SESC
Bienal Naïfs do Brasil 2012 The 2012 Biennial of Naive Artists of Brazil Bienal Naïfs de Brasil 2012
11ª edição
Piracicaba SP Brasil SESC 2012
8 de agosto a 9 de dezembro de 2012, 11ª edição, sesc Piracicaba
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Índice Desenvolvimento e cultura numa perspectiva plural Uma medida de encantamento Além da vanguarda Uma reflexão sobre a Bienal Naïfs do Brasil O inesperado na arte retorno ao frescor criativo O sonho da ingenuidade Obras e histórias Biografias além da vanguarda English texts textos en español Ficha técnica
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Desenvolvimento e Cultura numa perspectiva plural Abram Szajman Presidente do Conselho Regional do sesc São Paulo
A programação dos centros culturais e esportivos do sesc reflete o
trato equilibrado de empreendimentos de maior ou menor amplitude,
compromisso do empresariado dos setores do comércio, prestação
salvaguardando as iniciativas locais, símbolos do crescimento
de serviços e turismo com o bem-estar e a qualidade de vida do
sustentável de cada região. É nesse sentido que a Bienal Naïfs do
trabalhador desses setores, seus dependentes e sua comunidade.
Brasil deixa transparecer a atenção permanente que o sesc dedica à
As ações em áreas diversas, que vão do esporte ao turismo, da alimentação às linguagens artísticas, da cultura digital à educação
concepção plural de desenvolvimento e cultura, sempre pensando essas duas dimensões de modo interligado.
para sustentabilidade, têm como objetivo central a utilização responsável e eficiente dos recursos disponibilizados por seus mantenedores em benefício de seu público prioritário. Dentro dessa perspectiva, a realização da 11ª edição da Bienal Naïfs do Brasil, no sesc Piracicaba, dá continuidade a um dos eventos mais relevantes na aproximação entre as linguagens artísticas e a comunidade. Essa relevância advém não apenas da longevidade dessa exposição, mas principalmente do tipo de relação que ela estimulou, ao longo do tempo, entre artistas, obras e espectadores, pautada por valores e significações que contrastam com aqueles que se tornaram comuns para os habitantes das grandes cidades. O reconhecimento da importância dos traços da identidade cultural de um povo é uma das marcas da ação do sesc. A presente mostra é prova da valorização de elementos que não estão restritos ao cotidiano urbano. Deve-se ressaltar que tal disposição está conectada a um pensamento caro a esta entidade, segundo o qual a compreensão dos fenômenos da contemporaneidade é mais adequada quando contempla de forma integral várias facetas do desenvolvimento humano. Afinal, a visão de mundo dos que trabalham em áreas de contato direto com a sociedade, como é o caso do comércio, prestação de serviços e turismo, deve se caracterizar pela aptidão em perceber as interdependências entre campo e cidade, interior e capital, cidades maiores e menores, bem como pela responsabilidade em zelar pelo
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Uma medida de encantamento Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do sesc São Paulo
“...que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.”1 Manoel de Barros
O sentido do encantamento mencionado na poesia de Manoel de Barros, quando trazido para o campo da apreciação artística, inspira uma medida crítica para aferir a qualidade das nossas impressões diante da obra de arte. Essa medida exige um tempo de dedicação à contemplação, momento essencial para que a obra possa existir além de seus limites e para que ganhe abrigo em nossa memória sensível, por encantamento ou apatia, deixando um rastro dessa experiência. Por meio do olhar do artista, invadimos campos coloridos, formas inusitadas, ângulos diversos, paletas que colorem nosso cotidiano e nos tornam cúmplices de um imaginário antes reservado ao universo de quem concebe os modos de expressão, que representam simbolicamente maneiras de ver e interpretar o mundo. O artista naïf apresenta narrativas originárias de uma sofisticada percepção de sua cultura e transforma o espaço branco da tela em representações das matrizes de suas crenças, festas populares, cenas cotidianas e variáveis temáticas da qual essa arte se apropria. Registra sua visão e poética acerca das tradições e contradições e dos territórios que transitam entre o rural e a aquisição do urbano, decorrentes de transformações sociais e contornos geográficos do espaço em que vive. A riqueza dessa produção, e sua aparente simplicidade formal, mantém viva suas tradições expressivas. Essas características tornam a arte naïf sujeito de interesse de alguns artistas contemporâneos,
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colaborando para diversificar o panorama atual, ao se mesclar
ações socioculturais, estímulo para recriar relações e intersecções no
ou invadir territórios consagrados do fazer artístico.
ambiente das artes.
No momento em que a Bienal Naïfs do Brasil chega em sua décima
Diante das obras da décima primeira Bienal Naïfs do Brasil,
primeira edição, torna-se oportuno olhar para o passado com a
retomamos o poeta Manoel de Barros, para que seja, pois, o
finalidade de ampliar a percepção dos caminhos trilhados em seu
encantamento produzido em nós a medida para novos encontros com
desenvolvimento ao longo desse percurso, para atualizar o contexto
a arte o que nos toca variavelmente em intensidade, num processo que
de sua realização e orientar ações futuras.
não se esgota, por fazer parte da experiência e do desenvolvimento
A primeira iniciativa do sesc em apresentar uma mostra de arte naïf
humanos.
estava inserida no projeto Cenas da Cultura Caipira, realizada entre os anos de 1986 e 1988. Posteriormente, a exposição foi mantida de forma independente e, em 1991, ganhou maior visibilidade. Desde 1992, sua realização tornou-se bienal e era denominada Mostra Internacional de Arte Ingênua e Primitiva. Nesse ano, a mostra recebeu o prêmio de Melhor Evento de Artes Visuais do Interior do Estado, concedido pela apca – Associação Paulista de Críticos de Arte. A partir de 2004, a curadoria da bienal passou a ser concebida por críticos convidados, inaugurando um formato que proporcionou significativa alteração em sua concepção, adicionando uma sala especial e abrigando obras de artistas contemporâneos. Essa proposta permitiu diferentes aproximações, relações e leituras sobre a produção de arte naïf e estimulou diálogos a respeito dessa expressão artística no contexto atual. Assim, essa produção com inspiração popular contracenou, nas últimas quatro edições, com o universo de artistas contemporâneos. Em sua décima primeira edição, a Bienal Naïfs do Brasil busca ampliar o diálogo e a aproximação entre a produção de origem popular e a arte contemporânea. Nessa perspectiva, o desenho curatorial, concebido por Kiki Mazzucchelli, e a expografia da mostra, realizada por Ana Paula Pontes, atuam em consonância, apresentando uma alteração significativa, possibilitando que os limites do espaço físico entre premiados, selecionados e participantes da sala especial sejam rompidos e convivam num mesmo ambiente. Essa desestrutura dos compartimentos físicos propicia que as obras apresentadas sejam partilhadas com o público de uma forma inédita no histórico da bienal. Ao abrigar obras de concepção popular que fazem contraponto ou que dialogam com manifestações contemporâneas, o sesc reafirma os critérios de pluralidade e de democratização norteadores de suas
1 Poema “Sobre importâncias”, Manoel de Barros. In Memórias inventadas: a segunda infância, editora Planeta, São Paulo, 2006.
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Além da vanguarda
pelo júri e a mostra da “Sala Especial”. Ao extinguir a existência física desta última, a intenção é que se extingam também quaisquer
Kiki Mazzucchelli
associações relativas a um suposto maior valor simbólico das obras
Curadora
que integram a curadoria convidada. Essas obras, comercializadas no mercado contemporâneo, possuem, invariavelmente, um maior valor de mercado e transitam no circuito glamoroso das grandes feiras de arte e bienais internacionais. Aqui, no entanto, elas se infiltram obsequiosamente num território que pertence tradicionalmente ao naïf,
introdução
pontuando ou enfatizando discretamente certos aspectos comuns às
Desde o início da década 2000, a Bienal Naïfs do Brasil apresenta, em
duas produções ou para produzir significados que emergem apenas na
paralelo às obras selecionadas pelo júri do salão, as chamadas “Salas
sua relação com o naïf.
Especiais”, exposições temáticas de menor escala que a Bienal que reúnem obras selecionadas por um curador indicado pelo sesc. Embora
o naïf, ou tudo aquilo que está fora
sempre buscassem um diálogo com a produção naïf, em torno da qual
Mas é curioso notar, ainda, como o problema da percepção diferenciada
esse evento se estrutura, as mostras das “Salas Especiais” aconteciam
do valor dessas duas produções se reflete também na terminologia
tradicionalmente isoladas do conjunto principal, literalmente em
empregada para designá-las. A questão da inadequação do uso do termo
uma sala separada. Justamente, essa separação física entre as duas
naïf em referência a uma produção não erudita e não institucionalizada
mostras servia para demarcar seus territórios próprios, permitindo que
já foi abordada diversas vezes em edições passadas da Bienal Naïfs do
a leitura da proposta curatorial não se confundisse com a seleção do
Brasil, e é também o assunto do texto de Edna Matosinho Pontes, que
júri, mantendo assim sua coesão e integridade. Esse era geralmente
integrou o júri da Bienal em 2012, publicado neste catálogo. Nele,
um ponto importante, pois muitas das curadorias passadas incluíam
ela atenta para o juízo de valor negativo embutido em algumas das
trabalhos que possuem uma forte afinidade estética com as obras dos
terminologias correntes, como o “primitivo”, ou mesmo o naïf (ingênuo),
artistas naïfs, o que poderia sugerir eventuais relações entre as obras
e comenta que atualmente se tende a usar o termo “Arte Popular” como
e significados não eram necessariamente aqueles desejados pelos
uma categoria mais adequada para abranger a diversidade criativa
curadores.
das práticas como as que são o objeto desta Bienal. Marta Mestre,
Em 2012, quando a Bienal Naïfs do Brasil comemora sua 11a edição e
também jurada desta edição, propõe, por sua vez, um questionamento
20 anos de existência, a proposta do sesc é buscar maior aproximação
expandido do mesmo problema, situando-o dentro de um panorama
entre as produções naïf e contemporânea. A partir dessa proposta
mundial e histórico. Num segundo momento, problematiza o papel da
de aproximação, o primeiro movimento da curadoria foi abolir a
curadoria na disseminação do que ela designa como “arte espontânea”,
separação física entre as obras do salão e as da “Sala Especial”. Com
atentando para certos paradoxos teóricos e interpretativos que acabam
esse gesto, pretende-se quebrar a rigidez artificial das categorias que
por reforçar seu caráter subalterno em relação à arte moderna e
circunscrevem esses dois gêneros artísticos, pressupondo que sua
contemporânea. Portanto, tendo em vista a abrangência desses dois
convivência num mesmo ambiente contribuirá para uma experiência
textos e a profundidade com que abordam o problema da terminologia
mais livre dos trabalhos por parte do público e para uma vivência
associada à produção não erudita, não irei me deter a esse assunto
menos prescrita por recortes curatoriais que privilegiam o método
neste breve texto de apresentação.
tradicional de categorização da arte. Cabe ainda ressaltar o intuito de eliminar possíveis distinções hierárquicas entre a mostra selecionada
Devo, contudo, para fins relativos à proposta curatorial de Além da Vanguarda, ressaltar que sugiro aqui um entendimento
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expandido daquilo que, como sugere Matosinho Pontes, seria
pretende tomar a posição central ocupada pela arte naïf aqui, mas
mais apropriadamente designado como “arte popular”. Sem um
sim infiltrar-se quase discretamente em meio à mostra principal dos
conhecimento específico ou aprofundado da profunda diversidade de
trabalhos selecionados pelo júri. Porém, mesmo consciente de seu lugar
práticas abarcadas por esse termo, optei por uma definição mais ou
secundário, trata-se também de uma empreitada ambiciosa, já que a
menos frouxa que, ao meu ver, incluiria todas as práticas artísticas
própria condição de possibilidade da exposição Além da Vanguarda é sua
que: (1) se desenrolam geralmente fora dos grandes centros urbanos;
existência em relação às obras naïfs.
(2) se desenvolvem à parte do conhecimento erudito da arte ocidental
Nesse sentido, não se apropria apenas de um ou outro trabalho do
e das vanguardas europeias do século xx; (3) possuem algum tipo de
segmento principal, mas passa a incorporar todos os trabalhos que
ligação profunda com as necessidades imediatas de uma determinada
integram a Bienal Naïfs do Brasil. Torna-se, assim, uma espécie de grande
comunidade, sejam essas de ordem religiosa, mítica, comercial,
parasita que cria, simultaneamente à Bienal, uma outra exposição
decorativa, prática, etc., possuindo, assim, um caráter mais coletivo.
com uma proposta inteiramente distinta. Ou seja, ambas as exposições
Aqui estariam incluídos, por exemplo, a arte indígena, o artesanato
acontecem ali, no mesmo período e no mesmo espaço físico, embora
popular do nordeste, os folclores regionais, a arte negra, entre
as premissas das quais cada uma delas parte façam com que sejam
outros. Vale dizer, ainda, que não proponho isso como uma categoria
projetos absolutamente distintos. A mostra dos trabalhos selecionados
absolutamente distinta daquilo que chamamos de arte contemporânea.
pelo júri existe como tal, independentemente da curadoria de Além da
De fato, é comum que trabalhos de arte extrapolem uma categoria
Vanguarda, ao passo que esta última depende inteiramente do conjunto
ou que não se encaixem em nenhuma, e os inúmeros exemplos disso
de relações que estabelece com a primeira para existir. Descolada
incluem, entre muitos outros, a participação de Hélio Melo na 27a
dessa, dissipa-se e colapsa. Trata-se, evidentemente, de uma proposta
Bienal de São Paulo, com curadoria de Lisette Lagnado, a apropriação
experimental que, por sua própria natureza e devido ao calendário
de elementos da “civilização do nordeste” na arquitetura de Lina Bo
de execução da Bienal, não pôde partir de um projeto absolutamente
Bardi ou a produção dos internos de Engenho de Dentro. No caso
fechado, pois a seleção das obras que integram o segmento da curadoria
de Além da Vanguarda, trata-se de criar uma situação propícia para a
foi realizada em paralelo à seleção do júri, da qual, desafortunadamente,
própria desestabilização dessas categorias. A ideia é que, por um lado, a
não pude participar. Trabalhamos, portanto, com um elemento surpresa
proximidade física entre “populares” e contemporâneos permitirá que se
e deixamos para a fase de montagem algumas decisões relativas ao
deem uma série de fricções produtivas no espaço expositivo a partir dos
posicionamento das obras no espaço expositivo.
próprios conteúdos estéticos das obras exibidas e, por outro, provocará
Integram a seleção do júri, nesta edição da Bienal, 70 obras de 55
um questionamento sobre os próprios limites impostos às diferentes
artistas, sendo a maioria delas bidimensionais. Em seus respectivos
produções artísticas, os discursos que produzem, os circuitos nos quais
textos neste catálogo, os jurados Juliana Braga e Paulo Klein — que foi
transitam e o valor que lhes é atribuído.
curador da mostra em 2004 — discutem algumas questões e desafios enfrentados durante o processo de seleção em 2012. Segundo seus
bienal naïfs do brasil e além da vanguarda
relatos, o júri buscou reunir obras que sejam a expressão do caráter
É evidente que o interesse e foco da atenção maior desse evento como
vivo e pulsante da produção popular, evitando aquelas que pretendem
um todo, no que diz respeito à sua tradição, abrangência e público recai
reproduzir um estilo consagrado. A seleção da curadoria, por sua vez,
sobre a produção naïf, para a disseminação da qual se consolidou, na
inclui 21 obras de 10 artistas, duas das quais foram comissionadas
última década, como uma das mais importantes plataformas nacionais.
especificamente para esta exposição e uma terceira acontece fora do
Portanto, a curadoria dos trabalhos reunidos sob o título de Além da
espaço expositivo do sesc Piracicaba. Na escolha das obras, buscou-se
Vanguarda, embora com ênfase na produção dita contemporânea, não
encontrar trabalhos capazes de criar situações que estimulem diálogos
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e relações entre os segmentos naïf e contemporâneo, pautando-se,
Buscando uma tradução mais precisa das ideias curatoriais no
principalmente, pela relação dessas obras com uma produção ou com
espaço expositivo, a expografia da mostra foi desenvolvida em diálogo
o vernacular popular, entendidos amplamente como toda a produção
próximo com a arquiteta Ana Paula Pontes, responsável pelo projeto.
artística que se dá fora do escopo da tradição das vanguardas europeias.
Optamos por uma arquitetura que não reforçasse o caráter “popular”
Com efeito, todos os trabalhos contemporâneos aqui selecionados
das obras naïfs, com ênfase em materiais ou cores que evocassem
guardam algum tipo de relação específica com alguma dessas
esse universo, permitindo assim que as próprias obras expressem seu
manifestações, seja no modo em que se apropriam de imagens e
conteúdo sem a necessidade de reforço externo. Ao mesmo tempo,
temáticas recorrentes nas pinturas naïfs (os sinos e a religião, no caso de
tampouco seguimos a estética do “cubo branco” tradicionalmente
Pablo Lobato), seja na releitura de um gênero tradicional da pintura naïf
utilizada nas mostras contemporâneas, buscando, ao contrário,
(a paisagem, no caso de Carla Zaccagnini e Thiago Rocha Pitta), seja na
incorporar as características próprias do edifício, que não foi construído
apropriação de técnicas populares (o bordado, em Alexandre da Cunha, a
especificamente para abrigar mostras de arte, apresentando uma
renda, em Tonico Lemos Auad, as bandeirolas das festividades populares,
série de interferências visuais. Para esta edição da Bienal, a arquiteta
em Rodrigo Matheus). Montez Magno, por sua vez, será representado
desenvolveu um sistema de painéis expositivos confeccionados com
com obras de três séries diferentes, produzidas nas décadas de 1970
placas de compensado cru, sem pintura, sustentados por suportes de
e 1990, em que aborda o legado geométrico da arte popular. Trata-se
metal. Além de preservar a transparência do espaço expositivo, evitando
de uma pequena, porém valiosa, amostra do trabalho desse artista de
a construção de paredes falsas e propondo uma ocupação mais leve
importância histórica cuja produção experimental e inovadora vem
do edifício, os painéis fazem uso de um material que evoca, ao mesmo
se desenvolvendo desde o final da década de 1950. Além disso, pela
tempo, uma certa rusticidade (a chapa de madeira crua, no tamanho
primeira vez na história da Bienal Naïfs do Brasil, contaremos com a
em que vem da fábrica) e um caráter industrial (pois trata-se de um
presença de três artistas estrangeiros, cuja participação contribuirá
material industrializado). Assim, chegamos a um projeto arquitetônico
para expandir o debate acerca da relação entre contemporâneo e
que se encontra estreitamente alinhado à proposta curatorial. O projeto
popular para além de regionalismos e nacionalismos. Um deles, Daniel
gráfico foi desenvolvido por Carla Caffé junto à equipe do sesc e buscou,
Steegmann Mangrané, catalão radicado no Rio de Janeiro, volta seu
igualmente, refletir as preocupações desta curadoria.
olhar para a cultura indígena brasileira e sua produção de padrões
Finalmente, gostaria de agradecer imensamente o apoio e o
geométricos. Federico Herrero, costa-riquenho, trabalha primariamente
entusiasmo da equipe do sesc Piracicaba durante todo o processo de
com pintura, explorando a tradição latino-americana dos murais de
concepção e realização deste projeto. Graças ao empenho de todos e
modo a popularizar a arte contemporânea. É com grande felicidade
ao trabalho em equipe, fomos capazes de assegurar a participação
que asseguramos sua participação nesta mostra, em que realizará
inestimável dos artistas e membros do júri convidados e de realizar
uma pintura no edifício do sesc, em local (ou locais) a ser determinado
cada etapa do processo com o cuidado e atenção devidos. Juliana
durante a montagem. Igualmente gratificante foi poder contar com
Braga e Daniel Hanai foram especialmente pacientes e atentos às
a participação do colombiano Felipe Arturo, que já há alguns anos
demandas da curadoria desde o início, compreendendo a ambição desse
vem desenvolvendo um trabalho de arquiteturas temporárias em que
projeto e contribuindo imensamente com soluções engenhosas para
incorpora técnicas construtivas dos camelôs de diferentes cidades.
os problemas de ordem prática e conceitual que surgiram em nosso
Arturo fará uma pequena residência na cidade de São Paulo, onde irá
percurso.
pesquisar os camelôs locais a fim de desenvolver um projeto no espaço da varanda adjacente ao salão expositivo do primeiro andar do edifício do sesc.
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Uma reflexão sobre a Bienal Naïfs do Brasil Edna Matosinho de Pontes Colecionadora, pesquisadora e galerista
A terminologia usada para definir o tipo de arte presente nesta exposição é ampla e já foi abordada em muitos outros textos escritos para bienais anteriores. Arte “naïf”, “ínsita”, “primitiva”, “popular” costumam fazer parte das várias formas de designação. O termo “naïf” remete à ingenuidade. A discussão recorrente envolvida tende a girar em torno da adequação de se nomear desse modo esta bienal importantíssima pela sua peculiaridade, por ter como objetivo primordial abrir espaço para que o artista não erudito possa divulgar o seu trabalho. A questão do “naïf/ingênuo” foi muito bem abordada por Olívio Tavares de Araújo, quando foi curador da sala especial da Bienal Naïfs do Brasil em 2008; diz: “Na prática, sobretudo por influência da Europa Oriental, onde esse tipo de arte existe em grande quantidade, o rótulo naïf costuma ser aplicado a artistas menos contundentes... Conhecem vários procedimentos técnicos eruditos, sabem desenhar razoavelmente bem e misturar tintas para criar ‘degradés’ agradáveis, em suas paisagens...”. É exatamente ao se levar em conta essa definição e o enquadramento do “naïf” dentro de uma perspectiva técnica específica que essa nominação merece ser questionada. Não existe propriamente um consenso sobre a melhor terminologia. O termo “primitivo” tende a embutir um juízo de valor negativo que o deprecia. O termo “íncito”, que equivale a espontâneo, embora possa em muitos aspectos ser visto como adequado, é pouco conhecido e usado. A tendência atualmente observada é usar o nome “arte popular” para caracterizar a produção artística não erudita. Isso não significa que seja a melhor definição, mas especifica com mais precisão o tipo de arte a que nos referimos e por isso foi adotada como a convencionalmente usada. A concepção de arte popular como a expressão vívida da inventividade da alma do nosso povo e que através da sua fantasia
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reinventa a realidade a seu modo norteou o nosso trabalho como jurados da Bienal de 2012. Foi com grande satisfação que pude trabalhar com um grupo
A exceção em termos de obra tridimensional foi uma surpreendente cabeça feita em ferro por Evandro Soares. Demonstra originalidade, habilidade, engenhosidade e inclui movimento através de um
heterogêneo em termos de experiência profissional, mas que funcionou
mecanismo simples que faz uma hélice girar. É um trabalho que sugere
como verdadeira equipe. A seleção das obras foi feita de maneira muito
esforço e perseverança na elaborada realização.
atenta, reflexiva e democrática. Algumas normas foram consensuais na
Diferentemente de outras vezes em que houve espaço separado
escolha das obras a serem expostas. Levamos em conta a experiência
para sala especial idealizada pelo curador, a curadora Kiki Mazzuccheli
e a formação do artista. Procuramos evitar incluir obras de artistas
decidiu expor num mesmo espaço, lado a lado com a arte popular,
que tiveram a influência de uma formação artística específica ou cujo
também obras contemporâneas. Isso reflete e reforça a valorização
trabalho retrata situações não condizentes com sua condição de vida.
da produção de artistas populares, marca registrada das bienais de
Para isso analisamos também as suas biografias.
Piracicaba.
A iniciativa do sesc em valorizar e divulgar esse tipo de produção
A Galeria Pontes, por mim dirigida, promoveu em 2009 a exposição
a cada bienal que se repete há vários anos é realmente louvável. São
Mecânica Inexata, visando ao diálogo entre a arte popular e a arte
poucas as oportunidades de o artista popular receber tanta atenção e
contemporânea, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti. Essa
espaço para mostrar o seu trabalho. É normalmente excluído do circuito
exposição mostrou que esse diálogo é possível e tem uma fluidez que
artístico de exposições — e, portanto, sua obra tende a ser pouco
aflora naturalmente. No texto escrito para a mostra, Crivelli Visconti
valorizada.
fala...“da necessidade de recompor a fratura, recente e desnecessária,
Dessa vez foram apresentadas 536 obras (cada artista
que divide a prática artística em mundos separados, que deveriam
concorrendo com duas), representando vinte estados do Brasil.
voltar a ser aproximados e entendidos, assim, de outra forma. Da
Tivemos uma gama de temas muito frequentes na arte popular:
convicção de que a proximidade de obras e pensamentos distintos é
paisagens rurais e urbanas, festas populares (folclóricas e religiosas),
saudável e desejável, é o que molda e define o espírito de uma nação,
cenas do cotidiano, representação de problemáticas atuais.
de uma cultura... enfim, do desejo de uma convivência mais frequente,
Procuramos levar em consideração, além da maestria da realização,
de uma troca fecunda e contínua de ideias”... São proposições que
a sensibilidade, a sinceridade da abordagem e a originalidade, e
compartilho totalmente.
também demos destaque ao uso de técnicas e matérias pouco presentes nesta mostra. A grande maioria dos trabalhos enviados foi composta por pinturas
Apesar da alta representatividade de estados brasileiros nesta 11ª Bienal Naïfs do Brasil, faço aqui um pequeno comentário — pensando em futuras bienais — de quanto seria enriquecedor em
a óleo ou acrílico. Foram raras as xilogravuras, as obras tridimensionais
termos de diversidade de técnicas e uso de materiais uma presença
em cerâmica e pedra, poucas as esculturas em madeira — muito
geograficamente mais ampla, com a inclusão e aumento do número de
representativas no universo do artista popular.
trabalhos de estados ricos na produção de arte popular, em especial, os
A representação da lembrança de uma época que já passou faz parte
do nordeste.
da experiência de pessoas mais velhas, que viveram esse tempo. Nessa direção, por exemplo, vimos beleza, sensibilidade e sinceridade na obra de Maria Caldeira Bochini, artista com 82 anos. Nela percebemos a sobriedade nostálgica, a economia de cores e a ausência de detalhes supérfluos. Não é, de forma alguma, um retrato edulcorado e desnecessariamente embelezado.
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O Inesperado na Arte Marta Mestre Crítica e historiadora de arte
O nosso olhar transforma-se muito mais do que a arte. A nossa
O caso finlandês tem contornos épicos, pela sucessão dos seus
perspectiva sobre as coisas emancipa-se de uma ordem fechada e
episódios e pela forma com que, em menos de trinta anos, soube trazer
discursiva, e existe como um emaranhado emotivo que articula um
uma enorme visibilidade para um campo até então desconsiderado.
jogo de imagens e de tempos circulando confortavelmente entre “alta”
Começa com a história de Veli Granö, artista contemporâneo que realiza
e “baixa” cultura.
a série de fotografias “Onnela — Trip to Paradise”, retratos de vinte
A arte espontânea, ou seja, a produção visual que é realizada à parte
artistas folk e outsider no contexto dos seus mundos idiossincráticos.
do mundo institucionalizado da arte, tem um poder cada vez mais
A série é exposta em 1986, numa galeria de Helsinki, e gera o imediato
expressivo de empatia e sedução, e isso deve-se ao enfraquecimento da
interesse de várias camadas da sociedade.
rígida distribuição de gêneros, temas e hierarquias ao longo do século xx. Um pouco por toda a parte, e com maior ou menor grau de
O exemplo finlandês é recheado de acontecimentos muito contundentes na criação de uma estética de corpo inteiro com o
expressividade, reparamos que a “arte espontânea”, aquela que está
apoio do Estado: a abertura do “Contemporary Folk Art Museum”
sempre onde menos esperamos, onde ninguém pensa nela, nem
(na cidade de Kaustinen); a liderança no programa europeu “Equal
pronuncia o seu nome, tem admiradores por todo o mundo e realiza um
Rights to Creativity — Contemporary Folk Art in Europe”, em
caminho excepcional de afirmação, seja no Brasil, seja... na Finlândia.
parceria com a Hungria, Itália, Estônia e França, ao qual se associou
Em 2006 fiz uma viagem à Finlândia e tive oportunidade de
uma editora para a publicação de edições de grande qualidade
visitar artistas e produções da chamada “arte espontânea”. Foi uma
dos trabalhos dos artistas “espontâneos”; a exposição “In Another
experiência intensa, na qual pude perceber a importância simbólica,
World” realizada no Museu de Arte Contemporânea de Helsinki —
cultural, identitária e econômica que esse campo artístico pode ter.
Kiasma, uma seleção da melhor arte espontânea finlandesa, a par
Tomar agora conhecimento com a produção brasileira que chega à
dos artistas históricos das coleções europeias (Alain Bourbonnais,
Bienal Naïfs de Piracicaba faz-me constatar que, apesar de serem países
Aloïse Corbaz, Madge Gill, Chris Hipkiss, Giovanni Battista Podesta,
com realidades muito diferentes, existe um traço comum que confere
Henry Darger ou Adolf Wölfli); e a condecoração, em 2007, de
unidade às suas produções visuais.
Veijo Rönkkönen, um dos artistas fotografado vinte anos antes por
O jargão que os especialistas usam para caracterizar esse tipo de
Veli Granö, com o “Finland Prize”, prêmio nacional do Ministério
produção é extenso: arte naïf, arte outsider, art brut, raw art, folk art, arte
da Cultura, pelo seu trabalho que recebia a atenção do curador
visionária, “ambientes visionários” etc.; contudo, é uma mesma ordem
internacional Harald Szeemann.
de imaginário e crença, imagens que parecem ter saído de um Éden
Esse movimento levou à necessidade de inventar uma designação
acabado de descobrir, e que são intensamente povoadas de anacronias
para a “nova” arte: ITE art, “Itse Tehty Elama”, que significa “self made
e de obsessões. Sobrevivências de uma “história sem nome” que nos
life”, e institui a ideia de que a vida existe pela dimensão estética de
chegam de forma avassaladora, intensa e disruptiva.
cada um de nós.
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O caso finlandês faz-nos pensar em vários aspectos. Sugiro dois para
que um label de marketing apenso a uma política cultural confinada. Por
reflexão, a respeito do contexto da Bienal Naïfs do Brasil, em Piracicaba.
se relacionar muito mais com a vida do que com a arte (como a poética
Em primeiro lugar: Qual o sentido da designação “Bienal Naïfs”?
de Joseph Beuys, artista alemão para quem a vida existia pela dimensão
A experiência do júri deste ano e a consulta da documentação das
estética de cada um), ele assegura a longevidade ao campo artístico de
edições anteriores reforçam mais uma vez que a produção que chega até Piracicaba vinda de todo o Brasil extrapola o universo da arte “naïf”. Trata-se de um termo apertado para imagens demasiado irrequietas, um termo que não considera as suas diversas e improváveis procedências
que estamos a falar. Um segundo aspecto para reflexão: de que forma a curadoria pode dar visibilidade à “arte espontânea”? A curadoria é essencial para trazer para o campo codificado das
artísticas, como poderia ser o caso da arte indígena, da arte dos doentes
artes visuais as expressões características da vida ordinária, dos
mentais, a arte realizada em estados alterados de percepção, para citar
cotidianos, dos territórios domésticos, dos vazios rurais, do mundo
alguns exemplos.
indígena, primitivo, dos estados alterados de percepção, entre outros.
Podemos, inclusive, falar em “inadequação” do termo naïf ao
“Mundos” que muito gradualmente tem vindo a fazer parte das agendas
universo dos artistas que tem passado pelas bienais de Piracicaba, se
e das programações dos museus, mas que, por ironia, revelam seu
lembrarmos aquilo que Freud escreveu a propósito de “fetiche”, um dos
papel regenerador no cenário da crise da história da arte moderna e
elementos que melhor caracteriza a natureza das imagens naïf.
contemporânea ocidentais.
Ao introduzir o conceito de “fetiche”, Freud1 referia-se ao fato de ele formar uma imagem totalitária. A imagem fetiche é uma imagem “estanque” ou “inanimada” que faz lembrar uma espécie de paragem do olhar. Segundo Freud, o que constitui o fetiche é o momento da história em que a imagem para, como se fosse a imobilização do fantasma.
