2013). Correlação entre indicadores antropométricos e a qualidade do sono de universitários brasileiros. Revista da Escola de Enfermagem Universidade de São Paulo. 47 (4), 852-9. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420130000400012.


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Controlo percebido como fator de bem-estar emocional Artur Pacheco*, & Cecília Alves** *Mestre em Ciências de Enfermagem; Especialista em Enfermagem de Reabilitação; Enfermeiro, Hospital Senhora da Oliveira de Guimarães, UCI- Cardiologia, Rua Manuel da Cunha

Moreira

151,

Frente,

4430-702,

Vila

Nova

Gaia,

Portugal.

E-mail:

rutpacheco@gmail.com ** Mestre em Ciências de Enfermagem; Especialista em Enfermagem Comunitária; Enfermeira, Centro Hospitalar São João, Centro de Epidemiologia Hospitalar, Rua Manuel da Cunha

Moreira

151,

Frente,

4430-702,

Vila

Nova

Gaia,

Portugal.

E-mail:

cecilia.m.alves@gmail.com RESUMO CONTEXTO: A investigação tem evidenciado a importância que as perceções de controlo (controlo percebido) têm sobre a doença, em indivíduos com problemas cardíacos. Elevadas perceções de controlo parecem ser favorecedoras de melhores resultados em saúde, atenuando o sofrimento emocional e possibilitando uma melhor monitorização e gestão dos seus problemas cardíacos. OBJETIVO(S): Determinar o impacto do controlo percebido no bem-estar emocional. MÉTODOS: Estudo quantitativo, transversal, com dados de 160 indivíduos com doença cardíaca internados, com idade entre 29 e 89 anos (M= 62,1; DP= 11,79), maioritariamente homens (65,0%), casados (81,3%), com baixa escolaridade (M= 5,54; DP= 3,73) e 70,0% não trabalhava. A variável dependente utilizada na avaliação, foi a versão portuguesa da Control Attitudes Scale – Revised (CAS-R). RESULTADOS: As variáveis que adicionaram mais variância ao controlo percebido (CAS-R) foram: os sintomas depressivos com 21,9% (p< 0,0001), seguido do género com mais 4,9% (p < 0,01), depois a HTA com mais 3,2% (p< 0,01) e por ultimo a idade com mais 2,3% (p< 0,05). No modelo final apenas a sintomatologia depressiva (β= -0,329; p= 0,000), o género (β= -0,234; p= 0,001), a HTA (β= -0,161; p= 0,018) e a idade (β= -0,163; p= 0,024) adicionaram variância preditiva ao controlo percebido. CONCLUSÕES: Os resultados sugerem que o controlo percebido tem um resultado benéfico na diminuição do sofrimento emocional. Porém é necessária mais investigação acerca do fenómeno, bem como o desenvolvimento de intervenções que aumentem as crenças de controlo e consequentemente diminuam o sofrimento emocional. Palavras-Chave: Doenças Cardiovasculares; Depressão; Adaptação


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ABSTRACT BACKGROUND: Research has evidenced the importance that perceptions of control (perceived control) have on the disease in individuals with heart problems. High control perceptions appear to be conducive to better health outcomes, lessening emotional distress, and enabling better monitoring and management of your heart problems. AIM: Determine the impact of perceived control on emotional well-being. METHODS: Quantitative, cross-sectional study with data from 160 hospitalized patients with heart disease, aged between 29 and 89 years (M= 62,17; SD= 11,79), mostly men (65,0%), married (81,3%), low level of education (M= 5,54; SD= 3,73) and 70,0% did not work. The dependent variable used in the evaluation was the Portuguese version of the Control Attitudes Scale - Revised (CAS-R). RESULTS: The variables that added more variance to the perceived control (CAS-R) were: depressive symptoms with 21.9% (p< 0,0001), followed by gender with more 4.9% (p< 0,01), then hypertension with 3,2% (p< 0,01) and, finally, the age of 2,3% (p< 0,05). In the final model, only the depressive symptomatology (β= -0,329; p= 0,000), gender (β= -0,234; p= 0,001), hypertension (β= -0,161; p = .018) and age (β= -0,163; p= 0,024), added predictive variance to the perceived control. CONCLUSIONS: The results suggest that perceived control has a beneficial outcome in reducing emotional distress. But more research is needed on the phenomenon, as well, the development of interventions that increase control beliefs and consequently decrease emotional distress. Keywords: Cardiovascular Diseases; Depression; Adaptation RESUMEN CONTEXTO: La investigación, ha evidenciado la importancia que las percepciones de control (control percibido), tienen sobre la enfermedad en individuos con problemas cardíacos. Las altas percepciones de control parecen ser favorecedoras de mejores resultados en salud, atenuando el sufrimiento emocional y posibilitando una mejor monitorización y gestión de sus problemas cardíacos. OBJETIVO(S): Determinar el impacto del control percibido en el bienestar emocional. METODOLOGÍA: Estudio cuantitativo, transversal, con datos de 160 individuos con enfermedad cardíaca internados, con edad entre 29 y 89 años (M= 62,17; DP= 11,79), mayoritariamente hombres (65,0%), casados (81,3%), con baja escolaridad (M = 5,54; DP= 3;73) y el 70,0% no trabajaba. La variable dependiente utilizada en la evaluación, fue la versión portuguesa de Control Attitudes Scale - Revised (CAS-R).


VIII Congresso Internacional ASPESM RESULTADOS: Las variables que agregaron más varianza al control percibido (CAS-R), fueron: los síntomas depresivos con 21,9% (p< 0,0001), seguido del género con más 4,9% (p< 0,01), después la hipertensión con más 3,2% (p< 0,01) y por último, la edad con más 2,3% (p< 0,05). En el modelo final, sólo la sintomatología depresiva (β = -0,329; p= 0,000), el género (β = -0,234; p = 0,001), la hipertensión (β = -0,161; p = 0,018)) y la edad (β = -0,163; p = 0,024), añadieron varianza predictiva al control percibido. CONCLUSIONES: Los resultados sugieren que el control percibido tiene un resultado beneficioso en la disminución del sufrimiento emocional. Sin embargo, es necesaria más investigación acerca del fenómeno, así como el desarrollo de intervenciones que aumenten las creencias de control y, por consiguiente, disminuyan el sufrimiento emocional. Palabras Clave: Enfermedades Cardiovasculares ; Depresión, Adaptación INTRODUÇÃO A doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte no mundo, representando na Europa 45% de todas as mortes. (Townsend et al., 2016). Em 2016, a nível global, a doença cardíaca isquémica (DCI) e o acidente vascular cerebral foram a causa de mais de 85,0% de todas as mortes, em relação às doenças cardiovasculares (GBD, 2017). Em Portugal as doenças do coração são responsáveis por 13,7% (DCI com 7,1% e outras doenças cardíacas com 6.6%) de todas as mortes (INE, 2016). Nos últimos anos tem-se acumulado conhecimento acerca da relação entre os fatores psicossociais e a DCV, evidenciando a sua associação a comportamentos e estilos de vida adversos (ex: tabagismo, sedentarismo, maus hábitos alimentares, consumo de álcool, alterações do sono, não adesão aos planos terapêuticos recomendados, pior vigilância de saúde, entre outos). De entre estes fatores, os mais estudados são a depressão e a ansiedade, com menor ênfase da última (Pedersen, von Känel, Tully & Denollet, 2017). De entre os vários fatores psicossociais, a investigação tem demonstrado a importância das perceções de controlo (controlo percebido), sobre a doença em indivíduos com problemas cardíacos. Este conceito é entendido como a perceção dos indivíduos acerca da sua capacidade para lidar e controlar os seus problemas de saúde, bem como as suas vidas (Moser et al., 2009). Neste sentido Mardiyono, Songwathana, e Petpichetchian (2011, p. 236), definem o controlo percebido como “ (…) a crença pessoal de que o indivíduo tem controlo sobre si e capacidade para controlar eventos que constituem uma ameaça”. Elevadas perceções de controlo parecem ser favorecedoras de melhores resultados em saúde, atenuando o sofrimento emocional e possibilitando uma melhor monitorização e gestão dos seus problemas cardíacos (Gallagher & McKinley, 2009; Moser et al.,2009; Pacheco & Santos, 2014, 2015; Pacheco & Alves, 2017).


VIII Congresso Internacional ASPESM Os dados utilizados neste estudo, fazem parte do estudo original de Pacheco em 2011. Tivemos com objetivo determinar o impacto do controlo percebido no bem-estar emocional. MÉTODOS Para a concretização do estudo, foi necessário ter em conta os procedimentos éticos subjacentes a um trabalho desta natureza. Foram solicitadas as autorizações às comissões de ética das entidades onde foram recolhidos os dados. Aos participantes, foi explicado o objetivo do estudo e dada informação acerca do estudo e foi garantida a confidencialidade dos seus dados, bem como pedido o seu consentimento para aplicação do instrumento. Amostra e Contexto Estudo quantitativo, transversal, com 160 indivíduos com doença cardíaca internados. Amostra maioritariamente constituída por homens (65,0%), com uma média de idades superior a 60 anos (M= 62,17; DP= 11,79; p= 0,000), com baixa escolaridade (M= 5,54; DP= 3,73; p= 0,001), a maioria era casada (81,3%), não trabalhava (70,0%) e 50,0% já tinha história de problemas do coração anteriormente. O principal problema saúde foi o enfarte agudo do miocárdio (58,8%) e a maioria realizou tratamento médico (41,3%) e angioplastia (40,6%). Os fatores de risco identificados foram: a dislipidemia (75,0%), a HTA (69,5%), a diabetes (34.4%), o tabagismo (21.3%), o sedentarismo (55%), a ingestão de bebidas alcoólicas (44.4%) e ausência de cuidados com a alimentação (41.9%). Instrumentos Os dados foram colhidos através de um formulário. Este foi constituído, numa primeira parte por questões referentes a dados sociodemográficos e clínicos e uma segunda parte por dois instrumentos que pretendiam medir as perceções de controlo (versão portuguesa da Control Attitudes Scale Revised – CAS-R) e a sintomatologia ansiosa e depressiva (versão portuguesa da Hospital Anxiety and Depression Scale – HADS). A versão portuguesa da CAS-R é uma escala do tipo Likert de cinco pontos (varia entre um e cinco), constituída por oito questões, que pretendem avaliar o grau de perceção de controlo (controlo percebido) sentido pelos individuos em relação à sua situação de saúde. A sua pontuação varia entre oito e quarenta, sendo que quanto mais alto for este valor mais elevado é o controlo percebido sentido (Moser et al., 2009). Ainda, não existe consensos relativamente à existência de um ponto de corte no sentido de identificar os individuos com baixo e alto controlo percebido (Mckinley et al., 2012). A mesma apresentou características psicométricas aceitáveis, no seu estudo de adaptação e validação para o contexto português de Portugal (Pacheco & Santos, 2014). No presente estudo o Alpha de Cronbach obtido foi 0,65.


VIII Congresso Internacional ASPESM A versão portuguesa da HADS é constituída por 14 questões, divididas por duas subescalas (cada uma com sete itens) pontuadas numa escala do tipo Likert de quatro pontos (varia entre zero e três). Uma das subescalas pretende avaliar a ansiedade (HADS-A) e a outra a depressão (HADS-D). Em cada subescala uma pontuação inferior a 8 é indicativo de um estado psicológico normal, uma pontuação entre 8 e 10 é sugestivo da presença de ansiedade e/ou depressão e uma pontuação superior a 10 é sugestivo da presença severa destes estados psicológicos. Quando adaptada e validada para o contexto português de Portugal, obteve boas características psicométricas (Pais-Ribeiro et al., 2007). No presente estudo o Alpha de Cronbach obtido foi de 0,74 para a HADS-A e 0,71 para a HADS-D. Análise dos Dados Os dados foram analisados através do SPSS (Software Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 19. Foi utilizada a estatística descritiva, para descrever as características dos individuos estudados. Para testar o relacionamento entre o controlo percebido (CAS-R) e cada uma das variáveis sociodemográficas, clinicas e psicossociais, através da comparação de médias e correlações, foi utilizado o teste t de student para amostras independentes, a ANOVA e a correlação r de Pearson. A regressão múltipla, pelo método Stepwise, foi utilizada para explorar as variáveis relacionadas com o controlo percebido (CAS-R). As variáveis incluídas no modelo foram as que que demonstraram ser significativas com a variável dependente, o controlo percebido (CAS-R), ao nível de 5%. Nesta análise foram respeitados os pressupostos de homocedasticidade e multicolinearidade RESULTADOS As variáveis que apresentaram relação com a CAS-R (tabela1) foram: a idade (p< 0,0001), a escolaridade (p< 0,01), o género (p< 0,0001), a atividade profissional (p< 0,01), a religião (p< 0,01), a ingestão de bebidas alcoólicas (p< 0,05), a HTA (p< 0,05) e os tratamentos realizados (p< 0,05), a HADS-A (p< 0,05) e a HADS-D (p< 0,0001).


VIII Congresso Internacional ASPESM Relação entre as variáveis sociodemográficas, clínicas e psicossociais, estatisticamente significativas com a CAS-R (N= 160) Variáveis

M (DP)

r (p) / t (p) / F (p)

6,07(3,41)

-0,468 (0,000

8,40(3,90)

-0,202 (0,011 )

62,17 (11,79)

-0,338 (0,000 )

5,54 (3,73)

0,259 (0,001 )

Género Masculino (n=104) Feminino (n= 56)

28,68 (3,66) 25,76 (3,82)

4,73 (0,000 )

Atividade Profissional Sim (n=48) Não (n= 112)

29,29(3,59) 26,96(3,92)

3,52(0,001 )

Religião Sim (n=152) Não (n= 8)

27,45(3,87) 31,62(3,66)

-2,97(0,003 )

Ingere bebidas alcoólicas Não (n=89) Sim (n=71)

27,00 (3,84) 28,49 (3,97)

-2,40 (0,017 )

Hipertensão Arterial - HTA Não (n=88) Sim (n=111)

28,83 (3,92) 5,05 (3,88)

2,53 (0,012 )

27,04 (3,53) 28,76 (3,96) 26,58 (4,37)

4,61 (0,011 )

HADS-D HADS-A Idade Escolaridade

Tratamentos realizados Tratamento médico (n=66) Angioplastia (n=65) Tratamento cirúrgico (n=29)

***)

*

***

**

***

**

**

*

*

*

HADS-A: Subescala da ansiedade da Hospital Anxiety and Depression Scale HADS- D: Subescala da depressão da Hospital Anxiety and Depression Scale *** *p < 0,05; **p < 0,01: p < 0,0001

Ao agrupar-se a amostra (N=160) em alto e baixo controlo percebido, tendo como referência a mediana obtida pela CAS-R (29), os indivíduos com baixo controlo percebido (CAS-R< 29) apresentaram médias de ansiedade mais altas (M= 9,11; DP= 3,96 vs M= 7,42; DP= 3,62; p< 0,01) que os que tinham alto controlo percebido (CAS-R≥ 29), tendo-se verificado o mesmo para a depressão (M= 7,26; DP= 3,43 vs M= 4,47; DP= 2,66; p < 0,0001). Estes dados indiciam que os indivíduos com baixo controlo percebido possuem maiores níveis de ansiedade e depressão que os que possuem alto controlo percebido. A partir do método multivariado, regressão múltipla pelo método Stepwise, (tabela2) em que se procedeu ao controlo da variáveis anteriormente relacionadas com o controlo percebido,


VIII Congresso Internacional ASPESM conclui-se que as variáveis independentemente associadas ao controlo percebido foram a depressão (p= 0,000), o género (feminino) (p= 0,001), a HTA (p= 0,018) e a idade (P= 0,024). Verificando-se que a presença de sintomas depressivos, ser mulher, ter HTA e ter idade avançada, são fatores favorecedores de baixo controlo percebido. Por outro lado, verificou-se que a variável que adicionou mais variância ao controlo percebido (CAS-R), foram os sintomas depressivos com 21,9% (p< 0,0001), seguido do género com mais 4,9% (p< 0,01), depois a HTA com mais 3,2% (p< 0,01) e por último a idade com mais 2,3% (p< 0,05). O modelo de regressão final foi estatisticamente significante F (4, 155) = 18,51; p< 0,0001) e explicou 32,3% da variância total no somatório do controlo percebido (R2 Adj.= 0,306). Tabela 4 - Preditores do Controlo Percebido, baseada na regressão múltipla pelo método Stepwise (N= 160) Modelo1

Variável Depressão Género

ß a

- 0,468

b

HTA Idade

Modelo 2

p .000

ß **

Modelo p

3

Modelo p

4

ß

- 0,399

.000

** **

p

ß .000

**

- 0,329

0,000***

- 0,248

.001

**

- 0,234

0,001**

- 0,379

-

-

- 0,233

.001

-

-

-

-

- 0,179

.009**

- 0,161

0,018*

-

-

-

-

-

- 0,163

0,024*

2

2

2

2

Modelo 1: R = 0,219 (R Adj.= 0,214); F (1, 158) = 44,41; p< 0,0001; Modelo 2: R = 0,269 (R Adj.= 2

2

0,259); F (2, 157) = 28,84; p< 0,0001; Modelo 3: R = 0,300 (R Adj.= 0,287); F (3, 156) = 22,33; 2

2

p< 0,0001; Modelo 4: R = 0,323 (R Adj.= 0,306); F (4, 155) = 18,51; p <.0001 a: HADS-D; b: Mulher *p< 0,05; **p< 0,01, ***p< 0,0001

DISCUSSÃO O presente estudo, evidenciou que as mulheres, os indivíduos mais velhos, com HTA e com sintomas depressivos, são mais propensos a terem menos controlo percebido sobre a sua doença. Daí se depreende que os indivíduos com estas características são mais vulneráveis aos efeitos negativos da doença cardíaca, quer a nível físico quer a nível emocional. Por outro lado níveis de controlo percebido mais elevado, são favorecedores de níveis de sofrimento emocional mais baixos. Os fatores de sofrimento emocional mais estudados, tem sido a ansiedade a depressão, com maior enfase para esta última (Pedersen et al., 2017). Existem alguns estudos em doentes cardíacos, que concluem que o alto controlo percebido está associado a baixos níveis de ansiedade e depressão (Banerjee et al., 2014; Eastwood et al., 2012; Gallagher & McKinley,


VIII Congresso Internacional ASPESM 2009; Huang & Hwang, 2017; Mckinley et al., 2012; Moser et al., 2009; Pacheco & Santos, 2014, 2015). Além disso, altas crenças de controlo, estão relacionadas com menos complicações (Mckinley et al., 2012), melhor qualidade de vida (Banerjee et al., 2014) e melhor autocuidado (Huang & Hwang, 2017). O facto da mulher se ter evidenciado como um elo mais desfavorecido relativamente ao controlo percebido, não constitui uma surpresa, já que esta quando comparada com o congénere masculino, tem tendência a apresentar piores resultados em saúde, existindo estudos que suportam a sua tendência para uma menor perceção de controlo sobre a sua saúde e maior sofrimento emocional (Doering et al., 2011; Pacheco, Alves & Santos, 2017). Para além disso, os fatores psicossociais negativos, são também exacerbadores dos fatores de risco tradicionais (Moser et al., 2009) como por exemplo a HTA, o sedentarismo, maus hábitos alimentares e tabagismo, aumentando por isso o risco cardiovascular e contribuindo para o aparecimento mais precoce e progressão dos problemas cardiovasculares (Pacheco & Santos, 2015; Pedersen et al.,2017). A idade, tem sido descrita como um fator risco cardiovascular, já que os problemas cardiovasculares tem tendência a aumentar com o avanço desta. À medida que as pessoas vão ficando mais velhas, a probabilidade do aparecimento de problemas psicológicos é maior (Moser et al., 2010). Esta relação já foi encontrada noutros estudos, relativamente à depressão (Moser et al., 2010; Pacheco & Santos, 2015), à ansiedade e hostilidade (Moser et al., 2010). Estando as perceções de controlo negativamente associadas ao sofrimento emocional (Banerjee et al., 2014; Eastwood et al., 2012; Gallagher & McKinley, 2009; Huang & Hwang, 2017; Mckinley et al., 2012; Moser et al., 2009; Pacheco & Santos, 2014, 2015), espera-se que as pessoas com mais idade e mais prolemas psicológicos tenham menos controlo percebido e mais dificuldade de adaptação aos seus problemas de saúde. CONCLUSÃO O presente estudo permitiu identificar os fatores que estão associados a uma pior perceção controlo sobre a saúde e que podem favorecer uma pior adaptação a sua condição. Por outro lado constatou-se que os sintomas depressivos têm um peso significativo na baixa perceção de controlo, relativamente aos outros fatores encontrados. Os resultados sugerem que o controlo percebido terá um resultado benéfico na diminuição do sofrimento emocional, sendo necessário mais investigação acerca do fenómeno e desenvolvimento de intervenções que aumentem as crenças de controlo e diminuam o sofrimento emocional.


VIII Congresso Internacional ASPESM IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA A identificação de fatores que são prejudiciais à adaptação do individuos aos seus processos de saúde doença é uma peça fundamental, para que os profissionais de saúde possam desenvolver intervenções capazes de combater essas mesmas barreiras e assim maximizarem a sua intervenção junto destas pessoas, favorecendo resultados mais positivos e uma melhor qualidade de vida. Devem ser desenvolvidas intervenções favorecedoras de maior controlo percebido, com o objetivo de diminuir o sofrimento emocional e favorecer o bem-estar emocional e melhor adaptação. Os enfermeiros, pela natureza do seu trabalho, são os profissionais de saúde com uma posição privilegiada, já que cuidam do individuos em todos os ciclos do seu desenvolvimento, prevenindo a doença e promovendo a sua recuperação quando esta já está instalada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Banerjee, T., Lee, K. S., Browning, S. R., Hopenhayn, C., Westneat, S., Biddle, M. J., Arslanian-Engoren, C., Eastwood, J., Mudd, G., & Moser, D. K. (2014). Limited Association Between Perceived Control and Health-Related Quality of Life in Patients with Heart Failure. The

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Diagnósticos de enfermagem psicossociais em idosos acerca da vulnerabilidade ao HIV/Aids Greicy Kelly Gouveia Dias Bittencourt*, Francisca Leneide Gonçalves Pereira** Bárbara Maria Soares Pereira Wanderley***, Gilka Paiva Oliveira Costa****, Antonia Oliveira Silva***** *Enfermeira; Doutora em Enfermagem; Docente do Mestrado Profissional em Gerontologia da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil. E-mail: greicykel@gmail.com. Tel.: +55 83 3209-8789. **Enfermeira; Discente do Programa de Mestrado Profissional em Gerontologia. Email: leneide@live.com ***Enfermeira; Discente do Programa de Mestrado Profissional em Gerontologia. Email: barbarawanderley@yahoo.com.br ****Médica; Doutora em Medicina; Docente da Universidade Federal da Paraíba; Programa de

Mestrado

Profissional

em

Gerontologia,

João

Pessoa,

Brasil.

E-mail:

gilkapaiva@yahoo.com.br. Tel.: +55 83 3209-8789. *****

Enfermeira; Doutora em Enfermagem; Docente da Universidade Federal da Paraíba;

Programa de Mestrado Profissional em Gerontologia, João Pessoa, Brasil. E-mail: alfaleda2@gmail.com. Tel.: +55 83 3209-8789. RESUMO CONTEXTO: Mudanças no comportamento sexual de idosos, no Brasil, têm alterado o perfil epidemiológico da aids. Diagnósticos de enfermagem psicossociais de idosos acerca da vunerabilidade ao HIV/Aids demandam reflexões para planejamento de ações de promoção da saúde direcionadas às necessidades da pessoa idosa. OBJETIVO: Identificar diagnósticos de enfermagem psicossociais em idosos acerca da vunerabilidade ao HIV/Aids. METODOLOGIA: Estudo exploratório descritivo realizado com 20 idosos atendidos numa Unidade de Saúde da Família, situada num município do Nordeste brasileiro. Realizou-se entrevista semiestruturada, contemplando questões sobre conhecimento, informação, comportamentos sexuais e dados sociodemograficos. Para análise dos dados, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo temática categorial, a partir de categorias a priori, definindo um banco de termos para mapeamento cruzado com termos da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®). Os termos identificados e agrupados em


VIII Congresso Internacional ASPESM subcategorias e categorias foram utilizados na identificação dos diagnósticos de enfermagem, segundo a norma ISO 18104 e as diretrizes do Conselho Internacional de Enfermagem. RESULTADOS: Identificaram-se 09 diagnósticos de enfermagem relacionados com condições sociais e emocionais de idosos: Conhecimento em saúde, adequado, Conhecimento em saúde, prejudicado, Tristeza, Medo da morte, Expectativa da morte, conflituosa, Angústia, Capacidade para falar sobre o processo morte/morrer, presente, Serviço de comunicação, prejudicado e Comportamento de busca em saúde, prejudicado. CONCLUSÕES: Neste estudo, os diagnósticos de enfermagem subsidiam o planejamento de ações de educação em saúde e ações preventivas para idosos acerca de fatores de vulnerabilidade e de comportamentos de proteção frente ao HIV/Aids. PALAVRAS-CHAVE: Saúde do idoso; Impacto psicossocial; Síndrome da Imunodeficiência Adquirida; Processos de enfermagem. ABSTRACT BACKGROUND: Changes in the sexual behavior of the elderly, in Brazil, have changed the epidemiological of aids. Nursing diagnoses psychossociais of the elderly about vulnerability to HIV/SIDA demand reflections to plan actions to promote health directed to the needs of elderly. AIM: To identify diagnoses nursing psychosocial in elderly about vulnerability to HIV/Aids. METHODS: Descriptive exploratory study carried with 20 elderly served in the Family Health Unit, located in the city of northeast Brazil. A semi-structured was interview conducted covering questions about knowledge, information, sexual behaviors and sociodemographic data. To analyze dice, used a category thematic analysis technique, based on a priori categories, defining a bank of terms for cross-mapping using the International Classification for Nursing Practice (CIPE®). RESULTS: Identified 09 nursing diagnoses related to social and emotional conditions of the elderly: Knowledge in health, adequate, Knowledge in health, impaired, Sadness, Fear of death, Expectation of death, Conflict, Anxiety, Ability to talk about the death / Dying, Present, Communication Service, Impaired and Health-seeking behavior, impaired. CONCLUSIONS: In this study, nursing diagnoses subsidize the planning of health education actions and preventive actions for the elderly about vulnerability factors and protective behaviors against HIV/Aids. KEY WORDS: Health of the Elderly; Psychosocial Impact; Acquired Immunodeficiency Syndrome; Nursing Process.


VIII Congresso Internacional ASPESM RESUMEN CONTEXTO: Cambios en el comportamiento sexual de ancianos, en Brasil, han alterado perfil epidemiológico del sida. Diagnósticos de enfermería psicosociales de ancianos acerca de vulnerabilidad al VIH/SIDA demandan reflexiones para planificación de acciones de promoción de salud dirigidas a necesidades de persona mayor. OBJETIVO: Identificar diagnósticos de enfermería psicosociales en ancianos acerca de vulnerabilidad al VIH/SIDA. METODOLOGÍA: Estudio exploratorio descriptivo realizado con 20 ancianos atendidos en Unidad de Salud de la Familia, situada en municipio del Nordeste brasileño. Se realizó una entrevista semiestructurada, contemplando cuestiones sobre conocimiento, información, comportamientos sexuales y datos sociodemográficos. Para el análisis de datos, se utilizó la técnica de análisis de contenido temática categorial, a partir de categorías a priori, definiendo un banco de términos para mapeo cruzado con términos de la Clasificación Internacional para la Práctica de Enfermería (CIPE®). Los términos identificados y agrupados en subcategorías y categorías fueron utilizados en identificación de diagnósticos de enfermería, según la norma ISO 18104 y directrices del Consejo Internacional de Enfermería. RESULTADOS: Se identificaron 09 diagnósticos de enfermería relacionados con condiciones sociales y emocionales de ancianos: Conocimiento en salud, adecuado, Conocimiento en salud, perjudicado, Tristeza, Miedo a la muerte, Expectativa de la muerte, conflictiva, Angustia, Capacidad para hablar sobre el proceso muerte/morir, presente, Servicio de comunicación, perjudicado y Comportamiento de búsqueda en salud, perjudicado. CONCLUSIONES: En este estudio, los diagnósticos de enfermería subsidian planificación de acciones de educación en salud y acciones preventivas para ancianos acerca de factores de vulnerabilidad y de comportamientos de protección frente al VIH/SIDA. PALABRAS

CLAVES:

Salud

del

anciano;

Impacto

Psicosocial;

Síndrome

de

Inmunodeficiencia Adquirida; Proceso de Enfermería. INTRODUÇÃO O aumento da expectativa de vida, no Brasil, associado às descobertas para melhoria da atividade sexual e ao incremento de políticas para promoção do envelhecimento ativo tem demandado mudanças no estilo de vida dos idosos, sendo uma delas a prática da atividade sexual. Estudos apontam que idosos mantêm vida sexual ativa (Bittencourt et al, 2015; Bittencourt et al, 2016), no entanto, não se vêem vulneráveis às Infecções Sexualmente Transmissíveis, tendo como consequências a prática sexual desprotegida ou diagnóstico tardio de doenças como a aids. Com relação à infecção pelo HIV, dados do boletim epidemiológico da secretaria de vigilância em saúde brasileira mostram que entre os homens com mais de 60 anos, nos últimos dez


VIII Congresso Internacional ASPESM anos, houve um incremento da taxa de detecção do HIV. Entre as mulheres, verificou-se que, nos últimos dez anos, a taxa de detecção vem apresentando uma tendência de queda em quase todas as faixas etárias, exceto em mulheres com mais de 60 anos (Brasil, 2017). Assim, infere-se que as pessoas estão envelhencendo com o HIV, mediante os avanços do tratamento antiretroviral ou, ainda, estão se contaminando com o HIV em faixas etárias mais avançadas por não se considerarem vulneráveis ao HIV/Aids. O conceito de vulnerabilidade refere-se a chance de exposição das pessoas ao adoecimento como resultante de um conjunto de aspectos que se referem imediatamente ao indivíduo, contudo as chances de adoecimento se referem, também, ao contexto social e político. Compreende-se que os comportamentos geradores de oportunidade de infectar-se ou adoecer não podem ser entendidos como consequência apenas da vontade dos indivíduos, mas se vinculam ao grau de consciência que eles têm sobre efeitos decorrentes de comportamentos e do poder de transformá-los efetivamente a partir dessa consciência (Ayres, 2009). A abordagem da sexualidade na terceira idade, bem como a vulnerabilidade à infecção pelo HIV configuram um panorama de saúde que gera desafios aos profissionais durante o planejamento da assistência à saúde do idoso, devendo-se considerar os aspectos, sociais e culturais que permeiam a sexualidade do idoso. Num estudo, identificaram-se diagnósticos de enfermagem em idosos acerca da vulnerabilidade ao HIV/Aids relacionados com condições cognitivas referentes ao acesso à informação, reconhecimento da suscetibilidade e eficácia das formas de prevenção; condições comportamentais relacionadas com desejo e capacidade de modificar comportamentos que definem a suscetibilidade e condições sociais que se referem ao acesso a recursos e capacidade de adotar comportamentos de proteção (Bittencourt et al 2015). Desse modo, entende-se que a assistência de enfermagem à pessoa idosa, no contexto de vulnerabilidade ao HIV/Aids, deve ser pautada na necessidade de conhecer as transformações sucedidas no processo de envelhecimento, os aspectos culturais, sociais e emocionais que envolvem a atividade sexual, bem como aspectos subjetivos determinantes da sexualidade do idoso. Para a Enfermagem, a identificação de diagnósticos de enfermagem possibilita o levantamento de problemas comuns e necessidades de saúde desse grupo populacional. Assim, a discussão de conhecimentos e comportamentos de idosos frente ao HIV/Aids, com base nos diagnósticos de enfermagem psicossociais, gera uma avaliação de necessidades de saúde e fatores que vulnerabilizam o idoso ao HIV/Aids, visando subsidiar o planejamento de ações nos serviços de saúde. Neste contexto, este estudo objetivou identificar diagnósticos de enfermagem psicossociais em idosos acerca da vulnerabilidade ao HIV/Aids.


