DiogoPacheco_AlfredoSternheim

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Divulgação e Estreia Sempre me preocupei com a divulgação da música. E eu achava que havia muito pouca divulgação da música anterior a Bach e posterior a Wagner, ao neorromantismo e essa coisa toda. Então com a minha cultura em geral, com a formação adquirida com Koellreuter e com os meus conhecimentos de música, achei que era muito importante mostrar ao público a música da Renascença e da Idade Média, que era pouquíssimo conhecida. E a música moderna que ninguém tocava aqui. Então, eu e mais algumas pessoas, como a Maria José de Carvalho, o Alfredo Mesquita que era diretor da Escola de Arte Dramática de São Paulo, o Sanson Flexor que era um pintor e o Gianni Ratto que era diretor de teatro, nós fundamos o movimento Ars Nova que fez História. Tinha também o Klaus-Dieter Wolff, um alemão que desde 1936 estava no Brasil. Ele estudou com o Koellreuter. Era regente de corais e cantor, um baixo. Morreu jovem, aos 48 anos. Foi muito importante. Juntos, nós partimos para a divulgação da música anterior a Bach e da posterior aos românticos. E aí tivemos dezenas e centenas de primeiras audições. Isso foi na Bahia. Por que, além da escola da rua Sergipe em São Paulo e dos cursos que criou em Teresópolis, no estado do Rio, foi em Salvador que o Koellreuter tinha fundado um seminário de música patrocinado pela reitoria da universidade de lá. Era algo semelhante a Tanglewood e ao festival de Campos do Jordão, aqui no estado de São Paulo. E foi na Bahia também que regi pela primeira vez. O Isaac Karabitchevski também, o Henrique Gregóri também... Nós não tínhamos casaca. O Koellreuter emprestou a dele. No meu caso, emprestou também os sapatos. Eu não tinha e os dele eram um número menor dos meus. Fiquei com uma dor terrível nos pés. O engraçado é que estreei com a Sinfonia da Despedida, de Franz Joseph Haydn. Nessa composição difícil de 1772, o Haydn escreveu de um jeito que ele vai mandando embora, devagarinho, os músicos. É impressionante. No último dos cinco movimentos, um adágio, vão saindo os fagotes, os oboés...

Diogo Pacheco, crítico do jornal O Estado de S.Paulo

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