A crescente importância das “artes desautorizadas” reforça, inclusive, o fato de muitos críticos e historiadores verem nela uma espécie de “bolha de oxigênio” em face do poder homogeneizador da globalização, da padronização da arte e do seu meio cada vez mais engessado. Porém, essa potência regeneradora da “arte espontânea” não deverá
O fetiche é ainda um véu, uma cortina, um “ponto de recalcamento”.
ser instrumentalizada no circuito fechado que vê a modernidade
É por isso que o olhar maravilhado do naïf nos parece muitas vezes
primeiro e a contemporaneidade depois, por interpostas etapas e como
cristalizado, um eterno retorno. Como refere Laymert Garcia dos Santos:
lugares inesgotáveis aos quais acedemos conforme o escafandro que
“a arte naïf é a arte da emoção, um grito do coração” e acrescenta que: “o efeito mágico produz-se no olhar, ele cristaliza a imagem”2. O ponto de vista de Freud sobre a natureza das imagens naïf faz
nos leva a maior profundidade. Consideramos que a capacidade regeneradora da “arte espontânea” tem muito mais a ver com uma função antropológica, que relega a
absoluto sentido quando se lamenta que um artista “naïf” copia uma
condição estética para segundo plano. Essa função tem a potencialidade
fórmula que dá resultado e que a repete sucessivas vezes. Porém, não
de poder gerar um magnífico efeito de espelho que, sob o véu de expormos
se trata de uma resposta a um mercado entretanto conquistado, mas a
os outros, deixa passar observações sobre nós, sobre a nossa cultura, as
própria natureza da imagem naïf: o jogo de repetição dos elementos é
nossas noções de arte, os nossos valores e atitudes.
necessário para a produção do fetiche. Pelo seu caráter circunscrito, o termo “naïf” é parcial para a
Um exemplo categórico desse paradigma mais antropológico do que estético foi a exposição Les Magiciens de la Terre, realizada no
produção extensa que chega a Piracicaba e limita a possibilidade de
Centro Georges Pompidou, em 1989. Nela se agrupou, pela primeira
pensar o futuro da Bienal. Não obstante ter sempre existido dificuldade
vez, arte contemporânea ocidental com arte proveniente do resto
em encontrar uma designação confortável para esse campo artístico,
do mundo e de diversas categorias. Essa exposição deu sentido ao
desde Jean Dubuffet a Roger Cardinal, os finlandeses “resolveram” a
que Hans Belting viria a designar de “arte global”3, que, “na sua nova
questão inventando esse nome que mencionamos: ITE art, que é mais do
expansão, pode mudar substancialmente o conceito do que é a arte
20
contemporânea e de arte no geral, pois ela está em lugares onde
No segundo caso, a “emancipação” reside numa restituição dos
nunca esteve na história da arte e onde não existe qualquer tradição
lugares e dos sujeitos de enunciação de modo a reconhecer e a
de museu”4.
desenvolver todas as consequências da “igualdade das inteligências”.
Existem, evidentemente, nas palavras de Hans Belting um sério
Talvez seja por isso que algumas pessoas dizem que deveríamos
argumento sobre o fim da “história da arte como modelo da nossa
sempre olhar para um trabalho de arte espontânea com seu autor do
cultura histórica”5, e uma crítica sobre os lugares de enunciação que
lado, ouvindo a sua estória.
tradicionalmente produziram os discursos sobre a arte e, no caso, sobre “arte espontânea”. É preciso lembrar que o otimismo que existe hoje sobre esse
Tudo se passa como se esses artistas, no lugar de terem pintado, esculpido ou bordado, tivessem narrado as suas vidas, seus mundos, os lugares de onde vêm e de onde todos vimos. Tenho a maior curiosidade
campo artístico cada vez mais divulgado e reconhecido viveu um
em saber a estória que conta Maria Caldeira Bochini, na tela em que
regime de apartheid cultural durante muitos anos. Como bem lembra
três meninas brincam sem brinquedos, ou que Carmela Pereira me
Michel Thévoz, “mesmo no museu imaginário de Malraux, as obras de
cante a canção que os seus seres carnavalescos estão a festejar. Mas,
Aloïse ou de Guillaume Pujolle ficavam no purgatório com a legenda
muito particularmente, o silêncio em tons pálidos trocado entre os dois
anônima e infamante de desenhos de loucos. E quando, na Documenta v
homens de “O barco do pescador”, do pantanal de Jefferson Bastos.
de Kassel, em 1975, se teve a audácia de introduzir as obras de Adolf Wölfli e de Heinrich-Anton Muller — sem dúvida os mais inventivos de toda a manifestação — foi isolando-os numa seção designada de psicopatológica”6. Como referimos anteriormente, cada vez mais esse apartheid tem vindo a ser desfeito; porém, ainda persistem alguns paradoxos. Vou finalizar sinalizando um que, penso, que ainda gera importantes entraves. Trata-se de um paradigma pedagógico que é, muitas vezes, aplicado à “arte espontânea” e que reconstitui indefinidamente a desigualdade que pretende suprimir, como se houvesse uma igualdade como objetivo e uma “fratura” social, estética, simbólica a ser eliminada. É um jogo dúbio que pode significar coisas completamente diferentes: conduzir os artistas a restarem no seu “paraíso perdido”, vendo aí a sobrevivência de uma arte que não deveria ser corrompida ou construir a sua “emancipação” com vista a uma “igualdade de inteligências” (J. Rancière). No primeiro dos casos, existe um discurso que acomoda a arte e os artistas espontâneos numa subalternidade e que não lhes dá voz. Privados da palavra, essa arte e esses artistas falam somente
1 Sigmund Freud, “Souvenirs d'enfance et souvenirs-écrans”, in Psychopathologie de la vie quotidienne, Payot, Paris, 2004. 2 Laymert Garcia dos Santos, “Regarder autrement”, in Histoires de voir (catálogo da exposição) Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, maio 2012. 3 “The Global Contemporary. Art Worlds After 1989”, a exposição realizada pelo ZKM | Museum of Contemporary Art (de setembro 2011 a fevereiro de 2012) usa a data de “Les Magiciens de la Terre” como um marco cronológico do conceito “arte global”: http://www.globalartmuseum.de/ site/act_exhibition.
por interposta pessoa (aquele que os “descobriu”, o galerista, o júri, o
4 In http://globalcontemporary.de/en/exhibition.
historiador etc.). Por isso é que essas imagens são normalmente “mal
5 Hans Belting, O Fim da História da Arte, Cosac&Naify, p.12.
vistas”, e mal vistas porque mal ditas, mal descritas, mal legendadas,
6 Michel Thévoz, Art brut, psychose et mediumnité, Éditions de la différence,
mal fotografadas, mal utilizadas.
Paris, p.10.
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Retorno ao frescor criativo Paulo Klein aica Association Internationale des Critiques D’Art abca Associação Brasileira de Críticos de Arte
“...a lua reina sobre os artistas que não precisam academiar.” Carlos Drummond de Andrade in “Teimosia da Imaginação” por Germana Monte-Mór
“Eu devia ter aprendido a dirigir carro, mas escolhi pintar quadro.” Aurelino dos Santos, pintor popular, Salvador-BA
A trajetória que conduz a esta Bienal Naïfs do Brasil, em sua 11ª edição, começa na década de 1980 com exposições que, com pequenas variações no título, chegam a 1992 (em sexta edição) como “Arte Ingênua e Primitiva — Mostra Internacional”, sempre com base no sesc Piracicaba, mas algumas vezes espalhando-se pela agradável cidade do interior paulista. Em seguida a mostra passou a ocorrer de dois em dois anos, recebendo a designação de Bienal Naïfs, nome que hoje já é marca reconhecida no Brasil e internacionalmente. Primeiro anual, depois como bienal, o evento foi coordenado durante anos por Antonio do Nascimento, que ampliou gradualmente sua paixão pelo segmento, articulou e convidou artistas e críticos de arte que tinham, nessas ocasiões, oportunidade de manter contato com uma produção tão específica, desarticulada, em geral periférica ou interiorana que mesclava naïfs edulcorados, bruts domesticados e primitivistas de várias gerações. Contando inicialmente com um formato de mostra competitiva, passou em certo momento a apresentar salas especiais de artistas convidados. Esse formato durou até 2004, quando — convidados a realizar a curadoria da sétima edição do evento — propusemos a manutenção do segmento competitivo, já que ele permitia a visibilidade e circulação de produtores dessa arte, mas acompanhado de mostra reflexiva que promovesse a discussão e interação desse com outros segmentos
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das artes, independente de suas designações — arte popular, cabocla,
atraente ao polêmico tema da escravatura no século xxi, encontrada
periférica, não erudita, ingênua, ínsita, naïf, contemporânea, entre
ainda em algumas regiões do país.
outras possibilidades. Retornar à Bienal Naïfs, oito anos depois, fazendo parte do corpo
A pesca é tema de Jefer (Jefferson Bastos), de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, outro prêmio aquisitivo, numa pintura de singelo
de jurados para seleção e premiação, permite-nos algumas reflexões.
primitivismo no qual paisagem e personagens são esquemáticos e as
Em primeiro lugar, sobre o ato de julgar uma obra de arte sob a égide
tonalidades mantêm a leveza dos desenhos infantis.
da velocidade da comunicação virtual e da pendular oscilação dos
Dentre os Prêmios Incentivos destacamos a atmosfera psicológica
gostos; se pertinente ou não, boa ou ruim, apreciável ou não. A riqueza
e a predominância de cores chapadas das pinturas de Kaldeira (Maria
e diversidade de impressões, argumentos, convicções deveriam ser
Caldeira Bochini), de Cantanduva, São Paulo; a simplicidade dos
documentadas em vídeo para figurar posteriormente no rol dos
bordados de Maria Aparecida Machado, de Chapada dos Guimarães,
discursos filopoéticos. De qualquer modo, esse exercício crítico nos
Mato Grosso, e as cenas sacroprofanas carregadas de barroquismos de
possibilita desafios insondáveis, âmago do nosso ofício.
Ilma Deolindo, de Nova Horizonte, São Paulo. Mas mereceram incentivos
No presente júri tivemos que lidar com algumas premissas, como
também as cores vibrantes captadas no próprio cotidiano de Retrato
as dimensões do espaço expositivo, compartilhado nesta edição com
Íntimo, de Enzo Ferrara, e o imprevisto obtido com manipulação de
artistas contemporâneos indicados pela curadora Kiki Mazzucchelli e
sucata de Sonho de Voar, de Evandro Soares, de Goiânia.
com as opções aquisitivas que visam tornar mais orgânico o acervo da instituição. Desse modo o corpo de jurados exerceu suas funções com rigor,
Menções especiais foram concedidas pelo júri para artistas que chamaram atenção, como Carmela Pereira (Piracicaba, SP), resistente pioneira da arte primitiva local, Danbeco (Rio de Janeiro, RJ), Joana
não apenas no que considerou pertinente ou não nessa complexa
Baraúna da Silva (São Paulo, SP), Renata Kelssering (São Paulo, SP),
especificidade, mas também buscou eliminar a presença do naïf
José Altino (João Pessoa, PB), Shila Joaquim (São Mateus, ES), Vósandra
edulcorado, dos ingênuos inebriados em atmosfera falsa ou ainda
(Ribeirão Preto, SP).
réplicas de outros criadores. Tarefa desafiadora, mas que permitiu
Aproveitamos ainda para agradecer a oportunidade desse
fricção excitante que, ao mesmo tempo, alimenta e questiona a
encontro com uma produção geralmente mantida longe dos circuitos
produção contemporânea.
institucionais, à equipe do sesc — sempre eficiente e dedicada — e às
O resultado é uma essência concentrada do que se produz hoje no Brasil nesse segmento que mescla a pintura de ingenuidade
nossas parceiras de júri, que muito nos estimularam e questionaram, com conhecimento e poesia, nesse delicado ato de julgar.
relativa (até a “crackolândia”, o “lixão” e a reciclagem de lixo aparecem como temáticas), a arte de outsiders que fascinam pela originalidade (incluindo suas biografias repletas de causos de humor, sofrimento ou tragédia), além dos mestres que têm evoluído tecnicamente ao longo dos anos, sem perderem a poética (muitas vezes rústica) e a identidade própria. Enfatizamos as obras e artistas contemplados com o Prêmio Aquisição, as duas criações de Adão Domiciano Pinto, artista de Cuiabá, Mato Grosso, já conhecido de outras bienais por sua pintura incisiva, que retorna com a novidade do uso da aquarela sobre papel aplicado sobre placa. A novidade do material adere de forma satisfatória e
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24
O sonho da ingenuidade Juliana Braga de Mattos Assistente de Artes Visuais da Gerência de Ação Cultural — sesc São Paulo
A experiência de um júri artístico, qualquer que seja a manifestação em
Essas parecem ter sido duas importantes questões que moveram as
vista, pode ser duplamente reveladora: se por um lado cria um índice
reflexões e escolhas da presente comissão. Entre os diversos trabalhos
sobre a produção artística em determinado espaço e tempo, acaba
inscritos, foi possível colhermos um interessante retrato de um Brasil
igualmente por enunciar convicções e ideais dos avaliadores que o
que, nas últimas décadas, passou por significativas mudanças de ordem
constituem — nem sempre correspondidas à risca pelos artistas.
política e econômica, de alguma forma captadas pelas representações
Tomar a Bienal Naïfs do Brasil, organizada pelo sesc São Paulo há mais
artísticas observadas. Não forçosamente tais mudanças favoreceram
de 22 anos, como ponto de inflexão das questões indicadas, permite-nos
o exercício da arte — mas, certamente, revelaram subtextos ainda
algumas considerações sobre o atual panorama da chamada arte naïf
presentes no imaginário sobre o universo naïf, no qual resiste uma
ou ingênua no país. Uma primeira aproximação revela certa dissonância
antiga ideia de ingenuidade, sonhada há mais de um século.
do termo original e sua conotação nos dias de hoje; criada no que nos
A ampliação de entendimentos sobre arte ingênua, popular e
parece o longínquo século xix para definir, do ponto de vista europeu,
contemporânea — e, mais ainda, a aproximação entre seus campos
um sem número de produções alheias à formação clássica e acadêmica
de criação — vem constituindo uma incessante busca da Bienal Naïfs
— em suma, populares —, a expressão arte naïf passou a avizinhar-se de
do Brasil a cada edição, em sintonia com o compromisso do sesc em
um universo de criação em que certo estilo forjado sobrepõe-se ao que
garantir o fomento e debate sobre a produção artística no País. Em 2012,
outrora fora expressão poética.
o caminho absorveu contornos mais nítidos. Desejamos que o simples
Nesse sentido, tampouco se pode pretender enquadrar o termo
e o colorido, o cotidiano e o onírico sejam inspiradores ao público, pois
como reflexo purista de produção que escape aos tentáculos da
o naïf assim se revelou a nós, integrantes da comissão de seleção, ao
comunicação de massa ou dos códigos do mercado de arte — efeitos
longo de um tempo deleitável de pesquisa e debates.
colaterais velhos conhecidos de nosso mundo global. Mas, eis o desafio: justamente por conhecermos a potência de nossas tradições artísticas vinculadas a raízes populares, como escapar ao desejo de nos depararmos, em comissão convocada para tão específica tarefa, com um frescor genuíno que represente a essência de um certo agir ambivalente, que fuja aos estereótipos ao mesmo tempo em que não represente mera mímese de valores postiços à cultura brasileira? E, por outro lado, como nos despojarmos da ideia pré-concebida de que o artista “ingênuo” viveria necessariamente isolado dos códigos desse mundo contemporâneo — como se dele expressão legítima não fosse?
25
ObRaS E histรณriAS
artista selecionada Ana Denise. Em Frente de Casa. Acrílica sobre tela, 40×50 cm.
29
artista selecionada Ana Denise [Ana Denise Rocha Souza, Aracaju, SE, 1949]
30
Daniela Rossin  [Daniela Carla Rossin, Piracicaba, SP, 1976]  artista selecionada
31
artista selecionada Daniela Rossin. A Enchente. Óleo sobre tela, 50×70 cm.
32
artista selecionado Marcelo. Lixão. Óleo sobre tela, 51,5×71,8 cm.
33
artista selecionado  Marcelo  [Marcelo Schimaneski, Ponta Grossa, PR, 1967]
34
Pablo Lobato [Bom Despacho, 1976. Vive e trabalha em Belo Horizonte] além da vanguarda
A obra do artista mineiro Pablo Lobato que integra a mostra Além da Vanguarda apresenta uma imagem recorrente e altamente simbólica dentro do universo da arte popular: o sino de igreja. Na história da Bienal Naïfs do Brasil, são inúmeras as obras registradas em que os sinos figuram em paisagens de praças ou de festividades, sempre alçados no topo das pequenas torres das igrejinhas das cidades do interior do País. É justamente em Minas Gerais, estado natal de Lobato, que se encontram algumas das mais preciosas igrejas do período barroco. Foi ali que o artista realizou uma pesquisa sobre os sinos de diferentes cidades, muitos deles hoje desativados, uma investigação que resultou numa série de trabalhos que inclui Bronze Revirado, a videoinstalação que apresentamos aqui. Como descreve Jacopo Crivelli Visconti em comentário sobre essa obra, “[A]o percorrer e estudar esse tema, o artista verificou que, desde sempre, o lugar no alto das torres onde os sinos são tocados pertence quase exclusivamente aos sineiros (que, antigamente, eram em sua maioria escravos): nem os fiéis, nem os próprios padres sobem até lá. Ou seja, o artista resgata a visualidade de um evento de importância fundamental no tecido social, e cuja imagem, contudo, ao longo dos séculos tem sido programática e metodicamente ocultada e até negada”. Assim, em contraste com o excesso de visibilidade da imagem do sino e da igreja nas representações pictóricas tanto eruditas como populares, o que Lobato nos oferece é um ritual que, apesar de acontecer sistematicamente ao longo dos séculos, permanece dissimulado. Mostrado aqui em escala natural e de modo a nos transportar para os bastidores da igreja, para dentro do nicho onde se desenrola a coreografia quase erótica e arriscada dos sineiros, Bronze Revirado retém todo o seu caráter humano, revelando, como sugere Crivelli Visconti, “uma espécie de transe pagão (...) que rasga a estase e o silêncio, para instalar o êxtase”. Somos nós que, dessa vez, entrevemos em contraplano, para além da abertura da torre do sino, a praça, as festividades regionais ou a paisagem da cidadezinha do interior.
35
além da vanguarda Pablo Lobato. Bronze Revirado, 2011. Videoinstalação, um canal, 4'52", loop, cor, estéreo, 16:9 (vertical) HD.
36
artista selecionado A. Salviano Bueno. Cracolândia. Acrílica sobre tela, 43×63 cm.
37
artista selecionado A. Salviano Bueno [Alaor Salviano Bueno, Paraguaçu, MG, 1938]
38
Felipe Arturo [Bogotá, 1979. Vive e trabalha em Bogotá] além da vanguarda
Desde 2009, o artista colombiano Felipe Arturo vem investigando os métodos construtivos empregados por camelôs de diferentes cidades latino-americanas. Ele nota como as arquiteturas efêmeras próprias de cada uma dessas cidades se desenvolveram a partir de complexos processos de políticas locais e das particularidades relativas à distribuição de alimentos e mercadorias entre os centros urbanos e rurais ou entre cada nação e o estrangeiro. O fenômeno do deslocamento populacional acarretado pelo comércio informal possui um inegável impacto sobre a configuração urbana de determinadas regiões, nas quais diariamente são erguidos e desmontados grandes centros comerciais ao ar livre, atraindo milhares de consumidores. Devido a sua natureza temporária e, na maior parte das vezes, ilegal, a arquitetura desse tipo de comércio possui algumas características básicas. Em alguns casos, deve ser constituída de materiais relativamente leves, para que seja mais facilmente transportada e com técnicas simples e eficazes, que permitam uma ágil montagem e desmontagem. Os materiais devem ser invariavelmente fáceis de encontrar e de baixo custo, mas também devem ser duráveis e resistentes para suportar sua prolongada exposição às intempéries. Trata-se, assim, de uma arquitetura inteiramente fundamentada nas necessidades prementes desses grupos de trabalhadores informais, não apenas calcada em princípios acadêmicos e portanto informada por um saber popular vivo. Em São Paulo, assim como em outras grandes cidades latino-americanas, a atividade diária dos camelôs acontece em grande escala, e é justamente ali que Arturo realizará uma pequena residência a fim de produzir uma nova comissão para Além da Vanguarda a partir de suas pesquisas sobre os métodos construtivos dos camelôs locais. Apropriando-se dos materiais e das técnicas construtivas aprendidas junto aos camelôs da cidade de São Paulo, o artista construirá um ambiente temporário, cuja configuração final será desenvolvida nas semanas que antecedem a exposição. O trabalho deverá ocupar, pela primeira vez na história da Bienal Naïfs do Brasil, a grande varanda adjacente ao salão expositivo do sesc Piracicaba, criando uma área de observação e pausa que conecta o interior do edifício às áreas dedicadas ao lazer e ao esporte que se localizam na parte anterior do terreno.
39
alĂŠm da vanguarda  Felipe Arturo. Biblioteca de Arte Ambulante, 2010. Assemblagem ambulante.
40
além da vanguarda Felipe Arturo. Los Exilios de Trotsky, 2009. Vídeo, 14 min.
41
prêmio menção Vósandra. Mulheres no Morro. Óleo sobre tela, 40×40 cm.
42
prêmio menção Vósandra. Sai Cocô. Óleo sobre tela, 50×50 cm.
43
prêmio menção Vósandra [Sandra Maria Fontana, São Paulo, SP, 1943]
44
Nil Rosa [Nivaldo Rosa, Rondonópolis, MT, 1968] artista selecionado
45
artista selecionado Nil Rosa. Colhendo I. Acrílica sobre tela, 15×20 cm.
46
artista selecionado Nil Rosa. Colhendo II. Acrílica sobre tela, 15×20 cm.
47
artista selecionado Nilson Machado. Vi na TV – I. Acrílica sobre tela, 40×50 cm.
48
artista selecionado Nilson Machado. Vi na TV – II. Acrílica sobre tela, 40×50 cm.
49
artista selecionado Nilson Machado [Nilson de Queiróz Machado, Rondonópolis, MT, 1962]
50
Carmézia [Carmézia Emiliano, Normandia, RR, 1960] artista selecionada
51
52
artista selecionada Carmézia. Corrida da Massa. Óleo sobre tela, 37,5×127,5 cm.
53
prêmio incentivo Kaldeira. Jogo de Pedrinhas. Óleo sobre tela, 49,5×40 cm.
54
prêmio incentivo Kaldeira. Preparo Manual do Café. Óleo sobre tela, 40×60 cm.
55
prêmio incentivo Kaldeira [Maria Caldeira Bochini, Bady Bassitt, SP, 1921]
56
Lombas  [Laurindo Lombas, Galia, SP, 1940]  artista selecionado
57
artista selecionado Lombas. Sem Preconceito. Óleo sobre tela, 92×72 cm.
58
artista selecionada R. Domingues. Fazendo Farinha. Óleo sobre tela, 50×70 cm.
59
artista selecionada R. Domingues [Rosa Domingues da Silva Neto, Mossâmedes, GO, 1949]
60
Rodrigo Matheus [São Paulo, 1974. Vive e trabalha em Londres] além da vanguarda
Com uma produção que transita por diferentes mídias, a obra de Rodrigo Matheus não se atém a técnicas ou estilos particulares. Em seus primeiros trabalhos, incorporava e articulava objetos industrializados ou de design encontrados no cotidiano corporativo, emulando e empregando sua estética característica dentro do circuito da arte contemporânea. Recentemente, realizou uma série de obras em que se apropriou de materiais característicos desse mesmo circuito, como embalagens de obras e materiais de montagem, criando com eles situações escultóricas temporárias. Essas configurações eram mantidas apenas durante o período de duração das mostras que integravam, dissipando-se após seu término, quando esses materiais eram devolvidos a seus lugares de origem e cessavam de ser considerados arte. Para as duas novas comissões que produziu para a mostra Além da Vanguarda, Matheus opera também uma re-significação de materiais existentes. Aqui, busca dialogar diretamente com a história local do poder das elites agrárias paulistas e as transações comerciais que realizavam com a Inglaterra no início do século xx, quando ainda nem se falava em globalização. Em uma das peças, ele acumula uma série de documentos relativos às transações comerciais variadas entre Brasil e Inglaterra sobre uma superfície bidimensional, conferindo materialidade a um sistema baseado no comércio transatlântico, no acúmulo de capital e na exploração do trabalho escravo. No segundo trabalho, utiliza papéis do mesmo período que eram utilizados para embalar as laranjas exportadas do Brasil para a Inglaterra. Essas laranjas eram embaladas, uma a uma, em um papel delicado, no qual havia a inscrição de sua origem e o logo da empresa. Aqui, Matheus traz esses papéis de volta a seu país de origem, construindo com eles uma delicada peça de parede bidimensional em que são utilizados como as pequenas bandeirolas decorativas das festas regionais e adornados com anzóis e iscas que remetem aos grandes rios do interior paulista. Através dessas evidências materiais, Matheus evoca uma história de transações comerciais sustentadas pelo trabalho escravo que sofreu um apagamento sistemático, mas cujos ecos ainda são sentidos na estrutura social do Brasil contemporâneo.
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além da vanguarda Rodrigo Matheus. Interior/Exterior, 2012. Técnica mista, 195×170 cm. Detalhe.
62
além da vanguarda Rodrigo Matheus. Interior/Exterior, 2012. Técnica mista, 195×170 cm.
63
prêmio incentivo Maria. As Camponesas. Bordado à mão sobre tela, 24,7×29,5 cm.
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prêmio incentivo Maria. Nossa Terra. Bordado à mão sobre tela, 24,8×29,7 cm.
65
prêmio incentivo Maria [Maria Aparecida Queiroz Machado, Rondonópolis, MT, 1960]
Nome: Maria Aparecida Queiroz Machado
5. Escreva uma mensagem.
Idade: 51 anos
Tudo quantos fizerdes, fazei-o de todo coração, como para
Escolaridade: 2º grau do ensino médio
o senhor e não para o homens, sabendo que receberão do senhor a herança “colossenses: 3:23”.
1. Porque você começou a se interessar por arte? Porque já venho de uma família de artista, e vivo costantemente envolvida com arte.
2. Trabalhar com arte é sua atividade principal? Se não for, qual é a sua profissão? Não, técnica de enfermagem.
3. Onde você reside hoje é zona rural ou urbana? É o local onde você nasceu? Urbano. Não, nasci na cidade de Rondonópolis-MT.
4. O que você quer contar com seu trabalho? Porque, meu pai era agricultor, me lembro dele arando a terra com isso veio a memória da minha infância, onde veio a ideia de registrar no bordado.
depoimento recebido por e-mail
66
Vanice Ayres Leite  [Vanice Ayres Delgado, Belo Horizonte, MG, 1947]  artista selecionada
67
artista selecionada  Vanice Ayres Leite. Funk na Comunidade. Nanquim sobre papel, 25Ă—34 cm.
68
artista selecionada Tahiazé. Festa da Polenta. Óleo sobre tela, 32×42 cm.
69
artista selecionada Tahiazé [Maria José Catapano Ferraz de Toledo, São Paulo, SP, 1937]
70
Psilito  [Antonio Carlos Nascimento Pivatto, Porto Alegre, RS, 1937]  artista selecionado
71
artista selecionado Psilito. Tuiuty – 24 Maio 1866. Acrílica sobre tela, 46,7×57 cm.
72
além da vanguarda Alexandre da Cunha. Fair Trade IV Timbrado, 2011. Bordado sobre saco de juta em colaboração com Luisa Strina, 124,5×190,5 cm.
73
além da vanguarda Alexandre da Cunha. Fair Trade XIII, 2011. Bordado sobre saco de juta em colaboração com Luisa Strina, 36×45×6 cm.
74
além da vanguarda Alexandre da Cunha. Fair Trade XIV, 2011. Bordado sobre saco de juta em colaboração com Luisa Strina, 33,5×50 cm.
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além da vanguarda Alexandre da Cunha [Rio de Janeiro, RJ, 1969. Vive e trabalha em Londres]
Em seu trabalho, Alexandre da Cunha se apropria de materiais, objetos e citações oriundos de registros tradicionalmente distintos para transformá-los através de um processo de colagem de diferentes elementos. Essa operação em geral parte de objetos mundanos encontrados num cotidiano qualquer (toalhas, guarda-sóis, utensílios domésticos, entre muitos outros) que são retirados de seu contexto original, recombinados com outros elementos e finalmente inseridos em uma nova hierarquia de valor. Ao trazer esses objetos para dentro do universo da arte, ele os destitui de sua função original, ao mesmo tempo em que levanta questões relativas a ideias de valor, circulação ou intencionalidade. Na série de bordados presente nesta exposição, Alexandre da Cunha, assim como em trabalhos anteriores, se apropria de um fazer/saber popular e de materiais banais, fazendo uso de seu valor simbólico. Aqui ele associa a qualidade da trama das telas de bordar à trama dos grandes sacos de juta utilizados na exportação dos grãos de café, que servem como matéria-prima para esses trabalhos. Ora mais figurativas, ora mais abstratas, as composições de cada bordado foram cuidadosamente selecionadas pelo artista a partir das ilustrações originais desses sacos, às quais ele nada acrescenta. Cabe notar aqui que exibir as obras dessa série no contexto desta exposição, no interior paulista, cujo desenvolvimento no século xix, como sabemos, foi movido pela indústria cafeeira, faz com que adquiram um sentido renovado ao ativar suas relações com a História. Mas além dessas diferentes camadas de significado, um dos elementos mais interessantes nesta série é a confusão de papéis que o artista causa, pois aqui quem realiza o trabalho manual do bordado é sua galerista, Luisa Strina. O bordado é uma atividade normalmente associada às mulheres afeitas aos trabalhos domésticos e que não possuem ocupações profissionais; uma imagem que contrasta tremendamente com a figura da galerista, de mulher independente e empreendedora. Essa série de trabalhos promove, portanto, o encontro de dois mundos profundamente distintos; um ligado ao artesanato, à repetição de uma técnica e de um conhecimento ligados a um fazer feminino em sua acepção mais tradicional, e outro associado à arte contemporânea, à vanguarda cultural, à inovação conceitual e ao internacionalismo.
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Ilma Deolindo [Ilma Deolindo Nunes, Luiziânia, SP, 1957] prêmio incentivo
77
prêmio incentivo Ilma Deolindo. Primeira Comunhão. Óleo sobre tela, 100×60 cm.
78
prêmio incentivo Ilma Deolindo. Farra no Bordel. Óleo sobre tela, 60,9×80,5 cm.
79
artista selecionado Sitó. Festa Cuiabana. Óleo sobre tela, 40×50,5 cm.
80
artista selecionado Sitó. São José Águas de Março. Óleo sobre tela, 40×50,5 cm.
81
artista selecionado Sitó [Antonio Pereira da Silva, Ouro Branco, MG, 1931]
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Shila Joaquim [Shirlene Reollo Joaquim Domiciano, Ribeirão Preto, SP, 1965] prêmio menção
83
prêmio menção Shila Joaquim. Casamento da Pastorinha. Acrílica sobre tela, 80×60 cm.
84
artista selecionado Adonis César. Mariana (Beco Saída). Óleo sobre tela, 40×60,3 cm.
85
artista selecionado Adonis César [Adonis César Alves Pereira, Belo Horizonte, MG, 1955]
86
Zéca Maria [José Maria de Carvalho, Nepomuceno, MG, 1952] artista selecionado
87
artista selecionado Zéca Maria. Futebol de Fazenda I. PVA sobre tela, 40×60 cm.
88
prêmio incentivo Enzo Ferrara. Retrato Íntimo. Acrílica sobre tela, 78,2×98 cm.
89
prêmio incentivo Enzo Ferrara [Enzo Cicero Tiago Aparecido de Lima Santos, São Paulo, SP, 1984]
90
Tartaruga [Geraldo Alves da Silveira, São Luiz do Paraitinga, SP, 1949] artista selecionado
91
artista selecionado Tartaruga. Dança de Rua. Tinta esmalte sobre tela, 30×40 cm.
92
artista selecionado  Tartaruga. Festa de Santa Crus. Tinta esmalte sobre tela, 30Ă—40 cm.
93
prêmio menção Joana Baraúna. Poesia Ecológica nº I. Nanquim sobre papel casca de ovo, 51,2×42,8 cm.