VIII Congresso Internacional ASPESM MÉTODOS Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado no município de João Pessoa/Paraíba/Brasil, tendo como campo de pesquisa uma Unidade Integrada de Saúde da Família. Participaram do estudo vinte idosos com condições cognitivas satisfatórias que comparecessem a unidade para atendimento de suas necessidades de saúde no decorrer da realização da pesquisa. Por se tratar de uma pesquisa que envolveeu a discussão da sexualidade da pessoa idosa, buscou-se coletar os dados em um espaço individual, reservado, visando o diálogo da pesquisadora com o idoso. Como critérios de inclusão elencaram-se os seguintes: idosos (60 anos ou mais) que apresentassem condições cognitivas para responder ao instrumento da pesquisa e que participassem do grupo de convivência de idosos da sua unidade cadastrada. Aplicou-se o Mini Mental Examination como critério de inclusão dos participantes no estudo que deveria apresentar escore que não indicasse comprometimento cognitivo, a saber: igual ou maior a 15 pontos para idosos analfabetos; igual ou maior a 22 pontos para idosos com 1 a 11 anos de escolaridade; e igual a 27 ou mais pontos para idosos com escolaridade superior a 11 anos de estudo. Neste estudo, foi considerado o escore igual ou maior que 20 pontos (Folstein, 1975). Os critérios de exclusão foram: idosos não participantes de grupo de convivência de sua unidade e escore insatisfatório no Mini Mental Examination, ou seja, inferior a 20 pontos. Para realização de entrevista, utilizou-se o instrumento de coleta de dados que apresentou as seguintes seções: Condições sociais: acesso a recursos e capacidade de adotar comportamentos de proteção ao HIV/Aids; Condições cognitivas: acesso a informação, reconhecimento da suscetibilidade e eficácia das formas de prevenção ao HIV/Aids; Condições comportamentais: desejo e capacidade de modificar comportamentos que definem a suscetibilidade ao HIV/Aids. Neste estudo, destacaram-se as questões relacionadas ao conhecimento, informação, comportamentos sexuais e dados sociodemográficos dos idosos. Os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo temática categorial (Bardin, 2010) em três etapas. Na primeira etapa, elencaram-se categorias definidas a priori com base no

conceito

de

vulnerabilidade

(Ayres,

2009):

condições

cognitivas,

condições

comportamentais e condições sociais. Na segunda etapa, elaborou-se um banco de termos para comparação com termos da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE, 2015). Na terceira etapa, identificaram-se diagnósticos de enfermagem com base na norma ISO 18104 (ISO, 2003) e nas diretrizes do Conselho Internacional de Enfermagem (CIE, 2013) que determinam que para elaboração de um diagnóstico de enfermagem é preciso apresentar um foco e um julgamento que serão o cerne da prática de enfermagem para planejamento de ações de enfermagem.


VIII Congresso Internacional ASPESM Solicitou-se, aos participantes do estudo, a anuência de sua participação por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em que se explanou os objetivos do estudo. Este estudo vincula-se ao projeto de pesquisa “Políticas, práticas e tecnologias inovadoras para o cuidado na atenção à saúde da pessoa idosa” que foi avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba em observância aos princípios éticos que envolvem pesquisas com seres humanos da resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 2012), recebendo parecer favorável. RESULTADOS Participaram do estudo 20 idosos, sendo a faixa etária de maior incidência a de 60 a 65 anos, 45% (9). Em relação ao gênero, 55% (11) foram do sexo feminino e em relação à situação conjugal, 55% (11) eram casados, conforme mostra a Tabela 1. Tabela 1 - Caracterização dos participantes do estudo segundo faixa etária, sexo e situação conjugal, João Pessoa, 2017. Faixa Etária Sexo Situação Conjugal 60 - 65 anos 9 45% Feminino 11 55% Solteiro (a) 1 5% 66 - 70 anos 6 30% Masculino 9 45% Casado (a) 11 55% 71 - 75 anos 3 15% Divorciado (a) 3 15% 76 - 80 anos 1 5% União Estável 1 5% 81 - 85 anos 1 5% Viúvo (a) 4 20% Total 2009 diagnósticos 100% Total 20 100% Total com condições 20 100% Identificaram-se de enfermagem relacionados cognitivas,

sociais e emocionais de idosos. Dentre eles, 05 diagnósticos estão relacionados com aspectos emocionais e sociais acerca da vulnerabilidade ao HIV/Aids. São eles: Angústia, Tristeza, Medo da morte, Expectativa de vida, conflituosa, Capacidade para falar sobre o processo de morrer, presente. A definição e relação entre esses diagnósticos são apresentadas na Figura 1.


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Figura 1 – Diagnósticos de enfermagem psicossociais identificados em idosos acerca da vulnerabilidade ao HIV/Aids. Fonte: CIPE, 2015. Identificaram-se 04 diagnósticos de enfermagem relacionados com condições cognitivas e comportamentais acerca da vulnerabilidade de idosos ao HIV/Aids. Foram eles: Conhecimento em saúde, adequado, Conhecimento em saúde, prejudicado, Comportamento de busca em saúde, prejudicado, Serviço de comunicação, prejudicado. A definição e relação entre esses diagnósticos são apresentadas na Figura 2.

Figura 2 – Diagnósticos de enfermagem psicossociais identificados em idosos acerca da vulnerabilidade ao HIV/Aids. Fonte: CIPE, 2015.


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DISCUSSÃO A aids ainda é vista como uma doença sem expectativa de vida. Os diagnósticos de enfermagem, neste estudo, revelam sentimentos negativos como medo da morte, preconceito, sofrimento, tristeza e dor como aspectos sociais comprometedores de uma conduta moral. Um estudo aponta que idosos idealizam o HIV/Aids como uma doença grave e incurável e associam o medo da morte e a desesperança decorrentes de uma infecção que pode ser prevenida mediante a adoção de comportamentos de proteção eficazes (Santana et al, 2015). O medo da morte revela sentimentos de perigo ou angústia (CIPE, 2015) relacionados a causa conhecida ou desconhecida em relação ao conceito sobre o HIV/Aids, mesmo diante de avanços no tratamento da doença. Existe uma associação ao sofrimento, à cronicidade e à ideia de uma doença que leva a morte, identificando-se a angústia, que remete a uma emoção negativa, identificada nos idosos, que consideram o diagnóstico de aids uma condição de morte iminente. Com relação ao diagnóstico de enfermagem capacidade para falar sobre o processo morte/morrer, presente, os idosos compreendem e verbalizam que a aids é uma doença que leva à morte. Contudo, o diagnóstico de enfermagem serviço de comunicação, prejudicado, mostra que, os serviços de comunicação aos quais os idosos deste estudo têm acesso, são pouco acessíveis, tendo em vista que os serviços de saúde não focam em dialogar com este público sobre informações com relação à sexualidade e ao HIV/Aids. Assim, ocorrem impedimentos ou bloqueios para trocar pensamentos, mensagens ou informação entre o profissional de saúde e o idoso frente à vulnerabilidade ao HIV/Aids, em consequência da não escassez de espaços de discussão sobre sexualidade do idoso nos serviços de saúde. Observa-se que, mesmo havendo um conhecimento de saúde adequado, há uma concepção de morte quando se pensa em HIV/Aids, mostrando sentimentos negativos de idosos frente ao HIV/Aids. Os idosos idealizam o HIV/Aids como uma doença grave e incurável e associam o medo da morte e a desesperança decorrentes de uma infecção que pode ser prevenida mediante a adoção de comportamentos de proteção eficazes As informações que os idosos têm a respeito do HIV/Aids se dão pelas conversas com outras pessoas e pelos meios de comunicação tais como cartaz, TV, rádio, reportagem e família. Desse modo, identificou-se o diagnóstico de enfermagem comportamento de busca em saúde, prejudicado, acreditando-se que essas informações poderiam ser veiculadas pelos serviços de saúde no momento em que o idoso tem acesso. Salienta-se também que o prejuízo na busca de informações pode ser influenciado pelo baixo nível de escolaridade.


VIII Congresso Internacional ASPESM Estudos apontam que o conhecimento de idosos sobre a infecção pelo HIV/Aids, em relação à forma de transmissão e outras questões que envolvem a aids, não ocorre de forma eficaz, sendo o analfabetismo uma das principais causas desta população ser vulnerável. Existe estreita correlação entre os indicadores socioeconômicos desfavoráveis e o aumento da incidência do HIV/Aids (Garcia et al 2012; Okuno et al 2012). Neste estudo, os idosos compreendem formas de transmissão do HIV, acreditam numa doença comum em jovens, profissionais do sexo, homossexuais e usuários de drogas. Os idosos não se vêem vulneráveis ao HIV. Há, entre eles, conhecimento sobre o uso do preservativo como forma de prevenção eficaz, no entanto, não usam durante as relações sexuais. Aponta-se que os principais motivos da não utilização do preservativo pelos idosos são crença na fidelidade do parceiro, insegurança do desempenho sexual e despreocupação com controle de natalidade (Alencar, Ciosak, 2014). Os diagnósticos de enfermagem revelam uma concepção estigmatizada entre idosos quanto ao HIV/Aids. Estudos apontam que a sexualidade está presente em idosos. Salientam que a prevenção do HIV/Aids, em idosos, deve ser feita com base na desconstrução de imagens estereotipadas da doença no início da epidemia, bem como em fatores específicos da população idosa, como dificuldade de mudança de hábitos e incorporação de novas formas de lidar com a sexualidade (Lima, Freitas, 2015; Meira et al, 2015).

CONCLUSÃO Os diagnósticos de enfermagem psicossociais demostram que a assistência à pessoa idosa, no contexto de vulnerabilidade ao HIV/Aids, deve ser pautada na necessidade de conhecer aspectos culturais que envolvem a sexualidade do idoso. Entende-se que é necessário avaliar conhecimentos de idosos sobre formas de transmissão e prevenção ao HIV, visando o planejamento de ações de educação em saúde e ações preventivas específicas. Acredita-se, portanto, na necessidade de espaços de discussão sobre sexualidade de idosos nos serviços de saúde. Entende-se que é preciso planejar ações de saúde dirigidas às demandas sexuais de idosos, visto que a sexualidade é uma condição de bem-estar e de qualidade de vida. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLINICA Os diagnósticos de enfermagem psicossociais, identifcados neste estudo, permitem o registro sistematizado das necessidades de saúde do idoso acerca da vulnerabilidade ao HIV/Aids, sendo possível contemplá-las no planejamento da assistência de enfermagem. Sugere-se o planejamento de ações de saúde voltadas à pessoa idosa, com ações educativas sobre o HIV/Aids, ponderando elementos culturais, sociais e emocionais da pessoa idosa com


VIII Congresso Internacional ASPESM relação à sua sexualidade. Além disso, enfatiza-se a importância de capacitações de profissionais de saúde no contexto de vulnerabilidades do idoso ao HIV/Aids. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alencar RA, Ciosak SI. O diagnóstico tardio e as vulnerabilidades dos idosos vivendo com HIV/aids. Rev Esc Enferm USP. 2014; 49(2):229-235. Ayres, JRCM. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, Freitas CM, (Editores). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2009. p. 121-143. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. 2010. Bittencourt GKGD, Ferreira KSC, Meira LCS, Santos MCF, Silva AO. Conceptions of elderly people about the vulnerability to HIV/Aids. RIASE Online 2016.2(1): 407-420. Bittencourt GKGD, Moreira MASP, Meira LCS, Nobrega MML, Nogueira JA, Silva AO. Beliefs of older adults about their vulnerability to HIV/Aids, for the construction of nursing diagnoses. Rev Bras Enferm.2015; 68(4):579-85. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico - Aids e IST. Brasília, 2017. Brasil. Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde. Normas de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, 2012. Res. CNS 466/2012. CIE - Conselho Internacional de Enfermeiras. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem. Beta 2. 2ª edição. Lisboa: Associação Portuguesa de Enfermeiros; 2013. 136 p. Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®): Versão 2015. Organizadora, Telma Ribeiro Garcia. Porto Alegre: Artmed, 2016. Folstein, MF et al. Mini Mental State: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. J Psychiatr Res. 1975;12(1):189-98. Garcia GS, et al. Vulnerabilidade dos idosos frente ao HIV/Aids: tendências da produção científica atual no Brasil. DST - J Brás Doenças Sex Transm.2012;24(3):183-188. International Organization for Standardization. ISO 18.104:2014. Health informatics: ISO/FDIS 18104:2003 – Internacional Organnization for Standardization Health Informatics: integration of a reference terminology model for nursing. Geneva: ISO; 2003. Meira LC, Morais KL, Nogueira JA, Silva AO, Bittencourt GKGD. Conhecimento de idosos sobre vulnerabilidades ao HIV/Aids: uma revisão integrativa da literatura. J. res.: fundam. Care. Online 2015. 7(supl.):96-104. Okuno MFP; Fram DS; Batista REA; Barbosa DA; Belasco AGS. Conhecimento e atitudes sobre sexualidade em idosos portadores de HIV/AIDS. Acta Paul Enferm. 2012;25(1): 115-21.


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Efetividade das técnicas de Estimulação Cognitiva em pessoas com doença mental em fase aguda: uma revisão Vanessa Silva* & Paulo Seabra** *Mestranda em Enfermagem com Especialização em Saúde Mental e Psiquiátrica na Universidade Católica Portuguesa; Enfermeira na Unidade de Cuidados Continuados Integrados ASFE Saúde; 2560-229 São Pedro da Cadeira, Torres Vedras, Portugal. E-mail: vanessahqsilva@hotmail.com **Doutor em Enfermagem; Professor Auxiliar Convidado do Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Católica Portuguesa; Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde (CIIS). UCP, Palma de Cima 1649-023 Lisboa, Portugal. E-mail: pauloseabra@ics.lisboa.ucp.pt RESUMO CONTEXTO: A Estimulação Cognitiva engloba um conjunto de técnicas que procuram a estimulação, a compensação e a promoção de competências neurocognitivas. A sua aplicação em pessoas com doença mental em fase estável está comprovada, mas a sua efetividade em pessoas com doença mental em fase aguda parece ser pouco estudada e discutida. OBJETIVO: Identificar o resultado das técnicas de estimulação cognitiva em pessoas com doença mental internadas em unidades hospitalares psiquiátricas. MÉTODOS: Desenvolveu-se uma revisão integrativa da literatura, cujos critérios de inclusão (avaliação da efetividade de programas de estimulação cognitiva, com pessoas com doença mental em fase aguda, internadas em unidades hospitalares psiquiátricas e com idade igual ou superior a 18 anos; pelo menos um enfermeiro entre os intervenientes no estudo) guiaram uma pesquisa em bases de dados internacionais, resultando na seleção de apenas 1 artigo alvo de análise pormenorizada. RESULTADOS: Um estudo americano de 2015 reflete a aplicação de técnicas de Remediação Cognitiva numa amostra de 78 pessoas com Esquizofrenia ou Perturbação Esquizoafetiva, internadas num serviço hospitalar de psiquiatria. Após se cumprirem as 50 horas do programa desenhado (três sessões semanais de 1 hora, com exercícios de drill-andpractice em suporte informático e strategy coaching), os utentes revelaram melhorias efetivas ao nível da atenção, da memória de trabalho, da aprendizagem verbal e do funcionamento cognitivo. CONCLUSÕES: As técnicas de estimulação cognitiva podem ser um recurso para a recuperação e estabilização das pessoas internadas nas unidades psiquiátricas. Investigação


VIII Congresso Internacional ASPESM futura permitirá validar e reforçar a importância da realização destas técnicas nesta população. Palavras-chave: estimulação cognitiva; doença mental; fase aguda; efetividade. Efectividad de las técnicas de Estimulación Cognitiva en personas con enfermedad mental en fase aguda: una revisión RESUMEN CONTEXTO: La Estimulación Cognitiva engloba un conjunto de técnicas que buscan la estimulación, la compensación y la promoción de competencias neurocognitivas. Su aplicación en personas con enfermedad mental en fase estable está comprobada, pero su efectividad en personas con enfermedad mental en fase aguda parece ser poco estudiada y discutida. OBJETIVO(S): Identificar el resultado de las técnicas de estimulación cognitiva en personas con enfermedad mental internadas en unidades hospitalarias psiquiátricas. METODOLOGÍA: Se desarrolló una revisión integrativa de la literatura, cuyos criterios de inclusión (evaluación de la efectividad de programas de estimulación cognitiva, con personas con enfermedad mental en fase aguda, internadas en unidades hospitalarias psiquiátricas y con edad igual o superior a 18 años; por lo menos uno enfermero entre los participantes en el estudio) guiaron una investigación en bases de datos internacionales, resultando en la selección de apenas 1 artículo objetivo de análisis detallado. RESULTADOS: Un estudio estadounidense de 2015 refleja la aplicación de técnicas de Remediación Cognitiva en una muestra de 78 personas con esquizofrenia o trastorno esquizoafectivo, internadas en un servicio hospitalario de psiquiatría. Después de cumplir las 50 horas del programa diseñado (tres sesiones semanales de 1 hora, con ejercicios de drilland-practice en soporte informático y strategy coaching), los usuarios revelaron mejoras efectivas al nivel de la atención, de la memoria de trabajo, del aprendizaje verbal y del funcionamiento cognitivo. CONCLUSIONES: Las técnicas de estimulación cognitiva pueden ser un recurso para la recuperación y estabilización de las personas internadas en las unidades psiquiátricas. La investigación futura permitirá validar y reforzar la importancia de la realización de estas técnicas en esta población. Palabras Clave: estimulación cognitiva; enfermedad mental; fase aguda; efectividad. Effectiveness of Cognitive Stimulation techniques in people with acute mental illness: a review


VIII Congresso Internacional ASPESM ABSTRACT BACKGROUND: Cognitive Stimulation covers a set of techniques that seek to stimulate, compensate and promote neurocognitive competencies. Its application in people with stable mental illness has been proven, but its effectiveness in people with acute mental illness seems to be little studied and discussed. AIM: To identify the results of cognitive stimulation techniques in people with mental illness hospitalized in psychiatric hospitals. METHODS: An integrative review of the literature was developed, whose inclusion criteria (evaluation of the effectiveness of cognitive stimulation programs, with people with acute mental illness, hospitalized in psychiatric hospital units and aged 18 years and over; at least one nurse among the study participants) guided a survey in international databases, resulting in the selection of only 1 article for detailed analysis. RESULTS: An american study of 2015 reflects the application of Cognitive Remediation techniques in a sample of 78 people with Schizophrenia or Schizoaffective Disorder hospitalized in a hospital psychiatric service. After completing the 50 hours of the designed program (three weekly sessions of 1 hour with drill-and-practice exercises in computer support and strategy coaching), the users revealed effective improvements in attention, work memory, learning verbal and cognitive functioning. CONCLUSIONS: The techniques of cognitive stimulation can be a resource for the recovery and stabilization of the people hospitalized in the psychiatric units. Future research will validate and reinforce the importance of performing these techniques in this population. Keywords: cognitive stimulation; mental disease; acute phase; effectiveness. INTRODUÇÃO A promoção da saúde mental implica a concretização de condições que promovam o bemestar psicológico dos indivíduos e suas comunidades e deve procurar focar principalmente o desenvolvimento de competências como a autonomia, adaptabilidade e as competências sociais (Sequeira e Sá, 2010). A doença mental, por sua vez, provoca frequentemente défices cognitivos, sendo tal visível na pessoa com Esquizofrenia (Monteiro e Louza, 2007; Zipursky & Schulz, 2003), com Perturbação Afetiva Bipolar (Figueira, Sampaio e Afonso, 2014) e com Perturbação Depressiva Major (Matos, Mourão e Coelho, 2016), contribuindo para uma diminuição da capacidade da pessoa se manter autónoma no seu quotidiano. É defendido por inúmeros estudos que o tratamento farmacológico deve ser acompanhado por um tratamento não farmacológico que vise a melhoria funcional e a minimização dos efeitos da doença mental nas relações sociais e na qualidade de vida da pessoa (Monteiro e Louza, 2007; Tonelli, Liboni & Cavicchioli, 2013). É neste contexto que a equipa de saúde, incluindo o enfermeiro especialista em enfermagem de saúde mental e psiquiátrica (EESMP),


VIII Congresso Internacional ASPESM deve procurar evitar o agravamento da situação de doença mental da pessoa e promover a sua recuperação e o aumento da sua qualidade de vida, cabendo-lhe o papel de promover a adaptação das respostas humanas desajustadas, no contexto da transição pelo qual a pessoa está a passar, e a diminuição do seu sofrimento (com impacto no próprio e na sua família) (Regulamento n.º 129/2011, sobre as Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental).). É com este princípio que cada vez mais se assiste a uma crescente criação e prática de novas e/ou renovadas técnicas (psico)terapêuticas, baseadas nas premissas de que o cérebro tem uma capacidade neuroplástica que permite a regeneração neuronal (Marques, Queirós e Rocha, 2006; Santos, 2015) e de que a sua reserva cognitiva permite a otimização de uma determinada função cognitiva pela adaptação de regiões cerebrais às novas necessidades (Pinho, 2012). A cognição, definida como o conjunto de funções mentais utilizadas para processar a informação e o conhecimento (Matimba, 2014), recorre ao sistema percetivo-cognitivo que envolve a linguagem, a memória, o pensamento, o raciocínio, a resolução de problemas, a atenção e as funções executivas (Marques et al., 2006). Se existir algum tipo de dano psiconeurofisiológico, a pessoa perde uma ou mais funções cognitivas, comprometendo desde modo todo o processo cognitivo. É nestes casos que surge a Estimulação Cognitiva (EC), enquanto promotora da estimulação, da compensação e da promoção de competências neurocognitivas (Marques et al., 2006). Alguns estudos têm procurado quantificar os resultados obtidos pelas técnicas de Estimulação Cognitiva e pelas terapias que englobam estas técnicas (como a Remediação Cognitiva e a Reabilitação Cognitiva) (Bowie, Grossman, Gupta, Oyewumi & Harney, 2013; Vita et al., 2011), procurando-se avaliar a sua eficácia, eficiência e/ou efetividade. Após uma revisão teórica sobre as técnicas de estimulação cognitiva realizadas com pessoas com doença mental e sobre os seus resultados, apuramos que se encontra pouco explícita a efetividade destas técnicas em pessoas com doença mental em fase aguda. Apesar de existirem alguns estudos que avaliam a eficácia e efetividade da estimulação cognitiva (da remediação cognitiva e da reabilitação cognitiva, contendo técnicas de estimulação cognitiva), o contexto onde ocorrem envolve pessoas com doença mental estabilizada e/ou em ambiente comunitário, pelo que aparentemente existem poucos estudos sobre a avaliação dos efeitos da EC em pessoas internadas em contexto hospitalar psiquiátrico por doença mental em fase aguda (primeiro episódio ou agudizada). Foi neste contexto que nos começámos a interrogar: estará estudada a atuação da EC neste grupo alvo? Estarão descritos estes resultados? Qual o papel do enfermeiro na realização da EC? Foi com base neste questionamento que se desenvolveu esta revisão integrativa da literatura (RIL) com o devido protocolo de pesquisa.


VIII Congresso Internacional ASPESM MÉTODOS Enquanto pesquisa direcionada para a discussão de estudos quantitativos e de âmbito experimental/não observacional, esta RIL assenta na questão de investigação: Qual a efetividade das técnicas de Estimulação Cognitiva, realizadas por enfermeiros, em pessoas com doença mental em fase aguda? Tendo em vista a resposta a esta questão, definiram-se os seguintes objetivos: (1) compreender qual a efetividade da aplicação de técnicas de EC em pessoas com doença mental em fase aguda, quantificando os estudos realizados em contexto de internamento hospital psiquiátrico e (2) identificar quantos estudos existem, realizados com os objetivos desenhados para esta revisão, com intervenientes enfermeiros e qual a sua atuação. Após validação no MeSH e/ou no DeCS, foram definidos como termos de pesquisa (descritores e semelhantes) para todas as bases de dados consultadas (a) cognitive stimulation, ou cognitive rehabilitation, ou cognitive remediation (identificáveis no título e/ou resumo), (b) mental disorders ou mental illness (identificáveis no texto integral), (c) effectiveness ou efficacy ou effective (identificáveis no resumo) e (d) nurs* (englobando palavras como nurse e nursing, identificáveis no texto integral). Como critérios de inclusão definiram-se (1) estudos que avaliaram a eficácia, eficiência e/ou efetividade de programas de intervenções de estimulação cognitiva, (2) estudos cuja amostra incluiu pessoas com doença mental em fase aguda (primeiro episódio ou doença crónica agudizada) e internadas em contexto hospitalar psiquiátrico, e com idade igual ou superior a 18 anos, (3) estudos/intervenções onde pelo menos um dos intervenientes é enfermeiro, (4) artigos em língua portuguesa, espanhola e inglesa, (5) artigos com data de publicação entre 2006 e 2017 (pela perceção da pouca existência de estudos), (6) artigos com texto integral disponível e acesso gratuito. Como critérios de exclusão definiram-se (1) estudos cuja população-alvo eram pessoas com doença mental em fase estável e/ou pessoas a serem cuidadas em regime de ambulatório, residências e/ou unidades de evolução prolongada, (2) pessoas com alguma forma de demência (como Doença de Alzheimer ou Demência do Lobo Frontal ou Parkinson/Corpos de Lewy), (3) pessoas com alterações neurológicas, incluindo alterações neurodegenerativas, traumáticas e de desenvolvimento, (4) pessoas aditas em substâncias

(como

o

álcool

ou

outras

substâncias

aditas),

(5)

pessoas

com

doenças/alterações do comportamento alimentar (como a anorexia nervosa ou a bulimia), (6) estudos onde seja avaliada a efetividade da terapia cognitivo-comportamental, (7) estudos de revisão da literatura ou de revisão sistemática/integrativa da literatura. Após estes passos, a pesquisa foi realizada nas bases de dados eletrónicas EBSCO, Pubmed, Scielo e B-ON, entre os dias 23 e 25 de junho de 2017. Com a colocação dos termos de pesquisa nas bases de dados e a definição das restrições/limitações temporal e de linguagem, identificaram-se um total de 55 artigos. Após


VIII Congresso Internacional ASPESM uma leitura pelas suas referências bibliográficas, foram selecionados outros 18 artigos científicos e adicionados ao grupo para triagem e inclusão na RIL. Com 73 artigos identificados, iniciou-se o processo de elegibilidade dos mesmos, através da leitura do título, do resumo e, por fim, do texto integral, e confrontando-os com os critérios de inclusão e de exclusão. Dos 73 artigos identificados, 6 eram repetidos e 37 foram excluídos após leitura do título por não refletirem o objeto desta RIL. Após a leitura do resumo dos artigos incluídos, excluíram-se 9 por se tratarem de estudos onde se avaliava a efetividade da aplicação da terapia cognitivo-comportamental. De seguida, foram lidos os textos integrais dos 21 artigos selecionados, e, daí, excluíram-se 20 artigos por não respeitarem alguns dos critérios de inclusão e por se enquadrarem em alguns dos critérios de exclusão definidos no protocolo de pesquisa: 7 artigos referiam-se a revisões da literatura (4 eram revisões sistemáticas e 3 eram meta-análises, sendo todos referentes a pessoas com doença mental em fase estável); dos outros 14 estudos, 11 estudos são referentes a pessoas com esquizofrenia e 3 são sobre pessoas com doença bipolar. Dos 11 estudos referentes à pessoa com esquizofrenia, foram excluídos 10 por incluírem na sua amostra pessoas com idade inferior a 18 anos (n=1) e por avaliarem a efetividade da EC em pessoas com doença mental em fase estável (n=9), ficando apenas um artigo para caracterização e discussão no estudo. Dos 3 estudos referentes à pessoa com doença bipolar, os 3 foram excluídos por se referirem, igualmente, a pessoas com doença mental em fase estável. Num total, foram excluídos 20 artigos e apenas incluído 1 artigo na revisão sistemática da literatura. RESULTADOS Foi analisado um estudo, de natureza quantitativa e experimental em que se avaliou os resultados de um programa de remediação cognitiva (tabela 1). Tabela 1 - Resultados da caracterização do estudo selecionado Autor, Ano, País

Ahmed, A. et al., 2015, EUA 78 pessoas com diagnóstico de esquizofrenia ou perturbação esquizoafetiva, hospitalizadas no serviço de psiquiatria de agudos ou no

Contexto e amostra

serviço de psiquiatria forense. 42 fizeram parte do study group e 36 foram incluídas no control group. Avaliar os resultados da remediação cognitiva na neurocognição e nos

Objetivos

sintomas psicóticos (objetivos principais) e na capacidade funcional e na agressividade (objetivos secundários).

