Abril/2011 - edição 49 www.sesctv.org.br
Somos 1 Só Série com documentários, pílulas e ficção debate o socioambientalismo
Coleções Episódios contam histórias e relatos de imigrantes de diferentes nações 1
Chiquinha em Revista Músicos se reúnem para um tributo à compositora Chiquinha Gonzaga
Espetáculo Escapada da Cia Mario Nascimento. Foto: Ed Felix / Na Lata
dança contemporânea
Todas as quartas, às 24h
em maio
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Socioambientalismo na TV
Entender e buscar o equilíbrio nas complexas interrelações do homem com a natureza é uma das vocações do Sesc. A Instituição busca, em suas ações e atividades, promover a reflexão e o debate, na intenção de construir modos de viver mais sustentáveis, solidários e inclusivos. Os programas por ela realizados têm caráter permanente e transversal, agindo tanto na promoção e conservação do patrimônio cultural e ambiental, quanto em ações educativas visando à promoção de debates que resultem em mudanças de atitudes. Ou seja, compartilhar conhecimentos e iniciativas que possam melhorar a qualidade de vida, atual e futura, e que priorizem o cuidado com o planeta e todas as formas de vida. Em nenhum outro momento de nossa história recente, os meios de comunicação falaram tanto na gravidade dos problemas ambientais e na urgência de encontrar saídas alternativas para a sustentabilidade do planeta. É também um momento em que se propagam valores éticos, estéticos, democráticos e humanistas, respeitando a diversidade natural e cultural. As mudanças passam por decisões governamentais e empresariais, mas, acima de tudo, dizem respeito a um modelo de vida assumido pela sociedade contemporânea que se tem apresentado como prejudicial ao próprio homem como integrante de um sistema. Portanto, trata-se, também, de iniciativas individuais que podem começar no ambiente doméstico, com a revisão de práticas danosas ao ambiente, tendo em vista a construção dos processos sustentáveis. Parceiros de longa data em ações educativas, o SescTV e a TV Cultura de São Paulo unem-se na realização da série Somos 1 Só. Com oito documentários, um longa-metragem de ficção, 20 pílulas e um blog, o projeto aborda o socioambientalismo e sua interface com a cultura, a economia, as relações de poder e a espiritualidade, numa ferramenta fundamental de formação crítica. Os episódios apresentam o tema por meio de depoimentos, entrevistas e esquetes de ficção, e promovem a reflexão, numa mostra bem-sucedida do uso da linguagem audiovisual como meio mobilizador. Somos 1 Só junta-se às ações do Sesc no tema da sustentabilidade, sendo uma ferramenta fundamental em busca de soluções criativas e equilibradas em prol do nosso planeta. A Revista do SescTV deste mês entrevista o professor Lisandro Nogueira, consultor desde 2003 do Festival Internacional de Cinema e Vídeos Ambientais – FICA, realizado anualmente em Goiás. O tema da mídia e do meio ambiente também é abordado no artigo do arquiteto e pesquisador Sandro Tonso. Boa leitura!
Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc SP
destaques da programação 4 entrevista - Lisandro Nogueira 8 artigo - Sandro Tonso 10
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Somos 1 Só
Meio ambiente em discussão Foto: Sérgio Flores
forma não sustentável, ou mesmo como a valorização do consumo exacerbado geraram um dividendo que o planeta começa a cobrar. A ameaça de alterações irreversíveis no ecossistema, incluindo a falta de água potável no mundo, tornou urgente a necessidade de repensar as escolhas e de buscar alternativas. Investir em educação e em reciclagem, planejar as metrópoles, reestruturar o mercado de trabalho, e também consumir menos e com responsabilidade são atitudes que estão ao alcance da humanidade e podem reverter a situação de degradação do meio ambiente. Essas questões estão presentes na série Somos 1 Só, que estreia este mês no SescTV. A série reúne oito documentários, um longa-metragem de ficção e 20 pílulas. Estas, baseadas na Agenda 21, abordam questões do socioambientalismo a partir de oito temas gerais: Cultura, Educação, Produção, Poder, Consumismo, Espiritualidade, Cidade e Trabalho. O projeto mantém ainda um blog sobre essa temática (www.somos1so.com.br), trazendo informações completas sobre os episódios, além de dados que buscam conscientizar o público. Sob a direção geral de Ana Dip, a série foi produzida com a orientação de consultores especializados (confira no quadro). Os episódios, que mesclam ficção e depoimentos, contam com a participação dos roteiristas José Roberto Torero, Marcus Aurelius Pimenta e Gabriella Mancini. Somos 1 Só é uma realização do SescTV em parceria com a TV Cultura de São Paulo. Foto: Piu Dip
Teve dois marcos o debate a respeito do meio ambiente e da responsabilidade do ser humano sobre as alterações climáticas e o desequilíbrio ecológico: um deles, a Conferência Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, que resultou na assinatura do documento Agenda 21, reunindo compromissos da sociedade na resolução de problemas socioambientais; e o outro, a divulgação do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) de 2007, que, após pesquisas científicas, pela primeira vez afirmou que o homem é o principal responsável pelo aquecimento global. Aumento da temperatura nos polos da Terra, derretimento das geleiras, elevação do nível dos mares, ocorrência de catástrofes climáticas, destruição de habitats seguida de extinção de espécies, contaminação de lençóis freáticos e poluição – são apenas algumas das consequências das escolhas da sociedade contemporânea. Fatores como o crescimento, sem planejamento, da população (em 1900, o planeta tinha cerca de 1,6 bilhão de habitantes, e um século depois, já ultrapassava 6 bilhões), ou como a exploração dos bens naturais de
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Foto: Fábio Cançado
Série com oito documentários, uma ficção e 21 pílulas discute a relação entre o homem e o meio ambiente e convida a sociedade a uma mudança de atitude
Somos 1 Só Sextas, às 20h.
A Produção e o Cocô de Minhoca
Cultura e a Casca de Banana Direção: Toni Venturi Consultor: Eduardo Viveiros O papel da cultura de um povo no entendimento do que é a natureza. Dia 15/04
Direção: Dainara Toffoli Consultor: Marcos Egydio O agronegócio, a indústria e o comércio debatidos sob o olhar do desenvolvimento sustentável. Dia 20/05
O Poder e o Bang-Bang
A Cidade e a Pizza
Direção: Gilberto Scarpa Consultores: Beto Ricardo e Márcio Santilli De que forma os atores que compõem a rede do poder atuam na construção da economia, da cultura e do lucro social. Dia 22/04
Direção: Kiko Mollica Consultor: Ladislau Dowbor A cidade como um laboratório e uma amostra das relações humanas na contemporaneidade. Dia 27/05
A Educação e o Mosca Morta
Direção: Lina Chamie Consultor: Paulo Vaz O homem e a mudança nos padrões culturais insustentáveis de consumo e produção Dia 03/06
O Consumismo e a Corda do Relógio
Direção: Kátia Klock Consultora: Isis de Palma A educação crítica e a importância da ecoalfabetização. Dia 29/04
Somos 1 Só, o Longa
O Trabalho e o Português Gostoso
Montagem: Ana Dip e Max Alvim Fruto da montagem de cenas dos trechos de ficção dos oito episódios da série. Dia 05/06, às 21h
Direção: Evaldo Macarzel Consultor: Rogério Costa O papel das empresas e do trabalhador na construção do equilíbrio socioambiental. Dia 06/05
Direção da série: Ana Dip
A Espiritualidade e a Sinuca Direção: Lírio Ferreira Consultor: Mário Sérgio Cortella A relação do homem com sua espiritualidade na dimensão do seu encontro com a natureza. Dia 13/05
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Coleções
Terra de estrangeiros foto: Giro Produções
