lotus lobo
lotus Curadoria MARCELO DRUMMOND SESC POMPEIA 14 OUT 2021 – 30 JAN 2022
lobo fabricação própria
OBRAS
18
NOTAS MARGINAIS
81
ACONTECIMENTOS (1968–70)
113
7
O ESPAÇO CRIATIVO DA FÁBRICA Danilo Santos de Miranda
9
A FÁBRICA MOVENTE DE LOTUS LOBO Marcelo Drummond
134 138 140 142 148 170 171
ARTE = VIDA: NATUREZA E PARTICIPAÇÃO NA OBRA DE LOTUS LOBO Camila Bechelany
MARCA LITOGRÁFICA Luciano Gusmão
IDENTIDADES, IDENTIDADE Chico Homem de Melo
LOTUS LOBO: FABRICAÇÃO PRÓPRIA Márcio Sampaio
CRONOLOGIA Janaina Melo
LEGENDAS DOS PLANOS DETALHES E CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS FICHA TÉCNICA
o espaço criativo da fábrica DANILO SANTOS DE MIRANDA
Alguns objetos são tão vinculados aos usos para os quais foram projetados que suas qualidades estético-formais podem passar despercebidas, mesmo quando estão abundantemente presentes em nosso cotidiano. E, ainda mais, no caso daqueles produzidos em escala industrial, como embalagens e rótulos. Depois de desempenhado seus papéis originais, acabam descartados – embora nem sempre esquecidos. A reunião e o deslocamento desses objetos no espaço, no tempo e na função são maneiras de criar consciência e dar visibilidade à composição de suas formas, evidenciando-se autorias, especificidades regionais e temporalidades. É justamente a partir de uma proposta de interrupção e inversão do ciclo de vida habitual de tais itens que se constitui o trabalho artístico e de pesquisa de Lotus Lobo. Nascida em Belo Horizonte, a artista percorreu indústrias mineiras, onde coletou matrizes litográficas das primeiras décadas do século XX, e, a partir daí, por meio da apropriação e manipulação de imagens, produziu obras que desvelam o potencial caráter criativo dos ambientes fabris, convidando os públicos a também experimentarem um deslocamento: de usuários a fruidores. Para além de proteger do esquecimento um certo passado, a exposição Fabricação própria dialoga com as lembranças de outros tempos e lugares que insistem em permanecer no imaginário, mesmo à revelia dos sujeitos. Para o Sesc, a apresentação de trabalhos de arte contemporânea, associada à divulgação de um acervo que remonta aos primórdios do design nacional, sugere que as memórias entrelaçam revelação e preservação, elaboração e ressignificação permanente. DANILO SANTOS DE MIRANDA é diretor do Sesc São Paulo.
7
a fábrica movente de lotus lobo MARCELO DRUMMOND
Em pedra extraída de formação calcária rara, encontrada na Baviera, Alemanha, o teólogo e professor Simon Schmid, ali nascido, iniciou em 1786 o processo de impressão planográfica, que o ator tcheco Alois Senefelder, lendo suas anotações, retomou em 1796 e equacionou para reproduzir de modo autônomo seus textos dramatúrgicos. Essa pedra, tornada plana e polida, permite a produção e a reprodução de qualquer imagem com base na simples repelência entre água e óleo. A imagem pode ser apagada girando-se a superfície de uma pedra sobre a de outra, com movimentos em oito, e a ajuda de abrasivo e água, até o seu total polimento. A técnica, econômica e fidedigna na reprodução de imagens, a partir daí passa a ter revolucionário uso fabril e a ser conhecida como litografia. Apropriada por artistas, constitui valorizada modalidade de criação e ganha adeptos notáveis. Mais tarde, integrantes do impressionismo refinam a impressão em cores. Com o êxito daquele meio, ainda que bastante artesanal, as jazidas esgotam-se, ao passo que seus princípios evoluem para a produtividade industrial do ofsete, que o supera no início do século XX. Remanesce o uso da litografia como arte.
