Catálogo Bienal Naïfs do Brasil 2012

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SESC

Bienal Naïfs do Brasil 2012 The 2012 Biennial of Naive Artists of Brazil Bienal Naïfs de Brasil 2012

11ª edição

Piracicaba SP Brasil SESC 2012





8 de agosto a 9 de dezembro de 2012, 11ª edição, sesc Piracicaba

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Índice Desenvolvimento e cultura numa perspectiva plural Uma medida de encantamento Além da vanguarda Uma reflexão sobre a Bienal Naïfs do Brasil O inesperado na arte retorno ao frescor criativo O sonho da ingenuidade Obras e histórias Biografias além da vanguarda English texts textos en español Ficha técnica

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Desenvolvimento e Cultura numa perspectiva plural Abram Szajman Presidente do Conselho Regional do sesc São Paulo

A programação dos centros culturais e esportivos do sesc reflete o

trato equilibrado de empreendimentos de maior ou menor amplitude,

compromisso do empresariado dos setores do comércio, prestação

salvaguardando as iniciativas locais, símbolos do crescimento

de serviços e turismo com o bem-estar e a qualidade de vida do

sustentável de cada região. É nesse sentido que a Bienal Naïfs do

trabalhador desses setores, seus dependentes e sua comunidade.

Brasil deixa transparecer a atenção permanente que o sesc dedica à

As ações em áreas diversas, que vão do esporte ao turismo, da alimentação às linguagens artísticas, da cultura digital à educação

concepção plural de desenvolvimento e cultura, sempre pensando essas duas dimensões de modo interligado.

para sustentabilidade, têm como objetivo central a utilização responsável e eficiente dos recursos disponibilizados por seus mantenedores em benefício de seu público prioritário. Dentro dessa perspectiva, a realização da 11ª edição da Bienal Naïfs do Brasil, no sesc Piracicaba, dá continuidade a um dos eventos mais relevantes na aproximação entre as linguagens artísticas e a comunidade. Essa relevância advém não apenas da longevidade dessa exposição, mas principalmente do tipo de relação que ela estimulou, ao longo do tempo, entre artistas, obras e espectadores, pautada por valores e significações que contrastam com aqueles que se tornaram comuns para os habitantes das grandes cidades. O reconhecimento da importância dos traços da identidade cultural de um povo é uma das marcas da ação do sesc. A presente mostra é prova da valorização de elementos que não estão restritos ao cotidiano urbano. Deve-se ressaltar que tal disposição está conectada a um pensamento caro a esta entidade, segundo o qual a compreensão dos fenômenos da contemporaneidade é mais adequada quando contempla de forma integral várias facetas do desenvolvimento humano. Afinal, a visão de mundo dos que trabalham em áreas de contato direto com a sociedade, como é o caso do comércio, prestação de serviços e turismo, deve se caracterizar pela aptidão em perceber as interdependências entre campo e cidade, interior e capital, cidades maiores e menores, bem como pela responsabilidade em zelar pelo

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Uma medida de encantamento Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do sesc São Paulo

“...que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.”1 Manoel de Barros

O sentido do encantamento mencionado na poesia de Manoel de Barros, quando trazido para o campo da apreciação artística, inspira uma medida crítica para aferir a qualidade das nossas impressões diante da obra de arte. Essa medida exige um tempo de dedicação à contemplação, momento essencial para que a obra possa existir além de seus limites e para que ganhe abrigo em nossa memória sensível, por encantamento ou apatia, deixando um rastro dessa experiência. Por meio do olhar do artista, invadimos campos coloridos, formas inusitadas, ângulos diversos, paletas que colorem nosso cotidiano e nos tornam cúmplices de um imaginário antes reservado ao universo de quem concebe os modos de expressão, que representam simbolicamente maneiras de ver e interpretar o mundo. O artista naïf apresenta narrativas originárias de uma sofisticada percepção de sua cultura e transforma o espaço branco da tela em representações das matrizes de suas crenças, festas populares, cenas cotidianas e variáveis temáticas da qual essa arte se apropria. Registra sua visão e poética acerca das tradições e contradições e dos territórios que transitam entre o rural e a aquisição do urbano, decorrentes de transformações sociais e contornos geográficos do espaço em que vive. A riqueza dessa produção, e sua aparente simplicidade formal, mantém viva suas tradições expressivas. Essas características tornam a arte naïf sujeito de interesse de alguns artistas contemporâneos,

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colaborando para diversificar o panorama atual, ao se mesclar

ações socioculturais, estímulo para recriar relações e intersecções no

ou invadir territórios consagrados do fazer artístico.

ambiente das artes.

No momento em que a Bienal Naïfs do Brasil chega em sua décima

Diante das obras da décima primeira Bienal Naïfs do Brasil,

primeira edição, torna-se oportuno olhar para o passado com a

retomamos o poeta Manoel de Barros, para que seja, pois, o

finalidade de ampliar a percepção dos caminhos trilhados em seu

encantamento produzido em nós a medida para novos encontros com

desenvolvimento ao longo desse percurso, para atualizar o contexto

a arte o que nos toca variavelmente em intensidade, num processo que

de sua realização e orientar ações futuras.

não se esgota, por fazer parte da experiência e do desenvolvimento

A primeira iniciativa do sesc em apresentar uma mostra de arte naïf

humanos.

estava inserida no projeto Cenas da Cultura Caipira, realizada entre os anos de 1986 e 1988. Posteriormente, a exposição foi mantida de forma independente e, em 1991, ganhou maior visibilidade. Desde 1992, sua realização tornou-se bienal e era denominada Mostra Internacional de Arte Ingênua e Primitiva. Nesse ano, a mostra recebeu o prêmio de Melhor Evento de Artes Visuais do Interior do Estado, concedido pela apca ­­­– Associação Paulista de Críticos de Arte. A partir de 2004, a curadoria da bienal passou a ser concebida por críticos convidados, inaugurando um formato que proporcionou significativa alteração em sua concepção, adicionando uma sala especial e abrigando obras de artistas contemporâneos. Essa proposta permitiu diferentes aproximações, relações e leituras sobre a produção de arte naïf e estimulou diálogos a respeito dessa expressão artística no contexto atual. Assim, essa produção com inspiração popular contracenou, nas últimas quatro edições, com o universo de artistas contemporâneos. Em sua décima primeira edição, a Bienal Naïfs do Brasil busca ampliar o diálogo e a aproximação entre a produção de origem popular e a arte contemporânea. Nessa perspectiva, o desenho curatorial, concebido por Kiki Mazzucchelli, e a expografia da mostra, realizada por Ana Paula Pontes, atuam em consonância, apresentando uma alteração significativa, possibilitando que os limites do espaço físico entre premiados, selecionados e participantes da sala especial sejam rompidos e convivam num mesmo ambiente. Essa desestrutura dos compartimentos físicos propicia que as obras apresentadas sejam partilhadas com o público de uma forma inédita no histórico da bienal. Ao abrigar obras de concepção popular que fazem contraponto ou que dialogam com manifestações contemporâneas, o sesc reafirma os critérios de pluralidade e de democratização norteadores de suas

1 Poema “Sobre importâncias”, Manoel de Barros. In Memórias inventadas: a segunda infância, editora Planeta, São Paulo, 2006.

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Além da vanguarda

pelo júri e a mostra da “Sala Especial”. Ao extinguir a existência física desta última, a intenção é que se extingam também quaisquer

Kiki Mazzucchelli

associações relativas a um suposto maior valor simbólico das obras

Curadora

que integram a curadoria convidada. Essas obras, comercializadas no mercado contemporâneo, possuem, invariavelmente, um maior valor de mercado e transitam no circuito glamoroso das grandes feiras de arte e bienais internacionais. Aqui, no entanto, elas se infiltram obsequiosamente num território que pertence tradicionalmente ao naïf,

introdução

pontuando ou enfatizando discretamente certos aspectos comuns às

Desde o início da década 2000, a Bienal Naïfs do Brasil apresenta, em

duas produções ou para produzir significados que emergem apenas na

paralelo às obras selecionadas pelo júri do salão, as chamadas “Salas

sua relação com o naïf.

Especiais”, exposições temáticas de menor escala que a Bienal que reúnem obras selecionadas por um curador indicado pelo sesc. Embora

o naïf, ou tudo aquilo que está fora

sempre buscassem um diálogo com a produção naïf, em torno da qual

Mas é curioso notar, ainda, como o problema da percepção diferenciada

esse evento se estrutura, as mostras das “Salas Especiais” aconteciam

do valor dessas duas produções se reflete também na terminologia

tradicionalmente isoladas do conjunto principal, literalmente em

empregada para designá-las. A questão da inadequação do uso do termo

uma sala separada. Justamente, essa separação física entre as duas

naïf em referência a uma produção não erudita e não institucionalizada

mostras servia para demarcar seus territórios próprios, permitindo que

já foi abordada diversas vezes em edições passadas da Bienal Naïfs do

a leitura da proposta curatorial não se confundisse com a seleção do

Brasil, e é também o assunto do texto de Edna Matosinho Pontes, que

júri, mantendo assim sua coesão e integridade. Esse era geralmente

integrou o júri da Bienal em 2012, publicado neste catálogo. Nele,

um ponto importante, pois muitas das curadorias passadas incluíam

ela atenta para o juízo de valor negativo embutido em algumas das

trabalhos que possuem uma forte afinidade estética com as obras dos

terminologias correntes, como o “primitivo”, ou mesmo o naïf (ingênuo),

artistas naïfs, o que poderia sugerir eventuais relações entre as obras

e comenta que atualmente se tende a usar o termo “Arte Popular” como

e significados não eram necessariamente aqueles desejados pelos

uma categoria mais adequada para abranger a diversidade criativa

curadores.

das práticas como as que são o objeto desta Bienal. Marta Mestre,

Em 2012, quando a Bienal Naïfs do Brasil comemora sua 11a edição e

também jurada desta edição, propõe, por sua vez, um questionamento

20 anos de existência, a proposta do sesc é buscar maior aproximação

expandido do mesmo problema, situando-o dentro de um panorama

entre as produções naïf e contemporânea. A partir dessa proposta

mundial e histórico. Num segundo momento, problematiza o papel da

de aproximação, o primeiro movimento da curadoria foi abolir a

curadoria na disseminação do que ela designa como “arte espontânea”,

separação física entre as obras do salão e as da “Sala Especial”. Com

atentando para certos paradoxos teóricos e interpretativos que acabam

esse gesto, pretende-se quebrar a rigidez artificial das categorias que

por reforçar seu caráter subalterno em relação à arte moderna e

circunscrevem esses dois gêneros artísticos, pressupondo que sua

contemporânea. Portanto, tendo em vista a abrangência desses dois

convivência num mesmo ambiente contribuirá para uma experiência

textos e a profundidade com que abordam o problema da terminologia

mais livre dos trabalhos por parte do público e para uma vivência

associada à produção não erudita, não irei me deter a esse assunto

menos prescrita por recortes curatoriais que privilegiam o método

neste breve texto de apresentação.

tradicional de categorização da arte. Cabe ainda ressaltar o intuito de eliminar possíveis distinções hierárquicas entre a mostra selecionada

Devo, contudo, para fins relativos à proposta curatorial de Além da Vanguarda, ressaltar que sugiro aqui um entendimento

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expandido daquilo que, como sugere Matosinho Pontes, seria

pretende tomar a posição central ocupada pela arte naïf aqui, mas

mais apropriadamente designado como “arte popular”. Sem um

sim infiltrar-se quase discretamente em meio à mostra principal dos

conhecimento específico ou aprofundado da profunda diversidade de

trabalhos selecionados pelo júri. Porém, mesmo consciente de seu lugar

práticas abarcadas por esse termo, optei por uma definição mais ou

secundário, trata-se também de uma empreitada ambiciosa, já que a

menos frouxa que, ao meu ver, incluiria todas as práticas artísticas

própria condição de possibilidade da exposição Além da Vanguarda é sua

que: (1) se desenrolam geralmente fora dos grandes centros urbanos;

existência em relação às obras naïfs.

(2) se desenvolvem à parte do conhecimento erudito da arte ocidental

Nesse sentido, não se apropria apenas de um ou outro trabalho do

e das vanguardas europeias do século xx; (3) possuem algum tipo de

segmento principal, mas passa a incorporar todos os trabalhos que

ligação profunda com as necessidades imediatas de uma determinada

integram a Bienal Naïfs do Brasil. Torna-se, assim, uma espécie de grande

comunidade, sejam essas de ordem religiosa, mítica, comercial,

parasita que cria, simultaneamente à Bienal, uma outra exposição

decorativa, prática, etc., possuindo, assim, um caráter mais coletivo.

com uma proposta inteiramente distinta. Ou seja, ambas as exposições

Aqui estariam incluídos, por exemplo, a arte indígena, o artesanato

acontecem ali, no mesmo período e no mesmo espaço físico, embora

popular do nordeste, os folclores regionais, a arte negra, entre

as premissas das quais cada uma delas parte façam com que sejam

outros. Vale dizer, ainda, que não proponho isso como uma categoria

projetos absolutamente distintos. A mostra dos trabalhos selecionados

absolutamente distinta daquilo que chamamos de arte contemporânea.

pelo júri existe como tal, independentemente da curadoria de Além da

De fato, é comum que trabalhos de arte extrapolem uma categoria

Vanguarda, ao passo que esta última depende inteiramente do conjunto

ou que não se encaixem em nenhuma, e os inúmeros exemplos disso

de relações que estabelece com a primeira para existir. Descolada

incluem, entre muitos outros, a participação de Hélio Melo na 27a

dessa, dissipa-se e colapsa. Trata-se, evidentemente, de uma proposta

Bienal de São Paulo, com curadoria de Lisette Lagnado, a apropriação

experimental que, por sua própria natureza e devido ao calendário

de elementos da “civilização do nordeste” na arquitetura de Lina Bo

de execução da Bienal, não pôde partir de um projeto absolutamente

Bardi ou a produção dos internos de Engenho de Dentro. No caso

fechado, pois a seleção das obras que integram o segmento da curadoria

de Além da Vanguarda, trata-se de criar uma situação propícia para a

foi realizada em paralelo à seleção do júri, da qual, desafortunadamente,

própria desestabilização dessas categorias. A ideia é que, por um lado, a

não pude participar. Trabalhamos, portanto, com um elemento surpresa

proximidade física entre “populares” e contemporâneos permitirá que se

e deixamos para a fase de montagem algumas decisões relativas ao

deem uma série de fricções produtivas no espaço expositivo a partir dos

posicionamento das obras no espaço expositivo.

próprios conteúdos estéticos das obras exibidas e, por outro, provocará

Integram a seleção do júri, nesta edição da Bienal, 70 obras de 55

um questionamento sobre os próprios limites impostos às diferentes

artistas, sendo a maioria delas bidimensionais. Em seus respectivos

produções artísticas, os discursos que produzem, os circuitos nos quais

textos neste catálogo, os jurados Juliana Braga e Paulo Klein — que foi

transitam e o valor que lhes é atribuído.

curador da mostra em 2004 — discutem algumas questões e desafios enfrentados durante o processo de seleção em 2012. Segundo seus

bienal naïfs do brasil e além da vanguarda

relatos, o júri buscou reunir obras que sejam a expressão do caráter

É evidente que o interesse e foco da atenção maior desse evento como

vivo e pulsante da produção popular, evitando aquelas que pretendem

um todo, no que diz respeito à sua tradição, abrangência e público recai

reproduzir um estilo consagrado. A seleção da curadoria, por sua vez,

sobre a produção naïf, para a disseminação da qual se consolidou, na

inclui 21 obras de 10 artistas, duas das quais foram comissionadas

última década, como uma das mais importantes plataformas nacionais.

especificamente para esta exposição e uma terceira acontece fora do

Portanto, a curadoria dos trabalhos reunidos sob o título de Além da

espaço expositivo do sesc Piracicaba. Na escolha das obras, buscou-se

Vanguarda, embora com ênfase na produção dita contemporânea, não

encontrar trabalhos capazes de criar situações que estimulem diálogos

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e relações entre os segmentos naïf e contemporâneo, pautando-se,

Buscando uma tradução mais precisa das ideias curatoriais no

principalmente, pela relação dessas obras com uma produção ou com

espaço expositivo, a expografia da mostra foi desenvolvida em diálogo

o vernacular popular, entendidos amplamente como toda a produção

próximo com a arquiteta Ana Paula Pontes, responsável pelo projeto.

artística que se dá fora do escopo da tradição das vanguardas europeias.

Optamos por uma arquitetura que não reforçasse o caráter “popular”

Com efeito, todos os trabalhos contemporâneos aqui selecionados

das obras naïfs, com ênfase em materiais ou cores que evocassem

guardam algum tipo de relação específica com alguma dessas

esse universo, permitindo assim que as próprias obras expressem seu

manifestações, seja no modo em que se apropriam de imagens e

conteúdo sem a necessidade de reforço externo. Ao mesmo tempo,

temáticas recorrentes nas pinturas naïfs (os sinos e a religião, no caso de

tampouco seguimos a estética do “cubo branco” tradicionalmente

Pablo Lobato), seja na releitura de um gênero tradicional da pintura naïf

utilizada nas mostras contemporâneas, buscando, ao contrário,

(a paisagem, no caso de Carla Zaccagnini e Thiago Rocha Pitta), seja na

incorporar as características próprias do edifício, que não foi construído

apropriação de técnicas populares (o bordado, em Alexandre da Cunha, a

especificamente para abrigar mostras de arte, apresentando uma

renda, em Tonico Lemos Auad, as bandeirolas das festividades populares,

série de interferências visuais. Para esta edição da Bienal, a arquiteta

em Rodrigo Matheus). Montez Magno, por sua vez, será representado

desenvolveu um sistema de painéis expositivos confeccionados com

com obras de três séries diferentes, produzidas nas décadas de 1970

placas de compensado cru, sem pintura, sustentados por suportes de

e 1990, em que aborda o legado geométrico da arte popular. Trata-se

metal. Além de preservar a transparência do espaço expositivo, evitando

de uma pequena, porém valiosa, amostra do trabalho desse artista de

a construção de paredes falsas e propondo uma ocupação mais leve

importância histórica cuja produção experimental e inovadora vem

do edifício, os painéis fazem uso de um material que evoca, ao mesmo

se desenvolvendo desde o final da década de 1950. Além disso, pela

tempo, uma certa rusticidade (a chapa de madeira crua, no tamanho

primeira vez na história da Bienal Naïfs do Brasil, contaremos com a

em que vem da fábrica) e um caráter industrial (pois trata-se de um

presença de três artistas estrangeiros, cuja participação contribuirá

material industrializado). Assim, chegamos a um projeto arquitetônico

para expandir o debate acerca da relação entre contemporâneo e

que se encontra estreitamente alinhado à proposta curatorial. O projeto

popular para além de regionalismos e nacionalismos. Um deles, Daniel

gráfico foi desenvolvido por Carla Caffé junto à equipe do sesc e buscou,

Steegmann Mangrané, catalão radicado no Rio de Janeiro, volta seu

igualmente, refletir as preocupações desta curadoria.

olhar para a cultura indígena brasileira e sua produção de padrões

Finalmente, gostaria de agradecer imensamente o apoio e o

geométricos. Federico Herrero, costa-riquenho, trabalha primariamente

entusiasmo da equipe do sesc Piracicaba durante todo o processo de

com pintura, explorando a tradição latino-americana dos murais de

concepção e realização deste projeto. Graças ao empenho de todos e

modo a popularizar a arte contemporânea. ­É com grande felicidade

ao trabalho em equipe, fomos capazes de assegurar a participação

que asseguramos sua participação nesta mostra, em que realizará

inestimável dos artistas e membros do júri convidados e de realizar

uma pintura no edifício do sesc, em local (ou locais) a ser determinado

cada etapa do processo com o cuidado e atenção devidos. Juliana

durante a montagem. Igualmente gratificante foi poder contar com

Braga e Daniel Hanai foram especialmente pacientes e atentos às

a participação do colombiano Felipe Arturo, que já há alguns anos

demandas da curadoria desde o início, compreendendo a ambição desse

vem desenvolvendo um trabalho de arquiteturas temporárias em que

projeto e contribuindo imensamente com soluções engenhosas para

incorpora técnicas construtivas dos camelôs de diferentes cidades.

os problemas de ordem prática e conceitual que surgiram em nosso

Arturo fará uma pequena residência na cidade de São Paulo, onde irá

percurso.

pesquisar os camelôs locais a fim de desenvolver um projeto no espaço da varanda adjacente ao salão expositivo do primeiro andar do edifício do sesc.

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Uma reflexão sobre a Bienal Naïfs do Brasil Edna Matosinho de Pontes Colecionadora, pesquisadora e galerista

A terminologia usada para definir o tipo de arte presente nesta exposição é ampla e já foi abordada em muitos outros textos escritos para bienais anteriores. Arte “naïf”, “ínsita”, “primitiva”, “popular” costumam fazer parte das várias formas de designação. O termo “naïf” remete à ingenuidade. A discussão recorrente envolvida tende a girar em torno da adequação de se nomear desse modo esta bienal importantíssima pela sua peculiaridade, por ter como objetivo primordial abrir espaço para que o artista não erudito possa divulgar o seu trabalho. A questão do “naïf/ingênuo” foi muito bem abordada por Olívio Tavares de Araújo, quando foi curador da sala especial da Bienal Naïfs do Brasil em 2008; diz: “Na prática, sobretudo por influência da Europa Oriental, onde esse tipo de arte existe em grande quantidade, o rótulo naïf costuma ser aplicado a artistas menos contundentes... Conhecem vários procedimentos técnicos eruditos, sabem desenhar razoavelmente bem e misturar tintas para criar ‘degradés’ agradáveis, em suas paisagens...”. É exatamente ao se levar em conta essa definição e o enquadramento do “naïf” dentro de uma perspectiva técnica específica que essa nominação merece ser questionada. Não existe propriamente um consenso sobre a melhor terminologia. O termo “primitivo” tende a embutir um juízo de valor negativo que o deprecia. O termo “íncito”, que equivale a espontâneo, embora possa em muitos aspectos ser visto como adequado, é pouco conhecido e usado. A tendência atualmente observada é usar o nome “arte popular” para caracterizar a produção artística não erudita. Isso não significa que seja a melhor definição, mas especifica com mais precisão o tipo de arte a que nos referimos e por isso foi adotada como a convencionalmente usada. A concepção de arte popular como a expressão vívida da inventividade da alma do nosso povo e que através da sua fantasia

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reinventa a realidade a seu modo norteou o nosso trabalho como jurados da Bienal de 2012. Foi com grande satisfação que pude trabalhar com um grupo

A exceção em termos de obra tridimensional foi uma surpreendente cabeça feita em ferro por Evandro Soares. Demonstra originalidade, habilidade, engenhosidade e inclui movimento através de um

heterogêneo em termos de experiência profissional, mas que funcionou

mecanismo simples que faz uma hélice girar. É um trabalho que sugere

como verdadeira equipe. A seleção das obras foi feita de maneira muito

esforço e perseverança na elaborada realização.

atenta, reflexiva e democrática. Algumas normas foram consensuais na

Diferentemente de outras vezes em que houve espaço separado

escolha das obras a serem expostas. Levamos em conta a experiência

para sala especial idealizada pelo curador, a curadora Kiki Mazzuccheli

e a formação do artista. Procuramos evitar incluir obras de artistas

decidiu expor num mesmo espaço, lado a lado com a arte popular,

que tiveram a influência de uma formação artística específica ou cujo

também obras contemporâneas. Isso reflete e reforça a valorização

trabalho retrata situações não condizentes com sua condição de vida.

da produção de artistas populares, marca registrada das bienais de

Para isso analisamos também as suas biografias.

Piracicaba.

A iniciativa do sesc em valorizar e divulgar esse tipo de produção

A Galeria Pontes, por mim dirigida, promoveu em 2009 a exposição

a cada bienal que se repete há vários anos é realmente louvável. São

Mecânica Inexata, visando ao diálogo entre a arte popular e a arte

poucas as oportunidades de o artista popular receber tanta atenção e

contemporânea, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti. Essa

espaço para mostrar o seu trabalho. É normalmente excluído do circuito

exposição mostrou que esse diálogo é possível e tem uma fluidez que

artístico de exposições — e, portanto, sua obra tende a ser pouco

aflora naturalmente. No texto escrito para a mostra, Crivelli Visconti

valorizada.

fala...“da necessidade de recompor a fratura, recente e desnecessária,

Dessa vez foram apresentadas 536 obras (cada artista

que divide a prática artística em mundos separados, que deveriam

concorrendo com duas), representando vinte estados do Brasil.

voltar a ser aproximados e entendidos, assim, de outra forma. Da

Tivemos uma gama de temas muito frequentes na arte popular:

convicção de que a proximidade de obras e pensamentos distintos é

paisagens rurais e urbanas, festas populares (folclóricas e religiosas),

saudável e desejável, é o que molda e define o espírito de uma nação,

cenas do cotidiano, representação de problemáticas atuais.

de uma cultura... enfim, do desejo de uma convivência mais frequente,

Procuramos levar em consideração, além da maestria da realização,

de uma troca fecunda e contínua de ideias”... São proposições que

a sensibilidade, a sinceridade da abordagem e a originalidade, e

compartilho totalmente.

também demos destaque ao uso de técnicas e matérias pouco presentes nesta mostra. A grande maioria dos trabalhos enviados foi composta por pinturas

Apesar da alta representatividade de estados brasileiros nesta 11ª Bienal Naïfs do Brasil, faço aqui um pequeno comentário — pensando em futuras bienais — de quanto seria enriquecedor em

a óleo ou acrílico. Foram raras as xilogravuras, as obras tridimensionais

termos de diversidade de técnicas e uso de materiais uma presença

em cerâmica e pedra, poucas as esculturas em madeira — muito

geograficamente mais ampla, com a inclusão e aumento do número de

representativas no universo do artista popular.

trabalhos de estados ricos na produção de arte popular, em especial, os

A representação da lembrança de uma época que já passou faz parte

do nordeste.

da experiência de pessoas mais velhas, que viveram esse tempo. Nessa direção, por exemplo, vimos beleza, sensibilidade e sinceridade na obra de Maria Caldeira Bochini, artista com 82 anos. Nela percebemos a sobriedade nostálgica, a economia de cores e a ausência de detalhes supérfluos. Não é, de forma alguma, um retrato edulcorado e desnecessariamente embelezado.

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O Inesperado na Arte Marta Mestre Crítica e historiadora de arte

O nosso olhar transforma-se muito mais do que a arte. A nossa

O caso finlandês tem contornos épicos, pela sucessão dos seus

perspectiva sobre as coisas emancipa-se de uma ordem fechada e

episódios e pela forma com que, em menos de trinta anos, soube trazer

discursiva, e existe como um emaranhado emotivo que articula um

uma enorme visibilidade para um campo até então desconsiderado.

jogo de imagens e de tempos circulando confortavelmente entre “alta”

Começa com a história de Veli Granö, artista contemporâneo que realiza

e “baixa” cultura.

a série de fotografias “Onnela — Trip to Paradise”, retratos de vinte

A arte espontânea, ou seja, a produção visual que é realizada à parte

artistas folk e outsider no contexto dos seus mundos idiossincráticos. ­

do mundo institucionalizado da arte, tem um poder cada vez mais

A série é exposta em 1986, numa galeria de Helsinki, e gera o imediato

expressivo de empatia e sedução, e isso deve-se ao enfraquecimento da

interesse de várias camadas da sociedade.

rígida distribuição de gêneros, temas e hierarquias ao longo do século xx. Um pouco por toda a parte, e com maior ou menor grau de

O exemplo finlandês é recheado de acontecimentos muito contundentes na criação de uma estética de corpo inteiro com o

expressividade, reparamos que a “arte espontânea”, aquela que está

apoio do Estado: a abertura do “Contemporary Folk Art Museum”

sempre onde menos esperamos, onde ninguém pensa nela, nem

(na cidade de Kaustinen); a liderança no programa europeu “Equal

pronuncia o seu nome, tem admiradores por todo o mundo e realiza um

Rights to Creativity — Contemporary Folk Art in Europe”, em

caminho excepcional de afirmação, seja no Brasil, seja... na Finlândia.

parceria com a Hungria, Itália, Estônia e França, ao qual se associou

Em 2006 fiz uma viagem à Finlândia e tive oportunidade de

uma editora para a publicação de edições de grande qualidade

visitar artistas e produções da chamada “arte espontânea”. Foi uma

dos trabalhos dos artistas “espontâneos”; a exposição “In Another

experiência intensa, na qual pude perceber a importância simbólica,

World” realizada no Museu de Arte Contemporânea de Helsinki —

cultural, identitária e econômica que esse campo artístico pode ter.

Kiasma, uma seleção da melhor arte espontânea finlandesa, a par

Tomar agora conhecimento com a produção brasileira que chega à

dos artistas históricos das coleções europeias (Alain Bourbonnais,

Bienal Naïfs de Piracicaba faz-me constatar que, apesar de serem países

Aloïse Corbaz, Madge Gill, Chris Hipkiss, Giovanni Battista Podesta,

com realidades muito diferentes, existe um traço comum que confere

Henry Darger ou Adolf Wölfli); e a condecoração, em 2007, de

unidade às suas produções visuais.

Veijo Rönkkönen, um dos artistas fotografado vinte anos antes por

O jargão que os especialistas usam para caracterizar esse tipo de

Veli Granö, com o “Finland Prize”, prêmio nacional do Ministério

produção é extenso: arte naïf, arte outsider, art brut, raw art, folk art, arte

da Cultura, pelo seu trabalho que recebia a atenção do curador

visionária, “ambientes visionários” etc.; contudo, é uma mesma ordem

internacional Harald Szeemann.

de imaginário e crença, imagens que parecem ter saído de um Éden

Esse movimento levou à necessidade de inventar uma designação

acabado de descobrir, e que são intensamente povoadas de anacronias

para a “nova” arte: ITE art, “Itse Tehty Elama”, que significa “self made

e de obsessões. Sobrevivências de uma “história sem nome” que nos

life”, e institui a ideia de que a vida existe pela dimensão estética de

chegam de forma avassaladora, intensa e disruptiva.

cada um de nós.

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O caso finlandês faz-nos pensar em vários aspectos. Sugiro dois para

que um label de marketing apenso a uma política cultural confinada. Por

reflexão, a respeito do contexto da Bienal Naïfs do Brasil, em Piracicaba.

se relacionar muito mais com a vida do que com a arte (como a poética

Em primeiro lugar: Qual o sentido da designação “Bienal Naïfs”?

de Joseph Beuys, artista alemão para quem a vida existia pela dimensão

A experiência do júri deste ano e a consulta da documentação das

estética de cada um), ele assegura a longevidade ao campo artístico de

edições anteriores reforçam mais uma vez que a produção que chega até Piracicaba vinda de todo o Brasil extrapola o universo da arte “naïf”. Trata-se de um termo apertado para imagens demasiado irrequietas, um termo que não considera as suas diversas e improváveis procedências

que estamos a falar. Um segundo aspecto para reflexão: de que forma a curadoria pode dar visibilidade à “arte espontânea”? A curadoria é essencial para trazer para o campo codificado das

artísticas, como poderia ser o caso da arte indígena, da arte dos doentes

artes visuais as expressões características da vida ordinária, dos

mentais, a arte realizada em estados alterados de percepção, para citar

cotidianos, dos territórios domésticos, dos vazios rurais, do mundo

alguns exemplos.

indígena, primitivo, dos estados alterados de percepção, entre outros.

Podemos, inclusive, falar em “inadequação” do termo naïf ao

“Mundos” que muito gradualmente tem vindo a fazer parte das agendas

universo dos artistas que tem passado pelas bienais de Piracicaba, se

e das programações dos museus, mas que, por ironia, revelam seu

lembrarmos aquilo que Freud escreveu a propósito de “fetiche”, um dos

papel regenerador no cenário da crise da história da arte moderna e

elementos que melhor caracteriza a natureza das imagens naïf.

contemporânea ocidentais.

Ao introduzir o conceito de “fetiche”, Freud1 referia-se ao fato de ele formar uma imagem totalitária. A imagem fetiche é uma imagem “estanque” ou “inanimada” que faz lembrar uma espécie de paragem do olhar. Segundo Freud, o que constitui o fetiche é o momento da história em que a imagem para, como se fosse a imobilização do fantasma.