nações vizinhas, que precisava ser ocupado para que se garantisse a presença do Estado brasileiro. Sem recursos e sem apoio, eles reconstruíram suas vidas e incorporaram seus costumes aos dos brasileiros, quase sempre enfrentando dificuldades na adaptação. O Sul do País foi também o destino de inúmeros alemães, no período do Segundo Império. Aconselhado pela Imperatriz Leopoldina, de origem austríaca, D. Pedro II realizou uma campanha de incentivo à imigração de alemães, para ocuparem a desabitada região, nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Mesmo com poucos recursos, muitos vieram, plantaram, criaram, formaram vilarejos, construíram escolas e igrejas, inaugurando assim novas cidades. A religiosidade foi fator determinante na escolha do Brasil como nova pátria para famílias libanesas. Muitos dos imigrantes eram católicos e sentiram-se culturalmente acolhidos com essa afinidade. A maior parte deles estabeleceu-se no comércio e trouxe inovações para o mercado brasileiro, como a introdução da venda a crédito. Estabelecidos no Brasil desde o período da colonização, os portugueses também tiveram um segundo momento de imigração massiva no início do século 20, período do regime autoritário de Antonio de Oliveira Salazar em Portugal. Para superar dificuldades financeiras em sua terra natal, os portugueses vieram para o Brasil, onde se estabeleceram em centros urbanos, e dedicaram-se às mais diversas profissões. A história de imigrantes é contada em episódios inéditos da série Coleções, que o SescTV exibe neste mês.
O Brasil é um País que abriga muitas nacionalidades. Portugueses, italianos, alemães, japoneses... são inúmeros os imigrantes que para cá vieram, contribuindo na formação de uma sociedade de múltiplas referências culturais. Deixar a pátria de origem exigia uma certa dose de coragem e de empreendedorismo. Afinal, era preciso adaptar-se a clima, costumes e língua diferentes. Dentre as motivações presentes nas grandes levas de imigração para o Brasil, no final do século 19 e começo do século 20, estava o fator econômico. Da Itália partiam famílias inteiras, cansadas de uma vida de dificuldades, em busca de melhores oportunidades. A partir de 1875, os italianos desembarcaram em terras brasileiras, incentivados por campanhas promovidas pelo governo brasileiro para atrair imigrantes e substituir a mão de obra escrava. Muitos foram para as fazendas de café no interior de São Paulo. Outros tornaram-se pequenos proprietários de terras na fronteira sul do País, local de disputas territoriais com as
Episódios inéditos da série resgatam histórias de famílias de imigrantes que escolheram o Brasil como sua nova pátria
Coleções Colônias de Imigrantes Colônia Portuguesa Dia 07/04, às 21h30 Colônia Alemã Dia 14/04, às 21h30 Colônia Sírio-Libanesa Dia 21/04, às 21h30 Colônia Italiana Dia 28/04, às 21h30 Colônia Japonesa Dia 05/05, às 21h30
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Chiquinha em Revista
Primeira dama da música brasileira Foto: Gal Oppido
moças da elite da época: estudava em casa, com um tutor, e ainda menina passou a ter aulas de piano. “Ela foi estudar piano muito cedo. Para uma mulata, não era comum. Acontece que ela tinha uma condição social muito boa”, conta o arranjador e baixista Gilberto Assis. O talento musical foi logo percebido; aos 11 anos de idade, ela já apresentava suas primeiras composições. Chiquinha teve três casamentos, o primeiro deles aos 16 anos, em um arranjo feito pelo pai. Após o rompimento de seu segundo matrimônio, passa a dar aulas de piano para se manter e começa a participar das Rodas de Choro, tendo contato com os principais músicos populares de sua época. Também militou nas principais causas libertárias: era abolicionista e republicana. “Ela rompeu uma série de tabus e de padrões sociais”, analisa a cantora Vange Milliet. Em 1899, Chiquinha compõe Abre Alas, a primeira marchinha de Carnaval do País e uma de suas músicas mais conhecidas. Em 1917, participou da fundação da SBAT – Sociedade Brasileira de Autores, uma organização civil de proteção dos direitos autorais. Morreu em 1935, aos 87 anos de idade, consagrada como maestrina e compositora. “Para a Chiquinha foi muito difícil o reconhecimento em vida. Ela batalhou por isso e o resultado perdura até hoje”, diz Ana Fridman. O SescTV exibe, neste mês, o especial musical inédito Chiquinha em Revista – Um Tributo a Chiquinha Gonzaga. Com direção musical de Gil Assis, o espetáculo apresenta arranjos originais de suas composições, por Gil Assis e Ana Fridman, nas versões instrumental e cantada – por Ná Ozzetti, Suzana Salles, Vange Milliet, Rita Maria e Carlos Careqa. O especial foi gravado no Sesc Vila Mariana, em novembro de 2010, dele tendo resultado também um CD lançado pelo Selo Sesc. Direção para televisão de Juliana Borges.