Intervenção

(com

frequência do treino)

Programa de 50 horas, 3 sessões semanais de 60 minutos (50 minutos para as atividades cognitivas em computador [drill-and-practice] e 10 minutos para a discussão final [strategy coaching]), 20 semanas.


VIII Congresso Internacional ASPESM Para as sessões em computador, cada pessoa do grupo em estudo tinha um computador para si, onde realizavam exercícios do programa informático Brain HQ; durante a mesma frequência e tempo, o grupo de controlo

realizava

exercícios

menos

específicos

também

em

computador. » Neurocognition: Wechsler Abbreviated Scale of Intelligence Second Edition (WASI-II); MATRICS Consensus Cognitive battery (MCCB); Avaliação dos resultados (escalas)

» Clinical status: Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS); Overt Aggression Scale (OAS); » Psychosocial status: UCSD Performance-Based Skills Assessment (UPSA); Maryland Assessment of Recovery in Severe Mental Illness (MARS). - Neurocognição: Resultados positivos ao nível da atenção, memória de

Resultados

trabalho, aprendizagem verbal e funcionamento cognitivo; - Sintomas psicóticos: Diminuição dos sintomas negativos da esquizofrenia, sem alterações nos sintomas positivos.

DISCUSSÃO Encontrou-se um único artigo de um estudo sobre as pessoas com esquizofrenia em contexto de internamento hospitalar psiquiátrico. Os resultados apresentados são bastante reveladores da potencialidade da aplicação da estimulação da cognição em ambientes hospitalares psiquiátricos de intervenção na crise. O estudo aqui discutido refere que a remediação cognitiva, enquanto intervenção comportamental, produz avanços positivos na neurocognição das pessoas com esquizofrenia, assim como na sua função psicossocial, quando combinada com outras intervenções de reabilitação. Sendo que as técnicas de remediação cognitiva incluem exercícios de estimulação cognitiva (Wykes & Spaulding, 2011), será utilizado, nesta discussão, o termo remediação cognitiva com o objetivo da estimulação das capacidades cognitivas, na medida em que as técnicas de estimulação cognitiva (de um modo semelhante às de remediação cognitiva) procuram potenciar determinadas áreas da cognição, podendo ser implementados em grupo ou de forma individual, habitualmente realizados num determinado período de tempo, procurando determinados objetivos, com a meta máxima de capacitar as pessoas (e as suas famílias) a viverem com as alterações cognitivas, dotando-as de informação e estratégias, para que sejam capazes de melhorar o seu quotidiano (Alves, 2015). Segundo este estudo, o grupo que realizou os exercícios direcionados para a estimulação das capacidades cognitivas demonstrou grandes melhorias, todas elas com significância estatística (p ˂ 0.05) em comparação com o grupo de controlo, ao nível da atenção (p = 0.021), da memória de trabalho (p = 0.035), da aprendizagem verbal (p = 0.024) e do funcionamento


VIII Congresso Internacional ASPESM cognitivo (p = 0.037). Com efeito, vários são os autores (Matimba, 2014; Monteiro e Louza, 2007) que revelam que a pessoa com esquizofrenia pode apresentar défices ao nível da atenção, do funcionamento executivo e de velocidade psicomotora, da memória de trabalho, da aprendizagem verbal e das funções executivas, pelo que a aquisição de melhorias nestes campos pode promover a capacidade de resolução de problemas, de planeamento e de organização (Zipursky & Schulz, 2003). O nível de educação dos participantes, de acordo com as evidências descobertas por este estudo, não foi preditivo de qualquer resultado neurocognitivo positivo, pelo que foi removido do modelo das multivariáveis que definem o estudo. Tal achado difere de algumas premissas até hoje defendidas, uma vez que outros autores (Castro, 2011; Santos, 2015) defendem que os recursos cognitivos dependem, em grande escala, do nível educacional que a pessoa possui, surgindo como um fator protetor: as pessoas com um nível de escolaridade mais baixo têm menos recursos cognitivos comparando com aquelas que frequentaram o ensino durante mais tempo, acrescendo ainda que uma maior escolaridade poderá corresponder a capacidades cognitivas mais elevadas e elaboradas, tornando, deste modo, mais desafiante a otimização e operacionalização das técnicas de EC. Não sendo o objetivo deste artigo, pareceu-nos importante não deixar passar que também os sintomas negativos das pessoas com esquizofrenia foram significativamente reduzidos (p=0.031), não se observando, em contrapartida, alterações ao nível dos sintomas positivos. É sugerido pelos investigadores que as alterações neurocognitivas podem contribuir para a fenomenologia dos sintomas negativos na esquizofrenia. Esta hipótese levanta algumas questões quando comparada com outros estudos: Ahmed et al. (2015), no estudo aqui analisado, revelam que as intervenções de remediação/estimulação cognitiva promoveram uma melhoria nos sintomas negativos, situação corroborada por autores referidos pelos mesmos investigadores; no entanto, segundo a opinião de Sharma e Antonova (2003), os sintomas negativos estão associados a um menor benefício das intervenções de estimulação cognitiva. Esta ambiguidade precisa ser mais explícita, por outros estudos e investigações, que não aqueles que se tratam nesta revisão. Todo o desenvolvimento do estudo aqui analisado aconteceu tendo por base a premissa da “aprendizagem sem erros”, fazendo com que cada participante começasse por um exercício considerado mais fácil e apenas avançasse para o seguinte quando o anterior fosse concluído com sucesso, tendo como objetivo (segundo os autores) a redução da possibilidade de serem realizados erros. Tal prática é corroborada por autores que estudaram que uma “combinação de aprendizagem procedimental e sem erros, reforço dirigido e prática massiva, parecem facilitar a flexibilidade cognitiva e a memória dos doentes com esquizofrenia” (Zipursky & Schulz, 2003, p. 195).


VIII Congresso Internacional ASPESM Cada exercício estava inserido no programa informático Brain IQ. Este meio interativo, escolhido pelos investigadores, é uma fusão entre dois outros programas e inclui atividades que treinam o processamento sensorial e auditivo e a memória e processamento visual (incluindo a atenção dividida, a velocidade de processamento e a memória visual). Estas atividades, também chamadas de drill-and-practice, por incluírem repetições e o aumento da dificuldade entre cada nível de cada exercício, têm evidenciado ser estimuladoras da melhoria das capacidades cognitivas. Para além desta prática (de 50 minutos), estes autores realizaram igualmente (durante 10 minutos) a prática da discussão entre pares, com vista à reflexão entre a ligação entre as atividades treinadas e as habilidades cognitivas e, daí, a transposição para atividades do quotidiano, para interesses pessoais, para interações sociais e para objetivos futuros e de vida (strategy coaching). A fusão destas duas práticas foi fomentada pelos autores, pela evidência que a drill-and-practice apresenta melhores resultados ao nível do funcionamento cognitivo, enquanto que o strategy coaching surge como mais benéfico na melhoria das capacidades funcionais. No entanto, com uma ideia contrária foi consultada uma meta-análise (McGurk, Twamley, Sitzer, McHugo & Mueser, 2007) realizada a estudos sobre a remediação cognitiva em pessoas com esquizofrenia (numa fase estável/crónica da doença) que evidencia que no domínio da aprendizagem verbal e memória verbal existe um maior effect size associado aos exercícios de drill-and-practice em comparação com os exercícios que unem o drill-and-practice com o strategy coaching. Num outro domínio, o da memória visual, consultou-se um estudo (Tan & Liu, 2016) que revela haver ganhos superiores para as pessoas que realizaram remediação cognitiva via computador, em comparação com o grupo que realizou sem computador. E ainda o mesmo estudo revela que no domínio da velocidade de processamento, é com as técnicas que não recorrem ao uso de computador que se mostram melhores resultados. Entre todos os estudos analisados, apenas um cumpre o critério de inclusão que se referia à presença de pelo menos um enfermeiro como interveniente: precisamente o artigo que temos vindo a analisar (Ahmed et al., 2015). Apesar de fazerem referência a um enfermeiro, a natureza da sua atuação não é explorada. Talvez por ser um estudo realizado por diferentes classes profissionais, não tenha sido opção dos autores especificar o papel de cada profissional. No entanto, não deixa de ser pertinente pensar que o enfermeiro tem pouca visibilidade nos estudos sobre esta temática. Enquanto fator de inclusão desta revisão, pretendia-se perceber qual a participação e a importância do enfermeiro como mediador da aquisição de competências cognitivas por parte das pessoas com esquizofrenia, e tal mostrouse impossível por falta de dados. Sobre a relevância desta revisão e o contexto estudado, verificamos a inexistência de estudos com pessoas com outras doenças que não a Esquizofrenia, como a Perturbação Bipolar


VIII Congresso Internacional ASPESM Afetiva (encontrados 4 artigos, e nenhum deles referente à fase aguda da doença) ou a Perturbação Depressiva Major (nenhum estudo foi encontrado sobre esta doença), o que impede a validação das intervenções para a população dos serviços de psiquiatria hospitalar. De um modo semelhante, consideramos difícil a validação da importância da aplicação das técnicas estimulativas numa fase de crise. Corroborando esta afirmação, surgem autores (Monteiro e Louza, 2007) que declaram que grande parte dos estudos realizados sobre esta questão têm como amostra pacientes crónicos, isto é, pessoas com maior grau de prejuízo cognitivo, pelo que a estimulação cognitiva poderá alcançar mais ganhos se aplicada em pessoas menos prejudicadas, como no internamento pelo primeiro episódio psicótico ou como intervenção precoce junto da população de alto risco. CONCLUSÃO A aplicação de técnicas de EC em pessoas a experienciarem uma fase aguda da sua doença mental continua a ser um vasto campo por explorar, com inúmeras possibilidades, mas também dificuldades. O desenvolvimento de programas e intervenções para elas direcionadas é o primeiro passo. A promoção de melhorias na área da atenção, da memória de trabalho e do funcionamento cognitivo, assim como noutros domínios como as funções executivas e a aprendizagem, são apostas a considerar com seriedade na promoção da autonomia e da qualidade de vida das pessoas com doença mental. No artigo revisto, o enfoque foi dado à pessoa com esquizofrenia, internada em contexto psiquiátrico hospitalar, cujas competências cognitivas foram estimuladas a partir da realização de exercícios em formato digital, com obtenção de ganhos significativos. A hipótese de se adquirirem os mesmos resultados com ou sem recorrer a programas informáticos permite a aplicação de técnicas drill-and-practice, por exemplo, em formato lápis-papel com custos suportáveis para os serviços psiquiátricos. A aposta, enquanto área de investigação de enfermagem, é um caminho bastante promissor a seguir. Pode começar-se por um estudo neste âmbito, em Portugal, uma vez que não encontramos nenhum realizado em terras lusas. Conflitos de interesses Declara-se não haver conflitos de interesses em relação ao objeto em estudo.


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Estratégias de atenção integral à saúde da mulher no centro de atenção psicossocial Silvana Cavalcanti dos Santos*, Valquiria Farias Bezerra Barbosa**, Ana Carla Silva Alexandre***, Mércia Alcântara Feitosa Valença****, Maria Maiely Bezerra Gomes*****, Shimmeny Hilka Vasconcelos Ferreira****** *Enfermeira; Mestre em Saúde Pública; Professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE Brasil; silvana.santos@pesqueira.ifpe.edu.br **Enfermeira; Doutora em Ciências Humanas; Professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE Brasil; valquiria@pesqueira.ifpe.edu.br ***Enfermeira; Doutora em Ciências da Saúde; Professora no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE Brasil; ana.alexandre@pesqueira.ifpe.edu.br ****Bacharelanda em Enfermagem; Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Extensão – PIBEX; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE, Brasil; mercia_valenca@hotmail.com *****Bacharelanda em Enfermagem; Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Extensão – PIBEX; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Campus Pesqueira; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE, Brasil; maielle2011@hotmail.com ******Enfermeira; Especialista em Saúde Pública; Enfermeira no Centro de Atenção Psicossocial II; CEP: 55.200-000, Pesqueira, PE, Brasil. shimmenyferreira@hotmail.com RESUMO CONTEXTO: As políticas públicas voltadas à assistência integral à saúde da mulher muito avançaram, mas ainda é preciso superar dificuldades e desafios, especialmente, quando se aborda a interface entre a saúde da mulher e a saúde mental. OBJETIVO: Relatar a experiência vivenciada por acadêmicas de enfermagem na implementação de estratégias de cuidado a mulheres no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). MÉTODOS: Trata-se do relato de experiência do projeto de extensão “Práticas e Estratégias de Atenção à Saúde da Mulher Usuária da Rede de Atenção Psicossocial: ressocialização e empoderamento a mulher com transtorno mental”, desenvolvido com usuárias do CAPS II, Pesqueira-PE, Brasil, entre fevereiro e setembro de 2017. A primeira etapa consistiu em realizar um diagnóstico situacional a respeito do seu conhecimento sobre os aspectos reprodutivos, ginecológicos, sexuais ou clínicos. A segunda etapa consistiu na realização de atividades

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educativas de promoção e prevenção a saúde da mulher e realização do exame Papanicolau, nas unidades de saúde da família localizadas no território de residência das usuárias. RESULTADOS: Participaram das intervenções 31 mulheres, com idade média de 42 anos, 61,3% de cor parda, 48,4% são solteiras com vida sexual ativa e 18% estão no climáterio. As usuárias apresentavam déficit de conhecimento sobre aspectos reprodutivos, ginecológicos e sexuais. Foram realizadas ações educativas sobre Climáterio, Prevenção do Câncer de Mama e Colo de Útero. CONCLUSÕES: As usuárias acompanhandas no CAPS precisam de uma atenção integral que estímule a sua autonomia e seu empoderamento a fim de transformar a sua realidade. Palavras-Chave: Enfermagem; Saúde Mental; Saúde da Mulher. ABSTRACT CONTEXT: Public policies aimed at comprehensive health care for women have advanced, but difficulties and challenges still have to be overcome, especially when addressing the interface between women's health and mental health. OBJECTIVE: To describe the experience of nursing students in the implementation of care strategies for women in the Psychosocial Care Center (CAPS). METHODS: This is an experience report on the project "Practices and Strategies for Attention to Women's Health in the Psychosocial Care Center: re-socialization and empowerment of women with mental disorder", developed with users of CAPS II, Pesqueira-PE, Brazil, between February and September 2017. The first stage consisted of a situational diagnosis about their knowledge about the reproductive, gynecological, sexual or clinical aspects. The second stage consisted of educational activities to promote and prevent women's health and the Papanicolau exam, developed in the family health units located in the territory of the users' residence. RESULTS: Participated in the interventions 31 women, aged 42 years, 61,3% with brown skyn, 48,4% were single women with active sexual life and 18% were in the climacteric phase. The users had a lack of knowledge about reproductive, gynecological and sexual aspects. Educational actions were carried out on Climacteric, Breast Cancer and Cervical Cancer Prevention. CONCLUSIONS: The women users in CAPS need comprehensive care that stimulates their autonomy and their empowerment in order to transform their reality. Keywords: Nursing; Mental Health; Women’s Health. RESUMEN CONTEXTO: Las políticas públicas de atención integral a la salud de la mujer han avanzado, pero aún hay que superar dificultades y desafíos, especialmente cuando se aborda la interfaz entre la salud de la mujer y la salud mental. OBJETIVO: Informar la experiencia vivenciada por académicas de enfermería en la implementación de estrategias de cuidado a mujeres en el Centro de Atención Psicosocial (CAPS).

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MÉTODOS: Relato de experiencia del proyecto de extensión "Prácticas y Estrategias de Atención a la Salud de la Mujer Usuaria de la Red de Atención Psicosocial: ressocialización y empoderamiento a la mujer con trastorno mental", desarrollado con usuarias del CAPS II, Pesqueira-PE, Brasil, entre febrero y septiembre de 2017. La primera etapa consistió en realizar un diagnóstico situacional acerca de su conocimiento sobre los aspectos reproductivos, ginecológicos, sexuales o clínicos. La segunda etapa consistió en la realización de actividades educativas de promoción y prevención a la salud de la mujer y realización del examen Papanicolau, en las unidades de salud de la familia ubicadas en su territorio de residencia. RESULTADOS: Participaron 31 mujeres, con edad promedio de 42 años, 61,3% de color pardo, 48,4% solteras con vida sexual activa y 18% están en el climaterio. Las usuarias presentaban déficit de conocimiento sobre aspectos reproductivos, ginecológicos y sexuales. Se realizaron acciones educativas sobre Climáterio, Prevención del Cáncer de Mama y Colo de Útero. CONCLUSIONES: Las usuarias acompañadas en el CAPS necesitan una atención integral que estimule su autonomía y su empoderamiento a fin de transformar su realidad. Palabras Clave: Enfermería; Salud mental; Salud de la Mujer. INTRODUÇÃO A atual política de saúde mental brasileira visa à ressocialização das pessoas com transtorno mental, substituindo, progressivamente, o modelo hospitalocêntrico e manicomial, de características asilares, opressivas e reducionistas, por um modelo de assistência orientado pelos princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS), de universalidade, equidade e integralidade, acrescida da proposta de desinstitucionalização (Moura et al., 2012). Nessa proposta, os dispositivos substitutivos prioritários são os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Ambulatórios de Saúde Mental, os Serviços de Emergência e Urgência, os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), além dos leitos psiquiáticos em Hospital Geral (Ministério da Saúde[MS], 2005). Os CAPS são destinados a acolher os portadores de transtorno e/ou sofrimento mental, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, integrá-los em um ambiente social e cultural concreto, designado como seu território. Os CAPS constituem a principal estratégia do processo de reforma psiquiátrica. Ademais, deve oferecer suporte técnico especializado à atenção à saúde mental na rede de atenção básica, por meio do matriciamento, sobre o que se destaca, em particular, a assistência à saúde das mulheres portadoras de transtorno mental (MS, 2005). O matriciamento é uma ferramenta que estimula a produção de novos padrões de relacionamento entre equipes e usuários de forma a ampliar o compromisso dos profissionais frente ao usuário do serviço, a medida que supera obstáculos organizacionais que dificultam a comunicação (Campos, Domitti, 2007). As políticas públicas relacionadas à assistência integral à saúde da mulher muito avançaram nas últimas duas décadas, mas ainda é urgente a necessidade de superar dificuldades e desafios, 161


especialmente, quando se aborda a interface entre a saúde da mulher e a saúde mental (Botti, Ferreira, Nascimento, Pinto, 2013). Algumas mulheres, mesmo estando inseridas em serviços de saúde, em um contexto de assistência à saúde mental, vivenciam um intenso sofrimento psíquico, o que as torna, muitas vezes, impossibilitadas de cuidarem de si próprias e, consequentemente, de sua saúde (Ballarin, Ferigato, Carvalho, 2008). Aspectos reprodutivos, ginecológicos, sexuais ou clínicos de mulheres portadoras de transtorno mental são temas relevantes na prática dos serviços de saúde. Estas mulheres, em geral, não recebem atenção integral, sendo ignoradas as especificidades e o cumprimento de seus direitos. No entanto, essas mulheres estão mais suscetíveis, por exemplo, às gestações não planejadas e, consequentemente, há uma probabilidade maior que haja abortos devido a não aceitação da gestação (Guedes, Moura, Evangelista, Conceição, 2009). A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) brasileira aborda a relevância de se integrar na rede de atenção a saúde as ações voltadas aos atores sociais excluídos, salientando assim a mulher com transtorno mental. Essa política ainda agrega a prevenção e o tratamento das mulheres vivendo com HIV/aids e portadores de doenças crônicas, incluído o transtorno mental. Nesse sentindo, trabalhar a saúde mental das mulheres sob o enfoque de gênero, surge da compreensão de que as mulheres padecem duplamente com as consequências dos transtornos mentais, dadas as condições sociais, culturais e econômicas em que vivem (MS, 2004). O empoderamento da mulher no CAPS, caracteriza-se como uma estratégia processual de reinserção social das pessoas com transtorno mental. Algo que deve ser construído e conquistado aos poucos. Não se constitui como algo de posse de uma pessoa que pode, assim, conceder a outros. O empoderamento se legitima como uma prática de aumento de percepção, exercício de liberdade para fazer escolhas e tomar decisões, de ampliação da participação social e cidadã. E é como um processo que o empoderamento necessita ser alimentado cotidianamente para que adquira consistência (Aguiar, Silveira, Palácio, Duarte, 2011). Considerando-se a importância da enfermagem nos espaços de cuidado, é fundamental que as ações referentes à saúde mental devam ser contempladas na assistência de enfermagem em todas as áreas. Assim, o acolhimento, a valorização da pessoa, a formação de vínculo, o atendimento em situações de sofrimento mental, decorrentes de circunstâncias da vida em que haja mais vulnerabilidade, precisam ser reconhecidas pelos profissionais, em favor da legitimação da práxis do enfermeiro (Espiridião, Cruz, Silva, 2011). Na Estrátegia de Saúde da Família (ESF) é necessário haver uma equipe que ofereça uma escuta qualificada, construindo o vínculo e fortalecendo o acolhimento, uma vez que esta prática pode ser considerada com uma estratégia de cuidado dentro das Unidades Básicas de Saúde. É através dessa prática que os profissionais de saúde criam uma relação de convivência e fortalecimento de vínculos entre os usuários e profissionais, oferecendo assim uma assistência humanizada e integrativa, com ênfase na escuta qualificada para possibilitar a esse usuário o espaço para compartilhar sobre seus anseios, perspectivas e desejos (MS, 2004).

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Assim, em todas as áreas mas, especificamente, no campo da saúde mental, apresenta-se como uma estratégia para o cuidado às pessoas em sofrimento/adoecimento mental, que permitirá a ressignificação do cuidado de enfermagem em saúde mental, através da produção de novas práticas terapêuticas, dispositivos e estratégias de cuidado. Tal característica favorece o planejamento do projeto terapêutico singular com informações qualificadas, e ainda, pode auxiliar no estabelecimento do vínculo enfermagem-usuário e, por conseguinte, o cuidado integral (Aguiar et al., 2011). Partindo-se do pressuposto da necessidade de se intervir no modelo vigente de atenção à saúde mental das mulheres, com vistas a propiciar atendimento equitativo, humanizado e resolutivo, demandando ações que lhes proporcionem a melhoria das condições de vida e de saúde em todas as fases do ciclo de vida, o presente artigo tem por objetivo relatar a experiência vivenciada por acadêmicas de enfermagem na implementação das práticas e estratégias de cuidado as mulheres do CAPS. MÉTODO Trata-se de um estudo descritivo, fundamentado no relato das vivências do projeto de extensão intitulado “Práticas e Estratégias de Atenção à Saúde da Mulher Usuária da Rede de Atenção Psicossocial: ressocialização e empoderamento a mulher com transtorno mental”, desenvolvido por acadêmicas do curso de Bacharelado de Enfermagem do IFPE, Campus Pesqueira, PE, Brasil. O projeto foi desenvolvido entre os meses de fevereiro a setembro de 2017, com 31 usuárias do CAPS II “Cultivando Sorrisos”, localizado no munícipio de Pesqueira, PE, Brasil. O município de Pesqueira dista 215 Km do Recife, capital do Estado e conta com uma população total de 63.519 mil habitantes. A Rede SUS de Atenção Primária a Saúde de Pesqueira é composta por 16 ESF, correspondendo a 87% de área coberta no município. Dispõe também de duas equipes do Núcleo de Apoio a Saúde da Família. A rede de Atenção Secundária de Saúde de Pesqueira é composta por um Centro de Saúde da Mulher, que atende as mulheres em diversas áreas de especialidades médicas e de enfermagem e também crianças até 12 anos de idade, um Centro de Especialidades, um Centro de Especialidades Odontológicas, um Centro de Atenção Psicossocial II, uma Unidade Básica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e pelo Hospital Dr. Lídio Paraíba. O CAPS II “Cultivando Sorrisos” foi implantado no município em 2013, atende um total de 60 usuários. A equipe de saúde mental, em parceria com discentes e docentes do IFPE Campus Pesqueira tem dedicado-se a desenvolver tecnologias leves de cuidado direcionadas aos usuários do CAPS, público muitas vezes negligenciado pelos serviços de saúde ofertados na atenção primária. A equipe técnica de saúde mental do CAPS é composta por uma enfermeira, uma assistente social, duas artesãs, uma psicóloga, uma pedagoga, um técnico de enfermagem e uma médica. A realização do presente estudo respeitou os princípios éticos da Pesquisa com Seres Humanos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Saúde através da Resolução 466/2012, mediante

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parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação HEMOPE, Recife, PE, Brasil, sob o CAAE 56546216.0.0000.5195. Os critérios de inclusão das mulheres à amostra foram estar em acompanhamento terapêutico regular no CAPS. Foram excluídas do estudo as usuárias com quadro mental instável que interferisse na sua autonomia de decisão de participar ou não do estudo. A primeira etapa consistiu em realizar um diagnóstico situacional das mulheres atendidas no CAPS a respeito do seu conhecimento sobre os aspectos reprodutivos, ginecológicos, sexuais ou clínicos, bem como realizar um mapeamento das áreas de origem destas mulheres para posterior desenvolvimento de intervenções de apio matricial. Todas as usuárias participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias de igual teor, na presença de duas testemunhas. A amostra foi composta de 31 usuárias que, entre os meses de feveireiro a junho de 2017, participaram de entrevista segundo roteiro semiestruturado. O instrumento utilizado foi um questionário com perguntas objetivas e subjetivas sobre as temática propostas pelas acadêmicas de enfermagem, a partir de revisão de literatura, e previamente validados através de um teste piloto. A segunda etapa consistiu na realização de atividades educativas sobre promoção e prevenção a saúde da mulher nas ESF situadas no território de residência das usuárias, bem como realização do exame Papanicolau para as mesmas. Foram identificadas usuárias de quatro ESF e do Centro de Saúde a Mulher do munícipio. As intervenções duraram ao todo 120 minutos e foram baseadas em rodas de conversa, dialogo horizontal, aberto, de forma simples, linguagem acessível, buscando-se tirar dúvidas e esclarecer os mitos que envolvem a saúde da mulher e os modos de prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Como recursos utilizados se dispôs de equipamento de multimídia (microfone, aparelho de som, data show, notebook). Nas rodas de conversas disponibilizou-se panfletos sobre IST’s, banner, preservativos femininos e masculinos, além de modelo de pênis em resina e o uma pelve feminina construída pelas extensionistas. As extensionistas do referido projeto cumpriram uma carga horária de doze horas semanais, abrangendo atividades de levantamento bibliográfico sobre a temática, planejamento e intervenções propostas. Todas as atividades das extensionistas foram desenvolvidas sob a supervisão direta das docentes coordenadora e colaboradoras do projeto. RESULTADOS E DISCUSSÃO O primeiro momento compreendeu a aproximação entre as acadêmicas extensionistas e as mulheres do CAPS II “Cultivando Sorrisos”, estratégia fundamental que possibilitou às discentes conhecer a rotina do serviço de saúde mental, as dificuldades e os desafios enfrentados, o perfil sócio demográfico das usuárias e as necessidades identificadas a serem trabalhadas na instituição a cada encontro.

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O CAPS apresenta uma proposta terâpeutica baseada em trabalhos individuais e/ou em grupos, e terapias ocupacionais que envolvem trabalhos manuais, pedagógicos, práticas integrativas e complementares de saúde e estratégias de reinserção social. Pretende-se promover cuidados em saúde, promover a reabilitação e a reinserção das pessoas com transtorno mental, produzir e ofertar informações sobre direitos das pessoas, medidas de prevenção e autocuidado e os serviços disponíveis na rede SUS (MS, 2011). A idade média das mulheres que participaram era de 42 anos, 61,3% se autoreferiram de cor parda, 48,4% são solteiras com vida sexual ativa, 23% já havia realizado exame citopatológico, 71% não conhecia as IST’s e 18% estão no climáterio. Essas usuárias apresentavam déficit de conhecimento sobre aspectos reprodutivos, ginecológicos, sexuais ou clínicos da mulher. Percebeu-se que as mulheres se sentiram interessadas em aprender de forma que as intervenções foram planejadas para suprir suas necessidades. Foram planejadas e desenvolvidas atividades educativas referentes à saúde da mulher em todo o ciclo vital, assim como realizada intervenção de matriciamento em parceria com as ESF e Centro de Saúde da Mulher que oferecem procedimentos diagnósticos e terapêuticos ginecológicos. Para Moura et al. (2012) faz-se necessário a integralidade do cuidado às mulheres com transtornos mentais, pois estas apresentam perfil gineco-obstétrico semelhante ao da maioria das mulheres em idade fértil sem diagnóstico de transtorno mental, identificando, portanto, a necessidade de ações voltadas para esse público-alvo. A estratégia pensada para o segundo momento foi, inicialmente, conhecer as usuárias por meio de uma técnica de apresentação intitulada “Quem sou eu”, em que cada pessoa se apresentasse descrevendo seu perfil. Neste momento, as discentes puderam se aproximar do nível de conhecimento, desenvolvendo empatia e vínculo para a relação terapêutica profissional-cliente de enfermagem. Posteriormente, foi proposta a realização de uma roda de conversa sobre Saúde da Mulher – Prevenção do Câncer do Colo de Útero e Câncer de Mama no Centro de Atenção Psicossocial. Utilizou-se uma linguagem acessível, objetiva, de fácil compreensão. Orientou-se as usuárias sobre a importância do exame clínicos das mamas e exame Papanicolau. Explanou-se tópicos sobre os fatores de riscos, complicações, métodos de prevenção e os exames disponíveis para diagnósticos dessas patologias. Dispôs-se de estratégias para melhor participação e compreensão desse público utilizando figuras e exemplos de casos abordando o assunto. Ao final orientou-se essas mulheres a realizarem as consultas na ESF de seu terrritório de residência, alicerçando assim um melhor vínculo entre as redes básicas de assistência à saúde e o CAPS. As rodas de conversas, na abordagem da educação popular em saúde freireana, permitem encontros, diálogos, criando possibilidades de produção e ressignificação de sentindo – saberes – sobre as experiências dos educandos. Essa proposta está coerente com a política de saúde mental, ao defender a produção de sujeitos críticos e reflexivos dentro da sua realidade (Linhares, 2008).