No Brasil, em 1968, a jovem artista Lotus Lobo, dedicada a essa modalidade, já considera a pedra litográfica em si como protagonista, não apenas como meio de produzir e reproduzir imagens. Passa a trabalhar com a sua materialidade, para além do encargo de matriz, e a explorar a volumetria, o contorno e as irregularidades da superfície, que chega a preterir quando imprime tão só o dorso. Ao ter notícia de que as estamparias litográficas em Juiz de Fora (MG), estão em extinção, vai a esse centro industrial, conhecido como a Manchester mineira. Ali, é atraída pela profusão de imagens gravadas nas superfícies das pedras, que depois são testadas em chapas de zinco e, por fim, estampadas de modo definitivo em folhas de flandres. Um imaginário gráfico refinado, descendente da art nouveau e da art déco, povoa aquelas pedras e chapas e se mescla ao imaginário da cultura popular nacional: figuras e nomes de mulheres, da mitologia universal, da flora e da fauna brasileiras, de etnias indígenas, além de cidades, fazendas, paisagens, astros (com destaque para o Sol), com suas conotações ufanistas republicanas. Acompanham atributos da produção rural mineira, sobretudo a leiteira — “selecionada”, “premiada”,
9
“conservada”, “de puro leite”, “de fabricação esmerada”, “de fabricação escrupulosa”, “de primeiríssima qualidade”, “fabricada com o máximo cuidado”, “fabricada especialmente”, “fabricada e enlatada caprichosamente” —, além de nomes dos fabricantes e siglas das estradas de ferro que escoam os produtos da região pelo país. São ilustrações coloridas e dizeres de fácil associação. As latas, atraentes e lúdicas, funcionam como cartilhas para as crianças, que com elas soletram suas primeiras palavras, fazendo ecoar a origem literária da litografia. Interessante notar as sugestões de reutilização das latas para guarda de mantimentos em etiquetas impressas que descrevem a mesa básica brasileira: Arroz, Feijão, Fubá, Farinha, Café e Açúcar. Acolhida na Estamparia Juiz de Fora, Lotus conhece os criadores das embalagens em atividade, que são responsáveis por consolidar as “marcas registradas” dos produtos que desenvolvem, e passa a reverenciá-los como “mestres litógrafos”: os desenhistas, que concebem as identidades visuais; os transportadores, que cuidam da gravação e da recomposição das imagens; os cromolitógrafos, que asseguram a superposição exata das matrizes de cor; os impressores, ou estampadores; e, por fim, os montadores das latas, que completam o processo. Lotus absorve e experiencia procedimentos complementares aos conhecimentos que tem. No caminho das pedras, encontra as chapas litográficas e as provas para acerto e regis-
tro de cor — as maculaturas —, um acúmulo sugestivo de imagens. A fábrica vai virar ateliê, o ateliê vai virar fábrica. Lotus leva um número significativo desse material para a sua casa-ateliê e mantém íntegras as superfícies das pedras, salvaguardando as imagens. Ao religar os dois polos, arte e indústria, em fabrico pessoal, distante dos modos de produção, faz reviver aquelas figuras pretéritas e preteridas, a cada uso encarnadas em diferente semântica. Em 1969, imprime e apresenta os rótulos como lito-objetos na X Bienal de São Paulo [pp. 114–15], assim como muda de contexto e valor as maculaturas [pp. 18–19] na sua primeira individual em Belo Horizonte