94
prêmio menção Joana Baraúna. Poesia Ecológica nº II. Nanquim sobre papel casca de ovo, 51,2×42,8 cm.
95
prêmio menção Joana Baraúna [Joana Baraúna da Silva, Santa Rita, PB, 1947]
96
Tonico Lemos Auad [Belém do Pará, 1968. Vive e trabalha em Londres] além da vanguarda
Em seus trabalhos, Tonico Lemos Auad parte de materiais mundanos para construir objetos, esculturas e instalações que geralmente dependem de um equilíbrio delicado para existirem. Dentro do âmbito do comum e do irrisório, o artista opera deslocamentos silenciosos que potencializam o valor simbólico latente de formas e elementos que nos passam despercebidos, tornando-os preciosos e permanentes. Tais operações invariavelmente envolvem um labor manual específico característico de certas regiões ou culturas e associado a materiais e técnicas tradicionais que são passadas de pais para filhos através dos séculos. Em sua obsolescência perante a sociedade de produção em massa, muitas dessas técnicas encontram-se hoje quase extintas, fazendo com que o trabalho de Auad envolva também uma pesquisa extensiva e uma negociação com cada artesão envolvido. Para Além da Vanguarda, o artista produziu um conjunto de cinco objetos que fazem parte de sua série Sleep Walkers (“Sonâmbulos”), apresentada pela primeira vez no MuHKA, em Antuérpia, Bélgica, em 2009-10. Esses objetos são cuidadosamente confeccionados utilizando rendas de diferentes procedências, que o artista adquire já prontas, mas que devem ser então transformadas em elementos tridimensionais em forma de frutas ou legumes. Nesse longo e trabalhoso processo, que exige extrema precisão e esmero, uma renda portuguesa, por exemplo, com sua trama mais grosseira é cortada e emendada, fio a fio, com uma delicada peça de renda inglesa ou com uma peça de renda brasileira, de modo que a passagem de uma para a outra se torna quase completamente imperceptível. O olhar atento percebe as nuances na passagem de uma trama para a outra, que expõe as pequenas porém significativas diferenças que revelam não apenas a passagem de um saber através das diferentes culturas, como também as adaptações sofridas por essa técnica em cada país ao longo dos anos. Essas frutas e verduras de renda, assim como lustres, pendem do teto e são iluminadas por dentro, o que nos permite observar todos os detalhes de sua superfície. Contudo, caracterizadas pela imprecisão do fazer manual que lhes confere um aspecto orgânico, elas parecem brotar do teto, como plantas exóticas que resultam de algum cruzamento inusitado entre sementes tropicais e europeias.
97
além da vanguarda Tonico Lemos Auad. Sleep Walkers, 2009. Dezessete lanternas costuradas individualmente, dimensões variáveis.
98
alĂŠm da vanguarda  Tonico Lemos Auad. Sleep Walkers, 2009. Dezessete lanternas costuradas individualmente, detalhe.
99
além da vanguarda Tonico Lemos Auad. Sleep Walkers, 2009. Dezessete lanternas costuradas individualmente, dimensões variáveis.
100
artista selecionado Euclides Coimbra. Crackolândia. Óleo sobre tela, 100×80 cm.
101
artista selecionado Euclides Coimbra [Euclides de Almeida Coimbra, Ribeirão Pires, SP, 1960]
102
Alex dos Santos  [Alex Benedito dos Santos, Jaboticabal, SP, 1980]  artista selecionado
103
artista selecionado Alex dos Santos. Enchente na Favela. Látex sobre tecido, 182×157 cm.
104
artista selecionada Jayabujamra. Festa das Nações. Acrílica sobre tela, 50×40 cm.
105
artista selecionada Jayabujamra [Jacyra Mauad Abujamra, Palmas, PR, 1928]
106
Oliveira Guerra [Iraceia de Oliveira Guerra, Cuiabá, MT, 1945] artista selecionada
107
artista selecionada Oliveira Guerra. Roliúde – 1ª e 2ª Parte – Díptico. Colagem, pigmento e acrílica sobre tela, 70×40 cm.
108
prêmio menção Danbeco. Vista da Baía. Acrílica sobre tela, 63×83 cm.
109
prêmio menção Danbeco [Daniel Becher Costa, Rio de Janeiro, RJ, 1983]
110
Carla Zaccagnini [Buenos Aires, 1972. Vive e trabalha em São Paulo] além da vanguarda
O projeto Museu das Vistas iniciou-se em 2004 e, desde então, possuiu diversas interações em várias cidades de diferentes países: Medellín (Colômbia), Rincón (Porto Rico), São Paulo (Brasil), Valparaíso (Chile), entre outras. Assim como em outros trabalhos de Carla Zaccagnini, aqui ela cria algumas regras do jogo que devem ser seguidas pelos espectadores-participantes para que o trabalho se realize plenamente. Nesse caso, a artista mobiliza um retratista policial, que fica disponível durante um período previamente acordado em algumas áreas da cidade na qual ocorre a exposição da qual o trabalho participa. Aqui, ao invés de traduzir em desenho a descrição de criminais suspeitos, esses retratistas produzem desenhos de vistas lembradas por aqueles que desejam participar do projeto. Cada um desses desenhos é feito sobre um papel autocopiante; o desenho original em grafite é entregue a quem descreve a vista, enquanto o Museu das Vistas coleciona cópias azuis sobre papel amarelo produzidas quimicamente pela pressão do lápis. O arquivo resultante é uma testemunha das formas em que a paisagem se torna uma imagem mental e de como essa imagem da memória pode se transformar em discurso e ser traduzida em desenho, construindo uma nova imagem física. Assim, o tradicional gênero da pintura de paisagem, tão relevante e predominante na produção dos artistas que integram a Bienal Naïfs do Brasil, desdobra-se, no Museu das Vistas, no tempo e no espaço. O projeto de Zaccagnini atesta, de certa maneira, a persistência da paisagem no mundo atual. Pelo menos desde o século xv, aprendemos a olhar o mundo como paisagem, e é justamente esse processo de construção mental e tradução visual que a artista enfatiza em Museu das Vistas. Porém, os desenhos resultantes são também elementos fundamentais do projeto e sua forma final será determinada pela habilidade e pelas escolhas feitas tanto pelos retratistas quanto pelos narradores, sendo portanto imprevisíveis. Mas, levando em conta os desenhos produzidos até agora, podemos dizer que, em sua maioria, possuem algumas aproximações estilísticas com a produção naïf. Não seriam também os retratistas de polícia artistas não eruditos?
111
além da vanguarda Carla Zaccagnini. Museu das Vistas, 2004 — em andamento. Constituição de uma coleção de desenhos intermediados pelo discurso. Oscar Chaparro, Galeria Casas Riegner, Bogotá, 2011, e Tamar Andrade, Galeria Vermelho, São Paulo, 2004.
112
além da vanguarda Carla Zaccagnini. Museu das Vistas, 2004 — em andamento. Desenho de Tamar Andrade, São Paulo, 2004, 22×32 cm.
113
artista selecionado Deraldo. O Corte da Cana. Acrílica sobre tela, 49,5×70 cm.
114
artista selecionado Deraldo. Sem Terra. Acrílica sobre tela, 50×60 cm.
115
artista selecionado Deraldo [Deraldo Clemente, Pedranópolis, SP, 1958]
116
Zeti Muniz  [Paulo Donizeti Muniz de Queiroz, Mogi das Cruzes, SP, 1956]  artista selecionado
117
artista selecionado Zeti Muniz. O Prefeito Padeiro. Óleo sobre tela de lona, 62,5×83 cm.
118
artista selecionado Neri Andrade. Arrastão. Acrílica sobre tela, 40×60 cm.
119
artista selecionado Neri Andrade [Neri Agenor de Andrade, Florianópolis, SC, 1954]
120
Salvatori  [Maria Helena da Silva Salvatori, Porto Alegre, RS, 1936]  artista selecionada
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artista selecionada Salvatori. Patrono da Ecologia São Francisco. Óleo sobre tela, 40×50 cm.
122
artista selecionado Miguel S.S.S.. Debulhando Milho. Óleo sobre tela, 50×60 cm.
123
artista selecionado Miguel S.S.S. [Miguel Sampaio de Souza e Silva, Marília, SP, 1944]
124
Sonia N. Pacheco  [Sonia Nogueira Pacheco, Leopoldina, MG, 1944]  artista selecionada
125
artista selecionada  Sonia N. Pacheco. Ciranda da Vida. Nanquim e aquarela sobre canson, 30Ă—41,8 cm.
126
artista selecionada Stellamaris. Pantanal. Óleo sobre tela, 20×30 cm.
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artista selecionada  Stellamaris  [Stelamaris Bittencourt Cano, Rio Brilhante, MS, 1961]
128
Jefer [Jefferson Bastos, Corumbá, MS, 1958] prêmio aquisição
129
prêmio aquisição Jefer. Pescadores de Iscas. Acrílica sobre tela, 50×50,5 cm.
130
prêmio aquisição Jefer. Barco do Pescador. Acrílica sobre tela, 50,2×70 cm.
131
prêmio aquisição Adão Domiciano. Escravos do século xxi (i). Aquarela sobre papel, 54,3×72,3 cm.
132
prêmio aquisição Adão Domiciano. Escravos no século xxi (ii). Aquarela sobre papel, 53,5×72,5 cm.
133
prêmio aquisição Adão Domiciano [Adão Domiciano Pinto, Ecoporanga, ES, 1969]
134
Daniel Steegmann Mangrané [Barcelona, 1977. Vive e trabalha no Rio de Janeiro] além da vanguarda
Ka’aeté é uma palavra que em tupi significa “floresta profunda”, longe dos territórios habitados. É o lugar mítico onde vivem os deuses e os espíritos, onde terminam os caminhos, o impenetrável. Kiti significa cortar com um instrumento afiado, pelas mãos humanas e por meio da técnica. Assim como na interpretação hegeliana, para as tribos indígenas do Brasil, a Ka’aeté, floresta profunda, é também um lugar sem história, onde as coisas ainda não estão formadas e onde os animais podem se metamorfosear. Kiti Ka’aeté é o título geral de um projeto de Daniel Steegmann Mangrané que se originou de uma colagem em que o artista se baseou na arte abstrata dos tupis, com seu complexo sistema geométrico, para realizar cortes precisos sobre uma imagem da floresta amazônica. Num desdobramento subsequente do mesmo trabalho, que é a versão presente nesta mostra, a colagem foi instalada dentro de um painel expositivo e iluminada por trás, apenas por um projetor de slides. Desse modo, os feixes de luz branca atravessam os pequenos cortes e sua luminosidade emana da face da imagem, conferindo uma qualidade espiritual ou anímica à floresta abstrata. Integra essa instalação o espaço entre o projetor e o painel no qual está situada a colagem. Aberto e acessível, ele pode ser atravessado pelo público que interrompe intermitentemente o feixe de luz do projetor, causando um efeito tremeluzente que pode ser observado por quem está defronte à face da colagem. Kiti Ka’aeté traz para Além da Vanguarda a dimensão da arte indígena, manifestada através de sua releitura dentro do contemporâneo. A aparência construtiva da colagem, que, no âmbito da arte contemporânea produzida no Brasil, normalmente evoca ou referencia os exercícios da arte concreta e neoconcreta, aqui aponta para outras possibilidades de experimentação com a geometria e, não menos importante, do significado de sua aproximação com a vida.
135
além da vanguarda Daniel Steegmann Mangrané. Kiti Ka’aeté (Verso), 2011. Colagem, parede, buraco, projetor de slide, slide cortado a laser, 17x13,5 cm. Dimensões totais variáveis.
136
artista selecionado Camps. Vale do Paraíba – Fé. Acrílica sobre madeira reciclada, 78×41 cm.
137
artista selecionado Camps [Olavo José Ferraz de Arruda Campos, Tietê, SP, 1934]
138
Sandra Aguiar [Sandra Pereira Peixoto de Aguiar, Nazaré, BA, 1960] artista selecionada
139
artista selecionada Sandra Aguiar. Carnaval de Olinda. Técnica mista, 126×60 cm.
140
artista selecionado Luiz dos Anjos. Carimbó. Técnica mista sobre tela, 40×30 cm.
141
artista selecionado Luiz dos Anjos [Luiz Antonio dos Anjos Souza, Santarém, PA, 1953]
142
Isa Galindo [Maria José de Carvalho Galindo, Caruaru, PE, 1929] artista selecionada
143
144
artista selecionada Isa Galindo. Maracatu Real. Acrílica sobre tela, 30×80 cm.
145
artistas selecionados Guilherme Jr. e Severino F. Silva. Pagadores de Promessa. Acrílica e acoplamento com ex-votos em madeira, 68×42,5×8 cm.
146
147
artistas selecionados Guilherme Jr. e Severino F. Silva [Ivanildo Guilherme Nanes Junior e Severino Ferreira Silva, Garanhuns, PE, 1977/1966]
Guilherme Nanes Junior, 34 anos, pós-graduado em Marketing e Estratégia, natural de Garanhuns-PE.
Passei toda minha infância na zona rural onde há uma capela construída por índios e escravos dedicada a Santa Quitéria de Frexeiras, construída no final do século xvii e que anualmente recebe uma grande quantidade de peregrinos que vêm de todo o nordeste em romaria pagar promessas e entregar ex-votos. Sempre me chamaram a atenção aqueles pedaços de madeira esculpidos ingenuamente como forma de gratidão e fé. Quando fui morar na capital para dar continuidade aos estudos comecei a frequentar museus, exposições, coleções particulares e galerias a partir daí comecei a educar o meu olhar e todos os dias aprendo algo novo e a admirar cada vez mais o popular, o ingênuo, o inacabado, ou seja, o que me causa emoção baseado no que vivenciei. Em 2010 comecei a fazer pequenas obras e interferências que têm de certa forma agradado a algumas pessoas. Espero, contudo, que este
Foto de um outro trabalho meu
trabalho que fiz em parceria com meu amigo e artista Severino Ferreira da Silva e foi selecionado para esta Bienal possa agradar a todos de uma forma geral. Muito obrigado!
depoimento recebido por e-mail
148
De Miranda [Deusdete Antonio de Miranda, Rondonópolis, MT, 1964] artista selecionado
149
artista selecionado De Miranda. Agonia da Buxuda. Escultura em pedra de rio, 22×18×22 cm.
150
artista selecionado De Miranda. Carinho de Mãe. Escultura em pedra de rio, 37×21×28 cm.
151
152
prêmio incentivo Evandro Soares. Sonho de Voar. Metal, madeira e borracha, 52×32×33 cm.
153
prêmio incentivo Evandro Soares [Evandro Soares Reis, Mundo Novo, BA, 1975]
154
Rosângela Politano [Rosângela Politano Chaves, São José do Rio Preto, SP, 1965] prêmio menção
155
prêmio menção Rosângela Politano. Festa do Divino em São Luís. Acrílica sobre tela, 80×30 cm.
156
artista selecionada Raquel Trindade – A Kambinda. Danças Natalinas no Embu. Acrílica sobre tela, 55×100 cm.
157
artista selecionada Raquel Trindade – A Kambinda [Raquel Trindade, Rio de Janeiro, RJ, 1936]
158
Thiago Rocha Pitta [Tiradentes, 1980. Vive e trabalha em São Paulo] além da vanguarda
Em seu ensaio intitulado “Sobre como domesticar o imprevisível”, publicado por ocasião da mostra Notas de um Desabamento, de Thiago Rocha Pitta, ocorrida nas Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, em 2010, Felipe Scovino sugere que “a obra de Pitta sempre se manifesta como uma pintura de paisagem, independentemente do suporte com o qual trabalha ou do sentido de invenção que constrói”. E continua: “Uma paisagem que se modifica ao mesmo tempo em que essa pintura se questiona se ela continua sendo pintura ou amplia a sua pesquisa para outros campos de produção poética”. A possibilidade de mobilizar o tema das pinturas de paisagem no âmbito da arte contemporânea e dentro do contexto da exposição Além da Vanguarda é um dos interesses dessa curadoria, já que se trata de um gênero recorrente ao longo da história da Bienal Naïfs do Brasil. Aqui, apresentamos o vídeo Herança de Rocha Pitta, no qual avistamos um pequenino barco de madeira que, formando uma imagem quase surrealista, carrega em seu interior um par de árvores em meio ao alto-mar. Por vezes mais próxima ou mais distante da câmera que a registra, essa inusitada assemblage de árvores-barco flutua indiferente, sem rumo ou intenção de alcançar a terra firme, já que constitui, ela própria, um território. Acompanhamos sua trajetória débil sem a expectativa de um desfecho ou de uma narrativa, deixando-nos levar pela própria duração do evento. Somos entretidos apenas pelas mudanças no enquadramento causadas pela relativa distância ou proximidade da embarcação. Ela, contudo, segue flutuando como uma enigmática oferenda, plena de um simbolismo próprio que não somos capazes de decifrar. Scovino atenta para a economia de imagens na obra de Rocha Pitta e de como sua supressão do excesso de “ruídos” externos permite o aparecimento e a manifestação de uma história interior, intimista. No caso de Herança, o que ele acrescenta às representações tradicionais da paisagem é apenas o dado temporal, que solicita um momento de contemplação no desenrolar do tempo presente.
159
além da vanguarda Thiago Rocha Pitta. Herança, 2007. 16 mm transferido para vídeo, 11'.
160
artista selecionado Willi de Carvalho. Brasil Sertão Popular. Técnica mista, 73×64×14 cm.
161
artista selecionado  Willi de Carvalho  [Welivander Cesar de Carvalho, Montes Claros, MG, 1966]
162
Altamira  [Altamira Pereira Borges, Jacaraci, BA, 1932]  artista selecionada
163
artista selecionada Altamira. Colhendo Melancia. Acrílica sobre tela, 50×70,5 cm.
164
artista selecionada Lourdes de Deus. Festa e Procissão de São João. Acrílica sobre tela, 70×100 cm.
165
artista selecionada Lourdes de Deus [Maria de Lourdes da Hora de Deus Souza, Custódia, PE, 1959]
166
Montez Magno [Timbaúba, 1934. Vive e trabalha em Recife] além da vanguarda
Com uma trajetória de seis décadas, o artista pernambucano Montez Magno possui uma obra extremamente complexa e diversificada que se desdobra em diferentes meios e pesquisas. Interessam-nos, particularmente, no âmbito da exposição Além da Vanguarda, as investigações do artista em torno da geometria da arte popular, que se inicia em 1972 com seus estudos para o primeiro ciclo da série Barracas do Nordeste, da qual apresentamos três exemplares nesta mostra. Cabe citar aqui o trecho de uma carta do artista selecionado por Clarissa Diniz em seu ensaio publicado na monografia do artista lançada em 2010, na qual ele explicita o objeto de sua pesquisa: “[...] Grande parte do meu trabalho atual é baseado em coisas daqui mesmo, do Recife, do Nordeste, mas os próprios recifenses não percebem isso. Estou fazendo uma pesquisa ou estudo do lado esquecido e omitido da arte popular brasileira: o lado abstracionista. É incrível o que o povo faz em termos de abstração geométrica. Estou documentando com slides as diversas modalidades da expressão abstrato-geométrica: barracas de festa e de feira cobertas de retalhos, carroças de sorvete, de pipocas etc.; portões de garagens e outras coisas que vão aparecendo. É fantástico, e você encontra às vezes coisas de op-art, de concretismo e de construtivismo, tudo isso feito na mais santa ignorância e ingenuidade, mas com um agudo e intuitivo senso de cor e de construção. É dessas coisas que atualmente extraio material para o meu trabalho”. Suas Barracas do Nordeste, com suas formas geométricas imprecisas e vivamente coloridas, oscilam entre abstração e figuração, já que retêm a conexão formal com seu referente, por vezes até mesmo apresentando indicações sobre o contexto de onde foram retiradas. As duas outras séries representadas nesta mostra também se valem de uma aproximação com o popular, embora busquem soluções formais distintas. Em Teares de Timbaúba, o artista privilegia as explorações das possibilidades geométricas da linha, experimentando diferentes traçados com lápis e pastel a óleo sobre o fundo neutro do papel, produzindo assim um resultado mais sóbrio. A série Fachadas do Nordeste, por sua vez, consiste de pinturas em acrílica sobre papelão, em pequeno formato. Dessa vez, tomando a arquitetura popular como motivo, cor e linha parecem possuir peso equivalente.
167
além da vanguarda Montez Magno. Da série Barracas do Nordeste, 1972. Óleo sobre duratex, 80×100 cm.
168
além da vanguarda Montez Magno. Da série Barracas do Nordeste, 1972. Óleo sobre duratex, 80×100 cm.
169
além da vanguarda Montez Magno. Da série Fachadas do Nordeste, 1996. Acrílica sobre papelão, 47×56 cm.
170
além da vanguarda Montez Magno. Da série Fachadas do Nordeste, 1996. Acrílica sobre papelão, 47×56 cm.
171
além da vanguarda Montez Magno. Da série Teares de Timbaúba, 1998. Lápis de cor e pastel a óleo sobre papel Fabriano, 54,5×72 cm.
172
além da vanguarda Montez Magno. Da série Teares de Timbaúba, 1998. Lápis de cor e pastel a óleo sobre papel Fabriano, 54,5×72 cm.
173
prêmio menção José Altino. Rainha do Miramar. Xilogravura, 25×35 cm.
174
prêmio menção José Altino. Macunaíma e Canário da Terra. Xilogravura, 25×35 cm.
175
prêmio menção José Altino [José Altino de Lemos Coutinho, João Pessoa, PB, 1946]
176
Tatiana Seabra  [Tatiana Macedo Seabra de Mello, Natal, RN, 1960]  artista selecionada
177
artista selecionada Tatiana Seabra. Coreto. Acrílica sobre tela, 27×35,5 cm.
178
prêmio menção Carmela Pereira. Mostrar... alegrar e voltar. Óleo sobre tela, 70×50,4 cm.
179
prêmio menção Carmela Pereira [Carmela Pereira, Piracicaba, SP, 1936]
180
Federico Herrero [San José, 1978. Vive e trabalha em San José] além da vanguarda
Com formação em arquitetura, o costa-riquenho Federico Herrero utiliza principalmente a pintura como meio. Uma grande parte de seus trabalhos, assim como o que integra a mostra Além da Vanguarda, é realizada in situ: em espaços públicos como as fachadas de casas e prédios ou os muros da cidade, ou privados, como o interior de galerias ou outros tipos de edifícios, onde executa suas pinturas em diálogo próximo com a organização espacial do local. Caracterizadas por seu colorido vivo, normalmente dividido em unidades de formas abstratas e ao mesmo tempo fluidas e imprecisas, essas pinturas, em contraste com as rigorosas abstrações geométricas que caracterizam a arte latino-americana de meados do século xx, parecem quase brotar organicamente das paredes. Seu modo de existir seria portanto mais análogo à maneira desordenada e voraz com que a natureza luxuriante dos trópicos toma conta das construções nessas regiões do planeta. Se nos permitirmos, ainda, mais uma aproximação de ordem botânica, essas pinturas lembram, em alguns momentos, os desenhos dos projetos de paisagismo de Roberto Burle Marx, com suas linhas sinuosas e áreas de cores intercaladas em um conjunto de formas orgânicas. Em certa medida, a prática de Herrero empresta características da tradição da pintura mural, prática associada principalmente aos artistas mexicanos da primeira metade do século xx, mas que encontrou ecos em diversos países latino-americanos, inclusive no Brasil. Porém, se por um lado compartilha com essa tradição um interesse em trazer a arte para mais perto de um público não especializado, que se depara com suas pinturas inadvertidamente nos espaços públicos, abstém-se de buscar propagar conteúdos políticos e ideológicos mais diretos, como era o caso dos muralistas originais. No colorido das pinturas de Herrero, encontramos uma grande ressonância com a produção que vem sendo consistentemente apresentada nas Bienais Naïfs desde sua fundação. Sua presença nesta mostra busca potencializar o conjunto das obras selecionadas pelo júri, alegoricamente sugerindo que se descolem do plano bidimensional, transbordando-o e rastejando pelo chão, subindo pelas paredes e pelo teto do edifício e ocupando, finalmente, todo o espaço tridimensional do sesc Piracicaba.
181
alĂŠm da vanguarda  Federico Herrero. Wootyloop, 2012. Madeira e tinta.
182
artista selecionada Rosalina. Beleza do Espaço. Acrílica sobre tela, 83,5×124 cm.
183
artista selecionada Rosalina [Rosalina Maria de Mello Vieira, Areiópolis, SP, 1962]
184
Renata Kesselring [Renata Cerchi Kesselring, São Paulo, SP, 1974] prêmio menção
185
artista selecionada Renata Kesselring. Vaso para Minha Mãe. Acrílica sobre tela, 50×40 cm.
186
prêmio menção Renata Kesselring. Auto Retrato com Tob. Acrílica sobre tela, 100×80 cm.
187
biografias alĂŠm da vanguaRda
Alexandre da Cunha
Carla Zaccagnini
[Rio de Janeiro, 1969. Vive e trabalha em Londres]
[Buenos Aires, 1972. Vive e trabalha em São Paulo]
Em seus trabalhos, Alexandre da Cunha
Em seu trabalho, Carla Zaccagnini desenvolve
normalmente utiliza objetos comuns de
temas como a impossibilidade da tradução,
procedências diversas, como toalhas de praia,
a parcialidade da perspectiva do museu,
rodas de carro ou utensílios domésticos, para
as falhas na percepção e os limites do
criar suas esculturas e instalações. Parte
conhecimento científico, entre outros,
significativa de seus trabalhos recentes
produzindo uma obra multifacetada que busca
faz referência direta ao legado geométrico-
ativar a visão do espectador e desconcertar seu
-construtivo do Modernismo brasileiro.
entendimento. Desde a década de 1990, vem
Entretanto, embora esses trabalhos sejam
desenvolvendo atividades como crítica de arte,
estilisticamente próximos dessa produção,
curadora e docente em paralelo a sua prática
retêm, fundamentalmente, o mesmo princípio
artística. Participou da 28a Bienal de São
da “colagem” de diferentes ready mades que
Paulo (2008) e da Bienal Del Fin Del Mundo de
caracteriza sua obra como um todo. Alexandre
Ushuaia, Argentina (2007). Seu trabalho esteve
da Cunha participou de diversas exposições
presente em mostras apresentadas em várias
internacionais, incluindo a Bienal de Veneza
instituições internacionais, como o musac, em
(2003), a San Juan Triennial (2009) e a coletiva
León, Espanha; LentSpace, em Nova York, eua;
Panamericana (2010). Este ano, integra a 30a
Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães,
Bienal Internacional de São Paulo. Seu trabalho
em Recife, Brasil; e Kunstverein Munique,
integra o acervo de importantes coleções
na Alemanha. Realizou diversas residências
públicas e privadas, como o Instituto Inhotim
artísticas, entre elas no Air Antwerp, Bélgica;
(Brasil) e a Tate Modern (Reino Unido).
hiap, Finlândia; iaspis, Suécia.
191
Daniel Steegmann Mangrané
Federico Herrero
[Barcelona, 1977. Vive e trabalha no Rio de Janeiro]
[San José, 1978. Vive e trabalha em San José]
O trabalho de Daniel Steegmann Mangrané
A obra de Federico Herrero é particularmente
abrange várias mídias e oscila entre
influenciada pelas tradições culturais e
experimentações sutis e poéticas, ao mesmo
políticas e pela natureza fecunda de seu
tempo que caracterizadas por uma certa
país natal, a Costa Rica. Seus trabalhos de
crueza no fazer. Embora sua pesquisa seja
colorido intenso oscilam entre a figuração
principalmente de ordem conceitual, sua
e a abstração, e desafiam as categorias
obra demonstra uma forte preocupação com
tradicionais da pintura. Além de pinturas sobre
a manifestação concreta dos objetos e com
tela, Herrero geralmente realiza trabalhos
os efeitos fenomenológicos da relação entre
site-specific, que misturam diversas fontes de
habitat e linguagem. Nascido em Barcelona,
inspiração, como as placas de rua, os grafites,
o artista vive no Brasil desde 2004. Realizou,
as plantas tropicais, as casinhas coloridas
em 2011, a exposição individual Four Walls, na
das áreas rurais e as formas e ícones da
Galeria Mendes Wood, em São Paulo, e Duna
paisagem urbana. Em 2001, Herrero recebeu o
econômica/maquete sin calidad, na Halfhouse,
prêmio de melhor artista jovem na Bienal de
em Barcelona. Em 2012, é bolsista na Junge
Veneza. Realizou exposições individuais em
Akademie na Akademie der Kunste, em Berlim,
inúmeros museus internacionais em países
e participa da 30a Bienal Internacional de São
como Alemanha, Itália, Japão e Colômbia. Seu
Paulo. Além de sua prática artística, Daniel
trabalho integra as coleções do Mudam, em
Steegmann Mangrané é organizador da escola
Luxemburgo, do Museu Santander, na Espanha,
de arte experimental Universidade de Verão,
do 21st Century Museum of Contemporary Art e
promovida pelo Capacete, uma plataforma
do Hara Museum of Contemporary Art, ambos
multidisciplinar de residências artísticas e
no Japão.
programas educativos com sede no Rio de Janeiro.
192
Felipe Arturo
Montez Magno
[Bogotá, 1979. Vive e trabalha em Bogotá]
[Timbaúba, 1934. Vive e trabalha em Recife]
Formado em arquitetura pela Universidade
Montez Magno iniciou sua trajetória artística no Recife, em 1954, quando ingressou na Escola de
de Los Andes, em Bogotá, realizou mestrado
Belas Artes e passou a se dedicar aos estudos de pintura e desenho. Ainda nessa década, produziu
na Universidade de Columbia, em Nova
seus primeiros trabalhos abstratos e realizou exposições individuais e coletivas em Pernambuco,
York. Trabalhou durante três anos com
Rio de Janeiro e São Paulo. No início da década de 1960, passa a residir em São Paulo e continua
a artista colombiana Doris Salcedo, em
a expor assiduamente seu trabalho em diversas cidades do País. Nesse período, passa a explorar
Bogotá, e por um ano com o artista chileno
formas mais livres em sua pintura, com séries que oscilam entre uma linguagem mais expressiva
Alfredo Jaar, em Nova York. Seu trabalho
ou de uma geometria orgânica. Passa o ano de 1964 em Madri, na Espanha, com uma bolsa do
foca nas intersecções entre o urbanismo, a
Instituto de Cultura Hispânica, realizando viagens pela Europa e participando de exposições
arquitetura, a história das cidades e a arte,
em diversas cidades espanholas. Em 1965, de volta ao Brasil, transfere-se para o Rio de Janeiro,
construindo estruturas temporárias que
desenvolvendo seu trabalho em diálogo com a geração de jovens artistas ligados ao mam-rj.
podem ser descobertas através da imagem-
A partir daí, seu trabalho se desenvolve em diversas linhas conceituais em um longo percurso que
-tempo ou de acontecimentos e encontros
inclui obras em diferentes mídias, como as partituras de música aleatória, os livros de artista, as
espontâneos no espaço. Além de suas
instalações, os objetos, os registros de performances, além de sua produção poética, que conta
atividades artísticas, Felipe Arturo é Professor
com dez livros editados.
Associado do Departamento de Artes Plásticas da Universidade de Bogotá Jorge Tadeo Lozano. Seu trabalho integrou mostras individuais e coletivas em diversos países, incluindo Espanha, Estados Unidos, França e Portugal, além de integrar coleções como Patrícia Phlepls de Cisneros, Nova York e Caracas; Colección Jumex, México; Colección ArtNexus, Colômbia, entre outras.