Histórias dos bastidores da política brasileira registram que, em 1914, foi realizada uma recepção oficial no Palácio do Catete, em despedida do mandato do presidente da República Hermes da Fonseca. Em certo momento, sua esposa, Nair de Teffé, pegou um violão e executou o tango Corta Jaca, de autoria de Chiquinha Gonzaga. O episódio chocou os convidados, por se tratar de uma música popular, gênero que naquele momento não circulava nos salões da elite. Seria apenas mais um episódio polêmico envolvendo o nome da compositora Chiquinha Gonzaga. Mulher de perfil libertário, ela teve uma vida de superação, tanto no campo pessoal quanto no profissional, tornandose uma referência atemporal de talento, persistência e ousadia. “A Chiquinha é um emblema”, resume a cantora Suzana Salles. “Ela foi a primeira compositora mulher da História da música popular no Brasil”, resume a cantora Ná Ozzetti. Nascida em 17 de outubro de 1947, filha de um militar com uma mulata, Chiquinha foi educada como outras
Espetáculo inédito presta homenagem a Chiquinha Gonzaga, pianista, compositora e primeira maestrina brasileira
Especial Musical CHIQUINHA EM REVISTA Dia 20/04, às 22h
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entrevista
Foto: Lourival Belém Jr.
O meio ambiente no cinema
Lisandro Nogueira é professor da Universidade Federal de Goiânia e consultor do FICA, Festival Internacional de Cinema e Vídeos Ambientais, realizado anualmente na capital goiana. Graduado em História e Jornalismo, ele se interessou pela pesquisa de imagens na década de 1980, período em que acompanhou o cineclubismo. Nogueira trabalha com formação de público, para ampliar o repertório crítico tendo o cinema como ferramenta de trabalho. Para ele, as imagens só geram mudanças de atitudes se vêm acompanhadas de uma reflexão.
Qual sua formação e sua trajetória profissional? Sou graduado em História e em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiânia. Fiz mestrado na USP e doutorado na PUC de São Paulo com estudos sobre a imagem. Publiquei, pela Edusp, O autor na televisão, sobre autores de telenovelas. Estou completando 30 anos como professor, já lecionei para o ensino fundamental, médio e há 25 anos dou aulas na universidade, sobre História, Teoria e Crítica do Cinema. O estudo sobre a imagem é muito recente no Brasil. Eu me interessei pelo tema nos anos de 1980. O professor da USP Ismail Xavier veio a Goiânia para o lançamento de seu livro e falou sobre o cineclubismo. Eu passei a me interessar pelo cinema brasileiro. A formação de cineclubismo me trouxe questionamentos sobre o uso da imagem e do cinema como suporte de linguagem. Temos uma TV muito forte no País e, de certa forma, ela vem substituir o processo educacional, o que é ruim. Na América Latina, saímos da educação oral para o uso da imagem de forma muito rápida, sem critérios. Portanto, atuo na formação de público, de alunos a professores, para ampliar esse senso crítico. Participo da realização de mostras, seminários, cursos, sempre com o enfoque do uso da imagem.