em 1970. Ampliando o conceito de impressão e edição, a artista rompe com o princípio da reprodução litográfica e produz gravuras de tiragem única, operando com diferentes tipos de suportes materiais e pressões. Lotus reinventa: é a litografia a contrapelo. A propósito, aqui se deixa à mostra a verdade material e construtiva do galpão que abrigou a antiga Indústria Brasileira de Embalagens (Ibesa), fabricante de tambores metálicos, que hoje dá lugar ao Sesc Pompeia e acolhe com familiaridade a fábrica movente de Lotus Lobo. Nem cronologia nem hierarquia são necessárias ou suficientes, tampouco desejáveis para compreender a evolução e a constante revolução icônico-polifônica do universo que se oferece ao público tal como ele é, um tabuleiro de jogo:
11
EMBALAGEM ABERTA LUDOLITOPEDIA LOTO DE LOTUS TEMADAPEDRAEDALATAMEMÓRIAFABRILFABRICAÇÃOPRÓPRIAINFIXAINCORPORAÇÃO ATELIÊOFICINAFÁBRICALOTUSLITOSLATASSOBREPOSIÇÃOPAPELTRANSPORTEREPETIÇÃO TINTATRANSPORTETINTAESCRITURAPAPELDETODAORDEMBASTÃOLITOGRÁFICOCAMADAS REPRODUÇÃOEDIÇÃOTRANSFORMAÇÃOMUTAÇÃOTRANSMUTAÇÃOMONTAGEMBREU ROLOMATÉRIASGRAXASTALCOZINCOÁCIDONÍTRICOAPROPRIAÇÃOPALAVRASCORFUSÃO COMUTAÇÃOCOMPOSIÇÃOJUSTAPOSIÇÃOACRÍLICOMANUFATURATÉCNICAMAQUINAÇÃO CONDENSAÇÃODECOMPOSIÇÃOREPELÊNCIACARBORUNDUMMETALINGUAGEMTEXTURA GOMAACIDULADAACETATOPAPELÃOPLÁSTICOENTINTAGEMFILETESDESLOCAMENTOS TUSCHEPEDRACALCÁRIABORRACHAASTRALONCONTIGUIDADETINTALITOGRÁFICAÁGUA POLIÉSTERCOLAGEMPAPELJORNALOBLITERAÇÃOCRAYONARTICULAÇÃOASSIMILAÇÃO INVERSÃOREPAGINAÇÃOTRANSFIGURAÇÃOESPELHAMENTOTRANSCRIAÇÃOOBJETOOBRA PONÇADORFRAGMENTAÇÃORECOMBINAÇÃOCONTAMINAÇÃOREORDENAÇÃOACASO AGUADAINTERPOLAÇÃOCRUZETASDEMARCAÇÃOINDICAÇÃODECORESFATURAPRÓPRIA NEGRODEFUMOMARCASDEREGISTROMARCASDECORTEVINHETASARTEFÁBRICA APROPRIARARTICULARCOMUTARCOMPORDECOMPORDECUPARRECOMPORINVENTAR FABULARFABRINCARFABRINCARFABRINCARFABRINCARFABRINCARFABRINCARFABRINCAR ANOTAÇÕESBANQUETEBOBINASDEPAPELEMBRULHOCONSTELAÇÃOFAIXASLITOGRÁFICAS LUGARCORPODATERRATERRITÓRIOSFOLHASDEFLANDRESGABINETESDELEITURALITO-OBJETOS LITOGRAFIASDEDUASFACESMACULATURASMANIFESTAÇÃODOCORPOÀTERRADOCORPOÀFÁBRICA MATRIZESEMPEDRAEZINCOMESASDETRABALHONOTASMARGINAISOBJETOGRAVURAPEDRADESENHO PEDRAFERRUGEMPEDRAMANTIMENTOPEDRAMODELOPILHASDEPAPELÃOPLANTAÇÃOINTERVENÇÃO PRENSAPROVAOBRA
MARCELO DRUMMOND é artista visual e professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
13
18
Maculatura, 1970 Impressão sobre folhas de flandres Conjunto de 37 peças 185 × 630 cm Coleção da artista e coleções particulares
[na parede] Transformação / Mutação / Transformação-Mutação, 1968 / 2021 Políptico Impressão fine art sobre papel Cortesia Galeria Manoel Macedo Arte, Belo Horizonte [em frente] Prensa I e Prensa II, 2019 Pedra litográfica sobre mesa e impressão fine art sobre papel 17,5 × 30 × 24,5 cm e 20 × 30 × 24 cm (pedras litográficas) 80 × 65 × 55 cm (mesas) Coleção da artista
23
26
Detalhes de Prensa II e Prensa I, 2019
Manteiga comum, 2018 Impressão ofsete sobre 23 cartões originários da Estamparia Juiz de Fora (MG) 160 × 71 cm Cortesia Galeria Superfície, São Paulo
30
Sem título, 2018 Pedra litográfica sobre mesa e litografia sobre papel 10 × 33 × 40 cm (pedra) 80 × 65 × 55 cm (mesa) 56 × 47,5 cm (cada litografia) Cortesia Galeria Superfície, São Paulo
35