193
Pablo Lobato
Rodrigo Matheus
[Bom Despacho, 1976. Vive e trabalha em
[São Paulo, 1974. Vive e trabalha em Londres]
Belo Horizonte]
Articulando diversas mídias — móveis e estáticas, construídas e encontradas — a obra de Tendo iniciado sua carreira no campo do cinema,
Rodrigo Matheus se apresenta repleta de elementos de design, arquitetura e paisagem. Destituída
Pablo Lobato passou a gravitar, nos últimos
de evidências de um fazer manual, a postura do artista é antes a de modificar e recombinar
anos, para o circuito das artes visuais. Com um
materiais, dando a eles outras apresentações e estabelecendo novas relações entre objetos.
interesse continuado pela produção audiovisual,
O resultado é uma produção fértil em que elementos cotidianos ou sem nenhum valor intrínseco
seu trabalho hoje se desenvolve em uma zona
são apresentados de forma precisa e elegante, ganhando novos significados simbólicos. Matheus
indeterminada entre essas disciplinas. Lobato
realizou exposições individuais em diversas instituições, como o Museu de Arte da Pampulha,
foi um dos criadores da Teia — Centro de Pesquisa
Belo Horizonte (Centurium, 2004), Centro Cultural Maria Antônia, São Paulo (A Volta da Arquitetura,
Audiovisual, com sede em Belo Horizonte
2005), Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo (O mundo em que vivemos, 2008, e Handle with care, 2010),
desde 2002. Em 2011, foi vencedor do Prêmio
e Galeria Silvia Cintra & Box 4, no Rio de Janeiro (2006, 2010). Entre as mostras coletivas das
Sergio Motta de Arte e Tecnologia e foi um dos
quais participou recentemente estão Mitologias, na Cité Internationale des Arts, Paris (2011), o
selecionados para o Programa Rumos Artes
32º Panorama da Arte Brasileira, no mam de São Paulo (2011), e The Spiral and the Square, no Bonniers
Visuais. Atualmente dedica-se à finalização do
Konsthall, em Estocolmo, 2011.
filme Ventos de Valls, que deriva de uma ação realizada na Espanha em 2009, financiada pela fundação John Simon Guggenheim, de Nova York. Em 2011, integrou a mostra Panorama da Arte Brasileira, no mam-sp, e o 17º Festival Internacional de Arte Contemporânea sesc– Videobrasil, no sesc Belenzinho, São Paulo, e participou de mostras na Noruega e no Uruguai. Seu trabalho integra as coleções do Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, e do Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza.
194
Thiago Rocha Pitta
Tonico Lemos Auad
[Tiradentes, 1980. Vive e trabalha em São Paulo]
[Belém do Pará, 1968. Vive e trabalha em Londres]
Thiago Rocha Pitta cresceu na cidade histórica
Tonico Lemos Auad completou seu mestrado em artes plásticas pela Goldsmiths College,
de Tiradentes e mudou-se para Petrópolis
em Londres (2000), onde desde então vive e trabalha. O artista por vezes ignora propriedades
ainda adolescente, onde permaneceu até 1999,
intrínsecas aos materiais que utiliza para criar formas líricas e não permanentes, utilizando uma
quando passou a viver no Rio de Janeiro para
vasta amostragem de materiais que vão do efêmero e do cotidiano ao precioso e ao permanente.
cursar artes plásticas na ufrj e realizar cursos
Noções de sorte, acaso e sobrenatural fazem parte de seu imaginário artístico. Mas, para além
livres na eav/Parque Lage. Inicia sua carreira
dos aspectos lúdicos, sua obra evoca também um lado mais negro e misterioso da existência,
artística em 2001, quando começa a realizar
pois a consciência da morte e da brevidade da vida estão sempre presentes. Auad tem exibido
intervenções ao ar livre. Desde o início, sua
amplamente no âmbito internacional, com trabalhos que investigam materialidade, sensualidade,
obra guarda uma relação muito próxima com
processos e relação entre o público e o espaço da arte. Em 2007, realizou uma exposição
a natureza e a matéria, sempre articuladas
individual no Aspen Art Museum, no Colorado, que também publicou uma monografia sobre
com ideias de temporalidade e transformação.
sua obra. Em 2011, teve sua obra exposta no Centro Cultural São Paulo, na trienal de Folkestone,
Trabalhando com pigmentos, terra, fogo
na Inglaterra, e na mostra coletiva Mitologias, na Cité Internationale des Arts, em Paris.
ou água, seus desenhos, pinturas, vídeos e instalações utilizam imagens ou processos naturais que evocam questões existenciais ao mesmo tempo em que realizam experimentos formais. Dentre as exposições coletivas de que participou destacam-se A Time Frame, PS1moma, Nova York (2006); Singapore Biennale (2006) e Nova Arte Nova, ccbb-rj (2008). Em 2010, realizou uma exposição individual nas Cavalariças da eav/Parque Lage e em 2012 participou da 30a Bienal Internacional de São Paulo.
195
196
english texts 197
The 2012 Biennial of Naive Artists of Brazil Beyond the Avant-Garde
The recognition of the importance of features
scales or barometers, etc. That a thing’s
that make up people’s cultural identity is one of
importance must be measured by the
the hallmarks of sesc’s actions. The current show
enchantment that it produces in us.”1 Manoel de Barros
is further proof of the valorization of elements that are not restricted to daily life in the cities.
DEVELOPMENT AND CULTURE IN A PLURAL PERSPECTIVE
It should be emphasized that this intention
The feeling of enchantment mentioned in the
goes hand in hand with an extremely important
poetry of Manoel de Barros, when brought to
element of this entity’s thinking, which holds that
the field of artistic appreciation, inspires a
one’s understanding of contemporary phenomena
critical measure to assess the quality of the
is better when one contemplates the various
impressions we obtain from a work of art. This
Abram Szajman
facets of human development from a holistic
measure requires that we devote some time to
Chairman of the Regional Board of sesc São Paulo
point of view.
contemplation, a special moment for the work
After all, the worldview of those who work
to exist beyond its borders and for it to become
The programming of sesc’s cultural and
in areas of direct contact with society, as is
sheltered in our sensible memory, either by
sports centers reflects the commitment of the
the case of the commerce, service and tourism
enchantment or apathy, leaving a trace of this
businesspeople in the commerce, service and
industries, should be characterized by an ability
experience.
tourism industries in regard to the well-being
to perceive the interdependencies between the
and quality of life of the workers in these sectors,
countryside and the city, the small towns and
fields, unusual forms, various angles, palettes
their dependents and their community. The
the capital, larger cities and smaller ones, as
that color our daily life and make us partners
institution’s actions in various areas, spanning
well as by a consistently balanced effort in
in an imaginary realm previously restricted to
from sports to tourism, from food to artistic
carrying out larger and smaller undertakings,
the world of those who conceive the modes of
languages, from digital culture to education
conserving the local initiatives, the symbols of
expression, which symbolically represent ways
for sustainability, all share as a central aim the
each region’s sustainable growth. It is in this
of seeing and interpreting the world.
responsible and efficient use of the resources
sense that the Bienal Naïfs do Brasil evinces the
made available by its supporters for the benefit
constant attention that sesc devotes to the plural
from a sophisticated perception of his/her culture
of its primary public.
conception of development and culture, always
and transforms the blank space of the canvas into
thinking about these two dimensions in an
representations of the matrices of that culture’s
interconnected way.
beliefs, popular festivals, scenes from daily life
Within this perspective, the holding of the 11th edition of the Bienal Naïfs do Brasil at sesc
Through the artist’s gaze, we invade colorful
The naive artist presents narratives originating
Piracicaba lends continuity to one of the most
and thematic variables appropriated by this art.
relevant events for forging tighter links between
He/she registers his/her outlook and poetics in
the artistic languages and the community. This
regard to traditions and contradictions, and to
relevance is owing not only to the longevity of
A measure of enchantment
territories that transit between the rural and the
this exhibition, but mainly to the type of relation
Danilo Santos de Miranda
acquisition of the urban, stemming from social
that it has encouraged over the years between
Regional Director of sesc São Paulo
transformations and geographic contours of the
artists, artworks and spectators, based on values and meanings that contrast with those that have become common for the inhabitants of large cities.
198
space where he/she lives. “... that the importance of something is not measured with a measuring tape nor with
The wealth of this production and its apparent formal simplicity keep its expressive traditions
interesting to some contemporary artists, who
seeks to enlarge the dialogue and approximation
ALÉM DA VANGUARDA [Beyond the Avant-Garde]
collaborate toward diversifying the current scene,
between the popular and the contemporary
Kiki Mazzucchelli
by blending or invading established territories of
production. In this perspective, the exhibition’s
Curator
artistic practice.
curatorial design by Kiki Mazzucchelli works in
alive. These characteristics have made naive art
In its 11th edition, the Bienal Naïfs do Brasil
harmony with the architectural design by Ana
introduction
its 11th edition, it is an opportune moment to
Paula Pontes to present a significant change,
Since the beginning of the 2000s, the Bienal
look to the past with the aim of enlarging the
breaking down the borders of the physical space
Naïfs do Brasil has presented the so-called
perception of the paths taken over the course
between the award-winning entries, the selected
“Special Rooms”, which hold smaller thematic
of this development, to update the context of
works, and the participants of the special room,
exhibitions featuring artworks selected by a
how the exhibition is held and to guide further
all sharing the same context. This destructuring
curator appointed by sesc, in parallel with the
actions.
of the physical compartments has allowed the
works selected by the jury of the main exhibition.
featured artworks to be shared with the public in
Although they always seek a dialogue with the
an entirely new way.
naive production, around which the event is
Now, as the Bienal Naïfs do Brasil arrives at
sesc’s first initiative in presenting an exhibition of naive art was inserted in the project Cenas da Cultura Caipira [Scenes from Caipira Culture],
By hosting artworks from popular origins in
structured, the exhibitions in the “Special Rooms”
held from 1986 to 1988. Later, the exhibition was
counterpoint or in dialogue with contemporary
have traditionally taken place in isolation from
maintained in an independent way, and gained
manifestations, sesc reaffirms the criteria of
the main set, literally in a separate room. This
greater visibility in 1991. Beginning in 1992, it was
plurality and democratization that have guided
physical separation between the two shows
held on a biennial basis and received the name
its sociocultural actions, a stimulus for re-
served to demarcate their different territories,
Mostra Internacional de Arte Ingênua e Primitiva
creating relations and intersections in the context
ensuring that the reading of the curatorial
[International Show of Ingenuous and Primitive
of the arts.
proposal was not confused with the set selected
Art]. In that year, the show received the prize of
In light of the artworks presented at this 11th
by the jury, thus maintaining their cohesion and
the Best Event in Visual Arts of the State’s Interior,
edition of the Bienal Naïfs do Brasil, we recur to
integrity. This was generally an important point,
awarded by the Associação Paulista de Críticos de
poet Manoel de Barros, so that the enchantment
since many of the previous curatorships have
Arte (APCA).
produced in us will be the measure of new
included artworks that possess a strong aesthetic
encounters with art, intensely moving us in an
affinity with the works of naive artists, which
by invited critics, thus instating a format that
inexhaustible process, since it is a part of human
could suggest eventual relations between the
offered a significant change in its conception,
experience and development.
works and meanings other than those desired by
From 2004 on, the biennial has been curated
adding a special room and also hosting works by
the curators. In 2012, as the Bienal Naïfs do Brasil is
contemporary artists. This proposal has allowed different approximations, relations and readings
celebrating its 11th edition and 20th anniversary
on the production of naive art and stimulated
of existence, sesc’s proposal is to seek a greater
dialogues in respect to this artistic expression
approximation between the naive productions
in the current context. Thus, in the last four
and contemporary art. Based on this proposal of
editions, this production of popular inspiration
1 From the poem “Sobre importâncias”. Manoel de
approximation, the first action of the curatorship
has been featured alongside the universe of
Barros. In Memórias inventadas: a segunda infância,
was to abolish the physical separation between
contemporary artists.
editora Planeta, São Paulo, 2006.
the works of the main exhibition and the “Special
199
Room”. This gesture was aimed at breaking the
in past editions of the Bienal Naïfs do Brasil, and
view, would include the artistic practices that:
artificial rigidity of the categories that surround
is also the subject of the text published in this
(1) are unfolded generally outside the large urban
these two artistic genres, with the assumption
catalog by Edna Matosinho Pontes, a member of
centers; (2) are developed apart from academic
that once they shared the same setting this
the jury of the 2012 Bienal. In that text, she calls
knowledge of Western art and the 20th century
would allow the public to experience the artworks
attention to the negative value built into some
European vanguards; (3) possess some sort of
more freely, in a way that is less prescribed by
of the current terminologies, such as “primitive”,
deep connection with the immediate needs of a
curatorial selections that favor the traditional
or even “naive”, and comments that the current
determined community, whether of a religious,
method of assigning artworks into determined
tendency is to use the term “popular art” as a
mythic, commercial, decorative, practical etc.
categories. It should be emphasized that the
more appropriate category to encompass the
order, thus possessing a more collective character.
aim was to furthermore eliminate possible
creative diversity of the practices such as those
Here would be included, for example, indigenous
hierarchical distinctions between the show
which are the object of this biennial. For her part,
art, the popular handicraft of the Brazilian
selected by the jury and that of the “Special
Marta Mestre, who also served on the jury of
Northeast, the regional folklorists, Afro-Brazilian
Room”. By doing away with the physical existence
this edition, proposes an expanded questioning
art, and others. It should also be noted that I do
of the latter, the aim was to also dispel any
of this same problem, situating it within a
not propose this as a category absolutely distinct
associations relative to a supposed greater
worldwide and historic panorama. She then goes
from what we call contemporary art. In fact,
symbolic value of the works that are part of the
on to problematize the role of the curatorship
works of art commonly extrapolate a category
invited curatorship. These works, commercialized
in the dissemination of what she designates as
or do not fit into any specific genre, and the
in the contemporary art market, invariably
“spontaneous art”, calling attention to certain
countless examples of this include, among many
possess a greater market value and take part
theoretical and interpretive paradoxes that wind
others, the participation of Hélio Melo in the 27th
in the glamorous circuit of the major art fairs
up reinforcing its subaltern character in relation
Bienal de São Paulo, curated by Lisette Lagnado,
and international art biennials. Here, however,
to modern and contemporary art. Therefore, in
the appropriation of elements of the “civilization
they obsequiously infiltrate into a territory that
light of the scope of those two texts and the
of the Northeast” in Lina Bo Bardi’s architecture,
traditionally belongs to naive art, discreetly
depth with which they deal with the problem
or the production of the inmates of the Engenho
emphasizing or punctuating certain aspects in
of terminology associated to the production by
de Dentro mental hospital. In the case of Além
common with the two productions or producing
artists who lack or reject formal art training, I will
da Vanguarda the aim is to create a situation that
meanings that emerge only in their relationship
not devote any more space to this question in this
favors the destabilization of these categories. The
with naive art.
brief introductory text.
idea is that, on one hand, the physical proximity
I should, however, for purposes related to
between “popular” and contemporary artists
the naive, or everything that is outside
the curatorial proposal of Além da Vanguarda,
will allow a series of productive clashings in the
But it is curious to note, moreover, how the
underscore that here I am suggesting an
exhibition space based on the aesthetic contents
problem of the differentiated perception of the
expanded understanding of that which, as
of the artworks on display, while, on the other,
value of these two productions is also reflected
suggested by Matosinho Pontes, would be more
it will also provoke a questioning on the limits
in the terminology employed to denote them.
appropriately designated as “popular art”. Without
imposed on the different artistic productions,
The question concerning the inappropriateness
a specific or more thoroughgoing knowledge
the discourses that produce them, the circuits
of the use of the term “naive” in reference to a
concerning the profound diversity of practices
in which they transit, and the value they are
production by artists who reject or lack formal
covered by this term, I have opted for a more or
attributed.
art training has been approached various times
less loose definition which, from my point of
200
the bienal naïfs do brasil and além da vanguarda
involves an experimental proposal which by its
relationship with some of these manifestations,
own nature and due to the scheduling of the
whether in the way in which they appropriate
It is evident that the greatest interest and focus
Bienal cannot be definitively settled beforehand,
recurrent images and thematics in the naive
of attention of this event as a whole, in regard to
since the selection of the works featured in the
paintings (bells and religion, in the case of Pablo
its tradition, scope and public, falls on the naive
curated segment was made in parallel with the
Lobato), in the rereading of a traditional genre
production, disseminated at this biennial which
selection of the jury, in which, unfortunately,
of naive painting (landscape, in the case of Carla
has been consolidated over the last decade as
I could not participate. We therefore worked
Zaccagnini and Thiago Rocha Pitta) or in the
one of the most important national platforms in
with an element of surprise, and left open some
appropriation of popular techniques (embroidery,
this field. Therefore, even though the curatorship
decisions relative to the positioning of the works
in Alexandre da Cunha, lace, in Tonico Lemos
of the artworks brought together under the
within the exhibition space until the setup phase.
Auad, the pennants of popular festivals, in
title Além da Vanguarda sought to emphasize the
The artworks selected by the jury at this
Rodrigo Matheus). For his part, Montez Magno will
so-called contemporary production, it did not
edition of the Bienal comprise 70 artworks by
be represented with works from three different
intend to take the central position occupied here
55 artists, most of them bidimensional works.
series, produced from the 1970s to the 1990s,
by the naive art, but rather to discretely infiltrate
In their respective texts in this catalog, jury
in which he deals with the geometric legacy of
within the main show of the works selected by
members Juliana Braga and Paulo Klein — who
popular art. This is a small but valuable sampling
the jury. Nevertheless, even with the awareness
served as the show's curator in 2004 — discuss
of work by this artist of historical importance
of its secondary position, it is also an ambitious
some questions and challenges confronted
whose experimental and innovating production
undertaking, since the very possibility of the
during the selection process in 2012. According
has been under development since the late 1950s.
exhibition Além da Vanguarda is conditioned on its
to their reports, the jury sought to gather works
Besides this, for the first time in the history of
relation with the naive artworks.
that are an expression of the living and pulsing
the Bienal Naïfs do Brasil, we have the presence
popular production, avoiding those that aim to
of three foreign artists, whose participation
another artwork of the principal segment; rather,
reproduce an established style. The selection of
will contribute toward expanding the debate
it incorporates all of the artworks that are part of
the curatorship, in turn, includes 21 artworks
concerning the relation between contemporary
the Bienal Naïfs do Brasil. It thus becomes a sort of
by 10 artists, two of the works commissioned
and popular art beyond the regionalisms and
large parasite that creates, simultaneously with
specifically for this exhibition while a third
nationalisms. One of them, Daniel Steegmann
the Bienal, another exhibition with an entirely
takes place outside the exhibition space of sesc
Mangrané, a Catalan residing in Rio de Janeiro,
different purpose. That is, both the exhibitions
Piracicaba. In choosing the artworks, the aim was
has focused his work on the Brazilian indigenous
take place there, during the same period and in
to find works able to create situations that foster
culture and its production of geometric patterns.
the same physical space, although the premises
dialogues and relations between the naive and
Costa Rican artist Federico Herrero works
on which each of them is based makes them
contemporary segments, mainly involving the
primarily with painting, exploring the Latin
entirely different projects. The show of artworks
relation of these works with a production or with
American tradition of mural painting in a way
selected by the jury exists in its own right,
the popular vernacular, understood in the wide
that popularizes contemporary art. We are very
independently from the curatorship of Além
sense as all of the artistic production that takes
happy to have secured his participation in the
da Vanguarda, while the latter depends entirely
place outside the scope of the tradition of the
show, where he will realize a painting in the sesc
on the set of relations that it establishes with
European vanguards.
building, in a place (or places) to be determined
In this sense, it does not appropriate just one or
the former in order to exist. Detached from the former, it dissipates and collapses. This evidently
As a matter of fact, all of the contemporary works selected here bear some sort of specific
during the setup. It was equally gratifying to have the participation of Colombian artist
201
Felipe Arturo, who for some years now has been
material). We therefore arrived at an architectural
biennial in this way, according to its particularity
developing a work of temporary architectures in
design that is strictly aligned to the curatorial
of focusing on those artists who reject or lack
which he incorporates construction techniques
proposal. The graphic design was developed by
formal training in art, opening a space for them
of street vendors from different cities. Arturo will
Carla Caffé with the sesc team and has likewise
to show their work.
carry out a short artistic residency in the city of
sought to reflect the concerns of this curatorship.
São Paulo, where he will research the local street
Finally, I would like to express my immense
The question of “naive/ingenuous” was aptly considered by Olívio Tavares de Araújo, when he
vendors with the aim of developing a project on
thanks for the support and enthusiasm of the
was curator of the special room of the Bienal Naïfs
the adjacent veranda to the exhibition space on
team at sesc Piracicaba during the process
do Brasil in 2008; he said: “In practice, especially
the first floor of sesc’s building.
of conceiving and carrying out this project.
by influence from Eastern Europe, where this
Thanks to the performance of all of them and
type of art abounds, the label “naive” is usually
curatorial ideas in the exhibition space, the design
to effective teamwork, we were able to ensure
applied to less incisive artists… They know
of the setup was developed in close dialogue
the inestimable participation of the artists and
various artistic techniques, they know how to
with architect Ana Paula Pontes, in charge of
members of the invited jury and to carry out each
draw reasonably well, and how to mix paints to
the exhibition architecture. We opted for an
step of the process with due care and attention.
create pleasant degradés in their landscapes…”.
architecture that would not reinforce the “popular”
Juliana Braga and Daniel Hanai were especially
It is precisely taking into account this definition
character of the naive artworks with emphasis
attentive to the demands of the curatorship
and this framing of “naive” within a specific
on materials or colors that would evoke this
since the outset, understanding the ambition of
technical perspective that this name should be
universe, thus allowing the works themselves
this project and contributing greatly with clever
questioned.
to express their content without the need for
solutions for the problems of a practical and
external reinforcement. At the same time, we
conceptual nature that arose in our path.
Seeking a more precise translation of the
There is no proper consensus concerning a better terminology. The term “primitive” tends
did not follow the aesthetics of the “white cube”
to carry a built-in negative judgment value
traditionally used for contemporary shows, but
that depreciates it. The term “innate”, which
rather sought to incorporate the characteristics
is equivalent to spontaneous, can be seen as
specifically to host art exhibitions, thus
A REFLECTION ON THE BIENAL NAÏFS DO BRASIL
presenting a series of visual interferences. For
Edna Matosinho de Pontes
of the building itself, which was not constructed
this edition of the Bienal, the architect developed
Collector, researcher and gallerist
suitable in many aspects, but it is little known or used. The current tendency is to use the name “popular art” to characterize the art produced by artists who lack or reject formal art training. This does not mean that it is the best definition, but
a system of display panels made with boards of unfinished, unpainted plywood, held up by metal
The terminology used to define the type of art
it does specify more precisely the sort of art we
supports. Besides preserving the transparence of
featured in this exhibition is wide-ranging and
are referring to and for this reason it has been
the exhibition space, avoiding the construction
has been the subject of many other texts written
adopted as the one conventionally used.
of false walls and proposing a lighter occupation
for previous editions of the biennial. The various
of the building, the panels make use of a
terms often used to denote this art include
material which simultaneously evokes a certain rusticity (the unfinished wooden board, in the
“naive”, “innate”, “primitive”, and “popular”. The term “naive” refers to ingenuousness. The
size in which it comes from the factory) and an
recurring discussion tends to revolve around the
industrial character (since it is an industrialized
appropriateness of naming this very important
202
The conception of popular art as a living expression of the inventiveness of the soul of our people, who reinvent reality in their own way through their fantasy, guided our work as members of the 2012 Biennial’s jury. I was enormously satisfied to work with this
group which is heterogeneous in terms of their
time is part of the experience of older people,
desirable, as it molds and defines the spirit of a
professional experience, but which worked as
who lived during that time. In this direction,
nation, of a culture… In short, about the desire
a true team. The selection of the artworks was
for example, we have beauty, sensibility and
of a more frequent shared experience, of a fertile
made in a very careful, reflexive and democratic
sincerity in the work by Maria Caldeira Bochini, an
and continuous exchange of ideas…” These are
way. Some criteria for the choice of the artworks
82-year-old artist. In her we perceive the nostalgic
propositions that I totally agree with.
to be shown were consensual. We considered the
soberness, the economy of colors and the absence
artist’s experience and background. We sought
of superfluous details. It is not, in any way, a
states in this 11th Bienal Naïfs do Brasil,
to avoid works by artists who had the influence
mellifluous and unnecessarily embellished portrait.
I will make a brief comment here — thinking about
of a specific art training or whose work portrays
An exception in terms of three-dimensional
Despite the high representativity of the Brazilian
future biennials — concerning how enriching it
situations apart from their own condition of
works was a surprising iron head made by
would be in terms of the diversity of techniques
life. For this reason we also analyzed their
Evandro Soares. It demonstrates originality, skill,
and the use of materials to enlarge the scope
biographies. sesc’s initiative to valorize and show
cleverness and includes movement by way of a
geographically with the inclusion of a number of
this sort of production at each biennial held over
simple mechanism that makes a helix turn. It is a
works from states with a wealth of popular art
the years is really praiseworthy. There are few
work that evidences effort and perseverance in its
production, especially those in the Northeast.
opportunities for the popular artist to receive
elaborate realization.
so much attention and space to show his/her
Unlike at the other editions, where there
work. Because such works are normally excluded
was a separate space for the special room
from the art exhibition circuit, they tend to be
conceived by the curator, this edition’s curator
THE UNEXPECTED IN ART
undervalued.
Kiki Mazzuccheli decided to show contemporary
Marta Mestre
This edition of the biennial features 536 works
artworks in the same space, alongside the popular
Art critic and historian
(each artist participating with two), representing
art. This reflects and reinforces the valorization of
twenty states of Brazil. We had a range of themes
the production of the popular artists, a hallmark
Our gaze is transformed much more than art
that are very frequent in popular art: rural
of the Piracicaba Biennial.
is. Our perspective on things becomes free from
landscapes and cityscapes, popular (folkloric
In 2009, Galeria Pontes, which I direct, held the
a closed and discursive order, and exists as an
and religious) festivals, scenes from everyday
exhibition Mecânica Inexata [Inexact Mechanics],
emotive tangle that articulates an interplay
life, representations of current issues. Beyond the
focused on the dialogue between popular art
of images and times circulating comfortably
mastery of their production, we sought to take
and contemporary art, curated by Jacopo Crivelli
between “high” and “low” culture.
into consideration the sensitivity and sincerity
Visconti. That exhibition showed that this dialogue
of their approach, their originality, and the use of
is possible and has a fluidity that naturally
that is produced apart from the institutionalized
infrequent techniques and materials.
flourishes. In the text written for the show, Crivelli
world of art, has an increasingly expressive power
Visconti says that this dialogue allows us to talk
of empathy and seduction, and this is due to
Most of the works entered consisted of paintings made with oil or acrylic paints.
“about the need to recompose the recent and
Spontaneous art, that is, the visual production
the weakening of the rigid distribution of genres,
Woodcuts and three-dimensional works in
unnecessary fracture that divides artistic practice
themes and hierarchies throughout the 20th
ceramic or stone were rare, and there were
into two separate worlds, which should return to
century.
few wooden sculptures — though they are very
being side-by-side and thus understood in another
representative of the world of popular art.
way. About the conviction that the proximity of
The representation of the memory of a bygone
distinct artworks and thoughts is healthy and
Found everywhere a little, with a higher or lower degree of expressivity, we notice that “spontaneous art” — that which is always where
203
we least expect it, where no one thinks about it,
The Finnish example is full of many striking
all over Brazil which is featured at the exhibition
nor even speaks its name — has admirers all over
happenings in the creation of an aesthetics of the
ranges beyond the universe of “naive” art. This is
the world and is constantly being affirmed in its
collective body as a whole with the help of the
an overly restrictive term for extremely restless
own right, whether in Brazil or… in Finland.
government: the opening of the Contemporary
images, a term that does not consider their
Folk Art Museum (in the city of Kaustinen); the
diverse and unlikely artistic origins, which can
opportunity to visit artists and productions of
leadership on the European program Equal
be indigenous art, the art of people with mental
so-called spontaneous art. It was an intense
Rights to Creativity — Contemporary Folk Art
problems, or art produced in altered states of
experience, where I could perceive the symbolic,
in Europe, in partnership with Hungary, Italy,
perceptions, to cite some examples.
cultural, identitary and economic importance
Estonia and France, to which a publishing house
that this artistic field can have. Getting to know
is associated for the publication of high-quality
the term naive in respect to the world of artists
now the Brazilian production that has arrived at
editions of works by “spontaneous” artists; the
who have participated in the various editions
the Bienal Naïfs de Piracicaba I notice that, despite
exhibition In Another World, held at the Museum
of the Piracicaba biennial, if we remember
being countries with very different realities, there
of Contemporary Art of Helsinki (Kiasma), a
what Freud wrote about the “fetish”, one of the
is a common feature that confers unity to their
selection of the best Finnish spontaneous art,
elements that best characterizes the nature of the
visual productions.
along with historical artists of the European
naive images.
In 2006 I made a trip to Finland and had the
There is a wide range of jargon used by
collections (Alain Bourbonnais, Aloïse Corbaz,
We can even talk about the “unsuitability” of
Upon introducing the concept of “fetish”,
specialists to characterize this type of production:
Madge Gill, Chris Hipkiss, Giovanni Battista
Freud1 referred to the fact that it forms a
naive art, outsider art, art brut, raw art, folk art,
Podesta, Henry Darger or Adolf Wölfli); and the
totalitarian image. The fetish image is a “sealed”
visionary art, “visionary art environments” etc.;
National Ministry of Culture’s awarding of the
or “inanimate” image that is reminiscent of a sort
nevertheless, it is a single order of imagination
Finland Prize, in 2007, to Veijo Rönkkönen — one
of stopping of the gaze. According to Freud, what
and beliefs, images that seem to have emerged
of the artists photographed twenty years before
constitutes the fetish is the moment of history
from a newly discovered Eden, which are
by Veli Granö — for his work which received
where the image stops, as though it were the
intensely inhabited by anachronisms and
the attention of international curator Harald
immobilization of a ghost. The fetish is also a veil,
obsessions. They appear as surviving facets of a
Szeemann.
a curtain, a “point of repression”. For this reason,
“nameless history” that reach us in a devastating, intense and disruptive way.
This movement led to the need to invent a name for the “new” art: ITE art, an acronym for
the amazed perception of the naive artist often appears crystallized, an eternal return. As stated
The Finnish case has epic contours, by the
“Itse Tehty Elama”, which signifies “self-made life”,
by Laymert Garcia dos Santos: “naive art is the
succession of its episodes, and by the way in
and institutes the idea that life exists through the
art of emotion, a shout from the heart”, and he
which, in less than thirty years, it has managed to
aesthetic dimension of each and every person.
adds: “the magical effect is produced in the gaze,
garner enormous visibility for a field which was
The Finnish case makes us think about various
previously disregarded. It begins with the story
aspects. I suggest two for us to consider in the
of Veli Granö, a contemporary artist who made
context of the Bienal Naïfs do Brasil in Piracicaba.
the Onnela — Trip to Paradise series, portraits of twenty folk and outsider artists in the context of their idiosyncratic worlds. The series was shown
In the first place: what is the meaning of the name “Bienal Naïfs”? The experience of the jury this year, coupled
in 1986, at a gallery in Helsinki, kindling the
with a reading of the documentation of previous
immediate interest of various levels of society.
editions, makes it clear that the production from
204
it crystallizes the image”2.
1 Sigmund Freud, “Souvenirs d’enfance et souvenirs-écrans”, in Psychopathologie de la vie quotidienne, Payot, Paris, 2004. 2 Laymert Garcia dos Santos, “Regarder autrement”, in Histoires de voir (exhibition catalogue), Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, May 2012.