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Uma outra ação educativa desenvolvida foi sobre o planejamento familiar e as IST’s. Foi proposta uma oficina intitulada “O corpo humano”. Nessa atividade, as usuárias deveriam buscar imagens que demostrassem diferenças entre o corpo feminino e o masculino, através de recortes de revistas. A sigularidade expressada nas imagens e na fala das usuárias configurou-se um momento de compartilhamento de diferentes percepções, que permitiu troca de saberes e práticas cotidianas. Posteriormente, utilizou-se peças anatômicas para demonstração do uso das camisinhas feminina e masculina, como também para mostrar os cuidados que se deve ter para que o método preventivo seja eficaz. Para realizar o autoexame das mamas, utlizou-se uma peça anatômica das mamas para que as mulheres pudessem tocar e visualizar uma mama sem nódulos e com nódulos, assim como aprender a realizar o autoexame. Como resultado positivo do projeto pode-se destacar que 28 usuárias do CAPS realizaram o exame de citologia oncótica e 6 realizaram a mamografia já que se encontravam na idade preconizada pelo MS, a saber, entre 50 a 69 anos. Evidencia-se a importância da realização de ações de saúde que considerem a mulher com transtorno mental de forma integral, incorporando práticas de cuidados a saúde aos hábitos de vida, particularmente, o acesso à realização dos exames preventivos e, portanto, a possibilidade de monitoramento da cobertura desses exames e minimização de desigualdades sociais no acesso ao direito a saúde. CONCLUSÃO Esta experiência contribuiu para que as acadêmicas percebessem a relevância da Atenção Integral à Saúde da Mulher as usuárias do CAPS, sinalizando que estas devem ser vistas além das demandas e necessidades do campo da saúde mental. O cuidar em saúde mental envolve reformulação de conceitos e repensar velhas atitudes e pensamentos que geralmente segregavam e excluíam a portadora de transtorno mental. Nesse sentindo, é necessário que os profissionais nas redes de cuidado a saúde mental visem o cuidado integral a estas mulheres. Para tanto, faz-se necessário construir novos saberes e práticas, considerando a complexidade da dimensão dos serviços de saúde e dos processos de trabalho, a fim de garantir o cuidado na atenção integral a saúde da mulher portadora de transtorno mental, com empoderamento e autonomia do seu corpo e sexualidade. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLINICA No âmbito da enfermagem, a experiência relatada poderá servir de estimulo aos enfermeiros para adotarem outras estratégias sobre educação a saúde das usuárias do CAPS que visem à criatividade e à comunicação, facilitando o processo de ensino-aprendizagem.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar D.T., Silveira L.C., Palácio P.D.B., Duarte M.K.B. (2011). A clínica de enfermagem em saúde

mental.

Revista

Baiana

de

Enfermagem.

25

(2),

107-120.

doi:

http://dx.doi.org/10.18471/rbe.v25i2.5549 Ballarin M.L.G.S., Ferigato S.L., Carvalho F.B.D. (2008). Serviços de atenção à saúde mental: reflexões sobre os desafios da atenção integral à saúde da mulher. O Mundo da Saúde. 32 (4), 511-518. Botti N.C.L., Ferreira S.C., Nascimento R.G., Pinto J.A.F. (2013). CONDIÇÕES DE SAÚDE DE MULHERES COM TRANSTORNO MENTAL. Revista Rene.14 (6):1209-16. Campos G.W.S., Domitti A.C. (2007). Apoio matricial e equipe de referencia: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cadernos de Saúde Pública. 23 (2): 399-407. Esperidião E., Cruz M.F.R., Silva G.A. (2011). Perfil e atuação dos enfermeiros da rede especializada em saúde mental de Goiânia-Goiás. Revista Eletrônica de Enfermagem. 13 (3) 493501. Acedido em: http://www.fen.ufg.br/revista/v13/n3/v13n3a15.htm Guedes T.G., Moura E.R.F., Evangelista D.R., Conceição M.A.V.(2009). Aspectos Reprodutivos de Mulheres Portadoras de Transtorno Mental. Revista de Enfermagem da UERJ. 17 (2), 153-158. Linhares L.L. (2008). Paulo Freire: por uma educação libertadora e humanista. PUCPR. Acedido em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/729_522.pdf Ministério da Saúde. (2011). Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília, DF; Gabinete do Ministro. Ministério da Saúde. (2005). Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde mental. Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde mental: 15 anos depois de Caracas. Brasília, Distrito Federal. Ministério da Saúde. (2004). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Políticas atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes. Brasília, Distrito Federal. Moura E.R.F., Guedes T.G., Freire S.A., Bessa A.T., Braga V.A., Silva R. M. (2012). Planejamento familiar de mulheres com transtorno mental: o que profissionais do CAPS têm a dizer. Revista da Escola

de

Enfermagem

da

Universidade

de

São

Paulo.

46

(4),

935-43.

doi:

http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342012000400022

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Cuidar na demência: grupos de ajuda mútua para cuidadores informais Mônica Braúna*, José Carlos Gomes**, Constança Paúl ***& Maria João Azevedo**** *Mestrado; Professor Adjunto Convidado; Instituto Politécnico de Leiria | Unidade de Investigação em Saúde | Escola Superior de Saúde, Portugal. E-mail: monica.leao@ipleiria.pt **Doutoramento; Professor Coordenador; Instituto Politécnico de Leiria | Unidade de Investigação em Saúde | Escola Superior de Saúde, Leiria, Portugal. Email: jcrgormes@ipleiria.pt ***Doutoramento; Professora Catedrática; Universidade do Porto | Unidade de Investigação e Formação sobre Adultos e Idosos, Porto, Portugal. E-mail: contancapaul@gmail.com ****Doutoramento; Professora Adjunta Convidada, Instituto Politécnico de Viseu | Unidade de Investigação

e

Formação

sobre

Adultos

e

Idosos,

Viseu,

Portugal.

E-mail:

maria.joao.tinoco@gmail.com RESUMO CONTEXTO: O envelhecimento demográfico é uma realidade em Portugal e tem vindo a agravarse, quer pela diminuição da natalidade, quer pelo aumento da esperança média de vida à nascença, ao qual se associam índices de dependência acrescidos em função de situações de multimorbilidade, com quase 6% de portugueses acima dos 60 anos a sofrerem de demência. Com a evolução tecnológica e a crescente necessidade de cuidados de saúde, tem surgido evidência da importância dos Grupos de Ajuda Mútua (GAM) na gestão do sistema de saúde, desde que incorporados nas práticas de saúde e da área social. OBJETIVO: O objetivo geral é estudar o impacto da implementação dos Grupos de Ajuda Mútua na sobrecarga, qualidade de vida e estratégias de coping de cuidadores informais de pessoas com demência. MÉTODOS: Com a finalidade de avaliar o impacto da implementação dos GAM na sobrecarga, na ansiedade e depressão, na qualidade de vida e nas estratégias de coping dos cuidadores informais de pessoas com demência, propomos desenvolver um estudo longitudinal prospetivo, exploratório, quaseexperimental do tipo pré-teste e pós-teste com grupo de controlo, com avaliação em 3 momentos, quantitativo, descritivo e inferencial. Este estudo integra o Projeto CuiDem – Cuidados para a Demência, mais especificamente no eixo de atuação junto dos cuidadores informais, incidindo sobre a implementação da estratégia de atuação do GAM. RESULTADOS: Esperamos obter dados relevantes para analisar o impacto dos GAM, nomeadamente nas expectativas e motivações, nas necessidades afetivas e no grau de sobrecarga emocional dos cuidadores informais visto ser uma resposta baseada numa metodologia cuidativa e de empowerment de baixo custo para as famílias cuidadoras. Palavras-Chave: Grupos de Ajuda Mútua; Cuidadores Informais; Demência.

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ABSTRACT CONTEXT: Demographic aging is a reality in Portugal and has been aggravated by both the decrease in birth rate and the increase in average life expectancy at birth, which is associated with increased dependency rates due to multimorbility, with almost 6% of Portuguese over 60 years old suffering from dementia. With the evolution of technology and the growing need for health care, evidence has emerged of the importance of Mutual Help Groups (MHG) in the management of health system, as long as they are incorporated into health and social practices. OBJECTIVE: The overall objective is to study the impact of the implementation of MHG on the overload, quality of life and coping strategies in informal caregivers of people with dementia. METHODS: To evaluate the impact of the implementation of MHG on the overload, anxiety and depression, quality of life and coping strategies of the informal caregivers of people with dementia, we propose to develop a prospective, exploratory, quasi-experimental longitudinal study, pre-test and post-test type with control group, with evaluation in 3 moments, quantitative, descriptive and inferential. This study integrates the CuiDem Project - Care for Dementia, more specifically in the axis of action among informal caregivers, focusing on the implementation of MHG strategy. RESULTS: We expect to obtain relevant data to analyse the impact of MHG, namely on expectations and motivations, affective needs and the degree of emotional overload of informal caregivers since it is a response based on a low-cost care and empowerment methodology for caregivers. Keywords: Mutual Help Groups; Informal Caregivers; Dementia. RESUMEN ANTECEDENTES: El envejecimiento es una realidad en Portugal y ha ido empeorando, ya sea mediante la reducción de la tasa de natalidad, ya sea mediante el aumento de la esperanza de vida al nacer, que se asocia un aumento de las tasas de dependencia debido a situaciones multimorbilidad, con casi el 6% de los portugueses más de 60 años que sufre de demencia. Con la evolución tecnológica y la creciente necesidad de atención de salud, ha surgido evidencia de la importancia de los Grupos de Ayuda Mutua (GAM) en la gestión del sistema de salud, desde que incorporados en las prácticas de salud y del área social. OBJETIVO: El objetivo general es estudiar el impacto de la implementación de los GAM en la sobrecarga, calidad de vida y estrategias de coping en cuidadores informales de personas con demencia. MÉTODOS: Con el fin de evaluar el impacto de la implementación de los GAM en la sobrecarga, la ansiedad y la depresión, en la calidad de vida y en las estrategias de coping de los cuidadores informales de personas con demencia, proponemos desarrollar un estudio longitudinal prospectivo, exploratorio, cuasi experimental del tipo pre-test y post-test con grupo de control, con evaluación en 3 momentos, cuantitativo, descriptivo y inferencial. Este estudio integra el Proyecto CuiDem - Cuidados para la Demencia, más específicamente en el eje de actuación junto a los cuidadores informales, incidiendo sobre la implementación de la estrategia de actuación del GAM. RESULTADOS: Esperamos obtener datos relevantes para analizar el impacto de los GAM, en particular en las 169


expectativas y motivaciones, en las necesidades afectivas y en el grado de sobrecarga emocional de los cuidadores informales ya que es una respuesta basada en una metodología cuidadosa y de empoderamiento de bajo costo para las familias cuidadoras Palabras Clave: Grupos de ayuda mutua; Cuidadores Informales; Demencia. INTRODUÇÃO O envelhecimento demográfico é uma realidade em Portugal e tem vindo a agravar-se, quer pela diminuição da natalidade, quer pelo aumento da esperança média de vida à nascença que passou de 74,4 anos nos homens e 80,9 anos nas mulheres em 2004 para 77,4, e 83,2 anos, respetivamente, em 2014 (PORDATA, 2016). O índice de envelhecimento da população nos últimos 5 anos passou de 127,6 em 2011 para 146,5 em 2015 (INE, 2016), a qual se associam índices de dependência acrescidos em função do agravamento da morbilidade. A incidência global de demência tem vindo a aumentar drasticamente nas últimas décadas representando o número estimado de portugueses com demência, acima dos 60 anos de idade, de aproximadamente 156 546 casos, o que corresponde a 5,84% da população com mais de 60 anos (Santana & Duro in Veríssimo, 2014). O impacto na dinâmica familiar dos cuidados a um idoso com demência pode assumir repercussões negativas (sob a forma de sobrecarga, sentimentos de frustração e ansiedade, implicações na saúde física e mental, na atividade profissional e tempo livre e lazer) mas também repercussões positivas (satisfação obtida com a prestação de cuidados) pelo que as intervenções junto dos cuidadores informais de idosos devem contemplar a resposta a várias necessidades, de forma a melhorar a qualidade de vida da díade cuidador-recetor de cuidados (Figueiredo, 2007). Portugal tem a maior taxa de cuidados domiciliários informais, prestados por um residente na mesma habitação, da Europa (12,4 %), e a menor taxa de prestação de cuidados não domiciliários (10,8 %) (Barbosa & Matos, 2014). Atualmente, pouca informação é conhecida em Portugal sobre as necessidades das pessoas idosas com demência provável e seus cuidadores informais. Os dados de um estudo feito na zona da Norte do país revelaram que a prevalência de demência / doença de Alzheimer era de 5,91% na população portuguesa com 60 ou mais anos de idade (Santana et al., 2015). Considerando o contexto internacional, a prevalência de demência estimada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na Europa do Sul aumenta com a idade, variando entre 0,026% para indivíduos com idade entre 65-69 anos e 0,324% para aqueles com mais de 85 anos. Além disso, espera-se que aumente o número de pessoas com demência, duplicando até 2030 e triplicando até 2050. Esses números têm um alto impacto na qualidade de vida das pessoas e na economia das famílias e comunidades, representando um dos maiores desafios para os profissionais de saúde pública (Teixeira et al., 2017). O Projeto CuiDem – Cuidados para a Demência pretende contribuir para a consciencialização pública e profissional sobre as perturbações neurocognitivas, assim como

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capacitar os profissionais de saúde e cuidadores informais, através da 1) integração dos Grupos de Ajuda Mútua (GAM) nos cuidados de saúde primários; 2) ações de sensibilização junto dos profissionais de saúde, cuidadores informais e comunidade, bem como através da 3) produção de materiais informativos sobre as perturbações neurocognitivas para a divulgação macro e um manual de boas práticas para os profissionais (Protocolo de Investigação do Projeto CuiDem, 2015). É um Projeto no âmbito do Programa Nacional para a Saúde Mental, que está a ser desenvolvido na Região Norte de Portugal financiado pela Direção Geral de Saúde (DGS). Grupos de Ajuda Mútua O Grupo de Ajuda Mútua (GAM) é um encontro voluntário de pessoas que partilham experiências ou problemas comuns, e oferecem entre si, suporte emocional e social. Trata-se de uma forma de suporte interpessoal, com “…estruturas relativamente pequenas (6 a 15 elementos) constituídas por pessoas que partilham um problema ou situação e se reúnem para a resolução de uma dificuldade ou satisfação de uma necessidade” (Maia et al., 2002:9). É um espaço de excelência para a descoberta do novo suporte social, promovendo bem-estar aos membros que nele participam, além de possibilitar uma atuação mais flexível por parte do profissional de saúde, enfatizando-se as interações sociais face a face, promovendo a autoestima, a autoconfiança e a estabilidade emocional, fomentando-se a intercomunicação e o estabelecimento de relações positivas (Santos, Pelzer & Rodrigues, 2007). Nesses grupos, as pessoas que vivenciam as mesmas experiências, desenvolvem a habilidade da escuta atenta e interessada, exercitam a sua capacidade de ajuda mútua, buscam conhecimento sobre seu problema de saúde, além de desenvolverem o sentimento de pertença (Pires, 2015). A finalidade última passa por combater e aprender a superar os problemas com os quais se deparam no decorrer da doença e do desenvolvimento do papel de cuidador (Wang, Chien & Lee, 2012), bem como promover um ajustamento emocional assente na perceção de que cada um dos participantes não está só na sua situação e pode, em conjunto, mobilizar as suas potencialidades despertando a participação e o empowerment dos seus membros e comunidade, atribuindo para um sentido de competência pessoal relativo ao seu papel de cuidador (O´Connor, 2002). No final dos anos 70 houve um grande declínio no interesse da comunidade científica em investigar sobre os Grupos de Ajuda Mútua devido à sua ambiguidade na conceptualização e procedimentos de intervenção desestruturada. No entanto, na última década observou-se um crescimento da evidência sobre os programas de intervenção com GAM como uma resposta positiva na atenção à saúde do cuidador informal (Quadro 1):

171


Quadro 1. Evidência na literatura sobre os Grupos de Ajuda Mútua para cuidadores de pessoas idosas com demência. Autor

Objetivo

Resultados

Pires (2015)

Compreender o significado

Os

de um Grupo de Ajuda Mútua

aprendizagem,

(GAM) para os profissionais,

desenvolvimento. Além de ser um espaço

voluntários e familiares de

terapêutico,

pessoas com demência.

sentimentos e emoções de forma sigilosa,

GAM

revelam

no

ser

um

trabalho qual

é

espaço

de

interdisciplinar

e

possível

expressar

repensar e significar problemas, desenvolver estratégias de cuidado de si e para a pessoa com demência. Wang, Chien &

Testar a eficácia de um

Os participantes do grupo de apoio mútuo tiveram

Lee (2012)

programa de 12 sessões

melhorias significativamente maiores nos níveis

bissemanal em grupo de

de stress e qualidade de vida do que o grupo

apoio mútuo para cuidadores

controle. Os resultados suportam a eficácia dos

familiares chinesas de um

grupos de apoio mútuo para oferecer apoio

familiar com demência em

psicossocial aos familiares cuidadores chineses

Hong Kong,

além dos cuidados de saúde mental comunitária.

Leme, Oliveira,

Relatar

Cruz,

implantação de um grupo de

crescimento

D´Elboux

apoio a cuidadores familiares

compreender o processo de envelhecimento e

(2011)

de idosos com transtornos

suas possíveis implicações na sua vida e na do

mentais em um ambulatório

idoso

de psicogeriatria.

cuida.”

Higa

&

a

experiência

da

“Um momento de troca de experiências e mútuo,

o

cuidador

de

passa

a

quem

Em Portugal, os GAM orientados para os cuidadores de pessoas com demência são ainda escassos, embora, na generalidade, sejam um movimento social contemporâneo significativo e em expansão (Ribeiro et al., 2017). Com a evolução tecnológica e a crescente necessidade de cuidados de saúde, os GAM podem vir a ter um papel importante na gestão do sistema de saúde, tendo que ser incorporados nas práticas de saúde e da área social. Por isso é importante o desenvolvimento do modelo de ajuda mútua que conduza à adesão e envolvimento de profissionais para dar respostas a essas necessidades (Maia et al. 2002). Face a esta problemática definimos como questão orientadora do presente estudo: “Qual o impacto da implementação dos Grupos de Ajuda Mútua na sobrecarga, na qualidade de vida e nas estratégias de coping dos cuidadores informais de pessoas com demência?”. De forma a responder a esta questão, serão implementados GAM para cuidadores informais de pessoas com demência nos cuidados de saúde primários para avaliar em que medida os GAM 1) diminuem a sobrecarga, 2) melhoram a qualidade de vida; 3) melhoram as estratégias de coping; 4) melhoram

172


o estado emocional dos cuidadores informais de pessoas com demência e por fim 5) diminuem os custos associados à prestação de cuidados. Desta forma, o objetivo geral do estudo é estudar o impacto da implementação dos GAM na sobrecarga, qualidade de vida e estratégias de coping em cuidadores informais de pessoas com demência. Foram traçados objetivos específicos de forma a sustentar todo o percurso metodológico: i) caracterizar o perfil dos cuidadores informais de pessoas com perturbações neurocognitivas; ii) explorar o nível de sobrecarga dos cuidadores informais de pessoas com demência antes e após a participação em GAM; iii) Avaliar a qualidade de vida dos cuidadores informais de pessoas com demência antes e após a participação em GAM; iv) Conhecer as estratégias de coping dos cuidadores informais de pessoas com demência antes e após a participação em GAM; v) avaliar as alterações do estado emocional dos cuidadores informais de pessoas com demência antes e após a participação do GAM; vi) conhecer o nível de dependência nas Atividades da Vida Diária e Atividades instrumentais da Vida Diária do recetor de cuidados. MÉTODOS Este estudo está integrado no Projeto CuiDem – Cuidados para a Demência, integrando o eixo de atuação junto dos cuidadores informais, incidindo sobre a implementação da estratégia de atuação do GAM. Além deste eixo, o CuiDem integra atividades direcionadas para os profissionais de saúde e ainda um outro eixo dirigido à comunidade. O estudo será conduzido por investigadores do CuiDem em parceria com a Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Pinhal Litoral- Centro de Saúde Arnaldo Sampaio. Entendemos definir como critérios de elegibilidade para a participação do nosso estudo, pessoas que assumam o papel de cuidador primário ou secundário de uma pessoa com demência a residir na comunidade com motivação e disponibilidade para integrar o estudo em no seu centro de saúde, onde o GAM será implementado. Serão excluídos os cuidadores informais cujos recetores de cuidados residam em estruturas residenciais para pessoas idosas (vulgo lares de idosos), unidades de cuidados paliativos ou unidades de longa duração e manutenção (RNCCI); assim como os cuidadores formais. Os participantes serão sinalizados pelos profissionais de saúde das unidades de saúde dos agrupamentos de centros de saúde (ACES) onde decorrerão os GAM, através do preenchimento de uma ficha de sinalização. Os participantes, assim como a pessoa cuidada ou o seu representante legal, deverão preencher o consentimento informado e esclarecido para participação em investigação e serão identificados através do código de identificação atribuído, mantendo desta forma o respeito pela privacidade e anonimato. Após a sinalização, os cuidadores informais serão distribuídos aleatoriamente pelo grupo experimental (cuidadores informais que irão participar nos GAM) e pelo grupo de controlo (cuidadores informais sem participação nos GAM até 6 meses após o início no grupo experimental). Espera-se a realização de 3 GAM, com 8 participantes cada (24 pessoas no grupo experimental) e o mesmo número de pessoas no grupo de controlo.

173


A avaliação do impacto dos GAM implica a recolha de dados junto dos participantes em 3 momentos (momento 1- avaliação inicial antes do início dos GAM; momento 2 - 6 meses após o início; e, momento 3 - 12 meses após o início do GAM). A recolha de dados será feita na Unidade de Saúde onde decorrem os GAM, pela equipa de investigadores do CuiDem e colaboradores externos, devidamente treinados para o efeito. O Protocolo de avaliação é constituído pelos seguintes instrumentos de avaliação: Questionário sócio demográfico do cuidador; Zarit Burden Interview (Sequeira, 2010); World Health Organization Quality of Life- Bref (Canavarro et al, 2007); Brief Cope (Ribeiro & Rodrigues, 2004); Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar (Pais- Ribeiro et al, 2007); Resource Utilization in Dementia (Wimo, 1998); Barthel ADL Index (Araújo et al.,2007) e o Índice de Lawton-Brody (Araújo et al., 2008). Além dos dados recolhidos através do protocolo de avaliação, serão registadas informações relacionadas com a implementação dos GAM, as quais serão relevantes na interpretação dos resultados. Referimo-nos a informações sobre as temáticas tratadas em cada sessão, frequência dos participantes, entre outras. Além deste protocolo, nos momentos 2 e 3 de avaliação (aos 6 e 12 meses após o início dos GAM), os participantes preencherão o questionário sobre a aplicabilidade das aprendizagens, desenvolvido pela equipa do Projeto CuiDem. Exposto isto, pretende-se desenvolver um estudo longitudinal prospetivo, exploratório, quaseexperimental do tipo pré-teste e pós-teste com grupo de controlo, quantitativo descritivo inferencial em que se pretende explorar a viabilidade e o impacto de uma resposta para os cuidadores informais de pessoas com demência nos Cuidados de Saúde Primários (CSP). O tratamento dos dados será com recurso ao Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 23. RESULTADOS O Projeto CuiDem está em processo de desenvolvimento, pelo que apenas serão apresentados alguns dados preliminares. Para dar início à implementação e dinamização dos GAM no ACES Pinhal Litoral foi feita, primeiramente, a capacitação dos profissionais de saúde em um centro de saúde integrado neste ACES. O objetivo da formação foi capacitar os profissionais de saúde com as competências para a dinamização de GAM, dirigidos a cuidadores informais de pessoas com perturbações neurocognitivas, a serem posteriormente implementados nos centros de saúde. Esperamos obter dados relevantes para analisar o impacto dos GAM, nomeadamente nas expectativas e motivações, nas necessidades afetivas e no grau de sobrecarga emocional dos cuidadores informais, importa evidenciar que a investigação tem demonstrado os benefícios dos GAM, quer em termos de recurso a serviços, quer em termos de saúde mental. Relativamente às implicações para a prática clínica, os GAM dão resposta a uma população que necessita de atenção, tornam-se uma metodologia cuidativa e de empowerment de baixo custo para as famílias

174


cuidadoras, bem como permitem que os profissionais da área da saúde poderem ser reconhecidos como profissões de ajuda, ou seja, com uma ligação profunda e significativa entre profissional e cliente, que ultrapassa as simples trocas funcionais, mantendo um prisma de crescimento, evolução e desenvolvimento humano. CONCLUSÃO A reflexão acerca do cuidado geronto-geriátrico, na perspetiva do Projeto CuiDem, prevendo o treino e a capacitação dos profissionais, bem como a orientação à família cuidadora e aos grupos de ajuda mútua, é necessária na medida em que desvela perspetivas que se revestirão de cuidados seguros, éticos e com qualidade (Jesus Martins et al, 2007). Este estudo vem dar resposta ao que a literatura contemporânea destaca, sobre a necessidade de estudos para a avaliar os benefícios dos GAM nos domínios clínico, social, funcional e económico, comparativamente a outros meios interventivos através de estudos longitudinais quantitativos e ao uso de uma abordagem qualitativa que considere medidas objetivas e subjetivas (Chien, 2008). É fundamental compreender o funcionamento dos GAM como uma intervenção contemporânea e a sua associação aos benefícios na saúde mental dos cuidadores informais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Araújo, F., Ribeiro, J. L. P., Oliveira, A., & Pinto, C. (2007). Validação do Índice de Barthel numa amostra de idosos não institucionalizados. Revista Portuguesa de saúde Pública, 25 (2), 59-66. Araújo, F., Pais Ribeiro, J., Oliveira. A., Pinto, C., & Martins, T. (2008). Validação da escala de Lawton e Brody numa amostra de idosos não institucionalizados. In: I.Leal, J.Pais-Ribeiro, I. Silva & S.Marques (Edts.). Actas do 7º congresso nacional de psicologia da saúde (pp.217-220). Lisboa: ISPA. Barbosa, S., Matos, A. (2014), “Informal support in Portugal by individuals aged 50+”. European Journal of Ageing, 11(4), 293-300. Canavarro, M.C., Simões, M.R., Vaz Serra, A., Pereira., Rijo, D., Quartilho, M.J., … Carona, C. (2007). Instrumento de avaliação da qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde: WHOQOL-Bref. In M. Simões, C. Machado, m. Gonçalvez, & L. Almeida (Eds.), Avaliação psicológica: Instrumentos validados para a população portuguesa (Vol. III, pp. 77-100). Coimbra: Quarteto Editora. Chien, W. T. (2008). Effectiveness of psychoeducation and mutual support group program for family caregivers of chinese people with schizophrenia. The open nursing journal, 2, 28. ERS (2015). Entidade Reguladora da Saúde: Acesso, qualidade e concorrência nos Cuidados Continuados e Paliativos. Dezembro de 2015. Instituto

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de

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(2016).

