cultura da interface

Page 51

melhor no próximo capítulo.) Obviamente não podemos sobrepor as janelas de nossa cozinha umas às outras, nem "rolar" a vista que oferecem. Entre a janela real e a virtual há uma distância necessária, que torna a analogia útil para nós. Para Bob e Magic Cap, o importante era eliminar as distâncias. Como Alan Kay escreve: Minha principal queixa [com relação às interfaces modernas] é que metáfora é uma metáfora pobre para o que precisa ser feito. No PARC, cunhamos a expressão "ilusão de usuário" para descrever o que estávamos buscando ao idealizar interfaces com o usuário. Há claras conotações de palco, arte dramática, mágica — todas elas dão indicações muito mais fortes sobre a direção a seguir.... Será que deveríamos transferir a metáfora do papel tão perfeitamente a ponto de tornar tão difícil apagar e mudar na tela quanto no papel? Obviamente não. Os ambientes de interface do Bob e do Magic Cap eram menos metáforas que simulações. No projeto original do Macintosh, o desktop do computador funcionava como uma escrivaninha do mundo real, assim como seus diretórios de arquivos funcionavam como pastas do mundo real. Bob eliminou essas conjunções comparativas: nosso computador é uma sala de estar, e nossa vida diante do monitor deveria ser vivida de acordo com os hábitos e gostos que temos quando longe do computador, o que envolvia até a própria decoração do espaço, que podíamos transformar de vitoriana empoeirada em pós-moderna reluzente com um simples clicar do mouse. Em algum ponto do caminho a boa-fé das metáforas amigáveis, acessíveis ao usuário, foi substituída pela histeria da simulação total. O sensato desejo de estabelecer analogias entre o digital e o orgânico deu lugar a uma busca sem limites de uma pura fusão entre os dois. Já temos salas de estar e corredores para andar por eles; não precisamos que se dupliquem também pelos nossos monitores. Um corredor é um exemplo perfeito das limitações do espaço real, com que o computador não precisa se preocupar. No mundo offline não podemos construir salas ao estilo Borges, com um número infinito de conexões com outras salas, ao passo que um computador conectado à Internet pode lidar sem esforço com links para milhões de outros espaços. Há algo de perverso nessa total deferência à simulação "amigável", como projetar um processador de texto que reproduza fielmente uma máquina de escrever mecânica, sem esquecer das teclas emperradas e das fitas gastas. É "amigável", certo, mas quem quer esse tipo de amigo?


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.