Sem título, 1970 / 2021 Estamparia Juiz de Fora (MG) Matrizes de zinco e impressão em folhas de flandres Dimensões variáveis Acervo da artista Pilha (E.I.S.), 2018 Flexografia sobre papelão micro-ondulado Altura variável × 55 × 53 cm Coleção da artista
38
Sem título, 1930–60 Estamparia Juiz de Fora (MG) Matrizes de zinco Dimensões variáveis Acervo da artista
43
46
Sem título, 2016 da Estamparia litográfica Litografia sobre embalagens de papelão 153 × 365 cm Cortesia Galeria Superfície, São Paulo
Sem título, 1976 da Estamparia litográfica Litografia sobre plástico 95 × 140 cm Coleção particular, Belo Horizonte
Sem título, 1970 da Estamparia litográfica Litografia sobre plástico 100 × 180 cm Coleção Lili e João Avelar, Belo Horizonte
Sem título, 1970 / 2018 Matrizes e impressões variadas Dimensões variáveis Cortesia Galeria Superfície, São Paulo
55
Sem título, 2016 da Estamparia litográfica Litografia sobre papel de seda para embrulho e sobre papel cartão [última, abaixo e à direita] 70 × 50 cm (cada) Cortesia Galeria Superfície, São Paulo
Pedra matriz litográfica, 1930–60 Estamparia Juiz de Fora (MG) 60 × 44 × 8 cm Acervo da artista
Pedra matriz litográfica, 1930–60 Estamparia Juiz de Fora (MG) 61 × 50 × 8 cm Acervo da artista
63
Pedra matriz litográfica, 1930–60 Estamparia Juiz de Fora (MG) 60 × 51 × 8 cm Acervo da artista
Pedra matriz litográfica, 1930–60 Estamparia Juiz de Fora (MG) 60 × 49 × 9 cm Acervo da artista
67
Noir à monter (Tupy), 1969–2021 Litografia sobre papéis variados Dimensões variáveis Cortesia Galeria Superfície, São Paulo
71
Sem título, 1970 / 2021 Matrizes de zinco, impressões sobre folhas de flandres, plástico e cartão Dimensões variáveis Coleção da artista
75
Condecoração, 1930–60 Estamparia Juiz de Fora (MG) Matrizes de zinco 23,5 × 75,5 cm 23,5 × 75,5 cm 23 × 75,5 cm Acervo da artista
Elite, 2016 Estamparia Juiz de Fora (MG) Matriz de zinco 37,5 × 27,5 cm Coleção Marcos Amaro, Itu (SP)
79
Sem título, 1970 / 2018 Matrizes e impressões variadas Dimensões variáveis Coleção da artista
99
Sem título, 2018 Litografia sobre papéis variados e matriz de pedra litográfica 66,4 × 54 cm (cada litografia) 76,5 × 53 × 5 cm (pedra) Cortesia Galeria Superfície, São Paulo
103
Sem título, 1930–60 Estamparia Juiz de Fora (MG) Embalagens originais em folhas de flandres 75 × 458 cm Acervo da artista
107
110
Sem título, 2016 Litografia sobre papel 40 × 220 cm (cada) Cortesia Galeria Manoel Macedo Arte, Belo Horizonte
ACONTECIMENTOS (1968–70)
X BIENAL DE SÃO PAULO, 1969 Três lito-objetos Litografia sobre poliéster e placas de acrílico montadas em canaletas de alumínio Fábrica de Balas M. Cruz, 3A, 120 × 120 cm (variável até 250 cm) Manteiga Marca “Pião”, 60 × 120 cm (variável até 250 cm) Manteiga Rosa de Ouro, 60 × 120 cm (variável até 250 cm) Em 1969, Lotus realizou trabalhos na Estamparia Juiz de Fora (MG), auxiliada por André Oggero, impressor da fábrica, para participar da X Bienal de São Paulo. Ali desenvolveu os lito-objetos, litografias em placas de acrílico manipuláveis que podiam deslizar em um trilho conforme a vontade do espectador. Por esse trabalho, Lotus recebeu o Prêmio Aquisição Itamaraty. Oitenta por cento dos artistas convidados a integrar a mostra recusaram-se a participar da edição, que ficou conhecida como a “Bienal do Boicote”, em protesto ao Ato Institucional nº 5 decretado pela ditadura civil-militar no ano anterior.