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175


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177


Relaxamento muscular progressivo: uma intervenção de enfermagem para pessoas com diagnóstico de ansiedade presente Ana Lopes* & Paulo Seabra** * Mestranda em Enfermagem com Especialização em Saúde Mental e Psiquiátrica, Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Católica Portuguesa; Palma de Cima, 1649-023, Lisboa, Portugal. anailopes67@gmail.com ** Doutor em Enfermagem, Professor Auxiliar Convidado do Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Católica Portuguesa, Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde (CIIS); Palma de Cima, 1649-023, Lisboa, Portugal. pauloseabra@ics.lisboa.ucp.pt RESUMO CONTEXTO: As perturbações da ansiedade são as mais comuns de todas as perturbações psiquiátricas e originam incapacidade funcional, sofrimento, angústia e preocupação crónicas, não realistas e excessivas. O relaxamento muscular progressivo é uma técnica que conjuga o controlo da respiração profunda e a contração muscular, permitindo libertar tensões emocionais e vivenciar experiências gratificantes. OBJETIVO: Identificar a eficácia da técnica de relaxamento muscular progressivo, realizada por enfermeiros, em pessoas internadas com ansiedade presente. MÉTODOS: Busca em bases de dados internacionais em junho 2017. Os descritores, validados na plataforma MESH Browser, foram: “anxiety disorders”, “progressive relaxation”, “effectiveness”, “mental health” e “inpatient care”. Pesquisámos artigos publicados entre junho 2007 a junho 2017. Critérios de inclusão: estudos primários, maiores de idade com o diagnóstico referido, internadas em unidades de psiquiatria e intervenção realizada por enfermeiros. RESULTADOS: Nos estudos apurados (n=17), verificou-se que os participantes submetidos ao relaxamento, demonstraram níveis de ansiedade significativamente inferiores em relação aos participantes dos grupos de controlo. Em alguns, constatou-se que no final da intervenção havia uma diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial dos intervenientes e quando a técnica é praticada frequentemente, o seu efeito é mais eficaz. A eficácia não varia com a presença ou ausência (gravação áudio) do técnico. A combinação de diferentes técnicas de relaxamento parece ser mais eficaz do que cada uma isoladamente. CONCLUSÕES: As técnicas de relaxamento auxiliam na redução da ansiedade o que reforça o seu enquadramento como intervenção psicoterapêutica em Enfermagem. Palavras-Chave: anxiety disorders; progressive relaxation; mental health; inpatient care ABSTRACT BACKGROUND: The anxiety disorders are the most common of all psychiatric disorders and originate functional incapacity, suffering, distress and chronic concerns, which are not realistic and

178


are excessive. The progressive muscle relaxation is a technique that conjugates the control of deep breathing and muscle contraction, allowing the release of emotional tensions and the experience of gratifying situations. AIM: Identify the effectiveness of the progressive muscle relaxation technique, performed by nurses, in inpatients with anxiety disorders. METHODS: Investigation of international data sources in June 2017. The descriptors employed, and validated in the platform MESH Browser, were: “anxiety disorders”, “progressive relaxation”, “effectiveness”, “mental health” and “inpatient care”. The search focused on papers published between June 2007 and June 2017. Inclusion criteria: primary studies, individuals with at least the age of majority and the referred diagnosis, inpatients in psychiatric units and nurse-performed interventions. RESULTS: In the investigated studies (n=17), it was verified that the participants that underwent relaxation demonstrated anxiety levels lower than the participants of the groups of control. In some studies, it was found that in the end of the intervention there was a reduction of the heart frequency and of the arterial pressure of the intervenients and that, when the relaxation technique is practiced frequently, its result is more effective. The effectiveness does not differ with or without (audio recording) the presence of the health technician. The combination of different techniques of relaxation seems to be more effective than each one of the techniques used in isolation. CONCLUSIONS: The relaxation techniques help in the reduction of anxiety, reinforcing its framework as a psychotherapeutic nursing intervention. Keywords: anxiety disorders; progressive relaxation; mental health; inpatient care. RESUMEN CONTEXTO: Los distúrbios de la ansiedad son los mas comunes de los distúrbios psiquiátricos y dan origen a una incapacidad funcional, sufrimiento, angustia y preocupación crónicas, exageradas y no realistas.

El relajamiento muscular progresivo es una técnica que conjuga el

control de la respiración profunda y la contracción muscular, permitiendo liberar tensiones emocionales y disfrutar recompensas gratificadoras. OBJETIVO(S): Identificar la eficácia de la técnica de relajamiento muscular progresivo, llevada a cabo por enfermeros, en personas internadas con el diagnostico de ansiedad presente. METODOLOGÍA: Se ha efectuado una búsqueda en las bases de datos internacionales en junio 2017. Los descriptores, validados en la plataforma MESH Browser, fueron: “anxiety disorders”, “progressive relaxation”, “effectiveness”, “mental health” e “inpatient care”. Pesquisamos artículos publicados en el período de junio 2007 hasta junio 2017. Critérios de inclusioón: estudios primarios, personas mayor de edad con el diagnostico arriba mencionado, internadas en unidades de psiquiatria y intervención realizada por enfermeros. RESULTADOS: En los diferentes grupos estudiados (n=17), se verifica que los participantes sometidos al relajamiento, mostraron niveles de ansiedad inferior cuando comparados con los participantes de los grupos de control. Tambien se verifico que al fin de los ejercicios de 179


relajamiento hubo una disminución del ritmo cardíaco y de la presión arterial de los participantes y que si la técnica de relajamiento fuera hecha con frecuencia, su eficácia es mas visible. No hay diferencia de la eficácia del relajamiento con la presencia o ausência (grabación áudio) del técnico. La combinación de las diferentes técnicas de relajamiento parece ser mas eficaz que apenas una técnica aislada. CONCLUSIONES: Las técnicas de relajamiento ayudan en la reducción de la ansiedad que fundamentan su utilización por enfermeros en psicoterapia. Palabras Clave: anxiety disorders; progressive relaxation; mental health; inpatient care INTRODUÇÃO Há múltiplas definições na literatura para Ansiedade, mas todas concordam que é um sentimento vago e desconfortável derivado da antecipação de perigo ou de ameaça do desconhecido.

Os

sentimentos de ansiedade são tão frequentes na nossa sociedade que quase são considerados universais. Para Chalifour (2008, p.98) na “presença de um sentimento de ameaça, de frustração ou de conflito face à satisfação de uma necessidade ou na concretização de um objetivo, uma pessoa vive emoções diferentes. De entre elas, a ansiedade reveste-se de um caráter particular devido aos seus aspetos primitivos e invasivos. Bem como ao desconforto que suscita”. As manifestações do estado de ansiedade incluem alteração dos batimentos cardíacos, na respiração e na pressão arterial, inquietação, estremecimento, tremores e aumento da sudorese, além de apreensão. A intensidade e duração destes indicadores é determinada pala persistência da interpretação individual da situação como ameaçadora e por respostas advindas do autoconhecimento. “Ansiedade” e “Stress” são conceitos muitas vezes empregues, erradamente, como sinónimos. May (1979) citado por Chalifour (2008, p.100) sublinha que “a ansiedade é o modo como o individuo se liga ao stress, o aceita e o interpreta. O stress é uma situação intermediária que conduz à ansiedade. A ansiedade é o modo como reagimos ao stress”. É difícil traçar uma linha precisa entre a ansiedade normal e a anormal. A ansiedade é considerada anormal ou patológica se for muito desproporcional em relação à situação que a cria ou se interfere com o funcionamento social ou ocupacional da pessoa. O ser humano pode aliviar a ansiedade de várias formas. Para aliviar a ansiedade ligeira cada individuo desenvolve os seus mecanismos de coping. A ansiedade a um nível moderado a grave, que não é resolvida durante um longo período de tempo, pode contribuir para várias perturbações psicológicas. Townsend (2011, p.17) refere que “É importante para os Enfermeiros saberem reconhecer os sintomas associados a cada nível para planearem uma intervenção apropriada ao lidar com indivíduos ansiosos”. A mesma autora acrescenta que a intervenção de Enfermagem “foca-se em ajudar os clientes a aprender técnicas através das quais podem interromper a intensificação da ansiedade antes que esta atinja proporções incontroláveis e substituir padrões de comportamento mal adaptativos com novas capacidades de coping mais adaptativas” (Townsend, 2011, p. 612). 180


Para Ryman (1995) citado por Payne (2003, p.3) o relaxamento pode ser visto como “um estado de consciência caracterizado por sentimentos de paz e alívio de tensão, ansiedade e medo”, o que possibilita acalmar a mente e, consequentemente, apresentar um pensamento mais calmo e eficaz. Os métodos para atingir o relaxamento são: exercícios de respiração profunda, relaxamento muscular progressivo, relaxamento progressivo modificado (passivo), meditação, imagens mentais, para além do exercício físico que é visto por muitos como um dos métodos mais eficazes para aliviar a ansiedade. O exercício físico proporciona uma saída natural para a tensão produzida pelo corpo. A técnica mais aplicada é o método de relaxamento muscular progressivo desenvolvido pelo médico norte-americano Edmond Jacobson, em 1929. A sua técnica consiste em contrair um grupo muscular por 5 a 7 segundos e depois relaxar por 20 a 30 segundos, tempo durante o qual a pessoa se concentra na diferença de sensações entre as duas situações. Antes de se iniciar a sessão de relaxamento o técnico deve providenciar um ambiente tranquilo, escurecido e temperatura agradável. A posição eleita para o relaxamento é deitada embora seja possível realizar na posição de sentado. Assim, com base nestes conhecimentos teóricos, traçámos como objetivo desta revisão: identificar a eficácia da técnica de relaxamento muscular progressivo, realizada por enfermeiros, em pessoas internadas com o diagnóstico de ansiedade presente. Entendemos pesquisar na literatura sobre esta temática, no quadro da clarificação das competências do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, segundo a Ordem dos Enfermeiros, nomeadamente a sua utilização enquanto técnica psicoterapêutica. MÉTODOS Realizámos uma Revisão Integrativa da Literatura com a seguinte questão norteadora: Qual a Eficácia da Técnica de Relaxamento Progressivo Realizada pelo Enfermeiro com Pessoas Internadas com Perturbação da Ansiedade? Na estruturação desta questão, recorremos à estratégia PICo: Participantes (pessoas com Perturbação da Ansiedade), Ponto de interesse (técnica de relaxamento muscular progressivo realizada pelo enfermeiro) e Contexto do Estudo (pessoas internadas). A colheita de dados ocorreu durante o mês de junho de 2017 nas bases de dados MEDLINE Complete e NURSING & ALLIED HEALTH COLLECTION: Comprehensive, a partir da plataforma EBSCOhost cedida gratuitamente pela Ordem dos Enfermeiros.

181


Quadro1- Descritores, critérios de inclusão e de exclusão: DESCRITORES

“Progressive

Relaxation”,

“Effectiveness”,“

Anxiety

Disorders”,

“Inpatient Care” e “Mental Health” CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Artigos publicados entre junho 2007 e junho 2017, língua inglesa, texto completo disponível, “All adult: 19+years”

CRITÉRIOS

DE

EXCLUSÃO

“Children”, “Dementia”, revisões de literatura e outros estudos secundários

Os descritores foram validados na plataforma MESH Browser. O processo de seleção passou pela leitura dos títulos, resumos e, posteriormente, o texto integral. RESULTADOS Dos artigos encontrados foram excluídos aqueles que não tinham relação objetiva entre o objeto de estudo e a prestação de cuidados de enfermagem. Os dois quadros seguintes mostram os 17 artigos selecionados das bases de dados. Quadro 2- Artigos selecionados da base de dados MEDLINE Complete: N

AUTORES

º

DO ARTIGO

TÍTULO

PUBLICAÇ

OBJETIVO / RESULTADOS

ÃO

Acute Effects of Objetivo: Dar evidência da eficácia do

Progressive Georgiev, A. Probst, M. Hert, M. 1

Genova, V. Tonkova, A. Vancampfort, D.

Muscle Relaxation on State Anxiety and

Subjective

Well-Being

in

relaxamento muscular progressivo como meio de aliviar o estado de ansiedade e a angustia e uma forma de melhorar o bem estar de doentes com esquizofrenia.

Chronic Bulgarian

Resultados:

Patients

introdutórias,

1

relaxamento

reduz

with

Schizophrenia

Depois

de

2

única o

sessões

Psychiatria Danubina (Zagreb, Croatia)

sessão

de

Vol.24

estado

de

Nº4

ansiedade e o stress e melhora o bem 2012

estar nos doentes com esquizofrenia.

Bulgária Objetivo: Dysfunctional Kohler, S. Unger, T. 2

Hoffmann, S. Mackert, A. Ross, B. Fydrich, T.

cognitions

a

relevância

inpatients and their

doentes internados com depressão e a sua variabilidade com terapias cognitivo-

Comprehens

comportamentais.

ive

with

treatment outcome

Resultados:

A

adição

das

cognitivo-comportamentais 2015 EUA

das

disfunções cognitivas no tratamento de of

depressive relationship

Avaliar

inclui

o

relaxamento

farmacoterapia

resulta

terapias

(onde

muscular) numa

se

Psychiatry Vol.58

à

maior

melhoria dos sintomas depressivos não

182


se observando diferença nas disfunções cognitivas Objetivo: Avaliar os efeitos do treino aeróbico na performance cognitiva e severidade dos sintomas em doentes Effects of aerobic

3

Oertel-

exercise

Knochel, V.

cognitive

Mehler, P.

performance

Steinbrecher,

individual

K.

psychopathology

Thiel, C.

in depressive and

Malchow, B.

schizophrenia

Tesky, V.

patients

Resultados: and

Ademmer, K. et al.

psiquiátricos internados.

on Os

doentes

com

esquizofrenia mostraram uma melhoria

European

na performance cognitiva e uma redução

Archives Of

dos resultados psicopatológicos para

Psychiatry

ambos os grupos de exercício e de

And Clinical

relaxamento. Os doentes com depressão

Neuroscienc

revelaram também uma redução dos

e

níveis de depressão, ansiedade e uma

Vol. 264

melhoria no estado de saúde mental nos

2014

grupos de relaxamento e exercício. Os

Alemanha

efeitos do treino combinado (cognitivo mais exercício) foram superiores às outras formas de tratamento. Feasibility

and

Acceptability of an Alcohol

Erim, Y.

Therapy

Bottcher, M. Lindner, M.

for

in

a

Patients

Awaiting

Paul, A.

Liver

viabilidade

e

aceitação de uma terapia de vicio em doentes

com

doenças

de

fígado

de transplante.

Alcohol And

Resultados: A implementação de uma

Alcoholism

terapia de vicio (que inclui relaxamento

Vol. 51

muscular progressivo) durante o tempo

Transplantation

et al.

de espera pelo transplante pode limitar a frequência

2016 Geriatric Van Dam, E.

rehabilitation

Spruit,

patients

M.

consumo

de

Objetivo: Investigar a viabilidade de um for with

Groenewegen

advanced chronic

,

obstructive

K.

do

álcool, medida através de recaída.

Alemanha

Chavannes,

pulmonary

N.

disease:

Achterberg,

naturalistic

W.

prospective cohort

a

study on feasibility

a

Transplant Center

Klein, C.

5

Avaliar

relacionadas com o alcoolismo à espera

Integrated

Schieber, K. 4

Addiction

Objetivo:

programa de reabilitação geriátrica para doentes

com

doença

obstrutiva

pulmonar crónica avançada.

Chronic

Resultados: Durante o programa (com

Respiratory

relaxamento incluído), a capacidade

Disease

funcional e o estado de saúde mostraram

Vol.11

melhorias substanciais e clinicamente relevantes.

183


and

course

of

health status 2014 Holanda Objetivo: Testar e avaliar a eficácia de

David, N. Schlenker, P. 6

Prudlo,

U.

Larbig, W.

Internet-based

um programa que tem por base a Internet

program for coping

para

with

hematológicos para ajudar o coping com

cancer:

a

pacientes

cancerígenos

randomized

a sua doença.

controlled trial with

Resultados: O programa de tratamento

hematologic

que

cancer patients

relaxamento muscular progressivo foi

tem

por

base

a

Internet

(o

PsychoOncology Vol.22

incluído na intervenção no formato de 2012

ficheiros MP3 para download) teve um

Alemanha

efeito significativo apenas no espirito de luta dos participantes. Objetivo: Analisar as consequências

Outcomes

of

a

headache-specific cross-sectional

Wallash, T. 7

e

secundárias

de

um

tratamento para a cefaleia (relaxamento muscular

multidisciplinary

Angeli, A.

primárias

progressivo

incluído

no Headache

programa de tratamento).

treatment program

Kropp, P.

Vol. 52 Resultados: O programa multidisciplinar de cuidados integrados é eficaz no

2012

tratamento de dores de cabeça crónicas

Alemanha

severas. Objetivo: Examinar o efeito de uma Schema

change

without

schema

therapy: the role of Wegener, I. 8

early maladaptive

Alfter,

S.

schemata

Geiser,

F.

successful

Liedtke,

R.

treatment of major

Conrad, R.

depression

for

terapia integrativa psicodinâmica sem foco especifico em esquemas iniciais desadaptativos em doentes internados com depressão.

a Resultados: Não só a angústia causada

Psychiatry

pelos sintomas foi reduzida de forma

Vol.76

significativa, assim como os indicadores dos esquemas iniciais desadaptativos

2013 Alemanha

também muscular

se

alteraram

progressivo

(relaxamento incluído

na

terapia).

184


Spouse-assisted training

9

in

pain

Objetivo:

Examinar

a

eficácia

coping skills and

comparativa de 3 intervenções (terapia

the

de

outcome

of

casal

-

relaxamento

muscular

Abbasi, M.

multidisciplinary

progressivo incluído na terapia, terapia

Dehghani, M.

pain management

individual ou tratamento médico usual)

European

Keefe,

for

para pacientes que sofrem de lombalgias

Journal

crónicas.

Pain

treatment: a 1-year

Resultados: As intervenções centradas

Vol.16

randomized

nas estratégias de casal podem levar a

controlled trial

benefícios

F.

Jafari, H.

chronic

back

Behtash,

H.

Shams, J.

low pain

adicionais

para

Of

além

daqueles que podem ser atingidos com 2012

apenas uma abordagem individual.

Irão

Zatzick, D. O'Connor,S. 1 0

Russo, J. Wang, J.

Technology-

Objetivo: Avaliar se doentes feridos que

Enhanced

participassem

Stepped

cuidados colaborativos com a tecnologia

Collaborative Care

de informação poderiam demonstrar

Targeting

reduções nos sintomas de SPT quando

Posttraumatic

comparados com um grupo de controlo.

Journal

Stress

Resultados:

Traumatic

and

Bush, N.

Disorder Comorbidity

After

Love, J. et al.

Injury:

A

num

Uma

protocolo

intervenção

de

de

cuidados colaborativos com tecnologia

Stress

de informação (o relaxamento muscular

Vol.28

Randomized

progressivo foi incluído no contexto da

Controlled Trial

terapia cognitivo-comportamental) está

Of

associada a modestas reduções dos 2015

sintomas

EUA

(SPT).

The

effect

of

rehabilitation

on

de

stress

pós-traumático

cardiac anxiety Sharif, F. 1 1

depression

Shoul,

A.

patients

Janati,

M.

undergoing

Kojuri,

J.

Zare, N.

and

cardiac graft Iran

in

bypass

surgery

in

Objetivo:

Explorar

os

efeitos

de

reabilitação cardíaca na ansiedade e depressão dos doentes submetidos a

BMC

bypass da artéria coronária.

Cardiovascul

Resultados: A reabilitação cardíaca (da

ar Disorders

qual o relaxamento fazia parte) foi eficaz

Vol.12

na

redução

da

ansiedade

e

da

depressão. 2012 Irão

185


Objetivo: Avaliar o desenvolvimento do programa de medicina complementar e alternativa (CAM, em inglês), o seu uso e The

Integrative

Health

1 2

HullL,

A.

Holliday,

S.

Eickhoff,

C.

RoseBoyce,M. Sullivan,

P.

Reinhard, M.

and

as características dos participantes do programa.

Wellness Program:

Resultados: O relaxamento foi abordado

Development and

através

Use

relaxamento

of

a

de

iRest

Yoga

profundo,

Nidra grupo

de

Complementary

educação em saúde e de ioga suave. Na

and

possibilidade

Alternative

de

recomendar

uma

Medicine Clinic for

intervenção da parte dos provedores de

Veterans

saúde, iRest Yoga Nidra foi a segunda

Alternative Therapies In Health

And

Medicine Vol.21

terapia mais recomendada, ultrapassada 2015

apenas

EUA

possibilidade

pela

acupuntura. de

Na

escolher

que intervenção realizar por parte dos doentes, iRest Yoga Nidra foi a terceira terapia mais escolhida. Quality Objetivo: Estudar o impacto da qualidade The relationship of health-related Kohler, S. Unger, 1 3

Hoffmann, S. Mackert, Ross,

resultado do tratamento em doentes com

quality of life and T. A. B.

de vida relacionada com a saúde no

inpatient

treatment

of

Resultados: O tratamento multidisciplinar (onde se inclui o relaxamento muscular progressivo)

depression

de

doentes

internados

melhora a qualidade de vida relacionada

Fydrich,T.

com a saúde, apesar de os sintomas

2015

depressivos

Alemanha

Life Research: An International

depressão.

treatment outcome during

Of

melhorarem

em

maior

escala.

Journal

Of

Quality

Of

Life Aspects Of Treatment, Care

And

Rehabilitatio n Vol.24

Quadro 3- Artigos selecionados da base de dados NURSING & ALLIED HEALTH COLLECTION: N

AUTORES DO

º

ARTIGO Patricolo, G. Lavoie, A.

1

Slavin, B.

4

Richards, N. Jagow, D. Armstrong,K.

TÍTULO

OBJETIVO / RESULTADOS

Beneficial Effects of Guided Imagery or

Clinical

Massage on the

PUBLICAÇÃ O

Objetivo: Determinar se a massagem ou imagens guiadas podem reduzir a dor e ansiedade e melhorar o sono numa Unidade de cuidados intermédios.

Critical

care

Nurse Vol.37

Status of Patients

186


in a progressive

Resultados: Estas intervenções têm um

Care Unit

impacto positivo significativo no bemestar do doente no que respeita à dor,

2017

ansiedade e insónia.

EUA Effectiveness Eye

of

Movement

Desensitization

Objetivo: Avaliar a eficácia da técnica de

Kohler,

K.

and Reprocessing

dessensibilização e reprocessamento

Lorenz,

S.

in German Armed

através do movimento ocular (EMDR,

Herr,

K.

Forces

em inglês) em soldados alemães com

1

Willmund,

G.

With

5

Zimmermann,

Traumatic Stress

P.

Disorder

Alliger-Horn,C.

Routine Inpatient

Eggert, P.

Care Conditions

Soldiers PostUnder

stress pós traumático.

Medicine

Resultados: A EMDR (que inclui sessões de

relaxamento)

Military

pode

Vol. 182

reduzir

eficazmente os sintomas de depressão e stress pós-traumático.

2017 Alemanha Objetivo: Explorar e avaliar a eficácia de your

um programa centrado na pessoa de

the

terapias de relaxamento em adultos com

British

the

uma ligeira a moderada deficiência

Journal

mental.

Learning

Resultados: As técnicas de relaxamento

Disabilities

2013

reduzem a ansiedade e devem ser

Nº42

Reino Unido

usadas

Imagine bedroom 1

Hart, N.

6

Robbins, L.

entrance

is to

zoo

para

complementar

of

outras

terapias. Objetivo: Avaliar a viabilidade e potencial to

eficácia da abordagem da gestão do

develop telehealth

zumbido progressivo em veteranos com

tinnitus

e sem dano cerebral traumático.

Pilot

1 7

Henry,

J.

Zaugg,

L.

Myers, Schmidt,

P. C.

Griest, Susan Legro, M. et al.

study

management

Journal

for

Resultados: A adaptação da gestão do

persons with and

zumbido progressivo (durante a qual o

without traumatic

relaxamento

brain injury

componente

cognitivo-comportamental

da

como

terapia)

foi

incorporado um

serviço

na

of

Rehabilitation Research

&

Development Vol. 49

de

2012

telesaúde tem potencial para fornecer os

USA

serviços necessários aos Veteranos com e sem dano cerebral traumático.

187


DISCUSSÃO Esta pesquisa evidencia que as técnicas de relaxamento realizadas por enfermeiros ou outros técnicos de saúde auxiliam na redução da ansiedade. Os grupos, dos diversos estudos, submetidos ao relaxamento demonstram níveis de ansiedade significativamente inferiores em relação aos participantes dos grupos de controlo. Na análise dos resultados de alguns destes estudos, constatou-se que no final dos exercícios de relaxamento houve uma diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial dos intervenientes. Alguns estudos sublinham que, se a técnica de relaxamento for praticada mais frequentemente, o seu efeito aumenta. Em alguns, a intervenção foi realizada com a duração entre 15 a 20 minutos em dois períodos de treino por dia, tal como é recomendado por outros autores como Payne (2003), visando uma maior eficácia. No que diz respeito às diferentes abordagens do relaxamento, os estudos não mostram um método mais eficaz que outro. Alguns destes estudos não diferem a eficácia do relaxamento com a presença ou ausência (gravação áudio) do técnico. Verificou-se também que a combinação de diferentes técnicas de relaxamento para reduzir estados de ansiedade parece ser mais eficaz do que cada uma das técnicas isoladamente, tal como é referido por outros autores como Payne (2003). Verificou-se que os benefícios do relaxamento não têm apenas efeitos nos quadros de ansiedade, mas em outros como cefaleias, dor, asma, insónia, hipertensão arterial, epilepsia. O relaxamento inclui as componentes psicológica, fisiológica e comportamental. Só uma avaliação que tenha em conta estas múltiplas dimensões pode refletir o estado de relaxamento. Grande parte dos estudos tiveram isso presente e não se limitaram a fazer apenas um tipo de medição, mas aplicaram questionários, observaram e permitiram uma autoavaliação, para além das medições fisiológicas. CONCLUSÃO As pessoas experienciam situações de stress diariamente que originam quadros de ansiedade com diferentes graus de intensidade. O enfermeiro encontra utentes ansiosos nos serviços de psiquiatria e em outros serviços de saúde. Cabe ao enfermeiro ajudar essas pessoas a reconhecer as fontes de stress que lhes provocam ansiedade e a identificar métodos de coping adaptativo. O relaxamento é comprovativamente uma estratégia eficaz para diminuir a ansiedade criando bemestar. A investigação nesta área feita por enfermeiros está a desenvolver-se lentamente, esperando-se que, de futuro, novos projetos surjam para dar evidência à prática. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLINICA A evidência disponível sustenta que as técnicas de relaxamento muscular progressivo devem ser assumidas como intervenções do domínio psicoterapêutico dos Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica.

188


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amaral, A. C. (2010). Prescrições de Enfermagem em Saúde Mental mediante a CIPE. Loures: Lusociência. Caballo, V. E. (2008). Manual de avaliação e treinamento das habilidades sociais. São Paulo: Santos. Chalifour, J. (2008). A Intervenção Terapêutica. Os fundamentos Existencial-Humanistas da Relação de Ajuda. Loures: Lusodidacta. Chalifour, J. (2009). A Intervenção Terapêutica. Estratégias de Intervenção. Loures: Lusodidacta. Ordem dos Enfermeiros (2015) - Regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem de Saúde mental. Diário da Republica, 2ªsérie- nº122 de 25 de junho. Payne, R. A. (2003). Técnicas de Relaxamento. Um Guia Prático para Profissionais de Saúde. 2ª Edição.Loures: Lusociência. Serra, A. (1999) – O stress na vida de todos os dias. Edição do Autor. Coimbra. Townsend, M. C. (2011) - Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica. Loures: Lusociência.

189


Saúde mental em jovens estudantes: GSHS Eugénia Anes*, Helena Pimentel**, Augusta Mata***, Manuel Brás****, Filomena Sousa***** & Celeste Antão****** *PhD; Professor Adjunto; Escola Superior de Saúde de Bragança – Instituto Politécnico de Bragança; Av. D. Afonso V, 5300-121 Bragança, Portugal; email: eugenia@ipb.pt **PhD; Professor Coordenador; Escola Superior de Saúde de Bragança – Instituto Politécnico de Bragança; Av. D. Afonso V, 5300-121 Bragança, Portugal; email: helena@ipb.pt ***PhD; Professor Adjunto; Escola Superior de Saúde de Bragança – Instituto Politécnico de Bragança; Av. D. Afonso V, 5300-121 Bragança, Portugal; email: augustamata@ipb.pt ****PhD; Professor Adjunto; Escola Superior de Saúde de Bragança – Instituto Politécnico de Bragança; Av. D. Afonso V, 5300-121 Bragança, Portugal; email: Manuel-bras@ipb.pt *****MSc; Professor Coordenador; Escola Superior de Saúde de Bragança – Instituto Politécnico de Bragançaa; Av. D. Afonso V, 5300-121 Bragança, Portugal; email: Filomena@ipb.pt ******PhD; Professor Adjunto; Escola Superior de Saúde de Bragança – Instituto Politécnico de Bragança; Av. D. Afonso V, 5300-121 Bragança, Portugal; email: celeste@ipb.pt RESUMO CONTEXTO: A saúde mental é, simultaneamente, estrutural e transversal a qualquer pessoa no ciclo de vida (Direção-Geral da Saúde, 2016). Surge cientificamente como área prioritária de intervenção. A sua promoção é pilar de capacitação de crianças e jovens. OBJETIVO: Estudar os comportamentos de saúde mental nos estudantes do terceiro ciclo e secundário. METODOLOGIA: Estudo descritivo, transversal e analítico com abordagem quantitativa. Amostra probabilística por Conglomerado “cluster sampling”. Amostra constituída por 212 estudantes. O instrumento de colheita de dados é constituído pela escala GSHS e questões de caraterização. RESULTADOS: Amostra maioritariamente feminina (54,7%), idades compreendidas entre os 12-18 anos. Vivem com ambos os pais (72,2%). Praticam atividade física fora da escola 57,5%. O número de horas de sono é inferior a 8 para 45,3%. Nunca se sentiram sós (60,4%). Sentiram-se tão preocupados que não conseguiram dormir e tiveram problemas de concentração 56,1% e 75% dos inquiridos, respetivamente. 5,2% afirmam não ter amigos verdadeiros, 78,8% têm mais de três. Manifestada vontade de se suicidar por 1,4% dos estudantes. Verificou-se associação estatisticamente significativa entre o sentir-se só, com a idade e o ciclo de estudos e; sentir-se tão preocupado que não consegue dormir com o sexo, idade, ciclo de estudos, atividade física, nº de amigos e o nº de horas de sono por noite. CONCLUSÕES: O êxito das intervenções em saúde depende de um bom diagnóstico. Os resultados identificam o sexo, idade, ciclo de estudos, atividade física, nº de horas de sono e os amigos verdadeiros como determinantes da saúde mental. PALAVRAS-CHAVE: Saúde Mental; Jovens Estudantes.

190


RESUMEN CONTEXTO: La salud mental es, en simultáneo, estructural y transversal a cualquier persona en el ciclo vital (Dirección General de Salud, 2016). Surge científicamente como área prioritaria de intervención. Su promoción es un pilar de capacitación de niños y jóvenes. OBJETIVO: Estudiar los comportamientos de salud mental en los estudiantes del tercer ciclo y secundario. METODOLOGÍA: Estudio descriptivo, transversal y analítico con abordaje cuantitativo. Muestra probabilística por Conglomerado "cluster sampling". Muestra constituida por 212 estudiantes. El instrumento de recolección de datos está constituido por la escala GSHS y las cuestiones de caracterización.

