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fato de que os profissionais que compõem essas estratégias não têm a consciência exata de sua natureza simbólica, como têm de suas ações e objetivos. As estratégias de “especificidade” e “sacralização”, por exemplo, compõem uma outra estratégia da diversidade, por meio de diferenças incorporadas em um produto básico. Isso nega a reprodução do antigo e propõe a distribuição de objetos novos: “um plano de ação baseado no recenseamento das necessidades e sua excitação permanente, plano realizado pelo designer (...) tendo por objetivo inocular no público um quantum determinado de novidade” (Moles, 1975: 169). Moles (ibid.: 170) apresenta o supermercado como o templo do neokitsch, ou seja, campo de ambigüidade entre o funcional e o superficial, compondo “uma atmosfera de ‘festa’, a festa da aquisição, e simulando oferecer generosamente, como brinde, iluminação, cores, claridade, sorrisos”. Assim, o autor reforça a idéia proposta anteriormente de que o consumo não se fixa unicamente no produto, porque tudo, até o brilho, as luzes e as cores, é oferecido ao consumo. “A extinção do objeto constitui talvez o primeiro critério distintivo entre o neokitsch e seu antecedente o kitsch” (ibid.: 173). As considerações de Moles a respeito do neokitsch servem de síntese para o conjunto de proposições feitas ao longo deste trabalho sobre a visualidade das marcas institucionais e comerciais, cuja tendência é assumir um valor autônomo e ambíguo, entre a funcionalidade e o excesso decorativo, mas, ressaltando seus aspectos auto-referente e autopublicitário. Para acompanhar a estética neokitsch, que inclui a extinção incorporada no produto e a diversificação, a apresentação visual das marcas vem rompendo com vários dogmas do design tradicional. O primeiro deles diz respeito à invariabilidade visual das marcas, que deveriam ser constantemente reapresentadas na mesma posição e com as mesmas cores. Porém, atualmente, as reapresentações da marca variam as cores, texturas e ângulos de apresentação, sendo expostas tanto em partes como no todo (fig. 62) sem desintegrar sua unidade. Isso é possível porque, depois da popularização do vídeo (televisão, computadores multimídia, etc.), vive-se imerso cotidianamente em uma cultura da imagem em movimento. As animações gráficas reconstroem os elementos dispersos das marcas formando vinhetas dinâmicas que educam visualmente o grande público que forma a audiência das redes de televisão. Um exemplo disso é a apresentação do novo pictograma da marca Bradesco,


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