114
DO CORPO À TERRA, 1970 Parque Municipal Américo Renné Giannetti, Belo Horizonte Curadoria Frederico Morais
PLANTAÇÃO Intervenção e ensaio fotográfico A proposta de Lotus Lobo para o evento Do corpo à Terra foi semear grãos de milho no Parque Municipal de Belo Horizonte e ver brotar uma planta inusitada no ambiente urbano. O trabalho não ocorreu como previsto. Com dificuldade em acompanhar de perto o cultivo e sob ameaça de repressão policial, a ação se resumiu ao silencioso gesto de semear, à espera de que a natureza se ocupasse do resto. A intervenção deu origem a este ensaio fotográfico feito pela artista.
116
AÇÕES COLETIVAS NO PARQUE MUNICIPAL E HAPPENING NA AVENIDA AFONSO PENA (BELO HORIZONTE), 1968 Em 1968, Dilton Araújo, Lotus Lobo, Luciano Gusmão e outros artistas frequentadores da Escola Guignard, que funcionava no porão do Palácio das Artes, em obras há tempos paralisadas, saíram pelo Parque Municipal Américo Renné Giannetti, onde aconteciam as aulas de desenho do natural, empunhando bandeiras e bandeirolas do Brasil criadas por Dilton, que as distribuiu entre os participantes junto a colares de umbanda. Num laço de corda pendente entre duas bandas de um estandarte, abertas como boca de cena, o artista encaixou seu pescoço, em alusão ao enforcamento de Tiradentes. A ação tinha outro objetivo, que, embora frustrado, ganhou a adesão de populares, caracterizando o chamado acontecimento: uma provocação, de aparente espontaneidade, tendo em vista a interação com o público.
120
Em 12 de dezembro do mesmo ano, no dia de aniversário da cidade e da abertura do XXIII Salão de Belas Artes da Prefeitura de Belo Horizonte, como forma de protesto, o grupo realizou o primeiro happening da cidade: um banquete, na Avenida Afonso Pena, às 17h30. Em mesa armada no passeio, pão, vinho e dois engradados de refrigerante foram oferecidos aos passantes. Havia velas acesas, bandeirolas do Brasil e notas de dez reais sendo jogadas para o alto. Os presentes estavam em frente à Casa Sloper; ali adquiriram uma bola e improvisaram um jogo de futebol, que paralisou o trânsito local. Vinte galinhas trazidas em uma caminhonete foram depois soltas. Uma delas inclusive foi sacrificada na mesa por um participante, sendo na sequência queimada. No dia seguinte à ação, foi decretado o AI-5.
TERRITÓRIOS, 1969 Obra-processo Ação coletiva realizada nos jardins do Museu de Arte da Pampulha, I Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte Em 1969, Dilton Araújo, Lotus Lobo e Luciano Gusmão propuseram esta intervenção no entorno do Museu de Arte da Pampulha, onde acontecia o I Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte. Máscaras de acrílico, plásticos coloridos, varas de ferro e alumínio polido, processados na casa de Lotus, foram transportados para o jardim, onde lápides feitas com aço e acrílico marcavam espaços específicos: Lugar/Corpo da Terra/Territórios; Lugar/Lugar/Territórios; Lugar/Bólides/Territórios; Lugar/Atalho/Territórios; Lugar/Ponto; Traço/Territórios/Ar; Lugar/Vermelho; Amarelo/Territórios/Azul.