A crescente importância das “artes desautorizadas” reforça, inclusive, o fato de muitos críticos e historiadores verem nela uma espécie de “bolha de oxigênio” em face do poder homogeneizador da globalização, da padronização da arte e do seu meio cada vez mais engessado. Porém, essa potência regeneradora da “arte espontânea” não deverá

O fetiche é ainda um véu, uma cortina, um “ponto de recalcamento”.

ser instrumentalizada no circuito fechado que vê a modernidade

É por isso que o olhar maravilhado do naïf nos parece muitas vezes

primeiro e a contemporaneidade depois, por interpostas etapas e como

cristalizado, um eterno retorno. Como refere Laymert Garcia dos Santos:

lugares inesgotáveis aos quais acedemos conforme o escafandro que

“a arte naïf é a arte da emoção, um grito do coração” e acrescenta que: “o efeito mágico produz-se no olhar, ele cristaliza a imagem”2. O ponto de vista de Freud sobre a natureza das imagens naïf faz

nos leva a maior profundidade. Consideramos que a capacidade regeneradora da “arte espontânea” tem muito mais a ver com uma função antropológica, que relega a

absoluto sentido quando se lamenta que um artista “naïf” copia uma

condição estética para segundo plano. Essa função tem a potencialidade

fórmula que dá resultado e que a repete sucessivas vezes. Porém, não

de poder gerar um magnífico efeito de espelho que, sob o véu de expormos

se trata de uma resposta a um mercado entretanto conquistado, mas a

os outros, deixa passar observações sobre nós, sobre a nossa cultura, as

própria natureza da imagem naïf: o jogo de repetição dos elementos é

nossas noções de arte, os nossos valores e atitudes.

necessário para a produção do fetiche. Pelo seu caráter circunscrito, o termo “naïf” é parcial para a

Um exemplo categórico desse paradigma mais antropológico do que estético foi a exposição Les Magiciens de la Terre, realizada no

produção extensa que chega a Piracicaba e limita a possibilidade de

Centro Georges Pompidou, em 1989. Nela se agrupou, pela primeira

pensar o futuro da Bienal. Não obstante ter sempre existido dificuldade

vez, arte contemporânea ocidental com arte proveniente do resto

em encontrar uma designação confortável para esse campo artístico,

do mundo e de diversas categorias. Essa exposição deu sentido ao

desde Jean Dubuffet a Roger Cardinal, os finlandeses “resolveram” a

que Hans Belting viria a designar de “arte global”3, que, “na sua nova

questão inventando esse nome que mencionamos: ITE art, que é mais do

expansão, pode mudar substancialmente o conceito do que é a arte

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contemporânea e de arte no geral, pois ela está em lugares onde

No segundo caso, a “emancipação” reside numa restituição dos

nunca esteve na história da arte e onde não existe qualquer tradição

lugares e dos sujeitos de enunciação de modo a reconhecer e a

de museu”4.

desenvolver todas as consequências da “igualdade das inteligências”.

Existem, evidentemente, nas palavras de Hans Belting um sério

Talvez seja por isso que algumas pessoas dizem que deveríamos

argumento sobre o fim da “história da arte como modelo da nossa

sempre olhar para um trabalho de arte espontânea com seu autor do

cultura histórica”5, e uma crítica sobre os lugares de enunciação que

lado, ouvindo a sua estória.

tradicionalmente produziram os discursos sobre a arte e, no caso, sobre “arte espontânea”. É preciso lembrar que o otimismo que existe hoje sobre esse

Tudo se passa como se esses artistas, no lugar de terem pintado, esculpido ou bordado, tivessem narrado as suas vidas, seus mundos, os lugares de onde vêm e de onde todos vimos. Tenho a maior curiosidade

campo artístico cada vez mais divulgado e reconhecido viveu um

em saber a estória que conta Maria Caldeira Bochini, na tela em que

regime de apartheid cultural durante muitos anos. Como bem lembra

três meninas brincam sem brinquedos, ou que Carmela Pereira me

Michel Thévoz, “mesmo no museu imaginário de Malraux, as obras de

cante a canção que os seus seres carnavalescos estão a festejar. Mas,

Aloïse ou de Guillaume Pujolle ficavam no purgatório com a legenda

muito particularmente, o silêncio em tons pálidos trocado entre os dois

anônima e infamante de desenhos de loucos. E quando, na Documenta v

homens de “O barco do pescador”, do pantanal de Jefferson Bastos.

de Kassel, em 1975, se teve a audácia de introduzir as obras de Adolf Wölfli e de Heinrich-Anton Muller — sem dúvida os mais inventivos de toda a manifestação — foi isolando-os numa seção designada de psicopatológica”6. Como referimos anteriormente, cada vez mais esse apartheid tem vindo a ser desfeito; porém, ainda persistem alguns paradoxos. Vou finalizar sinalizando um que, penso, que ainda gera importantes entraves. Trata-se de um paradigma pedagógico que é, muitas vezes, aplicado à “arte espontânea” e que reconstitui indefinidamente a desigualdade que pretende suprimir, como se houvesse uma igualdade como objetivo e uma “fratura” social, estética, simbólica a ser eliminada. É um jogo dúbio que pode significar coisas completamente diferentes: conduzir os artistas a restarem no seu “paraíso perdido”, vendo aí a sobrevivência de uma arte que não deveria ser corrompida ou construir a sua “emancipação” com vista a uma “igualdade de inteligências” (J. Rancière). No primeiro dos casos, existe um discurso que acomoda a arte e os artistas espontâneos numa subalternidade e que não lhes dá voz. Privados da palavra, essa arte e esses artistas falam somente

1 Sigmund Freud, “Souvenirs d'enfance et souvenirs-écrans”, in Psychopathologie de la vie quotidienne, Payot, Paris, 2004. 2 Laymert Garcia dos Santos, “Regarder autrement”, in Histoires de voir (catálogo da exposição) Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, maio 2012. 3 “The Global Contemporary. Art Worlds After 1989”, a exposição realizada pelo ZKM | Museum of Contemporary Art (de setembro 2011 a fevereiro de 2012) usa a data de “Les Magiciens de la Terre” como um marco cronológico do conceito “arte global”: http://www.globalartmuseum.de/ site/act_exhibition.

por interposta pessoa (aquele que os “descobriu”, o galerista, o júri, o

4 In http://globalcontemporary.de/en/exhibition.

historiador etc.). Por isso é que essas imagens são normalmente “mal

5 Hans Belting, O Fim da História da Arte, Cosac&Naify, p.12.

vistas”, e mal vistas porque mal ditas, mal descritas, mal legendadas,

6 Michel Thévoz, Art brut, psychose et mediumnité, Éditions de la différence,

mal fotografadas, mal utilizadas.

Paris, p.10.

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Retorno ao frescor criativo Paulo Klein aica  Association Internationale des Critiques D’Art abca  Associação Brasileira de Críticos de Arte

“...a lua reina sobre os artistas que não precisam academiar.” Carlos Drummond de Andrade in “Teimosia da Imaginação” por Germana Monte-Mór

“Eu devia ter aprendido a dirigir carro, mas escolhi pintar quadro.” Aurelino dos Santos, pintor popular, Salvador-BA

A trajetória que conduz a esta Bienal Naïfs do Brasil, em sua 11ª edição, começa na década de 1980 com exposições que, com pequenas variações no título, chegam a 1992 (em sexta edição) como “Arte Ingênua e Primitiva — Mostra Internacional”, sempre com base no sesc Piracicaba, mas algumas vezes espalhando-se pela agradável cidade do interior paulista. Em seguida a mostra passou a ocorrer de dois em dois anos, recebendo a designação de Bienal Naïfs, nome que hoje já é marca reconhecida no Brasil e internacionalmente. Primeiro anual, depois como bienal, o evento foi coordenado durante anos por Antonio do Nascimento, que ampliou gradualmente sua paixão pelo segmento, articulou e convidou artistas e críticos de arte que tinham, nessas ocasiões, oportunidade de manter contato com uma produção tão específica, desarticulada, em geral periférica ou interiorana que mesclava naïfs edulcorados, bruts domesticados e primitivistas de várias gerações. Contando inicialmente com um formato de mostra competitiva, passou em certo momento a apresentar salas especiais de artistas convidados. Esse formato durou até 2004, quando — convidados a realizar a curadoria da sétima edição do evento — propusemos a manutenção do segmento competitivo, já que ele permitia a visibilidade e circulação de produtores dessa arte, mas acompanhado de mostra reflexiva que promovesse a discussão e interação desse com outros segmentos

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das artes, independente de suas designações — arte popular, cabocla,

atraente ao polêmico tema da escravatura no século xxi, encontrada

periférica, não erudita, ingênua, ínsita, naïf, contemporânea, entre

ainda em algumas regiões do país.

outras possibilidades. Retornar à Bienal Naïfs, oito anos depois, fazendo parte do corpo

A pesca é tema de Jefer (Jefferson Bastos), de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, outro prêmio aquisitivo, numa pintura de singelo

de jurados para seleção e premiação, permite-nos algumas reflexões.

primitivismo no qual paisagem e personagens são esquemáticos e as

Em primeiro lugar, sobre o ato de julgar uma obra de arte sob a égide

tonalidades mantêm a leveza dos desenhos infantis.

da velocidade da comunicação virtual e da pendular oscilação dos

Dentre os Prêmios Incentivos destacamos a atmosfera psicológica

gostos; se pertinente ou não, boa ou ruim, apreciável ou não. A riqueza

e a predominância de cores chapadas das pinturas de Kaldeira (Maria

e diversidade de impressões, argumentos, convicções deveriam ser

Caldeira Bochini), de Cantanduva, São Paulo; a simplicidade dos

documentadas em vídeo para figurar posteriormente no rol dos

bordados de Maria Aparecida Machado, de Chapada dos Guimarães,

discursos filopoéticos. De qualquer modo, esse exercício crítico nos

Mato Grosso, e as cenas sacroprofanas carregadas de barroquismos de

possibilita desafios insondáveis, âmago do nosso ofício.

Ilma Deolindo, de Nova Horizonte, São Paulo. Mas mereceram incentivos

No presente júri tivemos que lidar com algumas premissas, como

também as cores vibrantes captadas no próprio cotidiano de Retrato

as dimensões do espaço expositivo, compartilhado nesta edição com

Íntimo, de Enzo Ferrara, e o imprevisto obtido com manipulação de

artistas contemporâneos indicados pela curadora Kiki Mazzucchelli e

sucata de Sonho de Voar, de Evandro Soares, de Goiânia.

com as opções aquisitivas que visam tornar mais orgânico o acervo da instituição. Desse modo o corpo de jurados exerceu suas funções com rigor,

Menções especiais foram concedidas pelo júri para artistas que chamaram atenção, como Carmela Pereira (Piracicaba, SP), resistente pioneira da arte primitiva local, Danbeco (Rio de Janeiro, RJ), Joana

não apenas no que considerou pertinente ou não nessa complexa

Baraúna da Silva (São Paulo, SP), Renata Kelssering (São Paulo, SP),

especificidade, mas também buscou eliminar a presença do naïf

José Altino (João Pessoa, PB), Shila Joaquim (São Mateus, ES), Vósandra

edulcorado, dos ingênuos inebriados em atmosfera falsa ou ainda

(Ribeirão Preto, SP).

réplicas de outros criadores. Tarefa desafiadora, mas que permitiu

Aproveitamos ainda para agradecer a oportunidade desse

fricção excitante que, ao mesmo tempo, alimenta e questiona a

encontro com uma produção geralmente mantida longe dos circuitos

produção contemporânea.

institucionais, à equipe do sesc — sempre eficiente e dedicada — e às

O resultado é uma essência concentrada do que se produz hoje no Brasil nesse segmento que mescla a pintura de ingenuidade

nossas parceiras de júri, que muito nos estimularam e questionaram, com conhecimento e poesia, nesse delicado ato de julgar.

relativa (até a “crackolândia”, o “lixão” e a reciclagem de lixo aparecem como temáticas), a arte de outsiders que fascinam pela originalidade (incluindo suas biografias repletas de causos de humor, sofrimento ou tragédia), além dos mestres que têm evoluído tecnicamente ao longo dos anos, sem perderem a poética (muitas vezes rústica) e a identidade própria. Enfatizamos as obras e artistas contemplados com o Prêmio Aquisição, as duas criações de Adão Domiciano Pinto, artista de Cuiabá, Mato Grosso, já conhecido de outras bienais por sua pintura incisiva, que retorna com a novidade do uso da aquarela sobre papel aplicado sobre placa. A novidade do material adere de forma satisfatória e

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O sonho da ingenuidade Juliana Braga de Mattos Assistente de Artes Visuais da Gerência de Ação Cultural — sesc São Paulo

A experiência de um júri artístico, qualquer que seja a manifestação em

Essas parecem ter sido duas importantes questões que moveram as

vista, pode ser duplamente reveladora: se por um lado cria um índice

reflexões e escolhas da presente comissão. Entre os diversos trabalhos

sobre a produção artística em determinado espaço e tempo, acaba

inscritos, foi possível colhermos um interessante retrato de um Brasil

igualmente por enunciar convicções e ideais dos avaliadores que o

que, nas últimas décadas, passou por significativas mudanças de ordem

constituem — nem sempre correspondidas à risca pelos artistas.

política e econômica, de alguma forma captadas pelas representações

Tomar a Bienal Naïfs do Brasil, organizada pelo sesc São Paulo há mais

artísticas observadas. Não forçosamente tais mudanças favoreceram

de 22 anos, como ponto de inflexão das questões indicadas, permite-nos

o exercício da arte — mas, certamente, revelaram subtextos ainda

algumas considerações sobre o atual panorama da chamada arte naïf

presentes no imaginário sobre o universo naïf, no qual resiste uma

ou ingênua no país. Uma primeira aproximação revela certa dissonância

antiga ideia de ingenuidade, sonhada há mais de um século.

do termo original e sua conotação nos dias de hoje; criada no que nos

A ampliação de entendimentos sobre arte ingênua, popular e

parece o longínquo século xix para definir, do ponto de vista europeu,

contemporânea — e, mais ainda, a aproximação entre seus campos

um sem número de produções alheias à formação clássica e acadêmica

de criação — ­ vem constituindo uma incessante busca da Bienal Naïfs

— em suma, populares —, a expressão arte naïf passou a avizinhar-se de

do Brasil a cada edição, em sintonia com o compromisso do sesc em

um universo de criação em que certo estilo forjado sobrepõe-se ao que

garantir o fomento e debate sobre a produção artística no País. Em 2012,

outrora fora expressão poética.

o caminho absorveu contornos mais nítidos. Desejamos que o simples

Nesse sentido, tampouco se pode pretender enquadrar o termo

e o colorido, o cotidiano e o onírico sejam inspiradores ao público, pois

como reflexo purista de produção que escape aos tentáculos da

o naïf assim se revelou a nós, integrantes da comissão de seleção, ao

comunicação de massa ou dos códigos do mercado de arte — efeitos

longo de um tempo deleitável de pesquisa e debates.

colaterais velhos conhecidos de nosso mundo global. Mas, eis o desafio: justamente por conhecermos a potência de nossas tradições artísticas vinculadas a raízes populares, como escapar ao desejo de nos depararmos, em comissão convocada para tão específica tarefa, com um frescor genuíno que represente a essência de um certo agir ambivalente, que fuja aos estereótipos ao mesmo tempo em que não represente mera mímese de valores postiços à cultura brasileira? E, por outro lado, como nos despojarmos da ideia pré-concebida de que o artista “ingênuo” viveria necessariamente isolado dos códigos desse mundo contemporâneo — como se dele expressão legítima não fosse?

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ObRaS E histรณriAS



artista selecionada  Ana Denise. Em Frente de Casa. Acrílica sobre tela, 40×50 cm.

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artista selecionada  Ana Denise  [Ana Denise Rocha Souza, Aracaju, SE, 1949]

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Daniela Rossin  [Daniela Carla Rossin, Piracicaba, SP, 1976]  artista selecionada

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artista selecionada  Daniela Rossin. A Enchente. Óleo sobre tela, 50×70 cm.

32


artista selecionado  Marcelo. Lixão. Óleo sobre tela, 51,5×71,8 cm.

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artista selecionado  Marcelo  [Marcelo Schimaneski, Ponta Grossa, PR, 1967]

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Pablo Lobato [Bom Despacho, 1976. Vive e trabalha em Belo Horizonte]  além da vanguarda

A obra do artista mineiro Pablo Lobato que integra a mostra Além da Vanguarda apresenta uma imagem recorrente e altamente simbólica dentro do universo da arte popular: o sino de igreja. Na história da Bienal Naïfs do Brasil, são inúmeras as obras registradas em que os sinos figuram em paisagens de praças ou de festividades, sempre alçados no topo das pequenas torres das igrejinhas das cidades do interior do País. É justamente em Minas Gerais, estado natal de Lobato, que se encontram algumas das mais preciosas igrejas do período barroco. Foi ali que o artista realizou uma pesquisa sobre os sinos de diferentes cidades, muitos deles hoje desativados, uma investigação que resultou numa série de trabalhos que inclui Bronze Revirado, a videoinstalação que apresentamos aqui. Como descreve Jacopo Crivelli Visconti em comentário sobre essa obra, “[A]o percorrer e estudar esse tema, o artista verificou que, desde sempre, o lugar no alto das torres onde os sinos são tocados pertence quase exclusivamente aos sineiros (que, antigamente, eram em sua maioria escravos): nem os fiéis, nem os próprios padres sobem até lá. Ou seja, o artista resgata a visualidade de um evento de importância fundamental no tecido social, e cuja imagem, contudo, ao longo dos séculos tem sido programática e metodicamente ocultada e até negada”. Assim, em contraste com o excesso de visibilidade da imagem do sino e da igreja nas representações pictóricas tanto eruditas como populares, o que Lobato nos oferece é um ritual que, apesar de acontecer sistematicamente ao longo dos séculos, permanece dissimulado. Mostrado aqui em escala natural e de modo a nos transportar para os bastidores da igreja, para dentro do nicho onde se desenrola a coreografia quase erótica e arriscada dos sineiros, Bronze Revirado retém todo o seu caráter humano, revelando, como sugere Crivelli Visconti, “uma espécie de transe pagão (...) que rasga a estase e o silêncio, para instalar o êxtase”. Somos nós que, dessa vez, entrevemos em contraplano, para além da abertura da torre do sino, a praça, as festividades regionais ou a paisagem da cidadezinha do interior.

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além da vanguarda  Pablo Lobato. Bronze Revirado, 2011. Videoinstalação, um canal, 4'52", loop, cor, estéreo, 16:9 (vertical) HD.

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artista selecionado  A. Salviano Bueno. Cracolândia. Acrílica sobre tela, 43×63 cm.

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artista selecionado  A. Salviano Bueno  [Alaor Salviano Bueno, Paraguaçu, MG, 1938]

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Felipe Arturo [Bogotá, 1979. Vive e trabalha em Bogotá]  além da vanguarda

Desde 2009, o artista colombiano Felipe Arturo vem investigando os métodos construtivos empregados por camelôs de diferentes cidades latino-americanas. Ele nota como as arquiteturas efêmeras próprias de cada uma dessas cidades se desenvolveram a partir de complexos processos de políticas locais e das particularidades relativas à distribuição de alimentos e mercadorias entre os centros urbanos e rurais ou entre cada nação e o estrangeiro. O fenômeno do deslocamento populacional acarretado pelo comércio informal possui um inegável impacto sobre a configuração urbana de determinadas regiões, nas quais diariamente são erguidos e desmontados grandes centros comerciais ao ar livre, atraindo milhares de consumidores. Devido a sua natureza temporária e, na maior parte das vezes, ilegal, a arquitetura desse tipo de comércio possui algumas características básicas. Em alguns casos, deve ser constituída de materiais relativamente leves, para que seja mais facilmente transportada e com técnicas simples e eficazes, que permitam uma ágil montagem e desmontagem. Os materiais devem ser invariavelmente fáceis de encontrar e de baixo custo, mas também devem ser duráveis e resistentes para suportar sua prolongada exposição às intempéries. Trata-se, assim, de uma arquitetura inteiramente fundamentada nas necessidades prementes desses grupos de trabalhadores informais, não apenas calcada em princípios acadêmicos e portanto informada por um saber popular vivo. Em São Paulo, assim como em outras grandes cidades latino-americanas, a atividade diária dos camelôs acontece em grande escala, e é justamente ali que Arturo realizará uma pequena residência a fim de produzir uma nova comissão para Além da Vanguarda a partir de suas pesquisas sobre os métodos construtivos dos camelôs locais. Apropriando-se dos materiais e das técnicas construtivas aprendidas junto aos camelôs da cidade de São Paulo, o artista construirá um ambiente temporário, cuja configuração final será desenvolvida nas semanas que antecedem a exposição. O trabalho deverá ocupar, pela primeira vez na história da Bienal Naïfs do Brasil, a grande varanda adjacente ao salão expositivo do sesc Piracicaba, criando uma área de observação e pausa que conecta o interior do edifício às áreas dedicadas ao lazer e ao esporte que se localizam na parte anterior do terreno.

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alĂŠm da vanguarda  Felipe Arturo. Biblioteca de Arte Ambulante, 2010. Assemblagem ambulante.

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além da vanguarda  Felipe Arturo. Los Exilios de Trotsky, 2009. Vídeo, 14 min.

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prêmio menção  Vósandra. Mulheres no Morro. Óleo sobre tela, 40×40 cm.

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prêmio menção  Vósandra. Sai Cocô. Óleo sobre tela, 50×50 cm.

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prêmio menção  Vósandra  [Sandra Maria Fontana, São Paulo, SP, 1943]

44


Nil Rosa  [Nivaldo Rosa, Rondonópolis, MT, 1968]  artista selecionado

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artista selecionado  Nil Rosa. Colhendo I. Acrílica sobre tela, 15×20 cm.

46


artista selecionado  Nil Rosa. Colhendo II. Acrílica sobre tela, 15×20 cm.

47


artista selecionado  Nilson Machado. Vi na TV – I. Acrílica sobre tela, 40×50 cm.

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artista selecionado  Nilson Machado. Vi na TV – II. Acrílica sobre tela, 40×50 cm.

49


artista selecionado  Nilson Machado  [Nilson de Queiróz Machado, Rondonópolis, MT, 1962]

50


Carmézia  [Carmézia Emiliano, Normandia, RR, 1960]  artista selecionada

51


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artista selecionada  Carmézia. Corrida da Massa. Óleo sobre tela, 37,5×127,5 cm.

53


prêmio incentivo  Kaldeira. Jogo de Pedrinhas. Óleo sobre tela, 49,5×40 cm.

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prêmio incentivo  Kaldeira. Preparo Manual do Café. Óleo sobre tela, 40×60 cm.

55


prêmio incentivo  Kaldeira  [Maria Caldeira Bochini, Bady Bassitt, SP, 1921]

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Lombas  [Laurindo Lombas, Galia, SP, 1940]  artista selecionado

57


artista selecionado  Lombas. Sem Preconceito. Óleo sobre tela, 92×72 cm.

58


artista selecionada  R. Domingues. Fazendo Farinha. Óleo sobre tela, 50×70 cm.

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artista selecionada  R. Domingues  [Rosa Domingues da Silva Neto, Mossâmedes, GO, 1949]

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Rodrigo Matheus [São Paulo, 1974. Vive e trabalha em Londres]  além da vanguarda

Com uma produção que transita por diferentes mídias, a obra de Rodrigo Matheus não se atém a técnicas ou estilos particulares. Em seus primeiros trabalhos, incorporava e articulava objetos industrializados ou de design encontrados no cotidiano corporativo, emulando e empregando sua estética característica dentro do circuito da arte contemporânea. Recentemente, realizou uma série de obras em que se apropriou de materiais característicos desse mesmo circuito, como embalagens de obras e materiais de montagem, criando com eles situações escultóricas temporárias. Essas configurações eram mantidas apenas durante o período de duração das mostras que integravam, dissipando-se após seu término, quando esses materiais eram devolvidos a seus lugares de origem e cessavam de ser considerados arte. Para as duas novas comissões que produziu para a mostra Além da Vanguarda, Matheus opera também uma re-significação de materiais existentes. Aqui, busca dialogar diretamente com a história local do poder das elites agrárias paulistas e as transações comerciais que realizavam com a Inglaterra no início do século xx, quando ainda nem se falava em globalização. Em uma das peças, ele acumula uma série de documentos relativos às transações comerciais variadas entre Brasil e Inglaterra sobre uma superfície bidimensional, conferindo materialidade a um sistema baseado no comércio transatlântico, no acúmulo de capital e na exploração do trabalho escravo. No segundo trabalho, utiliza papéis do mesmo período que eram utilizados para embalar as laranjas exportadas do Brasil para a Inglaterra. Essas laranjas eram embaladas, uma a uma, em um papel delicado, no qual havia a inscrição de sua origem e o logo da empresa. Aqui, Matheus traz esses papéis de volta a seu país de origem, construindo com eles uma delicada peça de parede bidimensional em que são utilizados como as pequenas bandeirolas decorativas das festas regionais e adornados com anzóis e iscas que remetem aos grandes rios do interior paulista. Através dessas evidências materiais, Matheus evoca uma história de transações comerciais sustentadas pelo trabalho escravo que sofreu um apagamento sistemático, mas cujos ecos ainda são sentidos na estrutura social do Brasil contemporâneo.

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além da vanguarda  Rodrigo Matheus. Interior/Exterior, 2012. Técnica mista, 195×170 cm. Detalhe.

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além da vanguarda  Rodrigo Matheus. Interior/Exterior, 2012. Técnica mista, 195×170 cm.

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prêmio incentivo  Maria. As Camponesas. Bordado à mão sobre tela, 24,7×29,5 cm.

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prêmio incentivo  Maria. Nossa Terra. Bordado à mão sobre tela, 24,8×29,7 cm.

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prêmio incentivo  Maria  [Maria Aparecida Queiroz Machado, Rondonópolis, MT, 1960]

Nome: Maria Aparecida Queiroz Machado

5.  Escreva uma mensagem.

Idade: 51 anos

Tudo quantos fizerdes, fazei-o de todo coração, como para

Escolaridade: 2º grau do ensino médio

o senhor e não para o homens, sabendo que receberão do senhor a herança “colossenses: 3:23”.

1.  Porque você começou a se interessar por arte? Porque já venho de uma família de artista, e vivo costantemente envolvida com arte.

2.  Trabalhar com arte é sua atividade principal? Se não for, qual é a sua profissão? Não, técnica de enfermagem.

3.  Onde você reside hoje é zona rural ou urbana? É o local onde você nasceu? Urbano. Não, nasci na cidade de Rondonópolis-MT.

4.  O que você quer contar com seu trabalho? Porque, meu pai era agricultor, me lembro dele arando a terra com isso veio a memória da minha infância, onde veio a ideia de registrar no bordado.

depoimento recebido por e-mail

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Vanice Ayres Leite  [Vanice Ayres Delgado, Belo Horizonte, MG, 1947]  artista selecionada

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artista selecionada  Vanice Ayres Leite. Funk na Comunidade. Nanquim sobre papel, 25Ă—34 cm.

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artista selecionada  Tahiazé. Festa da Polenta. Óleo sobre tela, 32×42 cm.

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artista selecionada  Tahiazé  [Maria José Catapano Ferraz de Toledo, São Paulo, SP, 1937]

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Psilito  [Antonio Carlos Nascimento Pivatto, Porto Alegre, RS, 1937]  artista selecionado

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artista selecionado  Psilito. Tuiuty – 24 Maio 1866. Acrílica sobre tela, 46,7×57 cm.

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além da vanguarda  Alexandre da Cunha. Fair Trade IV Timbrado, 2011. Bordado sobre saco de juta em colaboração com Luisa Strina, 124,5×190,5 cm.

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além da vanguarda  Alexandre da Cunha. Fair Trade XIII, 2011. Bordado sobre saco de juta em colaboração com Luisa Strina, 36×45×6 cm.

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além da vanguarda  Alexandre da Cunha. Fair Trade XIV, 2011. Bordado sobre saco de juta em colaboração com Luisa Strina, 33,5×50 cm.

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além da vanguarda  Alexandre da Cunha  [Rio de Janeiro, RJ, 1969. Vive e trabalha em Londres]

Em seu trabalho, Alexandre da Cunha se apropria de materiais, objetos e citações oriundos de registros tradicionalmente distintos para transformá-los através de um processo de colagem de diferentes elementos. Essa operação em geral parte de objetos mundanos encontrados num cotidiano qualquer (toalhas, guarda-sóis, utensílios domésticos, entre muitos outros) que são retirados de seu contexto original, recombinados com outros elementos e finalmente inseridos em uma nova hierarquia de valor. Ao trazer esses objetos para dentro do universo da arte, ele os destitui de sua função original, ao mesmo tempo em que levanta questões relativas a ideias de valor, circulação ou intencionalidade. Na série de bordados presente nesta exposição, Alexandre da Cunha, assim como em trabalhos anteriores, se apropria de um fazer/saber popular e de materiais banais, fazendo uso de seu valor simbólico. Aqui ele associa a qualidade da trama das telas de bordar à trama dos grandes sacos de juta utilizados na exportação dos grãos de café, que servem como matéria-prima para esses trabalhos. Ora mais figurativas, ora mais abstratas, as composições de cada bordado foram cuidadosamente selecionadas pelo artista a partir das ilustrações originais desses sacos, às quais ele nada acrescenta. Cabe notar aqui que exibir as obras dessa série no contexto desta exposição, no interior paulista, cujo desenvolvimento no século xix, como sabemos, foi movido pela indústria cafeeira, faz com que adquiram um sentido renovado ao ativar suas relações com a História. Mas além dessas diferentes camadas de significado, um dos elementos mais interessantes nesta série é a confusão de papéis que o artista causa, pois aqui quem realiza o trabalho manual do bordado é sua galerista, Luisa Strina. O bordado é uma atividade normalmente associada às mulheres afeitas aos trabalhos domésticos e que não possuem ocupações profissionais; uma imagem que contrasta tremendamente com a figura da galerista, de mulher independente e empreendedora. Essa série de trabalhos promove, portanto, o encontro de dois mundos profundamente distintos; um ligado ao artesanato, à repetição de uma técnica e de um conhecimento ligados a um fazer feminino em sua acepção mais tradicional, e outro associado à arte contemporânea, à vanguarda cultural, à inovação conceitual e ao internacionalismo.

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Ilma Deolindo  [Ilma Deolindo Nunes, Luiziânia, SP, 1957]  prêmio incentivo

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prêmio incentivo  Ilma Deolindo. Primeira Comunhão. Óleo sobre tela, 100×60 cm.

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prêmio incentivo  Ilma Deolindo. Farra no Bordel. Óleo sobre tela, 60,9×80,5 cm.

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artista selecionado  Sitó. Festa Cuiabana. Óleo sobre tela, 40×50,5 cm.

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artista selecionado  Sitó. São José Águas de Março. Óleo sobre tela, 40×50,5 cm.

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artista selecionado  Sitó  [Antonio Pereira da Silva, Ouro Branco, MG, 1931]

82


Shila Joaquim  [Shirlene Reollo Joaquim Domiciano, Ribeirão Preto, SP, 1965]  prêmio menção

83


prêmio menção  Shila Joaquim. Casamento da Pastorinha. Acrílica sobre tela, 80×60 cm.

84


artista selecionado  Adonis César. Mariana (Beco Saída). Óleo sobre tela, 40×60,3 cm.

85


artista selecionado  Adonis César  [Adonis César Alves Pereira, Belo Horizonte, MG, 1955]

86


Zéca Maria  [José Maria de Carvalho, Nepomuceno, MG, 1952]  artista selecionado

87


artista selecionado  Zéca Maria. Futebol de Fazenda I. PVA sobre tela, 40×60 cm.

88


prêmio incentivo  Enzo Ferrara. Retrato Íntimo. Acrílica sobre tela, 78,2×98 cm.

89


prêmio incentivo  Enzo Ferrara  [Enzo Cicero Tiago Aparecido de Lima Santos, São Paulo, SP, 1984]

90


Tartaruga  [Geraldo Alves da Silveira, São Luiz do Paraitinga, SP, 1949]  artista selecionado

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artista selecionado  Tartaruga. Dança de Rua. Tinta esmalte sobre tela, 30×40 cm.

92


artista selecionado  Tartaruga. Festa de Santa Crus. Tinta esmalte sobre tela, 30Ă—40 cm.