RESULTADOS:

Muestra

mayoritariamente

femenina

(54,7%),

edades

comprendidas entre los 12-18 años. Viven con ambos padres (72,2%). Practican actividad física fuera de la escuela 57,5%. El número de horas de sueño es inferior a 8 a 45,3%. Nunca se sintieron solos (60,4%). Se sintieron tan preocupados que no pudieron dormir y tuvieron problemas de concentración 56,1% y 75% de los encuestados, respectivamente. 5,2% afirman no tener amigos verdaderos, el 78,8% tiene más de tres. Manifestada voluntad de suicidarse por el 1,4% de los estudiantes. Se verificó asociación estadísticamente significativa entre el sentirse sólo con la edad y el ciclo de estudios y; sentirse tan preocupado que no puede dormir con el sexo, edad, ciclo de estudios, actividad física, número de amigos y el número de horas de sueño por noche. CONCLUSIONES: El éxito de las intervenciones en salud depende de un buen diagnóstico. Los resultados identifican el sexo, edad, ciclo de estudios, actividad física, número de horas de sueño y los amigos verdaderos como determinantes de la salud mental. PALABRAS CLAVE: Salud Mental; Jóvenes Estudiantes DESCRIPTORES: Salud mental; Jóvenes estudantes. ABSTRACT CONTEXT: Mental health is both structural and transversal for all people throughout the life cycle (Directorate-General for Health, 2016). Scientifically speaking, it emerges as a priority area of intervention. Its disclosure is essencial for the promotion of the health of children and young people. OBJECTIVE: We aimed to study mental health behaviors in students of the middle and high school. METHODS: Descriptive, transversal and analytical study with quantitative approach. Probabilistic sample, of 212 students, by Cluster sampling. The data collection instrument consists of the GSHS scale and characterisation questions. RESULTS: A predominantly female sample (54.7%), aged between 12-18 years. They live with both parents (72.2%). They practiced physical activities out of school (57.5%). The number of sleeping hours is less than 8 to 45.3%. They never felt alone (60.4%). 56.1% of them felt so worried that kept them from sleeping and 75% had problems concentrating. Only 5.2% don’t believe having true friends, while 78.8% have more than three of them. 1.4% of the students manifested the will to commit suicide. There was a statistically significant association between feeling alone with the age and the cycle of studies; and feel so 191


worried who can not sleep with sex, age, cycle of studies, physical activity, number of friends and the number of hours of sleep per night. CONCLUSIONS: The success of health interventions depends on a good diagnosis. The results identify as determinants of mental health, sex, age, cycle of studies, physical activity, number of hours of sleep and true friends. KEYWORDS: Mental health; young students. INTRODUÇÃO O conceito de saúde mental tem vindo a ser reformulado, não podendo ser entendido apenas numa perspetiva dicotómica, através da ausência ou presença de doença. Tem integrado outras vertentes, como o bem-estar (Ferreira, 2015). As necessidades em saúde podem ser vistas como essenciais para um melhor bem- estar e melhor aptidão funcional, a sua satisfação possibilita uma maior probabilidade de ausência de doença (Seabra & Sá, 2011). Ao longo da vida, os indivíduos são submetidos a determinadas intercorrências que poderão levar a alterações do bem-estar e especificamente da saúde mental. A OMS afirma que 1 em cada 5 adolescentes poderão vir a desenvolver uma perturbação mental e, cerca de 50% destes irão desencadeá-la precocemente antes dos 18 anos (OMS, 2001). A prevalência das perturbações emocionais e do comportamento na infância e adolescência tem vindo a adquirir uma dimensão grandiosa. Estima-se que, que entre 10 a 20% das crianças tenham um ou mais problemas de saúde mental (Marques & Cepêda, 2009). Recentes estudos epidemiológicos demonstram que, nas sociedades modernas, os problemas de saúde mental e as perturbações psiquiátricas se tornaram a principal causa de incapacidade e uma das principais causas de morbilidade (Pedreiro, 2013). Torna-se prioritário a identificação de fatores de risco e o diagnóstico precoce de situações psicopatológicas, facilitando a implementação atempada de estratégias preventivas e/ou terapêuticas. Este conhecimento pode fornecer especiais contributos, especialmente para fundamentar intervenções mais ajustadas às necessidades dos estudantes no âmbito da promoção da saúde mental (Nogueira, Barros & Sequeira, 2017). Pelo que o presente estudo pretende estudar os comportamentos de saúde e fatores de proteção da saúde mental dos estudantes explorando a associação entre as variáveis sociodemográficas e de saúde mental. METODOLOGIA É um estudo descritivo, transversal e analítico com uma abordagem quantitativa. A população do presente estudo é constituída por todos os alunos do terceiro ciclo e secundário de uma escola Secundária do Nordeste de Portugal.

192


A seleção da amostra foi probabilística por Conglomerado “cluster sampling”, no universo dos jovens do terceiro ciclo e secundário da Escola. A amostra por conglomerados é uma técnica probabilística na qual as unidades amostrais são grupos (clusters) de elementos. Mais do que representativos de subconjuntos populacionais, os conglomerados devem ser carateristicos da população total. O “cluster” ou unidade de análise é a turma. De modo a obter uma amostra representativa da população escolar, o número de unidades de análise será equitativo para cada ano de escolaridade. Do total de 559 estudantes, foram selecionadas aleatoriamente dois “clusters” (turmas) por ano, de onde resultaram 290 estudantes. Foi solicitada consentimento informado por escrito à instituição e em particular a cada estudante e encarregado de educação. Resultando uma amostra de 212 estudantes, correspondendo a 37,9% da população. Os estudantes foram informados do carater voluntário da sua participação, podendo recusá-la em qualquer momento, sem que tal fato traga consequências. Foram também esclarecidos acerca do anonimato e confidencialidade dos dados, sendo a informação recolhida utilizada exclusivamente para o estudo da temática, de forma a contribuir para uma base de intervenção ao nível da promoção da saúde e investigação. O questionário foi auto-preenchido por cada estudante, sem a intervenção do investigador. A recolha de dados decorreu no primeiro trimestre de 2012. O instrumento de colheita de dados é constituído pela Global School-Based Studant Health Survey (GSHS), ao qual foram associadas questões de caraterização (sexo, idade, ciclo de escolaridade, com quem habita, atividade física e nº de horas de sono diárias). A Escala Mundial de Saúde Escolar (Global School-based Student Health survey – GSHS) foi desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em colaboração com as Nações Unidas (United Nations Children's Fund-UNICEF, United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization-UNESCO e Joint United Nations Program on HIV/AIDS-UNAIDS) e com a assistência técnica do CDC (Centers for disease control and Prevention). Foi solicitada autorização ao Centers for disease control and Prevention. Foi analisado o módulo sobre a saúde mental da escala (GSHS), que engloba questões acerca do sentir-se só, sentir-se tão preocupado que não consegue dormir, problemas de concentração, ter amigos verdadeiros e vontade de se suicidar. Para o tratamento de dados utilizou-se como recurso o programa informático SPSS-v23 (Statistical Package for the Social Science – v23). Foi utilizada estatística descritiva e inferencial. Todos os dados foram tratados em termos globais em relação às variáveis da escala e variáveis de caraterização. RESULTADOS A mostra do presente estudo é constituída por 212 jovens adolescentes e é maioritariamente feminina (54,7%). Apresentam idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, com uma média de idade de 14,91 anos (desvio padrão de 1,70 anos).

193


Relativamente ao ano de escolaridade, o mais representativo é o 10º ano, o menos representativo é o 7º ano. Por questões de operacionalidade, esta variável foi recodificada em 3º ciclo (42,5%) e secundário (57,5%). A grande maioria dos adolescentes vive com ambos os pais (72,2%), só com a mãe vivem 11,8% e com amigos vivem 11,3%. Mais de metade da nossa amostra (57,5%) pratica exercício físico fora da escola. Uma elevada percentagem (45,3%) dos estudantes dorme menos de 8 horas de sono por noite. A grande maioria (60,4%) nunca se sentiu só nos últimos 12 meses. Algumas vezes ou quase sempre é um sentimento referido por 16% e 3,8% dos participantes, respetivamente (Tabela 8). Relativamente à frequência de se sentir preocupado e não conseguir dormir, 43,9% dos inquiridos afirmam nunca acontecer. Em 36,3% acontece raramente e algumas vezes em 17%. Quase sempre e sempre é referido por 2,8% da amostra. A referenciação de problemas de concentração no desempenho das tarefas ou atividades por 75% dos estudantes. Raramente e algumas vezes são referidos por 69,3% e quase sempre e sempre por 5,7% dos participantes. Através das respostas dos participantes constatamos que 5,2% afirma não ter amigos verdadeiros. Daqueles que dizem tê-los, 16,1% têm apenas um ou dois e 78,8% têm mais de três. Por outro lado foi manifestada vontade em suicidar-se nos últimos 12 meses por 1,4% dos estudantes. A variável número de amigos foi recodificada em dois grupos, menos de dois e mais de três amigos verdadeiros, de forma a poder estabelecer relações ou associações com outras variáveis. Assim, contabilizaram-se 21% de estudantes que referem ter no máximo dois amigos verdadeiros e os 79% três. De seguida são apresentadas as associações entre as variáveis, apenas onde a associação é estatisticamente significativa. Apresentamos as frequências observadas e as esperadas, a estatística do teste e o valor de prova no teste de associação do qui-quadrado. Verifica-se associação do sentir-se só e a idade e o ciclo de estudos (Tabela 1). E, são os mais velhos que apresentam frequências observadas superiores às esperadas observando-se tendência contrária nos mais jovens. Da comparação das frequências esperadas com as observadas relativamente ao ciclo de estudos, conclui-se que são os alunos que frequentam o secundário que se sentem mais sós e, contrariamente à tendência do 3º ciclo.

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Tabela 1- Teste de associação do qui-quadrado entre o sentir-se só, a idade e o ciclo de estudos Associação entre o sentir-se só, a idade e o ciclo de estudos

Sentir-se só

Nunca me senti só

Já me senti só

Idade (anos)

Ciclo de estudo 3º ciclo

Secundári o

75

53

52,5

54,3

73,7

25

50

15

69

28,1

34,5

35,7

48,3

12 -13

14 -15

Observado

45

46

37

Esperado

32,6

42,9

9 21,4

Observado Esperado

ET Valor de Prova

16 -17-18

32,803

24,058 <0,01

<0,001

Na tabela 2 apresentamos os resultados dos testes de associação da dificuldade em dormir pela presença de problemas com o sexo, idade e ciclo de estudos (estatisticamente significativos). Da análise das frequências esperadas e observadas, com o sexo, conclui-se que são as raparigas que têm mais dificuldade em dormir relacionado com a presença de problemas. Relativamente à idade, são os mais velhos que apresentam frequências observadas superiores às esperadas. Uma tendência contrária observa-se nos mais jovens. No ciclo de estudos, da comparação das frequências esperadas com as observadas concluiu-se que são os alunos que frequentam o secundário que têm mais dificuldade em dormir, e tendência contrária observa-se no 3º ciclo. Tabela 2 -Teste de associação do qui-quadrado entre dificuldade em dormir por problemas e o sexo

Sentir dificuldade em dormir por problemas

Associação entre o sentir-se só, o sexo, a idade e o ciclo M de estudos Nunca me senti só

Já me senti só

Sexo

Idade (anos)

F

12 -13

14 -15

31

35

Observado

62

31

Esperado

42 ,1

50 ,9

23,7

Observado

34

85

23

Esperado

53 ,9

65 ,1

30,3

ET Valor de Prova

29,058 <0,001

Ciclo de estudo 16 -17-18 27

31,1

10,689 0,004

3º ciclo

Secundári o

31

35

23,7

31,1

23

36

30,3

39,9

38,2 36 39,9

60 48,8

17,687 <0,001

As associações entre o sentir dificuldade para dormir por se sentir preocupado, o número de amigos, a atividade física e o nº de horas de sono estão apresentadas na tabela 3. Relativamente 195


ao número de amigos, da análise das frequências observadas e das esperadas conclui-se que o número de estudantes que nunca teve dificuldade a dormir deveria ser maior nos estudantes com 2 ou menos amigos verdadeiros, e menor no número de estudantes com mais de dois amigos. Assim, pode afirmar-se que as dificuldades em dormir são mais comuns nos estudantes com menos amigos verdadeiros. No que respeita à atividade física, conclui-se que o número de estudantes que nunca teve dificuldade a dormir deveria ser menor nos estudantes que praticam exercício físico fora da escola, e maior no número de estudantes que não praticam exercício físico. O número de estudantes que já sentiu dificuldade em dormir é menor do que o esperado naqueles que praticam exercício físico fora da escola. Assim, pode afirmar-se que as dificuldades em dormir são mais comuns nos estudantes que não praticam exercício físico fora da escola. No número de horas de sono por noite a análise das frequências observadas e das esperadas mostra que o número de estudantes que nunca teve dificuldade a dormir deveria ser maior nos estudantes que dormem 7 ou menos horas por dia, e menor no número de estudantes que dormem 8 ou mais horas por dia. O número de estudantes que já sentiu dificuldade em dormir é maior do que o esperado naqueles que dormem 7 ou menos horas por dia. Assim, pode afirmar-se que as dificuldades em dormir são mais comuns nos estudantes que dormem menos horas por dia. Tabela 3- Teste de associação do qui-quadrado entre a existência de dificuldades para dormir por problemas, o número de amigos, a atividade física e o nº de horas de sono

Sentir dificuldade em dormir por problemas

Nº de Atividade física amigos Associação entre o sentir dificuldades em dormir por problemas, o nº de amigos, a act. <2 >3 Sim Não Física e o nº de horas de sono

Nunca

Já senti

Observado

10

83

62

31

Esperado

19, 7

73, 3

53,5

39,5

Observado

35

84

60

59

Esperado

25, 3

93, 7

68,5

50,5

ET Valor de Prova

9,782 0,002

4,995 0,025

Nº de horas de sono <7 horas

>8 horas

28

65

42,1

50,9

68

51

53,9

65,1

14,327 <0,001

DISCUSSÃO Este estudo pretendeu estudar os comportamentos de saúde e fatores de proteção da saúde mental dos estudantes analisando a associação entre as variáveis sociodemográficas e de saúde mental. Em termos de caraterização obtivemos uma amostra com perfil semelhante a outros efetuados a nível nacional, maioritariamente feminina, com idades compreendidas entre os 12-18 anos e a viver com ambos os pais (Matos, Simões, Camacho, & Reis, 2014). A prática de atividade

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física fora da escola é efetuada por mais de metade da amostra, evidenciando uma prática superior ao encontrado no estudo nacional da Aventura Social em 2014 (Matos, Simões, Camacho, & Reis, 2014). O número de horas de sono é reduzido e inferior a 8 para quase metade dos estudantes resultados piores a estudos prévios (Hershner & Chervin, 2014; Matos, Simões, Camacho, & Reis, 2014). A maioria dos jovens nunca se sentiu só e refere ter amigos verdadeiros, a amizade evita o isolamento, facilita aprendizagens como a cooperação e a intimidade (Matos, Simões, Camacho, & Reis, 2014). A existência de preocupações que impede de dormir e problemas de concentração são situações frequentes, investigações epidemiológicas mostram crescentes prevalências de pouco tempo de sono nos adolescentes e associações desse débito com inúmeros problemas, incluindo sonolência diurna e consequentes problemas de concentração (Mak, Lee, Ho, Lo & Lam, 2012). A manifestada ideação suicida por uma pequena parte dos estudantes está de acordo com a literatura pois ela é comum na idade escolar e na adolescência, no entanto as tentativas de suicídio consumado aumentam com a idade (Candiani,2017). CONCLUSÕES O êxito das intervenções em saúde depende de um bom diagnóstico. Os resultados da presente investigação identificam o sexo, idade, ciclo de estudos, atividade física, nº de horas de sono e os amigos verdadeiros como determinantes da saúde mental. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLINICA Sendo a saúde mental uma das áreas prioritárias para a promoção de estilos de vida saudáveis ao nível da saúde escolar, os resultados da presente investigação constituem um contributo fundamental para a prática clínica, com especial realce para a prática da enfermagem. Facilitando a implementação atempada de estratégias preventivas e/ou terapêuticas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Candiani, M. (2017). Suicídio na Infância e Adolescência. Psiquiatria Infantil CRM33035. Disponível em: http://marciocandiani.site.med.br/index.asp?PageName=suicidio Direção-Geral da Saúde (2016). Saúde Mental: Manual para a promoção de competências socioemocionais em meio escolar. Lisboa: Direção-geral da Saúde. Ferreira, C. (2015). Caraterização da Saúde Mental numa população jovem do concelho da Póvoa de Varzim: da psicopatologia ao bem-estar. Dissertação, Universidade Fernando Pessoa, Porto. Disponível

em:

http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/4886/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Mestrado%20Final. pdf Hershner, S. D. & Chervin, R. D. (2014). Causes and consequences of sleepiness among college students. Nature and Science of Sleep 2014:6 73–84.

197


Mak, K.K.; Lee, S.L.; Ho, S.Y.; Lo, W.S. & Lam, T.H. (2012). Sleep and academic performance in Hong Kong adolescents. J School Health;82(11):522-7. Marques, & Cepêda. (2009). Saúde Mental Infantil e Juvenil nos Cuidados de Saúde Primários. Lisboa: Coordenação Nacional para a Saúde Mental. Disponível em: https://www.dgs.pt/accao-desaude-para-criancas-e-jovens-em-risco/ficheiros-externos/pub-saude-mentalrecomendacoespara-a-pratica-clinica-1-pdf.aspx Nogueira, M.J.; Barros, L. & Sequeira, C. (2017). A Saúde Mental em Estudantes do Ensino Superior. Relação com o género, nível socioeconómico e os comportamentos de saúde. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental; ESPECIAL 5: 51-56. OMS. (2001). Relatório sobre a Saúde no Mundo: Saúde mental, nova conceção, nova esperança. Relatório,

Geneva.

Disponível

em:

https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/relatorio-

mundial-da-saude-2001--saude-mental-nova-concepcao-nova-esperanca-pdf.aspx Pedreiro, A. T. (2013). Literacia em Saúde Mental de Adolescentes e Jovens sobre Depressão e Abuso de Álcool. Dissertação, Escola Superior da Tecnologia da Saúde de Coimbra, Coimbra. Disponível em: http://biblioteca.esec.pt/cdi/ebooks/MESTRADOS_ESEC/ANA_PEDREIRO.pdf Seabra, P. & Sá, L. (2011). Factores Determinantes para as Necessidades em Saúde das Pessoas Consumidoras de Drogas: Uma Revisão Bibliográfica. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental.

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Atenção à gestante usuária de álcool na unidade básica Sônia Maria Alves de Paiva*, Rosana Ribeiro Tarifa**, Gabriella de Andrade Boska***, Márcia Aparecida Ferreira de Oliveira**** & Ana Vitória Lima de Souza*****

*Doutora em Enfermagem. Mestre em Enfermagem Psiquiátrica. Pós-doutorado na Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, SP, Brasil. E-mail: soniaenf@hotmail.com **Mestre em Ciências. Enfermeira. Doutoranda na Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem, SP, Brasil. E-mail: rosanart@usp.br. ***Gabriella de Andrade Boska: Especialista em Álcool e Outras Drogas. Enfermeira. Doutoranda na

Universidade

de

São

Paulo,

Escola

de

Enfermagem,

SP,

Brasil.

E-mail:

gabriellaboska@hotmail.com ****Pós-doutorado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal; Doutora em Ciências Sociais. Professora Associada – Livre Docente da Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem. E-mail:marciaap@usp.br *****Enfermeira, graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Poços de Caldas, Curso de Enfermagem, MG, Brasil. E-mail:ana.lima92@hotmail.com RESUMO CONTEXTO: O consumo de álcool tornou-se um problema de saúde pública e exige uma atenção peculiar dos profissionais de saúde, principalmente, quando envolve o consumo pela gestante. OBJETIVO(S): verificar as ações do enfermeiro no pré-natal de gestantes usuárias de álcool e do neonato na Atenção Básica de Saúde MÉTODOS: exploratório, descritivo, de abordagem qualitativa, realizado com enfermeiros das UBS de um município de Minas Gerais. Os dados foram coletados por meio de um instrumento semi-estruturado. Para interpretação dos resultados utilizou-se a técnica de análise de conteúdo. RESULTADOS: Participaram do estudo 15 enfermeiros, com especialização, sendo que apenas 01 deles tinha especialização em Saúde Coletiva e Saúde da Família e 01 Residência em Saúde da Família. Foi elaborado a categoria Políticas de saúde para gestantes usuárias de álcool, que contempla as diretrizes para a organização da Atenção à Saúde na Gestação de Alto Risco. CONCLUSÕES: o estudo demonstrou a necessidade dos profissionais darem maior atenção a essa população, cujo cuidado ultrapasse o saber clínico centrado em sinais e sintomas em busca de uma visão ampliada de saúde, visando reduzir os riscos e agravamento de complicações à saúde da gestante e do neonato. Palavras-Chave: Enfermagem; Gravidez; Álcool

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ABSTRACT BACKGROUND: Alcohol consumption has become a public health problem and requires special attention from health professionals, especially when it involves consumption by the pregnant woman. AIM: to verify the actions of the nurse in the prenatal care of pregnant women using alcohol and the neonate in Basic Health Care. METHODS: exploratory, descriptive, qualitative approach, performed with nurses from the UBS of a municipality of Minas Gerais. Data were collected through a semi-structured instrument. For the interpretation of the results, the content analysis technique was used. RESULTS: Fifteen nurses, with specialization, participated in the study, with only 1 of them having specialization in Collective Health and Family Health and 01 Residence in Family Health. The category Health policies for pregnant women users of alcohol was elaborated, which contemplates the guidelines for the organization of Health Care in High Risk Pregnancy. Final CONCLUSIONS: the study demonstrated the need for professionals to give greater attention to this population, whose care goes beyond the clinical knowledge centered on signs and symptoms in search of an expanded view of health, aiming to reduce the risks and worsening of complications to the health of the pregnant woman and of the neonate. Keywords: Nursing; Pregnancy; Alcohol RESUMEN CONTEXTO: El consumo de alcohol se ha convertido en un problema de salud pública y exige una atención peculiar de los profesionales de la salud, principalmente cuando involucra el consumo por la gestante OBJETIVO(S): verificar las acciones del enfermero en el prenatal de gestantes usuarias de alcohol y del neonato en la Atención Básica de Salud. METODOLOGÍA: exploratorio, descriptivo, de abordaje cualitativo, realizado con enfermeros de las UBS de un municipio de Minas Gerais. Los datos fueron recolectados por medio de un instrumento semiestructurado. Para la interpretación de los resultados se utilizó la técnica de análisis de contenido. RESULTADOS: Participaron del estudio 15 enfermeros, con especialización, siendo que sólo 01 de ellos tenían especialización en Salud Colectiva y Salud de la Familia y 01 Residencia en Salud de la Familia. Se elaboró la categoría Políticas de salud para gestantes usuarias de alcohol, que contempla las directrices para la organización de la Atención a la Salud en la Gestación de Alto Riesgo CONCLUSIONES: En el estudio se demostró la necesidad de que los profesionales dieran mayor atención a esa población, cuyo cuidado supere el saber clínico centrado en signos y síntomas en

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busca de una visión ampliada de salud, con el objetivo de reducir los riesgos y agravamiento de complicaciones a la salud de la gestante y, del neonato. Palabras Clave: Enfermería; Embarazo; Acohol INTRODUÇÃO O consumo excessivo de álcool é uma realidade mundial da sociedade moderna, ocorrendo cada vez mais precocemente. Historicamente, o consumo era mais comum entre os homens, porém as mudanças no papel social da mulher têm determinado uma diminuição nas diferenças de comportamento entre os gêneros e acarretado um maior consumo de drogas lícitas como álcool, tabaco e anorexígenos pelo sexo feminino, estimulados pela mídia, embora a prevalência do alcoolismo por essa população seja significativamente menor que a encontrada entre os homens. Estudo realizado nos EUA, mostrou que aproximadamente metade das mulheres em idade fértil que fizeram parte da amostra, relataram consumo de álcool e o uso variou desde a ingestão esporádica até beber por compulsão (Williams, Smith,2015) e em outro estudo, o padrão de consumo de álcool pela maioria das mulheres grávidas que bebiam regularmente quantidades moderadas ou pesadas de álcool era semelhante ao de mulheres não grávidas (Eaton, et al.,2014). Em outra pesquisa realizada com aproximadamente 18 mil mulheres grávidas no Reino Unido, Irlanda, Austrália e Nova Zelândia, mostrou que 70% beberam de 1 a 2 unidades por semana durante o primeiro trimestre de sua gravidez (O'Keeffe, et al, 2015). Evidências científicas apontam que a ingestão de álcool por mulheres em quantidades equivalentes ao de homens, devido a suas características físicas peculiares, o impacto do álcool é muito maior no organismo feminino. Um dos motivos é a maior dificuldade das mulheres em metabolizar esta substância devido ao menor volume de água e a maior proporção de gordura corpórea. Estes fatores as levam a sentir os efeitos das bebidas alcoólicas muito mais rápido que os homens (Vargas, Soares, Leon, Pereira, Ponce, 2015). O hábito de usar drogas de abuso na gestação pode ser subdiagnosticado devido ao sentimento de culpa das gestantes, que, prevendo uma possível repreensão e desaprovação pelo profissional de saúde, pode negar ou relatar um consumo menor da substância no pré-natal (Kassada, Marcon, Pagliarini, Rossi, 2013). Essas atitudes levam a menor adesão ao pré-natal, a menor participação em grupos de gestantes e causam consequentemente diversos efeitos prejudiciais ao binômio mãe-filho, resultando em uma gestação de alto risco. Assim, quando são identificados um ou mais fatores de risco no pré-natal, a gestante deve ser atendida na Unidade Básica de Saúde (UBS), conforme os protocolos do Ministério da Saúde (MS), e os casos de alto risco deverão ser encaminhados para atenção especializada onde serão feitas as devidas avaliações para dar seguimento ao acompanhamento no pré-natal (Lima, Santos, Póvoas, Silva, 2015).

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Gravidez de risco de uma gestante que faz uso de bebida alcoólica é aquela em que a saúde e a vida da mãe e do concepto têm maior chance de sofrer danos à exposição ao álcool durante a gestação. A intoxicação alcoólica aguda provoca o aumento da acidez gástrica simultaneamente à diminuição dos reflexos protetores das vias aéreas. Essa associação expõe a gestante a um grande risco de aspiração pulmonar do conteúdo gástrico e complicações obstétricas, especialmente o aumento da resistência da artéria uterina em fases tardias da gestação, descolamento prematuro da placenta, abortamento espontâneo ou feto natimorto; CIUR (crescimento intrauterino restrito); parto pré-termo (Ministério da Saúde, 2011). A atuação do enfermeiro, portanto, deve estar pautada em um rastreamento cuidadoso durante a consulta pré-natal, a fim de identificar precocemente situações que possam pôr em risco a saúde materna e infantil. Mediante o exposto, o presente estudo tem como objetivo verificar as ações do enfermeiro no prénatal às gestantes usuárias de álcool na UBS. MÉTODOS Estudo descritivo de abordagem qualitativa. Obteve-se aprovação para a realização da pesquisa pelo parecer CAEE-49535115.3.0000.5137, de acordo com a Resolução 466/2012. Os sujeitos foram informados sobre a natureza do estudo e, concordando com os termos propostos, leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), Foram instruídos sobre a garantia do anonimato, da privacidade e da liberdade de participar ou não da pesquisa e do direito de desistir do estudo em qualquer momento, sem prejuízos. Embora o estudo não causasse nenhum risco aos participantes, houve preocupação quanto à possibilidade de se sentirem constrangidos ao explicitar questões relativas à prática profissional dentro do próprio ambiente de trabalho. Visando minimizar esses riscos, as entrevistas foram realizadas em local reservado, longe de ruído e de acesso de outros profissionais evitando-se que tivessem acesso às informações coletadas e identificassem os informantes. Somente o entrevistador e o entrevistado permaneceram no local de coleta, que foi realizada em um único momento, sem interrupções. Os entrevistados também foram informados sobre os benefícios em participar da pesquisa, como a produção de conhecimento sobre a temática do estudo, uma vez que existe pouca produção científica sobre a gestação de alto risco, que requer uma atenção especializada. O estudo foi desenvolvido nas UBS de um município do interior de Minas Gerais. A amostra foi composta por 15 enfermeiros que atuavam nas Unidades Básicas de Saúde. Os critérios de inclusão foram pertencer à Unidade Básica de Saúde e aceitar participar da pesquisa. O critério de exclusão foi estar ausente do serviço no período da coleta de dados, por férias ou afastamento e recusar participar. Tentou-se contatar todos os enfermeiros atuantes em UBS no município para realizar convite de participação na pesquisa, sem recorte amostral.

