Intersections Proceedings

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INTER[SECTIONS]. A Conference on Architecture, City and Cinema Conference Proceedings. Porto, September 11-13, 2013

[DE]CONSTRUCTIVE HAND The architectural ruin in Jacques Tati’s cinematographic work Rita Martins Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto / Faculty of Architecture University of Porto, Oporto, Portugal

Abstract Na obra cinematográfica de Jacques Tati (1907–1982), a ruína contemporânea formaliza um instrumento crítico, com o qual o realizador interroga a tabula rasa defendida pela doutrina modernista, profetizando, ao mesmo tempo, o regresso pós-moderno à imagética da cultura clássica. Para concretizar estas ideias, em Mon Oncle (1958) e em Playtime (1967), o autor recorre a três processos antagónicos de ruína, resultantes de modos satíricos, construtivos e destrutivos, associados a gestos, simultaneamente demolidores e restauradores.

Keywords: Jacques Tati, Cinema, Modern Architecture, Ruin.

Mãos, gestos, ruínas. Um gesto demolidor, um gesto restaurador e um gesto de simulação. A ruína do uso. O uso da ruína. A ação do tempo e do intemporal Hulot. Se no assentar das fundações, o objeto construído perspetiva a eternidade, ao longo da existência, a sua solidez convicta é fragilizada pela violência de catástrofes bélicas e ambientais ou, simplesmente sucumbe às forças das dinâmicas sociais no ‘tempo, esse grande escultor’ (Yourcenar, 1983, p. 59). Quando parcialmente destruída, a arquitetura inicia uma nova etapa da sua vida social que lhe atribui novos significados, intensificando o seu poder representativo, a partir do qual germinam processos culturais de rejeição ou valorização consoante a moda e as respetivas oscilações entre antiguidades dissimuladas e novidades reinventadas. Na imagem da ruína, natural ou fabricada, o chronos e o topos reúnem-se numa entidade mnemónica (Castro, 2006, p. 21) e ambivalente que encarna simultaneamente a vitória do tempo e a resistência à erosão dos elementos e às forças destruidoras do progresso e da evolução. Anacrónicas, desatualizadas, as ruínas convidam a fugas tanto na direção do passado como na direção do futuro. Formas de passagem de um estado a outro, elas são alicerce da memória histórica e melancólica, embrião nostálgico

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