Manual de Cinema II - Géneros Cinematográficos

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Luís Nogueira

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der Sokurov. Em ‘Mãe e Filho’ e em ‘Pai e Filho’, ele apresenta um trabalho de manipulação da plasticidade das imagens que dá à sua obra um cariz poético dificilmente comparável no panorama contemporâneo. Já em ‘A Arca Russa’, a experimentação é levada ao limite do desafio técnico e artístico: este filme é constituído por um único plano-sequência, com mais de noventa minutos, realizado nos corredores do Museu Hermitage e com a participação de milhares de figurantes. Em segundo lugar, referimos o trabalho de Lars Von Trier: a experimentação é notória não apenas nas obras realizadas no contexto do chamado Dogma 95, uma corrente cinematográfica assente num manifesto de prescrições, como acontece com ‘Os Idiotas’, mas igualmente em obras como ‘Dogville’, onde a inexistência de um cenário físico dá ao filme um tom teatral, mas inteiramente verosímil. Por fim, temos Michel Gondry. A sua obra como realizador de videocplis é seguramente uma das mais elogiadas – nela, a experimentação com as matérias pode ir das modalidades clássicas da animação, como o stop-motion, às mais sofisticadas soluções técnicas contemporâneas (mas sempre avesso às tecnologias digitais). É este espírito de exploração formal que ele transporta também para as suas longas-metragens, acabando por criar uma obra de grande diversidade formal, mas estilisticamente de uma exemplar coerência. Se a experimentação se tem oferecido no cinema, muitas vezes, como uma espécie de resistência ou mesmo de oposição às convenções narrativas do cinema comercial, a verdade é que, mesmo a este nível, e com diferentes estratégias, a ousadia e a ruptura de premissas e hábitos instituídos também aqui têm sido levadas a cabo. Para além do filme de Alain Resnais já referido, ‘L’Année Dernière à Marienbad’, ou da obra múltipla de Godard, podemos encontrar diversos outros exemplos de desconstrução ou denegação da narrativa clássica. ‘Rashomon’, de Akira Kurosawa, é um exemplo fundador de experimentação narrativa, multiplicando as perspectivas e dando-nos a ver um acontecimento segundo quatro versões distintas. Em tempos mais recentes, para lá das obras já enunciadas de David Lynch, a que se poderia juntar a sua série televisiva ‘Twin Peaks’, encontramos vários títulos narrativamente irreverentes como ‘Groundhog Day’, em que o protagonista acorda constantemente no mesmo dia, ‘Run Lola Run’, que nos dá três versões hipotéticas da mesma história cujo desfecho muda devido a pequenos Livros LabCom

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