93


prêmio menção  Joana Baraúna. Poesia Ecológica nº I. Nanquim sobre papel casca de ovo, 51,2×42,8 cm.

94


prêmio menção  Joana Baraúna. Poesia Ecológica nº II. Nanquim sobre papel casca de ovo, 51,2×42,8 cm.

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prêmio menção  Joana Baraúna  [Joana Baraúna da Silva, Santa Rita, PB, 1947]

96


Tonico Lemos Auad [Belém do Pará, 1968. Vive e trabalha em Londres]  além da vanguarda

Em seus trabalhos, Tonico Lemos Auad parte de materiais mundanos para construir objetos, esculturas e instalações que geralmente dependem de um equilíbrio delicado para existirem. Dentro do âmbito do comum e do irrisório, o artista opera deslocamentos silenciosos que potencializam o valor simbólico latente de formas e elementos que nos passam despercebidos, tornando-os preciosos e permanentes. Tais operações invariavelmente envolvem um labor manual específico característico de certas regiões ou culturas e associado a materiais e técnicas tradicionais que são passadas de pais para filhos através dos séculos. Em sua obsolescência perante a sociedade de produção em massa, muitas dessas técnicas encontram-se hoje quase extintas, fazendo com que o trabalho de Auad envolva também uma pesquisa extensiva e uma negociação com cada artesão envolvido. Para Além da Vanguarda, o artista produziu um conjunto de cinco objetos que fazem parte de sua série Sleep Walkers (“Sonâmbulos”), apresentada pela primeira vez no MuHKA, em Antuérpia, Bélgica, em 2009-10. Esses objetos são cuidadosamente confeccionados utilizando rendas de diferentes procedências, que o artista adquire já prontas, mas que devem ser então transformadas em elementos tridimensionais em forma de frutas ou legumes. Nesse longo e trabalhoso processo, que exige extrema precisão e esmero, uma renda portuguesa, por exemplo, com sua trama mais grosseira é cortada e emendada, fio a fio, com uma delicada peça de renda inglesa ou com uma peça de renda brasileira, de modo que a passagem de uma para a outra se torna quase completamente imperceptível. O olhar atento percebe as nuances na passagem de uma trama para a outra, que expõe as pequenas porém significativas diferenças que revelam não apenas a passagem de um saber através das diferentes culturas, como também as adaptações sofridas por essa técnica em cada país ao longo dos anos. Essas frutas e verduras de renda, assim como lustres, pendem do teto e são iluminadas por dentro, o que nos permite observar todos os detalhes de sua superfície. Contudo, caracterizadas pela imprecisão do fazer manual que lhes confere um aspecto orgânico, elas parecem brotar do teto, como plantas exóticas que resultam de algum cruzamento inusitado entre sementes tropicais e europeias.

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além da vanguarda  Tonico Lemos Auad. Sleep Walkers, 2009. Dezessete lanternas costuradas individualmente, dimensões variáveis.

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alĂŠm da vanguarda  Tonico Lemos Auad. Sleep Walkers, 2009. Dezessete lanternas costuradas individualmente, detalhe.

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além da vanguarda  Tonico Lemos Auad. Sleep Walkers, 2009. Dezessete lanternas costuradas individualmente, dimensões variáveis.

100


artista selecionado  Euclides Coimbra. Crackolândia. Óleo sobre tela, 100×80 cm.

101


artista selecionado  Euclides Coimbra  [Euclides de Almeida Coimbra, Ribeirão Pires, SP, 1960]

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Alex dos Santos  [Alex Benedito dos Santos, Jaboticabal, SP, 1980]  artista selecionado

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artista selecionado  Alex dos Santos. Enchente na Favela. Látex sobre tecido, 182×157 cm.

104


artista selecionada  Jayabujamra. Festa das Nações. Acrílica sobre tela, 50×40 cm.

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artista selecionada  Jayabujamra  [Jacyra Mauad Abujamra, Palmas, PR, 1928]

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Oliveira Guerra  [Iraceia de Oliveira Guerra, Cuiabá, MT, 1945]  artista selecionada

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artista selecionada  Oliveira Guerra. Roliúde – 1ª e 2ª Parte – Díptico. Colagem, pigmento e acrílica sobre tela, 70×40 cm.

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prêmio menção  Danbeco. Vista da Baía. Acrílica sobre tela, 63×83 cm.

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prêmio menção  Danbeco  [Daniel Becher Costa, Rio de Janeiro, RJ, 1983]

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Carla Zaccagnini [Buenos Aires, 1972. Vive e trabalha em São Paulo]  além da vanguarda

O projeto Museu das Vistas iniciou-se em 2004 e, desde então, possuiu diversas interações em várias cidades de diferentes países: Medellín (Colômbia), Rincón (Porto Rico), São Paulo (Brasil), Valparaíso (Chile), entre outras. Assim como em outros trabalhos de Carla Zaccagnini, aqui ela cria algumas regras do jogo que devem ser seguidas pelos espectadores-participantes para que o trabalho se realize plenamente. Nesse caso, a artista mobiliza um retratista policial, que fica disponível durante um período previamente acordado em algumas áreas da cidade na qual ocorre a exposição da qual o trabalho participa. Aqui, ao invés de traduzir em desenho a descrição de criminais suspeitos, esses retratistas produzem desenhos de vistas lembradas por aqueles que desejam participar do projeto. Cada um desses desenhos é feito sobre um papel autocopiante; o desenho original em grafite é entregue a quem descreve a vista, enquanto o Museu das Vistas coleciona cópias azuis sobre papel amarelo produzidas quimicamente pela pressão do lápis. O arquivo resultante é uma testemunha das formas em que a paisagem se torna uma imagem mental e de como essa imagem da memória pode se transformar em discurso e ser traduzida em desenho, construindo uma nova imagem física. Assim, o tradicional gênero da pintura de paisagem, tão relevante e predominante na produção dos artistas que integram a Bienal Naïfs do Brasil, desdobra-se, no Museu das Vistas, no tempo e no espaço. O projeto de Zaccagnini atesta, de certa maneira, a persistência da paisagem no mundo atual. Pelo menos desde o século xv, aprendemos a olhar o mundo como paisagem, e é justamente esse processo de construção mental e tradução visual que a artista enfatiza em Museu das Vistas. Porém, os desenhos resultantes são também elementos fundamentais do projeto e sua forma final será determinada pela habilidade e pelas escolhas feitas tanto pelos retratistas quanto pelos narradores, sendo portanto imprevisíveis. Mas, levando em conta os desenhos produzidos até agora, podemos dizer que, em sua maioria, possuem algumas aproximações estilísticas com a produção naïf. Não seriam também os retratistas de polícia artistas não eruditos?

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além da vanguarda  Carla Zaccagnini. Museu das Vistas, 2004 — em andamento. Constituição de uma coleção de desenhos intermediados pelo discurso. Oscar Chaparro, Galeria Casas Riegner, Bogotá, 2011, e Tamar Andrade, Galeria Vermelho, São Paulo, 2004.

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além da vanguarda  Carla Zaccagnini. Museu das Vistas, 2004 — em andamento. Desenho de Tamar Andrade, São Paulo, 2004, 22×32 cm.

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artista selecionado  Deraldo. O Corte da Cana. Acrílica sobre tela, 49,5×70 cm.

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artista selecionado  Deraldo. Sem Terra. Acrílica sobre tela, 50×60 cm.

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artista selecionado  Deraldo  [Deraldo Clemente, Pedranópolis, SP, 1958]

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Zeti Muniz  [Paulo Donizeti Muniz de Queiroz, Mogi das Cruzes, SP, 1956]  artista selecionado

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artista selecionado  Zeti Muniz. O Prefeito Padeiro. Óleo sobre tela de lona, 62,5×83 cm.

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artista selecionado  Neri Andrade. Arrastão. Acrílica sobre tela, 40×60 cm.

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artista selecionado  Neri Andrade  [Neri Agenor de Andrade, Florianópolis, SC, 1954]

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Salvatori  [Maria Helena da Silva Salvatori, Porto Alegre, RS, 1936]  artista selecionada

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artista selecionada  Salvatori. Patrono da Ecologia São Francisco. Óleo sobre tela, 40×50 cm.

122


artista selecionado  Miguel S.S.S.. Debulhando Milho. Óleo sobre tela, 50×60 cm.

123


artista selecionado  Miguel S.S.S.  [Miguel Sampaio de Souza e Silva, Marília, SP, 1944]

124


Sonia N. Pacheco  [Sonia Nogueira Pacheco, Leopoldina, MG, 1944]  artista selecionada

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artista selecionada  Sonia N. Pacheco. Ciranda da Vida. Nanquim e aquarela sobre canson, 30Ă—41,8 cm.

126


artista selecionada  Stellamaris. Pantanal. Óleo sobre tela, 20×30 cm.

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artista selecionada  Stellamaris  [Stelamaris Bittencourt Cano, Rio Brilhante, MS, 1961]

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Jefer  [Jefferson Bastos, Corumbá, MS, 1958]  prêmio aquisição

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prêmio aquisição  Jefer. Pescadores de Iscas. Acrílica sobre tela, 50×50,5 cm.

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prêmio aquisição  Jefer. Barco do Pescador. Acrílica sobre tela, 50,2×70 cm.

131


prêmio aquisição  Adão Domiciano. Escravos do século xxi (i). Aquarela sobre papel, 54,3×72,3 cm.

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prêmio aquisição  Adão Domiciano. Escravos no século xxi (ii). Aquarela sobre papel, 53,5×72,5 cm.

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prêmio aquisição  Adão Domiciano  [Adão Domiciano Pinto, Ecoporanga, ES, 1969]

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Daniel Steegmann Mangrané  [Barcelona, 1977. Vive e trabalha no Rio de Janeiro]  além da vanguarda

Ka’aeté é uma palavra que em tupi significa “floresta profunda”, longe dos territórios habitados. É o lugar mítico onde vivem os deuses e os espíritos, onde terminam os caminhos, o impenetrável. Kiti significa cortar com um instrumento afiado, pelas mãos humanas e por meio da técnica. Assim como na interpretação hegeliana, para as tribos indígenas do Brasil, a Ka’aeté, floresta profunda, é também um lugar sem história, onde as coisas ainda não estão formadas e onde os animais podem se metamorfosear. Kiti Ka’aeté é o título geral de um projeto de Daniel Steegmann Mangrané que se originou de uma colagem em que o artista se baseou na arte abstrata dos tupis, com seu complexo sistema geométrico, para realizar cortes precisos sobre uma imagem da floresta amazônica. Num desdobramento subsequente do mesmo trabalho, que é a versão presente nesta mostra, a colagem foi instalada dentro de um painel expositivo e iluminada por trás, apenas por um projetor de slides. Desse modo, os feixes de luz branca atravessam os pequenos cortes e sua luminosidade emana da face da imagem, conferindo uma qualidade espiritual ou anímica à floresta abstrata. Integra essa instalação o espaço entre o projetor e o painel no qual está situada a colagem. Aberto e acessível, ele pode ser atravessado pelo público que interrompe intermitentemente o feixe de luz do projetor, causando um efeito tremeluzente que pode ser observado por quem está defronte à face da colagem. Kiti Ka’aeté traz para Além da Vanguarda a dimensão da arte indígena, manifestada através de sua releitura dentro do contemporâneo. A aparência construtiva da colagem, que, no âmbito da arte contemporânea produzida no Brasil, normalmente evoca ou referencia os exercícios da arte concreta e neoconcreta, aqui aponta para outras possibilidades de experimentação com a geometria e, não menos importante, do significado de sua aproximação com a vida.

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além da vanguarda  Daniel Steegmann Mangrané. Kiti Ka’aeté (Verso), 2011. Colagem, parede, buraco, projetor de slide, slide cortado a laser, 17x13,5 cm. Dimensões totais variáveis.

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artista selecionado  Camps. Vale do Paraíba – Fé. Acrílica sobre madeira reciclada, 78×41 cm.

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artista selecionado  Camps  [Olavo José Ferraz de Arruda Campos, Tietê, SP, 1934]

138


Sandra Aguiar  [Sandra Pereira Peixoto de Aguiar, Nazaré, BA, 1960]  artista selecionada

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artista selecionada  Sandra Aguiar. Carnaval de Olinda. Técnica mista, 126×60 cm.

140


artista selecionado  Luiz dos Anjos. Carimbó. Técnica mista sobre tela, 40×30 cm.

141


artista selecionado  Luiz dos Anjos  [Luiz Antonio dos Anjos Souza, Santarém, PA, 1953]

142


Isa Galindo  [Maria José de Carvalho Galindo, Caruaru, PE, 1929]  artista selecionada

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artista selecionada  Isa Galindo. Maracatu Real. Acrílica sobre tela, 30×80 cm.

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artistas selecionados  Guilherme Jr. e Severino F. Silva. Pagadores de Promessa. Acrílica e acoplamento com ex-votos em madeira, 68×42,5×8 cm.

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artistas selecionados  Guilherme Jr. e Severino F. Silva  [Ivanildo Guilherme Nanes Junior e Severino Ferreira Silva, Garanhuns, PE, 1977/1966]

Guilherme Nanes Junior, 34 anos, pós-graduado em Marketing e Estratégia, natural de Garanhuns-PE.

Passei toda minha infância na zona rural onde há uma capela construída por índios e escravos dedicada a Santa Quitéria de Frexeiras, construída no final do século xvii e que anualmente recebe uma grande quantidade de peregrinos que vêm de todo o nordeste em romaria pagar promessas e entregar ex-votos. Sempre me chamaram a atenção aqueles pedaços de madeira esculpidos ingenuamente como forma de gratidão e fé. Quando fui morar na capital para dar continuidade aos estudos comecei a frequentar museus, exposições, coleções particulares e galerias a partir daí comecei a educar o meu olhar e todos os dias aprendo algo novo e a admirar cada vez mais o popular, o ingênuo, o inacabado, ou seja, o que me causa emoção baseado no que vivenciei. Em 2010 comecei a fazer pequenas obras e interferências que têm de certa forma agradado a algumas pessoas. Espero, contudo, que este

Foto de um outro trabalho meu

trabalho que fiz em parceria com meu amigo e artista Severino Ferreira da Silva e foi selecionado para esta Bienal possa agradar a todos de uma forma geral. Muito obrigado!

depoimento recebido por e-mail

148


De Miranda  [Deusdete Antonio de Miranda, Rondonópolis, MT, 1964]  artista selecionado

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artista selecionado  De Miranda. Agonia da Buxuda. Escultura em pedra de rio, 22×18×22 cm.

150


artista selecionado  De Miranda. Carinho de Mãe. Escultura em pedra de rio, 37×21×28 cm.

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prêmio incentivo  Evandro Soares. Sonho de Voar. Metal, madeira e borracha, 52×32×33 cm.

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prêmio incentivo  Evandro Soares  [Evandro Soares Reis, Mundo Novo, BA, 1975]

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Rosângela Politano  [Rosângela Politano Chaves, São José do Rio Preto, SP, 1965]  prêmio menção

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prêmio menção  Rosângela Politano. Festa do Divino em São Luís. Acrílica sobre tela, 80×30 cm.

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artista selecionada  Raquel Trindade – A Kambinda. Danças Natalinas no Embu. Acrílica sobre tela, 55×100 cm.

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artista selecionada  Raquel Trindade – A Kambinda  [Raquel Trindade, Rio de Janeiro, RJ, 1936]

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Thiago Rocha Pitta [Tiradentes, 1980. Vive e trabalha em São Paulo]  além da vanguarda

Em seu ensaio intitulado “Sobre como domesticar o imprevisível”, publicado por ocasião da mostra Notas de um Desabamento, de Thiago Rocha Pitta, ocorrida nas Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, em 2010, Felipe Scovino sugere que “a obra de Pitta sempre se manifesta como uma pintura de paisagem, independentemente do suporte com o qual trabalha ou do sentido de invenção que constrói”. E continua: “Uma paisagem que se modifica ao mesmo tempo em que essa pintura se questiona se ela continua sendo pintura ou amplia a sua pesquisa para outros campos de produção poética”. A possibilidade de mobilizar o tema das pinturas de paisagem no âmbito da arte contemporânea e dentro do contexto da exposição Além da Vanguarda é um dos interesses dessa curadoria, já que se trata de um gênero recorrente ao longo da história da Bienal Naïfs do Brasil. Aqui, apresentamos o vídeo Herança de Rocha Pitta, no qual avistamos um pequenino barco de madeira que, formando uma imagem quase surrealista, carrega em seu interior um par de árvores em meio ao alto-mar. Por vezes mais próxima ou mais distante da câmera que a registra, essa inusitada assemblage de árvores-barco flutua indiferente, sem rumo ou intenção de alcançar a terra firme, já que constitui, ela própria, um território. Acompanhamos sua trajetória débil sem a expectativa de um desfecho ou de uma narrativa, deixando-nos levar pela própria duração do evento. Somos entretidos apenas pelas mudanças no enquadramento causadas pela relativa distância ou proximidade da embarcação. Ela, contudo, segue flutuando como uma enigmática oferenda, plena de um simbolismo próprio que não somos capazes de decifrar. Scovino atenta para a economia de imagens na obra de Rocha Pitta e de como sua supressão do excesso de “ruídos” externos permite o aparecimento e a manifestação de uma história interior, intimista. No caso de Herança, o que ele acrescenta às representações tradicionais da paisagem é apenas o dado temporal, que solicita um momento de contemplação no desenrolar do tempo presente.

159


além da vanguarda  Thiago Rocha Pitta. Herança, 2007. 16 mm transferido para vídeo, 11'.

160


artista selecionado  Willi de Carvalho. Brasil Sertão Popular. Técnica mista, 73×64×14 cm.

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artista selecionado  Willi de Carvalho  [Welivander Cesar de Carvalho, Montes Claros, MG, 1966]

162


Altamira  [Altamira Pereira Borges, Jacaraci, BA, 1932]  artista selecionada

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artista selecionada  Altamira. Colhendo Melancia. Acrílica sobre tela, 50×70,5 cm.

164


artista selecionada  Lourdes de Deus. Festa e Procissão de São João. Acrílica sobre tela, 70×100 cm.

165


artista selecionada  Lourdes de Deus  [Maria de Lourdes da Hora de Deus Souza, Custódia, PE, 1959]

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Montez Magno  [Timbaúba, 1934. Vive e trabalha em Recife]  além da vanguarda

Com uma trajetória de seis décadas, o artista pernambucano Montez Magno possui uma obra extremamente complexa e diversificada que se desdobra em diferentes meios e pesquisas. Interessam-nos, particularmente, no âmbito da exposição Além da Vanguarda, as investigações do artista em torno da geometria da arte popular, que se inicia em 1972 com seus estudos para o primeiro ciclo da série Barracas do Nordeste, da qual apresentamos três exemplares nesta mostra. Cabe citar aqui o trecho de uma carta do artista selecionado por Clarissa Diniz em seu ensaio publicado na monografia do artista lançada em 2010, na qual ele explicita o objeto de sua pesquisa: “[...] Grande parte do meu trabalho atual é baseado em coisas daqui mesmo, do Recife, do Nordeste, mas os próprios recifenses não percebem isso. Estou fazendo uma pesquisa ou estudo do lado esquecido e omitido da arte popular brasileira: o lado abstracionista. É incrível o que o povo faz em termos de abstração geométrica. Estou documentando com slides as diversas modalidades da expressão abstrato-geométrica: barracas de festa e de feira cobertas de retalhos, carroças de sorvete, de pipocas etc.; portões de garagens e outras coisas que vão aparecendo. É fantástico, e você encontra às vezes coisas de op-art, de concretismo e de construtivismo, tudo isso feito na mais santa ignorância e ingenuidade, mas com um agudo e intuitivo senso de cor e de construção. É dessas coisas que atualmente extraio material para o meu trabalho”. Suas Barracas do Nordeste, com suas formas geométricas imprecisas e vivamente coloridas, oscilam entre abstração e figuração, já que retêm a conexão formal com seu referente, por vezes até mesmo apresentando indicações sobre o contexto de onde foram retiradas. As duas outras séries representadas nesta mostra também se valem de uma aproximação com o popular, embora busquem soluções formais distintas. Em Teares de Timbaúba, o artista privilegia as explorações das possibilidades geométricas da linha, experimentando diferentes traçados com lápis e pastel a óleo sobre o fundo neutro do papel, produzindo assim um resultado mais sóbrio. A série Fachadas do Nordeste, por sua vez, consiste de pinturas em acrílica sobre papelão, em pequeno formato. Dessa vez, tomando a arquitetura popular como motivo, cor e linha parecem possuir peso equivalente.

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além da vanguarda  Montez Magno. Da série Barracas do Nordeste, 1972. Óleo sobre duratex, 80×100 cm.

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além da vanguarda  Montez Magno. Da série Barracas do Nordeste, 1972. Óleo sobre duratex, 80×100 cm.

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além da vanguarda  Montez Magno. Da série Fachadas do Nordeste, 1996. Acrílica sobre papelão, 47×56 cm.

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além da vanguarda  Montez Magno. Da série Fachadas do Nordeste, 1996. Acrílica sobre papelão, 47×56 cm.

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além da vanguarda  Montez Magno. Da série Teares de Timbaúba, 1998. Lápis de cor e pastel a óleo sobre papel Fabriano, 54,5×72 cm.

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além da vanguarda  Montez Magno. Da série Teares de Timbaúba, 1998. Lápis de cor e pastel a óleo sobre papel Fabriano, 54,5×72 cm.

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prêmio menção  José Altino. Rainha do Miramar. Xilogravura, 25×35 cm.

174


prêmio menção  José Altino. Macunaíma e Canário da Terra. Xilogravura, 25×35 cm.

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prêmio menção  José Altino  [José Altino de Lemos Coutinho, João Pessoa, PB, 1946]

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Tatiana Seabra  [Tatiana Macedo Seabra de Mello, Natal, RN, 1960]  artista selecionada

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artista selecionada  Tatiana Seabra. Coreto. Acrílica sobre tela, 27×35,5 cm.

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prêmio menção  Carmela Pereira. Mostrar... alegrar e voltar. Óleo sobre tela, 70×50,4 cm.

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prêmio menção  Carmela Pereira  [Carmela Pereira, Piracicaba, SP, 1936]

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Federico Herrero [San José, 1978. Vive e trabalha em San José]  além da vanguarda

Com formação em arquitetura, o costa-riquenho Federico Herrero utiliza principalmente a pintura como meio. Uma grande parte de seus trabalhos, assim como o que integra a mostra Além da Vanguarda, é realizada in situ: em espaços públicos como as fachadas de casas e prédios ou os muros da cidade, ou privados, como o interior de galerias ou outros tipos de edifícios, onde executa suas pinturas em diálogo próximo com a organização espacial do local. Caracterizadas por seu colorido vivo, normalmente dividido em unidades de formas abstratas e ao mesmo tempo fluidas e imprecisas, essas pinturas, em contraste com as rigorosas abstrações geométricas que caracterizam a arte latino-americana de meados do século xx, parecem quase brotar organicamente das paredes. Seu modo de existir seria portanto mais análogo à maneira desordenada e voraz com que a natureza luxuriante dos trópicos toma conta das construções nessas regiões do planeta. Se nos permitirmos, ainda, mais uma aproximação de ordem botânica, essas pinturas lembram, em alguns momentos, os desenhos dos projetos de paisagismo de Roberto Burle Marx, com suas linhas sinuosas e áreas de cores intercaladas em um conjunto de formas orgânicas. Em certa medida, a prática de Herrero empresta características da tradição da pintura mural, prática associada principalmente aos artistas mexicanos da primeira metade do século xx, mas que encontrou ecos em diversos países latino-americanos, inclusive no Brasil. Porém, se por um lado compartilha com essa tradição um interesse em trazer a arte para mais perto de um público não especializado, que se depara com suas pinturas inadvertidamente nos espaços públicos, abstém-se de buscar propagar conteúdos políticos e ideológicos mais diretos, como era o caso dos muralistas originais. No colorido das pinturas de Herrero, encontramos uma grande ressonância com a produção que vem sendo consistentemente apresentada nas Bienais Naïfs desde sua fundação. Sua presença nesta mostra busca potencializar o conjunto das obras selecionadas pelo júri, alegoricamente sugerindo que se descolem do plano bidimensional, transbordando-o e rastejando pelo chão, subindo pelas paredes e pelo teto do edifício e ocupando, finalmente, todo o espaço tridimensional do sesc Piracicaba.

181


alĂŠm da vanguarda  Federico Herrero. Wootyloop, 2012. Madeira e tinta.

182


artista selecionada  Rosalina. Beleza do Espaço. Acrílica sobre tela, 83,5×124 cm.

183


artista selecionada  Rosalina  [Rosalina Maria de Mello Vieira, Areiópolis, SP, 1962]

184


Renata Kesselring  [Renata Cerchi Kesselring, São Paulo, SP, 1974]  prêmio menção

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artista selecionada  Renata Kesselring. Vaso para Minha Mãe. Acrílica sobre tela, 50×40 cm.

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prêmio menção  Renata Kesselring. Auto Retrato com Tob. Acrílica sobre tela, 100×80 cm.

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biografias alĂŠm da vanguaRda



Alexandre da Cunha

Carla Zaccagnini

[Rio de Janeiro, 1969. Vive e trabalha em Londres]

[Buenos Aires, 1972. Vive e trabalha em São Paulo]

Em seus trabalhos, Alexandre da Cunha

Em seu trabalho, Carla Zaccagnini desenvolve

normalmente utiliza objetos comuns de

temas como a impossibilidade da tradução,

procedências diversas, como toalhas de praia,

a parcialidade da perspectiva do museu,

rodas de carro ou utensílios domésticos, para

as falhas na percepção e os limites do

criar suas esculturas e instalações. Parte

conhecimento científico, entre outros,

significativa de seus trabalhos recentes

produzindo uma obra multifacetada que busca

faz referência direta ao legado geométrico-

ativar a visão do espectador e desconcertar seu

-construtivo do Modernismo brasileiro.

entendimento. Desde a década de 1990, vem

Entretanto, embora esses trabalhos sejam

desenvolvendo atividades como crítica de arte,

estilisticamente próximos dessa produção,

curadora e docente em paralelo a sua prática

retêm, fundamentalmente, o mesmo princípio

artística. Participou da 28a Bienal de São

da “colagem” de diferentes ready mades que

Paulo (2008) e da Bienal Del Fin Del Mundo de

caracteriza sua obra como um todo. Alexandre

Ushuaia, Argentina (2007). Seu trabalho esteve

da Cunha participou de diversas exposições

presente em mostras apresentadas em várias

internacionais, incluindo a Bienal de Veneza

instituições internacionais, como o musac, em

(2003), a San Juan Triennial (2009) e a coletiva

León, Espanha; LentSpace, em Nova York, eua;

Panamericana (2010). Este ano, integra a 30a

Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães,

Bienal Internacional de São Paulo. Seu trabalho

em Recife, Brasil; e Kunstverein Munique,

integra o acervo de importantes coleções

na Alemanha. Realizou diversas residências

públicas e privadas, como o Instituto Inhotim

artísticas, entre elas no Air Antwerp, Bélgica;

(Brasil) e a Tate Modern (Reino Unido).

hiap, Finlândia; iaspis, Suécia.

191


Daniel Steegmann Mangrané

Federico Herrero

[Barcelona, 1977. Vive e trabalha no Rio de Janeiro]

[San José, 1978. Vive e trabalha em San José]

O trabalho de Daniel Steegmann Mangrané

A obra de Federico Herrero é particularmente

abrange várias mídias e oscila entre

influenciada pelas tradições culturais e

experimentações sutis e poéticas, ao mesmo

políticas e pela natureza fecunda de seu

tempo que caracterizadas por uma certa

país natal, a Costa Rica. Seus trabalhos de

crueza no fazer. Embora sua pesquisa seja

colorido intenso oscilam entre a figuração

principalmente de ordem conceitual, sua

e a abstração, e desafiam as categorias

obra demonstra uma forte preocupação com

tradicionais da pintura. Além de pinturas sobre

a manifestação concreta dos objetos e com

tela, Herrero geralmente realiza trabalhos

os efeitos fenomenológicos da relação entre

site-specific, que misturam diversas fontes de

habitat e linguagem. Nascido em Barcelona,

inspiração, como as placas de rua, os grafites,

o artista vive no Brasil desde 2004. Realizou,

as plantas tropicais, as casinhas coloridas

em 2011, a exposição individual Four Walls, na

das áreas rurais e as formas e ícones da

Galeria Mendes Wood, em São Paulo, e Duna

paisagem urbana. Em 2001, Herrero recebeu o

econômica/maquete sin calidad, na Halfhouse,

prêmio de melhor artista jovem na Bienal de

em Barcelona. Em 2012, é bolsista na Junge

Veneza. Realizou exposições individuais em

Akademie na Akademie der Kunste, em Berlim,

inúmeros museus internacionais em países

e participa da 30a Bienal Internacional de São

como Alemanha, Itália, Japão e Colômbia. Seu

Paulo. Além de sua prática artística, Daniel

trabalho integra as coleções do Mudam, em

Steegmann Mangrané é organizador da escola

Luxemburgo, do Museu Santander, na Espanha,

de arte experimental Universidade de Verão,

do 21st Century Museum of Contemporary Art e

promovida pelo Capacete, uma plataforma

do Hara Museum of Contemporary Art, ambos

multidisciplinar de residências artísticas e

no Japão.

programas educativos com sede no Rio de Janeiro.

192


Felipe Arturo

Montez Magno

[Bogotá, 1979. Vive e trabalha em Bogotá]

[Timbaúba, 1934. Vive e trabalha em Recife]

Formado em arquitetura pela Universidade

Montez Magno iniciou sua trajetória artística no Recife, em 1954, quando ingressou na Escola de

de Los Andes, em Bogotá, realizou mestrado

Belas Artes e passou a se dedicar aos estudos de pintura e desenho. Ainda nessa década, produziu

na Universidade de Columbia, em Nova

seus primeiros trabalhos abstratos e realizou exposições individuais e coletivas em Pernambuco,

York. Trabalhou durante três anos com

Rio de Janeiro e São Paulo. No início da década de 1960, passa a residir em São Paulo e continua

a artista colombiana Doris Salcedo, em

a expor assiduamente seu trabalho em diversas cidades do País. Nesse período, passa a explorar

Bogotá, e por um ano com o artista chileno

formas mais livres em sua pintura, com séries que oscilam entre uma linguagem mais expressiva

Alfredo Jaar, em Nova York. Seu trabalho

ou de uma geometria orgânica. Passa o ano de 1964 em Madri, na Espanha, com uma bolsa do

foca nas intersecções entre o urbanismo, a

Instituto de Cultura Hispânica, realizando viagens pela Europa e participando de exposições

arquitetura, a história das cidades e a arte,

em diversas cidades espanholas. Em 1965, de volta ao Brasil, transfere-se para o Rio de Janeiro,

construindo estruturas temporárias que

desenvolvendo seu trabalho em diálogo com a geração de jovens artistas ligados ao mam-rj.

podem ser descobertas através da imagem-

A partir daí, seu trabalho se desenvolve em diversas linhas conceituais em um longo percurso que

-tempo ou de acontecimentos e encontros

inclui obras em diferentes mídias, como as partituras de música aleatória, os livros de artista, as

espontâneos no espaço. Além de suas

instalações, os objetos, os registros de performances, além de sua produção poética, que conta

atividades artísticas, Felipe Arturo é Professor

com dez livros editados.

Associado do Departamento de Artes Plásticas da Universidade de Bogotá Jorge Tadeo Lozano. Seu trabalho integrou mostras individuais e coletivas em diversos países, incluindo Espanha, Estados Unidos, França e Portugal, além de integrar coleções como Patrícia Phlepls de Cisneros, Nova York e Caracas; Colección Jumex, México; Colección ArtNexus, Colômbia, entre outras.

