arte incomum que de qualquer outra natureza. No entanto, a
Consta que desenhava bem desde a infância. Como artista,
pintura de Ranchinho não é arte incomum; não possui, des-
despontou aos quase 50 anos. No momento áureo, a pin-
ta, o conteúdo delirante, as fantasias místicas, a impossibili-
tura de Ranchinho é das mais vibrantes, ricamente colorida
dade de perceber a realidade exterior imediata, as repetições
(seja em cores variadas e alegres, seja em tons sombrios mas
obsessivas. Nenhum de seus quadros se assemelha aos dos
intensos nas cenas noturnas), gestual, dramática, capaz de
esquizofrênicos, por exemplo, cuja produção plástica é insó-
lembrar o expressionismo alemão – do qual, evidentemente,
lita, algo misteriosa e instigante. No que se refere aos temas,
ele nunca teve a mais remota notícia. Mas até Ranchinho
Ranchinho está muito mais para um José Antônio da Silva,
sabia – à sua maneira – de sua intenção. Não é por outro
caipira da mesma região. Fez uma crônica bastante objetiva
motivo que, a certa altura, colecionava imagens de folhinhas:
da realidade que o cercava; tanto que seu descobridor, o cor-
porque nelas reconhecia um modelo desejável. Não tenho
retor de seguros José Nazareno Mimessi – grande admirador
dúvida de que decalcou algumas dessas imagens: conheço-
de arte ‘primitiva’ em geral – o chamou de “zeloso repórter
lhe um quadro de 1979, um Açougue de lindo colorido, cuja
amador das atualidades da cidade”. Se não se conectava
impecável perspectiva ele seria, decididamente, incapaz de
satisfatoriamente com o mundo através dos outros sentidos,
traçar à mão livre. Em outros termos: estudou. Até Ranchi-
Ranchinho percebia-o perfeita e integralmente através do
nho quis aperfeiçoar seu instrumento de trabalho criativo.
olhar, e sabia representá-lo com precisão, originalidade e vigor; era o que eu chamaria de um observador inteligente.
Olívio Tavares de Araújo
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