“O cinema contribui para essa reflexão sobre as imagens, age como um processo educacional. É um suporte fundamental, um instrumento eficaz para discutir, pensar”
Em que contexto se tornou consultor do Festival Internacional de Cinema e Vídeos Ambientais – FICA? O FICA foi criado em 1999. É uma realização do governo do Estado de Goiás, criado para fomentar o turismo e valorizar a imagem
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de Goiânia. Eu sempre acompanhei o festival como comentarista para a afiliada da TV Globo daqui. Em 2003, fui convidado para ser consultor do projeto, no que diz respeito ao cinema. Participo da escolha do júri de seleção e do júri do festival; da realização de cursos, seminários, de mesas de debates que acontecem durante os quatro dias do FICA.
“As imagens não geram mudanças de atitudes se não vêm acompanhadas de uma reflexão”
Como o festival é organizado? Tem caráter competitivo? O festival, que consiste na exibição de filmes que abordam o tema ambiental, tem caráter competitivo, com a escolha do melhor curta, média e longa-metragem, feita por um júri selecionado, formado por sete profissionais. Também são realizadas uma escolha do público e uma escolha da imprensa. Os filmes são exibidos durante quatro dias, totalizando 18 horas de produções feitas no Brasil e em diversos outros países. É um festival respeitado no exterior, recebendo uma média de 500 inscrições, um número bem relevante. Além da exibição, também são realizados workshops, debates e seminários para discutir questões do socioambientalismo. Dessa forma, o festival consegue reunir tanto um público habituado com o cinema quanto ambientalistas, militantes e outros profissionais interessados nesta temática. O encerramento do festival conta com apresentações musicais, tornando-se também um evento multicultural.
muito grave mesmo. No entanto, ainda vejo com ressalvas o tipo de abordagem feita pelos meios de comunicação. Como eu disse, as imagens são espetacularizadas e sem contextualização. Fica aquela sensação de apocalipse, que é extremamente desmobilizadora, na minha opinião, porque assusta todo mundo, mas não gera mudança de comportamento. Porque as pessoas, no fundo, não querem abrir mão de seu comodismo. Avalio que a mídia já promove um debate, mas caminha para um amadurecimento. Na sua opinião, por que o assunto da sustentabilidade se tornou tão urgente na pauta da mídia? Porque a situação chegou a um ponto que não dá mais para fugir deste debate. E reconheço também o papel do Ministério Público, que tem sido um importante agente social, denunciando empresas poluidoras e vigiando a atuação do poder público. A Internet e as Redes Sociais também têm uma atuação fundamental, pois democratizam o acesso à informação e mobilizam com muita agilidade. Hoje existe uma vigilância, e a conscientização melhorou muito. Os meios de comunicação pressionam o governo em busca de soluções. Acho que chegamos àquele nível de tamanha gravidade em que é preciso agir para resolver o problema ou, minimamente, para amenizá-lo.
Foto: Lourival Belém Jr.