193


Pablo Lobato

Rodrigo Matheus

[Bom Despacho, 1976. Vive e trabalha em

[São Paulo, 1974. Vive e trabalha em Londres]

Belo Horizonte]

Articulando diversas mídias — móveis e estáticas, construídas e encontradas — a obra de Tendo iniciado sua carreira no campo do cinema,

Rodrigo Matheus se apresenta repleta de elementos de design, arquitetura e paisagem. Destituída

Pablo Lobato passou a gravitar, nos últimos

de evidências de um fazer manual, a postura do artista é antes a de modificar e recombinar

anos, para o circuito das artes visuais. Com um

materiais, dando a eles outras apresentações e estabelecendo novas relações entre objetos.

interesse continuado pela produção audiovisual,

O resultado é uma produção fértil em que elementos cotidianos ou sem nenhum valor intrínseco

seu trabalho hoje se desenvolve em uma zona

são apresentados de forma precisa e elegante, ganhando novos significados simbólicos. Matheus

indeterminada entre essas disciplinas. Lobato

realizou exposições individuais em diversas instituições, como o Museu de Arte da Pampulha,

foi um dos criadores da Teia — Centro de Pesquisa

Belo Horizonte (Centurium, 2004), Centro Cultural Maria Antônia, São Paulo (A Volta da Arquitetura,

Audiovisual, com sede em Belo Horizonte

2005), Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo (O mundo em que vivemos, 2008, e Handle with care, 2010),

desde 2002. Em 2011, foi vencedor do Prêmio

e Galeria Silvia Cintra & Box 4, no Rio de Janeiro (2006, 2010). Entre as mostras coletivas das

Sergio Motta de Arte e Tecnologia e foi um dos

quais participou recentemente estão Mitologias, na Cité Internationale des Arts, Paris (2011), o

selecionados para o Programa Rumos Artes

32º Panorama da Arte Brasileira, no mam de São Paulo (2011), e The Spiral and the Square, no Bonniers

Visuais. Atualmente dedica-se à finalização do

Konsthall, em Estocolmo, 2011.

filme Ventos de Valls, que deriva de uma ação realizada na Espanha em 2009, financiada pela fundação John Simon Guggenheim, de Nova York. Em 2011, integrou a mostra Panorama da Arte Brasileira, no mam-sp, e o 17º Festival Internacional de Arte Contemporânea sesc– Videobrasil, no sesc Belenzinho, São Paulo, e participou de mostras na Noruega e no Uruguai. Seu trabalho integra as coleções do Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, e do Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza.

194


Thiago Rocha Pitta

Tonico Lemos Auad

[Tiradentes, 1980. Vive e trabalha em São Paulo]

[Belém do Pará, 1968. Vive e trabalha em Londres]

Thiago Rocha Pitta cresceu na cidade histórica

Tonico Lemos Auad completou seu mestrado em artes plásticas pela Goldsmiths College,

de Tiradentes e mudou-se para Petrópolis

em Londres (2000), onde desde então vive e trabalha. O artista por vezes ignora propriedades

ainda adolescente, onde permaneceu até 1999,

intrínsecas aos materiais que utiliza para criar formas líricas e não permanentes, utilizando uma

quando passou a viver no Rio de Janeiro para

vasta amostragem de materiais que vão do efêmero e do cotidiano ao precioso e ao permanente.

cursar artes plásticas na ufrj e realizar cursos

Noções de sorte, acaso e sobrenatural fazem parte de seu imaginário artístico. Mas, para além

livres na eav/Parque Lage. Inicia sua carreira

dos aspectos lúdicos, sua obra evoca também um lado mais negro e misterioso da existência,

artística em 2001, quando começa a realizar

pois a consciência da morte e da brevidade da vida estão sempre presentes. Auad tem exibido

intervenções ao ar livre. Desde o início, sua

amplamente no âmbito internacional, com trabalhos que investigam materialidade, sensualidade,

obra guarda uma relação muito próxima com

processos e relação entre o público e o espaço da arte. Em 2007, realizou uma exposição

a natureza e a matéria, sempre articuladas

individual no Aspen Art Museum, no Colorado, que também publicou uma monografia sobre

com ideias de temporalidade e transformação.

sua obra. Em 2011, teve sua obra exposta no Centro Cultural São Paulo, na trienal de Folkestone,

Trabalhando com pigmentos, terra, fogo

na Inglaterra, e na mostra coletiva Mitologias, na Cité Internationale des Arts, em Paris.

ou água, seus desenhos, pinturas, vídeos e instalações utilizam imagens ou processos naturais que evocam questões existenciais ao mesmo tempo em que realizam experimentos formais. Dentre as exposições coletivas de que participou destacam-se A Time Frame, PS1moma, Nova York (2006); Singapore Biennale (2006) e Nova Arte Nova, ccbb-rj (2008). Em 2010, realizou uma exposição individual nas Cavalariças da eav/Parque Lage e em 2012 participou da 30a Bienal Internacional de São Paulo.

195


196


english texts 197


The 2012 Biennial of Naive Artists of Brazil Beyond the Avant-Garde

The recognition of the importance of features

scales or barometers, etc. That a thing’s

that make up people’s cultural identity is one of

importance must be measured by the

the hallmarks of sesc’s actions. The current show

enchantment that it produces in us.”1 Manoel de Barros

is further proof of the valorization of elements that are not restricted to daily life in the cities.

DEVELOPMENT AND CULTURE IN A PLURAL PERSPECTIVE

It should be emphasized that this intention

The feeling of enchantment mentioned in the

goes hand in hand with an extremely important

poetry of Manoel de Barros, when brought to

element of this entity’s thinking, which holds that

the field of artistic appreciation, inspires a

one’s understanding of contemporary phenomena

critical measure to assess the quality of the

is better when one contemplates the various

impressions we obtain from a work of art. This

Abram Szajman

facets of human development from a holistic

measure requires that we devote some time to

Chairman of the Regional Board of sesc São Paulo

point of view.

contemplation, a special moment for the work

After all, the worldview of those who work

to exist beyond its borders and for it to become

The programming of sesc’s cultural and

in areas of direct contact with society, as is

sheltered in our sensible memory, either by

sports centers reflects the commitment of the

the case of the commerce, service and tourism

enchantment or apathy, leaving a trace of this

businesspeople in the commerce, service and

industries, should be characterized by an ability

experience.

tourism industries in regard to the well-being

to perceive the interdependencies between the

and quality of life of the workers in these sectors,

countryside and the city, the small towns and

fields, unusual forms, various angles, palettes

their dependents and their community. The

the capital, larger cities and smaller ones, as

that color our daily life and make us partners

institution’s actions in various areas, spanning

well as by a consistently balanced effort in

in an imaginary realm previously restricted to

from sports to tourism, from food to artistic

carrying out larger and smaller undertakings,

the world of those who conceive the modes of

languages, from digital culture to education

conserving the local initiatives, the symbols of

expression, which symbolically represent ways

for sustainability, all share as a central aim the

each region’s sustainable growth. It is in this

of seeing and interpreting the world.

responsible and efficient use of the resources

sense that the Bienal Naïfs do Brasil evinces the

made available by its supporters for the benefit

constant attention that sesc devotes to the plural

from a sophisticated perception of his/her culture

of its primary public.

conception of development and culture, always

and transforms the blank space of the canvas into

thinking about these two dimensions in an

representations of the matrices of that culture’s

interconnected way.

beliefs, popular festivals, scenes from daily life

Within this perspective, the holding of the 11th edition of the Bienal Naïfs do Brasil at sesc

Through the artist’s gaze, we invade colorful

The naive artist presents narratives originating

Piracicaba lends continuity to one of the most

and thematic variables appropriated by this art.

relevant events for forging tighter links between

He/she registers his/her outlook and poetics in

the artistic languages and the community. This

regard to traditions and contradictions, and to

relevance is owing not only to the longevity of

A measure of enchantment

territories that transit between the rural and the

this exhibition, but mainly to the type of relation

Danilo Santos de Miranda

acquisition of the urban, stemming from social

that it has encouraged over the years between

Regional Director of sesc São Paulo

transformations and geographic contours of the

artists, artworks and spectators, based on values and meanings that contrast with those that have become common for the inhabitants of large cities.

198

space where he/she lives. “... that the importance of something is not measured with a measuring tape nor with

The wealth of this production and its apparent formal simplicity keep its expressive traditions


interesting to some contemporary artists, who

seeks to enlarge the dialogue and approximation

ALÉM DA VANGUARDA [Beyond the Avant-Garde]

collaborate toward diversifying the current scene,

between the popular and the contemporary

Kiki Mazzucchelli

by blending or invading established territories of

production. In this perspective, the exhibition’s

Curator

artistic practice.

curatorial design by Kiki Mazzucchelli works in

alive. These characteristics have made naive art

In its 11th edition, the Bienal Naïfs do Brasil

harmony with the architectural design by Ana

introduction

its 11th edition, it is an opportune moment to

Paula Pontes to present a significant change,

Since the beginning of the 2000s, the Bienal

look to the past with the aim of enlarging the

breaking down the borders of the physical space

Naïfs do Brasil has presented the so-called

perception of the paths taken over the course

between the award-winning entries, the selected

“Special Rooms”, which hold smaller thematic

of this development, to update the context of

works, and the participants of the special room,

exhibitions featuring artworks selected by a

how the exhibition is held and to guide further

all sharing the same context. This destructuring

curator appointed by sesc, in parallel with the

actions.

of the physical compartments has allowed the

works selected by the jury of the main exhibition.

featured artworks to be shared with the public in

Although they always seek a dialogue with the

an entirely new way.

naive production, around which the event is

Now, as the Bienal Naïfs do Brasil arrives at

sesc’s first initiative in presenting an exhibition of naive art was inserted in the project Cenas da Cultura Caipira [Scenes from Caipira Culture],

By hosting artworks from popular origins in

structured, the exhibitions in the “Special Rooms”

held from 1986 to 1988. Later, the exhibition was

counterpoint or in dialogue with contemporary

have traditionally taken place in isolation from

maintained in an independent way, and gained

manifestations, sesc reaffirms the criteria of

the main set, literally in a separate room. This

greater visibility in 1991. Beginning in 1992, it was

plurality and democratization that have guided

physical separation between the two shows

held on a biennial basis and received the name

its sociocultural actions, a stimulus for re-

served to demarcate their different territories,

Mostra Internacional de Arte Ingênua e Primitiva

creating relations and intersections in the context

ensuring that the reading of the curatorial

[International Show of Ingenuous and Primitive

of the arts.

proposal was not confused with the set selected

Art]. In that year, the show received the prize of

In light of the artworks presented at this 11th

by the jury, thus maintaining their cohesion and

the Best Event in Visual Arts of the State’s Interior,

edition of the Bienal Naïfs do Brasil, we recur to

integrity. This was generally an important point,

awarded by the Associação Paulista de Críticos de

poet Manoel de Barros, so that the enchantment

since many of the previous curatorships have

Arte (APCA).

produced in us will be the measure of new

included artworks that possess a strong aesthetic

encounters with art, intensely moving us in an

affinity with the works of naive artists, which

by invited critics, thus instating a format that

inexhaustible process, since it is a part of human

could suggest eventual relations between the

offered a significant change in its conception,

experience and development.

works and meanings other than those desired by

From 2004 on, the biennial has been curated

adding a special room and also hosting works by

the curators. In 2012, as the Bienal Naïfs do Brasil is

contemporary artists. This proposal has allowed different approximations, relations and readings

celebrating its 11th edition and 20th anniversary

on the production of naive art and stimulated

of existence, sesc’s proposal is to seek a greater

dialogues in respect to this artistic expression

approximation between the naive productions

in the current context. Thus, in the last four

and contemporary art. Based on this proposal of

editions, this production of popular inspiration

1 From the poem “Sobre importâncias”. Manoel de

approximation, the first action of the curatorship

has been featured alongside the universe of

Barros. In Memórias inventadas: a segunda infância,

was to abolish the physical separation between

contemporary artists.

editora Planeta, São Paulo, 2006.

the works of the main exhibition and the “Special

199


Room”. This gesture was aimed at breaking the

in past editions of the Bienal Naïfs do Brasil, and

view, would include the artistic practices that:

artificial rigidity of the categories that surround

is also the subject of the text published in this

(1) are unfolded generally outside the large urban

these two artistic genres, with the assumption

catalog by Edna Matosinho Pontes, a member of

centers; (2) are developed apart from academic

that once they shared the same setting this

the jury of the 2012 Bienal. In that text, she calls

knowledge of Western art and the 20th century

would allow the public to experience the artworks

attention to the negative value built into some

European vanguards; (3) possess some sort of

more freely, in a way that is less prescribed by

of the current terminologies, such as “primitive”,

deep connection with the immediate needs of a

curatorial selections that favor the traditional

or even “naive”, and comments that the current

determined community, whether of a religious,

method of assigning artworks into determined

tendency is to use the term “popular art” as a

mythic, commercial, decorative, practical etc.

categories. It should be emphasized that the

more appropriate category to encompass the

order, thus possessing a more collective character.

aim was to furthermore eliminate possible

creative diversity of the practices such as those

Here would be included, for example, indigenous

hierarchical distinctions between the show

which are the object of this biennial. For her part,

art, the popular handicraft of the Brazilian

selected by the jury and that of the “Special

Marta Mestre, who also served on the jury of

Northeast, the regional folklorists, Afro-Brazilian

Room”. By doing away with the physical existence

this edition, proposes an expanded questioning

art, and others. It should also be noted that I do

of the latter, the aim was to also dispel any

of this same problem, situating it within a

not propose this as a category absolutely distinct

associations relative to a supposed greater

worldwide and historic panorama. She then goes

from what we call contemporary art. In fact,

symbolic value of the works that are part of the

on to problematize the role of the curatorship

works of art commonly extrapolate a category

invited curatorship. These works, commercialized

in the dissemination of what she designates as

or do not fit into any specific genre, and the

in the contemporary art market, invariably

“spontaneous art”, calling attention to certain

countless examples of this include, among many

possess a greater market value and take part

theoretical and interpretive paradoxes that wind

others, the participation of Hélio Melo in the 27th

in the glamorous circuit of the major art fairs

up reinforcing its subaltern character in relation

Bienal de São Paulo, curated by Lisette Lagnado,

and international art biennials. Here, however,

to modern and contemporary art. Therefore, in

the appropriation of elements of the “civilization

they obsequiously infiltrate into a territory that

light of the scope of those two texts and the

of the Northeast” in Lina Bo Bardi’s architecture,

traditionally belongs to naive art, discreetly

depth with which they deal with the problem

or the production of the inmates of the Engenho

emphasizing or punctuating certain aspects in

of terminology associated to the production by

de Dentro mental hospital. In the case of Além

common with the two productions or producing

artists who lack or reject formal art training, I will

da Vanguarda the aim is to create a situation that

meanings that emerge only in their relationship

not devote any more space to this question in this

favors the destabilization of these categories. The

with naive art.

brief introductory text.

idea is that, on one hand, the physical proximity

I should, however, for purposes related to

between “popular” and contemporary artists

the naive, or everything that is outside

the curatorial proposal of Além da Vanguarda,

will allow a series of productive clashings in the

But it is curious to note, moreover, how the

underscore that here I am suggesting an

exhibition space based on the aesthetic contents

problem of the differentiated perception of the

expanded understanding of that which, as

of the artworks on display, while, on the other,

value of these two productions is also reflected

suggested by Matosinho Pontes, would be more

it will also provoke a questioning on the limits

in the terminology employed to denote them.

appropriately designated as “popular art”. Without

imposed on the different artistic productions,

The question concerning the inappropriateness

a specific or more thoroughgoing knowledge

the discourses that produce them, the circuits

of the use of the term “naive” in reference to a

concerning the profound diversity of practices

in which they transit, and the value they are

production by artists who reject or lack formal

covered by this term, I have opted for a more or

attributed.

art training has been approached various times

less loose definition which, from my point of

200


the bienal naïfs do brasil and além da vanguarda

involves an experimental proposal which by its

relationship with some of these manifestations,

own nature and due to the scheduling of the

whether in the way in which they appropriate

It is evident that the greatest interest and focus

Bienal cannot be definitively settled beforehand,

recurrent images and thematics in the naive

of attention of this event as a whole, in regard to

since the selection of the works featured in the

paintings (bells and religion, in the case of Pablo

its tradition, scope and public, falls on the naive

curated segment was made in parallel with the

Lobato), in the rereading of a traditional genre

production, disseminated at this biennial which

selection of the jury, in which, unfortunately,

of naive painting (landscape, in the case of Carla

has been consolidated over the last decade as

I could not participate. We therefore worked

Zaccagnini and Thiago Rocha Pitta) or in the

one of the most important national platforms in

with an element of surprise, and left open some

appropriation of popular techniques (embroidery,

this field. Therefore, even though the curatorship

decisions relative to the positioning of the works

in Alexandre da Cunha, lace, in Tonico Lemos

of the artworks brought together under the

within the exhibition space until the setup phase.

Auad, the pennants of popular festivals, in

title Além da Vanguarda sought to emphasize the

The artworks selected by the jury at this

Rodrigo Matheus). For his part, Montez Magno will

so-called contemporary production, it did not

edition of the Bienal comprise 70 artworks by

be represented with works from three different

intend to take the central position occupied here

55 artists, most of them bidimensional works.

series, produced from the 1970s to the 1990s,

by the naive art, but rather to discretely infiltrate

In their respective texts in this catalog, jury

in which he deals with the geometric legacy of

within the main show of the works selected by

members Juliana Braga and Paulo Klein — who

popular art. This is a small but valuable sampling

the jury. Nevertheless, even with the awareness

served as the show's curator in 2004 — discuss

of work by this artist of historical importance

of its secondary position, it is also an ambitious

some questions and challenges confronted

whose experimental and innovating production

undertaking, since the very possibility of the

during the selection process in 2012. According

has been under development since the late 1950s.

exhibition Além da Vanguarda is conditioned on its

to their reports, the jury sought to gather works

Besides this, for the first time in the history of

relation with the naive artworks.

that are an expression of the living and pulsing

the Bienal Naïfs do Brasil, we have the presence

popular production, avoiding those that aim to

of three foreign artists, whose participation

another artwork of the principal segment; rather,

reproduce an established style. The selection of

will contribute toward expanding the debate

it incorporates all of the artworks that are part of

the curatorship, in turn, includes 21 artworks

concerning the relation between contemporary

the Bienal Naïfs do Brasil. It thus becomes a sort of

by 10 artists, two of the works commissioned

and popular art beyond the regionalisms and

large parasite that creates, simultaneously with

specifically for this exhibition while a third

nationalisms. One of them, Daniel Steegmann

the Bienal, another exhibition with an entirely

takes place outside the exhibition space of sesc

Mangrané, a Catalan residing in Rio de Janeiro,

different purpose. That is, both the exhibitions

Piracicaba. In choosing the artworks, the aim was

has focused his work on the Brazilian indigenous

take place there, during the same period and in

to find works able to create situations that foster

culture and its production of geometric patterns.

the same physical space, although the premises

dialogues and relations between the naive and

Costa Rican artist Federico Herrero works

on which each of them is based makes them

contemporary segments, mainly involving the

primarily with painting, exploring the Latin

entirely different projects. The show of artworks

relation of these works with a production or with

American tradition of mural painting in a way

selected by the jury exists in its own right,

the popular vernacular, understood in the wide

that popularizes contemporary art. We are very

independently from the curatorship of Além

sense as all of the artistic production that takes

happy to have secured his participation in the

da Vanguarda, while the latter depends entirely

place outside the scope of the tradition of the

show, where he will realize a painting in the sesc

on the set of relations that it establishes with

European vanguards.

building, in a place (or places) to be determined

In this sense, it does not appropriate just one or

the former in order to exist. Detached from the former, it dissipates and collapses. This evidently

As a matter of fact, all of the contemporary works selected here bear some sort of specific

during the setup. It was equally gratifying to have the participation of Colombian artist

201


Felipe Arturo, who for some years now has been

material). We therefore arrived at an architectural

biennial in this way, according to its particularity

developing a work of temporary architectures in

design that is strictly aligned to the curatorial

of focusing on those artists who reject or lack

which he incorporates construction techniques

proposal. The graphic design was developed by

formal training in art, opening a space for them

of street vendors from different cities. Arturo will

Carla Caffé with the sesc team and has likewise

to show their work.

carry out a short artistic residency in the city of

sought to reflect the concerns of this curatorship.

São Paulo, where he will research the local street

Finally, I would like to express my immense

The question of “naive/ingenuous” was aptly considered by Olívio Tavares de Araújo, when he

vendors with the aim of developing a project on

thanks for the support and enthusiasm of the

was curator of the special room of the Bienal Naïfs

the adjacent veranda to the exhibition space on

team at sesc Piracicaba during the process

do Brasil in 2008; he said: “In practice, especially

the first floor of sesc’s building.

of conceiving and carrying out this project.

by influence from Eastern Europe, where this

Thanks to the performance of all of them and

type of art abounds, the label “naive” is usually

curatorial ideas in the exhibition space, the design

to effective teamwork, we were able to ensure

applied to less incisive artists… They know

of the setup was developed in close dialogue

the inestimable participation of the artists and

various artistic techniques, they know how to

with architect Ana Paula Pontes, in charge of

members of the invited jury and to carry out each

draw reasonably well, and how to mix paints to

the exhibition architecture. We opted for an

step of the process with due care and attention.

create pleasant degradés in their landscapes…”.

architecture that would not reinforce the “popular”

Juliana Braga and Daniel Hanai were especially

It is precisely taking into account this definition

character of the naive artworks with emphasis

attentive to the demands of the curatorship

and this framing of “naive” within a specific

on materials or colors that would evoke this

since the outset, understanding the ambition of

technical perspective that this name should be

universe, thus allowing the works themselves

this project and contributing greatly with clever

questioned.

to express their content without the need for

solutions for the problems of a practical and

external reinforcement. At the same time, we

conceptual nature that arose in our path.

Seeking a more precise translation of the

There is no proper consensus concerning a better terminology. The term “primitive” tends

did not follow the aesthetics of the “white cube”

to carry a built-in negative judgment value

traditionally used for contemporary shows, but

that depreciates it. The term “innate”, which

rather sought to incorporate the characteristics

is equivalent to spontaneous, can be seen as

specifically to host art exhibitions, thus

A REFLECTION ON THE BIENAL NAÏFS DO BRASIL

presenting a series of visual interferences. For

Edna Matosinho de Pontes

of the building itself, which was not constructed

this edition of the Bienal, the architect developed

Collector, researcher and gallerist

suitable in many aspects, but it is little known or used. The current tendency is to use the name “popular art” to characterize the art produced by artists who lack or reject formal art training. This does not mean that it is the best definition, but

a system of display panels made with boards of unfinished, unpainted plywood, held up by metal

The terminology used to define the type of art

it does specify more precisely the sort of art we

supports. Besides preserving the transparence of

featured in this exhibition is wide-ranging and

are referring to and for this reason it has been

the exhibition space, avoiding the construction

has been the subject of many other texts written

adopted as the one conventionally used.

of false walls and proposing a lighter occupation

for previous editions of the biennial. The various

of the building, the panels make use of a

terms often used to denote this art include

material which simultaneously evokes a certain rusticity (the unfinished wooden board, in the

“naive”, “innate”, “primitive”, and “popular”. The term “naive” refers to ingenuousness. The

size in which it comes from the factory) and an

recurring discussion tends to revolve around the

industrial character (since it is an industrialized

appropriateness of naming this very important

202

The conception of popular art as a living expression of the inventiveness of the soul of our people, who reinvent reality in their own way through their fantasy, guided our work as members of the 2012 Biennial’s jury. I was enormously satisfied to work with this


group which is heterogeneous in terms of their

time is part of the experience of older people,

desirable, as it molds and defines the spirit of a

professional experience, but which worked as

who lived during that time. In this direction,

nation, of a culture… In short, about the desire

a true team. The selection of the artworks was

for example, we have beauty, sensibility and

of a more frequent shared experience, of a fertile

made in a very careful, reflexive and democratic

sincerity in the work by Maria Caldeira Bochini, an

and continuous exchange of ideas…” These are

way. Some criteria for the choice of the artworks

82-year-old artist. In her we perceive the nostalgic

propositions that I totally agree with.

to be shown were consensual. We considered the

soberness, the economy of colors and the absence

artist’s experience and background. We sought

of superfluous details. It is not, in any way, a

states in this 11th Bienal Naïfs do Brasil,

to avoid works by artists who had the influence

mellifluous and unnecessarily embellished portrait.

I will make a brief comment here — thinking about

of a specific art training or whose work portrays

An exception in terms of three-dimensional

Despite the high representativity of the Brazilian

future biennials — concerning how enriching it

situations apart from their own condition of

works was a surprising iron head made by

would be in terms of the diversity of techniques

life. For this reason we also analyzed their

Evandro Soares. It demonstrates originality, skill,

and the use of materials to enlarge the scope

biographies. sesc’s initiative to valorize and show

cleverness and includes movement by way of a

geographically with the inclusion of a number of

this sort of production at each biennial held over

simple mechanism that makes a helix turn. It is a

works from states with a wealth of popular art

the years is really praiseworthy. There are few

work that evidences effort and perseverance in its

production, especially those in the Northeast.

opportunities for the popular artist to receive

elaborate realization.

so much attention and space to show his/her

Unlike at the other editions, where there

work. Because such works are normally excluded

was a separate space for the special room

from the art exhibition circuit, they tend to be

conceived by the curator, this edition’s curator

THE UNEXPECTED IN ART

undervalued.

Kiki Mazzuccheli decided to show contemporary

Marta Mestre

This edition of the biennial features 536 works

artworks in the same space, alongside the popular

Art critic and historian

(each artist participating with two), representing

art. This reflects and reinforces the valorization of

twenty states of Brazil. We had a range of themes

the production of the popular artists, a hallmark

Our gaze is transformed much more than art

that are very frequent in popular art: rural

of the Piracicaba Biennial.

is. Our perspective on things becomes free from

landscapes and cityscapes, popular (folkloric

In 2009, Galeria Pontes, which I direct, held the

a closed and discursive order, and exists as an

and religious) festivals, scenes from everyday

exhibition Mecânica Inexata [Inexact Mechanics],

emotive tangle that articulates an interplay

life, representations of current issues. Beyond the

focused on the dialogue between popular art

of images and times circulating comfortably

mastery of their production, we sought to take

and contemporary art, curated by Jacopo Crivelli

between “high” and “low” culture.

into consideration the sensitivity and sincerity

Visconti. That exhibition showed that this dialogue

of their approach, their originality, and the use of

is possible and has a fluidity that naturally

that is produced apart from the institutionalized

infrequent techniques and materials.

flourishes. In the text written for the show, Crivelli

world of art, has an increasingly expressive power

Visconti says that this dialogue allows us to talk

of empathy and seduction, and this is due to

Most of the works entered consisted of paintings made with oil or acrylic paints.

“about the need to recompose the recent and

Spontaneous art, that is, the visual production

the weakening of the rigid distribution of genres,

Woodcuts and three-dimensional works in

unnecessary fracture that divides artistic practice

themes and hierarchies throughout the 20th

ceramic or stone were rare, and there were

into two separate worlds, which should return to

century.

few wooden sculptures — though they are very

being side-by-side and thus understood in another

representative of the world of popular art.

way. About the conviction that the proximity of

The representation of the memory of a bygone

distinct artworks and thoughts is healthy and

Found everywhere a little, with a higher or lower degree of expressivity, we notice that “spontaneous art” — that which is always where

203


we least expect it, where no one thinks about it,

The Finnish example is full of many striking

all over Brazil which is featured at the exhibition

nor even speaks its name — has admirers all over

happenings in the creation of an aesthetics of the

ranges beyond the universe of “naive” art. This is

the world and is constantly being affirmed in its

collective body as a whole with the help of the

an overly restrictive term for extremely restless

own right, whether in Brazil or… in Finland.

government: the opening of the Contemporary

images, a term that does not consider their

Folk Art Museum (in the city of Kaustinen); the

diverse and unlikely artistic origins, which can

opportunity to visit artists and productions of

leadership on the European program Equal

be indigenous art, the art of people with mental

so-called spontaneous art. It was an intense

Rights to Creativity — Contemporary Folk Art

problems, or art produced in altered states of

experience, where I could perceive the symbolic,

in Europe, in partnership with Hungary, Italy,

perceptions, to cite some examples.

cultural, identitary and economic importance

Estonia and France, to which a publishing house

that this artistic field can have. Getting to know

is associated for the publication of high-quality

the term naive in respect to the world of artists

now the Brazilian production that has arrived at

editions of works by “spontaneous” artists; the

who have participated in the various editions

the Bienal Naïfs de Piracicaba I notice that, despite

exhibition In Another World, held at the Museum

of the Piracicaba biennial, if we remember

being countries with very different realities, there

of Contemporary Art of Helsinki (Kiasma), a

what Freud wrote about the “fetish”, one of the

is a common feature that confers unity to their

selection of the best Finnish spontaneous art,

elements that best characterizes the nature of the

visual productions.

along with historical artists of the European

naive images.

In 2006 I made a trip to Finland and had the

There is a wide range of jargon used by

collections (Alain Bourbonnais, Aloïse Corbaz,

We can even talk about the “unsuitability” of

Upon introducing the concept of “fetish”,

specialists to characterize this type of production:

Madge Gill, Chris Hipkiss, Giovanni Battista

Freud1 referred to the fact that it forms a

naive art, outsider art, art brut, raw art, folk art,

Podesta, Henry Darger or Adolf Wölfli); and the

totalitarian image. The fetish image is a “sealed”

visionary art, “visionary art environments” etc.;

National Ministry of Culture’s awarding of the

or “inanimate” image that is reminiscent of a sort

nevertheless, it is a single order of imagination

Finland Prize, in 2007, to Veijo Rönkkönen — one

of stopping of the gaze. According to Freud, what

and beliefs, images that seem to have emerged

of the artists photographed twenty years before

constitutes the fetish is the moment of history

from a newly discovered Eden, which are

by Veli Granö — for his work which received

where the image stops, as though it were the

intensely inhabited by anachronisms and

the attention of international curator Harald

immobilization of a ghost. The fetish is also a veil,

obsessions. They appear as surviving facets of a

Szeemann.

a curtain, a “point of repression”. For this reason,

“nameless history” that reach us in a devastating, intense and disruptive way.

This movement led to the need to invent a name for the “new” art: ITE art, an acronym for

the amazed perception of the naive artist often appears crystallized, an eternal return. As stated

The Finnish case has epic contours, by the

“Itse Tehty Elama”, which signifies “self-made life”,

by Laymert Garcia dos Santos: “naive art is the

succession of its episodes, and by the way in

and institutes the idea that life exists through the

art of emotion, a shout from the heart”, and he

which, in less than thirty years, it has managed to

aesthetic dimension of each and every person.

adds: “the magical effect is produced in the gaze,

garner enormous visibility for a field which was

The Finnish case makes us think about various

previously disregarded. It begins with the story

aspects. I suggest two for us to consider in the

of Veli Granö, a contemporary artist who made

context of the Bienal Naïfs do Brasil in Piracicaba.

the Onnela — Trip to Paradise series, portraits of twenty folk and outsider artists in the context of their idiosyncratic worlds. The series was shown

In the first place: what is the meaning of the name “Bienal Naïfs”? The experience of the jury this year, coupled

in 1986, at a gallery in Helsinki, kindling the

with a reading of the documentation of previous

immediate interest of various levels of society.

editions, makes it clear that the production from

204

it crystallizes the image”2.

1 Sigmund Freud, “Souvenirs d’enfance et souvenirs-écrans”, in Psychopathologie de la vie quotidienne, Payot, Paris, 2004. 2 Laymert Garcia dos Santos, “Regarder autrement”, in Histoires de voir (exhibition catalogue), Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, May 2012.