Freud’s point of view on the nature of the naive
arts” also reinforces how many critics and
can substantially change the concept of both
images makes complete sense when it is lamented
historians see it as a breath of fresh air for the
contemporary art and art in general, since it is in
that a “naive” artist copies a successful form, and
increasingly rigid art scene brought on by the
places where it has never been in the history of
repeats it over and over. But this does not concern
homogenizing power of globalization and the
art and where there is no museum tradition”4.
a response to an already conquered market, but
standardization of art.
rather to the very nature of the naive image: the
Hans Belting’s words evidently involve a serious
Nevertheless this regenerative potential of
argument about the end of the “history of art as a
“spontaneous art” should not be instrumentalized
model of our historic culture”5, and a criticism on
necessary for the production of the fetish.
in the closed circuit that sees modernity first and
the places of enunciation that have traditionally
By its circumscribed character, the term
contemporaneity afterwards, through interposed
produced the discourses about art, and in this
stages and as inexhaustible places to which we
case, about “spontaneous art”.
interplay of repetition among the elements is
“naive” can only partially denote the extensive production that arrives at Piracicaba, and it limits
submit according to the diving suit that brings us
the possibility for thinking about the biennial’s
to the greatest depth.
future. Nevertheless, from Jean Dubuffet to
We consider that the regenerative capacity
It must be remembered that the optimism that exists today about this increasingly shown and recognized artistic field lived under a
Roger Cardinal, it has always been hard to find a
of “spontaneous art” has much to do with an
regime of cultural apartheid for many years. As
comfortable designation for this artistic field; and
anthropological function, which relegates
aptly pointed out by Michel Thévoz “even in the
the Finnish “solved” the question by inventing the
the aesthetic condition to the second plane.
imaginary museum of Malraux, the works by
aforementioned name “ITE art”, which is more
This function has the potential to generate a
Aloïse or Guillaume Pujolle were in a purgatory
than a marketing label attached to a confined
magnificent mirroring effect, which under the veil
with the anonymous and ignominious caption
cultural policy. For relating much more with life
we display to others, allows for the conveyance
drawings by the insane. And when the 1975 edition
than with art (like the poetics of Joseph Beuys, the
of observations about ourselves, our culture, our
of the Documenta V of Kassel had the audacity to
German artist for whom life existed through the
notions of art, our values and attitudes.
introduce the works by Adolf Wölfli and Heinrich-
A categorical example of this more
Anton Muller — without a doubt one of the most
aesthetic dimension of each person), it ensures longevity to the artistic field we are talking about.
anthropological than aesthetic paradigm was
inventive artists in this field — it isolated them in
A further aspect to ponder is: how can the
the exhibition Les Magiciens de la Terre, held at
a section designated as psychopathological”.6
curatorship lend visibility to “spontaneous art”?
the Centro Georges Pompidou, in 1989. For the
The aforementioned regime of apartheid has
first time, it featured Western contemporary
increasingly been dispelled, but some paradoxes
codified field of the visual arts the expressions
art together with art from the rest of the world,
still remain.
characteristic of ordinary life, everyday
and from other categories. This exhibition gave
experience, the domestic territory, the rural
meaning to what Hans Belting would designate
expanses, the primitive, indigenous world, altered
as “global art”3, which “in its new expansion,
The curatorship is essential to bring into the
as I see it, still generates significant obstacles. I am referring to a pedagogical paradigm which is often applied to “spontaneous art”,
states of perception, and others. “Worlds” that are very gradually becoming part of the schedules
I will conclude by pointing out one which,
3 The Global Contemporary. Art Worlds After
and which indefinably reconstitutes the very
and programming of museums, but which,
1989, the exhibition held by ZKM | Museum of
ironically, reveal their regenerative role in the
Contemporary Art (from September 2011 to
4 At http://globalcontemporary.de/en/exhibition
scenario of the crisis of the history of Western
February 2012) used the date of Les Magiciens de
5 Hans Belting, O Fim da História da Arte,
contemporary and modern art. The growing importance of the “unauthored
la Terre as a chronological mark for the concept of “global art”: http://www.globalartmuseum.de/ site/act_exhibition.
Cosac&Naify, p.12. 6 Michel Thévoz, Art brut, psychose et mediumnité, Éditions de la différence, Paris, p.10.
205
inequality it aims to suppress, as if there were
very specifically, I am most curious to listen to the
various years by Antonio do Nascimento, who
a goal of equality along with a social, aesthetic
faint tones exchanged between the two men in
gradually enlarged his passion for this segment,
and symbolic “fracture” to be eliminated. This
O barco do pescador [The Fishermen’s Boat], in the
linking artists and art critics and inviting them to
is a dubious game that can signify completely
wetlands depicted by Jefferson Bastos.
these occasions where they had the opportunity
different things: either to encourage the artists
to maintain contact with this specific and
to remain in their “lost paradise” considered as
disarticulated production generally made at
a place for the survival of an art that should not
the fringe of the art world and in rural settings
be corrupted, or to construct their “emancipation”
A Return to Creative Freshness
or small towns, that mixed mellifluous naive
with a view toward an “equality of intelligences”
Paulo Klein
artists, domesticated brute artists and primitivist
(J. Rancière).
aica Association Internationale des Critiques D’Art
artists of various generations. Initially involving
abca Associação Brasileira de Críticos de Arte
a competitive show, at a certain moment it began
In the former case, there is a discourse that
presenting special rooms by invited artists.
locates spontaneous art and spontaneous artists within a subalternity, which leaves
“...the moon reigns over the artists who remain
them expressionless. Deprived of expression,
aloof from academia”. Carlos Drummond de Andrade
this art and these artists speak only through a middleman (the one who “discovered” them, the
that the competitive segment be kept — since it allowed for the visibility and circulation of the
Monte-Mor
producers of this art — but accompanied by a reflexive show that would foster the discussion
this reason, these images are normally seen in
badly captioned, badly photographed, badly used.
curatorship of the event’s 7th edition I proposed
in “Teimosia da Imaginação” by Germana
gallerists, the judges panel, the historian etc.). For
a “bad light”, because they are badly described,
This format lasted until 2004, when during my
“I should have learned to drive a car, but I chose to paint pictures”.
In the latter case, the “emancipation” consists
Aurelino dos Santos,
of a restoration of the places and the subjects of
popular painter, Salvador-BA
and interaction of this sort of art with other segments of the arts, regardless of whether it was called popular, cabocla, fringe, nonacademic, ingenuous, innate, or contemporary art, among other possibilities.
enunciation in order to recognize and develop all of the consequences of the “equality of the
The history that has led up to this Bienal Naïfs
Returning to the Bienal Naïfs eight years later
intelligences”.
do Brasil, in its 11th edition, began in the 1980s
as a member of the selection and awards jury has
Perhaps this is why some people say that we
with annual exhibitions that continued until
allowed me to carry out some reflections. First of
should always look at a work of spontaneous art
1992 (the 6th edition) and were entitled, with
all, about the act of judging a work of art within
with the artist at our side, listening to his/her story.
small variations, Arte Ingênua e Primitiva —
the current context of nearly instantaneous
Mostra Internacional [Ingenuous and Primitive
virtual communication and the pendulumlike
artists, instead of having painted, sculpted or
Art — International Show], always based at sesc
oscillation of tastes; if it is pertinent or not,
embroidered, had narrated their lives, their
Piracicaba, but sometimes expanding out into
good or bad, appreciable or not. The wealth
worlds, the places they (and all of us) come from.
the pleasant city in the interior of São Paulo state.
and diversity of impressions, arguments and
I am extremely curious to learn about the story
The exhibition then began to be held every two
convictions should be documented on video
that Maria Caldeira Bochini tells, in the canvas
years, receiving the title Bienal Naïfs, the name
to later become the subject of philopoetic
in which three girls play without toys, or to
under which it is currently recognized in Brazil
discourses. In any case, this critical exercise
hear Carmela Pereira singing the song that her
and internationally.
allows for unfathomable challenges, the core of
Everything takes place as though these
Carnival characters are about to celebrate. But
206
The exhibition was initially coordinated for
my occupation.
On the present jury I had to cope with some
Fishing is the theme of Jefer (Jefferson Bastos),
The Dream of Ingenuousness
premises, such as the size of the exhibition space,
from Campo Grande, Mato Grosso do Sul, another
Juliana Braga de Mattos
shared in this edition with contemporary artists
Acquisition Prize winner, in a painting of simple
Visual Arts Assistant of the Department of
indicated by curator Kiki Mazzucchelli and with
primitivism in which the landscape and the
Cultural Action Management — sesc São Paulo
options of acquisition aimed at making the
characters are schematic and the tones maintain
institution’s collection more organic.
the lightness of children’s drawings.
The members of the jury thus carried out
Among the Incentive Prizes, we call special
The experience of serving on an artistic jury, for any sort of art, can be doubly revealing: while on
their work rigorously, not only in regard to
attention to the psychological atmosphere
the one hand it creates an index for the artistic
what they consider pertinent or not in this
and the dominance of primary colors in the
production at a determined place and time, it
complex specificity, but also sought to eliminate
paintings by Kaldeira (Maria Caldeira Bochini),
also winds up enunciating the jury members’
the presence of mellifluous naive artists,
from Catanduva, São Paulo; the simplicity of the
convictions and ideals, which are not always
the ingenuous artists inebriated in a false
embroideries by Maria Aparecida Machado, from
followed to the letter by the artists.
atmosphere or the replicas of other creators. This
Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, and the
was a challenging task that gave rise to exciting
sacred/profane scenes charged with baroquisms
São Paulo for more than 22 years, as a basis for
clashings that fuel the contemporary production
by Ilma Deolindo, from Nova Horizonte, São Paulo.
considering these questions allows for some
while also questioning it.
Incentive Prizes were also merited by the vibrant
thoughts about the current so-called naive or
colors of everyday life captured in Retrato Íntimo
ingenuous art scene in Brazil. An initial reflection
what is being produced today in Brazil in this
[Intimate Portrait], by Enzo Ferrara, and the
reveals a certain dissonance between the original
segment that blends the painting of relative
unforeseeable obtained through the manipulation
term and its connotation nowadays; created in
ingenuousness (even the world of crack cocaine,
of scrap materials in Sonho de Voar [Dream of
what to us seems like the faraway 19th century
the large garbage dumps and trash recycling have
Flying], by Evandro Soares, from Goiânia.
to define, from the European point of view, a
The result is a concentrated essence of
appeared as themes), the art of outsiders who are
The jury awarded Special Mentions to artists
Taking the Bienal Naïfs do Brasil, held by sesc
countless number of productions by artists lacking
fascinating for their originality (including their
who presented outstanding works, such as
classical and academic training — in short, from a
biographies full of humor, suffering or tragedy), as
Carmela Pereira (Piracicaba, SP), an enduring
popular origin — the expression “naive art” came
well as masters who have evolved their technique
pioneer of local primitive art, Danbeco (Rio de
to be associated with a universe of creation in
over long years, without losing their (often rustic)
Janeiro, RJ), Joana Baraúna da Silva (São Paulo, SP),
which a certain feigned style was overlaid to what
poetics or their own identity.
Renata Kelssering (São Paulo, SP), José Altino (João
was previously a poetic expression.
The artworks and artists awarded the Acquisition Prize include two creations by Adão Domiciano Pinto, an artist from Cuiabá, Mato
Pessoa, PB), Shila Joaquim (São Mateus, ES), and Vósandra (Ribeirão Preto, SP). I would also like to express my thanks to the
In this sense, one cannot intend to frame the term as a purist reflection of production that escapes from the tentacles of mass
Grosso, already known from other biennials
always efficient and dedicated team at sesc
communication or the codes of the art market —
for his incisive painting, who returned to this
for this opportunity to make contact with a
well-known collateral effects of our globalized
edition with the novelty of using watercolor on
production that is generally kept at a distance
world.
paper applied on a board. This new medium is
from the institutional circuits, and to my fellow
consistent in a satisfactory and appealing way
members on the jury, who intensely stimulated
know the power of our artistic traditions linked
with the controversial theme of 21st-century
and questioned me, with knowledge and poetry, in
to popular roots, is this: while acting on a
slavery, still found in some regions of the country.
this delicate act of judging.
commission formed for this specific task, how
But the challenge, precisely because we
207
can we escape from the desire to encounter a genuine freshness that represents the essence of
Beyond the Avant-Garde
the artworks of this series in the context of this exhibition, in the interior of São Paulo state —
a certain ambivalent practice, that lies outside
whose development in the 19th century was driven
any stereotype while also not representing a mere
by the coffee industry — he lends them a new
mimicry of false values of Brazilian culture? And,
meaning by activating their relations with history.
on the other hand, how can we get away from
But beyond the different layers of meaning, one
the preconceived idea that the “ingenuous” artist
of the most interesting elements in this series
necessarily lives in isolation from the codes of
is the confusion of roles that the artist brings
this contemporary world — as though his/her
ALEXANDRE DA CUNHA
about, since here the person who carried out the
work were not a legitimate expression of it?
In his work, Alexandre da Cunha appropriates
manual work of the embroidery was his gallerist,
materials, objects and citations from traditionally
Luisa Strina. Embroidery is an activity normally
questions that drove the reflections and choices
distinct registers to transform them through
associated to women accustomed to household
of the present commission. From among the
a process involving the collage of different
tasks, who do not have professional careers — an
many artworks entered, we were able to select
elements. This operation is generally based
image that contrasts strikingly with the figure of
an interesting portrait of Brazil which, in the last
on commonplace objects found in everyday
an independent gallerist and entrepreneur. This
decades, has gone through significant changes of
life (towels, parasols, household utensils, and
series of artworks therefore fosters the encounter
a political and economic order, in certain ways
many other things), which are taken out of
of two profoundly distinct worlds; one linked with
captured by the artistic representations observed.
their original context, recombined with other
handicraft, to the repetition of a technique and
These changes did not necessarily favor the
elements, and finally inserted into a new
knowledge linked to a feminine task in its most
exercise of art — yet they have certainly revealed
hierarchy of value. Upon bringing these objects
traditional meaning, and another one linked to
subtexts still present in the national mindset in
within the universe of art, he strips them of their
contemporary art, to the cultural vanguard, to
regard to the universe of naive art, in which there
original function while simultaneously raising
conceptual innovation and to internationalism.
persists an old idea of ingenuousness, dreamed of
questions concerning ideas of value, circulation or
for more than a century.
intentionality.
These seem to have been two important
The enlargement of understandings about
In the series of embroideries present in this
CARLA ZACCAGNINI
ingenuous, popular and contemporary art — and,
exhibition, Alexandre da Cunha appropriates
The Museu das Vistas [Museum of Views] project
moreover, the approximation among their fields of
popular practice/knowledge and commonplace
began in 2004 and, since then, has been repeated
creation — has entailed a ceaseless search by the
materials, as he did in earlier works, making use
various times in cities in different countries:
Bienal Naïfs do Brasil at each edition, in tune with
of their symbolic values. Here he associates the
Medellín (Colombia), Rincón (Puerto Rico), São
sesc’s commitment toward encouraging Brazilian
quality of embroidery fabric to the large burlap
Paulo (Brazil), Valparaíso (Chile), and others. As
artistic production and debate. In 2012, this path
bags used in coffee export, which serve as a
in other artworks by Carla Zaccagnini, here she
assumed clearer outlines. Our desire is for the
raw material for these works. While some are
creates some rules of the game, which should
public to find inspiration in the simple and the
more figurative, and others more abstract, the
be followed by the viewers/participants for the
colorful, the mundane and the oneiric, because
composition of each embroidery was carefully
artwork to be fully realized. In this case, the artist
this is how the naive art was revealed to us, the
selected by the artist based on the original
employs a forensic sketch artist, who remains
members of the selection commission, throughout
illustrations on these bags, to which he adds
available during a previously agreed period in
a delightful time of research and debates.
nothing. It should be noted that when he exhibits
some areas of the city where the exhibition
208
featuring the artwork is held. Here, instead of
DANIEL STEEGMANN MANGRANÉ
art produced in Brazil normally evokes or makes
translating into drawing the spoken description
In the indigenous tupi language, the word Ka’aeté
reference to the practices of concrete and
of criminal suspects, these portraitists produce
means “deep forest”, far from the inhabited
neoconcrete art — points to other possibilities
drawings of landscapes recollected by those who
territories. It is a mythic place where gods
of experimentation with geometry and, not less
wish to participate in the project. Each one of
and spirits live, where the paths end; it is the
importantly, to the meaning of its approximation
these drawings is made on self-copying paper; the
impenetrable. Kiti means “to cut with a sharp
with life.
original graphite drawing is given to the person
instrument, by human hands or by technical
who describes the scene, while Museu das Vistas
means”. As in the hegelian interpretation, for
collects the blue copies on yellow paper produced
the indigenous tribes of Brazil, the Ka’aeté, the
FEDERICO HERRERO
chemically by the pressure of the pencil.
deep forest, is also a place without history, where
Trained as an architect, the Costa Rican artist
the things are still unformed and animals can
Federico Herrero mainly uses the medium of
metamorphose.
painting. Many of his works, like the one featured
The resulting collection is a testimony to the forms in which the landscape becomes a mental image and how this image of memory can be
Kiti Ka’aeté is the overall title of a project by
in the show Além da Vanguarda, are realized onsite:
transformed into a discourse and be translated
Daniel Steegmann Mangrané that originated
in public spaces such as façades of houses and
into drawing, constructing a new physical
from a collage in which the artist based his work
buildings, on city walls or private walls inside
image. Thus, the traditional genre of landscape
on the abstract art of the tupis, with its complex
galleries or other types of buildings, where he
painting, so relevant and predominant in the
geometric system, to realize precise cuts on an
executes his paintings in close dialogue with the
production of the artists who are participating
image of the Amazonian forest. In a subsequent
spatial organization of the locale. Characterized
in the Bienal Naïfs do Brasil, is unfolded in Museu
unfolding of the same work, which is the version
by their vibrant color, normally divided into
das Vistas, in time and in space. In a certain way,
featured in this show, the collage was installed
units of abstract and simultaneously fluid and
Zaccagnini’s project attests to the persistence of
within an exhibition panel and backlit using
imprecise forms, these paintings — in contrast
the landscape in the current world. At least since
only a slide projector. In this way, the beams of
with the rigorous geometric abstractions that
the 15th century we have learned to see the world
white light pass through the small cuts and their
characterize the Latin American art of the mid-
as a landscape, and it is precisely this process
luminosity emanates from the face of the image,
20th century — nearly seem to sprout organically
of mental construction and visual translation
conferring the quality of a spirit or soul to the
from the walls. Their mode of existence is
that the artist emphasizes in Museu das Vistas.
abstract forest. Part of the installation consists
therefore more analogous to the disordered and
The resulting drawings are also fundamental
of the space between the projector and the panel
voracious way that the lush nature of the tropics
elements of the project, and since their final form
where the collage is located. Open and accessible,
takes over the constructions in these regions
will be determined by the skills and choices made
it can be passed through by the exhibition visitors,
of the planet. As a further comparison with
by the portraitist, as well as the narrators, they
who intermittently interrupt the beam of light
the botanical order, these paintings at certain
are unforeseeable. But based on the drawings
from the projector, causing a flickering effect that
moments resemble the drawings of landscape
produced up to now we can say that, for the most
can be observed by those in front of the image.
designs by Roberto Burle Marx, with their sinuous
part, they bear some stylistic affinity with naive
Kiti Ka’aeté brings to Além da Vanguarda
art. Are not forensic artists artists from outside
the dimension of indigenous art, manifested
the traditional world of the fine arts?
through its rereading within the contemporary
lines and areas of color interlaced within a set of organic forms. To a certain extent, Herrero’s practice borrows
register. Here, the constructive appearance of the
characteristics from the tradition of mural
collage — which in the context of contemporary
painting, a practice associated mainly with
209
the Mexican artists of the first half of the 20th
each day large commercial centers are set up and
MONTEZ MAGNO
century, but which found echoes in various Latin
taken down in the open air, attracting thousands
With an artistic career spanning six decades, the
American countries including Brazil. But, if on the
of consumers.
Pernambucan artist Montez Magno possesses an
one hand it shares with this tradition an interest
Due to their temporary and most often illegal
extremely complex and diversified oeuvre that
in bringing art closer to a nonspecialized public
nature, the architecture of this sort of commerce
is unfolded in different media and researches. In
that inadvertently comes across his paintings in
possesses some basic characteristics. In some
the context of the exhibition Além da Vanguarda,
public spaces, it abstains from seeking to convey
cases it should consist of relatively light materials,
we are particularly interested in the artist’s
more direct political and ideological contents, as
for easy transport, while allowing for simple and
investigations concerning the geometry of
was the case of the original muralists.
efficient techniques for quick setup and takedown.
popular art, which he began in 1972 with his
The materials should invariably be easy to find
studies for the first cycle of the series Barracas do
a strong resonance with the production that
and low-cost, but should also be durable and
Nordeste [Tents of the Northeast], from which we are
has been consistently presented at the various
tough enough to stand prolonged exposure to the
presenting three pieces in the show.
editions of the Bienal Naïfs since its founding.
elements. It is therefore an architecture entirely
The presence of his works at this show seeks
founded on the pressing needs of these groups of
one of the artist’s letters selected by Clarissa
to catalyze the artworks selected by the jury,
formal workers, not based merely on academic
Diniz in her essay published in the monograph of
allegorically suggesting that they leave the
principles and therefore informed by a living,
the artist released in 2010, where he explains the
bidimensional plane, overflowing it and crawling
popular know-how.
aim of his research:
In the coloring of Herrero’s paintings, we find
across the floor, climbing the walls and moving
In São Paulo, as in other large Latin American
It is worthwhile citing here an excerpt from
“[...] A large part of my current work is based on
across the ceiling of the building, to finally
cities, the daily activity of the street vendors takes
things from right here, in Recife, in the Northeast,
occupy all of the tridimensional space of sesc
place on a large scale, and it is precisely there that
but the people of Recife themselves don’t perceive
Piracicaba.
Arturo will engage in a short residency in order to
this. I am carrying out a research or study of the
produce a new commission for Além da Vanguarda
forgotten and omitted side of Brazilian popular
based on his researches on the construction
art: the abstractionist side. It’s incredible what
FELIPE ARTURO
methods of the local street vendors. Appropriating
the people do in terms of geometric abstraction.
Since 2009, the Colombian artist Felipe Arturo
construction materials and techniques learned
I am using photographic slides to document
has been investigating the construction methods
from the street vendors of the city of São Paulo,
the various modalities of abstract-geometric
employed by street vendors in different Latin
the artist will construct a temporary environment,
expression: tents used for celebrations and
American cities. He notes how the ephemeral
whose final configuration will be developed in
street markets covered with patches, ice cream
architectures specific to each of these cities
the weeks preceding the exhibition. For the first
and popcorn wagons etc.; garage doors, and
have evolved based on complex processes of
time in the history of the Bienal Naïfs do Brasil,
other things that appear along the way. It’s
local policies and particularities related to the
this work will occupy the large veranda adjoining
fantastic, and you will sometimes find things
distribution of foods and merchandise within
the exhibition room of sesc Piracicaba, creating
from op-art, concretism and constructivism, all
the urban and rural centers or between each
an area of observation and pause that connects
of it made in utter ignorance and ingenuousness,
nation and other countries. The phenomenon
the building’s interior to the areas dedicated to
but with a sharp and intuitive sense of color
of populational displacement entailed by the
leisure and sports that are located in the anterior
and construction. It is from these things that I
informal commerce has an undeniable impact on
part of sesc’s grounds.
currently extract material for my work”.
the urban configuration of certain regions, where
210
His Barracas do Nordeste, with their imprecise
and vividly colored geometric shapes, oscillate
that includes Bronze Revirado [Overturned Bronze]
stick to particular techniques or styles. In his
between abstraction and figuration, since
a video installation that we are presenting here.
first works, he incorporated and articulated
they retain a formal connection with their
As Jacopo Crivelli Visconti describes in a
industrialized or designed products found in
referent, sometimes even presenting indications
commentary on this work, “[U]pon investigating
the everyday collective experience, emulating
concerning the context from which they were
and studying this theme, the artist verified that
and employing their aesthetic characteristic
removed. The two other series represented in
the top of bell towers where bells are rung is
within the contemporary art circuit. Recently, he
this show also resort to an approximation with
the nearly exclusive domain of bell ringers (who
made a series of works in which he appropriated
the popular realm, although they seek different
in olden times were mostly slaves): neither the
materials characteristic of that same circuit, such
formal solutions. In Teares de Timbaúba [Looms of
churchgoers nor the priests themselves go up
as artwork labels and materials used in setting up
Timbaúba], the artist focuses on explorations of
there. That is, the artist recovers the visuality
art exhibitions, using them to create temporary
geometric possibilities of the line, experimenting
of an event of fundamental importance in the
sculptural situations. These configurations
with different traces made by pencil and oil
social fabric, whose image over the centuries
were only maintained during the period of the
pastel on a neutral paper background, thus
has nevertheless been programmatically and
exhibitions they were shown in, dissipating after
producing a starker result. For its part, the series
methodically hidden and even denied”. Thus, in
their end, when these materials were returned to
Fachadas do Nordeste [Facades of the Northeast]
contrast to the excessive visibility of the image
their places of origin and ceased to be considered
consists of small-format paintings made in
of the bell and the church in both the refined
as art.
acrylic on cardboard. In this case, taking popular
and popular pictorial depictions, what Lobato
architecture as a motif, color and line seem to
offers us is a ritual which, despite being carried
for the show Além da Vanguarda, Matheus also
possess equivalent weight.
out systematically over the centuries, remains
operates with a re-signification of existing
concealed.
materials. Here, he seeks to dialogue directly
Shown here on a national scale and in a way
For the two new commissions he produced
with the local history of the power of the
PABLO LOBATO
that brings us behind the scenes of the church,
agrarian elites in the state of São Paulo and
The work by the Minas Gerais artist Pablo Lobato
to within the niche where the risky and nearly
the commercial transactions they made with
featured in the show Além da Vanguarda presents
erotic choreography of the bell ringers transpires,
England in the early 20th century, when the term
a recurrent and highly symbolic image in the
Bronze Revirado retains all of its human character,
world of popular art: the church bell. In the
revealing as suggested by Crivelli Visconti, “a sort
these pieces, he gathers a series of documents
history of the Bienal Naïfs do Brasil, there have
of pagan trance […] which rips the stasis and the
relating to various commercial transactions
been countless artworks in which church bells
silence, to install the ecstasy”.
between Brazil and England and arranges them
figure in scenes of public squares or festivities,
In this case it is we who glimpse in the
“globalization” was still unheard of. In one of
on a bidimensional surface, thereby conferring
always perched at the top of the bell towers of
background, through the opening of the bell tower,
materiality to a system based on transatlantic
small churches in small cities and towns. It is
the public square, the regional festivities or the
trade, the accumulation of capital, and the
precisely in Minas Gerais, Lobato’s state of birth,
landscape of the small interior town.
exploitation of slave labor. In the second work,
where some of the most precious churches of
he uses papers from that same period that were
the baroque period are found. It was there that
used to wrap oranges exported from Brazil to
the artist carried out a research into the bells of
RODRIGO MATHEUS
England. These oranges were wrapped one by one
different cities, many of them deactivated today,
With a production that transits through different
in a delicate paper which bore the inscription of
an investigation that resulted in a series of works
media, in his art Rodrigo Matheus does not
its origin and the company’s logo. Here, Matheus
211
brings these papers back to their country of origin,
closer or farther away from the camera that
from one generation to the next down through
using them to construct a delicate bidimensional
records it, this unusual assemblage of boat-
the centuries. In their obsolescence in relation
wall piece in which they are used as small
and-trees floats adrift, without a course or any
to the society of mass production, many of these
decorative pennants of regional festivals and
intention of reaching land, since it constitutes,
techniques are currently nearly extinct, thus also
adorned with fishhooks and bait that recall the
in itself, a territory. We follow its drifting course
turning Auad’s work into an extensive research
large rivers in the interior of the state of São
without any expectation for the closing of a
and negotiation with each artisan involved.
Paulo. Through these material evidences, Matheus
narrative, allowing ourselves to be carried along
For Além da Vanguarda, the artist produced a
evokes a history of commercial transactions
by the duration of the event itself. Our interest is
set of five objects that are part of his Sleep Walkers
supported by slave labor and submitted to a
engaged only by the changes in framing caused
series, presented for the first time at MuHKA, in
systematic erasure, but whose echoes are still felt
by the relative distance or nearness of the
Antwerp, Belgium, in 2009–10. These objects are
in the social fabric of contemporary Brazil.
boat. Nevertheless, it continues floating as an
carefully produced using laces from different
enigmatic offering, full of a symbolism that we
origins, which the artist acquires already made,
are not able to decipher.
but which are then transformed into three-
THIAGO ROCHA PITTA
Scovino calls attention to the economy of
dimensional elements in the form of fruits or
In his essay entitled “Sobre como domesticar o
images in the work of Rocha Pitta, and to how
vegetables. Throughout this painstaking process,
imprevisível”, published on the occasion of the
his suppression of the excess of external “noises”
which requires extreme precision and ability, a
show Notas de um desabamento, by Thiago Rocha
allows for the appearance and manifestation of
Portuguese lace, for example, with its coarser
Pitta, held in 2010 at the Cavalariças da Escola
an interior, intimist story. In the case of Herança,
weave is cut and mended together, thread by
de Artes Visuais do Parque Lage, in Rio de Janeiro,
what he adds to the traditional representations of
thread, with an elegant piece of English lace, or
Felipe Scovino suggests that “Pitta’s work is always
landscape is only the temporal datum, which asks
Brazilian lace, in such a way that the transition
manifested as a landscape painting, regardless
for a moment of contemplation in the unfolding of
from the one to the other is nearly imperceptible.
of the support he works with or the sense of
the present time.
Upon careful observation, however, there are
invention he constructs”. And he goes on to state
perceptible nuances in the passage from one
that it is “a landscape that changes at the same
weave to the next, revealing the small but
time that this painting asks itself if it continues
TONICO LEMOS AUAD
significant differences that evidence not only
being painting or enlarges the artist’s research into
In his works, Tonico Lemos Auad begins with
the passage of a given know-how through the
other fields of poetic production”. The possibility
mundane materials to construct objects,
different cultures, but also the adaptations that
of mobilizing the theme of landscape paintings
sculptures and installations that generally depend
this technique undergoes in each country over
in the field of contemporary art and within the
on a delicate balance to exist. Within common and
the years. These fruits and vegetables made of
context of the exhibition Além da Vanguarda is one
insignificant contexts the artist carries out silent
lace are hung like light fixtures from the ceiling
of the interests of this curatorship, as it has to do
displacements that potentize the latent symbolic
and lit up from the inside, allowing us to observe
with a genre that has occurred throughout the
value of shapes and elements that normally
all of the details on their surfaces. Characterized
history of the Bienal Naïfs do Brasil.
go by unperceived, making them precious and
by the imprecision of manual production,
permanent. These operations invariably involve
however, they present an organic aspect, seeming
[Heritage], where we see a small wooden boat that
a specific handicraft skill that is characteristic
to sprout from the ceiling like exotic plants that
forms a nearly surrealist image, carrying a pair
of certain regions or cultures and associated
result from the uncommon crossing between
of trees in the midst of the high seas. Sometimes
to traditional materials and techniques passed
tropical and European seeds.
Here, we present Rocha Pitta’s video Herança
212
Biographies Beyond the Avant-Garde
the flaws in perception, the limits of scientific
and participated in the 30th Bienal de São Paulo.
knowledge, and others, producing a multifaceted
Besides his artistic practice, Daniel Steegmann
oeuvre that seeks to activate the viewer’s vision
Mangrané organizes the experimental art school
and disconcert his/her understanding. Since the
Universidade de Verão, promoted by Capacete, a
1990s, she has been working with activities as
multidisciplinary platform of artist’s residencies
an art critic, curator and docent in parallel with
and educational programs headquartered in Rio
her artistic practice. She participated in the 28th
de Janeiro.