A partir de sua experiência no contato com as produções exibidas no FICA, de que forma o audiovisual aborda o tema do meio ambiente? Afirmo que se não fosse o cinema e a TV, esse tema não teria a repercussão que vemos atualmente. Procuramos selecionar filmes que tragam uma reflexão e que fujam da simples espetacularização das imagens. Sabemos do impacto que uma imagem provoca. Temos o exemplo do que ocorreu no Japão agora. Sem uma apreciação crítica, essas imagens geram impacto, num primeiro momento. Em seguida, provocam até certa compaixão. Mas, num terceiro momento, as pessoas sentem alívio, porque não é com elas. Ou seja, na prática, as imagens não geram mudanças de atitudes se não vêm acompanhadas de uma reflexão. Dessa forma, o FICA é diferenciado dos outros festivais, porque não tem o foco no glamour ou na presença de atores famosos. São produções com linguagens diversificadas: documentários, animações, séries de TV, até produções com humor, que trazem diferentes abordagens do meio ambiente. Por que o cinema deve comprometer-se com o socioambientalismo? O cinema contribui para essa reflexão sobre as imagens, age como um processo educacional. É um suporte fundamental, um instrumento eficaz para discutir, pensar. Os filmes ajudam a buscar soluções para o problema do desequilíbrio ambiental, que é muito mais grave do que a gente imagina. Aqui em Goiás, por exemplo, resta pouca coisa do cerrado. Tudo vira plantação de soja. Com o cinema, apresentamos informações que fazem refletir, mas que também sensibilizam, porque os filmes mexem com as emoções. Como o senhor avalia a abordagem que os meios de comunicação fazem sobre sustentabilidade? Vejo essa abordagem sob dois aspectos: primeiro, o tema tem crescido na mídia, o que é sempre bem-vindo. Na década de 1980, por exemplo, essas discussões ficavam restritas a grupos ambientalistas e a questão sequer passava pela pauta da imprensa. Na década seguinte, quando foi realizada a Eco-92, no Rio de Janeiro, o assunto começou a ser abordado, mas ainda muito timidamente. Hoje, posso dizer que a questão ambiental se tornou um dos três principais temas mundiais. Não há mais como fugir a essa discussão, porque a situação é
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artigo A Comunicação e a Questão Socioambiental As atuais questões ambientais seriam mais bem descritas se as denominássemos socioambientais, dados o estreito vínculo entre suas dimensões sociais e ecológicas e a impossibilidade de separá-las. Estas questões tão cotidianas – enchentes, desmoronamentos, desmatamento, poluição, excesso e destino inadequado de resíduos – nos fazem refletir sobre nossas formas “modernas” de ser, tanto individual quanto coletivamente. Uma importante reflexão nos leva a perceber que nossas responsabilidades sobre estas questões são absolutamente desiguais, tão desiguais quanto somos desiguais social e economicamente falando. Isto é, percebemos que os processos de desigualdade e exclusão sociais acabam se refletindo, em sua maior parte, nos processos de degradação ambiental que, por sua vez, afetam as pessoas de modo também desigual. Por mais que se diga que as questões socioambientais atingirão a todas as pessoas não importando sua condição socioeconômica, uma breve observação da situação atual mostra que a maior parte destes problemas (falta de água, disposição inadequada de resíduos, falta de áreas verdes, doenças de veiculação hídrica, entre outros) afetam as populações mais empobrecidas, tornando-se mais uma causa de desigualdade social. Estas responsabilidades desiguais sobre as causas destes problemas nos fazem perceber que uma sociedade baseada no consumo ilimitado, na ideia de Ter = Ser e no materialismo/ individualismo como características positivas, são as causadoras tanto dos problemas socioeconômicos, quanto dos problemas ecológicos mais presentes na atualidade. Por outro lado, nunca se falou e se agiu tanto sobre estas questões socioambientais e, no entanto, nunca estivemos numa situação tão grave, com tantos processos de exclusão e tantos processos de poluição e degradação do ambiente social e natural. Se o mundo tem feito tanto e se preocupado tanto sem grandes efeitos positivos, é natural pensarmos que estamos no caminho errado. Se o que temos feito não tem gerado os efeitos desejados, algo precisa ser feito e este “algo” deve ser claramente, DIFERENTE de tudo o que temos tentado até agora. Nos perguntamos: será que o que falta às pessoas são mais e mais informações sobre as questões ambientais? A exclusão de grandes parcelas da população mundial dos processos de decisão nos priva de suas opiniões, de seus