Freud’s point of view on the nature of the naive

arts” also reinforces how many critics and

can substantially change the concept of both

images makes complete sense when it is lamented

historians see it as a breath of fresh air for the

contemporary art and art in general, since it is in

that a “naive” artist copies a successful form, and

increasingly rigid art scene brought on by the

places where it has never been in the history of

repeats it over and over. But this does not concern

homogenizing power of globalization and the

art and where there is no museum tradition”4.

a response to an already conquered market, but

standardization of art.

rather to the very nature of the naive image: the

Hans Belting’s words evidently involve a serious

Nevertheless this regenerative potential of

argument about the end of the “history of art as a

“spontaneous art” should not be instrumentalized

model of our historic culture”5, and a criticism on

necessary for the production of the fetish.

in the closed circuit that sees modernity first and

the places of enunciation that have traditionally

By its circumscribed character, the term

contemporaneity afterwards, through interposed

produced the discourses about art, and in this

stages and as inexhaustible places to which we

case, about “spontaneous art”.

interplay of repetition among the elements is

“naive” can only partially denote the extensive production that arrives at Piracicaba, and it limits

submit according to the diving suit that brings us

the possibility for thinking about the biennial’s

to the greatest depth.

future. Nevertheless, from Jean Dubuffet to

We consider that the regenerative capacity

It must be remembered that the optimism that exists today about this increasingly shown and recognized artistic field lived under a

Roger Cardinal, it has always been hard to find a

of “spontaneous art” has much to do with an

regime of cultural apartheid for many years. As

comfortable designation for this artistic field; and

anthropological function, which relegates

aptly pointed out by Michel Thévoz “even in the

the Finnish “solved” the question by inventing the

the aesthetic condition to the second plane.

imaginary museum of Malraux, the works by

aforementioned name “ITE art”, which is more

This function has the potential to generate a

Aloïse or Guillaume Pujolle were in a purgatory

than a marketing label attached to a confined

magnificent mirroring effect, which under the veil

with the anonymous and ignominious caption

cultural policy. For relating much more with life

we display to others, allows for the conveyance

drawings by the insane. And when the 1975 edition

than with art (like the poetics of Joseph Beuys, the

of observations about ourselves, our culture, our

of the Documenta V of Kassel had the audacity to

German artist for whom life existed through the

notions of art, our values and attitudes.

introduce the works by Adolf Wölfli and Heinrich-

A categorical example of this more

Anton Muller — without a doubt one of the most

aesthetic dimension of each person), it ensures longevity to the artistic field we are talking about.

anthropological than aesthetic paradigm was

inventive artists in this field — it isolated them in

A further aspect to ponder is: how can the

the exhibition Les Magiciens de la Terre, held at

a section designated as psychopathological”.6

curatorship lend visibility to “spontaneous art”?

the Centro Georges Pompidou, in 1989. For the

The aforementioned regime of apartheid has

first time, it featured Western contemporary

increasingly been dispelled, but some paradoxes

codified field of the visual arts the expressions

art together with art from the rest of the world,

still remain.

characteristic of ordinary life, everyday

and from other categories. This exhibition gave

experience, the domestic territory, the rural

meaning to what Hans Belting would designate

expanses, the primitive, indigenous world, altered

as “global art”3, which “in its new expansion,

The curatorship is essential to bring into the

as I see it, still generates significant obstacles. I am referring to a pedagogical paradigm which is often applied to “spontaneous art”,

states of perception, and others. “Worlds” that are very gradually becoming part of the schedules

I will conclude by pointing out one which,

3 The Global Contemporary. Art Worlds After

and which indefinably reconstitutes the very

and programming of museums, but which,

1989, the exhibition held by ZKM | Museum of

ironically, reveal their regenerative role in the

Contemporary Art (from September 2011 to

4 At http://globalcontemporary.de/en/exhibition

scenario of the crisis of the history of Western

February 2012) used the date of Les Magiciens de

5 Hans Belting, O Fim da História da Arte,

contemporary and modern art. The growing importance of the “unauthored

la Terre as a chronological mark for the concept of “global art”: http://www.globalartmuseum.de/ site/act_exhibition.

Cosac&Naify, p.12. 6 Michel Thévoz, Art brut, psychose et mediumnité, Éditions de la différence, Paris, p.10.

205


inequality it aims to suppress, as if there were

very specifically, I am most curious to listen to the

various years by Antonio do Nascimento, who

a goal of equality along with a social, aesthetic

faint tones exchanged between the two men in

gradually enlarged his passion for this segment,

and symbolic “fracture” to be eliminated. This

O barco do pescador [The Fishermen’s Boat], in the

linking artists and art critics and inviting them to

is a dubious game that can signify completely

wetlands depicted by Jefferson Bastos.

these occasions where they had the opportunity

different things: either to encourage the artists

to maintain contact with this specific and

to remain in their “lost paradise” considered as

disarticulated production generally made at

a place for the survival of an art that should not

the fringe of the art world and in rural settings

be corrupted, or to construct their “emancipation”

A Return to Creative Freshness

or small towns, that mixed mellifluous naive

with a view toward an “equality of intelligences”

Paulo Klein

artists, domesticated brute artists and primitivist

(J. Rancière).

aica  Association Internationale des Critiques D’Art

artists of various generations. Initially involving

abca  Associação Brasileira de Críticos de Arte

a competitive show, at a certain moment it began

In the former case, there is a discourse that

presenting special rooms by invited artists.

locates spontaneous art and spontaneous artists within a subalternity, which leaves

“...the moon reigns over the artists who remain

them expressionless. Deprived of expression,

aloof from academia”. Carlos Drummond de Andrade

this art and these artists speak only through a middleman (the one who “discovered” them, the

that the competitive segment be kept — since it allowed for the visibility and circulation of the

Monte-Mor

producers of this art — but accompanied by a reflexive show that would foster the discussion

this reason, these images are normally seen in

badly captioned, badly photographed, badly used.

curatorship of the event’s 7th edition I proposed

in “Teimosia da Imaginação” by Germana

gallerists, the judges panel, the historian etc.). For

a “bad light”, because they are badly described,

This format lasted until 2004, when during my

“I should have learned to drive a car, but I chose to paint pictures”.

In the latter case, the “emancipation” consists

Aurelino dos Santos,

of a restoration of the places and the subjects of

popular painter, Salvador-BA

and interaction of this sort of art with other segments of the arts, regardless of whether it was called popular, cabocla, fringe, nonacademic, ingenuous, innate, or contemporary art, among other possibilities.

enunciation in order to recognize and develop all of the consequences of the “equality of the

The history that has led up to this Bienal Naïfs

Returning to the Bienal Naïfs eight years later

intelligences”.

do Brasil, in its 11th edition, began in the 1980s

as a member of the selection and awards jury has

Perhaps this is why some people say that we

with annual exhibitions that continued until

allowed me to carry out some reflections. First of

should always look at a work of spontaneous art

1992 (the 6th edition) and were entitled, with

all, about the act of judging a work of art within

with the artist at our side, listening to his/her story.

small variations, Arte Ingênua e Primitiva —

the current context of nearly instantaneous

Mostra Internacional [Ingenuous and Primitive

virtual communication and the pendulumlike

artists, instead of having painted, sculpted or

Art — International Show], always based at sesc

oscillation of tastes; if it is pertinent or not,

embroidered, had narrated their lives, their

Piracicaba, but sometimes expanding out into

good or bad, appreciable or not. The wealth

worlds, the places they (and all of us) come from.

the pleasant city in the interior of São Paulo state.

and diversity of impressions, arguments and

I am extremely curious to learn about the story

The exhibition then began to be held every two

convictions should be documented on video

that Maria Caldeira Bochini tells, in the canvas

years, receiving the title Bienal Naïfs, the name

to later become the subject of philopoetic

in which three girls play without toys, or to

under which it is currently recognized in Brazil

discourses. In any case, this critical exercise

hear Carmela Pereira singing the song that her

and internationally.

allows for unfathomable challenges, the core of

Everything takes place as though these

Carnival characters are about to celebrate. But

206

The exhibition was initially coordinated for

my occupation.


On the present jury I had to cope with some

Fishing is the theme of Jefer (Jefferson Bastos),

The Dream of Ingenuousness

premises, such as the size of the exhibition space,

from Campo Grande, Mato Grosso do Sul, another

Juliana Braga de Mattos

shared in this edition with contemporary artists

Acquisition Prize winner, in a painting of simple

Visual Arts Assistant of the Department of

indicated by curator Kiki Mazzucchelli and with

primitivism in which the landscape and the

Cultural Action Management — sesc São Paulo

options of acquisition aimed at making the

characters are schematic and the tones maintain

institution’s collection more organic.

the lightness of children’s drawings.

The members of the jury thus carried out

Among the Incentive Prizes, we call special

The experience of serving on an artistic jury, for any sort of art, can be doubly revealing: while on

their work rigorously, not only in regard to

attention to the psychological atmosphere

the one hand it creates an index for the artistic

what they consider pertinent or not in this

and the dominance of primary colors in the

production at a determined place and time, it

complex specificity, but also sought to eliminate

paintings by Kaldeira (Maria Caldeira Bochini),

also winds up enunciating the jury members’

the presence of mellifluous naive artists,

from Catanduva, São Paulo; the simplicity of the

convictions and ideals, which are not always

the ingenuous artists inebriated in a false

embroideries by Maria Aparecida Machado, from

followed to the letter by the artists.

atmosphere or the replicas of other creators. This

Chapada dos Guimarães, Mato Grosso, and the

was a challenging task that gave rise to exciting

sacred/profane scenes charged with baroquisms

São Paulo for more than 22 years, as a basis for

clashings that fuel the contemporary production

by Ilma Deolindo, from Nova Horizonte, São Paulo.

considering these questions allows for some

while also questioning it.

Incentive Prizes were also merited by the vibrant

thoughts about the current so-called naive or

colors of everyday life captured in Retrato Íntimo

ingenuous art scene in Brazil. An initial reflection

what is being produced today in Brazil in this

[Intimate Portrait], by Enzo Ferrara, and the

reveals a certain dissonance between the original

segment that blends the painting of relative

unforeseeable obtained through the manipulation

term and its connotation nowadays; created in

ingenuousness (even the world of crack cocaine,

of scrap materials in Sonho de Voar [Dream of

what to us seems like the faraway 19th century

the large garbage dumps and trash recycling have

Flying], by Evandro Soares, from Goiânia.

to define, from the European point of view, a

The result is a concentrated essence of

appeared as themes), the art of outsiders who are

The jury awarded Special Mentions to artists

Taking the Bienal Naïfs do Brasil, held by sesc

countless number of productions by artists lacking

fascinating for their originality (including their

who presented outstanding works, such as

classical and academic training — in short, from a

biographies full of humor, suffering or tragedy), as

Carmela Pereira (Piracicaba, SP), an enduring

popular origin — the expression “naive art” came

well as masters who have evolved their technique

pioneer of local primitive art, Danbeco (Rio de

to be associated with a universe of creation in

over long years, without losing their (often rustic)

Janeiro, RJ), Joana Baraúna da Silva (São Paulo, SP),

which a certain feigned style was overlaid to what

poetics or their own identity.

Renata Kelssering (São Paulo, SP), José Altino (João

was previously a poetic expression.

The artworks and artists awarded the Acquisition Prize include two creations by Adão Domiciano Pinto, an artist from Cuiabá, Mato

Pessoa, PB), Shila Joaquim (São Mateus, ES), and Vósandra (Ribeirão Preto, SP). I would also like to express my thanks to the

In this sense, one cannot intend to frame the term as a purist reflection of production that escapes from the tentacles of mass

Grosso, already known from other biennials

always efficient and dedicated team at sesc

communication or the codes of the art market —

for his incisive painting, who returned to this

for this opportunity to make contact with a

well-known collateral effects of our globalized

edition with the novelty of using watercolor on

production that is generally kept at a distance

world.

paper applied on a board. This new medium is

from the institutional circuits, and to my fellow

consistent in a satisfactory and appealing way

members on the jury, who intensely stimulated

know the power of our artistic traditions linked

with the controversial theme of 21st-century

and questioned me, with knowledge and poetry, in

to popular roots, is this: while acting on a

slavery, still found in some regions of the country.

this delicate act of judging.

commission formed for this specific task, how

But the challenge, precisely because we

207


can we escape from the desire to encounter a genuine freshness that represents the essence of

Beyond the Avant-Garde

the artworks of this series in the context of this exhibition, in the interior of São Paulo state —

a certain ambivalent practice, that lies outside

whose development in the 19th century was driven

any stereotype while also not representing a mere

by the coffee industry — he lends them a new

mimicry of false values of Brazilian culture? And,

meaning by activating their relations with history.

on the other hand, how can we get away from

But beyond the different layers of meaning, one

the preconceived idea that the “ingenuous” artist

of the most interesting elements in this series

necessarily lives in isolation from the codes of

is the confusion of roles that the artist brings

this contemporary world — as though his/her

ALEXANDRE DA CUNHA

about, since here the person who carried out the

work were not a legitimate expression of it?

In his work, Alexandre da Cunha appropriates

manual work of the embroidery was his gallerist,

materials, objects and citations from traditionally

Luisa Strina. Embroidery is an activity normally

questions that drove the reflections and choices

distinct registers to transform them through

associated to women accustomed to household

of the present commission. From among the

a process involving the collage of different

tasks, who do not have professional careers — an

many artworks entered, we were able to select

elements. This operation is generally based

image that contrasts strikingly with the figure of

an interesting portrait of Brazil which, in the last

on commonplace objects found in everyday

an independent gallerist and entrepreneur. This

decades, has gone through significant changes of

life (towels, parasols, household utensils, and

series of artworks therefore fosters the encounter

a political and economic order, in certain ways

many other things), which are taken out of

of two profoundly distinct worlds; one linked with

captured by the artistic representations observed.

their original context, recombined with other

handicraft, to the repetition of a technique and

These changes did not necessarily favor the

elements, and finally inserted into a new

knowledge linked to a feminine task in its most

exercise of art — yet they have certainly revealed

hierarchy of value. Upon bringing these objects

traditional meaning, and another one linked to

subtexts still present in the national mindset in

within the universe of art, he strips them of their

contemporary art, to the cultural vanguard, to

regard to the universe of naive art, in which there

original function while simultaneously raising

conceptual innovation and to internationalism.

persists an old idea of ingenuousness, dreamed of

questions concerning ideas of value, circulation or

for more than a century.

intentionality.

These seem to have been two important

The enlargement of understandings about

In the series of embroideries present in this

CARLA ZACCAGNINI

ingenuous, popular and contemporary art — and,

exhibition, Alexandre da Cunha appropriates

The Museu das Vistas [Museum of Views] project

moreover, the approximation among their fields of

popular practice/knowledge and commonplace

began in 2004 and, since then, has been repeated

creation — has entailed a ceaseless search by the

materials, as he did in earlier works, making use

various times in cities in different countries:

Bienal Naïfs do Brasil at each edition, in tune with

of their symbolic values. Here he associates the

Medellín (Colombia), Rincón (Puerto Rico), São

sesc’s commitment toward encouraging Brazilian

quality of embroidery fabric to the large burlap

Paulo (Brazil), Valparaíso (Chile), and others. As

artistic production and debate. In 2012, this path

bags used in coffee export, which serve as a

in other artworks by Carla Zaccagnini, here she

assumed clearer outlines. Our desire is for the

raw material for these works. While some are

creates some rules of the game, which should

public to find inspiration in the simple and the

more figurative, and others more abstract, the

be followed by the viewers/participants for the

colorful, the mundane and the oneiric, because

composition of each embroidery was carefully

artwork to be fully realized. In this case, the artist

this is how the naive art was revealed to us, the

selected by the artist based on the original

employs a forensic sketch artist, who remains

members of the selection commission, throughout

illustrations on these bags, to which he adds

available during a previously agreed period in

a delightful time of research and debates.

nothing. It should be noted that when he exhibits

some areas of the city where the exhibition

208


featuring the artwork is held. Here, instead of

DANIEL STEEGMANN MANGRANÉ

art produced in Brazil normally evokes or makes

translating into drawing the spoken description

In the indigenous tupi language, the word Ka’aeté

reference to the practices of concrete and

of criminal suspects, these portraitists produce

means “deep forest”, far from the inhabited

neoconcrete art — points to other possibilities

drawings of landscapes recollected by those who

territories. It is a mythic place where gods

of experimentation with geometry and, not less

wish to participate in the project. Each one of

and spirits live, where the paths end; it is the

importantly, to the meaning of its approximation

these drawings is made on self-copying paper; the

impenetrable. Kiti means “to cut with a sharp

with life.

original graphite drawing is given to the person

instrument, by human hands or by technical

who describes the scene, while Museu das Vistas

means”. As in the hegelian interpretation, for

collects the blue copies on yellow paper produced

the indigenous tribes of Brazil, the Ka’aeté, the

FEDERICO HERRERO

chemically by the pressure of the pencil.

deep forest, is also a place without history, where

Trained as an architect, the Costa Rican artist

the things are still unformed and animals can

Federico Herrero mainly uses the medium of

metamorphose.

painting. Many of his works, like the one featured

The resulting collection is a testimony to the forms in which the landscape becomes a mental image and how this image of memory can be

Kiti Ka’aeté is the overall title of a project by

in the show Além da Vanguarda, are realized onsite:

transformed into a discourse and be translated

Daniel Steegmann Mangrané that originated

in public spaces such as façades of houses and

into drawing, constructing a new physical

from a collage in which the artist based his work

buildings, on city walls or private walls inside

image. Thus, the traditional genre of landscape

on the abstract art of the tupis, with its complex

galleries or other types of buildings, where he

painting, so relevant and predominant in the

geometric system, to realize precise cuts on an

executes his paintings in close dialogue with the

production of the artists who are participating

image of the Amazonian forest. In a subsequent

spatial organization of the locale. Characterized

in the Bienal Naïfs do Brasil, is unfolded in Museu

unfolding of the same work, which is the version

by their vibrant color, normally divided into

das Vistas, in time and in space. In a certain way,

featured in this show, the collage was installed

units of abstract and simultaneously fluid and

Zaccagnini’s project attests to the persistence of

within an exhibition panel and backlit using

imprecise forms, these paintings — in contrast

the landscape in the current world. At least since

only a slide projector. In this way, the beams of

with the rigorous geometric abstractions that

the 15th century we have learned to see the world

white light pass through the small cuts and their

characterize the Latin American art of the mid-

as a landscape, and it is precisely this process

luminosity emanates from the face of the image,

20th century — nearly seem to sprout organically

of mental construction and visual translation

conferring the quality of a spirit or soul to the

from the walls. Their mode of existence is

that the artist emphasizes in Museu das Vistas.

abstract forest. Part of the installation consists

therefore more analogous to the disordered and

The resulting drawings are also fundamental

of the space between the projector and the panel

voracious way that the lush nature of the tropics

elements of the project, and since their final form

where the collage is located. Open and accessible,

takes over the constructions in these regions

will be determined by the skills and choices made

it can be passed through by the exhibition visitors,

of the planet. As a further comparison with

by the portraitist, as well as the narrators, they

who intermittently interrupt the beam of light

the botanical order, these paintings at certain

are unforeseeable. But based on the drawings

from the projector, causing a flickering effect that

moments resemble the drawings of landscape

produced up to now we can say that, for the most

can be observed by those in front of the image.

designs by Roberto Burle Marx, with their sinuous

part, they bear some stylistic affinity with naive

Kiti Ka’aeté brings to Além da Vanguarda

art. Are not forensic artists artists from outside

the dimension of indigenous art, manifested

the traditional world of the fine arts?

through its rereading within the contemporary

lines and areas of color interlaced within a set of organic forms. To a certain extent, Herrero’s practice borrows

register. Here, the constructive appearance of the

characteristics from the tradition of mural

collage — which in the context of contemporary

painting, a practice associated mainly with

209


the Mexican artists of the first half of the 20th

each day large commercial centers are set up and

MONTEZ MAGNO

century, but which found echoes in various Latin

taken down in the open air, attracting thousands

With an artistic career spanning six decades, the

American countries including Brazil. But, if on the

of consumers.

Pernambucan artist Montez Magno possesses an

one hand it shares with this tradition an interest

Due to their temporary and most often illegal

extremely complex and diversified oeuvre that

in bringing art closer to a nonspecialized public

nature, the architecture of this sort of commerce

is unfolded in different media and researches. In

that inadvertently comes across his paintings in

possesses some basic characteristics. In some

the context of the exhibition Além da Vanguarda,

public spaces, it abstains from seeking to convey

cases it should consist of relatively light materials,

we are particularly interested in the artist’s

more direct political and ideological contents, as

for easy transport, while allowing for simple and

investigations concerning the geometry of

was the case of the original muralists.

efficient techniques for quick setup and takedown.

popular art, which he began in 1972 with his

The materials should invariably be easy to find

studies for the first cycle of the series Barracas do

a strong resonance with the production that

and low-cost, but should also be durable and

Nordeste [Tents of the Northeast], from which we are

has been consistently presented at the various

tough enough to stand prolonged exposure to the

presenting three pieces in the show.

editions of the Bienal Naïfs since its founding.

elements. It is therefore an architecture entirely

The presence of his works at this show seeks

founded on the pressing needs of these groups of

one of the artist’s letters selected by Clarissa

to catalyze the artworks selected by the jury,

formal workers, not based merely on academic

Diniz in her essay published in the monograph of

allegorically suggesting that they leave the

principles and therefore informed by a living,

the artist released in 2010, where he explains the

bidimensional plane, overflowing it and crawling

popular know-how.

aim of his research:

In the coloring of Herrero’s paintings, we find

across the floor, climbing the walls and moving

In São Paulo, as in other large Latin American

It is worthwhile citing here an excerpt from

“[...] A large part of my current work is based on

across the ceiling of the building, to finally

cities, the daily activity of the street vendors takes

things from right here, in Recife, in the Northeast,

occupy all of the tridimensional space of sesc

place on a large scale, and it is precisely there that

but the people of Recife themselves don’t perceive

Piracicaba.

Arturo will engage in a short residency in order to

this. I am carrying out a research or study of the

produce a new commission for Além da Vanguarda

forgotten and omitted side of Brazilian popular

based on his researches on the construction

art: the abstractionist side. It’s incredible what

FELIPE ARTURO

methods of the local street vendors. Appropriating

the people do in terms of geometric abstraction.

Since 2009, the Colombian artist Felipe Arturo

construction materials and techniques learned

I am using photographic slides to document

has been investigating the construction methods

from the street vendors of the city of São Paulo,

the various modalities of abstract-geometric

employed by street vendors in different Latin

the artist will construct a temporary environment,

expression: tents used for celebrations and

American cities. He notes how the ephemeral

whose final configuration will be developed in

street markets covered with patches, ice cream

architectures specific to each of these cities

the weeks preceding the exhibition. For the first

and popcorn wagons etc.; garage doors, and

have evolved based on complex processes of

time in the history of the Bienal Naïfs do Brasil,

other things that appear along the way. It’s

local policies and particularities related to the

this work will occupy the large veranda adjoining

fantastic, and you will sometimes find things

distribution of foods and merchandise within

the exhibition room of sesc Piracicaba, creating

from op-art, concretism and constructivism, all

the urban and rural centers or between each

an area of observation and pause that connects

of it made in utter ignorance and ingenuousness,

nation and other countries. The phenomenon

the building’s interior to the areas dedicated to

but with a sharp and intuitive sense of color

of populational displacement entailed by the

leisure and sports that are located in the anterior

and construction. It is from these things that I

informal commerce has an undeniable impact on

part of sesc’s grounds.

currently extract material for my work”.

the urban configuration of certain regions, where

210

His Barracas do Nordeste, with their imprecise


and vividly colored geometric shapes, oscillate

that includes Bronze Revirado [Overturned Bronze]

stick to particular techniques or styles. In his

between abstraction and figuration, since

a video installation that we are presenting here.

first works, he incorporated and articulated

they retain a formal connection with their

As Jacopo Crivelli Visconti describes in a

industrialized or designed products found in

referent, sometimes even presenting indications

commentary on this work, “[U]pon investigating

the everyday collective experience, emulating

concerning the context from which they were

and studying this theme, the artist verified that

and employing their aesthetic characteristic

removed. The two other series represented in

the top of bell towers where bells are rung is

within the contemporary art circuit. Recently, he

this show also resort to an approximation with

the nearly exclusive domain of bell ringers (who

made a series of works in which he appropriated

the popular realm, although they seek different

in olden times were mostly slaves): neither the

materials characteristic of that same circuit, such

formal solutions. In Teares de Timbaúba [Looms of

churchgoers nor the priests themselves go up

as artwork labels and materials used in setting up

Timbaúba], the artist focuses on explorations of

there. That is, the artist recovers the visuality

art exhibitions, using them to create temporary

geometric possibilities of the line, experimenting

of an event of fundamental importance in the

sculptural situations. These configurations

with different traces made by pencil and oil

social fabric, whose image over the centuries

were only maintained during the period of the

pastel on a neutral paper background, thus

has nevertheless been programmatically and

exhibitions they were shown in, dissipating after

producing a starker result. For its part, the series

methodically hidden and even denied”. Thus, in

their end, when these materials were returned to

Fachadas do Nordeste [Facades of the Northeast]

contrast to the excessive visibility of the image

their places of origin and ceased to be considered

consists of small-format paintings made in

of the bell and the church in both the refined

as art.

acrylic on cardboard. In this case, taking popular

and popular pictorial depictions, what Lobato

architecture as a motif, color and line seem to

offers us is a ritual which, despite being carried

for the show Além da Vanguarda, Matheus also

possess equivalent weight.

out systematically over the centuries, remains

operates with a re-signification of existing

concealed.

materials. Here, he seeks to dialogue directly

Shown here on a national scale and in a way

For the two new commissions he produced

with the local history of the power of the

PABLO LOBATO

that brings us behind the scenes of the church,

agrarian elites in the state of São Paulo and

The work by the Minas Gerais artist Pablo Lobato

to within the niche where the risky and nearly

the commercial transactions they made with

featured in the show Além da Vanguarda presents

erotic choreography of the bell ringers transpires,

England in the early 20th century, when the term

a recurrent and highly symbolic image in the

Bronze Revirado retains all of its human character,

world of popular art: the church bell. In the

revealing as suggested by Crivelli Visconti, “a sort

these pieces, he gathers a series of documents

history of the Bienal Naïfs do Brasil, there have

of pagan trance […] which rips the stasis and the

relating to various commercial transactions

been countless artworks in which church bells

silence, to install the ecstasy”.

between Brazil and England and arranges them

figure in scenes of public squares or festivities,

In this case it is we who glimpse in the

“globalization” was still unheard of. In one of

on a bidimensional surface, thereby conferring

always perched at the top of the bell towers of

background, through the opening of the bell tower,

materiality to a system based on transatlantic

small churches in small cities and towns. It is

the public square, the regional festivities or the

trade, the accumulation of capital, and the

precisely in Minas Gerais, Lobato’s state of birth,

landscape of the small interior town.

exploitation of slave labor. In the second work,

where some of the most precious churches of

he uses papers from that same period that were

the baroque period are found. It was there that

used to wrap oranges exported from Brazil to

the artist carried out a research into the bells of

RODRIGO MATHEUS

England. These oranges were wrapped one by one

different cities, many of them deactivated today,

With a production that transits through different

in a delicate paper which bore the inscription of

an investigation that resulted in a series of works

media, in his art Rodrigo Matheus does not

its origin and the company’s logo. Here, Matheus

211


brings these papers back to their country of origin,

closer or farther away from the camera that

from one generation to the next down through

using them to construct a delicate bidimensional

records it, this unusual assemblage of boat-

the centuries. In their obsolescence in relation

wall piece in which they are used as small

and-trees floats adrift, without a course or any

to the society of mass production, many of these

decorative pennants of regional festivals and

intention of reaching land, since it constitutes,

techniques are currently nearly extinct, thus also

adorned with fishhooks and bait that recall the

in itself, a territory. We follow its drifting course

turning Auad’s work into an extensive research

large rivers in the interior of the state of São

without any expectation for the closing of a

and negotiation with each artisan involved.

Paulo. Through these material evidences, Matheus

narrative, allowing ourselves to be carried along

For Além da Vanguarda, the artist produced a

evokes a history of commercial transactions

by the duration of the event itself. Our interest is

set of five objects that are part of his Sleep Walkers

supported by slave labor and submitted to a

engaged only by the changes in framing caused

series, presented for the first time at MuHKA, in

systematic erasure, but whose echoes are still felt

by the relative distance or nearness of the

Antwerp, Belgium, in 2009–10. These objects are

in the social fabric of contemporary Brazil.

boat. Nevertheless, it continues floating as an

carefully produced using laces from different

enigmatic offering, full of a symbolism that we

origins, which the artist acquires already made,

are not able to decipher.

but which are then transformed into three-

THIAGO ROCHA PITTA

Scovino calls attention to the economy of

dimensional elements in the form of fruits or

In his essay entitled “Sobre como domesticar o

images in the work of Rocha Pitta, and to how

vegetables. Throughout this painstaking process,

imprevisível”, published on the occasion of the

his suppression of the excess of external “noises”

which requires extreme precision and ability, a

show Notas de um desabamento, by Thiago Rocha

allows for the appearance and manifestation of

Portuguese lace, for example, with its coarser

Pitta, held in 2010 at the Cavalariças da Escola

an interior, intimist story. In the case of Herança,

weave is cut and mended together, thread by

de Artes Visuais do Parque Lage, in Rio de Janeiro,

what he adds to the traditional representations of

thread, with an elegant piece of English lace, or

Felipe Scovino suggests that “Pitta’s work is always

landscape is only the temporal datum, which asks

Brazilian lace, in such a way that the transition

manifested as a landscape painting, regardless

for a moment of contemplation in the unfolding of

from the one to the other is nearly imperceptible.

of the support he works with or the sense of

the present time.

Upon careful observation, however, there are

invention he constructs”. And he goes on to state

perceptible nuances in the passage from one

that it is “a landscape that changes at the same

weave to the next, revealing the small but

time that this painting asks itself if it continues

TONICO LEMOS AUAD

significant differences that evidence not only

being painting or enlarges the artist’s research into

In his works, Tonico Lemos Auad begins with

the passage of a given know-how through the

other fields of poetic production”. The possibility

mundane materials to construct objects,

different cultures, but also the adaptations that

of mobilizing the theme of landscape paintings

sculptures and installations that generally depend

this technique undergoes in each country over

in the field of contemporary art and within the

on a delicate balance to exist. Within common and

the years. These fruits and vegetables made of

context of the exhibition Além da Vanguarda is one

insignificant contexts the artist carries out silent

lace are hung like light fixtures from the ceiling

of the interests of this curatorship, as it has to do

displacements that potentize the latent symbolic

and lit up from the inside, allowing us to observe

with a genre that has occurred throughout the

value of shapes and elements that normally

all of the details on their surfaces. Characterized

history of the Bienal Naïfs do Brasil.

go by unperceived, making them precious and

by the imprecision of manual production,

permanent. These operations invariably involve

however, they present an organic aspect, seeming

[Heritage], where we see a small wooden boat that

a specific handicraft skill that is characteristic

to sprout from the ceiling like exotic plants that

forms a nearly surrealist image, carrying a pair

of certain regions or cultures and associated

result from the uncommon crossing between

of trees in the midst of the high seas. Sometimes

to traditional materials and techniques passed

tropical and European seeds.

Here, we present Rocha Pitta’s video Herança

212


Biographies Beyond the Avant-Garde

the flaws in perception, the limits of scientific

and participated in the 30th Bienal de São Paulo.

knowledge, and others, producing a multifaceted

Besides his artistic practice, Daniel Steegmann

oeuvre that seeks to activate the viewer’s vision

Mangrané organizes the experimental art school

and disconcert his/her understanding. Since the

Universidade de Verão, promoted by Capacete, a

1990s, she has been working with activities as

multidisciplinary platform of artist’s residencies

an art critic, curator and docent in parallel with

and educational programs headquartered in Rio

her artistic practice. She participated in the 28th

de Janeiro.

