Bráulio Pedroso - Audácia Inovadora

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Isto não queria dizer que ele praticasse uma arte cosmopolita. Penso que haja um estado de ser brasileiro que, aliás, é uma constante em minha obra. Acho, por exemplo, que São Paulo, por sua agressividade urbana, pode gerar um tipo de literatura do absurdo, se isso ainda não ocorreu, é porque nosso subdesenvolvimento cultural tem suas amarras fixadas no realismo ou no naturalismo. Uma condição urbana como Praga foi o que possibilitou a obra de Kafka. O homem atual, desta segunda metade do século 20, é acossado por um volume contraditório de informações e de mudanças a prazos tão curtos que tornaram obsoletos os velhos esquemas racionalistas da arte. Por esse motivo, procurando ser um artista contemporâneo, tento captar o homem em sua mobilidade temporal, acreditando-o um ‘ser das lonjuras’, onde o futuro seja o núcleo definidor do passado e do presente. Quanto às ideias brilhantes, as chamadas inspirações, quase sempre chegavam até Bráulio Pedroso quando o bolso dele andava meio murcho, sobrando mês no fim do dinheiro. Naquele Brasil de pouco mais de 80 milhões de habitantes, um livro tinha tiragem média de dois mil exemplares, o programa Roda Viva da TV Cultura era assistido por 60 mil pessoas e a história de Beto Rockefeller era acompanhada diariamen-

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