Bienal de São Paulo (2008) and the Bienal del Alexandre da Cunha
Fin del Mundo de Ushiaia, Argentina (2007). Her
[Rio de Janeiro, 1969. Lives and works in London]
work has been featured in shows held at various
Federico Herrero
Alexandre da Cunha normally uses common
international institutions, such as musac, in León,
[San José, 1978. Lives and works in San José]
objects from various origins, such as beach
Spain; LentSpace, in New York, usa; the Museu
Federico Herrero’s work is particularly influenced
towels, car tires or household utensils to create
de Arte Moderna Aloísio Magalhães, in Recife,
by the cultural and political traditions as well
his sculptures and installations. A significant
Brazil; and Kunstverein Munique, in Germany. She
as the fecund nature of the country of his birth,
part of his recent works make direct reference
has participated in various artists-in-residence
Costa Rica. His works with intense coloring
to the geometric-constructive legacy of Brazilian
programs, including at Air Antwerp, Belgium; hiap,
oscillate between figuration and abstraction,
modernism. Even though these works are
Finland; and iaspis, Sweden.
challenging the traditional categories of painting.
stylistically close to this production, however,
Besides paintings on canvas, Herrero generally
they fundamentally retain the same principle
produces site-specific works that blend various
of the “collage” of various ready-mades that
Daniel Steegmann Mangrané
sources of inspiration such as street signs, graffiti,
characterizes his work as a whole. Alexandre da
[Barcelona, 1977. Lives and works in Rio de
tropical plants, the colorful houses in rural areas,
Cunha has participated in various international
Janeiro]
and the shapes and icons of the cityscape. In 2001,
exhibitions, including the Venice Biennale (2003),
Daniel Steegmann Mangrané’s work extends
Herrero received the prize of Best Young Artist at
the San Juan Triennial (2009) and the group show
over various media and oscillates between subtle
the Venice Biennale. He has held solo shows in
Panamericana (2010). This year, he is taking
and poetic experimentations, simultaneously
countless international museums in countries
part in the 30th Bienal de São Paulo. His work is
characterized by a certain rawness in their making.
such as Germany, Italy, Japan and Colombia.
featured in the collection of important public
Although his research is mainly of a conceptual
His work figures in the collections of Mudam,
and private institutions such as those of the
nature, his artworks demonstrate a strong
in Luxembourg, and the Museu Santander, in
Instituto Inhotim (Brazil) and Tate Modern (United
concern with the concrete manifestation of the
Spain, as well as the 21st-Century Museum of
Kingdom).
objects and with the phenomenological effects of
Contemporary Art and the Hara Museum of
the relation between habitat and language. Born
Contemporary Art, both in Japan.
in Barcelona, the artist has been living in Brazil Carla Zaccagnini
since 2004. In 2011, he held the solo show Four
[Buenos Aires, 1972. Lives and works in São Paulo]
Walls, at Galeria Mendes Wood, in São Paulo, and
Felipe Arturo
In her work, Carla Zaccagnini develops themes
Duna econômica/maquete sin calidad, at Halfhouse, in
[Bogotá, 1979. Lives and works in Bogotá]
such as the impossibility of translation, the
Barcelona. In 2012, he was awarded a fellowship at
With a degree in architecture from the
partiality of the perspective of the museum,
Junge Akademie at Akademie der Kunste, in Berlin,
Universidad de Los Andes, in Bogotá, Felipe Arturo
213
obtained his master’s degree from Columbia
grant from the Instituto de Cultura Hispânica,
participating in exhibitions held in Norway and
University, New York. He worked for three years
making trips around Europe and participating
Uruguay. His work figures in the collections of
with Colombian artist Doris Salcedo, in Bogotá,
in exhibitions in various cities of Spain. In 1965,
the Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte,
and for one year with Chilean artist Alfredo
back in Brazil, he moved to Rio de Janeiro where
and the Centro Cultural Banco do Nordeste,
Jaar, in New York. His work is focused on the
he developed his work in dialogue with the
Fortaleza.
intersections between urbanism, architecture, the
generation of young artists linked to mam-rj. From
history of cities and art, constructing temporary
then on, his work began to develop along different
structures that can be discovered through the
conceptual lines in a long path that includes
Rodrigo Matheus
time-based image or spontaneous happenings
works in different media, such as musical scores
[São Paulo, 1974. Lives and works in London]
and encounters within the space. Besides his
of random music, artist’s books, installations,
Linking together various media of different
artistic activities, Felipe Arturo is an associate
objects, records of performances, as well as his
natures — mobile and static, constructed
professor with the Department of Visual Arts of
poetic production contained in ten published
and found — Rodrigo Matheus’s work is
the Universidad de Bogotá Jorge Tadeo Lozano.
books.
full of elements of design, architecture and
His work has been featured in solo and group
landscape. Stripping his work of evidences
shows in various countries, including Spain, the
of manual practice, the artist’s approach is
United States, France and Portugal, and figures
Pablo Lobato
above all to modify and recombine materials,
in collections such as that of Patricia Phelps de
[Bom Despacho, 1976. Lives and works in Belo
lending them other aspects and establishing
Cisneros, New York and Caracas; Colección Jumex,
Horizonte]
new relations among objects. The result is a
Mexico; Colección ArtNexus, Colombia, and
Having begun his career in the field of cinema,
fertile production where elements from daily
others.
in recent years Pablo Lobato has gravitated
life or lacking intrinsic value are presented in a
to the visual arts circuit. With continuing
precise and elegant way, gaining new symbolic
interest for audiovisual production, his work is
meanings. Matheus has held solo shows at
Montez Magno
currently developed in an indeterminate zone
various institutions such as the Museu de Arte da
[Timbaúba, 1934. Lives and works in Recife]
between these disciplines. Lobato was one of the
Pampulha, Belo Horizonte (Centurium, 2004), the
Montez Magno began his artistic career in Recife,
creators of Teia — Centro de Pesquisa Audiovisual,
Centro Cultural Maria Antônia, São Paulo (A Volta
in 1954, when he entered the Escola de Belas
headquartered in Belo Horizonte since 2002.
da Arquitetura, 2005), Galeria Fortes Vilaça, in São
Artes and began to study painting and drawing.
In 2011, he was conferred the Prêmio Sergio
Paulo (O mundo em que vivemos, 2008, and Handle
Still in that decade, he produced his first abstract
Motta de Arte e Tecnologia and was selected
with Care, 2010), and Galeria Silvia Cintra & Box 4,
works, held solo shows and participated in group
for the Programa Rumos Artes Visuais. He is
in Rio de Janeiro (2006, 2010). Recent group shows
exhibitions in Pernambuco, Rio de Janeiro and São
currently working on the completion of the film
he has participated in include Mitologias, at the
Paulo. At the beginning of the 1960s, he began to
Ventos de Valls, which derives from an action
Cite Internationale des Arts, Paris (2011), the 32nd
reside in São Paulo while continuing to show his
realized in Spain in 2009, financed by the John
Panorama da Arte Brasileira, at mam de São Paulo
work frequently in various cities around Brazil. In
Simon Guggenheim Foundation of New York.
(2011), and The Spiral and the Square, at Bonniers
that period, he began to explore freer shapes in
In 2011, he took part in the show Panorama da
Konsthall, in Stockholm (2011).
his painting, with series that oscillate between a
Arte Brasileira, at mam-sp, and the 17th Festival
more expressive language or an organic geometry.
Internacional de Arte Contemporânea sesc-
He spent the year 1964 in Madrid, Spain, on a
Videobrasil, at sesc Belenzinho, São Paulo, also
214
Thiago Rocha Pitta
and the supernatural are part of his imaginary
[Tiradentes, 1980. Lives and works in São Paulo]
repertoire. But beyond the playful aspects, his
Thiago Rocha Pitta was born in the historical
work also evokes a darker and more mysterious
city of Tiradentes and moved to Petrópolis
side of existence, since the awareness of death
during his teenage years, remaining there until
and the brevity of life are always present. Auad
1999, when he moved to Rio de Janeiro to study
has exhibited widely on the international scene,
visual arts at ufrj and take open courses at eav/
with works that investigate materiality, sensuality,
Parque Lage. He began his career as an artist in
processes and relations between the public and
2001, when he began to hold interventions in the
the space of art. In 2007, he held a solo show
open air. Since the outset, his work has borne a
at Aspen Art Museum, in Colorado, which also
very close relationship with nature and matter,
published a monograph about his work. In 2011,
always articulated with ideas of temporality and
his work was shown at the Centro Cultural São
transformation. Whether working with pigments,
Paulo, at the Folkestone Triennial, in England,
earth, fire or water, his drawings, paintings, videos
and at the group exhibition Mitologias, at the Cité
and installations use images or natural processes
Internationale des Arts, in Paris.
that evoke existential questions at the same time that they carry out formal experiments. The collective exhibitions he has participated in most notably include A Time Frame, PS1-moma, New York (2006), the Singapore Biennale (2006), and Nova Arte Nova, ccbb-rj (2008). In 2010, he held a solo show at the Cavalariças da eav/Parque Lage and in 2012 he participated in the 30th Bienal de São Paulo.
Tonico Lemos Auad [Belém do Pará, 1968. Lives and works in London] Tonico Lemos Auad completed his master’s in visual arts at Goldsmiths College, in London (2000), the city where he has continued to live and work. The artist sometimes ignores properties intrinsic to the materials he uses in order to create lyrical and nonpermanent forms, using a vast sampling of materials ranging from the ephemeral and the everyday to the precious and the permanent. Notions of luck, randomness
215
216
textos en espaĂąol 217
Bienal Naïfs de brasil 2012 Más Allá de la Vanguardia
comunes para los habitantes de las grandes ciudades.
barómetros, etc. Que la importancia de una cosa hay que medir por el encantamiento que nos produce en nosotros. *
El reconocimiento de la importancia de los
Manoel de Barros
rasgos de identidad cultural de un pueblo es una de las marcas de la acción del sesc. Esta exposición a prueba la valoración de elementos
El sentido de encantamiento que Manoel de
que no se limitan a la vida cotidiana urbana.
Barros menciona en su poesía, cuando se
Cabe señalar que esta disposición va unida a un
transpone al campo de la apreciación artística,
DESARROLLO Y CULTURA BAJO UNA PERSPECTIVA PLURAL
pensamiento valioso a esta entidad, por lo que la
inspira una medida crítica para evaluar la calidad
comprensión de los fenómenos contemporáneos
de nuestras impresiones ante la obra de arte.
Abram Szajman
es más apropiada cuando contempla de forma
Esta medida requiere un tiempo dedicado a la
Presidente del Consejo Regional
integral múltiples facetas del desarrollo humano.
contemplación, momento esencial para que la
del sesc São Paulo
Al final, la visión de mundo de los que trabajan
obra pueda existir más allá de sus límites y para
en áreas de contacto directo con la sociedad, tales
que consiga refugio en nuestra memoria sensible,
El programa de centros culturales y deportivos
como el comercio, la prestación de servicios y el
por encantamiento o apatía, dejando un rastro de
del sesc refleja el compromiso de los sectores
turismo, debe caracterizarse por la capacidad
esta experiencia.
empresariales de comercio, prestación de
de darse cuenta de la interdependencia entre
servicios y turismo con el bienestar y la calidad
rural y urbano, el interior y la capital, las
los campos de colores, formas inusuales,
de vida de los trabajadores en estos sectores, de
ciudades más grandes y las más chicas, así
diferentes ángulos, paletas que coloren nuestra
sus dependientes y de la comunidad. Las acciones
como la responsabilidad de garantizar un trato
vida cotidiana y nos hacen cómplices de un
en varias áreas, que van desde los deportes al
equilibrado de las empresas de mayor o menor
imaginario antes reservado al universo de
turismo, desde la alimentación a la expresión
amplitud, sosteniendo las iniciativas locales, los
aquellos que conciben los modos de expresión,
artística, desde la cultura digital a la educación
símbolos de un crecimiento sustentable en cada
que simbólicamente representan maneras de ver
para la sustentabilidad, tienen como meta central
región. En este sentido, la Bienal Naifs de Brasil
e interpretar el mundo.
el uso eficiente y responsable de los recursos
revela la atención constante que el sesc dedica
proporcionados por sus mantenedores en favor de
a la concepción plural de desarrollo y cultura,
de una percepción sofisticada de su cultura
su público prioritario.
siempre pensando en estas dos dimensiones de
y transforma el espacio en blanco de la tela
manera interconectada.
en representaciones de las matrices de sus
Dentro de esta perspectiva, la realización de
A través de la mirada del artista, invadimos
El artista naif presenta relatos originarios
la 11ª Bienal Naifs de Brasil en el sesc Piracicaba
creencias, fiestas populares, escenas cotidianas
sigue con uno de los eventos más importantes
y las variables temáticas de las que se apropia
en el enfoque entre los lenguajes del arte y de
este arte. Registra su visión y poética acerca
la comunidad. Esta importancia se deriva no
Una medida de encantamiento
de las tradiciones y las contradicciones y de
sólo de la longevidad de la exposición, sino que
Danilo Santos de Miranda
los territorios que transitan entre lo rural y la
sobre todo del tipo de relación que ha estimulado,
Director Regional del sesc São Paulo
adquisición de lo urbano, debido a los cambios sociales y los contornos geográficos de la zona
a través del tiempo, entre artistas, obras y espectadores, pautada por valores y significados que contrastan como a los que se han vuelto
218
“...que la importancia de una cosa no se puede medir con una cinta métrica o con balanzas o
donde se vive. La riqueza de esta producción, y su aparente
simplicidad formal, mantiene viva sus
cuatro ediciones, con el universo de los artistas
MÁS ALLÁ DE LA VANGUARDIA
tradiciones expresivas. Estas características
contemporáneos.
Kiki Mazzucchelli
hacen del tema del arte naif sujeto de interés de
En su décima primera edición, la Bienal Naifs de
Curadora
algunos artistas contemporáneos, colaborando
Brasil busca mejorar el diálogo y el acercamiento
para diversificar el panorama actual, con la
entre la producción de origen popular y el arte
introducción
fusión o invasión de territorios consagrados del
contemporáneo. Desde esta perspectiva, el diseño
Desde comienzos de la década de 2000, la
que hacer artístico.
curatorial concebido por Kiki Mazzucchelli, y la
Bienal Naifs de Brasil presenta, en paralelo a
expografía de la muestra, ejecutada por Ana Paula
las obras seleccionadas por el jurado de la
de Brasil llega a su décima primera edición, ha
Pontes, actúan en consonancia, presentando un
sala, las llamadas de “Salas Especiales”, unas
llegado la hora de mirar hacia el pasado con el
cambio significativo, por lo que permite que se
exposiciones temáticas de menor escala que
fin de ampliar la percepción del camino recorrido
rompan y coexistan en el mismo entorno a los
la Bienal, que reúnen obras seleccionadas por
en su desarrollo a lo largo de trayecto, para
límites del espacio físico entre los premiados, los
un comisario artístico nombrado por el sesc.
actualizar el contexto de su realización y orientar
seleccionados y participantes de la sala especial.
Aunque siempre busquen un diálogo con la
las acciones futuras.
Esta desestructura de los compartimentos físicos
producción naif, en torno al cual se estructura
establece que las obras presentadas se compartan
este evento, se llevaban a cabo las muestras de
una exposición de arte naif formaba parte
con el público de una manera sin precedentes en
las “Salas Especiales” tradicionalmente a parte
del proyecto Escenas de la Cultura “caipira”, que
la historia de la bienal.
del grupo principal, literalmente, en una sala
En el mismo momento que la Bienal Naifs
La primera iniciativa del sesc en presentar
tuvo lugar entre 1986 y 1988. Posteriormente,
Al abrigar obras de concepción popular que
aislada. Precisamente, esta separación física entre
la exposición se ha mantenido de forma
se oponen o dialogan con las manifestaciones
las dos muestras se utilizó para delimitar sus
independiente, y en 1991, se hizo más visible.
contemporáneas, el sesc reafirma los criterios
propios territorios, lo que permite que la lectura
Desde 1992, su realización se ha convertido en
de pluralidad y democratización que orientan
de la propuesta curatorial no se confunda con la
bienal y fue nombrada como Muestra Internacional
sus acciones socioculturales, un estímulo para la
selección del jurado, manteniendo así su cohesión
de Arte Ingenua y Primitiva. Este año, la muestra
reconstrucción de relaciones e intersecciones en
e integridad. Esto era por lo general un punto
recibió el premio al Mejor Evento de Artes
el ámbito de las artes.
importante, ya que muchas de las curadurías
Visuales del Interior del Estado, otorgado por la
Frente a las obras de la décima primera Bienal
pasadas incluían obras de fuerte afinidad estética
Naifs de Brasil, volvemos al poeta Manoel de
con las obras de los artistas naifs, lo que podría
A partir de 2004, la curaduría de la bienal
Barros, para que así sea el encantamiento que
sugerir posibles vínculos entre las obras y los
se la deben plantear los críticos convocados,
se produce en nosotros la medida para nuevos
significados no eran necesariamente los deseados
dando paso a un formato que proporcionó un
encuentros con el arte, lo que nos conmueve de
por los curadores.
cambio significativo en su diseño, añadiendo
forma variable en intensidad, en un proceso que
una sala especial y abrigando obras de artistas
no se agota nunca, por ser parte de la experiencia
celebra su 11ª edición y los 20 años de existencia,
contemporáneos. Esta propuesta ha permitido
y del desarrollo humano.
la propuesta del sesc es buscar una relación
apca Asociación Paulista de Críticos de Arte.
En el 2012, cuando la Bienal Naifs de Brasil
diferentes enfoques, relaciones y lecturas sobre
más estrecha entre la producción de arte naif
la producción de arte naif y ha estimulado el
y la contemporánea. A partir de este enfoque
diálogo acerca de esta expresión artística en el contexto actual. Por lo tanto, esta producción con inspiración popular ha intervenido, en las últimas
1 Poema "Sobre importâncias", Manoel de Barros. In
de acercamiento, el primer movimiento de la
Memórias inventadas: a segunda infância, editorial
curaduría fue el de abolir la separación física
Planeta, São Paulo, 2006.
entre las obras del espacio de exposiciones y las
219
de la “Sala Especial”. Con este acto, la intención es
la Bienal Naifs de Brasil, y es también el tema del
(1) a menudo tienen lugar fuera de los grandes
romper la rigidez artificial de las categorías que
texto de Edna Matosinho Pontes — quien formó
centros urbanos; (2) tienen lugar a parte del
abarcan estos dos géneros artísticos, asumiendo
parte del jurado de la Bienal de 2012 — el cual se
conocimiento erudito del arte occidental y
que su coexistencia en el mismo ambiente va
publica en este catálogo. En su texto, la autora
de las vanguardias europeas del siglo xx; (3)
a contribuir a una experiencia más libre de las
llama la atención sobre el juicio de valor negativo
tienen algún tipo de conexión profunda con las
obras por parte del público y a una vivencia
incrustado en algunos términos frecuentes, como
necesidades inmediatas de una comunidad en
menos prescrita por los recortes curatoriales que privilegian el método tradicional de categorización del arte. También vale subrayar
“primitivo”, o incluso naif (ingenuo), y comenta que en la actualidad se suele utilizar el término
particular, sean estas de naturaleza religiosa, mítico, comercial, decorativa, práctica, etc.,
“Arte Popular” como una categoría más apropiada
teniendo así un carácter más colectivo. Aquí
el empeño de eliminar posibles distinciones
para cubrir la diversidad creativa de las prácticas
se incluirían, por ejemplo, el arte indígena, la
jerárquicas entre la muestra seleccionada por
como las que son objeto de esta Bienal. Marta
artesanía popular en el noreste, los folclores
el jurado y la muestra de la “Sala Especial”. Al
Mestre, también del jurado de esta cuestión,
regionales, el arte africano, entre otros. Asimismo,
extinguir la existencia física de esta última, la
propone, a su vez, un cuestionamiento expandido
cabe decir que no lo propongo como una
intención es que también se extingue con todas
acerca del mismo problema, emplazándolo dentro
categoría completamente diferente de lo que
las asociaciones relacionadas con un supuesto
de un panorama mundial e histórico. En segundo
llamamos arte contemporáneo. De hecho, es
valor simbólico más alto de las obras que
lugar, cuestiona el papel de los comisarios de
común que las obras de arte van más allá de
componen la curaduría invitada. Estas obras, que
arte en la difusión de lo que llama de "arte
una categoría o que no se encajen en ninguna, y
se comercian en el mercado contemporáneo,
espontáneo", señalando algunas paradojas
los numerosos ejemplos incluyen, entre otros, la
invariablemente poseen un valor de mercado más
teóricas e interpretativas que, en última instancia,
participación de Hélio Melo en la 27ª Bienal de
alto y transitan en el circuito glamuroso de las
refuerzan su carácter subordinado en relación
São Paulo, comisariada por Lisette Lagnado, la
grandes ferias de arte y bienales internacionales.
al arte moderno y contemporáneo. Así que, en
apropiación de elementos de la “civilización del
Aquí, sin embargo, se infiltran en obsequioso en
vista de la amplitud de estos dos textos y la
nordeste” en la arquitectura de Lina Bo Bardi
un territorio que tradicionalmente pertenece
profundidad con que tratan el problema de la
o la producción de los internos de Engenho de
al naif, discretamente señalando o enfatizando
terminología asociada a la producción no erudita,
Dentro. En el caso de Más Allá de la Vanguardia,
ciertos aspectos comunes a las dos producciones
no me extenderé sobre el tema en este texto
se trata de crear una situación propicia para la
o para producir significados que sólo emergen en
breve de presentación.
desestabilización misma de estas categorías. La
su relación con el naif.
Sin embargo, para fines relacionados con la
idea es que, por una parte, la proximidad física
propuesta curatorial de Más Allá de la Vanguardia,
entre “populares” y contemporáneos va a permitir
el naif, o cualquier otra cosa que esté fuera
se debe tener en cuenta que propongo aquí una
que se dé una serie de fricciones productivas en
Pero es curioso observar, sin embargo, como el
comprensión más amplia de lo que, como sugiere
el espacio de exposición a partir de los propios
problema de la percepción diferenciada acerca
Matosinho Pontes, sería más apropiadamente
contenidos estéticos de las obras expuestas y,
del valor de estas dos producciones también se
designado como "arte popular". Sin los
por otra, provocará un cuestionamiento acerca
refleja en la terminología que se emplea para
conocimientos específicos o profundizados de
de los propios límites que se imponen a las
designarlas. La cuestión del uso inadecuado de
la amplia diversidad de prácticas abrazadas
diferentes producciones artísticas, los discursos
la palabra naif referente a una producción no
por este término, he optado por una definición
que producen, los circuitos en los que transitan y
erudita y no institucionalizada ya se ha tratado
más o menos suelta en la que, en mi opinión,
el valor asignado a ellos.
en diversas ocasiones en ediciones anteriores de
se incluyen todas las prácticas artísticas que:
220
bienal naifs de brasil y más allá de la vanguardia
disipa y colapsa. Se trata, por supuesto, de
arte que se lleva a cabo fuera del ámbito de la
una propuesta experimental que por su propia
tradición de las vanguardias europeas.
Es evidente que el interés y foco de mayor
naturaleza y por el calendario de ejecución
atención en este evento como un todo, en lo que
de la Bienal, no ha podido proceder desde un
seleccionadas aquí tienen algún tipo de relación
respecta a su tradición, alcance y público recae
proyecto completamente cerrado, debido a
específica con alguna de estas manifestaciones,
sobre la producción naif, para la propagación de
que la selección de obras que comprenden
sea en la manera en que se apropian de imágenes
la que se ha consolidado en la última década
el segmento de la curaduría se llevó a cabo
y temas recurrentes en las pinturas naifs (las
como una de las plataformas nacionales más
en paralelo a la selección del jurado, en la
campanas y la religión, en el caso de Pablo
importantes. Así que, la curaduría de obras
que, desafortunadamente, no pudo participar.
Lobato), o en la reinterpretación de un género
reunidas bajo el título Más Allá de la Vanguardia,
Trabajamos, por tanto, con un elemento sorpresa,
tradicional da pintura naif (el paisaje, en el
aunque con énfasis en la dicha producción
y dejamos para la etapa de montaje algunas
caso de Carla Zaccagnini y Thiago Rocha Pitta)
contemporánea, no trata de tomar la posición
decisiones con respecto a la colocación de las
o más bien en la apropiación de las técnicas
central que ocupa aquí el arte naif, sino que
obras en el espacio expositivo.
populares (bordados, en Alexandre da Cunha,
infiltrarse casi discretamente en el medio de la
De hecho, todas las obras contemporáneas
Forman parte de la selección del jurado en
el encaje, Tonico Lemos Auad, las banderolas
muestra principal de las obras seleccionadas
esta edición de la Bienal 70 obras de 55 artistas,
de las fiestas populares en Rodrigo Matheus).
por el jurado. Sin embargo, aun consciente de su
la mayoría de las cuales, dimensiones. En sus
Montez Magno, a su vez, estará representado
lugar secundario, también es una tarea ambiciosa,
textos correspondientes en este catálogo, los
con obras de tres series diferentes, producidas
ya que la condición misma de posibilidad de
jurados Juliana Braga y Paulo Klein — quien ha
en los años 1970 y 1990, en las que aborda el
la exposición Más Allá de la Vanguardia es su
sido curador de la muestra en 2004 — hablan de
legado geométrico del arte popular. Se trata
existencia en relación a las obras naifs.
unas cuestiones y desafíos con los que se han
de una muestra pequeña, pero valiosa, de la
enfrentado durante el proceso de selección en
obra de este artista de importancia histórica
otra obra del segmento principal, sino que pasa
2012. Según sus relatos, el jurado trató de reunir
cuya producción experimental e innovadora ha
a incorporar todas las obras que componen la
obras que fueran la expresión del aspecto vivo y
desarrollado desde finales de la década de 1950.
Bienal Naifs de Brasil. Así que se convierte en una
pulsante de la producción popular, por lo que se
Además, por primera vez en la historia de la
especie de parásito de gran tamaño que crea
evitó aquellas que intentan reproducir un estilo
Bienal Naifs de Brasil, contaremos con la presencia
a la Bienal, a la vez, una exposición con otra
consagrado. La selección de la curaduría, a su vez,
de tres artistas extranjeros, cuya participación
propuesta completamente distinta. Es decir,
incluye 21 obras de 10 artistas, dos de las cuales
contribuya a ampliar el debate sobre la relación
ambas exposiciones se suceden en el mismo
han sido comisionadas precisamente para esta
entre lo contemporáneo y lo popular más allá
período y en el mismo espacio físico, a pesar de
exposición, y una tercera tiene lugar fuera del
de regionalismos y nacionalismos. Uno de ellos,
que las premisas de las que parte cada una de
espacio de exposiciones del sesc Piracicaba. En
Daniel Steegmann Mangrané, catalán radicado en
ellas las hagan proyectos totalmente diferentes.
la elección de las obras, tratamos de encontrar
Rio de Janeiro, mira hacia la cultura indígena de
La exposición de obras seleccionadas por el
trabajos capaces de crear situaciones que
Brasil y su producción de patrones geométricos.
jurado existe como tal, independientemente
fomenten el diálogo y las relaciones entre los
Federico Herrero, de Costa Rica, trabaja
de la curaduría de Más Allá de la Vanguardia,
segmentos naif y contemporáneo, basándose
principalmente con la pintura, explorando la
mientras que la segunda depende totalmente
sobre todo por la relación de estas obras con una
tradición latinoamericana de las pinturas murales
del conjunto de relaciones que establece
producción o con el lenguaje popular, entendidos
con el fin de popularizar el arte contemporáneo.
con la primera de existir. Aislada de esta, se
en sentido amplio, como toda la producción de
Es con gran alegría que aseguramos su
En este sentido, no sólo se apropia de una u
221
participación en esta exposición, en la que llevará
muros falsos y propone una ocupación del edificio
amplia y se ha tratado en muchos otros textos
a cabo una pintura en el edificio del sesc, en sitio
más ligera, los paneles utilizan un material que
escritos para bienales anteriores. El arte “ingenuo”,
(o sitios) que se determinará durante el montaje.
evoca a la vez cierta rugosidad (placa de madera
Igualmente gratificante ha sido poder contar con
en bruto, del tamaño que viene de la fábrica)
la participación del colombiano Felipe Arturo, que
y aspecto industrial (ya que es un material
desde hace algunos años viene desarrollando
industrializado). De este modo, llegamos a un
discusión que se implica repetidamente suele
un trabajo de arquitecturas temporales en las
diseño arquitectónico que está estrechamente
girar en torno a si es conveniente o no designar
que incorpora técnicas de construcción de los
alineado con la propuesta curatorial. El diseño
así esta bienal tan importante por su singularidad,
vendedores ambulantes de diferentes ciudades.
gráfico lo ha desarrollado Carla Caffé junto al
cuyo principal objetivo es el de hacer espacio para
Arturo va a hacer una pequeña residencia en
equipo del sesc y busca, igualmente, reflejar las
divulgar las obras de artistas no eruditos.
la ciudad de São Paulo, donde buscará a los
preocupaciones de esta curaduría.
vendedores ambulantes locales para desarrollar
Por último, me gustaría agradecer en gran
“inherente”, “primitivo”, “popular”, por lo general figura entre diversas formas de designación. El término naif se refiere a la ingenuidad. La
Abordó muy bien la cuestión Olívio Tavares de Araújo, cuando ha sido comisario de la sala
un proyecto en el balcón adyacente a la sala de
medida al personal del sesc Piracicaba por
especial de la Bienal Naifs de Brasil en 2008, al
exposiciones del primer piso del edificio del sesc.
el apoyo y entusiasmo en todo el proceso de
decir: “En la práctica, sobre todo por la influencia
Buscando una traducción más exacta de las
diseño y realización de este proyecto. Gracias
en Europa del Este, donde este tipo de arte existe
ideas curatoriales en el espacio de exhibición, la
al compromiso de todos y el trabajo en equipo,
en grandes cantidades; el título naif a menudo se
expografía de la muestra se desarrolló en estrecho
hemos sido capaces de asegurar la valiosa
aplica a artistas menos contundentes... Conocen
diálogo con la arquitecta Ana Paula Pontes,
participación de los artistas y los miembros
distintos procedimientos técnicos eruditos, saben
responsable del proyecto. Hemos optado por una
invitados del jurado y de realizar cada etapa del
muy bien dibujar y mezclar los colores para
arquitectura que no reforzara el carácter “popular”
proceso con el debido cuidado y atención. Juliana
crear degradados agradables en sus paisajes...”.
de las obras naifs, con énfasis en materiales o
Braga y Daniel Hanai han sido especialmente
Es exactamente cuando se toma en cuenta
colores que evocaran el universo, permitiendo así
pacientes y atentos a las demandas de la
esta definición y se enmarca el “naif” dentro de
a las obras expresar sus propios contenidos sin la
curaduría desde el principio, comprendiendo
una perspectiva técnica específica que se debe
necesidad de refuerzo externo. Al mismo tiempo,
la ambición de este proyecto y contribuyendo
cuestionar este nombramiento.
tampoco seguimos la estética del “cubo blanco”
en gran medida a soluciones ingeniosas a los
utilizado tradicionalmente en exposiciones
problemas de naturaleza práctica y conceptual
contemporáneas, en busca de, al contrario,
que han surgido en nuestro recorrido.
No existe propiamente un consenso acerca de la terminología que mejor se aplica. El término “primitivo” suele integrar un juicio de valor
incorporar las características propias del edificio,
negativo que lo deprecia. El término “inherente”,
que no ha sido construido específicamente para
que equivale a espontáneo, aunque en muchos
abrigar exposiciones de arte, presentando una
aspectos puede considerarse como adecuado,
de la Bienal, la arquitecta desarrolló un sistema
UNA REFLEXIÓN SOBRE LA BIENAL NAIFS DE BRASIL
de paneles de exposición confeccionados con
Edna Matosinho de Pontes
placas de madera contrachapada en bruto, sin
Coleccionista, investigadora y galerista
serie de interferencias visuales. Para esta edición
pintura, apoyados por soportes metálicos. Además
poco se lo conoce y utiliza. La tendencia que se observa en la actualidad es utilizar el nombre “arte popular” para describir la producción artística no erudita. Esto no quiere decir que sea la mejor definición, pero es la que especifica con mayor
de preservar la transparencia del espacio de
La terminología que se utiliza para definir este
precisión el tipo de arte a la que nos referimos, por
exposición, por lo que evita la construcción de
tipo de arte presentada en la exposición es
lo que su uso se adoptó como el convencional.
222
La concepción del arte popular como la
del planteamiento, la originalidad, y de igual
hacia el diálogo entre el arte popular y el arte
expresión viva de la creatividad del alma de
modo subrayamos el uso de técnicas y materiales
contemporáneo, comisariada por Jacopo Crivelli
nuestro pueblo y que, por medio de su fantasía,
presentes en esta exposición.