Bienal de São Paulo (2008) and the Bienal del Alexandre da Cunha

Fin del Mundo de Ushiaia, Argentina (2007). Her

[Rio de Janeiro, 1969. Lives and works in London]

work has been featured in shows held at various

Federico Herrero

Alexandre da Cunha normally uses common

international institutions, such as musac, in León,

[San José, 1978. Lives and works in San José]

objects from various origins, such as beach

Spain; LentSpace, in New York, usa; the Museu

Federico Herrero’s work is particularly influenced

towels, car tires or household utensils to create

de Arte Moderna Aloísio Magalhães, in Recife,

by the cultural and political traditions as well

his sculptures and installations. A significant

Brazil; and Kunstverein Munique, in Germany. She

as the fecund nature of the country of his birth,

part of his recent works make direct reference

has participated in various artists-in-residence

Costa Rica. His works with intense coloring

to the geometric-constructive legacy of Brazilian

programs, including at Air Antwerp, Belgium; hiap,

oscillate between figuration and abstraction,

modernism. Even though these works are

Finland; and iaspis, Sweden.

challenging the traditional categories of painting.

stylistically close to this production, however,

Besides paintings on canvas, Herrero generally

they fundamentally retain the same principle

produces site-specific works that blend various

of the “collage” of various ready-mades that

Daniel Steegmann Mangrané

sources of inspiration such as street signs, graffiti,

characterizes his work as a whole. Alexandre da

[Barcelona, 1977. Lives and works in Rio de

tropical plants, the colorful houses in rural areas,

Cunha has participated in various international

Janeiro]

and the shapes and icons of the cityscape. In 2001,

exhibitions, including the Venice Biennale (2003),

Daniel Steegmann Mangrané’s work extends

Herrero received the prize of Best Young Artist at

the San Juan Triennial (2009) and the group show

over various media and oscillates between subtle

the Venice Biennale. He has held solo shows in

Panamericana (2010). This year, he is taking

and poetic experimentations, simultaneously

countless international museums in countries

part in the 30th Bienal de São Paulo. His work is

characterized by a certain rawness in their making.

such as Germany, Italy, Japan and Colombia.

featured in the collection of important public

Although his research is mainly of a conceptual

His work figures in the collections of Mudam,

and private institutions such as those of the

nature, his artworks demonstrate a strong

in Luxembourg, and the Museu Santander, in

Instituto Inhotim (Brazil) and Tate Modern (United

concern with the concrete manifestation of the

Spain, as well as the 21st-Century Museum of

Kingdom).

objects and with the phenomenological effects of

Contemporary Art and the Hara Museum of

the relation between habitat and language. Born

Contemporary Art, both in Japan.

in Barcelona, the artist has been living in Brazil Carla Zaccagnini

since 2004. In 2011, he held the solo show Four

[Buenos Aires, 1972. Lives and works in São Paulo]

Walls, at Galeria Mendes Wood, in São Paulo, and

Felipe Arturo

In her work, Carla Zaccagnini develops themes

Duna econômica/maquete sin calidad, at Halfhouse, in

[Bogotá, 1979. Lives and works in Bogotá]

such as the impossibility of translation, the

Barcelona. In 2012, he was awarded a fellowship at

With a degree in architecture from the

partiality of the perspective of the museum,

Junge Akademie at Akademie der Kunste, in Berlin,

Universidad de Los Andes, in Bogotá, Felipe Arturo

213


obtained his master’s degree from Columbia

grant from the Instituto de Cultura Hispânica,

participating in exhibitions held in Norway and

University, New York. He worked for three years

making trips around Europe and participating

Uruguay. His work figures in the collections of

with Colombian artist Doris Salcedo, in Bogotá,

in exhibitions in various cities of Spain. In 1965,

the Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte,

and for one year with Chilean artist Alfredo

back in Brazil, he moved to Rio de Janeiro where

and the Centro Cultural Banco do Nordeste,

Jaar, in New York. His work is focused on the

he developed his work in dialogue with the

Fortaleza.

intersections between urbanism, architecture, the

generation of young artists linked to mam-rj. From

history of cities and art, constructing temporary

then on, his work began to develop along different

structures that can be discovered through the

conceptual lines in a long path that includes

Rodrigo Matheus

time-based image or spontaneous happenings

works in different media, such as musical scores

[São Paulo, 1974. Lives and works in London]

and encounters within the space. Besides his

of random music, artist’s books, installations,

Linking together various media of different

artistic activities, Felipe Arturo is an associate

objects, records of performances, as well as his

natures — mobile and static, constructed

professor with the Department of Visual Arts of

poetic production contained in ten published

and found — Rodrigo Matheus’s work is

the Universidad de Bogotá Jorge Tadeo Lozano.

books.

full of elements of design, architecture and

His work has been featured in solo and group

landscape. Stripping his work of evidences

shows in various countries, including Spain, the

of manual practice, the artist’s approach is

United States, France and Portugal, and figures

Pablo Lobato

above all to modify and recombine materials,

in collections such as that of Patricia Phelps de

[Bom Despacho, 1976. Lives and works in Belo

lending them other aspects and establishing

Cisneros, New York and Caracas; Colección Jumex,

Horizonte]

new relations among objects. The result is a

Mexico; Colección ArtNexus, Colombia, and

Having begun his career in the field of cinema,

fertile production where elements from daily

others.

in recent years Pablo Lobato has gravitated

life or lacking intrinsic value are presented in a

to the visual arts circuit. With continuing

precise and elegant way, gaining new symbolic

interest for audiovisual production, his work is

meanings. Matheus has held solo shows at

Montez Magno

currently developed in an indeterminate zone

various institutions such as the Museu de Arte da

[Timbaúba, 1934. Lives and works in Recife]

between these disciplines. Lobato was one of the

Pampulha, Belo Horizonte (Centurium, 2004), the

Montez Magno began his artistic career in Recife,

creators of Teia — Centro de Pesquisa Audiovisual,

Centro Cultural Maria Antônia, São Paulo (A Volta

in 1954, when he entered the Escola de Belas

headquartered in Belo Horizonte since 2002.

da Arquitetura, 2005), Galeria Fortes Vilaça, in São

Artes and began to study painting and drawing.

In 2011, he was conferred the Prêmio Sergio

Paulo (O mundo em que vivemos, 2008, and Handle

Still in that decade, he produced his first abstract

Motta de Arte e Tecnologia and was selected

with Care, 2010), and Galeria Silvia Cintra & Box 4,

works, held solo shows and participated in group

for the Programa Rumos Artes Visuais. He is

in Rio de Janeiro (2006, 2010). Recent group shows

exhibitions in Pernambuco, Rio de Janeiro and São

currently working on the completion of the film

he has participated in include Mitologias, at the

Paulo. At the beginning of the 1960s, he began to

Ventos de Valls, which derives from an action

Cite Internationale des Arts, Paris (2011), the 32nd

reside in São Paulo while continuing to show his

realized in Spain in 2009, financed by the John

Panorama da Arte Brasileira, at mam de São Paulo

work frequently in various cities around Brazil. In

Simon Guggenheim Foundation of New York.

(2011), and The Spiral and the Square, at Bonniers

that period, he began to explore freer shapes in

In 2011, he took part in the show Panorama da

Konsthall, in Stockholm (2011).

his painting, with series that oscillate between a

Arte Brasileira, at mam-sp, and the 17th Festival

more expressive language or an organic geometry.

Internacional de Arte Contemporânea sesc-

He spent the year 1964 in Madrid, Spain, on a

Videobrasil, at sesc Belenzinho, São Paulo, also

214


Thiago Rocha Pitta

and the supernatural are part of his imaginary

[Tiradentes, 1980. Lives and works in São Paulo]

repertoire. But beyond the playful aspects, his

Thiago Rocha Pitta was born in the historical

work also evokes a darker and more mysterious

city of Tiradentes and moved to Petrópolis

side of existence, since the awareness of death

during his teenage years, remaining there until

and the brevity of life are always present. Auad

1999, when he moved to Rio de Janeiro to study

has exhibited widely on the international scene,

visual arts at ufrj and take open courses at eav/

with works that investigate materiality, sensuality,

Parque Lage. He began his career as an artist in

processes and relations between the public and

2001, when he began to hold interventions in the

the space of art. In 2007, he held a solo show

open air. Since the outset, his work has borne a

at Aspen Art Museum, in Colorado, which also

very close relationship with nature and matter,

published a monograph about his work. In 2011,

always articulated with ideas of temporality and

his work was shown at the Centro Cultural São

transformation. Whether working with pigments,

Paulo, at the Folkestone Triennial, in England,

earth, fire or water, his drawings, paintings, videos

and at the group exhibition Mitologias, at the Cité

and installations use images or natural processes

Internationale des Arts, in Paris.

that evoke existential questions at the same time that they carry out formal experiments. The collective exhibitions he has participated in most notably include A Time Frame, PS1-moma, New York (2006), the Singapore Biennale (2006), and Nova Arte Nova, ccbb-rj (2008). In 2010, he held a solo show at the Cavalariças da eav/Parque Lage and in 2012 he participated in the 30th Bienal de São Paulo.

Tonico Lemos Auad [Belém do Pará, 1968. Lives and works in London] Tonico Lemos Auad completed his master’s in visual arts at Goldsmiths College, in London (2000), the city where he has continued to live and work. The artist sometimes ignores properties intrinsic to the materials he uses in order to create lyrical and nonpermanent forms, using a vast sampling of materials ranging from the ephemeral and the everyday to the precious and the permanent. Notions of luck, randomness

215


216


textos en espaĂąol 217


Bienal Naïfs de brasil 2012 Más Allá de la Vanguardia

comunes para los habitantes de las grandes ciudades.

barómetros, etc. Que la importancia de una cosa hay que medir por el encantamiento que nos produce en nosotros. *

El reconocimiento de la importancia de los

Manoel de Barros

rasgos de identidad cultural de un pueblo es una de las marcas de la acción del sesc. Esta exposición a prueba la valoración de elementos

El sentido de encantamiento que Manoel de

que no se limitan a la vida cotidiana urbana.

Barros menciona en su poesía, cuando se

Cabe señalar que esta disposición va unida a un

transpone al campo de la apreciación artística,

DESARROLLO Y CULTURA BAJO UNA PERSPECTIVA PLURAL

pensamiento valioso a esta entidad, por lo que la

inspira una medida crítica para evaluar la calidad

comprensión de los fenómenos contemporáneos

de nuestras impresiones ante la obra de arte.

Abram Szajman

es más apropiada cuando contempla de forma

Esta medida requiere un tiempo dedicado a la

Presidente del Consejo Regional

integral múltiples facetas del desarrollo humano.

contemplación, momento esencial para que la

del sesc São Paulo

Al final, la visión de mundo de los que trabajan

obra pueda existir más allá de sus límites y para

en áreas de contacto directo con la sociedad, tales

que consiga refugio en nuestra memoria sensible,

El programa de centros culturales y deportivos

como el comercio, la prestación de servicios y el

por encantamiento o apatía, dejando un rastro de

del sesc refleja el compromiso de los sectores

turismo, debe caracterizarse por la capacidad

esta experiencia.

empresariales de comercio, prestación de

de darse cuenta de la interdependencia entre

servicios y turismo con el bienestar y la calidad

rural y urbano, el interior y la capital, las

los campos de colores, formas inusuales,

de vida de los trabajadores en estos sectores, de

ciudades más grandes y las más chicas, así

diferentes ángulos, paletas que coloren nuestra

sus dependientes y de la comunidad. Las acciones

como la responsabilidad de garantizar un trato

vida cotidiana y nos hacen cómplices de un

en varias áreas, que van desde los deportes al

equilibrado de las empresas de mayor o menor

imaginario antes reservado al universo de

turismo, desde la alimentación a la expresión

amplitud, sosteniendo las iniciativas locales, los

aquellos que conciben los modos de expresión,

artística, desde la cultura digital a la educación

símbolos de un crecimiento sustentable en cada

que simbólicamente representan maneras de ver

para la sustentabilidad, tienen como meta central

región. En este sentido, la Bienal Naifs de Brasil

e interpretar el mundo.

el uso eficiente y responsable de los recursos

revela la atención constante que el sesc dedica

proporcionados por sus mantenedores en favor de

a la concepción plural de desarrollo y cultura,

de una percepción sofisticada de su cultura

su público prioritario.

siempre pensando en estas dos dimensiones de

y transforma el espacio en blanco de la tela

manera interconectada.

en representaciones de las matrices de sus

Dentro de esta perspectiva, la realización de

A través de la mirada del artista, invadimos

El artista naif presenta relatos originarios

la 11ª Bienal Naifs de Brasil en el sesc Piracicaba

creencias, fiestas populares, escenas cotidianas

sigue con uno de los eventos más importantes

y las variables temáticas de las que se apropia

en el enfoque entre los lenguajes del arte y de

este arte. Registra su visión y poética acerca

la comunidad. Esta importancia se deriva no

Una medida de encantamiento

de las tradiciones y las contradicciones y de

sólo de la longevidad de la exposición, sino que

Danilo Santos de Miranda

los territorios que transitan entre lo rural y la

sobre todo del tipo de relación que ha estimulado,

Director Regional del sesc São Paulo

adquisición de lo urbano, debido a los cambios sociales y los contornos geográficos de la zona

a través del tiempo, entre artistas, obras y espectadores, pautada por valores y significados que contrastan como a los que se han vuelto

218

“...que la importancia de una cosa no se puede medir con una cinta métrica o con balanzas o

donde se vive. La riqueza de esta producción, y su aparente


simplicidad formal, mantiene viva sus

cuatro ediciones, con el universo de los artistas

MÁS ALLÁ DE LA VANGUARDIA

tradiciones expresivas. Estas características

contemporáneos.

Kiki Mazzucchelli

hacen del tema del arte naif sujeto de interés de

En su décima primera edición, la Bienal Naifs de

Curadora

algunos artistas contemporáneos, colaborando

Brasil busca mejorar el diálogo y el acercamiento

para diversificar el panorama actual, con la

entre la producción de origen popular y el arte

introducción

fusión o invasión de territorios consagrados del

contemporáneo. Desde esta perspectiva, el diseño

Desde comienzos de la década de 2000, la

que hacer artístico.

curatorial concebido por Kiki Mazzucchelli, y la

Bienal Naifs de Brasil presenta, en paralelo a

expografía de la muestra, ejecutada por Ana Paula

las obras seleccionadas por el jurado de la

de Brasil llega a su décima primera edición, ha

Pontes, actúan en consonancia, presentando un

sala, las llamadas de “Salas Especiales”, unas

llegado la hora de mirar hacia el pasado con el

cambio significativo, por lo que permite que se

exposiciones temáticas de menor escala que

fin de ampliar la percepción del camino recorrido

rompan y coexistan en el mismo entorno a los

la Bienal, que reúnen obras seleccionadas por

en su desarrollo a lo largo de trayecto, para

límites del espacio físico entre los premiados, los

un comisario artístico nombrado por el sesc.

actualizar el contexto de su realización y orientar

seleccionados y participantes de la sala especial.

Aunque siempre busquen un diálogo con la

las acciones futuras.

Esta desestructura de los compartimentos físicos

producción naif, en torno al cual se estructura

establece que las obras presentadas se compartan

este evento, se llevaban a cabo las muestras de

una exposición de arte naif formaba parte

con el público de una manera sin precedentes en

las “Salas Especiales” tradicionalmente a parte

del proyecto Escenas de la Cultura “caipira”, que

la historia de la bienal.

del grupo principal, literalmente, en una sala

En el mismo momento que la Bienal Naifs

La primera iniciativa del sesc en presentar

tuvo lugar entre 1986 y 1988. Posteriormente,

Al abrigar obras de concepción popular que

aislada. Precisamente, esta separación física entre

la exposición se ha mantenido de forma

se oponen o dialogan con las manifestaciones

las dos muestras se utilizó para delimitar sus

independiente, y en 1991, se hizo más visible.

contemporáneas, el sesc reafirma los criterios

propios territorios, lo que permite que la lectura

Desde 1992, su realización se ha convertido en

de pluralidad y democratización que orientan

de la propuesta curatorial no se confunda con la

bienal y fue nombrada como Muestra Internacional

sus acciones socioculturales, un estímulo para la

selección del jurado, manteniendo así su cohesión

de Arte Ingenua y Primitiva. Este año, la muestra

reconstrucción de relaciones e intersecciones en

e integridad. Esto era por lo general un punto

recibió el premio al Mejor Evento de Artes

el ámbito de las artes.

importante, ya que muchas de las curadurías

Visuales del Interior del Estado, otorgado por la

Frente a las obras de la décima primera Bienal

pasadas incluían obras de fuerte afinidad estética

Naifs de Brasil, volvemos al poeta Manoel de

con las obras de los artistas naifs, lo que podría

A partir de 2004, la curaduría de la bienal

Barros, para que así sea el encantamiento que

sugerir posibles vínculos entre las obras y los

se la deben plantear los críticos convocados,

se produce en nosotros la medida para nuevos

significados no eran necesariamente los deseados

dando paso a un formato que proporcionó un

encuentros con el arte, lo que nos conmueve de

por los curadores.

cambio significativo en su diseño, añadiendo

forma variable en intensidad, en un proceso que

una sala especial y abrigando obras de artistas

no se agota nunca, por ser parte de la experiencia

celebra su 11ª edición y los 20 años de existencia,

contemporáneos. Esta propuesta ha permitido

y del desarrollo humano.

la propuesta del sesc es buscar una relación

apca Asociación Paulista de Críticos de Arte.

En el 2012, cuando la Bienal Naifs de Brasil

diferentes enfoques, relaciones y lecturas sobre

más estrecha entre la producción de arte naif

la producción de arte naif y ha estimulado el

y la contemporánea. A partir de este enfoque

diálogo acerca de esta expresión artística en el contexto actual. Por lo tanto, esta producción con inspiración popular ha intervenido, en las últimas

1 Poema "Sobre importâncias", Manoel de Barros. In

de acercamiento, el primer movimiento de la

Memórias inventadas: a segunda infância, editorial

curaduría fue el de abolir la separación física

Planeta, São Paulo, 2006.

entre las obras del espacio de exposiciones y las

219


de la “Sala Especial”. Con este acto, la intención es

la Bienal Naifs de Brasil, y es también el tema del

(1) a menudo tienen lugar fuera de los grandes

romper la rigidez artificial de las categorías que

texto de Edna Matosinho Pontes — quien formó

centros urbanos; (2) tienen lugar a parte del

abarcan estos dos géneros artísticos, asumiendo

parte del jurado de la Bienal de 2012 — el cual se

conocimiento erudito del arte occidental y

que su coexistencia en el mismo ambiente va

publica en este catálogo. En su texto, la autora

de las vanguardias europeas del siglo xx; (3)

a contribuir a una experiencia más libre de las

llama la atención sobre el juicio de valor negativo

tienen algún tipo de conexión profunda con las

obras por parte del público y a una vivencia

incrustado en algunos términos frecuentes, como

necesidades inmediatas de una comunidad en

menos prescrita por los recortes curatoriales que privilegian el método tradicional de categorización del arte. También vale subrayar

“primitivo”, o incluso naif (ingenuo), y comenta que en la actualidad se suele utilizar el término

particular, sean estas de naturaleza religiosa, mítico, comercial, decorativa, práctica, etc.,

“Arte Popular” como una categoría más apropiada

teniendo así un carácter más colectivo. Aquí

el empeño de eliminar posibles distinciones

para cubrir la diversidad creativa de las prácticas

se incluirían, por ejemplo, el arte indígena, la

jerárquicas entre la muestra seleccionada por

como las que son objeto de esta Bienal. Marta

artesanía popular en el noreste, los folclores

el jurado y la muestra de la “Sala Especial”. Al

Mestre, también del jurado de esta cuestión,

regionales, el arte africano, entre otros. Asimismo,

extinguir la existencia física de esta última, la

propone, a su vez, un cuestionamiento expandido

cabe decir que no lo propongo como una

intención es que también se extingue con todas

acerca del mismo problema, emplazándolo dentro

categoría completamente diferente de lo que

las asociaciones relacionadas con un supuesto

de un panorama mundial e histórico. En segundo

llamamos arte contemporáneo. De hecho, es

valor simbólico más alto de las obras que

lugar, cuestiona el papel de los comisarios de

común que las obras de arte van más allá de

componen la curaduría invitada. Estas obras, que

arte en la difusión de lo que llama de "arte

una categoría o que no se encajen en ninguna, y

se comercian en el mercado contemporáneo,

espontáneo", señalando algunas paradojas

los numerosos ejemplos incluyen, entre otros, la

invariablemente poseen un valor de mercado más

teóricas e interpretativas que, en última instancia,

participación de Hélio Melo en la 27ª Bienal de

alto y transitan en el circuito glamuroso de las

refuerzan su carácter subordinado en relación

São Paulo, comisariada por Lisette Lagnado, la

grandes ferias de arte y bienales internacionales.

al arte moderno y contemporáneo. Así que, en

apropiación de elementos de la “civilización del

Aquí, sin embargo, se infiltran en obsequioso en

vista de la amplitud de estos dos textos y la

nordeste” en la arquitectura de Lina Bo Bardi

un territorio que tradicionalmente pertenece

profundidad con que tratan el problema de la

o la producción de los internos de Engenho de

al naif, discretamente señalando o enfatizando

terminología asociada a la producción no erudita,

Dentro. En el caso de Más Allá de la Vanguardia,

ciertos aspectos comunes a las dos producciones

no me extenderé sobre el tema en este texto

se trata de crear una situación propicia para la

o para producir significados que sólo emergen en

breve de presentación.

desestabilización misma de estas categorías. La

su relación con el naif.

Sin embargo, para fines relacionados con la

idea es que, por una parte, la proximidad física

propuesta curatorial de Más Allá de la Vanguardia,

entre “populares” y contemporáneos va a permitir

el naif, o cualquier otra cosa que esté fuera

se debe tener en cuenta que propongo aquí una

que se dé una serie de fricciones productivas en

Pero es curioso observar, sin embargo, como el

comprensión más amplia de lo que, como sugiere

el espacio de exposición a partir de los propios

problema de la percepción diferenciada acerca

Matosinho Pontes, sería más apropiadamente

contenidos estéticos de las obras expuestas y,

del valor de estas dos producciones también se

designado como "arte popular". Sin los

por otra, provocará un cuestionamiento acerca

refleja en la terminología que se emplea para

conocimientos específicos o profundizados de

de los propios límites que se imponen a las

designarlas. La cuestión del uso inadecuado de

la amplia diversidad de prácticas abrazadas

diferentes producciones artísticas, los discursos

la palabra naif referente a una producción no

por este término, he optado por una definición

que producen, los circuitos en los que transitan y

erudita y no institucionalizada ya se ha tratado

más o menos suelta en la que, en mi opinión,

el valor asignado a ellos.

en diversas ocasiones en ediciones anteriores de

se incluyen todas las prácticas artísticas que:

220


bienal naifs de brasil y más allá de la vanguardia

disipa y colapsa. Se trata, por supuesto, de

arte que se lleva a cabo fuera del ámbito de la

una propuesta experimental que por su propia

tradición de las vanguardias europeas.

Es evidente que el interés y foco de mayor

naturaleza y por el calendario de ejecución

atención en este evento como un todo, en lo que

de la Bienal, no ha podido proceder desde un

seleccionadas aquí tienen algún tipo de relación

respecta a su tradición, alcance y público recae

proyecto completamente cerrado, debido a

específica con alguna de estas manifestaciones,

sobre la producción naif, para la propagación de

que la selección de obras que comprenden

sea en la manera en que se apropian de imágenes

la que se ha consolidado en la última década

el segmento de la curaduría se llevó a cabo

y temas recurrentes en las pinturas naifs (las

como una de las plataformas nacionales más

en paralelo a la selección del jurado, en la

campanas y la religión, en el caso de Pablo

importantes. Así que, la curaduría de obras

que, desafortunadamente, no pudo participar.

Lobato), o en la reinterpretación de un género

reunidas bajo el título Más Allá de la Vanguardia,

Trabajamos, por tanto, con un elemento sorpresa,

tradicional da pintura naif (el paisaje, en el

aunque con énfasis en la dicha producción

y dejamos para la etapa de montaje algunas

caso de Carla Zaccagnini y Thiago Rocha Pitta)

contemporánea, no trata de tomar la posición

decisiones con respecto a la colocación de las

o más bien en la apropiación de las técnicas

central que ocupa aquí el arte naif, sino que

obras en el espacio expositivo.

populares (bordados, en Alexandre da Cunha,

infiltrarse casi discretamente en el medio de la

De hecho, todas las obras contemporáneas

Forman parte de la selección del jurado en

el encaje, Tonico Lemos Auad, las banderolas

muestra principal de las obras seleccionadas

esta edición de la Bienal 70 obras de 55 artistas,

de las fiestas populares en Rodrigo Matheus).

por el jurado. Sin embargo, aun consciente de su

la mayoría de las cuales, dimensiones. En sus

Montez Magno, a su vez, estará representado

lugar secundario, también es una tarea ambiciosa,

textos correspondientes en este catálogo, los

con obras de tres series diferentes, producidas

ya que la condición misma de posibilidad de

jurados Juliana Braga y Paulo Klein — quien ha

en los años 1970 y 1990, en las que aborda el

la exposición Más Allá de la Vanguardia es su

sido curador de la muestra en 2004 — hablan de

legado geométrico del arte popular. Se trata

existencia en relación a las obras naifs.

unas cuestiones y desafíos con los que se han

de una muestra pequeña, pero valiosa, de la

enfrentado durante el proceso de selección en

obra de este artista de importancia histórica

otra obra del segmento principal, sino que pasa

2012. Según sus relatos, el jurado trató de reunir

cuya producción experimental e innovadora ha

a incorporar todas las obras que componen la

obras que fueran la expresión del aspecto vivo y

desarrollado desde finales de la década de 1950.

Bienal Naifs de Brasil. Así que se convierte en una

pulsante de la producción popular, por lo que se

Además, por primera vez en la historia de la

especie de parásito de gran tamaño que crea

evitó aquellas que intentan reproducir un estilo

Bienal Naifs de Brasil, contaremos con la presencia

a la Bienal, a la vez, una exposición con otra

consagrado. La selección de la curaduría, a su vez,

de tres artistas extranjeros, cuya participación

propuesta completamente distinta. Es decir,

incluye 21 obras de 10 artistas, dos de las cuales

contribuya a ampliar el debate sobre la relación

ambas exposiciones se suceden en el mismo

han sido comisionadas precisamente para esta

entre lo contemporáneo y lo popular más allá

período y en el mismo espacio físico, a pesar de

exposición, y una tercera tiene lugar fuera del

de regionalismos y nacionalismos. Uno de ellos,

que las premisas de las que parte cada una de

espacio de exposiciones del sesc Piracicaba. En

Daniel Steegmann Mangrané, catalán radicado en

ellas las hagan proyectos totalmente diferentes.

la elección de las obras, tratamos de encontrar

Rio de Janeiro, mira hacia la cultura indígena de

La exposición de obras seleccionadas por el

trabajos capaces de crear situaciones que

Brasil y su producción de patrones geométricos.

jurado existe como tal, independientemente

fomenten el diálogo y las relaciones entre los

Federico Herrero, de Costa Rica, trabaja

de la curaduría de Más Allá de la Vanguardia,

segmentos naif y contemporáneo, basándose

principalmente con la pintura, explorando la

mientras que la segunda depende totalmente

sobre todo por la relación de estas obras con una

tradición latinoamericana de las pinturas murales

del conjunto de relaciones que establece

producción o con el lenguaje popular, entendidos

con el fin de popularizar el arte contemporáneo.

con la primera de existir. Aislada de esta, se

en sentido amplio, como toda la producción de

Es con gran alegría que aseguramos su

En este sentido, no sólo se apropia de una u

221


participación en esta exposición, en la que llevará

muros falsos y propone una ocupación del edificio

amplia y se ha tratado en muchos otros textos

a cabo una pintura en el edificio del sesc, en sitio

más ligera, los paneles utilizan un material que

escritos para bienales anteriores. El arte “ingenuo”,

(o sitios) que se determinará durante el montaje.

evoca a la vez cierta rugosidad (placa de madera

Igualmente gratificante ha sido poder contar con

en bruto, del tamaño que viene de la fábrica)

la participación del colombiano Felipe Arturo, que

y aspecto industrial (ya que es un material

desde hace algunos años viene desarrollando

industrializado). De este modo, llegamos a un

discusión que se implica repetidamente suele

un trabajo de arquitecturas temporales en las

diseño arquitectónico que está estrechamente

girar en torno a si es conveniente o no designar

que incorpora técnicas de construcción de los

alineado con la propuesta curatorial. El diseño

así esta bienal tan importante por su singularidad,

vendedores ambulantes de diferentes ciudades.

gráfico lo ha desarrollado Carla Caffé junto al

cuyo principal objetivo es el de hacer espacio para

Arturo va a hacer una pequeña residencia en

equipo del sesc y busca, igualmente, reflejar las

divulgar las obras de artistas no eruditos.

la ciudad de São Paulo, donde buscará a los

preocupaciones de esta curaduría.

vendedores ambulantes locales para desarrollar

Por último, me gustaría agradecer en gran

“inherente”, “primitivo”, “popular”, por lo general figura entre diversas formas de designación. El término naif se refiere a la ingenuidad. La

Abordó muy bien la cuestión Olívio Tavares de Araújo, cuando ha sido comisario de la sala

un proyecto en el balcón adyacente a la sala de

medida al personal del sesc Piracicaba por

especial de la Bienal Naifs de Brasil en 2008, al

exposiciones del primer piso del edificio del sesc.

el apoyo y entusiasmo en todo el proceso de

decir: “En la práctica, sobre todo por la influencia

Buscando una traducción más exacta de las

diseño y realización de este proyecto. Gracias

en Europa del Este, donde este tipo de arte existe

ideas curatoriales en el espacio de exhibición, la

al compromiso de todos y el trabajo en equipo,

en grandes cantidades; el título naif a menudo se

expografía de la muestra se desarrolló en estrecho

hemos sido capaces de asegurar la valiosa

aplica a artistas menos contundentes... Conocen

diálogo con la arquitecta Ana Paula Pontes,

participación de los artistas y los miembros

distintos procedimientos técnicos eruditos, saben

responsable del proyecto. Hemos optado por una

invitados del jurado y de realizar cada etapa del

muy bien dibujar y mezclar los colores para

arquitectura que no reforzara el carácter “popular”

proceso con el debido cuidado y atención. Juliana

crear degradados agradables en sus paisajes...”.

de las obras naifs, con énfasis en materiales o

Braga y Daniel Hanai han sido especialmente

Es exactamente cuando se toma en cuenta

colores que evocaran el universo, permitiendo así

pacientes y atentos a las demandas de la

esta definición y se enmarca el “naif” dentro de

a las obras expresar sus propios contenidos sin la

curaduría desde el principio, comprendiendo

una perspectiva técnica específica que se debe

necesidad de refuerzo externo. Al mismo tiempo,

la ambición de este proyecto y contribuyendo

cuestionar este nombramiento.

tampoco seguimos la estética del “cubo blanco”

en gran medida a soluciones ingeniosas a los

utilizado tradicionalmente en exposiciones

problemas de naturaleza práctica y conceptual

contemporáneas, en busca de, al contrario,

que han surgido en nuestro recorrido.

No existe propiamente un consenso acerca de la terminología que mejor se aplica. El término “primitivo” suele integrar un juicio de valor

incorporar las características propias del edificio,

negativo que lo deprecia. El término “inherente”,

que no ha sido construido específicamente para

que equivale a espontáneo, aunque en muchos

abrigar exposiciones de arte, presentando una

aspectos puede considerarse como adecuado,

de la Bienal, la arquitecta desarrolló un sistema

UNA REFLEXIÓN SOBRE LA BIENAL NAIFS DE BRASIL

de paneles de exposición confeccionados con

Edna Matosinho de Pontes

placas de madera contrachapada en bruto, sin

Coleccionista, investigadora y galerista

serie de interferencias visuales. Para esta edición

pintura, apoyados por soportes metálicos. Además

poco se lo conoce y utiliza. La tendencia que se observa en la actualidad es utilizar el nombre “arte popular” para describir la producción artística no erudita. Esto no quiere decir que sea la mejor definición, pero es la que especifica con mayor

de preservar la transparencia del espacio de

La terminología que se utiliza para definir este

precisión el tipo de arte a la que nos referimos, por

exposición, por lo que evita la construcción de

tipo de arte presentada en la exposición es

lo que su uso se adoptó como el convencional.

222


La concepción del arte popular como la

del planteamiento, la originalidad, y de igual

hacia el diálogo entre el arte popular y el arte

expresión viva de la creatividad del alma de

modo subrayamos el uso de técnicas y materiales

contemporáneo, comisariada por Jacopo Crivelli

nuestro pueblo y que, por medio de su fantasía,

presentes en esta exposición.