122
No interior do museu, cordas amarradas às pedras direcionavam o espectador até determinada janela, de onde se leria, do alto, a palavra “Territórios”, escrita no lado de fora. Por ter recebido o Prêmio Aquisição, a obra deveria ser recolhida ao acervo terminada a mostra, contrariando a proposta inicial dos artistas de que permanecesse no tempo até que seu material perecível fosse consumido. O grupo então guardou-a em um caixote, que passou a existir como objeto museológico, enquanto, no jardim, marcas na grama e uma “sequência de estados-imagens” (fotografias) atestavam a retirada forçada do trabalho. Especula-se que o caixote tenha sido jogado nas águas da represa da Pampulha.
Lotus Lobo, Luciano Gusmão e Dilton Araújo preparam o caixote em que a obra foi armazenada para ser posteriormente integrada à coleção do Museu de Arte da Pampulha
127
Carta de Lotus Lobo, Luciano Gusmão e Dilton Araújo Belo Horizonte, 8 de fevereiro de 1970 Acervo Arquivo Público da cidade de Belo Horizonte – APCBH
130
Carta de Dilton Araújo para Márcio Sampaio Diamantina, 5 de março de 1976 Original datilografado – Acervo Márcio Sampaio
132
133
Arte = vida: Natureza e participação na obra de Lotus Lobo CAMILA BECHELANY Imaginemos a cena. 12 de dezembro de 1968, 17h30, Avenida Afonso Pena, hipercentro de Belo Horizonte, diante de uma famosa loja de artigos femininos, na calçada, há uma grande mesa preparada para uma refeição coletiva: toalha de pano, vinho e pão. Os transeuntes se aproximam. Uma pequena multidão se forma. De repente, sobre a mesa, surgem várias galinhas brancas, que, assustadas, correm de um lado para o outro. A euforia toma conta dos presentes. Um deles mata uma galinha torcendo seu pescoço e o sangue escorre ali mesmo, enquanto palavras de ordem são proferidas. Chega a polícia! Os passantes-participantes correm e o cenário é desmontado. Assim foi o primeiro happening realizado por Dilton Araújo, Lotus Lobo e Luciano Gusmão, grupo autodenominado “equipe” [p. 120]. O happening foi algo inesperado, uma cena impactante e uma ação transgressora para o momento. Tratava-se de um protesto contra o funcionamento do XXIII Salão Municipal de Belas Artes: 12 de dezembro, aniversário da cidade, às 17h30. À época, o sentimento de insatisfação com as instituições brasileiras era comum entre muitos artistas, pois se notava um descompasso entre os salões e a natureza da criação contemporânea. Caso paradigmático, no Salão da Bússola (MAM Rio, 1969), artistas submeteram suas propostas à categoria “etc.”, não sendo possível descrever as formas de expressão que praticavam – happening ou arte ambiental, por exemplo – como pintura, desenho ou escultura, entre outras. Logo após o golpe civil-militar, entre 1965 e 1968, houve uma crescente reavaliação estética e ideológica do ideário dos anos 1950 e a ascensão de uma arte jovem, que aderia a temas como subdesenvolvimento e cultura de massa.1 A radicalização dos discursos artísticos manifestava um alerta