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Para a coleta dos dados, inicialmente solicitou-se a autorização da Secretaria de Saúde do município para a realização da pesquisa nas UBS. Com essa autorização realizou-se contato telefônico com os enfermeiros para informar sobre a pesquisa e agendar as entrevistas conforme disponibilidade dos mesmos. Utilizou-se instrumento semi-estruturado composto por questões objetivando-se identificar os profissionais quanto à idade, gênero, formação e com a questão norteadora da pesquisa: Quais ações você realiza no pré-natal à gestante usuária de álcool? Realizou-se pré-teste para a verificação da confiabilidade e pertinência das questões norteadoras aos objetivos da pesquisa. As entrevistas foram agendadas, gravadas, com duração média de 50 minutos, realizadas de julho a outubro de 2016, nas próprias UBS. Os dados coletados foram organizados de acordo com o método de análise de conteúdo seguindo as etapas de pré-análise, quando se realizou leitura flutuante das narrativas, seguidas da exploração do material, relacionando-o aos objetivos propostos pela pesquisa; elaboração de categoria que fosse significativa, codificação, classificação e a agregação dos dados (Minayo, 2014). As respostas das questões fechadas foram organizadas em planilhas Excel e analisadas quantitativamente. Para melhor organização dos depoimentos, os enfermeiros, foram identificados com as letras E, seguidas pelo número na seqüência da entrevista. RESULTADOS Participaram do estudo 15 enfermeiros; o sexo predominante foi o feminino, 14 (93,3%), a faixa etária foi de 31 a 37 anos, 7 (46,6%) e o tempo de formação, de 6 a 10 anos, 7 (46,6%). Quanto à especialização, 11 (73,3 %) possuíam especialização em áreas da Enfermagem, incluindo Enfermagem do Trabalhado, Planejamento Urbano, Unidade de Terapia Intensiva, Nefrologia, Obstetrícia e Neonatal e 02 tinham mestrado em Ciências da Saúde, sendo que apenas 01 tinha especialização em Saúde Coletiva e Saúde da Família e 01 Residência em Saúde da Família. As ações de enfermagem identificadas às gestantes que fazem uso de álcool permitiram a categoria Políticas de saúde para gestantes usuárias de álcool, elaborada a partir de respostas que incluíram; acompanhamento pela equipe da atenção básica e pelo serviço de alto risco; acompanhamento pela equipe da atenção básica em conjunto com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas (CAPS ad); visitas domiciliares, busca ativa, acolhimento e desenvolvimento de vínculo com a gestante, como demonstrado abaixo: [...] Elas são acompanhadas aqui pelo médico, o clínico e pela enfermeira, e muitas vezes são encaminhadas pra rede de alto risco. Mas a gente prefere que elas fiquem aqui, serem acompanhadas na atenção básica, mas normalmente

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elas não fazem as duas coisas. A gestante usuária, a gente precisa ter mais atenção porque algumas fazem o pré- natal corretamente, enquanto outras não. As usuárias que somem são aquelas que fazem uso de drogas mais pesadas. Então essas a gente tem que ficar fazendo busca ativa, indo atrás pra saber se fez exame. É bem difícil, normalmente acaba fazendo pouquíssimos exames. A gente vai tentando assim, o mínimo que a gente consegue para a criança nascer melhor. É não difere tanto dos outros pré-natais, a gente só tem que ter mais atenção com as faltas e fazer busca ativa no caso dela, dela não aparecer. ( E1) Aqui na cidade, a gente tem a referencia que é o alto risco. Mas normalmente, a gente prefere acompanhá-las na unidade por questão do vinculo NE, com essas gestantes... (E2) DISCUSSÃO Como evidenciado no estudo, embora, os enfermeiros não fossem recém-formados, constatou-se que a maioria não tinha especializações na área de Saúde da Família e tampouco em Saúde da Mulher ou Saúde Mental para atuarem na Unidade Básica de Saúde, o que reflete negativamente na qualidade da saúde da população (Firmino, Moraes, Alves, Paiva, Silveira, 2016). Constatou-se que embora, alguns enfermeiros tenham demonstrado preocupação em manter o seguimento das usuárias nas UBS para manterem o vínculo, ficou evidente que pouco se investe na relação com a gestante, não foi mencionado nenhum projeto terapêutico individualizado, que considerasse as singularidades de cada gestante e um trabalho integrado da equipe de saúde (Dias, et al., 2013). Os profissionais da área da saúde que fazem o acolhimento da gestante usuária de álcool e outras drogas devem ter sensibilidade para entender a dependência química e identificar suas necessidades que são complexas. Para que isso possa acontecer, todos os serviços devem estar integrados e funcionarem de forma que se completem (Magalhães, 2017) e a gestante ser assistida por equipes de saúde especializadas, incluindo o Serviço Social e a Psicologia, que compõem a equipe das UBS. A Enfermagem possui papel fundamental neste processo, pois a partir de sua ligação com o indivíduo e seu aporte social protagoniza ações de promoção, proteção, prevenção e reabilitação da saúde dessas usuárias (Ferreira, Miranda, 2016). A assistência pré-natal pressupõe uma avaliação dinâmica das situações de risco para identificar os problemas e impedir um resultado desfavorável a gestante ou ao recém-nascido, com facilidades de acesso e continuidade do acompanhamento pelas equipes da Estratégia da Saúde da Família ou da atenção básica, mesmo quando de alto risco, em conjunto com o atendimento dos serviços de referência especializados, que inclui a referência e contrarreferência, baseado nos

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princípios da humanização do atendimento por meio da sensibilização e da atualização profissional das equipes (Yabuuti, Bernardy, 2014). Nesse caso, a equipe da UBS tem a responsabilidade de realizar o monitoramento do pré-natal de alto risco no estabelecimento referenciado. A contrarreferência, por sua vez deve dar o feedback aos profissionais da Unidade de Saúde que realizaram o referenciamento sobre as condutas adotadas na unidade de alto risco e no CAPS ad, a fim de proporcionar a integralidade e a continuidade da assistência na unidade de origem, assegurando a qualidade da assistência (Corrêa, Dói,2014). É essencial também que a gestante receba informações sobre as possíveis implicações do uso de álcool na gestação, conscientizando-a sobre sua responsabilidade para com a saúde do seu bebê e que seja monitorada, uma vez que o período caracterizado de risco para o uso e o abuso de álcool, ocorre principalmente no primeiro trimestre da gestação, fase essa, em que há formação das estruturas do feto e que podem afetar todo o seu processo de desenvolvimento ((Dias et al., 2013). Os fatores de risco gestacional podem ser identificados no decorrer da assistência pré- natal desde que os profissionais de saúde estejam atentos a todas as etapas da anamnese, exame físico geral e exame ginecológico-obstétrico, razão pela qual é importante a coesão da equipe (Novaes, Oliveira, Melo, Varela, Mathias, 2015). Uma maneira de sistematizar o acompanhamento da gestante usuária de álcool e garantir um prénatal seguro é estabelecer protocolos de cuidados que atendam suas necessidades. A visita domiciliária (VD), como uma das principais atividades do enfermeiro e agente comunitário na UBS, permite o conhecimento da história clínica e social das gestantes e deve ser realizada de forma sistematizada pelas equipes de saúde da família (Kebian, Acioli, 2014). Os dados colhidos numa VD podem fortalecer o vínculo entre o profissional, a usuária da UBS e seu familiar, além de viabilizar a identificação de fragilidades, o planejamento e as intervenções necessárias, para assegurar a adesão ao pré-natal e o sucesso ou fracasso do atendimento (Azeredo, Cavalcante, Cabral, Silva, 2014). No Brasil, os profissionais das UBS podem articulado à rede de serviços da Equipe de Consultório de Rua; Equipe de apoio aos serviços da Atenção Residencial de Caráter Transitório; os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), desenvolver ações semelhantes, a fim de melhorar a resolubilidade da atenção às gestantes usuárias (Ministério da Saúde, 2010; Silva, et al., 2016). Como se verifica, mudar essa realidade requer intensificar os esforços na área do ensino. Cabe à universidade oferecer, principalmente no decorrer da graduação, condições para que o aluno adquira competências para atuar na prevenção de danos relacionados ao abuso de álcool e de outras drogas, além da prestação de cuidados de qualidade à gestante, de forma resolutiva e capaz de detectar e atuar sobre as situações de risco.

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Estudos demonstraram que nas universidades brasileiras é dada pouca atenção ao tema álcool e outras drogas durante a formação de graduação do enfermeiro, ou em oferecer cursos de especialização na área. Quando ofertados, ou são muito concorridos, ou não são acessíveis financeiramente, o que contribui para o despreparo desses profissionais (Barata, 2014; Vargas, Soares,2014). CONCLUSÃO Constatou-se no estudo a pouca atenção dos enfermeiros frente à problemática do uso de álcool na gestação. A atenção dispensada às gestantes ficou restrita às diretrizes do Ministério da Saúde e não se considerou as singularidades das gestantes. Considera-se fundamental que o enfermeiro inclua no seu plano de cuidados orientação sobre os riscos do consumo dessas substancias para si e para o feto, responsabilizando- às pela saúde de seus conceptos. Para isso, faz-se necessário, que os enfermeiros atualizem seus conhecimentos para atenderem a complexidade que caracteriza esse problema e seus desafios IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLINICA Ficou evidente a falta de protocolos específicos para o atendimento de enfermagem às gestantes alcoolistas, para nortear e estruturar a prática clínica no pré-natal, assegurando uma assistência integral e humanizada à gestante. É esperado que o cuidado ultrapasse o saber clínico centrado em sinais e sintomas em busca de uma visão ampliada de saúde, focada nas necessidades individuais das usuárias. Finalmente, que outros estudos possam dar continuidade a esse tema, trazendo contribuições para a área de saúde mental integrada à saúde coletiva, visando melhorar as competências e habilidades dos enfermeiros na atenção básica, para avaliar e intervir no pré-natal das gestantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Williams J. F., Smith, V. C. Fetal. (2015). Alcohol Spectrum Disorders. American Academy of Pediatrics,

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Relação entre o grau de dependência de pessoas com Acidente Vascular Encefålico (AVE) e o nível de ansiedade nos/as cuidadores/as informais Barbara Azevedo*, Liliana Rodrigues**, João Silva***, Mafalda Duarte**** & Gilvan Pacheco***** *Licenciatura; Estudante do ISAVE - Instituto Superior de Saúde, Castelo de Almourol, 4720-155 Amares, Portugal. E-mail: barbara-aazevedo@hotmail.com **Doutoramento; Professora Adjunta; ISAV e Investigadora Integrada do Centro de Psicologia da Universidade

do

Porto,

Rua

Alfredo

Allen

4200-135

Porto,

Portugal.

E-mail:

frodrigues.liliana@gmail.co ***Doutoramento;

Professor

Adjunto;

ISAVE

-

Instituto

Superior

de

SaĂşde.

E-mail:

neves.jps@hotmail.com ****Doutoramento; Professora Coordenadora do ISAVE - Instituto Superior de SaĂşde, e Investigadora Integrada do CINTESIS, Rua Doutor PlĂĄcido da Costa, 4200-450, Porto, Portugal. E-mail: mafalda.duarte@isave.pt *****Doutoramento; Professor Coordenador do ISAVE - Instituto Superior de SaĂşde. Email: gpacheco@isave.pt RESUMO CONTEXTO: O Acidente Vascular EncefĂĄlico tem impacto fĂ­sico, psicolĂłgico e social, influenciando a qualidade de vida do/a doente, mas tambĂŠm a qualidade de vida dos/as cuidadores/as, nomeadamente ao nĂ­vel da ansiedade (Robinson, Clare & Evans, 2005). Estudos demonstram que os nĂ­veis de ansiedade do/a cuidador/a podem influenciar a disponibilidade para cuidar, a qualidade da sua prĂłpria saĂşde (mental e fĂ­sica) e os recursos disponĂ­veis para confrontar o processo de doença (Figueiredo 2007b; Mahoney, Regan, Katona & Livingston, 2005). OBJETIVO: O presente estudo analisa a relação entre o grau de dependĂŞncia de pessoas com AVE e o nĂ­vel de ansiedade dos/as prestadores/as de cuidados informais. MÉTODOS: Foi realizado um estudo quantitativo, atravĂŠs de um questionĂĄrio aplicado presencialmente a 31 cuidadores/as informais de pessoas com AVE. O questionĂĄrio foi composto por itens de cariz sociodemogrĂĄfico, uma escala de avaliação do grau de dependĂŞncia - Escala de Barthel (AraĂşjo, Pais-Ribeiro, Oliveira & Pinto, 2007) e uma escala de avaliação dos nĂ­veis de ansiedade dos/as cuidadores/as informais – Escala de Autoavaliação de Ansiedade de Zung (Ponciano, Serra & Relvas, 1982). RESULTADOS: Os resultados evidenciaram que hĂĄ uma associação estatisticamente significativa entre o grau de dependĂŞncia da pessoa cuidada e o nĂ­vel de ansiedade do/a cuidador/a informal, đ?‘&#x;GH = 0,524, p = 0,002. Ou seja, um maior grau de dependĂŞncia da pessoa cuidada estĂĄ associado a um maior grau de ansiedade no/a cuidador/a. CONCLUSĂ•ES: Salienta-se que os/as cuidadores/as com maior grau de ansiedade tendem a cuidar de pessoas com maior dependĂŞncia. Tal facto permitirĂĄ repensar a prĂĄtica da prestação de

209


cuidados, criando possibilidades de discussĂŁo e de corresponsabilização das estruturas de saĂşde e sociais na prestação de cuidados informais Ă s pessoas com AVE. Palavras-Chave: Acidente Vascular EncefĂĄlico; Funcionalidade; Ansiedade; Cuidados Informais. ABSTRACT BACKGROUND: Stroke has a physical, psychological and social impact, influencing the quality of life of the patient, but also the quality of life of the caregivers, especially in terms of anxiety (Robinson, Clare & Evans, 2005). Studies have shown that caregiver anxiety levels can influence the availability of care, the quality of their own health (mental and physical) and the resources available to confront the disease process (Figueiredo 2007, Mahoney, Regan, Katona & Livingston, 2005). AIM: The present study analyzes the relationship between the degree of dependence of people with stroke and the level of anxiety of the informal care providers. METHODS: A quantitative study was conducted through a questionnaire applied in person to 31 informal caregivers of people with stroke. The questionnaire was composed of sociodemographic items, a scale of evaluation of the degree of dependence - Barthel Scale (AraĂşjo, Pais-Ribeiro, Oliveira & Pinto, 2007) and an evaluation scale of anxiety levels of caregivers / the Informal - Zung Anxiety Self-Assessment Scale (Ponciano, Serra & Relvas, 1982). RESULTS: The results showed that there is a statistically significant association between the degree of dependence of the caregiver and the level of anxiety of the informal caregiver, đ?‘&#x;GH = 0,524, p = 002. That is, a greater degree of dependence on the caregiver is associated with a greater degree of anxiety in the caregiver. CONCLUSIONS: It should be noted that caregivers with higher levels of anxiety tend to care for people with greater dependence. This will make it possible to rethink the practice of care, creating possibilities for discussion and co-responsibility of health and social structures in the provision of informal care for people with Stroke. Keywords: Stroke; Functionality; Anxiety; Informal Care. RESUMEN CONTEXTO: El Accidente Vascular EncefĂĄlico tiene impacto fĂ­sico, psicolĂłgico y social, no sĂłlo influenciando la calidad de vida del paciente, sino tambiĂŠn la calidad de vida de los / las cuidadores / as, especialmente a nivel de la ansiedad (Robinson, Clare & Evans, 2005). Los estudios demuestran que los niveles de ansiedad del / de la cuidador / a pueden influir en la disponibilidad para cuidar, la calidad de su propia salud (mental y fĂ­sica) y los recursos disponibles para confrontar el proceso de enfermedad (Figueiredo 2007b; Mahoney, Regan, Katona Y Livingston, 2005). OBJETIVO: El presente estudio analiza la relaciĂłn entre el grado de dependencia de personas con AVE y el nivel de ansiedad de los / as prestadores / as de cuidados informales. METODOLOGĂ?A: Se realizĂł un estudio cuantitativo a travĂŠs de un cuestionario aplicado presencialmente a 31 cuidadores/as informales de personas con AVE. El cuestionario fue compuesto por Ă­tems de carĂĄcter sociodemogrĂĄfico, una escala de evaluaciĂłn del grado de dependencia - Escala de Barthel (AraĂşjo, Pais-Ribeiro, Oliveira, & Pinto, 2007) y una escala de 210


evaluaciĂłn de los niveles de la ansiedad de los cuidadores/as informales - Escala de AutoevaluaciĂłn de la Ansiedad de Zung (Ponciano, Serra & Relaves, 1982). RESULTADOS: Los resultados evidenciaron que hay una asociaciĂłn estadĂ­sticamente significativa entre el grado de dependencia de la persona cuidada y el nivel de la ansiedad del cuidador/a informal, đ?‘&#x;GH = 0,524, p = 0,002. Es decir, un mayor grado de dependencia de la persona cuidada estĂĄ asociado a un mayor grado de la ansiedad en el cuidador/a. CONCLUSIONES: Se destaca que los cuidadores / as con mayor grado de ansiedad tienden a cuidar de las personas con mayor dependencia. Esto permitirĂĄ repensar la prĂĄctica de la prestaciĂłn de cuidados, creando posibilidades de discusiĂłn y de corresponsabilizaciĂłn de las estructuras de salud y sociales en la prestaciĂłn de cuidados informales a las personas con AVE. Palabras Clave: Accidente Vascular EncefĂĄlico; Funcionalidad; Ansiedad; Cuidados Informales INTRODUĂ‡ĂƒO O Acidente Vascular Cerebral (AVE) ĂŠ um problema mundial de saĂşde pĂşblica, sendo responsĂĄvel por uma grande proporção de doenças neurolĂłgicas (Sacco, 2002; Silva, 2004). AlĂŠm da elevada taxa de morbilidade associada, constitui a terceira causa de morte a nĂ­vel internacional (as primeiras sĂŁo as patologias cardĂ­acas e o cancro) (Pittella & Duarte, 2002; Radanovic, 2000). Segundo um estudo desenvolvido por Silva (2004) o AVE contribui, por ano, para cerca de 5 milhĂľes de mortes e mais de quinze milhĂľes nĂŁo fatais, com cinquenta milhĂľes de sobreviventes, sendo que um/a em cada 6 pessoas com AVE sofre uma grande probabilidade de um novo AVE ou Ataque IsquĂŠmico TransitĂłrio em cinco anos. O AVE tem sido definido como uma sĂ­ndrome multifatorial, caraterizada por um inĂ­cio sĂşbito de dĂŠfice neurolĂłgico, que persiste por mais de 24 horas (Greenberg, Aminoff & Simon, 1996). Este produz tambĂŠm um impacto fĂ­sico na capacidade funcional impedindo, ou dificultando, a realização de tarefas simples, como as atividades da vida diĂĄria. Esta perda de capacidade funcional contribui para uma diminuição da autonomia e um aumento da dependĂŞncia (Lavinsky & Vieira, 2004). O conceito de dependĂŞncia estĂĄ ligado Ă perda de autonomia fĂ­sica, psicolĂłgica e/ou intelectual e ao auxĂ­lio de outrem para realizar necessidades especĂ­ficas (e bĂĄsicas) das atividades de vida diĂĄria (Amaral & Vicente, 2000; Nogueira, 2009). Segundo Paschoal (1999), a perda da funcionalidade ĂŠ o principal indicador de dependĂŞncia. Este autor refere a importância da avaliação da autonomia funcional, com base nas atividades bĂĄsicas da vida diĂĄria como a alimentação, higiene pessoal e o movimento. AlĂŠm do impacto fĂ­sico, psicolĂłgico e social sobre a pessoa com AVE, a dependĂŞncia tem tambĂŠm impacto na qualidade de vida dos/as cuidadores/as. Este impacto deve-se ao facto dos/das cuidadores/as informais1 serem cruciais na rede de apoio informal, uma vez que tĂŞm como principal função assegurar a continuidade dos cuidados Ă pessoa dependente. Estes cuidados 1

Considera-se o cuidado informal todo aquele que nĂŁo ĂŠ remunerado, na ausĂŞncia de um vĂ­nculo formal (Sarmento, Pinto, & Monteiro, 2010; Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2006).

211


informais podem ser assumidos por amigos/as, vizinhos/as ou outras figuras significativas, mas é geralmente a família a assumir a responsabilidade da organização ou assistência e prestação destes cuidados. Tipicamente, a responsabilidade principal sobre o cuidado da pessoa dependente recai sobre um único familiar, denominado por principal cuidador/a (Laham, 2003). Este/a tem a responsabilidade de lidar, não apenas com as dificuldades biopsicossociais da pessoa dependente,

mas também com os impactos dessa mesma prestação de cuidados,

nomeadamente ao nível do seu estado emocional (Karsch, 2003). Vários estudos têm descrito a presença de sintomatologia ansiosa nos/as cuidadores/as informais, associada à progressiva deterioração do estado de saúde da pessoa dependente, à diminuição do tempo livre e lazer e à ausência de apoio externo (Anthony-Bergstone, Zarit, & Gatz, 1988; Schulz & Williamson, 1991). Por outro lado, os níveis de ansiedade do/a cuidador/a podem influenciar: a saúde da pessoa dependente; a qualidade da própria saúde (mental e física); a gestão dos conflitos familiares, no geral influencia a própria experiência de cuidar (Donaldson, Tarrier & Burns, 1997; Figueiredo 2007a, b; Mahoney, Regan, Katona & Livingston, 2005). Os/as cuidadores/as informais são descritos como um grupo que manifesta níveis elevados, clinicamente significativos, variando entre os 10-35% de sintomatologia ansiosa (Cooper, Katona, Orrell & Livingston, 2008; Dura, Kielcolt-Glaser & Skutenberg, 1991). Apesar dos estudos referirem a prevalência de manifestações ansiosas nos/as cuidadores/as informais, poucos têm sido os estudos que se centrem nas pessoas que prestam cuidados informais (Cooper, Katona, Orrell & Livingston, 2008). O presente estudo teve como objetivo analisar a relação entre o grau de dependência de pessoa com AVE e o nível de ansiedade gerados nos/as prestadores/as de cuidados informais. MÉTODOS Questões de Investigação e hipóteses Tendo em conta o objetivo proposto, formulou-se a seguinte questão de investigação com a seguinte hipótese de: O grau de dependência da pessoa cuidada influencia na ansiedade no/a cuidador/a informal? H1- Existe uma associação entre o grau de dependência de pessoas com Acidente Vascular Encefálico (AVE) e o nível de ansiedade gerado nos/as cuidadores/as informais. Amostra A amostra foi constituída por 31 indivíduos, cuidadores informais (familiares), de pessoas vítimas de AVE numa fase crónica da patologia, que residiam em diversas freguesias do distrito de Braga. Esta amostra foi selecionada por conveniência (Joyce-Moniz & Barros, 2005), cujos critérios de inclusão foram os seguintes: familiares a residirem com a pessoa vítima de AVE e com um tempo de prestação de cuidados superiores a 1 ano. Esta amostra foi constituída por 23 (74,2%) indivíduos do sexo feminino e 8 (25,8%) do sexo masculino. No que respeita à idade dos/as cuidadores/as informais varia entre os 29 anos e os 78 anos de idade; a média encontrada foi de 52,23 anos. No que concerne ao estado civil 25 (80,6%) são casados/as e 6 (19,4%) são solteiros/as. Em relação ao meio onde residem, 24 (77,4%) são de um meio rural e 7 (22,6%) de 212


um meio urbano. Em relação ao Quanto ao grau de parentesco dos/as cuidadores/as informais com a pessoa cuidada, 16 (51,6%) são filhos/as, 1 (3,2%) é neto e 14 (45,2%) são cônjuge. Instrumentos Para a recolha dos dados foi utilizado um questionário que incluiu (i) as características sociodemográficas dos/as cuidadores/as informais (e.g. sexo, idade, estado civil, grau de parentesco, habilitações literárias, profissão, meio onde reside); (ii) a Escala de Barthel (EB) (2008) para avaliar o grau de dependência das pessoas cuidadas – A EB (Mahoney & Barthel, 1965) é um instrumento que tem como objetivo avaliar a capacidade funcional básica da pessoa para realizar as atividades de vida diária, disponibilizando informação sobre o grau de dependência. Este instrumento inclui atividades de vida diária (e.g., alimentar, tomar banho, vestirse, higiene pessoal). Para cada tipo de atividades, existe uma pontuação que pode assumir os valores 0, 5, 10 ou 15 pontos, sendo que a pontuação global pode assumir valores entre os 0 e os 100 pontos, indicando que quanto mais elevada for a pontuação maior o nível de autonomia e/ou independência. A EB é a mais adequada para pessoas que sofram de incapacidade moderada ou grave, tendo sido utilizada com pessoas que sofram de um grande leque de doenças crónicas, resultando uma alteração da sua capacidade funcional, nomeadamente pessoas idosas e pessoas que sofrem de AVE. Esta escala é de fácil aplicação e interpretação, apresentando elevados níveis de fiabilidade e validade (Figueiredo, 2007a); e (iii) a Escala de Autoavaliação de Ansiedade de Zung (SAS) (1982) para avaliar os níveis de ansiedade dos/as cuidadores/as informais – Esta escala de autoavaliação foi baseada nos sinais e sintomas mais característicos das manifestações de ansiedade referidos na literatura psiquiátrica e psicológica. A escala contém 20 itens que traduzem sintomas, dos quais a pessoa deve avaliar para cada um deles, escolhendo uma das quatros opções, aquele que melhor se adequa a si: “nenhuma ou raras vezes”, “algumas vezes”, “uma boa parte do tempo”, “a maior parte ou totalidade do tempo”. A cada uma das opções é atribuída uma pontuação que vai desde 1 a 4, do menos para o mais ansioso, respetivamente. Os itens 5, 9, 13, 17, e 19 estão ordenados num sentido inverso dos restantes. Assim, quanto mais ansioso estiver um paciente maior pontuação obtêm na escala. A pontuação da escala varia de 20 a 80, dividindo a pontuação obtida pelo valor máximo possível, obtêm-se um índice que representa o grau de ansiedade. A escala foi considerada como tendo uma boa fiabilidade e validade quer na versão americana (Zung, 1975) quer na aferição feita para a população portuguesa (Ponciano, Serra & Relvas, 1982). A linha de corte de significado clínico, situa-se no valor 37, considerando-se como um caso clínico de ansiedade os indivíduos que pontuam valores iguais ou superiores a este valor. Ambas as escalas estão validadas para a população Portuguesa. Para garantir a confidencialidade e o anonimato dos dados foi construído um consentimento informado duplicado, respeitando a privacidade e a vigente normativa de proteção de dados (Lei n.º 67/98 de 26 de outubro).

213


Procedimento A recolha de dados foi realizada presencialmente, em diversas freguesias de Braga. A seleção dos/as participantes foi, como referida anteriormente, por conveniĂŞncia a partir do contacto privilegiado da primeira autora com cuidadores/as informais de pessoas com AVE e atravĂŠs do contacto com vĂĄrias clĂ­nicas de Fisioterapia. Este Ăşltimo contacto estabeleceu-se, jĂĄ que os/as cuidadores/as tendem a acompanhar as pessoas vĂ­timas de AVE na reabilitação. ApĂłs terem conhecimento dos objetivos do estudo e das condiçþes de participação, os/as participantes assinaram um documento de consentimento informado. Em seguida, aplicou-se o questionĂĄrio com as caracterĂ­sticas sociodemogrĂĄficas dos/as cuidadores/as informais, com a Escala de Barthel (AraĂşjo, Pais-Ribeiro, Oliveira & Pinto, 2007) e finalmente a Escala de Autoavaliação de Ansiedade de Zung (Ponciano, Serra, & Relvas, 1982; Zung, 1975). Pressupostos de anĂĄlise de dados A anĂĄlise dos dados foi quantitativa, com recurso ao programa de estatĂ­stica IBM SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versĂŁo 25.0. Em primeiro lugar, foi testado o pressuposto de normalidade da distribuição, subjacente ao uso de testes paramĂŠtricos, utilizando o teste de Shapiro-Wilk. Estando cumprido o pressuposto de normalidade (dados nĂŁo-mostrados), foi utilizado o teste de Coeficiente de Correlação Ponto-Bisserial (đ?’“đ?’‘đ?’ƒ ), para analisar a relação estatĂ­stica entre a Escala de Autoavaliação de Ansiedade de Zung e a Escala de Barthel. Em todos os testes estatĂ­sticos adotou-se o valor de 0.05 como nĂ­vel de significância dos resultados (p <0.05). RESULTADOS Os resultados evidenciaram que hĂĄ uma associação positiva, estatisticamente significativa entre o grau de dependĂŞncia da pessoa cuidada e o nĂ­vel de ansiedade do/a cuidador/a informal, đ?‘&#x;GH = 0,524, p = 0,002 (ver Tabela V). Assim, as pessoas vĂ­timas de AVE que revelaram maior dependĂŞncia tĂŞm pontuação mais baixas na Escala de Barthel e tĂŞm cuidadores/as que revelaram maior ansiedade, apresentando pontuaçþes mais elevadas na Escala de Zung. Tabela I - Indicador de DependĂŞncia de Barthel numa amostra de 31 pacientes (N = 31) com Acidente Vascular EncefĂĄlico (AVE) do Distrito de Braga que se encontram ao cuidado de cuidadores informais.

214


Categorias DependĂŞncia “Elevadaâ€? Score Total < đ?’™ − s DependĂŞncia “MĂŠdiaâ€? đ?’™ − s < Score Total < đ?’™ + s DependĂŞncia “Baixaâ€? Score Total > đ?’™ + s

N

%

4

12,9

24

77,4

3

9,7

Tabela II - Indicador de Ansiedade de Zung numa amostra de 31 cuidadores informais (N = 31) de pacientes com Acidente Vascular EncefĂĄlico (AVE) do Distrito de Braga.

Indicador de Ansiedade de Zung (Score Total)

MĂ­nimo

MĂĄximo

MĂŠdia

Desvio-PadrĂŁo

37

57

46,23

4,856

Tabela III – Tabela de referĂŞncias cruzadas para o cruzamento de variĂĄveis Indicador de DependĂŞncia de Barthel versus Indicador de Ansiedade de Zung numa amostra de 31 cuidadores informais (N = 31) de pacientes com Acidente Vascular EncefĂĄlico (AVE) do Distrito de Braga. Indicador de DependĂŞncia de Barthel DependĂŞncia “Elevadaâ€? Score Total < đ?’™ − s Ansiedade “Elevadaâ€? Score Total < đ?’™ − s Indicador de Ansiedade de Zung

Ansiedade “MĂŠdiaâ€? đ?’™ − s < Score Total < đ?’™ + s Ansiedade “Reduzidaâ€? Score Total > đ?’™ + s

Total

4

DependĂŞncia

DependĂŞncia

“MĂŠdiaâ€?