Visconti. Esta exposición puso de manifiesto

reinventa la realidad a su manera, ha orientado

La gran mayoría de las obras enviadas se

que este diálogo es posible y tiene una fluidez

nuestro trabajo como jueces de la Bienal de

compone de pinturas en óleo o acrílico. Grabados

que surge de forma natural. En el texto escrito

2012.

en madera, obras tridimensionales en cerámica

para la exposición, Crivelli Visconti dice “... de

y piedra han sido poco frecuentes, además se

la necesidad de reconstruir la fractura, reciente

un grupo heterogéneo en cuanto a experiencia

observó pocas esculturas en madera, las cuales

e innecesaria, que divide a la práctica artística

profesional, pero que funcionó como un

representan bien en el universo del artista

en mundos apartados, que a su vez deberían

verdadero equipo. La selección de obras se

popular.

abordar y entender una vez más, así, de otra

Fue una gran satisfacción poder trabajar con

llevó a cabo de manera cuidadosa, reflexiva y

La representación de la memoria de un tiempo

manera. De la convicción de que es saludable

democrática. Algunas normas han sido acordadas

que ha pasado es parte de la experiencia de las

y deseable la proximidad de diferentes obras

en la elección de obras a exponer. Tomamos

personas mayores, que han vivido esa época.

y pensamientos, es lo que da forma y define el

en cuenta la experiencia y la formación de los

En esta ocasión, por ejemplo, vimos belleza,

espíritu de una nación, una cultura... en fin, del

artistas. Tratamos de evitar la inclusión de obras

sensibilidad y sinceridad en el trabajo de Maria

deseo de una convivencia más frecuente de un

de artistas que han tenido la influencia de una

Caldeira Bochini, artista de 82 años. En la obra,

intercambio fructífero y constante de ideas...” Son

formación artística específica o cuya obra retrata

notamos la sobriedad nostálgica, la economía de

proposiciones que comparto por completo.

situaciones no acordes con sus condiciones de

colores y la ausencia de detalles superfluos. No

vida. Para ello se analizó también sus biografías.

es de ninguna manera un retrato ablandado y

brasileños en esta 11ª Bienal Naifs de Brasil, hago

adornado innecesariamente.

aquí un pequeño comentario — pensando en

La iniciativa del sesc en valorar y promover este tipo de producción a cada bienal que se

La excepción en cuanto a obra tridimensional

A pesar de la alta representación de los estados

próximas bienales: cuánto sería gratificante

repite desde hace varios años es realmente

es una cabeza impresionante hecha de hierro

en términos de diversidad de técnicas y uso de

encomiable. Son pocas las oportunidades

por Evandro Soares. Demuestra originalidad,

materiales, un presencia geográfica más amplia

que tiene el artista popular de llamar tanta

habilidad, ingenio e incluye el movimiento a

con la inclusión y el aumento de la cantidad de

atención y ganar espacio para mostrar su trabajo.

través de un sencillo mecanismo que hace girar a

obras de estados ricos en producción de arte

Normalmente se excluyen de la exposición del

una hélice. Es un trabajo que sugiere el esfuerzo y

popular, especialmente los del noreste.

circuito del arte — y, por lo tanto, su trabajo suele

la perseverancia en la detallada realización.

subvalorarse. Esta vez se presentaron 536 obras (cada artista

A diferencia de otras ocasiones, donde había un espacio separado para sala especial diseñado

con dos en competencia), en representación

por el comisario, la comisaria Kiki Mazzuccheli

LO INESPERADO EN EL ARTE

de veinte estados de Brasil. Tuvimos una serie

decidió exponer igualmente en el mismo espacio

Marta Mestre

de temas muy comunes en el arte popular:

obras contemporáneas, lado a lado con el arte

Crítica e historiadora de arte

paisajes urbanos y rurales, festivales populares

popular. Esto refleja y refuerza el valor de la

(típicos y religiosos), escenas de la vida cotidiana,

producción de los artistas populares, la marca

Nuestra mirada se transforma mucho más

representaciones de problemas actuales.

registrada de la bienal de Piracicaba.

que el arte. Nuestra perspectiva de las cosas

Buscamos a considerar, además de la maestría

La Galería Pontes, dirigida por mí, promovió

de la realización, la sensibilidad y la sinceridad

en 2009 la exposición Mecánica Inexacta, mirando

se emancipa de manera cerrada y discursiva, y existe como un enmarañado emocional

223


que articula una serie de imágenes y tiempos

nos llega de manera abrumadora, intensa y

circulando con comodidad entre la “alta” y la

perturbadora.

“baja” cultura. El arte espontáneo, es decir, la producción

El caso finlandés tiene contornos épicos, por

Este movimiento condujo a la necesidad de inventar un nombre para el “nuevo” arte: ITE art, “Itse Tehty Elama”, que significa “self made life”,

la sucesión de sus episodios, y por la manera

y establece la idea de que la vida existe por la

visual que se realiza aparte del mundo

como, en menos de treinta años, supo cómo

dimensión estética de cada uno de nosotros.

institucionalizado del arte, tiene un poder cada

llevar una gran visibilidad para un campo hasta

vez más expresivo de empatía y seducción, y

entonces ignorado. Comienza con la historia de

aspectos. Sugiero dos para reflexión en relación

esto es debido al debilitamiento de la rígida

Veli Granö, un artista contemporáneo que lleva

a los contextos de la Bienal Naifs de Brasil, en

distribución de géneros, temas y jerarquías a lo

a cabo una serie de fotografías “Onnela — Trip

Piracicaba.

largo del siglo xx.

to Paradise”, que son retratos de veinte artistas

Un poco por todas partes, y con mayor o menor grado de expresividad, notamos que el “arte espontáneo”, aquel que está siempre donde menos esperamos, donde nadie piensa en ello o pronuncia su nombre, tiene seguidores en todo el

folk y outsider en el contexto de sus mundos idiosincráticos. La serie se expone en 1986, en una

El caso finlandés nos hace pensar en muchos

En primer lugar: ¿Cuál es el significado del nombre “Bienal Naif”? La experiencia del jurado de este año, y la

galería de Helsinki, y produce interés inmediato

consulta de la documentación de ediciones

de múltiples capas de la sociedad.

anteriores, refuerza una vez más que la

El ejemplo de Finlandia está lleno de eventos

producción que llega a Piracicaba proveniente

mundo y lleva a cabo un camino excepcional de

muy fuertes en la creación de una estética de

afirmación, ya sea en Brasil o... en Finlandia.

cuerpo entero con el apoyo del Estado: la apertura

“naif”. Se trata de un término limitado para las

del “Contemporary Folk Art Museum” (en la ciudad

imágenes que están demasiado inquietas, un

de Kaustinen); el liderazgo en el programa europeo

término que no tiene en cuenta sus diversos

En 2006 viajé a Finlandia y tuve la oportunidad de visitar a artistas y producciones del llamado “arte espontáneo”. Fue una experiencia intensa en

“Equal Rights to Creativity — Contemporary Folk

de todo Brasil va más allá del universo del arte

orígenes e improbables procedencias artísticas,

la que he podido darme cuenta de la importancia

Art in Europe”, en colaboración con Hungría, Italia,

como puede ser el caso del arte indígena, el arte

simbólica, cultural, económica y de identidad

Estonia y Francia, al que se asoció una editorial

de los enfermos mentales, el arte realizado en los

que puede tener este campo artístico. Tomar

para publicar ediciones de alta calidad de las

estados alterados de la percepción, por citar unos

conocimiento de la producción brasileña que

obras de los artistas “espontáneos”; la exposición

cuantos ejemplos.

llega ahora a la Bienal de Piracicaba me hace ver

“In Another World” llevada a cabo en el Museo

Incluso podemos hablar de “insuficiente” sobre

que, a pesar de que son países de realidades muy

de Arte Contemporáneo de Helsinki — Kiasma,

el término naif para el universo de los artistas

distintas, hay un rasgo común que da unidad a

una selección de lo mejor del arte espontáneo

que han pasado por las bienales de Piracicaba,

sus producciones visuales.

finlandés, a la par de los artistas históricos de

si recordamos lo que Freud escribe a propósito

las colecciones europeas (Alain Bourbonnais,

de “fetiche”, uno de los elementos que mejor

caracterizar este tipo de producción es muy

Aloïse Corbaz, Madge Gill, Chris Hipkiss, Giovanni

caracteriza la naturaleza de las imágenes de naif.

amplia: arte naif, el arte outsider, art brut, raw art,

Battista Podesta, Henry Darger o Adolf Wölfli); y la

Al introducir el concepto del “fetiche”, Freud1

folk art, arte visionaria, “ambientes visionarios”

condecoración, en el año 2007, de Veli Rönkkönen,

se refiere al hecho de que este forma una imagen

etc., sin embargo, es el mismo orden imaginario

uno de los artistas fotografiados veinte años antes

totalitaria. La imagen del fetiche es una imagen

y de creencia, imágenes que parecen salir de

por Veli Granö, con el “Finland Prize”, premio

un Edén acabado de descubrir, y que están

nacional otorgado por el Ministerio de Cultura,

densamente pobladas de anacronías y obsesiones.

por su trabajo que recibía la atención del curador

souvenirs-écrans”, en Psychopathologie de la vie

Supervivencias de una “historia sin nombre” que

internacional Harald Szeemann.

quotidienne, Payot, París, 2004.

La jerga que utilizan los expertos para

224

1 Sigmund Freud, “Souvenirs d'enfance et


cultural confinada. Por relacionarse mucho más

el potencial para generar un magnífico efecto de

especie de pausa de la mirada. De acuerdo con

a la vida que al arte (como la poesía de Joseph

espejo, que, bajo el velo de la exposición de los

Freud, lo que constituye el fetiche es el momento

Beuys, artista alemán a quien la vida existía por

demás, deja pasar las observaciones acerca de

de la historia donde para la imagen, como si fuera

la dimensión estética de cada uno), garantiza la

nosotros, de nuestra cultura, nuestras nociones

la detención de un fantasma. El fetiche es todavía

longevidad al campo artístico de que se habla.

de arte, nuestros valores y actitudes.

“estanque” o “inanimada”, que se asemeja a una

Un segundo aspecto a considerar: ¿De qué

Un ejemplo claro de este paradigma más

Es por eso que la mirada de asombro del naif

manera el curador puede dar visibilidad al “arte

antropológico que estético fue la exposición Les

a menudo nos parece cristalizada, un eterno

espontáneo”?

Magiciens de la Terre, llevada a cabo en el Centro

un velo, una cortina, un “punto de recalcadura”.

retorno. Como afirma Laymert Garcia dos Santos:

La curaduría es esencial para llevar al campo

Georges Pompidou, en 1989. Se agrupó por primera

codificado de las artes visuales expresiones

vez el arte contemporáneo occidental al arte

del corazón”, y añade que: “el efecto mágico se

características de la vida común, de la vida

proveniente del resto del mundo, y de diversas

produce en el ojo, este cristaliza la imagen”2.

cotidiana, el territorio doméstico, el vacío rural,

categorías. Esta exposición dio sentido a lo que

el mundo indígena, primitivo, de los estados

Hans Belting designaría “arte global”3, que “en su

de las imágenes naif tiene sentido absoluto

alterados de la percepción, entre otros. “Mundos”

nueva expansión, puede cambiar sustancialmente

cuando uno lamenta que el artista “naif” copia

que paulatinamente han venido a formar parte de

el concepto de lo que es el arte contemporáneo y

una fórmula que ha funcionado, y que la repite

las agendas y programaciones de los museos, pero

el arte en general, porque se encuentra en lugares

una y otra vez. Pero esto no es una respuesta a un

que irónicamente, revelan su papel regenerador

que nunca ha estado en la historia del arte y

mercado mientras tanto conquistado, sino que la

en el escenario de la crisis en la historia del arte

donde no hay tradición de museo”4.

naturaleza misma de la imagen naif: es necesario

moderno y contemporáneo occidental.

“el arte naif es el arte de la emoción, un grito

El punto de vista de Freud sobre la naturaleza

el juego de repetición de los elementos para que se produzca el fetiche.

La creciente importancia del “arte no

Por supuesto, en las palabras de Hans Belting, existe un argumento serio sobre el final de “la

autorizado” además refuerza el hecho de que

historia del arte como modelo de nuestra cultura

muchos críticos e historiadores ven en ella

histórica5, y una crítica sobre los lugares de

término “naif” es parcial para la producción

una especie de “burbuja de oxígeno” contra el

enunciación que tradicionalmente han producido

extensiva que llega a Piracicaba y limita la

poder homogeneizador de la globalización, a la

los discursos sobre el arte, y en este caso, sobre el

posibilidad de pensar el futuro de la Bienal.

estandarización de arte, y la su entorno cada vez

‘arte espontáneo’.”

A pesar de que siempre hubo problemas en

más inmovilizado.

Por su propia naturaleza circunscrita, el

encontrar un nombre cómodo para este campo

Sin embargo, esta potencia de regeneración

del arte, desde Jean Dubuffet a Roger Cardinal,

del “arte espontáneo” no se debe explotar en el

los finlandeses “han resuelto” el problema

circuito cerrado que primero ve la modernidad

mediante la invención del término que se

y luego la contemporaneidad, por etapas

menciona más arriba: “ITE arte”, que es más

interpuestas y como lugares inagotables a los

que un label de marketing unido a una política

que accedemos segundo la escafandra que nos conduce a una mayor profundidad. Consideramos que la capacidad regenerativa

2 Laymert Garcia dos Santos, “Regarder autrement”, en Histoires de voir (catálogo de la exposición)

del “arte espontáneo” tiene más que ver con una

Fondation Cartier pour l’art contemporain, París,

función antropológica, que relega una condición

mayo/2012.

estética a un segundo plano. Esta función tiene

Hay que recordar que el optimismo que existe en la actualidad sobre este campo artístico cada

3 “The Global Contemporary Art Worlds After 1989”, la exposición realizada por ZKM | Museum of Contemporary Art (de septiembre 2011 a febrero de 2012) utiliza la fecha de “Les Magiciens de la Terre” como un marco cronológico del concepto “arte global”: http://www.globalartmuseum.de/site/act_ exhibition 4 En http://globalcontemporary.de/en/exhibition 5 Hans Belting, O Fim da História da Arte, Cosac&Naify, p.12.

225


vez más conocido y reconocido ha vivido un régimen de apartheid cultural por muchos años. Como bien recuerda Michel Thévoz, “incluso en el

“descubrió”: el galerista, el jurado, el historiador etc.). Es por eso que estas imágenes son a menudo

descritas, mal etiquetadas, mal fotografiadas, mal

o de Guillaume Pujolle estaban en el purgatorio

utilizadas.

1975, se tuvo la audacia de introducir las obras

sujeto de la enunciación de modo a reconocer

de Adolf Wölfli y Heinrich-Anton Müller — desde

y desarrollar todas las consecuencias de la

sección designada de psicopatológica6. Como dijimos anteriormente, cada vez este apartheid se ha deshecho, sin embargo, todavía quedan algunas paradojas. Finalizo señalizando uno que creo que aún

Aurelino dos Santos

En el segundo caso, la “emancipación” se encuentra en una restitución de los lugares y del

—, eso se dio al ponerlos en aislamiento en una

“Debería haber aprendido a conducir un coche, pero decidí pintar cuadros.”

locos. Y cuando, en la Documenta V de Kassel, en

luego los más innovadores de toda manifestación

de Germana de Monte-Mor

“mal vistas”, y eso porque son mal dichas, mal

museo imaginario de Malraux, las obras de Aloïse

con el subtítulo anónimo e infame de dibujos de

en “Teimosia da Imaginação”,

“igualdad de las inteligencias”. Tal vez por eso algunas personas dicen que

Pintor popular, Salvador BA

El camino que lleva a esta Bienal Naifs de Brasil, en su 11ª edición, comienza en los años 1980 con exposiciones que, con pequeñas variaciones

siempre hay que buscar un trabajo de arte

en el título, llegan a 1992 (en la sexta edición)

espontáneo con su autor al lado, escuchando a su

como “Arte Ingenuo y Primitivo — Muestra

historia.

Internacional”, siempre con base en el sesc

Todo se pasa como si estos artistas, en lugar

Piracicaba, pero a veces se extiende a la agradable

de haber pintado, tallado o bordado, han narrado

ciudad del interior de São Paulo. A continuación,

sus vidas, sus mundos, los lugares de donde

la muestra pasó a tener lugar cada dos años,

Se trata de un paradigma pedagógico que

vienen y de donde todos hemos venido. Tengo

recibiendo el nombre de ‘Bienal Naifs’, una

se aplica a menudo al “arte espontáneo”, y que

mucha curiosidad por conocer la historia que

marca que ya se reconoce tanto en Brasil como

indefinidamente reconstituye la desigualdad que

cuenta Maria Caldeira Bochini en la tela en la

internacionalmente.

pretende suprimir, como si hubiera una igualdad

que tres chicas jugar sin juguetes, o que Carmela

como una meta y una “fractura” social, estética

Pereira me cante una canción que festejan sus

como bienal, ha sido coordinado durante años

y simbólica a eliminar. Es un juego dudoso que

seres carnavalescos. Pero muy especialmente, el

por Antonio do Nascimento, quien extendió

puede significar cosas completamente diferentes:

silencio en tonos pálidos intercambiados entre los

gradualmente su pasión por el segmento,

llevar los artistas a permanecer en su “paraíso

dos hombres de La barca del pescador, del pantanal

articuló e invitó a los artistas y críticos de arte

perdido”, viendo ahí la supervivencia de un

de Jefferson Bastos.

que tenían en estas ocasiones la oportunidad

genera importantes obstáculos.

arte que no se debería dañar, o construir su

Primero como un evento anual, y luego

de mantener contacto con una producción tan

“emancipación” con el fin de una “igualdad de las

específica y desarticulada, a menudo periférica

inteligencias” (J. Rancière).

o provincial, que mezclaba naifs ablandados,

Volver a la frescura creativa

bruts domesticados y primitivistas de varias

acomoda el arte y los artistas espontáneos en

Paulo Klein

generaciones. Contando inicialmente con un

subordinación y no les da ninguna voz. Privados

aica Association Internationale des Critiques D’Art

formato de muestra competitiva, en cierto

de la palabra, este arte y estos artistas hablan

abca Asociación Brasileña de Críticos de Arte

momento pasó a presentar salas especiales de

En el primer caso, existe un discurso que

sólo a través de un intermediario (el que los

artistas invitados. “... la luna reina sobre los artistas que no

6 Michel Thévoz, Art brut, psychose et mediumnité, Éditions de la différence, París, p.10.

226

necesitan academizar.” Carlos Drummond de Andrade

Este formato se prolongó hasta 2004, cuando — invitados a realizar la curaduría de la séptima edición del evento — nos propusimos a mantener


el segmento competitivo, ya que permitía

una fricción emocionante que, al mismo

Grosso y las escenas sagradas/profanas repletas

visibilidad y circulación de los productores

tiempo, alimenta y cuestiona la producción

de barroquismos de Ilma Deolindo, de Nova

de este arte, pero iba acompañado de una

contemporánea.

Horizonte, São Paulo. Pero también son dignos de

muestra reflexiva que promoviera la discusión

El resultado es una esencia concentrada de lo

los incentivos los colores vibrantes capturados

y la interacción con otros sectores de las artes,

que se produce hoy en Brasil en este segmento

en la propia vida cotidiana en “Retrato Íntimo”,

independientemente de sus designaciones — arte

que combina la pintura de relativa ingenuidad

de Enzo Ferrara y el imprevisto obtenido con

popular, mestizo, periférico, no erudito, ingenuo,

(hasta la 'crackolândia' el 'lixão' y el reciclaje

el manejo de chatarra en “Sueño de Volar”, de

inherente, naif, contemporáneo, entre otras

de residuos figuran como temas), el arte de

Evandro Soares, de Goiânia.

posibilidades.

los outsiders que fascinan por su originalidad

Volver a la Bienal Naifs, ocho años más tarde,

Asimismo, el jurado otorgó menciones

(incluyendo sus biografías llenas de historias de

especiales a los artistas que llamaron la atención,

formando parte del jurado para la selección y

humor, sufrimiento o tragedia), además de los

como Carmela Pereira (Piracicaba, SP), residente

premiación nos permite algunas reflexiones.

maestros que técnicamente se han evolucionado

pionera del arte primitivo local, Danbeco (Rio de

En primer lugar, sobre el acto de juzgar una

a lo largo de los años, sin perder la poesía (a

Janeiro, RJ), Joana Baraúna da Silva (São Paulo,

obra de arte bajo la égida de la velocidad de la

menudo rústica) y su propia identidad.

SP), Renata Kelssering (São Paulo, SP), José Altino

comunicación virtual y de la oscilación pendular

Hacemos hincapié en las obras y los artistas

(João Pessoa, PB), Shila Joaquim (São Mateus, ES),

de los gustos, si es relevante o no, buena o mala,

galardonados con el Premio de Adquisición,

apreciable o no. La riqueza y diversidad de

ambas creaciones de Adão Domiciano Pinto,

opiniones, argumentos, convicciones se deberían

artista de Cuiabá, Mato Grosso, ya conocido de

oportunidad de esta reunión con una producción

documentar en video para posteriormente figurar

otras bienales por su pintura incisiva, que regresa

a menudo alejada de los circuitos institucionales,

en la lista de discursos filopoéticos. De todos

con la novedad del uso de acuarela sobre papel

al equipo sesc — siempre eficiente y dedicado —

modos, este ejercicio crítico nos hace posibles

aplicado sobre lámina. La novedad del material

y a nuestros socios del jurado, que mucho nos

los desafíos insondables, que son el corazón de

se adhiere de manera satisfactoria y atractiva a la

animaron y cuestionaron, con conocimiento y

nuestro trabajo.

controvertida cuestión de la esclavitud en el siglo

poesía, en este delicado acto de juzgar.

En este jurado tuvimos que trabajar con algunos supuestos, tales como las dimensiones del espacio de exposición, compartiendo en esta

Abuela Sandra (Ribeirão Preto, SP). Además aprovechamos para agradecer la

xxi, que todavía se encuentra en algunas regiones del país. La pesca es el tema de Jefer (Jefferson Bastos),

edición con artistas contemporáneos nombrados

de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, otro

El sueño de ingenuidad

por la comisaria Kiki Mazzucchelli y con las

premio adquisitivo, en una tela de sencillo

Juliana Braga de Mattos

opciones adquisitivas destinadas a hacer la

primitivismo en la que el paisaje y los personajes

Asistente de Artes Visuales de la Gestión de

colección de la institución más orgánica.

son esquemáticos y los tonos mantienen la

Acción Cultural — sesc São Paulo

Así, el jurado ejerció sus funciones con precisión, no sólo en lo que consideró apropiado

levedad de los dibujos infantiles. Entre los premios de incentivo de relieve están

La experiencia de un jurado artístico, cualquiera

o no en esta especificidad compleja, sino que

la atmósfera psicológica y el predominio de

que sea la manifestación en vista, puede ser

también trató de eliminar la presencia del naif

colores planos de las pinturas de Kaldeira (Maria

doblemente reveladora: si por una parte crea

ablandado, de los ingenuos seducidos en una

Caldeira Bochini), de Catanduva, São Paulo; la

un índice sobre la producción artística en dado

atmósfera falsa o aún réplicas de otros creadores.

simplicidad de las bordaduras de Maria Aparecida

momento y espacio, por otra, termina igualmente

Una tarea desafiadora, que sin embargo permitió

Machado, de Chapada dos Guimarães, Mato

por enunciar las convicciones y los ideales de los

227


evaluadores que los constituyen — no siempre

mundo contemporáneo — como si no fuera una

coinciden al pie de la letra con los artistas.

expresión legítima de este?

Tomar la Bienal Naifs de Brasil, que el sesc São

Estas parecen ser dos cuestiones importantes

Paulo organiza hace más de 22 años, como un

que han impulsado las reflexiones y selecciones

punto de inflexión de las cuestiones enumeradas,

de este comité. Entre las varias obras inscritas,

nos permite algunas reflexiones sobre el

fue posible recoger un interesante retrato

panorama actual del llamado arte naif o ingenuo

de un Brasil que en las últimas décadas ha

en el país. Una primera aproximación revela

experimentado cambios significativos, en el

cierta disonancia entre el término original y su

orden político y económico, de algún modo

connotación en estos días, originada en lo que nos

capturados por las representaciones artísticas

parece el remoto siglo XIX para definir, desde el

observadas. Estos cambios no necesariamente

punto de vista europeo, una serie de producciones

favorecen el ejercicio del arte —, pero sin

ajenas a la formación clásica y académica — en

duda revelan subtextos aún presentes en la

resumen, populares — la expresión naif pasó

imaginación acerca del universo naif, en el que

a avecinarse a un universo de creación en que

resiste una vieja idea de ingenuidad, soñada

cierto estilo forjado se superpone a lo que antes

durante más de un siglo.

ha sido expresión poética. En este sentido, tampoco se puede pretender

La expansión de interpretaciones sobre el arte ingenuo, popular y contemporáneo — y, además,

que el término se enmarque como un reflejo

el acercamiento entre los campos de creación —

purista de producción que escape a los

ha constituido una búsqueda incesante de la

tentáculos de la comunicación de masas o

Bienal Naifs de Brasil, en cada edición, en línea

de los códigos del mercado del arte — viejos

con el compromiso del sesc para asegurar la

conocidos efectos secundarios de nuestro mundo

promoción y el debate sobre la producción

globalizado.

artística en el país. En 2012, el camino absorbió

Pero aquí está el reto: precisamente porque

entornos más claramente definidos. Esperamos

conocemos el poder de nuestras tradiciones

que lo sencillo y lo colorido, lo habitual y lo

artísticas vinculadas a sus raíces populares,

onírico sean inspiradores al público, ya que el

¿cuál es la forma de escapar a la voluntad de

naif así se ha revelado a nosotros, los miembros

encontrarnos, en comisión convocada para una

del comité de selección, a lo largo de un tiempo

tarea tan específica, con una frescura genuina

agradable de investigación y debates.

que representa la esencia de un acto de cierta ambivalencia, que escape a los estereotipos al tiempo que no presente una simple mimesis de los falsos valores de la cultura brasileña? Y, por otra parte, ¿cuál es la forma de despojarnos de la idea preconcebida de que el artista “ingenuo” necesariamente viviría aislado de los códigos del

228


Más Allá de la Vanguardia

señalar aquí que presentar las obras de esta serie

el labor se realice plenamente. En este caso, la

en el contexto de esta exposición, en el interior

artista moviliza un retratista de la policía, que

de São Paulo, cuyo desarrollo en el siglo 19, como

está disponible por un período previamente

sabemos, fue movido por la industria del café,

acordado en algunas zonas de la ciudad donde

hace que adquieran un sentido renovado por

tiene lugar la exposición en la que el trabajo

activar sus relaciones con la Historia.

participa. Aquí, en lugar de traducir en dibujos la

Pero más allá de estas diferentes capas

descripción de los criminales sospechosos, estos

de significado, uno de los elementos más

retratistas producen dibujos de vistas recordadas

ALEXANDRE DA CUNHA

interesantes de esta serie es la confusión de

por aquellos que desean participar en el proyecto.

En su obra, Alexandre da Cunha se apropia de

papales que causa el artista en cuestión, porque

Cada uno de estos dibujos se realiza en un papel

los materiales, objetos y citas originarios de

aquí quien realiza el trabajo manual bordado

autocopiante, el dibujo original en grafito se da

los registros tradicionalmente distintos para

es su galerista, Luisa Strina. El bordado es una

a quien describe la vista, mientras que el Museo

transformarlos mediante un proceso de collage de

actividad a menudo asociada con las mujeres

de las Vistas recopila copias azules sobre papel

distintos elementos. Esta operación suele formar

acostumbradas a las tareas del hogar y que

amarillo producidas químicamente por la presión

parte de objetos mundanos que se encuentran en

no tienen ocupación profesional, una imagen

del lápiz.

cualquier tipo de vida diaria (toallas, sombrillas,

que contrasta dramáticamente con la figura

artículos para el hogar, entre otros más) que se

de la galerista, de una mujer independiente y

las formas en que el paisaje se convierte en

extraen de su contexto original, se reúnen con

emprendedora. Esta serie de trabajos promueve,

una imagen mental y de cómo esa imagen de

otros elementos y, finalmente, se insertan en

por lo tanto, el encuentro de dos mundos

la memoria se puede transformar en discurso

una nueva jerarquía de valores. Al traer estos

radicalmente diferentes; uno relacionado con

y se traducir en el dibujo, construyendo una

objetos hacia el universo del arte, los destituye

la artesanía, la repetición de una técnica y de

nueva imagen física. De esa manera, el género

de su función original, mientras que plantea

conocimientos relacionados a un quehacer

tradicional de pintura de paisaje, tan relevante

cuestiones acerca de ideas de valor, circulación o

femenino en su acepción más tradicional, y

y frecuente en la producción de los artistas que

intencionalidad.

otro relacionado con el arte contemporáneo, la

participan en la Bienal Naifs de Brasil, se desarrolla

vanguardia cultural, la innovación conceptual y el

en el Museo de las Vistas, en el tiempo y espacio. El

internacionalismo.

proyecto de Zaccagnini, atesta, en cierto modo, a

En la serie de bordados presente en esta exposición, Alexandre da Cunha, como en obras

El archivo resultante es un testimonio de

anteriores, se apropia de un hacer/saber popular

la persistencia del paisaje en el mundo de hoy. Al

y de materiales triviales, valiéndose de su valor

menos desde el siglo XV, aprendemos a mirar el

simbólico. Aquí combina la calidad de la trama

CARLA ZACCAGNINI

mundo como un paisaje, y es precisamente este

de las telas de bordar a la trama de las grandes

El proyecto Museo de las Vistas se ha iniciado en

proceso de construcción mental y traducción

bolsas de yute utilizadas en la exportación de

2004 y desde entonces tiene varias iteraciones en

visual que la artista hace hincapié en Museo de las

granos de café, que sirven como materia prima

distintas ciudades de diferentes países: Medellín

Vistas. Sin embargo, los dibujos resultantes son

para estas obras. Ora más figurativas, ora más

(Colombia), Rincón (Puerto Rico), São Paulo

también elementos clave del proyecto y su forma

abstractas, sus composiciones en cada bordado

(Brasil), Valparaíso (Chile), entre otras. Al igual

final se determinará por la habilidad y por las

han sido cuidadosamente seleccionadas por el

que en otras obras de Carla Zaccagnini, aquí

decisiones tomadas tanto por el retratista como

artista a partir de las ilustraciones originales de

se crea unas reglas del juego, para ser seguidas

los narradores, y por lo tanto, son impredecibles.

estas bolsas, a las que no les agrega nada. Vale

por los participantes/espectadores a fin que

Sin embargo, teniendo en cuenta los diseños

229


elaborados hasta el momento, podemos decir

de luz del proyector, por lo que produce un efecto

estas regiones del planeta. Si aún permitimos

que, en su mayoría, tienen algunas similitudes

centelleante que se puede observar por quien está

una aproximación más de orden botánico, estas

estilísticas con la producción naif. Así que, ¿no

delante de la cara del collage.

pinturas se asemejan, en ocasiones, a los diseños

serían también los retratistas de la policía artistas no eruditos?

Kiti Ka’aeté lleva a Más Allá de la Vanguardia la

de paisajismo de Roberto Burle Marx, con sus

magnitud del arte indígena, expresada a través de

líneas sinuosas y las áreas de color intercaladas

su lectura dentro de lo contemporáneo. El aspecto

en un conjunto de formas orgánicas.

constructivo del collage, que, en el contexto del

Hasta cierto punto, la práctica de Herrero

DANIEL STEEGMANN MANGRANÉ

arte contemporáneo producido en Brasil por lo

presta características de la tradición de la pintura

Ka’aeté es una palabra que en tupí significa

general evoca o hace referencia a los ejercicios

mural, una práctica asociada especialmente a

“bosque profundo”, lejos de zonas habitadas. Es el

del arte concreto y el neo-concreto, aquí apunta

los artistas mexicanos de la primera mitad del

lugar mítico habitado por los dioses y espíritus,

a otras posibilidades de experimentación con la

siglo xx, pero que ha encontrado ecos en muchos

donde terminan las carreteras, el impenetrable.

geometría y, no menos importante, del significado

países de Latinoamérica, incluso en Brasil. Sin

Kiti significa cortar con un instrumento afilado,

de su aproximación con la vida.

embargo, si por una parte, comparte con esta

mediante las manos humanas y la técnica. Al

tradición un interés en acercar el arte a un

igual que en la interpretación hegeliana, para

público no especialista, que inadvertidamente

las tribus indígenas de Brasil, el Ka’aeté, bosque

FEDERICO HERRERO

se encuentra con sus pinturas en los espacios

profundo, es también un lugar sin historia, donde

Formado en arquitectura, el costarricense

públicos, se abstienen de tratar de difundir el

las cosas todavía no se han formado y donde los

Federico Herrero utiliza principalmente la pintura

contenido político e ideológico más directo, como

animales pueden metamorfosearse.

como medio. Gran parte de su obra, así como las

era el caso de los muralistas originales.

