Revista Sinais Sociais

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ções ao descartarem seus trabalhadores mais velhos, substituindo-os por mais jovens, conforme apontaram Appelbaum, Patton, e Shapiro (2003), por outro lado, muitos dos trabalhadores que antes concordaram com a saída antecipada, após poucos anos de aposentadoria, podem sentir uma ambivalência quanto à decisão ter sido ou não “voluntária” (SOLINGE, 2007). Além disso, a aposentadoria incentivada provocou, para os trabalhadores que sobreviveram a ela, uma sombra de medo, um sentimento de estranheza e desconfiança em relação à organização. Hoje, reduzidas as aposentadorias incentivadas e as fusões nas organizações, algumas empresas, principalmente aquelas que têm entre seus principais colaboradores trabalhadores altamente especializados, não desejam antecipar a saída deles. Muito pelo contrário, estão cada vez mais preocupadas em retê-los. Uma das formas para esta retenção é exatamente mantê-los atualizados e satisfeitos, mesmo que isto implique uma redefinição do trabalho, seja por meio da mudança dos métodos, ambiente ou da flexibilização de horário. Henretta (2000) lembra que a redefinição do trabalho poderá conter a saída dos trabalhadores mais velhos, e, assim, equilibrar a demanda de trabalhadores especializados num futuro próximo, e propõe o aumento de empregos temporários, por prazo determinado ou com horários reduzidos. Contudo, Kim e Feldman (1998) alertam para o fato de que quanto mais os trabalhadores se engajarem em empregos temporários (bridge employment), menor será a possibilidade de desenvolverem atividades de lazer. Como o lazer e o voluntariado provaram estar significantemente correlacionados à aposentadoria e à satisfação com a vida (ELLIS, 1994; KIM & FELDMAN, 2000), o desafio para os trabalhadores mais velhos será, então, buscar um novo contrato que possa permitir tempo livre para atender a seus interesses e necessidades pessoais. Assim, há uma demanda para que os Programas de Preparação para a Aposentadoria assumam um novo formato, pautados na livre escolha do trabalhador, que desenvolvam não apenas os seminários informativos, mas oportunizem espaços para as reflexões e discussões com os participantes sobre a qualidade de vida atual e o estilo de vida que desejam para o futuro (FRANÇA, 2002, 2008). Nesta nova ótica de preparar para a aposentadoria, ganham força os projetos de vida, a continuidade ou a busca de um trabalho mais prazeroso que

SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.4 nº10 | p. 98-121 | MAio > AGoSTo 2009

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