“Reduzida�

đ?’™ − s < Score Total Score Total > đ?’™ + <đ?’™+s

s

1

11

3

0

13

0

3

0

0

24

3

Tabela IV – Teste de Associação do Coeficiente de Correlação Ponto-Bisserial (rpb) para o cruzamento de variĂĄveis Indicador de DependĂŞncia de Barthel versus Indicador de Ansiedade de Zung numa amostra de 31 cuidadores informais (N = 31) de pacientes com Acidente Vascular EncefĂĄlico (AVE) do Distrito de Braga.

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VARIĂ VEL 1

VARIĂ VEL 2

Indicador de DependĂŞncia de Barthel

Indicador de Ansiedade de Zung

đ?’“đ?’‘đ?’ƒ 0,524

� 0.002**

(*) Associação significativa (P < 0.05) (**) Associação muito significativa (P < 0.01)

DISCUSSĂƒO Os valores da SAS apresentam valor de significado clĂ­nico (valores iguais ou superiores a 37). De acordo com os pontos de corte referidos por Ponciano, Serra e Relvas (1982) 46,23% da presente amostra apresentam valores clinicamente significativos. Estes valores sĂŁo superiores aos referidos nos estudos sobre a ĂĄrea em que a prevalĂŞncia de manifestaçþes ansiosas nos/as cuidadores/as informais variava entre 10-35% (Cooper, Katona, Orrel & Levingston, 2008; Dura, Kielcolt-Glaser & Stukenberg, 1991). A associação entre o grau de dependĂŞncia das pessoas com AVE e o grau de ansiedade dos/as cuidadores/as informais pode explicar o facto do grau de dependĂŞncia de quem se cuida influenciar a qualidade de vida e a saĂşde fĂ­sica e psicolĂłgica de quem presta cuidados (Mahoney, Regan, Katona & Livingston, 2005; Schulz & Williamson, 1995). Problematizar a qualidade de vida e a saĂşde fĂ­sica e psicolĂłgica implica alargar o foco da prestação de cuidados, nĂŁo se centrando na pessoa que ĂŠ cuidada, mas ampliar para quem presta cuidados, principalmente informais (Cooper, Katona, Orrel & Levingston, 2008). O grau de dependĂŞncia estando associado ao nĂ­vel de ansiedade de quem presta cuidados, influencia precisamente a experiĂŞncia de cuidado (Donaldson, Tarrier & Burns, 1997; Figueiredo 2007a). A ansiedade e os sentimentos de vulnerabilidade podem determinar em maior/menor grau a disponibilidade para cuidar, a prĂłpria saĂşde e a perceção dos recursos pessoais disponĂ­veis para confrontar o processo de doença. A vivĂŞncia dos cuidadores/as tem sido caracterizada por uma exposição repetida de acontecimentos potencialmente negativos e ameaçadores para a sua saĂşde geral. Avaliar os diferentes nĂ­veis de dependĂŞncia torna-se central para o planeamento adequado dos cuidados de saĂşde, uma vez que estes interferem com o quotidiano da pessoa cuidada e do/a cuidador/a. Em especĂ­fico, conhecer o grau de dependĂŞncia de pessoas com AVE implica aprender a cuidar da pessoa dependente e do/a prĂłprio/a cuidador/a, criando estratĂŠgicas que previnam o surgimento de quadros ansiosos para quem presta cuidados, jĂĄ que os/as cuidadores/as com melhor saĂşde mental tendem a ser tambĂŠm aqueles/as que cuidam de pessoas com AVE menos dependentes e os/as cuidadores/as que tĂŞm a cargo pessoas mais dependentes apresentam um agravamento do estado de ansiedade. Estes resultados corroboram os estudos sobre a ĂĄrea (França, 2010).

216


CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLINICA A principal conclusão do presente estudo refere-se ao facto de que os/as cuidadores/as com maior grau de ansiedade tendem a cuidar de pessoas com maior dependência. Os dados recolhidos, permitem

constituir

uma

base

de

exploração

no

desenvolvimento

de

intervenções

multidisciplinares (e.g., enfermeiros/as, médicos/as, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala, nutricionistas) que visem estratégias para aumentar os níveis de independência às pessoas com AVE, podendo contribuir assim para a redução e ou prevenção de níveis ansiedade dos/as cuidadores/as informais. Outra vertente da intervenção, passa por preparar diretamente o/a cuidador/a, para se adaptar ao processo da doença, dirigindo-se a todas as ações dos/as cuidadores/as, adaptando-se aos impactos da doença de quem presta cuidados com o menor sofrimento, já que as significações que o/a cuidador/a constrói sobre a realidade de si próprio e de quem presta cuidados, do processo de doença, e dos acontecimentos exteriores e relacionais influenciam as manifestações emocionais e/ou comportamentais. No que respeita às limitações do estudo podemos referir a pequena dimensão da amostra, sendo esta por conveniência e por isso menos representativa, no entanto importa referir a extrema dificuldade em recolher dados com pessoas que se encontram em contextos de maior vulnerabilidade, como é o caso em situações de doença. Outra limitação do estudo é o facto de que não foram exploradas outras variáveis do contexto de prestação de cuidados que nos possibilitasse inferir outras possíveis associações e/ou modelos explicativos relacionados com o grau de dependência de pessoas com AVE e a ansiedade nos/as cuidadores/as informais. Ao nível de propostas de investigação futura reconhece-se a importância de realizar estudos qualitativos para a compreensão do fenómeno em maior profundidade, valorizando os significados, as vivencias de quem presta cuidados e quais as estratégias de coping e de adaptação ao processo de doença. Tal como referem alguns estudos é importante identificar o papel ativo da pessoa na própria construção do processo de doença (Clare, Goater & Woods, 2006) e dos recursos materiais e imateriais que possui para resistir ao impacto psicológico e sociais do diagnóstico e de todo o processo de doença (Husband, 2000; Bramford et al., 2004). Mais estudos sobre o impacto da prestação

de

cuidados

para

quem

cuida

permitirá

alargar

a

discussão

sobre

a

corresponsabilização das estruturas de saúde e sociais na implementação de estratégias de empoderamento para quem cuida e para quem é cuidado/a por ter tido um AVE. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amaral, M. F., & Vicente, M. O. (2000). Grau de dependência dos idosos inscritos no Centro de Saúde de Castelo Branco. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 18(2), 23-31. Anthony-Bergstone, C.R., Zarit, S.H., & Gatz, M. (1988). Symptoms of psychological distress among caregivers of dementia patients. Psychology and Aging, 3, 245-248. Araújo, F., Pais-Ribeiro, J., Oliveira, A., & Pinto, C. (2007). Validação do Índice de Barthel numa amostra de idosos não institucionalizados. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 25(2), 59-66.

217


Bramford, C., Lamont, S., Eccles, M., Robinson, L., May, C., & Bond, J. (2004). Disclosing a diagnosis of dementia: a systematic review. International Journal of Geriatric Psychiatry, 19, 151169. Clare, L., Goater, T., & Woods, B. (2006). Illness representation in early-stage dementia: a preliminary investigation. International Journal of Geriatric Psychiatry, 21, 761-767. Cooper. C, Katona, C., Orrell, M., & Livingston, G. (2008). Coping strategies, anxiety and depression in caregivers of people with Alzheimer´s disease. International Journal of Geriatric Psychiatry, 23, 929-936. Donaldson, C., Tarrier, N., & Burns, A. (1997). The impact of the symptoms of dementia on caregivers. British Journal of Psychiatry, 170, 62-68. Dura, J., Kielcolt-Glaser, J., & Stukenberg, K. (1991). Anxiety and depression disorders in adult children caring for demented parents. Psychology and Aging, 6(3), 467-473. Figueiredo, D. (2007a). Prestar cuidados: os cuidadores familiares de idosos. In D. Figueiredo (Ed.). Cuidadores familiares ao idoso dependente (pp.99-148). Lisboa: Climepsi Editores. Figueiredo, D. (2007b). Prestação de cuidados familiares a idosos dependentes com e sem demência (Tese de Doutoramento), Universidade de Aveiro, Aveiro. França, J. (2010). Saúde mental e necessidades nos cuidadores de famílias com demência (Dissertação de Mestrado), Universidade Fernando Pessoa, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Porto. Greenberg D. A., Aminoff M. S., & Simon R.P. (1996). Neurologia clínica. 2ª Edição. Porto Alegre, RS: Editora Artes Médicas. Husband, H. (2000). Diagnostic disclosure in dementia an opportunity for intervention. International Journal of Geriatric Psychiatry, 15, 544-547. Joyce-Moniz, L., & Barros, L. (2005). Psicologia da doença para os cuidados de saúde: desenvolvimento e intervenção. Porto: Asa Karsch U. (2003). Idosos dependentes: famílias e cuidadores. Cadernos de Saúde Pública,19(3),861-866. Laham, C. F. (2003). Percepção de perdas e ganhos subjetivos entre cuidadores de pacientes atendidos em um programa de assistência domiciliar (Dissertação de Mestrado em Ciências), Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo. Lavinsky, A.E., & Vieira, T.T. (2004). Processo de cuidar de idosos com acidente vascular encefálico: sentimentos dos familiares envolvidos. Acta Sci Health Sci, 26(1), 41-5. Lei n.º 67/98 de 26 de Outubro da Assembleia da República, Lei da Protecção de Dados Pessoais (transpõe para a ordem jurídica portuguesa a Directiva nº 95/46/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 24 de Outubro de 1995, relativa à protecção das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento dos dados pessoais e à livre circulação desses dados). Diário da República: I

série-A,

N.º

247

(1998).

Obtido

em

http://www.dgpj.mj.pt/sections/estatisticas-da-

justica/legislacao/lein6798de26de/downloadFile/file/L_67_1998.pdf?nocache=1253185026.86

218


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Saúde mental na infância e adolescência: principais desafios na atualidade Dulce Carvalho* & José Carlos Nelas** *Dulce Carvalho; Enfermeira Especialista de Saúde Infantil e Pediátrica; Hospital Pediátrico de Coimbra; Serviço de Internamento de Pedopsiquiatria; Psicóloga, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento; mariadulcecarvalho66@hotmail.com ** Enfermeiro Chefe do Serviço de Pedopsiquiatria do Hospital Pediátrico de Coimbra; Especialista de Saúde Infantil e Pediátrica; Mestre em Gestão e Economia da Saúde; jcnelas@chuc.minsaude.pt RESUMO Cuidar de crianças e adolescentes, tendo o comportamento como foco de atenção de cuidados, é um desafio aliciante aos profissionais de saúde mental e psiquiatria, sendo que exige sensibilidade, atenção, responsabilidade e competência. Ser adolescente implica ser capaz de fazer a travessia tumultuosa (ou pelo contrário naufragar) deste período desenvolvimental. Além de tudo o resto, implica um jogo de se apoderar de um corpo estrangeiro, que, num momento, tem o problema de ter que sair da infância e noutro, por mutação, quer altos riscos na procura de novos universos (espaços psíquico e social). Este processo de mudança (hormonal, física, cognitiva e social) pode causar alterações comportamentais, desenvolvimentais ou emocionais (cerca de 20%, segundo a OMS) não desejadas, sendo que um em cada cinco apresenta uma perturbação mental com expressão antes dos 18 anos de idade. Esta reflexão é para eles. Palavras-chave: adolescência; saúde mental; enfermagem RESUMEN Cuidar de niños y adolescentes, teniendo su comportamiento como foco de atención, es un desafío para los profesionales de la salud mental, que requiere sensibilidad, atención, responsabilidad y competencia. Ser adolescente implica ser capaz de hacer la travesía tumultuosa (o naufragar) de ese período de desarrollo. Además de otras cuestiones, implica jugar un juego en el que toma posesión de un cuerpo extraño que, en un momento, necesita dejar el período de la infancia, y en otro, por mutación, él quiere correr riesgos en la búsqueda de una nueva realidad (psíquica y social). Este proceso de cambio (hormonal, físico, cognitivo y social) puede causar alteraciones conductuales, de desarrollo o emocionales indeseables (alrededor del 20%, según la OMS), siendo que uno de cada cinco niños / adolescentes desarrolla un trastorno mental antes 18 años. Esta reflexión es para ellos. Descriptores: adolescencia; salud mental; enfermería

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ABSTRACT Caring for children and adolescents, with the behavior as a focus of care, is a challenge for mental health professionals, requiring sensitivity, attention, responsibility and competence. Being an adolescent implies to cross (or instead sink) this tumultuous developmental period. Apart from other issues, it involves play a game in which he takes possession of a strange body which at one moment, needs to leave the childhood period, and in another, by mutation, wants to take risks in the search for a new reality (psychic and social). This process of change (hormonal, physical, cognitive and social) can cause unwanted behavioral, developmental or emotional changes (about 20%, according to WHO), with one in five children/adolescents having a mental disorder before the age of 18. Our reflection is for them. Keywords: adolescence; mental health; nursing CONTEXTUALIZAÇÃO A Direção Geral da Saúde [DGS] (2013) refere que as perturbações mentais na infância podem ter níveis elevados de prevalência, sendo que 25% das crianças com uma perturbação emocional diagnosticável e 43% com uma perturbação do comportamento continuam a apresentar a perturbação ao fim de três anos. Além de que, os jovens que experienciam ansiedade na infância têm 3,5 vezes mais probabilidade de sofrer de depressão ou perturbações da ansiedade na idade adulta. O ministério da saúde, baseando-se em dados da Academia Americana de Psiquiatria da Infância e da Adolescência e da OMS-Região Europeia, refere que uma em cada cinco crianças apresenta evidência de problemas de saúde mental e que este peso tende a aumentar (Ministério da Saúde, 2008, citado por Dias e Carvalho, 2017). Também o Programa Nacional de Saúde Escolar (2014), indica que entre os 5 e os 14 anos, o maior peso de doença com implicações na qualidade de vida, deve-se às perturbações mentais e comportamentais (22%). Neste contexto, a elevada taxa de prevalência das perturbações mentais na infância e adolescência torna os problemas de saúde mental preocupantes, sendo estes observáveis em setores como a saúde, a educação, a justiça e a segurança social, podendo, por essa razão, ter efeitos muito prejudiciais no desenvolvimento social, intelectual e emocional das crianças e adolescentes e, consequentemente, no seu futuro, traduzindo-se na prática por dificuldades relacionais, problemas disciplinares, absentismo, retenção escolar, más notas, abandono escolar e/ ou delinquência, fatores com elevado impacto ao nível individual, económico e social. Mas, é através do outro que o adolescente vai tomando conhecimento do que ele é. As dificuldades encontradas nas relações consigo são induzidas pelas dificuldades que experimenta nas relações com os outros, e especialmente, pela sua necessidade de recusa dos modelos parentais. Crise de identidade, a adolescência deve ser considerada sob o ângulo de uma constante comunicação ansiosa entre si e o outro, entre a identidade e a identificação. Ponto de partida: transformações fisiológicas (“eu e o meu corpo”). Ponto de chegada: inserção na sociedade (“eu e os outros” e “eu e o mundo”). Entre ambos: uma revisão profunda da pessoa, na relação consigo e nas relações 221


com as outras pessoas. É neste domínio que se concebe o trabalho dos profissionais de saúde mental. Reflexão sobre os desafios da prática clínica Rosa, Loureiro e Sequeira (2014) referem que os pilares da saúde mental se fundam nos primeiros anos de vida. Nestes começa o desafio para o exercício da parentalidade. A parentalidade deve assentar na capacidade dos pais de transmitirem à criança segurança e proteção – vinculação segura, no entanto, o que se observa frequentemente é o desenvolvimento de padrões inseguros, evidenciando dois tipos de situações: numa, o sujeito não pode contar com a figura de vinculação quando dela necessita, porque não está disponível (podendo ser rejeitante) e, neste caso, a estratégia de negação da necessidade da figura pode ser adaptativa, surgindo o padrão inseguro de evitamento; noutra a figura de vinculação alterna, de forma imprevisível, a qualidade das suas respostas, traduzindo assim o padrão inseguro ambivalente ou inseguro ansioso, ou um padrão desorganizado/ desorientado, no qual se evidenciam comportamentos contraditórios de aproximação/ resistência, apreensão, confusão ou imobilização face à figura de vinculação quando dela necessitam. Nesta situação, a desorganização é interpretada como uma resposta de medo da figura de vinculação. É deste padrão de vinculação que emergem as situações mais frequentes de crianças e adolescentes em risco, também de patologia psiquiátrica. Certo é que a qualidade dos padrões das relações e do self, construídos a partir das relações precoces rotineiras, significativas e continuadas, constitui um alicerce para o seu desenvolvimento dum self coeso e autónomo, de forma a adquirir as competências necessárias para lidar com a separação e levar a outras capacidades para estabelecer novas relações significativas (Machado, 2007). Além das questões da vinculação, as novas dinâmicas familiares diminuem o espaço de interação entre pais e filhos. Neste contexto, as birras (vingança, poder, falta de atenção e desistência) vãose mantendo além dos quatro anos de idade e espelham uma dinâmica familiar controlada pelas crianças, fazendo dos pais um jogo de ping-pong interminável, levando à exaustão e cedência pelo cansaço, perdendo-se desta forma a oportunidade educativa. Quando o divórcio acontece muitas vezes os pais tornam-se egoístas, procuram aliados e deixam as crianças assistir aos conflitos intermináveis do casal, questões conjugais que em nada deviam prejudicar a parentalidade. Uma forma destas crianças/ adolescentes evitarem conflitos é ficarem a jogar no tablet, no telemóvel, no computador, promovendo contactos sociais desajustados ou então ficarem a ver séries na televisão durante horas seguidas, comprometendo o seu padrão de sono…aqui ao menos ninguém ralha, quase nem são necessárias pessoas…E quando é que os pais vão querer ser os “brinquedos” dos seus filhos? Sempre com bateria carregada, cheios de ideias e sorrisos? Sabemos também que todos os adolescentes têm telemóveis topo de gama, mesmo que essa não seja a prioridade familiar. Todos têm acesso às ditas redes (anti)sociais e logo, tudo é possível….

222


Mais um desafio: receber, receber… sem dar nada em troca. Os filhos merecem tudo, independentemente de tudo e depois exigem cem desejos…sem frustrações! Não será isto negligência? Certo também é que os pais, apesar de os entenderem à nascença, quando eles não falavam, agora, parece que não falam a mesma língua! Também, como nunca se controla tudo, podem existir acontecimentos inesperados e dramáticos que levem ao stress pós-traumático bloqueador e assombrado que não se resolve facilmente se a estrutura for frágil. Uns (vítimas) e outros (agressores), ou apenas voyeurs, leva-nos até ao bullying, à frustração afetiva e às suas consequências. O segredo na escuta engloba interesse, interpretação correta das palavras, observação da linguagem corporal e prudência nos conselhos. Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) defendia que poderíamos captar o conhecimento no próprio mundo em que vivemos. Mas como podemos captar o conhecimento sentados no sofá? É o mesmo que aprender a nadar só lendo o manual de instruções… Segundo este filósofo a felicidade é o único objetivo do homem. Então, sendo o homem um ser social, para ser feliz é preciso fazer o bem ao outro… logo, “Todo o ser capaz de viver isoladamente ou é um Deus ou uma besta, mas não um ser humano”. Colocamos os adolescentes em redomas de vidro ao esconder o que é menos bom, por exemplo, escondemos a morte às crianças/adolescentes como se ela não existisse e depois quando pessoas significativas desaparecem o silêncio prevalece. Cabe ao adulto explicar que a vida tem problemas. As crianças não têm que resolver problemas de adultos, mas estes não têm que lhos esconder, como se a vida fosse sempre encantada. O adolescente é aquele que está a crescer, a amadurecer do ponto de vista orgânico, psicológico, social e humano, contraposto ao adulto, particípio passado do mesmo verbo, o «crescido», o «maduro», logo mais capaz de dar explicações. E, quando surge mesmo a doença psiquiátrica as famílias ficam perdidas. Nesta situação, correse de psiquiatra em psiquiatra à procura de explicações, abusa-se de medicação, como se esta resolvesse tudo e depois dá-se conta que falta trabalho de retaguarda e deixam-se cair desesperadamente os adolescentes em sofrimento. Identificamos aqui que a prevenção também falha nas famílias já com patologia transgeracional. É “normal…”, “Sai ao pai, sai à mãe…”, sendo que estes casos deveriam ser sinalizados e trabalhados desde cedo. E depois muitas vezes as relações são abusivas, sendo que os abusos sexuais ocorrem frequentemente no seio da família e mesmo assim, mantemos as crianças e adolescentes no mesmo meio durante anos, desacreditando ou negligenciando-os. A tristeza prevalece, porque faltam experiências positivas, partilhadas, sendo a “experiência” um pilar do desenvolvimento cognitivo que abre perspetivas à debilidade. Se o ambiente familiar é triste as crianças e os adolescentes apenas aprendem a tristeza - aprendizagem em espelho – e, gostar da tristeza, muitas vezes é um processo adaptativo para não sofrer ainda mais. Depois, ser adolescente implica ser do grupo, estar na moda! Seja no tipo de roupa (de marca), seja no consumo de tabaco, álcool ou drogas ou até nas saídas à noite. Mas porque razão os

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jovens querem ser iguais quando no fundo querem ser diferentes e únicos! Afinal em que ficamos? Ser diferente ou igual? E para ter visibilidade social os pais exigem dos filhos desempenhos académicos excelentes esquecendo-se da educação de valores e da unicidade pessoal. Onde está a educação pela honestidade, pela tolerância, pelo altruísmo, pela coerência…? A exigência desmedida por parte dos pais pode derivar facilmente na falta de autoestima, na ansiedade e um elevado mal-estar emocional, com dependência e passividade. O sucesso, acima da felicidade, exige notas excelentes, atividades extracurriculares, mas o resultado é o stress e a vulnerabilidade, levando à crise do sistema familiar. Nesta sociedade, muitas vezes discriminatória, juntamente com a estigmatização e os abusos no contexto de relações interpessoais significativas, o género é privilegiado em detrimento do respeito pelas pessoas, levando ao sofrimento e a angústias desmedidas. Além da baixa literacia em saúde mental, ainda outro sério desafio tem a ver com as dificuldades sócio económicas (Sequeira, Carvalho e Sampaio, 2015). Estas, associados a outros fatores predisponentes, podem levar à prostituição e a relações abusivas, com a intensão primária de sobreviver, esquecendo a função interna da família (pertença, coesão, continuidade, proteção; apoio ao desenvolvimento e individuação, diferenciação). As constantes mudanças na relação de emprego, colocam em causa o papel Parental, dificultando o papel da família na transmissão de valores (função externa da família), perturbando o equilíbrio entre a conservação e a tendência para a evolução. Será melhor uma instituição, talvez, mas estas também não são, de todo, a solução ideal. Outro desafio tem a ver com os irmãos. São, atualmente, em menor número, o que polariza mais as atenções. A luta individual pela atenção dos pais faz com que os irmãos normalmente tenham comportamentos opostos, cabe aos pais perceberem esta falta de atenção e deixarem de ser polícias ou juízes, treinando competências comunicacionais. Para Benczik (2011) as modificações ocorridas na estrutura das famílias contemporâneas, (também) com a ausência de pai, reproduzem variadas expressões de conflitos. A falta de identificação masculina pode levar a sentimentos de auto desvalorização e culpa. Da tristeza à melancolia, da agressividade à violência e do isolamento às condutas antissociais, estes adolescentes tentam equilibrar-se num continuum de ambivalências. Os adolescentes evidenciam ainda dificuldades no reconhecimento das perturbações e recorrem frequentemente ao uso de rótulos inadequados; desvalorizam a ajuda profissional e mostram preferência pelas ajudas informais como os amigos e a família. Estes fatores, associados ao estigma, às preocupações de confidencialidade e de confiança nos profissionais de saúde constituem as maiores barreiras no acesso à ajuda profissional (Rosa, Loureiro e Sequeira, 2014). O medo também faz parte da vida, e, enfrentá-lo e aprender a escutá-lo, (para se proteger de situações perigosas) é a atitude ideal. Mas quando este é bloqueador da vida, traduz toxicidade. O contacto com a nossa imperfeição, muitas vezes, faz-nos viver no passado (triste) e num futuro (angustiante) sem sentir prazer no presente, como “presente”. Como se poderá ter medo de si 224


próprio, quando se mora 24h/ dia consigo? Então, criam-se ilusões de superioridade esperando amor e aceitação, ou então, ilusões de inferioridade esperando estima e valor. Mas a mudança começa em cada um e não nos outros… Os consumos banalizados de substâncias psicoativas licitas e ilícitas: álcool e drogas são também um grande desafio. Por um lado, dada a imaturidade orgânica e neuronal, não deveriam ser consumidas bebidas alcoólicas antes dos 18 anos de idade. O uso de álcool na infância e adolescência compromete o desenvolvimento e expõe o indivíduo a um maior risco de dependência na idade adulta (Loureiro et al., 2013a). Por outro lado, é também durante a adolescência que a frequência do consumo de drogas tende a ser mais elevada (Trigo, Silva, Fraga e Ramos, 2015). A justificação desta tendência relaciona-se com as caraterísticas de vulnerabilidade e instabilidade próprias da idade; as mudanças rápidas e acentuadas desta fase; a construção da identidade pessoal a partir da emancipação face à família e da importância do grupo de pares. A anorexia nervosa é uma patologia de etiologia multifatorial de morbilidade e mortalidade potencialmente altas. Logo, o tratamento deverá ser de responsabilidade multidisciplinar, sendo o fator familiar muito relevante (Cunha, 2014). Crescer torna-se difícil, neste mundo de gente bela e perfeita das novelas e revistas cor-de-rosa! Surgem os distúrbios alimentares, o sentir-se gorda e feia mesmo não o sendo! Efetivamente as preocupações centradas no “comer ou não comer”, a valorização do corpo magro como condição única de beleza e de elegância, paralela à rejeição de qualquer forma física próxima do sobrepeso, é um ideal vendido pela publicidade adulta enganosa. As expetativas familiares obrigam a procura desmedida de diferentes profissionais até (não) encontrar resposta para o filho (im)perfeito idealizado (Dias e Carvalho, 2017). A questão é que a vida não é perfeita, os filhos também não, assim, como não há pais perfeitos. Estratégias para enfrentar os desafios da infância e adolescência na atualidade As estratégias para enfrentar os desafios da infância e da adolescência deveriam incidir na promoção da saúde mental, com início na idade escolar, prevenindo as perturbações emocionais e do comportamento, a violência e o abuso de drogas. Cada um de nós, formados no setting clássico da família tradicional portuguesa, ao deparar-se com novos tipos de famílias, obrigatoriamente terá que repensar o conceito e a intervenção, podendo começar pelo desenvolvimento de programas educativos, de desenvolvimento pessoal e de treino em competências sociais e emocionais (Seabra-Santos et al., 2016), seja com as crianças e adolescentes, mas também (e muito) com as famílias, e investir continuadamente na promoção da literacia em saúde mental. Também a escola, sendo um contexto de acesso privilegiado aos adolescentes, deverá ser um local de eleição para a educação e sensibilização para a saúde mental e combate ao estigma (Loureiro et al., 2013b). Em contexto de internamento hospitalar no âmbito da pedopsiquiatria, tendo em conta as intervenções de enfermagem e os desafios desta nova geração, será útil a dinamização de 225


programas direcionados para a psicoeducação, intervenção precoce ou visitas domiciliárias de apoio (Sequeira, Carvalho e Sampaio, 2015). Importa também desenvolver atividades ocupacionais terapêuticas (Melo-Dias, Rosa e Pinto, 2014), visando atingir objetivos específicos e individualizados, com intencionalidade terapêutica (Dias e Carvalho, 2017). Num papel precoce, positivo, protetor e progressivo devemos: criar resiliência, proporcionando às crianças e adolescentes os recursos internos para lidar com os stressores negativos e ultrapassar os desafios e dificuldades (bem-estar, apoio e orientação); trabalhar os comportamentos protetores e securizantes; aumentar a satisfação com a vida; melhorar a regulação emocional, as estratégias de coping e de resolução de problemas (centradas nas soluções); melhorar a empatia e o ajustamento psicológico; diminuir o bullying e a agressão; aumentar o compromisso e o envolvimento com a escola, em interligação com os Cuidados de Saúde Primários; oferecer oportunidades para a procura de ajuda (com confidencialidade e anonimato); reduzir a violência, os problemas emocionais (como a depressão e a ansiedade), o tabagismo, o abuso de álcool e de outras substâncias, assim como os comportamentos de risco para a saúde e as experiências sexuais precoces; favorecer positivamente as perspetivas de futuro (fazendo o que é necessário fazer no presente), integração social e relacionamento interpessoal; e diminuir o impacto económico da falta de saúde mental. Assim, muitos são os desafios que se apresentam às crianças e adolescentes na atualidade, mas também aos pais e aos profissionais de saúde mental e à sociedade em geral. Cumpre-nos promover boas práticas de diagnóstico e intervenção; colaborar na implementação do plano nacional de prevenção do suicídio; colaborar na integração em programas de reabilitação psicossocial; e apoiar a implementação da Rede de Cuidados Continuados de Saúde Mental (Ministério da Saúde, 2012). A cada um de nós, profissionais, exige-se uma mente aberta e disponível num diálogo autêntico de aproximação, sendo necessário clareza de linguagem, valorização de pontos de acordo, firmeza nas convicções e abertura aos outros. CONCLUSÕES Considerando o cenário recente (e ainda atual) de crise social e económica na Europa, a promoção da saúde mental torna-se ainda mais urgente, especialmente nos adolescentes, uma vez que as vulnerabilidades associadas ao desenvolvimento estão a ser potenciadas por fatores externos, tais como dificuldades financeiras ou desemprego dos pais, o que pode levar os adolescentes a desenvolver problemas de saúde mental. Deste modo, aumentar a sua capacidade para lidar com os desafios esperados e inesperados, é uma prioridade inquestionável e urgente. As crianças/ adolescentes pouco saudáveis e sem sucesso do ponto de vista social e emocional têm menor probabilidade de se tornarem cidadãs ativas e economicamente produtivas enquanto adultas, daí que investir no bem-estar mental da geração seguinte, em última instância, também se pode traduzir em benefícios e poupanças económicas para todos.

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