Kiti Ka’aeté es el título general de un proyecto

que integran la muestra Más Allá de la Vanguardia,

En las pinturas de colores de Herrero,

de Daniel Steegmann Mangrané que se originó

se llevan a cabo in situ: en los espacios públicos,

encontramos una gran resonancia con la

a partir de un collage en el que se basó el artista

tales como las portadas de las casas y los

producción que se ha mostrado de manera

en el arte abstracto de los Tupís, con su complejo

edificios o en las paredes de la ciudad, o paredes

consistente en las Bienales Naifs desde su

sistema geométrico, para realizar cortes precisos

privadas, como el interior de las galerías o de

fundación. Su presencia en esta exposición

sobre una imagen de la selva amazónica. En un

otro tipo edificios, donde ejecuta sus pinturas

trata de potenciar todas las obras seleccionadas

posterior desarrollo de la misma obra, que es la

en estrecho diálogo con la organización espacial

por el jurado, lo que sugiere alegóricamente

versión presente en esta muestra, el collage se

del sitio. Se caracterizan por su color brillante,

que se disloquen del plano bidimensional,

ha instalado dentro de un panel de exposición y

generalmente dividido en unidades de formas

transbordándo y arrastrándose por el suelo,

ha sido iluminada desde atrás, solamente por un

abstractas al tiempo fluidas e imprecisas, estas

trepando por las paredes y por el techo del

proyector de diapositivas. De este modo, el haz

pinturas, en contraste con las abstracciones

edificio, y ocupando, por último, todo el espacio

de la luz blanca atraviesa los pequeños cortes y

geométricas rigurosas que caracterizan el arte

tridimensional del sesc Piracicaba.

su luz emana de la cara de la imagen, brindando

latinoamericano desde mediados del siglo xx,

un carácter espiritual o anímico al bosque

casi parecen brotar orgánicamente a partir de

abstracto. Integra esta instalación el espacio entre

paredes. Su modo de existencia por lo tanto

FELIPE ARTURO

el proyector y el panel donde se encuentra el

sería más semejante a la forma desordenada

Desde 2009, el artista colombiano Felipe Arturo

collage. Abierto y accesible, se puede atravesar el

y voraz en que la naturaleza lujuriante de las

ha estado investigando métodos de construcción

público que intermitentemente interrumpe el haz

zonas tropicales se encarga de los edificios en

empleados por los vendedores ambulantes en

230


diferentes ciudades de Latinoamérica. Observa

la Vanguardia a partir de su investigación sobre

olvidado y omitido del arte popular brasileña:

cómo la arquitectura efímera propia de cada una

los métodos de construcción de los vendedores

el lado abstraccionista. Es increíble lo que hace

de estas ciudades se ha desarrollado a partir de

ambulantes locales. Valiéndose de los materiales

la gente en términos de abstracción geométrica.

complejos procesos de las políticas locales y de

y técnicas de construcción aprendidas junto

Estoy documentando con diapositivas las diversas

particularidades referentes a la distribución de

a los vendedores ambulantes en la ciudad de

formas de expresión abstracto-geométrica:

alimentos y mercaderías entre las zonas urbanas

São Paulo, el artista va a construir un ambiente

tiendas de fiesta y de ferias, cubiertas con retazos,

y rurales o entre cada nación y el extranjero. El

temporal, cuya configuración final se desarrollará

carritos de helados, de palomitas etc.; puertas

fenómeno del desplazamiento de la población

en las semanas previas a la exposición. La obra

de garajes y otras cosas que se presentan. Es

provocado por el comercio informal tiene un

ocupará por primera vez en la historia de la Bienal

fantástico, ya veces se encuentran cosas de

impacto innegable sobre la configuración del

Naifs de Brasil, el gran balcón adyacente a la sala

op-art, de arte concreto y constructivista; todo

entorno urbano de determinadas regiones, donde

de exposiciones del sesc Piracicaba, creando un

esto se hace en la ignorancia y la ingenuidad más

a diario son levantados y desmantelados grandes

área de visualización y de pausas que conecta el

sagradas, pero con un agudo sentido intuitivo de

centros comerciales al aire libre, atrayendo a

interior del edificio a las zonas dedicadas al ocio y

color y de construcción. Es de estos tipos de cosas

miles de consumidores.

el deporte que se sitúan en la parte delantera del

que en la actualidad extraigo material para mi

terreno.

trabajo”.

Debido a su carácter temporal y, en la mayoría

Sus Barracas del Noreste, con sus formas

de los casos, ilegal, la arquitectura de este

geométricas imprecisas y colores brillantes,

tipo de comercio tiene algunas características básicas. En algunos casos, debe ser constituida

MONTEZ MAGNO

oscilan entre la abstracción y la figuración,

de un material relativamente ligero, para

Con una trayectoria de seis décadas, el artista de

ya que mantienen la conexión formal con

ser transportadas más fácilmente y con

Pernambuco Montez Magno tiene una obra muy

su referente, a veces incluso presentando

técnicas simples y eficaces, que permitan un

compleja y diversa que se desarrolla en distintos

indicaciones sobre el contexto de done se han

rápido montaje y desmontaje. Los materiales

medios e investigaciones. Nos interesa, sobre

extraído. Las dos otras series representadas

invariablemente deben ser no solo fáciles de

todo, en el ámbito de la exposición Más Allá de

en esta exposición también se valen de una

encontrar y de bajo coste, sino que también

la Vanguardia, las investigaciones del artista en

aproximación a lo popular, a pesar de que buscan

deben ser duraderos y resistentes para soportar la

torno a la geometría del arte popular, que se

diferentes soluciones formales. En Telares de

exposición prolongada a las intemperies. Así que

inicia en 1972 con sus estudios para el primer

Timbaúba, el artista se centra en las exploraciones

se trata de una arquitectura basada enteramente

ciclo de la serie Barracas del Nordeste de la que

de las posibilidades geométricas de la línea,

en las necesidades apremiantes de estos grupos

presentamos tres ejemplares en esta muestra.

probando diversos movimientos con el lápiz y

de trabajadores informales, no sólo apoyada

Vale citar aquí el fragmento de una carta del

pastel a óleo sobre el fondo neutro del papel, lo

en los principios académicos, y por lo tanto,

artista seleccionado por Clarissa Diniz en su

que produce así un resultado más sobrio. La

informada por un conocimiento popular vivo.

ensayo publicado en la monografía del artista

serie Fachadas del Nordeste, a su vez, se compone

En São Paulo, así como en otras grandes

editada en 2010, donde explica el objeto de su

de pinturas en acrílico sobre cartón, en formato

investigación:

pequeño. Esta vez, teniendo la arquitectura

ciudades latinoamericanas, la actividad diaria de los vendedores ambulantes ocurre en gran

“[...] Gran parte de mi trabajo actual se basa en

escala, y es precisamente allí donde Arturo

las cosas de aquí de Recife, del Nordeste, pero

llevará a cabo una pequeña residencia con el fin

el propio pueblo de aquí no se da cuenta. Estoy

de producir una nueva comisión para Más Allá de

haciendo una investigación o estudio del lado

popular como tema, el color y la línea parecen tener un peso equivalente.

231


PABLO LOBATO

que, a pesar de que sucede constantemente a

para la exposición Más Allá de la Vanguardia,

El trabajo del artista de Minas Gerais Pablo Lobato

través de los siglos, permanece disimulado.

Matheus también opera una re-significación de

que integra la exposición Más Allá de la Vanguardia

Se muestra aquí en escala natural, con el fin

presenta una imagen recurrente y muy simbólica

de transportarnos a los bastidores de la iglesia,

dialogar directamente con la historia local del

dentro del universo del arte popular: la campana

hacia adentro del nicho donde se desarrolla

poder de las élites agrarias en São Paulo y las

de iglesia. En la historia de la Bienal Naifs de Brasil,

la coreografía casi erótica y arriesgada de los

transacciones comerciales que se realizaban

hay un sinnúmero de obras registradas en las que

campaneros, Bronce Volcado conserva todo su

con Inglaterra en el inicio del siglo xx, cuando ni

las campanas aparecen en paisajes de plazas o

carácter humano, revelando, según lo sugerido

siquiera se hablaba de globalización. En una de

festivales, siempre alzadas en la parte superior

por Crivelli Visconti, “una especie de trance

sus piezas, acumula una serie de documentos

de las pequeñas torres de las iglesitas en las

pagano (...) que rasga la estasis y el silencio, para

referentes a las múltiples transacciones

ciudades del interior del país. Es precisamente en

instalar el éxtasis”.

comerciales entre Brasil e Inglaterra sobre una

Minas Gerais, Estado natal de Lobato, donde se

Ahora somos nosotros quienes vislumbramos

los materiales existentes. En este caso, busca

superficie bidimensional, dando materialidad a

encuentran algunas de las iglesias más preciosas

el contraplano, para más allá de la apertura del

un sistema basado en el comercio transatlántico,

de la época barroca. Fue donde el artista realizó

campanario, la plaza, las festividades regionales o

en la acumulación de capital y la explotación de

una investigación sobre las campanas de

el paisaje de la pequeña ciudad del interior.

mano de obra esclava. En la segunda obra, usa

diferentes ciudades, muchas de ellas desactivadas

papeles de la misma época que se utilizaban para

hoy en día, una investigación que dio lugar a

empacar las naranjas exportadas desde Brasil a

una serie de obras que incluye Bronce Volcado, la

RODRIGO MATHEUS

Inglaterra. Estas naranjas eran embaladas una

videoinstalación que aquí se presenta.

Con una producción que se mueve a través de

por una, en un delicado papel en el que había un

diferentes medios, la obra de Rodrigo Matheus

registro de su origen y el logotipo la compañía.

en un comentario sobre esta obra, “[Al] abordar

no se aferra a determinados estilos o técnicas. En

Aquí, Matheus trae estos documentos otra vez

y estudiar este tema, el artista ha encontrado

sus primeros trabajos, incorporaba y articulaba

a su país de origen, construyendo con ellos una

que, desde siempre, el lugar en la parte superior

objetos industrializados o de diseño que se

delicada pieza de pared bidimensional que se

de las torres donde las campanas se tocan

encuentra en la vida diaria corporativa, emulando

utilizan como las pequeñas banderas decorativas

ha pertenecido casi exclusivamente a los

y empleando su estética típica en el circuito

de fiestas regionales y adornadas con anzuelos

campaneros (quienes, antiguamente, eran en

del arte contemporáneo. Recientemente llevó

y cebos que se refieren a los grandes ríos del

su mayoría esclavos): ni los fieles, ni tampoco

a cabo una serie de obras en las que se apropió

interior de São Paulo. A través de estas evidencias

los sacerdotes se suben hasta allí. Es decir, el

de materiales típicos del mismo circuito, tales

materiales, Matheus evoca que ha sufrido un

artista rescata la visualidad de un evento de

como embalajes de obras y trabajos de montaje,

borrado sistemático, pero cuyos ecos todavía

fundamental importancia en el tejido social,

creando con ellos situaciones escultóricas

se dejan sentir en la estructura social del Brasil

y cuya imagen, sin embargo, a lo largo de los

temporales. Estas configuraciones se mantuvieron

contemporáneo.

siglos, ha sido programática y ocultada de

sólo durante la duración de los espectáculos de

forma metódica, e incluso negada”. Así, en

los cuales formaban parte, disipándose después

contraste con la visibilidad excesiva de la

de su terminación, cuando se devolvían estos

THIAGO ROCHA PITTA

imagen de la campana y de la iglesia, tanto

materiales a sus lugares de origen y dejaban de

En su ensayo titulado “Sobre la forma de domar

en representaciones pictóricas eruditas como

ser considerados como arte.

lo imprevisible”, publicado en la ocasión de

Según lo descrito por Jacopo Crivelli Visconti,

populares, lo que nos ofrece Lobato es un ritual

232

Para los dos nuevos comités que produjo

la muestra Notas de un desmoronamiento,


de Thiago Rocha Pitta, que se produjo en las

permite la aparición y la manifestación de una

en forma de frutas o verduras. En este proceso

Caballerizas de la Escuela de Artes Visuales del

historia interior, íntima. En el caso de Herencia, lo

largo y laborioso, que requiere extrema precisión

Parque Lage en Rio de Janeiro en 2010, Felipe

que se suma a las representaciones tradicionales

y cuidado, un encaje portugués, por ejemplo, con

Scovino sugiere que “la obra de Pitta siempre

del paisaje es tan sólo el dato temporal, lo que

su gruesa tela, se corta y se emenda, hilo por hilo,

se manifiesta como una pintura de paisaje, sin

solicita un momento de contemplación en el

con una delicada pieza de encaje inglés o una

importar el medio con el que trabaja o el sentido

curso de tiempo presente.

pieza de encaje brasileña, de manera que el paso

de invención que construye”. Y sigue: “Un paisaje

de una para la otra se hace casi completamente

que cambia mientras se pregunta esta pintura

indetectable. El ojo vigilante nota los matices

si todavía sigue siendo pintura o amplía su

TONICO LEMOS AUAD

en el paso de una trama a otra, lo que pone

búsqueda a otros campos de producción poética”.

En sus obras, Tonico Lemos Auad parte de

de manifiesto las pequeñas pero significativas

La posibilidad de movilizar el tema de la pintura

materiales del cotidiano para crear objetos,

diferencias que revelan no sólo la transmisión

de paisaje en el ámbito del arte contemporáneo

esculturas e instalaciones que por lo general

de un conocimiento a través de las diferentes

y en el contexto de la exposición Mas Allá de la

dependen de un equilibrio delicado para que

culturas, como también las adaptaciones que

Vanguardia, es uno de los intereses de la curaduría,

existan. En el ámbito de lo ordinario y lo irrisorio,

ha sufrido esta técnica en cada país a lo largo

dado que se trata de un género recurrente en toda

el artista opera desplazamientos silenciosos que

de los años. Estas frutas y verduras hechas de

la historia de la Bienal Naifs de Brasil.

incrementan el valor simbólico latente de formas

encaje, como si fueran luminarias, cuelgan del

y elementos que nos pasan desapercibidos, por

techo y están iluminadas desde el interior, lo

de Rocha Pitta, donde vemos un pequeño bote

lo que se hacen valiosos y permanentes. Estas

que nos permite observar todos los detalles de

de madera que, formando una imagen casi

operaciones implican invariablemente una labor

su superficie. Sin embargo, se caracterizan por

surrealista, lleva en su interior un par de árboles

manual específica propia de ciertas zonas o

la imprecisión del trabajo manual que les da un

en alta mar. A veces, más próxima o más lejana

culturas y asociada con materiales y técnicas

aspecto orgánico, y parecen brotar del techo como

de la cámara que la registra, esta inusitada

tradicionales que se transmiten de padres a hijos

plantas exóticas que resultan de algún cruce

assemblage de árboles-barco flota indiferente,

a través de los siglos. En su obsolescencia ante

inusual entre semillas tropicales y europeas.

a la deriva, sin la intención de llegar a tierra

la sociedad de producción en masa, muchas de

firme, puesto que constituye en sí misma un

estas técnicas hoy se encuentran casi extintas,

territorio. Seguimos su carrera débil sin la

por lo que hacen que el trabajo de Auad

expectativa de un desenlace o narrativa, nos

también abarque una amplia investigación y la

dejando llevar por la propia duración del evento.

negociación con cada artesano implicado.

En esta ocasión, presentamos el video Herencia

Sólo nos entretenemos por los cambios en el

Para Más allá de la Vanguardia, el artista

encuadramiento producidos por la distancia

ha producido un conjunto de cinco objetos

o proximidad relativa de la embarcación. Esta,

que forman parte de la serie Sleep Walkers

sin embargo, va flotando como una ofrenda

(Sonámbulos), presentada por primera vez en

enigmática, llena de simbolismo en sí, el cual no

MuHKA en Antuerpia, Bélgica en 2009-2010. Estos

somos capaces de descifrar.

objetos se han confeccionado cuidadosamente

Scovino atenta para la economía de imágenes

con encajes de diferentes fuentes, que el artista

en la obra de Rocha Pitta, y de cómo su

ya se las adquiere listas, pero luego deben

eliminación del exceso de “ruidos” exteriores

transformarse en elementos tridimensionales

233


Biografías Más Allá de la Vanguardia

deficiencias en la percepción y los límites del

en Berlín y participa en 30ª Bienal Internacional de

conocimiento científico, entre otros, produciendo

São Paulo. Además de su práctica artística, Daniel

un trabajo multifacético que busca activar

Steegmann Mangrané es organizador en la escuela

la visión del espectador y desconcertar su

de arte experimental de la Universidad de Verano,

comprensión. Desde la década de 1990, ha

promovida por el “Capacete”, una plataforma

venido desarrollando actividades como crítica

multidisciplinar de residencias artísticas y

de arte, curadora y profesora paralelamente a

programas educativos basados en Rio de Janeiro.

su práctica artística. Participó en la 28ª Bienal de Alexandre da Cunha

São Paulo (2008) y de la Bienal del Fin del Mundo

[Rio de Janeiro, 1969. Vive y trabaja en Londres]

de Ushiaia, Argentina (2007). Su obra estuvo

Federico Herrero

En sus obras, Alexandre da Cunha normalmente

presente en exposiciones de varias instituciones

[San José, 1978. Vive y trabaja en San José]

utiliza objetos comunes de múltiples fuentes,

internacionales, como el musac, en León, España;

La obra de Federico Herrero está muy influida

tales como toallas de playa, ruedas de coche

LentSpace, en Nueva York, ee.uu., Museo de Arte

por las tradiciones culturales y políticas y por

o artículos del hogar para crear esculturas

Moderno Aloísio Magalhães, en Recife, Brasil, y

el carácter fructífero de su país de origen, Costa

e instalaciones. Una parte importante de

Kunstverein, en Munich, Alemania. Llevó a cabo

Rica. Sus obras de colores intensos oscilan entre

su reciente trabajo hace referencia directa

diversas residencias artísticas, entre ellas en el Air

la figuración y la abstracción, y desafían a las

a la herencia geométrico-constructiva del

Antwerp, Bélgica; hiap, Finlandia; iaspis, Suecia.

categorías tradicionales de la pintura. Además de

Modernismo brasileño. Sin embargo, aunque

pinturas sobre tela, Herrero suele realizar trabajos

estas obras tienen un estilo cercano a esa

site-especific que combinan diferentes fuentes

producción, conserva esencialmente el mismo

Daniel Steegmann Mangrané

de inspiración, tales como placas de calle, grafitis,

principio de “collage” de diferentes ready

[Barcelona, 1977. Vive y trabaja en Rio de Janeiro]

plantas tropicales, las casitas de colores en las

mades que caracteriza a su obra como un todo.

La obra de Daniel Steegmann Mangrané

zonas rurales y las formas y los íconos del paisaje

Alexandre da Cunha ha participado en varias

comprende varios medios de comunicación y

urbano. En 2001, Herrero ha recibido el premio

exposiciones internacionales, como la Bienal de

oscila entre experimentos sutiles y poéticas,

al mejor artista joven en la Bienal de Venecia. Ha

Venecia (2003), la San Juan Triennial (2009) y la

mientras que se caracterizan por cierto

realizado numerosas exposiciones individuales en

colectiva Panamericana (2010). Este año, integra

grado de dureza en su creación. A pesar de

museos internacionales de países como Alemania,

la 30ª Bienal Internacional de São Paulo. Su obra

que su investigación es principalmente de

Italia, Japón y Colombia. Su trabajo incluye las

es parte integrante del acervo de importantes

orden conceptual, su obra muestra una gran

colecciones del Mudam, en Luxemburgo, del

colecciones públicas y privadas como el Instituto

preocupación por la manifestación concreta de

Museo Santander, en España, del 21st Century

Inhotim (Brasil) y la Tate Modern (Reino Unido).

los objetos y los efectos fenomenológicos de la

Museum of Contemporary Art y el Hara Museum

relación entre el hábitat y el lenguaje. Nacido en

of Contemporary Art, ambos en Japón.

Barcelona, el artista ha vivido en Brasil desde 2004. Carla Zaccagnini

En el año 2011, realizó la exposición individual

[Buenos Aires, 1972. Vive y trabaja en São Paulo]

Four Walls, en la Galería Mendes Wood en São

Felipe Arturo

En su obra, Carla Zaccagnini desarrolla temas

Paulo Duna económica/maquete sin calidad en

[Bogotá, 1979. Vive y trabaja en Bogotá]

tales como la imposibilidad de la traducción,

Halfhouse, en Barcelona. En 2012, se hace becario

Se graduó en arquitectura en la Universidad de

la parcialidad de la perspectiva del museo, las

en la Junge Akademie en la Akademie der Kunste,

Los Andes, en Bogotá, llevó a cabo la maestría

234


en la Universidad de Columbia, en Nueva

el año de 1964 en Madrid, España, con una beca

sesc Belenzinho, de São Paulo, y ha participado

York. Trabajó durante tres años con la artista

en el Instituto de Cultura Hispánica, haciendo

en exposiciones en Noruega y Uruguay. Su obra

colombiana Doris Salcedo, en Bogotá, y un

viajes a Europa y participando en exposiciones

forma parte de las colecciones del Museo de

año con el artista chileno Alfredo Jaar, Nueva

en varias ciudades españolas. En 1965, regresa a

Arte de Pampulha, Belo Horizonte y del Centro

York. Su obra se centra en las intersecciones

Brasil y se traslada a Rio de Janeiro, desarrollando

Cultural Banco do Nordeste, de Fortaleza.

del urbanismo, la arquitectura, la historia de

su trabajo en diálogo con la generación de artistas

las ciudades y del arte, por lo que construye

jóvenes relacionados con el mam-rj. A partir de

estructuras temporales que se pueden descubrir

ahí, su trabajo consiste en desarrollar en varias

Rodrigo Matheus

a través de la imagen y del tiempo o de sucesos

líneas conceptuales, en un largo recorrido que

[São Paulo, 1974. Vive y trabaja en Londres]

y encuentros espontáneos en el espacio. Además

incluye obras en diversos medios, tales como

Articulando diversos medios de comunicación —

de sus actividades artísticas, Felipe Arturo es

las partituras de música aleatoria, los libros de

móviles y estáticos, construidos y encontrados

profesor asociado del Departamento de Artes

artista, las instalaciones, los objetos, los registros

— la obra de Rodrigo Matheus se presenta llena

Plásticas de la Universidad de Bogotá Jorge

de actuaciones, además de su producción poética,

de elementos de diseño, arquitectura y paisaje.

Tadeo Lozano. Su obra ha integrado exposiciones

que cuenta con dez libros publicados.

Desprovisto de evidencias de un quehacer

individuales y colectivas en varios países, entre

manual, la postura del artista es antes la de

ellos España, ee.uu., Francia y Portugal, además

modificar y recombinar los materiales, dándoles

de formar parte de colecciones, como de Patrícia

Pablo Lobato

otras formas de presentación y estableciendo

Phlepls de Cisneros, Nueva York y Caracas,

[Bom Despacho, 1976. Vive y trabaja en Belo

nuevas relaciones entre objetos. El resultado es

Colección Jumex, México; Colección ArtNexus,

Horizonte]

una producción fértil donde elementos cotidianos

Colombia, entre otras.

Habiendo iniciado su carrera en el campo del cine,

o sin valor intrínseco se presentan con precisión

Pablo Lobato comenzó a gravitar en los últimos

y elegancia, ganando nuevos significados

años para el circuito de las artes visuales. Con

simbólicos. Matheus ha realizado varias

Montez Magno

un interés continuo en la producción audiovisual,

exposiciones individuales en instituciones como

[Timbaúba, 1934. Vive y trabaja en Recife]

su trabajo hoy en día se está desarrollando en

el Museo de Arte de Pampulha, Belo Horizonte

Montez Magno empezó su carrera artística

una zona indeterminada entre estas disciplinas.

(Centurium, 2004), Centro Cultural Maria Antônia,

en Recife, en 1954, cuando se incorporó a la

Lobato fue uno de los creadores de la Teia —

São Paulo (El Retorno de la Arquitectura, 2005),

Escuela de Bellas Artes y comenzó a dedicarse

Centro de Pesquisa Audiovisual, con sede en Belo

Galería Fortes Vilaça, en São Paulo (El mundo en

a sus estudios de pintura y dibujo. También en

Horizonte desde el año 2002. En 2011, recibió el

el que vivimos, 2008, y Handle with care, 2010) y

esa misma década, produjo sus primeras obras

Premio Sergio Motta de Arte y Tecnología y fue

Galería Silvia Cintra & Box 4, en Rio de Janeiro

abstractas y realizó exposiciones individuales y

uno de los seleccionados para el Programa Rumos

(2006, 2010). Entre las exposiciones colectivas

colectivas en Pernambuco, Rio de Janeiro y São

Artes Visuales. Hoy se dedica a terminar el film

en las que ha participado recientemente están

Paulo. A comienzos de los años 1960, se instala

Vientos de Valls, que deriva de una acción realizada

Mitologías, en la Cité Internationale des Arts, París

en São Paulo y sigue constantemente exhibiendo

en España en 2009, financiada por la Fundación

(2011), el 32º Panorama del Arte Brasileño en el mam

su obra en varias ciudades del país. Durante este

John Simon Guggenheim, de Nueva York. En 2011,

de São Paulo (2011) y The Spiral and the Square, en

período, comienza a explorar formas más libres

integró la exposición Panorama del Arte Brasileño

Bonniers Konsthall, Estocolmo, 2011.

en su pintura, con grados que van de un lenguaje

en el mam-sp y el 17º Festival Internacional de

más expresivo o de una geometría orgánica. Pasó

Arte Contemporáneo sesc-Videobrasil, en el

235


Thiago Rocha Pitta

lo permanente. Nociones de suerte, el azar y lo

[Tiradentes, 1980. Vive y trabaja en São Paulo]

sobrenatural forman parte de su imaginación

Thiago Rocha Pitta se crió en la ciudad histórica

artística. Pero más allá de los aspectos lúdicos, su

de Tiradentes y cuando adolescente se trasladó a

obra evoca también un lado oscuro y misterioso

Petrópolis, donde permaneció hasta 1999, cuando

de la existencia, ya que la conciencia de la muerte

pasó a vivir en Rio de Janeiro para estudiar Bellas

y la brevedad de la vida están siempre presentes.

Artes en la ufrj y llevar a cabo cursos abiertos

Auad ha realizado numerosas exposiciones en el

eav/Parque Lage. Inicia su carrera artística en

ámbito internacional, con obras que investigan

2001, cuando comienza a hacer intervenciones

la materialidad, la sensualidad, los procesos y

en el abierto. Desde el principio, su obra tiene

la relación entre el público y el espacio del arte.

una relación muy estrecha con la naturaleza y la

En 2007, realizó una exposición individual en

materia, siempre ligadas a ideas de temporalidad

Aspen Art Museum, en Colorado, el cual también

y transformación. Ya sea trabajando con los

publicó una monografía sobre su obra. En 2011,

pigmentos, tierra, fuego o agua, sus dibujos,

tuvo su obra expuesta en el Centro Cultural São

pinturas, videos e instalaciones utilizan imágenes

Paulo, en la Trienal de Folkestone, en Inglaterra

o procesos naturales que evocan cuestiones

y en la muestra colectiva Mitologías, en la Cité

existenciales, mientras que realizan experimentos

Internationale des Arts, en París.

formales. Entre las exposiciones colectivas en las que ha participado se destacan A Time Frame, PS1-moma, Nueva York (2006); Singapore Biennale (2006) y Nueva Arte Nueva, ccbb-rj (2008). En 2010, realizó una exposición individual en las Caballerizas de la eav/Parque Lage y en 2012 participa en la 30a Bienal Internacional de São Paulo.

Tonico Lemos Auad [Belém do Pará, 1968. Vive y trabaja en Londres] Tonico Lemos Auad completó su maestría en Bellas Artes en la Goldsmiths College, Londres (2000), donde vive y trabaja desde entonces. Una vez y otra el artista hace caso omiso de las propiedades intrínsecas de los materiales que utiliza para crear formas líricas y no permanentes, con una amplia muestra de materiales que van desde lo efímero y lo cotidiano a lo precioso y

236



sesc – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo

presidente do conselho regional Abram Szajman

diretor do departamento regional Danilo Santos de Miranda

superintendências técnico-social  Joel Naimayer Padula comunicação social  Ivan Paulo Giannini administração  Luiz Deoclécio Massaro Galina assessoria técnica e de planejamento  Sérgio José Battistelli

gerências ação cultural  Rosana Paulo da Cunha adjunta  Flávia Andréa Carvalho assistentes  Juliana Braga; Nilva Luz e Kelly Teixeira estudos e desenvolvimentos  Marta Raquel Colabone adjunta  Andréa de Araujo Nogueira artes gráficas  Hélcio José P. Magalhães adjunta  Karina C. L. Musumeci assistente  Érica Dias

BIENAL NAÏFS DO BRASIL 2012 Núcleo Bienal Naïfs do Brasil  Margarete Regina Chiarella; Marilia Woltzenlogel de Azevedo Grillo e Maristella Bottas Langhi administrativo  Juliana Defavari e equipe alimentação  Erica de Barros Domingues Leite e equipe comunicação  Milena Piva Carvalho e equipe infraestrutura  Robsom Fabrizio Detoni Bonilha e equipe programação  Cleusa Elena Galvani Delgado e equipe recorte curatorial  Kiki Mazzucchelli júri de seleção e premiação  Edna Matosinho de Pontes; Juliana Braga; Marta Mestre e Paulo Klein projeto educativo  Zebra5 Jogo e Arte projeto expográfico  Ana Paula Pontes identidade visual e projeto gráfico Carla Caffé, Juliana de Campos Silva | Ateliê Carla Caffé assistente  Hannah Machado Arcuschin revisão  Ana Sesso Revisão Ltda. assessoria de imprensa  Adriana Monteiro | Ofício das Letras

audiovisual  Silvana Morales Nunes adjunta  Ana Paula Malteze

fotografia  Sergio Guerini

desenvolvimento de produtos  Marcos Lepiscopo adjunta  Evelim Lucia Moraes assistente  Carol Ribas

fotos  p.38: Coleção Jumex; p.71-3, 203 à esquerda: Edouard Fraipont, Galeria Luisa Strina; p.130, inferior: Ding Musa; p.208-9: cortesia Stephen Friedman Gallery e mukha Museum van Hedendaagse Kunst Antwerpen.

relações com o público  Paulo Ricardo Martin adjunto  Carlos Rodolpho T. Cabral assistentes  Malu Maia e Paco Sampaio difusão e promoção  Marcos Ribeiro de Carvalho adjunto  Fernando Hugo C. Fialho

Realizada pelo sesc sp | Unidade Piracicaba De 8 de agosto a 9 de dezembro de 2012

compras e logística  Jackson Andrade de Matos adjunto  Roberto Duarte Pera

agradecimentos

licitações  Jair Moreira da Silva Junior adjunto  Paulo César dos Santos

Vanguarda pela sua valiosa participação e inestimável

patrimônio e serviços  Hosep Tchalian adjunto  Gilberto de Almeida pessoas  José Menezes Neto adjunto  Rubens Torres Babini saúde e alimentação  Maria Odete F.M. de Salles adjunta  Maria Fabiana Ferro Guerra assessoria jurídica  Carla Bertucci Barbieri sesc Piracicaba  José Roberto Ramos adjunto  Daniel Eiji Hanai

A curadoria agradece aos artistas da exposição Além da contribuição com obras, ideias e sugestões. Pelo apoio e incentivo durante as várias etapas de realização do projeto: Clarissa Diniz; Daniel Eiji Hanai; Edna Matosinho Pontes; Juliana Braga; Marta Mestre; Coleção Alfredo Egydio Setubal – São Paulo; Galeria Fortes Vilaça – São Paulo; Galeria La Central – Bogotá; Galeria Luisa Strina – São Paulo; Galeria Mendes Wood – São Paulo; Galeria Stephen Friedman – Londres; Galeria Vermelho – São Paulo.


b4768 Bienal Naïfs do Brasil: Além da Vanguarda / Serviço Social do Comércio; Núcleo Bienal Naïfs do Brasil. – São Paulo: sesc sp, 2012. –

252 p.: il, fotografias. trilingue (português/inglês/espanhol).

issn 2178163-x

isbn 978-85-7995-039-1 sesc Piracicaba de 8 de agosto a 9 de dezembro de 2012. 1. Arte.  2. Pintura.  3. Naïfs.  iv. Bienal Naïfs do Brasil.  i. Serviço Social do Comércio.  ii. Núcleo Bienal Naïfs do Brasil. cdd 750


Este catálogo foi composto em Caecilia, Populaire e Frutiger e impresso em papel couché pela gráfica Atrativa em julho de 2012.

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