Visconti. Esta exposición puso de manifiesto
reinventa la realidad a su manera, ha orientado
La gran mayoría de las obras enviadas se
que este diálogo es posible y tiene una fluidez
nuestro trabajo como jueces de la Bienal de
compone de pinturas en óleo o acrílico. Grabados
que surge de forma natural. En el texto escrito
2012.
en madera, obras tridimensionales en cerámica
para la exposición, Crivelli Visconti dice “... de
y piedra han sido poco frecuentes, además se
la necesidad de reconstruir la fractura, reciente
un grupo heterogéneo en cuanto a experiencia
observó pocas esculturas en madera, las cuales
e innecesaria, que divide a la práctica artística
profesional, pero que funcionó como un
representan bien en el universo del artista
en mundos apartados, que a su vez deberían
verdadero equipo. La selección de obras se
popular.
abordar y entender una vez más, así, de otra
Fue una gran satisfacción poder trabajar con
llevó a cabo de manera cuidadosa, reflexiva y
La representación de la memoria de un tiempo
manera. De la convicción de que es saludable
democrática. Algunas normas han sido acordadas
que ha pasado es parte de la experiencia de las
y deseable la proximidad de diferentes obras
en la elección de obras a exponer. Tomamos
personas mayores, que han vivido esa época.
y pensamientos, es lo que da forma y define el
en cuenta la experiencia y la formación de los
En esta ocasión, por ejemplo, vimos belleza,
espíritu de una nación, una cultura... en fin, del
artistas. Tratamos de evitar la inclusión de obras
sensibilidad y sinceridad en el trabajo de Maria
deseo de una convivencia más frecuente de un
de artistas que han tenido la influencia de una
Caldeira Bochini, artista de 82 años. En la obra,
intercambio fructífero y constante de ideas...” Son
formación artística específica o cuya obra retrata
notamos la sobriedad nostálgica, la economía de
proposiciones que comparto por completo.
situaciones no acordes con sus condiciones de
colores y la ausencia de detalles superfluos. No
vida. Para ello se analizó también sus biografías.
es de ninguna manera un retrato ablandado y
brasileños en esta 11ª Bienal Naifs de Brasil, hago
adornado innecesariamente.
aquí un pequeño comentario — pensando en
La iniciativa del sesc en valorar y promover este tipo de producción a cada bienal que se
La excepción en cuanto a obra tridimensional
A pesar de la alta representación de los estados
próximas bienales: cuánto sería gratificante
repite desde hace varios años es realmente
es una cabeza impresionante hecha de hierro
en términos de diversidad de técnicas y uso de
encomiable. Son pocas las oportunidades
por Evandro Soares. Demuestra originalidad,
materiales, un presencia geográfica más amplia
que tiene el artista popular de llamar tanta
habilidad, ingenio e incluye el movimiento a
con la inclusión y el aumento de la cantidad de
atención y ganar espacio para mostrar su trabajo.
través de un sencillo mecanismo que hace girar a
obras de estados ricos en producción de arte
Normalmente se excluyen de la exposición del
una hélice. Es un trabajo que sugiere el esfuerzo y
popular, especialmente los del noreste.
circuito del arte — y, por lo tanto, su trabajo suele
la perseverancia en la detallada realización.
subvalorarse. Esta vez se presentaron 536 obras (cada artista
A diferencia de otras ocasiones, donde había un espacio separado para sala especial diseñado
con dos en competencia), en representación
por el comisario, la comisaria Kiki Mazzuccheli
LO INESPERADO EN EL ARTE
de veinte estados de Brasil. Tuvimos una serie
decidió exponer igualmente en el mismo espacio
Marta Mestre
de temas muy comunes en el arte popular:
obras contemporáneas, lado a lado con el arte
Crítica e historiadora de arte
paisajes urbanos y rurales, festivales populares
popular. Esto refleja y refuerza el valor de la
(típicos y religiosos), escenas de la vida cotidiana,
producción de los artistas populares, la marca
Nuestra mirada se transforma mucho más
representaciones de problemas actuales.
registrada de la bienal de Piracicaba.
que el arte. Nuestra perspectiva de las cosas
Buscamos a considerar, además de la maestría
La Galería Pontes, dirigida por mí, promovió
de la realización, la sensibilidad y la sinceridad
en 2009 la exposición Mecánica Inexacta, mirando
se emancipa de manera cerrada y discursiva, y existe como un enmarañado emocional
223
que articula una serie de imágenes y tiempos
nos llega de manera abrumadora, intensa y
circulando con comodidad entre la “alta” y la
perturbadora.
“baja” cultura. El arte espontáneo, es decir, la producción
El caso finlandés tiene contornos épicos, por
Este movimiento condujo a la necesidad de inventar un nombre para el “nuevo” arte: ITE art, “Itse Tehty Elama”, que significa “self made life”,
la sucesión de sus episodios, y por la manera
y establece la idea de que la vida existe por la
visual que se realiza aparte del mundo
como, en menos de treinta años, supo cómo
dimensión estética de cada uno de nosotros.
institucionalizado del arte, tiene un poder cada
llevar una gran visibilidad para un campo hasta
vez más expresivo de empatía y seducción, y
entonces ignorado. Comienza con la historia de
aspectos. Sugiero dos para reflexión en relación
esto es debido al debilitamiento de la rígida
Veli Granö, un artista contemporáneo que lleva
a los contextos de la Bienal Naifs de Brasil, en
distribución de géneros, temas y jerarquías a lo
a cabo una serie de fotografías “Onnela — Trip
Piracicaba.
largo del siglo xx.
to Paradise”, que son retratos de veinte artistas
Un poco por todas partes, y con mayor o menor grado de expresividad, notamos que el “arte espontáneo”, aquel que está siempre donde menos esperamos, donde nadie piensa en ello o pronuncia su nombre, tiene seguidores en todo el
folk y outsider en el contexto de sus mundos idiosincráticos. La serie se expone en 1986, en una
El caso finlandés nos hace pensar en muchos
En primer lugar: ¿Cuál es el significado del nombre “Bienal Naif”? La experiencia del jurado de este año, y la
galería de Helsinki, y produce interés inmediato
consulta de la documentación de ediciones
de múltiples capas de la sociedad.
anteriores, refuerza una vez más que la
El ejemplo de Finlandia está lleno de eventos
producción que llega a Piracicaba proveniente
mundo y lleva a cabo un camino excepcional de
muy fuertes en la creación de una estética de
afirmación, ya sea en Brasil o... en Finlandia.
cuerpo entero con el apoyo del Estado: la apertura
“naif”. Se trata de un término limitado para las
del “Contemporary Folk Art Museum” (en la ciudad
imágenes que están demasiado inquietas, un
de Kaustinen); el liderazgo en el programa europeo
término que no tiene en cuenta sus diversos
En 2006 viajé a Finlandia y tuve la oportunidad de visitar a artistas y producciones del llamado “arte espontáneo”. Fue una experiencia intensa en
“Equal Rights to Creativity — Contemporary Folk
de todo Brasil va más allá del universo del arte
orígenes e improbables procedencias artísticas,
la que he podido darme cuenta de la importancia
Art in Europe”, en colaboración con Hungría, Italia,
como puede ser el caso del arte indígena, el arte
simbólica, cultural, económica y de identidad
Estonia y Francia, al que se asoció una editorial
de los enfermos mentales, el arte realizado en los
que puede tener este campo artístico. Tomar
para publicar ediciones de alta calidad de las
estados alterados de la percepción, por citar unos
conocimiento de la producción brasileña que
obras de los artistas “espontáneos”; la exposición
cuantos ejemplos.
llega ahora a la Bienal de Piracicaba me hace ver
“In Another World” llevada a cabo en el Museo
Incluso podemos hablar de “insuficiente” sobre
que, a pesar de que son países de realidades muy
de Arte Contemporáneo de Helsinki — Kiasma,
el término naif para el universo de los artistas
distintas, hay un rasgo común que da unidad a
una selección de lo mejor del arte espontáneo
que han pasado por las bienales de Piracicaba,
sus producciones visuales.
finlandés, a la par de los artistas históricos de
si recordamos lo que Freud escribe a propósito
las colecciones europeas (Alain Bourbonnais,
de “fetiche”, uno de los elementos que mejor
caracterizar este tipo de producción es muy
Aloïse Corbaz, Madge Gill, Chris Hipkiss, Giovanni
caracteriza la naturaleza de las imágenes de naif.
amplia: arte naif, el arte outsider, art brut, raw art,
Battista Podesta, Henry Darger o Adolf Wölfli); y la
Al introducir el concepto del “fetiche”, Freud1
folk art, arte visionaria, “ambientes visionarios”
condecoración, en el año 2007, de Veli Rönkkönen,
se refiere al hecho de que este forma una imagen
etc., sin embargo, es el mismo orden imaginario
uno de los artistas fotografiados veinte años antes
totalitaria. La imagen del fetiche es una imagen
y de creencia, imágenes que parecen salir de
por Veli Granö, con el “Finland Prize”, premio
un Edén acabado de descubrir, y que están
nacional otorgado por el Ministerio de Cultura,
densamente pobladas de anacronías y obsesiones.
por su trabajo que recibía la atención del curador
souvenirs-écrans”, en Psychopathologie de la vie
Supervivencias de una “historia sin nombre” que
internacional Harald Szeemann.
quotidienne, Payot, París, 2004.
La jerga que utilizan los expertos para
224
1 Sigmund Freud, “Souvenirs d'enfance et
cultural confinada. Por relacionarse mucho más
el potencial para generar un magnífico efecto de
especie de pausa de la mirada. De acuerdo con
a la vida que al arte (como la poesía de Joseph
espejo, que, bajo el velo de la exposición de los
Freud, lo que constituye el fetiche es el momento
Beuys, artista alemán a quien la vida existía por
demás, deja pasar las observaciones acerca de
de la historia donde para la imagen, como si fuera
la dimensión estética de cada uno), garantiza la
nosotros, de nuestra cultura, nuestras nociones
la detención de un fantasma. El fetiche es todavía
longevidad al campo artístico de que se habla.
de arte, nuestros valores y actitudes.
“estanque” o “inanimada”, que se asemeja a una
Un segundo aspecto a considerar: ¿De qué
Un ejemplo claro de este paradigma más
Es por eso que la mirada de asombro del naif
manera el curador puede dar visibilidad al “arte
antropológico que estético fue la exposición Les
a menudo nos parece cristalizada, un eterno
espontáneo”?
Magiciens de la Terre, llevada a cabo en el Centro
un velo, una cortina, un “punto de recalcadura”.
retorno. Como afirma Laymert Garcia dos Santos:
La curaduría es esencial para llevar al campo
Georges Pompidou, en 1989. Se agrupó por primera
codificado de las artes visuales expresiones
vez el arte contemporáneo occidental al arte
del corazón”, y añade que: “el efecto mágico se
características de la vida común, de la vida
proveniente del resto del mundo, y de diversas
produce en el ojo, este cristaliza la imagen”2.
cotidiana, el territorio doméstico, el vacío rural,
categorías. Esta exposición dio sentido a lo que
el mundo indígena, primitivo, de los estados
Hans Belting designaría “arte global”3, que “en su
de las imágenes naif tiene sentido absoluto
alterados de la percepción, entre otros. “Mundos”
nueva expansión, puede cambiar sustancialmente
cuando uno lamenta que el artista “naif” copia
que paulatinamente han venido a formar parte de
el concepto de lo que es el arte contemporáneo y
una fórmula que ha funcionado, y que la repite
las agendas y programaciones de los museos, pero
el arte en general, porque se encuentra en lugares
una y otra vez. Pero esto no es una respuesta a un
que irónicamente, revelan su papel regenerador
que nunca ha estado en la historia del arte y
mercado mientras tanto conquistado, sino que la
en el escenario de la crisis en la historia del arte
donde no hay tradición de museo”4.
naturaleza misma de la imagen naif: es necesario
moderno y contemporáneo occidental.
“el arte naif es el arte de la emoción, un grito
El punto de vista de Freud sobre la naturaleza
el juego de repetición de los elementos para que se produzca el fetiche.
La creciente importancia del “arte no
Por supuesto, en las palabras de Hans Belting, existe un argumento serio sobre el final de “la
autorizado” además refuerza el hecho de que
historia del arte como modelo de nuestra cultura
muchos críticos e historiadores ven en ella
histórica5, y una crítica sobre los lugares de
término “naif” es parcial para la producción
una especie de “burbuja de oxígeno” contra el
enunciación que tradicionalmente han producido
extensiva que llega a Piracicaba y limita la
poder homogeneizador de la globalización, a la
los discursos sobre el arte, y en este caso, sobre el
posibilidad de pensar el futuro de la Bienal.
estandarización de arte, y la su entorno cada vez
‘arte espontáneo’.”
A pesar de que siempre hubo problemas en
más inmovilizado.
Por su propia naturaleza circunscrita, el
encontrar un nombre cómodo para este campo
Sin embargo, esta potencia de regeneración
del arte, desde Jean Dubuffet a Roger Cardinal,
del “arte espontáneo” no se debe explotar en el
los finlandeses “han resuelto” el problema
circuito cerrado que primero ve la modernidad
mediante la invención del término que se
y luego la contemporaneidad, por etapas
menciona más arriba: “ITE arte”, que es más
interpuestas y como lugares inagotables a los
que un label de marketing unido a una política
que accedemos segundo la escafandra que nos conduce a una mayor profundidad. Consideramos que la capacidad regenerativa
2 Laymert Garcia dos Santos, “Regarder autrement”, en Histoires de voir (catálogo de la exposición)
del “arte espontáneo” tiene más que ver con una
Fondation Cartier pour l’art contemporain, París,
función antropológica, que relega una condición
mayo/2012.
estética a un segundo plano. Esta función tiene
Hay que recordar que el optimismo que existe en la actualidad sobre este campo artístico cada
3 “The Global Contemporary Art Worlds After 1989”, la exposición realizada por ZKM | Museum of Contemporary Art (de septiembre 2011 a febrero de 2012) utiliza la fecha de “Les Magiciens de la Terre” como un marco cronológico del concepto “arte global”: http://www.globalartmuseum.de/site/act_ exhibition 4 En http://globalcontemporary.de/en/exhibition 5 Hans Belting, O Fim da História da Arte, Cosac&Naify, p.12.
225
vez más conocido y reconocido ha vivido un régimen de apartheid cultural por muchos años. Como bien recuerda Michel Thévoz, “incluso en el
“descubrió”: el galerista, el jurado, el historiador etc.). Es por eso que estas imágenes son a menudo
descritas, mal etiquetadas, mal fotografiadas, mal
o de Guillaume Pujolle estaban en el purgatorio
utilizadas.
1975, se tuvo la audacia de introducir las obras
sujeto de la enunciación de modo a reconocer
de Adolf Wölfli y Heinrich-Anton Müller — desde
y desarrollar todas las consecuencias de la
sección designada de psicopatológica6. Como dijimos anteriormente, cada vez este apartheid se ha deshecho, sin embargo, todavía quedan algunas paradojas. Finalizo señalizando uno que creo que aún
Aurelino dos Santos
En el segundo caso, la “emancipación” se encuentra en una restitución de los lugares y del
—, eso se dio al ponerlos en aislamiento en una
“Debería haber aprendido a conducir un coche, pero decidí pintar cuadros.”
locos. Y cuando, en la Documenta V de Kassel, en
luego los más innovadores de toda manifestación
de Germana de Monte-Mor
“mal vistas”, y eso porque son mal dichas, mal
museo imaginario de Malraux, las obras de Aloïse
con el subtítulo anónimo e infame de dibujos de
en “Teimosia da Imaginação”,
“igualdad de las inteligencias”. Tal vez por eso algunas personas dicen que
Pintor popular, Salvador BA
El camino que lleva a esta Bienal Naifs de Brasil, en su 11ª edición, comienza en los años 1980 con exposiciones que, con pequeñas variaciones
siempre hay que buscar un trabajo de arte
en el título, llegan a 1992 (en la sexta edición)
espontáneo con su autor al lado, escuchando a su
como “Arte Ingenuo y Primitivo — Muestra
historia.
Internacional”, siempre con base en el sesc
Todo se pasa como si estos artistas, en lugar
Piracicaba, pero a veces se extiende a la agradable
de haber pintado, tallado o bordado, han narrado
ciudad del interior de São Paulo. A continuación,
sus vidas, sus mundos, los lugares de donde
la muestra pasó a tener lugar cada dos años,
Se trata de un paradigma pedagógico que
vienen y de donde todos hemos venido. Tengo
recibiendo el nombre de ‘Bienal Naifs’, una
se aplica a menudo al “arte espontáneo”, y que
mucha curiosidad por conocer la historia que
marca que ya se reconoce tanto en Brasil como
indefinidamente reconstituye la desigualdad que
cuenta Maria Caldeira Bochini en la tela en la
internacionalmente.
pretende suprimir, como si hubiera una igualdad
que tres chicas jugar sin juguetes, o que Carmela
como una meta y una “fractura” social, estética
Pereira me cante una canción que festejan sus
como bienal, ha sido coordinado durante años
y simbólica a eliminar. Es un juego dudoso que
seres carnavalescos. Pero muy especialmente, el
por Antonio do Nascimento, quien extendió
puede significar cosas completamente diferentes:
silencio en tonos pálidos intercambiados entre los
gradualmente su pasión por el segmento,
llevar los artistas a permanecer en su “paraíso
dos hombres de La barca del pescador, del pantanal
articuló e invitó a los artistas y críticos de arte
perdido”, viendo ahí la supervivencia de un
de Jefferson Bastos.
que tenían en estas ocasiones la oportunidad
genera importantes obstáculos.
arte que no se debería dañar, o construir su
Primero como un evento anual, y luego
de mantener contacto con una producción tan
“emancipación” con el fin de una “igualdad de las
específica y desarticulada, a menudo periférica
inteligencias” (J. Rancière).
o provincial, que mezclaba naifs ablandados,
Volver a la frescura creativa
bruts domesticados y primitivistas de varias
acomoda el arte y los artistas espontáneos en
Paulo Klein
generaciones. Contando inicialmente con un
subordinación y no les da ninguna voz. Privados
aica Association Internationale des Critiques D’Art
formato de muestra competitiva, en cierto
de la palabra, este arte y estos artistas hablan
abca Asociación Brasileña de Críticos de Arte
momento pasó a presentar salas especiales de
En el primer caso, existe un discurso que
sólo a través de un intermediario (el que los
artistas invitados. “... la luna reina sobre los artistas que no
6 Michel Thévoz, Art brut, psychose et mediumnité, Éditions de la différence, París, p.10.
226
necesitan academizar.” Carlos Drummond de Andrade
Este formato se prolongó hasta 2004, cuando — invitados a realizar la curaduría de la séptima edición del evento — nos propusimos a mantener
el segmento competitivo, ya que permitía
una fricción emocionante que, al mismo
Grosso y las escenas sagradas/profanas repletas
visibilidad y circulación de los productores
tiempo, alimenta y cuestiona la producción
de barroquismos de Ilma Deolindo, de Nova
de este arte, pero iba acompañado de una
contemporánea.
Horizonte, São Paulo. Pero también son dignos de
muestra reflexiva que promoviera la discusión
El resultado es una esencia concentrada de lo
los incentivos los colores vibrantes capturados
y la interacción con otros sectores de las artes,
que se produce hoy en Brasil en este segmento
en la propia vida cotidiana en “Retrato Íntimo”,
independientemente de sus designaciones — arte
que combina la pintura de relativa ingenuidad
de Enzo Ferrara y el imprevisto obtenido con
popular, mestizo, periférico, no erudito, ingenuo,
(hasta la 'crackolândia' el 'lixão' y el reciclaje
el manejo de chatarra en “Sueño de Volar”, de
inherente, naif, contemporáneo, entre otras
de residuos figuran como temas), el arte de
Evandro Soares, de Goiânia.
posibilidades.
los outsiders que fascinan por su originalidad
Volver a la Bienal Naifs, ocho años más tarde,
Asimismo, el jurado otorgó menciones
(incluyendo sus biografías llenas de historias de
especiales a los artistas que llamaron la atención,
formando parte del jurado para la selección y
humor, sufrimiento o tragedia), además de los
como Carmela Pereira (Piracicaba, SP), residente
premiación nos permite algunas reflexiones.
maestros que técnicamente se han evolucionado
pionera del arte primitivo local, Danbeco (Rio de
En primer lugar, sobre el acto de juzgar una
a lo largo de los años, sin perder la poesía (a
Janeiro, RJ), Joana Baraúna da Silva (São Paulo,
obra de arte bajo la égida de la velocidad de la
menudo rústica) y su propia identidad.
SP), Renata Kelssering (São Paulo, SP), José Altino
comunicación virtual y de la oscilación pendular
Hacemos hincapié en las obras y los artistas
(João Pessoa, PB), Shila Joaquim (São Mateus, ES),
de los gustos, si es relevante o no, buena o mala,
galardonados con el Premio de Adquisición,
apreciable o no. La riqueza y diversidad de
ambas creaciones de Adão Domiciano Pinto,
opiniones, argumentos, convicciones se deberían
artista de Cuiabá, Mato Grosso, ya conocido de
oportunidad de esta reunión con una producción
documentar en video para posteriormente figurar
otras bienales por su pintura incisiva, que regresa
a menudo alejada de los circuitos institucionales,
en la lista de discursos filopoéticos. De todos
con la novedad del uso de acuarela sobre papel
al equipo sesc — siempre eficiente y dedicado —
modos, este ejercicio crítico nos hace posibles
aplicado sobre lámina. La novedad del material
y a nuestros socios del jurado, que mucho nos
los desafíos insondables, que son el corazón de
se adhiere de manera satisfactoria y atractiva a la
animaron y cuestionaron, con conocimiento y
nuestro trabajo.
controvertida cuestión de la esclavitud en el siglo
poesía, en este delicado acto de juzgar.
En este jurado tuvimos que trabajar con algunos supuestos, tales como las dimensiones del espacio de exposición, compartiendo en esta
Abuela Sandra (Ribeirão Preto, SP). Además aprovechamos para agradecer la
xxi, que todavía se encuentra en algunas regiones del país. La pesca es el tema de Jefer (Jefferson Bastos),
edición con artistas contemporáneos nombrados
de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, otro
El sueño de ingenuidad
por la comisaria Kiki Mazzucchelli y con las
premio adquisitivo, en una tela de sencillo
Juliana Braga de Mattos
opciones adquisitivas destinadas a hacer la
primitivismo en la que el paisaje y los personajes
Asistente de Artes Visuales de la Gestión de
colección de la institución más orgánica.
son esquemáticos y los tonos mantienen la
Acción Cultural — sesc São Paulo
Así, el jurado ejerció sus funciones con precisión, no sólo en lo que consideró apropiado
levedad de los dibujos infantiles. Entre los premios de incentivo de relieve están
La experiencia de un jurado artístico, cualquiera
o no en esta especificidad compleja, sino que
la atmósfera psicológica y el predominio de
que sea la manifestación en vista, puede ser
también trató de eliminar la presencia del naif
colores planos de las pinturas de Kaldeira (Maria
doblemente reveladora: si por una parte crea
ablandado, de los ingenuos seducidos en una
Caldeira Bochini), de Catanduva, São Paulo; la
un índice sobre la producción artística en dado
atmósfera falsa o aún réplicas de otros creadores.
simplicidad de las bordaduras de Maria Aparecida
momento y espacio, por otra, termina igualmente
Una tarea desafiadora, que sin embargo permitió
Machado, de Chapada dos Guimarães, Mato
por enunciar las convicciones y los ideales de los
227
evaluadores que los constituyen — no siempre
mundo contemporáneo — como si no fuera una
coinciden al pie de la letra con los artistas.
expresión legítima de este?
Tomar la Bienal Naifs de Brasil, que el sesc São
Estas parecen ser dos cuestiones importantes
Paulo organiza hace más de 22 años, como un
que han impulsado las reflexiones y selecciones
punto de inflexión de las cuestiones enumeradas,
de este comité. Entre las varias obras inscritas,
nos permite algunas reflexiones sobre el
fue posible recoger un interesante retrato
panorama actual del llamado arte naif o ingenuo
de un Brasil que en las últimas décadas ha
en el país. Una primera aproximación revela
experimentado cambios significativos, en el
cierta disonancia entre el término original y su
orden político y económico, de algún modo
connotación en estos días, originada en lo que nos
capturados por las representaciones artísticas
parece el remoto siglo XIX para definir, desde el
observadas. Estos cambios no necesariamente
punto de vista europeo, una serie de producciones
favorecen el ejercicio del arte —, pero sin
ajenas a la formación clásica y académica — en
duda revelan subtextos aún presentes en la
resumen, populares — la expresión naif pasó
imaginación acerca del universo naif, en el que
a avecinarse a un universo de creación en que
resiste una vieja idea de ingenuidad, soñada
cierto estilo forjado se superpone a lo que antes
durante más de un siglo.
ha sido expresión poética. En este sentido, tampoco se puede pretender
La expansión de interpretaciones sobre el arte ingenuo, popular y contemporáneo — y, además,
que el término se enmarque como un reflejo
el acercamiento entre los campos de creación —
purista de producción que escape a los
ha constituido una búsqueda incesante de la
tentáculos de la comunicación de masas o
Bienal Naifs de Brasil, en cada edición, en línea
de los códigos del mercado del arte — viejos
con el compromiso del sesc para asegurar la
conocidos efectos secundarios de nuestro mundo
promoción y el debate sobre la producción
globalizado.
artística en el país. En 2012, el camino absorbió
Pero aquí está el reto: precisamente porque
entornos más claramente definidos. Esperamos
conocemos el poder de nuestras tradiciones
que lo sencillo y lo colorido, lo habitual y lo
artísticas vinculadas a sus raíces populares,
onírico sean inspiradores al público, ya que el
¿cuál es la forma de escapar a la voluntad de
naif así se ha revelado a nosotros, los miembros
encontrarnos, en comisión convocada para una
del comité de selección, a lo largo de un tiempo
tarea tan específica, con una frescura genuina
agradable de investigación y debates.
que representa la esencia de un acto de cierta ambivalencia, que escape a los estereotipos al tiempo que no presente una simple mimesis de los falsos valores de la cultura brasileña? Y, por otra parte, ¿cuál es la forma de despojarnos de la idea preconcebida de que el artista “ingenuo” necesariamente viviría aislado de los códigos del
228
Más Allá de la Vanguardia
señalar aquí que presentar las obras de esta serie
el labor se realice plenamente. En este caso, la
en el contexto de esta exposición, en el interior
artista moviliza un retratista de la policía, que
de São Paulo, cuyo desarrollo en el siglo 19, como
está disponible por un período previamente
sabemos, fue movido por la industria del café,
acordado en algunas zonas de la ciudad donde
hace que adquieran un sentido renovado por
tiene lugar la exposición en la que el trabajo
activar sus relaciones con la Historia.
participa. Aquí, en lugar de traducir en dibujos la
Pero más allá de estas diferentes capas
descripción de los criminales sospechosos, estos
de significado, uno de los elementos más
retratistas producen dibujos de vistas recordadas
ALEXANDRE DA CUNHA
interesantes de esta serie es la confusión de
por aquellos que desean participar en el proyecto.
En su obra, Alexandre da Cunha se apropia de
papales que causa el artista en cuestión, porque
Cada uno de estos dibujos se realiza en un papel
los materiales, objetos y citas originarios de
aquí quien realiza el trabajo manual bordado
autocopiante, el dibujo original en grafito se da
los registros tradicionalmente distintos para
es su galerista, Luisa Strina. El bordado es una
a quien describe la vista, mientras que el Museo
transformarlos mediante un proceso de collage de
actividad a menudo asociada con las mujeres
de las Vistas recopila copias azules sobre papel
distintos elementos. Esta operación suele formar
acostumbradas a las tareas del hogar y que
amarillo producidas químicamente por la presión
parte de objetos mundanos que se encuentran en
no tienen ocupación profesional, una imagen
del lápiz.
cualquier tipo de vida diaria (toallas, sombrillas,
que contrasta dramáticamente con la figura
artículos para el hogar, entre otros más) que se
de la galerista, de una mujer independiente y
las formas en que el paisaje se convierte en
extraen de su contexto original, se reúnen con
emprendedora. Esta serie de trabajos promueve,
una imagen mental y de cómo esa imagen de
otros elementos y, finalmente, se insertan en
por lo tanto, el encuentro de dos mundos
la memoria se puede transformar en discurso
una nueva jerarquía de valores. Al traer estos
radicalmente diferentes; uno relacionado con
y se traducir en el dibujo, construyendo una
objetos hacia el universo del arte, los destituye
la artesanía, la repetición de una técnica y de
nueva imagen física. De esa manera, el género
de su función original, mientras que plantea
conocimientos relacionados a un quehacer
tradicional de pintura de paisaje, tan relevante
cuestiones acerca de ideas de valor, circulación o
femenino en su acepción más tradicional, y
y frecuente en la producción de los artistas que
intencionalidad.
otro relacionado con el arte contemporáneo, la
participan en la Bienal Naifs de Brasil, se desarrolla
vanguardia cultural, la innovación conceptual y el
en el Museo de las Vistas, en el tiempo y espacio. El
internacionalismo.
proyecto de Zaccagnini, atesta, en cierto modo, a
En la serie de bordados presente en esta exposición, Alexandre da Cunha, como en obras
El archivo resultante es un testimonio de
anteriores, se apropia de un hacer/saber popular
la persistencia del paisaje en el mundo de hoy. Al
y de materiales triviales, valiéndose de su valor
menos desde el siglo XV, aprendemos a mirar el
simbólico. Aquí combina la calidad de la trama
CARLA ZACCAGNINI
mundo como un paisaje, y es precisamente este
de las telas de bordar a la trama de las grandes
El proyecto Museo de las Vistas se ha iniciado en
proceso de construcción mental y traducción
bolsas de yute utilizadas en la exportación de
2004 y desde entonces tiene varias iteraciones en
visual que la artista hace hincapié en Museo de las
granos de café, que sirven como materia prima
distintas ciudades de diferentes países: Medellín
Vistas. Sin embargo, los dibujos resultantes son
para estas obras. Ora más figurativas, ora más
(Colombia), Rincón (Puerto Rico), São Paulo
también elementos clave del proyecto y su forma
abstractas, sus composiciones en cada bordado
(Brasil), Valparaíso (Chile), entre otras. Al igual
final se determinará por la habilidad y por las
han sido cuidadosamente seleccionadas por el
que en otras obras de Carla Zaccagnini, aquí
decisiones tomadas tanto por el retratista como
artista a partir de las ilustraciones originales de
se crea unas reglas del juego, para ser seguidas
los narradores, y por lo tanto, son impredecibles.
estas bolsas, a las que no les agrega nada. Vale
por los participantes/espectadores a fin que
Sin embargo, teniendo en cuenta los diseños
229
elaborados hasta el momento, podemos decir
de luz del proyector, por lo que produce un efecto
estas regiones del planeta. Si aún permitimos
que, en su mayoría, tienen algunas similitudes
centelleante que se puede observar por quien está
una aproximación más de orden botánico, estas
estilísticas con la producción naif. Así que, ¿no
delante de la cara del collage.
pinturas se asemejan, en ocasiones, a los diseños
serían también los retratistas de la policía artistas no eruditos?
Kiti Ka’aeté lleva a Más Allá de la Vanguardia la
de paisajismo de Roberto Burle Marx, con sus
magnitud del arte indígena, expresada a través de
líneas sinuosas y las áreas de color intercaladas
su lectura dentro de lo contemporáneo. El aspecto
en un conjunto de formas orgánicas.
constructivo del collage, que, en el contexto del
Hasta cierto punto, la práctica de Herrero
DANIEL STEEGMANN MANGRANÉ
arte contemporáneo producido en Brasil por lo
presta características de la tradición de la pintura
Ka’aeté es una palabra que en tupí significa
general evoca o hace referencia a los ejercicios
mural, una práctica asociada especialmente a
“bosque profundo”, lejos de zonas habitadas. Es el
del arte concreto y el neo-concreto, aquí apunta
los artistas mexicanos de la primera mitad del
lugar mítico habitado por los dioses y espíritus,
a otras posibilidades de experimentación con la
siglo xx, pero que ha encontrado ecos en muchos
donde terminan las carreteras, el impenetrable.
geometría y, no menos importante, del significado
países de Latinoamérica, incluso en Brasil. Sin
Kiti significa cortar con un instrumento afilado,
de su aproximación con la vida.
embargo, si por una parte, comparte con esta
mediante las manos humanas y la técnica. Al
tradición un interés en acercar el arte a un
igual que en la interpretación hegeliana, para
público no especialista, que inadvertidamente
las tribus indígenas de Brasil, el Ka’aeté, bosque
FEDERICO HERRERO
se encuentra con sus pinturas en los espacios
profundo, es también un lugar sin historia, donde
Formado en arquitectura, el costarricense
públicos, se abstienen de tratar de difundir el
las cosas todavía no se han formado y donde los
Federico Herrero utiliza principalmente la pintura
contenido político e ideológico más directo, como
animales pueden metamorfosearse.
como medio. Gran parte de su obra, así como las
era el caso de los muralistas originales.