diferentes pontos de vista, de suas sabedorias acumuladas e, principalmente, de valores humanos ainda presentes em boa parte da humanidade, mas invisibilizados pela grande mídia: economia solidária, processos coletivos não prioritariamente econômicos, valorização de culturas ditas “alternativas”, são alguns destes saberes que são fundamentais para o enfrentamento coletivo das questões socioambientais. Assim sendo, a questão socioambiental não se configuraria num problema simplesmente técnico, mas, e principalmente, num problema político e cultural baseado numa visão crítica dos nossos modos de vida e nossos conceitos de desenvolvimento e progresso e, principalmente, na participação ativa da população nas mais diferentes dimensões da vida. O papel que pode ser desempenhado pela educação e comunicação neste processo é fundamental! Porém, não se
trata da comunicação reduzida simplesmente à transmissão de informações. As informações, escritas, visuais, sonoras, entre tantos estímulos que recebemos diariamente, nos chegam num volume e velocidade crescente e nos deveriam levar a refletir se temos mesmo capacidade de receber, compreender e utilizar este volume de informações para formarmos as opiniões necessárias aos processos de participação. A comunicação que educa, produzindo sentimentos de pertencimento, de respeito à alteridade e de aumento de nossa potência de ação, não se limita à informação e, aliás, pode até dispensar sua priorização frente a outras dimensões fundamentais. A comunicação que educa prioriza a troca de saberes e construção coletiva das informações, o respeito às diferenças como dimensão ética, a produção de autonomia como objetivo comunicativo. Muitos destes processos se intitulam: Educomunicação. Um passo importante no processo educomunicativo é perceber que sabemos algo, independente e antes de alguém nos ensinar algo. Saber que sabemos algo é fundamental! Neste sentido a comunicação deveria ser muito mais interativa permitindo a troca de informações entre diferentes pontos de vista. Como nos mostrou Paulo Freire, sabendo que sabemos algo, podemos saber mais sem ter a sensação de dependência externa para o conhecimento. Mas só saber algo nos transforma? Nos mobiliza para uma ação de participação? É, também, preciso descobrir o que sentimos sobre o que sabemos! Quais nossos sentimentos sobre uma informação? Ela nos entristece ou alegra? Ela nos abate ou anima? Infelizmente, as emoções que aparecem nos meios de comunicação são “prontas”, pouco profundas e de senso comum, pouco restando de espaço para as nossas próprias emoções. Quando, finalmente, podemos sentir, nos deixamos afetar pelo que sabemos; neste momento há a transformação! Mas só isto, ainda não basta. Por fim, é fundamental que consigamos refletir eticamente construindo uma opinião própria sobre o que sabemos e o que sentimos, a partir do reconhecimento da complexidade das questões socioambientais e da necessidade de que esta opinião deva ser construída individual e coletivamente ao mesmo tempo. Só aí estaremos prontos para enfrentar as questões socioambientais que nos exigem uma postura, uma tomada de posição e uma ação coerente com o que sabemos, sentimos e pensamos. Neste sentido, campanhas, programas, filmes “educativos” na mídia devem permitir que seu público estabeleça uma relação com o material, reconhecendo-se nele, construindo - a partir dele - uma relação de pertencimento com o meio social e territorial, de fortalecimento de uma identidade cultural, integrando as dimensões informativas, afetivas e políticas à dimensão cultural da questão socioambiental. Sandro Tonso é professor da Faculdade de Tecnologia FT (antigo CESET) UNICAMP, do COEDUCA - Coletivo Educador Ambiental de Campinas. Integra o Centro de Saberes e Cuidados Socioambientais da Bacia do Prata e a RUPEA - Rede Universitária de Programas de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis
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foto: divulgação
foto: Silvio Tanaka foto: divulgação
último Bloco
A poesia do não olhar
Pato Fu à sua maneira
Transpor para o audiovisual uma representação poética e estética sobre o não olhar é a proposta da série Poéticas do Invisível, que o SescTV exibe neste mês, em cinco programas. Dirigido pela videoartista Lucila Meirelles, a série aborda a questão da cegueira e da visão subnormal por meio de entrevistas, depoimentos e curtas-metragens, editados numa linguagem que dá ao telespectador a sensação da deficiência visual. A direção de fotografia é de Alê Chiregatti; a edição de imagens, de Julia Pereira; e a coordenação de produção é de Alê Hope. De 11/04 a 15/04, às 23h.
