Vozes do barro

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duram um tempo, e em pouco acabam, como tudo no mundo, Ainda assim, se um cântaro pode substituir outro cântaro, sem termos de pensar no caso mais do que para deitar fora os cacos do velho e encher de água o novo, o mesmo não acontece com as pessoas, é como se no nascimento de cada uma se partisse o molde de que saiu, por isso é que as pessoas não se repetem, As pessoas não saem de dentro de moldes, mas acho que percebo o que quer dizer, Foi conversa de oleiro, não ligue importância aqui o tem, e oxalá não caia a asa a este tão cedo (Saramago, 2000, p. 62).

O livro problematiza de forma poética, sensível e visionária o lugar e o valor das culturas na atualidade, fazendo referência à grande obra de Platão. Cada vez mais concebemos a realidade nas aparências. Vivemos a olhar para telas, nossas paredes, e não nos viramos. A Caverna de Platão é aqui e aquelas pessoas vendo sombras somos nós.

O que eu acho é que nós nunca vivemos tanto na caverna de Platão, como hoje. Hoje é que estamos a viver, de fato, na caverna de Platão. Porque as próprias imagens que nos mostram a realidade estão expostas de uma maneira que substituem a realidade. Nós estamos num

mundo

que

chamamos

mundo

audiovisual.

Estamos,

efetivamente, a repetir a situação das pessoas aprisionadas ou atadas à


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