Kiti Ka’aeté es el título general de un proyecto
que integran la muestra Más Allá de la Vanguardia,
En las pinturas de colores de Herrero,
de Daniel Steegmann Mangrané que se originó
se llevan a cabo in situ: en los espacios públicos,
encontramos una gran resonancia con la
a partir de un collage en el que se basó el artista
tales como las portadas de las casas y los
producción que se ha mostrado de manera
en el arte abstracto de los Tupís, con su complejo
edificios o en las paredes de la ciudad, o paredes
consistente en las Bienales Naifs desde su
sistema geométrico, para realizar cortes precisos
privadas, como el interior de las galerías o de
fundación. Su presencia en esta exposición
sobre una imagen de la selva amazónica. En un
otro tipo edificios, donde ejecuta sus pinturas
trata de potenciar todas las obras seleccionadas
posterior desarrollo de la misma obra, que es la
en estrecho diálogo con la organización espacial
por el jurado, lo que sugiere alegóricamente
versión presente en esta muestra, el collage se
del sitio. Se caracterizan por su color brillante,
que se disloquen del plano bidimensional,
ha instalado dentro de un panel de exposición y
generalmente dividido en unidades de formas
transbordándo y arrastrándose por el suelo,
ha sido iluminada desde atrás, solamente por un
abstractas al tiempo fluidas e imprecisas, estas
trepando por las paredes y por el techo del
proyector de diapositivas. De este modo, el haz
pinturas, en contraste con las abstracciones
edificio, y ocupando, por último, todo el espacio
de la luz blanca atraviesa los pequeños cortes y
geométricas rigurosas que caracterizan el arte
tridimensional del sesc Piracicaba.
su luz emana de la cara de la imagen, brindando
latinoamericano desde mediados del siglo xx,
un carácter espiritual o anímico al bosque
casi parecen brotar orgánicamente a partir de
abstracto. Integra esta instalación el espacio entre
paredes. Su modo de existencia por lo tanto
FELIPE ARTURO
el proyector y el panel donde se encuentra el
sería más semejante a la forma desordenada
Desde 2009, el artista colombiano Felipe Arturo
collage. Abierto y accesible, se puede atravesar el
y voraz en que la naturaleza lujuriante de las
ha estado investigando métodos de construcción
público que intermitentemente interrumpe el haz
zonas tropicales se encarga de los edificios en
empleados por los vendedores ambulantes en
230
diferentes ciudades de Latinoamérica. Observa
la Vanguardia a partir de su investigación sobre
olvidado y omitido del arte popular brasileña:
cómo la arquitectura efímera propia de cada una
los métodos de construcción de los vendedores
el lado abstraccionista. Es increíble lo que hace
de estas ciudades se ha desarrollado a partir de
ambulantes locales. Valiéndose de los materiales
la gente en términos de abstracción geométrica.
complejos procesos de las políticas locales y de
y técnicas de construcción aprendidas junto
Estoy documentando con diapositivas las diversas
particularidades referentes a la distribución de
a los vendedores ambulantes en la ciudad de
formas de expresión abstracto-geométrica:
alimentos y mercaderías entre las zonas urbanas
São Paulo, el artista va a construir un ambiente
tiendas de fiesta y de ferias, cubiertas con retazos,
y rurales o entre cada nación y el extranjero. El
temporal, cuya configuración final se desarrollará
carritos de helados, de palomitas etc.; puertas
fenómeno del desplazamiento de la población
en las semanas previas a la exposición. La obra
de garajes y otras cosas que se presentan. Es
provocado por el comercio informal tiene un
ocupará por primera vez en la historia de la Bienal
fantástico, ya veces se encuentran cosas de
impacto innegable sobre la configuración del
Naifs de Brasil, el gran balcón adyacente a la sala
op-art, de arte concreto y constructivista; todo
entorno urbano de determinadas regiones, donde
de exposiciones del sesc Piracicaba, creando un
esto se hace en la ignorancia y la ingenuidad más
a diario son levantados y desmantelados grandes
área de visualización y de pausas que conecta el
sagradas, pero con un agudo sentido intuitivo de
centros comerciales al aire libre, atrayendo a
interior del edificio a las zonas dedicadas al ocio y
color y de construcción. Es de estos tipos de cosas
miles de consumidores.
el deporte que se sitúan en la parte delantera del
que en la actualidad extraigo material para mi
terreno.
trabajo”.
Debido a su carácter temporal y, en la mayoría
Sus Barracas del Noreste, con sus formas
de los casos, ilegal, la arquitectura de este
geométricas imprecisas y colores brillantes,
tipo de comercio tiene algunas características básicas. En algunos casos, debe ser constituida
MONTEZ MAGNO
oscilan entre la abstracción y la figuración,
de un material relativamente ligero, para
Con una trayectoria de seis décadas, el artista de
ya que mantienen la conexión formal con
ser transportadas más fácilmente y con
Pernambuco Montez Magno tiene una obra muy
su referente, a veces incluso presentando
técnicas simples y eficaces, que permitan un
compleja y diversa que se desarrolla en distintos
indicaciones sobre el contexto de done se han
rápido montaje y desmontaje. Los materiales
medios e investigaciones. Nos interesa, sobre
extraído. Las dos otras series representadas
invariablemente deben ser no solo fáciles de
todo, en el ámbito de la exposición Más Allá de
en esta exposición también se valen de una
encontrar y de bajo coste, sino que también
la Vanguardia, las investigaciones del artista en
aproximación a lo popular, a pesar de que buscan
deben ser duraderos y resistentes para soportar la
torno a la geometría del arte popular, que se
diferentes soluciones formales. En Telares de
exposición prolongada a las intemperies. Así que
inicia en 1972 con sus estudios para el primer
Timbaúba, el artista se centra en las exploraciones
se trata de una arquitectura basada enteramente
ciclo de la serie Barracas del Nordeste de la que
de las posibilidades geométricas de la línea,
en las necesidades apremiantes de estos grupos
presentamos tres ejemplares en esta muestra.
probando diversos movimientos con el lápiz y
de trabajadores informales, no sólo apoyada
Vale citar aquí el fragmento de una carta del
pastel a óleo sobre el fondo neutro del papel, lo
en los principios académicos, y por lo tanto,
artista seleccionado por Clarissa Diniz en su
que produce así un resultado más sobrio. La
informada por un conocimiento popular vivo.
ensayo publicado en la monografía del artista
serie Fachadas del Nordeste, a su vez, se compone
En São Paulo, así como en otras grandes
editada en 2010, donde explica el objeto de su
de pinturas en acrílico sobre cartón, en formato
investigación:
pequeño. Esta vez, teniendo la arquitectura
ciudades latinoamericanas, la actividad diaria de los vendedores ambulantes ocurre en gran
“[...] Gran parte de mi trabajo actual se basa en
escala, y es precisamente allí donde Arturo
las cosas de aquí de Recife, del Nordeste, pero
llevará a cabo una pequeña residencia con el fin
el propio pueblo de aquí no se da cuenta. Estoy
de producir una nueva comisión para Más Allá de
haciendo una investigación o estudio del lado
popular como tema, el color y la línea parecen tener un peso equivalente.
231
PABLO LOBATO
que, a pesar de que sucede constantemente a
para la exposición Más Allá de la Vanguardia,
El trabajo del artista de Minas Gerais Pablo Lobato
través de los siglos, permanece disimulado.
Matheus también opera una re-significación de
que integra la exposición Más Allá de la Vanguardia
Se muestra aquí en escala natural, con el fin
presenta una imagen recurrente y muy simbólica
de transportarnos a los bastidores de la iglesia,
dialogar directamente con la historia local del
dentro del universo del arte popular: la campana
hacia adentro del nicho donde se desarrolla
poder de las élites agrarias en São Paulo y las
de iglesia. En la historia de la Bienal Naifs de Brasil,
la coreografía casi erótica y arriesgada de los
transacciones comerciales que se realizaban
hay un sinnúmero de obras registradas en las que
campaneros, Bronce Volcado conserva todo su
con Inglaterra en el inicio del siglo xx, cuando ni
las campanas aparecen en paisajes de plazas o
carácter humano, revelando, según lo sugerido
siquiera se hablaba de globalización. En una de
festivales, siempre alzadas en la parte superior
por Crivelli Visconti, “una especie de trance
sus piezas, acumula una serie de documentos
de las pequeñas torres de las iglesitas en las
pagano (...) que rasga la estasis y el silencio, para
referentes a las múltiples transacciones
ciudades del interior del país. Es precisamente en
instalar el éxtasis”.
comerciales entre Brasil e Inglaterra sobre una
Minas Gerais, Estado natal de Lobato, donde se
Ahora somos nosotros quienes vislumbramos
los materiales existentes. En este caso, busca
superficie bidimensional, dando materialidad a
encuentran algunas de las iglesias más preciosas
el contraplano, para más allá de la apertura del
un sistema basado en el comercio transatlántico,
de la época barroca. Fue donde el artista realizó
campanario, la plaza, las festividades regionales o
en la acumulación de capital y la explotación de
una investigación sobre las campanas de
el paisaje de la pequeña ciudad del interior.
mano de obra esclava. En la segunda obra, usa
diferentes ciudades, muchas de ellas desactivadas
papeles de la misma época que se utilizaban para
hoy en día, una investigación que dio lugar a
empacar las naranjas exportadas desde Brasil a
una serie de obras que incluye Bronce Volcado, la
RODRIGO MATHEUS
Inglaterra. Estas naranjas eran embaladas una
videoinstalación que aquí se presenta.
Con una producción que se mueve a través de
por una, en un delicado papel en el que había un
diferentes medios, la obra de Rodrigo Matheus
registro de su origen y el logotipo la compañía.
en un comentario sobre esta obra, “[Al] abordar
no se aferra a determinados estilos o técnicas. En
Aquí, Matheus trae estos documentos otra vez
y estudiar este tema, el artista ha encontrado
sus primeros trabajos, incorporaba y articulaba
a su país de origen, construyendo con ellos una
que, desde siempre, el lugar en la parte superior
objetos industrializados o de diseño que se
delicada pieza de pared bidimensional que se
de las torres donde las campanas se tocan
encuentra en la vida diaria corporativa, emulando
utilizan como las pequeñas banderas decorativas
ha pertenecido casi exclusivamente a los
y empleando su estética típica en el circuito
de fiestas regionales y adornadas con anzuelos
campaneros (quienes, antiguamente, eran en
del arte contemporáneo. Recientemente llevó
y cebos que se refieren a los grandes ríos del
su mayoría esclavos): ni los fieles, ni tampoco
a cabo una serie de obras en las que se apropió
interior de São Paulo. A través de estas evidencias
los sacerdotes se suben hasta allí. Es decir, el
de materiales típicos del mismo circuito, tales
materiales, Matheus evoca que ha sufrido un
artista rescata la visualidad de un evento de
como embalajes de obras y trabajos de montaje,
borrado sistemático, pero cuyos ecos todavía
fundamental importancia en el tejido social,
creando con ellos situaciones escultóricas
se dejan sentir en la estructura social del Brasil
y cuya imagen, sin embargo, a lo largo de los
temporales. Estas configuraciones se mantuvieron
contemporáneo.
siglos, ha sido programática y ocultada de
sólo durante la duración de los espectáculos de
forma metódica, e incluso negada”. Así, en
los cuales formaban parte, disipándose después
contraste con la visibilidad excesiva de la
de su terminación, cuando se devolvían estos
THIAGO ROCHA PITTA
imagen de la campana y de la iglesia, tanto
materiales a sus lugares de origen y dejaban de
En su ensayo titulado “Sobre la forma de domar
en representaciones pictóricas eruditas como
ser considerados como arte.
lo imprevisible”, publicado en la ocasión de
Según lo descrito por Jacopo Crivelli Visconti,
populares, lo que nos ofrece Lobato es un ritual
232
Para los dos nuevos comités que produjo
la muestra Notas de un desmoronamiento,
de Thiago Rocha Pitta, que se produjo en las
permite la aparición y la manifestación de una
en forma de frutas o verduras. En este proceso
Caballerizas de la Escuela de Artes Visuales del
historia interior, íntima. En el caso de Herencia, lo
largo y laborioso, que requiere extrema precisión
Parque Lage en Rio de Janeiro en 2010, Felipe
que se suma a las representaciones tradicionales
y cuidado, un encaje portugués, por ejemplo, con
Scovino sugiere que “la obra de Pitta siempre
del paisaje es tan sólo el dato temporal, lo que
su gruesa tela, se corta y se emenda, hilo por hilo,
se manifiesta como una pintura de paisaje, sin
solicita un momento de contemplación en el
con una delicada pieza de encaje inglés o una
importar el medio con el que trabaja o el sentido
curso de tiempo presente.
pieza de encaje brasileña, de manera que el paso
de invención que construye”. Y sigue: “Un paisaje
de una para la otra se hace casi completamente
que cambia mientras se pregunta esta pintura
indetectable. El ojo vigilante nota los matices
si todavía sigue siendo pintura o amplía su
TONICO LEMOS AUAD
en el paso de una trama a otra, lo que pone
búsqueda a otros campos de producción poética”.
En sus obras, Tonico Lemos Auad parte de
de manifiesto las pequeñas pero significativas
La posibilidad de movilizar el tema de la pintura
materiales del cotidiano para crear objetos,
diferencias que revelan no sólo la transmisión
de paisaje en el ámbito del arte contemporáneo
esculturas e instalaciones que por lo general
de un conocimiento a través de las diferentes
y en el contexto de la exposición Mas Allá de la
dependen de un equilibrio delicado para que
culturas, como también las adaptaciones que
Vanguardia, es uno de los intereses de la curaduría,
existan. En el ámbito de lo ordinario y lo irrisorio,
ha sufrido esta técnica en cada país a lo largo
dado que se trata de un género recurrente en toda
el artista opera desplazamientos silenciosos que
de los años. Estas frutas y verduras hechas de
la historia de la Bienal Naifs de Brasil.
incrementan el valor simbólico latente de formas
encaje, como si fueran luminarias, cuelgan del
y elementos que nos pasan desapercibidos, por
techo y están iluminadas desde el interior, lo
de Rocha Pitta, donde vemos un pequeño bote
lo que se hacen valiosos y permanentes. Estas
que nos permite observar todos los detalles de
de madera que, formando una imagen casi
operaciones implican invariablemente una labor
su superficie. Sin embargo, se caracterizan por
surrealista, lleva en su interior un par de árboles
manual específica propia de ciertas zonas o
la imprecisión del trabajo manual que les da un
en alta mar. A veces, más próxima o más lejana
culturas y asociada con materiales y técnicas
aspecto orgánico, y parecen brotar del techo como
de la cámara que la registra, esta inusitada
tradicionales que se transmiten de padres a hijos
plantas exóticas que resultan de algún cruce
assemblage de árboles-barco flota indiferente,
a través de los siglos. En su obsolescencia ante
inusual entre semillas tropicales y europeas.
a la deriva, sin la intención de llegar a tierra
la sociedad de producción en masa, muchas de
firme, puesto que constituye en sí misma un
estas técnicas hoy se encuentran casi extintas,
territorio. Seguimos su carrera débil sin la
por lo que hacen que el trabajo de Auad
expectativa de un desenlace o narrativa, nos
también abarque una amplia investigación y la
dejando llevar por la propia duración del evento.
negociación con cada artesano implicado.
En esta ocasión, presentamos el video Herencia
Sólo nos entretenemos por los cambios en el
Para Más allá de la Vanguardia, el artista
encuadramiento producidos por la distancia
ha producido un conjunto de cinco objetos
o proximidad relativa de la embarcación. Esta,
que forman parte de la serie Sleep Walkers
sin embargo, va flotando como una ofrenda
(Sonámbulos), presentada por primera vez en
enigmática, llena de simbolismo en sí, el cual no
MuHKA en Antuerpia, Bélgica en 2009-2010. Estos
somos capaces de descifrar.
objetos se han confeccionado cuidadosamente
Scovino atenta para la economía de imágenes
con encajes de diferentes fuentes, que el artista
en la obra de Rocha Pitta, y de cómo su
ya se las adquiere listas, pero luego deben
eliminación del exceso de “ruidos” exteriores
transformarse en elementos tridimensionales
233
Biografías Más Allá de la Vanguardia
deficiencias en la percepción y los límites del
en Berlín y participa en 30ª Bienal Internacional de
conocimiento científico, entre otros, produciendo
São Paulo. Además de su práctica artística, Daniel
un trabajo multifacético que busca activar
Steegmann Mangrané es organizador en la escuela
la visión del espectador y desconcertar su
de arte experimental de la Universidad de Verano,
comprensión. Desde la década de 1990, ha
promovida por el “Capacete”, una plataforma
venido desarrollando actividades como crítica
multidisciplinar de residencias artísticas y
de arte, curadora y profesora paralelamente a
programas educativos basados en Rio de Janeiro.
su práctica artística. Participó en la 28ª Bienal de Alexandre da Cunha
São Paulo (2008) y de la Bienal del Fin del Mundo
[Rio de Janeiro, 1969. Vive y trabaja en Londres]
de Ushiaia, Argentina (2007). Su obra estuvo
Federico Herrero
En sus obras, Alexandre da Cunha normalmente
presente en exposiciones de varias instituciones
[San José, 1978. Vive y trabaja en San José]
utiliza objetos comunes de múltiples fuentes,
internacionales, como el musac, en León, España;
La obra de Federico Herrero está muy influida
tales como toallas de playa, ruedas de coche
LentSpace, en Nueva York, ee.uu., Museo de Arte
por las tradiciones culturales y políticas y por
o artículos del hogar para crear esculturas
Moderno Aloísio Magalhães, en Recife, Brasil, y
el carácter fructífero de su país de origen, Costa
e instalaciones. Una parte importante de
Kunstverein, en Munich, Alemania. Llevó a cabo
Rica. Sus obras de colores intensos oscilan entre
su reciente trabajo hace referencia directa
diversas residencias artísticas, entre ellas en el Air
la figuración y la abstracción, y desafían a las
a la herencia geométrico-constructiva del
Antwerp, Bélgica; hiap, Finlandia; iaspis, Suecia.
categorías tradicionales de la pintura. Además de
Modernismo brasileño. Sin embargo, aunque
pinturas sobre tela, Herrero suele realizar trabajos
estas obras tienen un estilo cercano a esa
site-especific que combinan diferentes fuentes
producción, conserva esencialmente el mismo
Daniel Steegmann Mangrané
de inspiración, tales como placas de calle, grafitis,
principio de “collage” de diferentes ready
[Barcelona, 1977. Vive y trabaja en Rio de Janeiro]
plantas tropicales, las casitas de colores en las
mades que caracteriza a su obra como un todo.
La obra de Daniel Steegmann Mangrané
zonas rurales y las formas y los íconos del paisaje
Alexandre da Cunha ha participado en varias
comprende varios medios de comunicación y
urbano. En 2001, Herrero ha recibido el premio
exposiciones internacionales, como la Bienal de
oscila entre experimentos sutiles y poéticas,
al mejor artista joven en la Bienal de Venecia. Ha
Venecia (2003), la San Juan Triennial (2009) y la
mientras que se caracterizan por cierto
realizado numerosas exposiciones individuales en
colectiva Panamericana (2010). Este año, integra
grado de dureza en su creación. A pesar de
museos internacionales de países como Alemania,
la 30ª Bienal Internacional de São Paulo. Su obra
que su investigación es principalmente de
Italia, Japón y Colombia. Su trabajo incluye las
es parte integrante del acervo de importantes
orden conceptual, su obra muestra una gran
colecciones del Mudam, en Luxemburgo, del
colecciones públicas y privadas como el Instituto
preocupación por la manifestación concreta de
Museo Santander, en España, del 21st Century
Inhotim (Brasil) y la Tate Modern (Reino Unido).
los objetos y los efectos fenomenológicos de la
Museum of Contemporary Art y el Hara Museum
relación entre el hábitat y el lenguaje. Nacido en
of Contemporary Art, ambos en Japón.
Barcelona, el artista ha vivido en Brasil desde 2004. Carla Zaccagnini
En el año 2011, realizó la exposición individual
[Buenos Aires, 1972. Vive y trabaja en São Paulo]
Four Walls, en la Galería Mendes Wood en São
Felipe Arturo
En su obra, Carla Zaccagnini desarrolla temas
Paulo Duna económica/maquete sin calidad en
[Bogotá, 1979. Vive y trabaja en Bogotá]
tales como la imposibilidad de la traducción,
Halfhouse, en Barcelona. En 2012, se hace becario
Se graduó en arquitectura en la Universidad de
la parcialidad de la perspectiva del museo, las
en la Junge Akademie en la Akademie der Kunste,
Los Andes, en Bogotá, llevó a cabo la maestría
234
en la Universidad de Columbia, en Nueva
el año de 1964 en Madrid, España, con una beca
sesc Belenzinho, de São Paulo, y ha participado
York. Trabajó durante tres años con la artista
en el Instituto de Cultura Hispánica, haciendo
en exposiciones en Noruega y Uruguay. Su obra
colombiana Doris Salcedo, en Bogotá, y un
viajes a Europa y participando en exposiciones
forma parte de las colecciones del Museo de
año con el artista chileno Alfredo Jaar, Nueva
en varias ciudades españolas. En 1965, regresa a
Arte de Pampulha, Belo Horizonte y del Centro
York. Su obra se centra en las intersecciones
Brasil y se traslada a Rio de Janeiro, desarrollando
Cultural Banco do Nordeste, de Fortaleza.
del urbanismo, la arquitectura, la historia de
su trabajo en diálogo con la generación de artistas
las ciudades y del arte, por lo que construye
jóvenes relacionados con el mam-rj. A partir de
estructuras temporales que se pueden descubrir
ahí, su trabajo consiste en desarrollar en varias
Rodrigo Matheus
a través de la imagen y del tiempo o de sucesos
líneas conceptuales, en un largo recorrido que
[São Paulo, 1974. Vive y trabaja en Londres]
y encuentros espontáneos en el espacio. Además
incluye obras en diversos medios, tales como
Articulando diversos medios de comunicación —
de sus actividades artísticas, Felipe Arturo es
las partituras de música aleatoria, los libros de
móviles y estáticos, construidos y encontrados
profesor asociado del Departamento de Artes
artista, las instalaciones, los objetos, los registros
— la obra de Rodrigo Matheus se presenta llena
Plásticas de la Universidad de Bogotá Jorge
de actuaciones, además de su producción poética,
de elementos de diseño, arquitectura y paisaje.
Tadeo Lozano. Su obra ha integrado exposiciones
que cuenta con dez libros publicados.
Desprovisto de evidencias de un quehacer
individuales y colectivas en varios países, entre
manual, la postura del artista es antes la de
ellos España, ee.uu., Francia y Portugal, además
modificar y recombinar los materiales, dándoles
de formar parte de colecciones, como de Patrícia
Pablo Lobato
otras formas de presentación y estableciendo
Phlepls de Cisneros, Nueva York y Caracas,
[Bom Despacho, 1976. Vive y trabaja en Belo
nuevas relaciones entre objetos. El resultado es
Colección Jumex, México; Colección ArtNexus,
Horizonte]
una producción fértil donde elementos cotidianos
Colombia, entre otras.
Habiendo iniciado su carrera en el campo del cine,
o sin valor intrínseco se presentan con precisión
Pablo Lobato comenzó a gravitar en los últimos
y elegancia, ganando nuevos significados
años para el circuito de las artes visuales. Con
simbólicos. Matheus ha realizado varias
Montez Magno
un interés continuo en la producción audiovisual,
exposiciones individuales en instituciones como
[Timbaúba, 1934. Vive y trabaja en Recife]
su trabajo hoy en día se está desarrollando en
el Museo de Arte de Pampulha, Belo Horizonte
Montez Magno empezó su carrera artística
una zona indeterminada entre estas disciplinas.
(Centurium, 2004), Centro Cultural Maria Antônia,
en Recife, en 1954, cuando se incorporó a la
Lobato fue uno de los creadores de la Teia —
São Paulo (El Retorno de la Arquitectura, 2005),
Escuela de Bellas Artes y comenzó a dedicarse
Centro de Pesquisa Audiovisual, con sede en Belo
Galería Fortes Vilaça, en São Paulo (El mundo en
a sus estudios de pintura y dibujo. También en
Horizonte desde el año 2002. En 2011, recibió el
el que vivimos, 2008, y Handle with care, 2010) y
esa misma década, produjo sus primeras obras
Premio Sergio Motta de Arte y Tecnología y fue
Galería Silvia Cintra & Box 4, en Rio de Janeiro
abstractas y realizó exposiciones individuales y
uno de los seleccionados para el Programa Rumos
(2006, 2010). Entre las exposiciones colectivas
colectivas en Pernambuco, Rio de Janeiro y São
Artes Visuales. Hoy se dedica a terminar el film
en las que ha participado recientemente están
Paulo. A comienzos de los años 1960, se instala
Vientos de Valls, que deriva de una acción realizada
Mitologías, en la Cité Internationale des Arts, París
en São Paulo y sigue constantemente exhibiendo
en España en 2009, financiada por la Fundación
(2011), el 32º Panorama del Arte Brasileño en el mam
su obra en varias ciudades del país. Durante este
John Simon Guggenheim, de Nueva York. En 2011,
de São Paulo (2011) y The Spiral and the Square, en
período, comienza a explorar formas más libres
integró la exposición Panorama del Arte Brasileño
Bonniers Konsthall, Estocolmo, 2011.
en su pintura, con grados que van de un lenguaje
en el mam-sp y el 17º Festival Internacional de
más expresivo o de una geometría orgánica. Pasó
Arte Contemporáneo sesc-Videobrasil, en el
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Thiago Rocha Pitta
lo permanente. Nociones de suerte, el azar y lo
[Tiradentes, 1980. Vive y trabaja en São Paulo]
sobrenatural forman parte de su imaginación
Thiago Rocha Pitta se crió en la ciudad histórica
artística. Pero más allá de los aspectos lúdicos, su
de Tiradentes y cuando adolescente se trasladó a
obra evoca también un lado oscuro y misterioso
Petrópolis, donde permaneció hasta 1999, cuando
de la existencia, ya que la conciencia de la muerte
pasó a vivir en Rio de Janeiro para estudiar Bellas
y la brevedad de la vida están siempre presentes.
Artes en la ufrj y llevar a cabo cursos abiertos
Auad ha realizado numerosas exposiciones en el
eav/Parque Lage. Inicia su carrera artística en
ámbito internacional, con obras que investigan
2001, cuando comienza a hacer intervenciones
la materialidad, la sensualidad, los procesos y
en el abierto. Desde el principio, su obra tiene
la relación entre el público y el espacio del arte.
una relación muy estrecha con la naturaleza y la
En 2007, realizó una exposición individual en
materia, siempre ligadas a ideas de temporalidad
Aspen Art Museum, en Colorado, el cual también
y transformación. Ya sea trabajando con los
publicó una monografía sobre su obra. En 2011,
pigmentos, tierra, fuego o agua, sus dibujos,
tuvo su obra expuesta en el Centro Cultural São
pinturas, videos e instalaciones utilizan imágenes
Paulo, en la Trienal de Folkestone, en Inglaterra
o procesos naturales que evocan cuestiones
y en la muestra colectiva Mitologías, en la Cité
existenciales, mientras que realizan experimentos
Internationale des Arts, en París.
formales. Entre las exposiciones colectivas en las que ha participado se destacan A Time Frame, PS1-moma, Nueva York (2006); Singapore Biennale (2006) y Nueva Arte Nueva, ccbb-rj (2008). En 2010, realizó una exposición individual en las Caballerizas de la eav/Parque Lage y en 2012 participa en la 30a Bienal Internacional de São Paulo.
Tonico Lemos Auad [Belém do Pará, 1968. Vive y trabaja en Londres] Tonico Lemos Auad completó su maestría en Bellas Artes en la Goldsmiths College, Londres (2000), donde vive y trabaja desde entonces. Una vez y otra el artista hace caso omiso de las propiedades intrínsecas de los materiales que utiliza para crear formas líricas y no permanentes, con una amplia muestra de materiales que van desde lo efímero y lo cotidiano a lo precioso y
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sesc – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo
presidente do conselho regional Abram Szajman
diretor do departamento regional Danilo Santos de Miranda
superintendências técnico-social Joel Naimayer Padula comunicação social Ivan Paulo Giannini administração Luiz Deoclécio Massaro Galina assessoria técnica e de planejamento Sérgio José Battistelli
gerências ação cultural Rosana Paulo da Cunha adjunta Flávia Andréa Carvalho assistentes Juliana Braga; Nilva Luz e Kelly Teixeira estudos e desenvolvimentos Marta Raquel Colabone adjunta Andréa de Araujo Nogueira artes gráficas Hélcio José P. Magalhães adjunta Karina C. L. Musumeci assistente Érica Dias
BIENAL NAÏFS DO BRASIL 2012 Núcleo Bienal Naïfs do Brasil Margarete Regina Chiarella; Marilia Woltzenlogel de Azevedo Grillo e Maristella Bottas Langhi administrativo Juliana Defavari e equipe alimentação Erica de Barros Domingues Leite e equipe comunicação Milena Piva Carvalho e equipe infraestrutura Robsom Fabrizio Detoni Bonilha e equipe programação Cleusa Elena Galvani Delgado e equipe recorte curatorial Kiki Mazzucchelli júri de seleção e premiação Edna Matosinho de Pontes; Juliana Braga; Marta Mestre e Paulo Klein projeto educativo Zebra5 Jogo e Arte projeto expográfico Ana Paula Pontes identidade visual e projeto gráfico Carla Caffé, Juliana de Campos Silva | Ateliê Carla Caffé assistente Hannah Machado Arcuschin revisão Ana Sesso Revisão Ltda. assessoria de imprensa Adriana Monteiro | Ofício das Letras
audiovisual Silvana Morales Nunes adjunta Ana Paula Malteze
fotografia Sergio Guerini
desenvolvimento de produtos Marcos Lepiscopo adjunta Evelim Lucia Moraes assistente Carol Ribas
fotos p.38: Coleção Jumex; p.71-3, 203 à esquerda: Edouard Fraipont, Galeria Luisa Strina; p.130, inferior: Ding Musa; p.208-9: cortesia Stephen Friedman Gallery e mukha Museum van Hedendaagse Kunst Antwerpen.
relações com o público Paulo Ricardo Martin adjunto Carlos Rodolpho T. Cabral assistentes Malu Maia e Paco Sampaio difusão e promoção Marcos Ribeiro de Carvalho adjunto Fernando Hugo C. Fialho
Realizada pelo sesc sp | Unidade Piracicaba De 8 de agosto a 9 de dezembro de 2012
compras e logística Jackson Andrade de Matos adjunto Roberto Duarte Pera
agradecimentos
licitações Jair Moreira da Silva Junior adjunto Paulo César dos Santos
Vanguarda pela sua valiosa participação e inestimável
patrimônio e serviços Hosep Tchalian adjunto Gilberto de Almeida pessoas José Menezes Neto adjunto Rubens Torres Babini saúde e alimentação Maria Odete F.M. de Salles adjunta Maria Fabiana Ferro Guerra assessoria jurídica Carla Bertucci Barbieri sesc Piracicaba José Roberto Ramos adjunto Daniel Eiji Hanai
A curadoria agradece aos artistas da exposição Além da contribuição com obras, ideias e sugestões. Pelo apoio e incentivo durante as várias etapas de realização do projeto: Clarissa Diniz; Daniel Eiji Hanai; Edna Matosinho Pontes; Juliana Braga; Marta Mestre; Coleção Alfredo Egydio Setubal – São Paulo; Galeria Fortes Vilaça – São Paulo; Galeria La Central – Bogotá; Galeria Luisa Strina – São Paulo; Galeria Mendes Wood – São Paulo; Galeria Stephen Friedman – Londres; Galeria Vermelho – São Paulo.
b4768 Bienal Naïfs do Brasil: Além da Vanguarda / Serviço Social do Comércio; Núcleo Bienal Naïfs do Brasil. – São Paulo: sesc sp, 2012. –
252 p.: il, fotografias. trilingue (português/inglês/espanhol).
issn 2178163-x
isbn 978-85-7995-039-1 sesc Piracicaba de 8 de agosto a 9 de dezembro de 2012. 1. Arte. 2. Pintura. 3. Naïfs. iv. Bienal Naïfs do Brasil. i. Serviço Social do Comércio. ii. Núcleo Bienal Naïfs do Brasil. cdd 750
Este catálogo foi composto em Caecilia, Populaire e Frutiger e impresso em papel couché pela gráfica Atrativa em julho de 2012.
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