Um show “repleto de contraste, unindo partes delicadas a outros momentos caracterizados por um som mais rigoroso e agitado”. É assim que a cantora Fernanda Takai define o desempenho da banda mineira Pato Fu no especial musical inédito que o SescTV exibe neste mês. Gravado em junho de 2010 no Sesc Pompeia, o espetáculo tem em seu repertório a música Simplicidade, raramente tocada nas apresentações do grupo. Dia 13/04, às 22h.
Free Jazz com Ed Motta
SescTV no Rio Content Market
O músico Ed Motta apresenta sua desenvoltura como instrumentista em episódio inédito do Instrumental Sesc Brasil. Ritmos como o cosmic jazz, funk, r&b, samba, MPB e soul são explorados por ele e por sua banda, formada por Cássio Ferreira, no saxofone; Sidiel Vieira, no baixo acústico; Leandro Cabral, nos teclados; Vitor Cabral, na bateria; e Jessé Sadoc, no trompete. Motta toca o piano Rhodes, uma combinação de piano acústico, celesta e vibrafone, que segundo ele, tem sua primeira aparição na televisão brasileira nesse show, um confronto ao formalismo musical. Dia 18/04, às 22h.
O SescTV participou, entre os dias 16 e 18 de março, do Rio Content Market, idealizado pela Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão. O evento reúne profissionais do audiovisual do Brasil e do exterior para debater e refletir sobre avanços tecnológicos, novas plataformas, conceitos e formatos. Os encontros são realizados em painéis, rodadas de negócios, debates e relatos. O SescTV foi apoiador do evento e integrou o Comission Editor, grupo que formulava perguntas durante a seleção de novos projetos para televisão (pitching).
Verifique a classificação indicativa e horários em www.sesctv.org.br Para sintonizar o SescTV: Aracaju, Net 26; Belém, Net 30; Belo Horizonte, Oi TV 28; Brasília, Net 3 (Digital); Campo Grande, JET 29; Cuiabá, JET 92; Curitiba, Net 11 (Cabo) e 42 (MMDS); Fortaleza, Net 3; Goiânia, Net 30; João Pessoa, Big TV 8, Net 92; Maceió, Big TV 8, Net 92; Manaus, Net 92, Vivax 24; Natal, Cabo Natal 14 (Analógico) e 510 (Digital), Net 92; Porto Velho, Viacabo 7; Recife, TV Cidade 27; Rio de Janeiro, Net 137 (Digital); São Luís, TVN 29; São Paulo, Net 137 (Digital). No Brasil todo, Sky 3. Para outras localidades, consulte www.sesctv.org.br
SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO – SESC Administração Regional no Estado de São Paulo
Presidente: Abram Szajman Diretor Regional: Danilo Santos de Miranda
A Revista é uma publicação do Sesc São Paulo sob coordenação da Superintendência de Comunicação Social. Distribuição gratuita. Nenhuma pessoa está autorizada a vender anúncios. Rua Cantagalo, 74, 13.º andar. Tel.: (11) 2227-6527 Coordenação Geral: Ivan Giannini Editoração: Andressa Gonçalves Revisão: Maria Lucia Leão Supervisão Gráfica e editorial: Hélcio Magalhães
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Direção Executiva: Valter Vicente Sales Filho Direção de Programação: Regina Gambini Coordenação de Programação: Juliano de Souza Coordenação de Comunicação: Marimar Chimenes Gil Redação: Adriana Reis Divulgação: Jô Santina e Jucimara Serra Estagiário: Estevan Muniz www.sesctv.org.br atendimento@sesctv.sescsp.org.br
artes visuais
nova temporada todas as quartas, às 21h30
em maio
Imagem extraída da exposição de Georgia Kyriakakis. Foto: Carla Chaim
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