1 Artur Freitas, Arte de guerrilha: vanguarda e conceitualismo no Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.
134
contra a censura. A demanda por democratização e pela maior abertura das instituições se fazia constante e a distinção entre “arte culta” e “arte menor” já não cabia. Nesse contexto, os happenings eram uma forma de se comunicar com um público não especializado, tendo a cidade como suporte, e, por fim, de reaproximar arte e vida. Ao mesmo tempo, porém, a repressão recrudescia, como testemunham o fechamento da II Bienal Nacional de Artes Plásticas em Salvador e da Pré-Bienal de Paris no MAM Rio pelas forças de Estado. Em Belo Horizonte, bem como em outras capitais, as proposições para ações coletivas e participativas fora dos espaços institucionais eram cada vez mais frequentes. O Parque Municipal passou a ser o lugar de predileção da “equipe”, pois além de estar localizado no centro da cidade e recepcionar um público diverso, havia a natureza, elemento essencial nos processos de criação do grupo. Em paralelo, no MAM Rio, tinha início o projeto experimental Domingos da criação, proposto pelo crítico Frederico Morais, importante interlocutor desses artistas. A iniciativa, da qual a “equipe” também participou, tinha o objetivo de suprimir as fronteiras entre criador e espectador ao realizar oficinas de criação livre e coletiva nos espaços externos do museu. Em Territórios (Salão Municipal, 1969, pp. 122–31), concebida pelo grupo para os jardins do Museu de Arte da Pampulha, a conexão com a natureza era o ponto de partida. Entre placas de alumínio polido que refletiam a luz, e placas de acrílico colorido colocadas sobre a grama, era possível se deslocar e observar a paisagem do entorno. Sobre a concepção do trabalho, Gusmão conta: O tempo todo a minha colocação básica era que a natureza passasse a ser figura e o objeto colocado nos jardins se tornasse o fundo. Houve uma inversão de valores nessa proposição figura/fundo que consistia no grande debate da própria tela, do próprio quadro. Então a natureza passava a ser o personagem principal, e os objetos, o quadro.2
A crítica estava em questionar o lugar destinado à arte e tensionar os limites da institucionalização da obra. O edital previa que, terminada a mostra, o trabalho deveria ser integrado ao acervo do museu, ao contrário da proposta inicial dos artistas segundo a qual ele se desintegraria na paisagem. A instituição não enten-
2 Depoimento de Luciano Gusmão. In. Marília Andrés Ribeiro, Neovanguardas: Belo Horizonte, anos 60. Belo Horizonte: C/Arte, 1997, p. 226.
135
dia a obra como “ambiente”3 ou efêmera; seria necessário, portanto, um objeto físico. Como solução, o grupo fabricou uma caixa de madeira onde todo o material foi armazenado e lacrado – espécie de enterro da obra [pp. 126–29] –, o que transformava o museu em um grande cemitério de obras inertes. A mensagem parecia ser que, sem o contato com a vida e sem participação, a arte não fazia sentido. Paralelamente, Lotus desenvolvia seu trabalho em litografia, e criava novas formas de apresentação para as gravuras: passando do suporte bidimensional para o tridimensional. Em Faixa litográfica (Salão Municipal, 1969), a gravura, sem moldura e fixada pela parte superior, não mais contra a parede, podia ser vista de todos os ângulos; além de imagem, ela se tornava instalação, mudando radicalmente o vínculo com o espectador. Na sequência, Lotus realiza os lito-objetos para a X Bienal de São Paulo (1969, pp. 114–15). Com eles, reafirma a abertura para a participação do espectador e extrapola mais uma vez a experimentação dos suportes: Eu havia pensado em fazer objetos que pudessem ser manipulados. Então, o arquiteto José Roberto Ferreira fez o desenho de como poderiam ser esses objetos. Eu poderia abrir e fechar placas de acrílico em trilhos superpostos, mostrando imagens, ou então desmembrar essas partes com essas impressões soltas, ou fechar. Corria tudo num trilho; fiz três objetos em acrílico e papéis transparentes também, poliéster e outros, que pudessem ser vistos assim, soltos, ultrapassados pela luz.4
Além de móveis, Faixa litográfica e os lito-objetos eram transparentes, o que permitia diferentes sobreposições e camadas de cor, com novas imagens a cada manipulação. Tais trabalhos testemunham grande habilidade criativa da artista, que, a partir de uma orientação para a arte participativa, propõe soluções totalmente novas para um meio tradicional. • Desde Opinião 65 (MAM Rio, 1965), a atuação de jovens artistas passou a ser mais regular em mostras institucionais, e as iniciativas auto-organizadas eram as mais radicais, a exemplo da Rex Gallery & Sons (SP, 1966) e da Nova objetividade brasileira (MAM Rio, 1967). Foi nesse contexto e a partir de diálogos em torno de Territórios que Frederico Morais elabo3 O termo “instalação” não era ainda utilizado; em seu lugar, falava-se em “ambiente” ou “apropriação”. 4 Entrevista de Lotus Lobo realizada por Gabriela Moulin e Marcelo Drummond. Revista BDMG Cultural, 21 fev. 2020. Disponível em: <https://bdmgcultural.mg.gov.br/artigos/ lotuslobo/>.
136
rou a manifestação Do corpo à Terra (BH, 1970), que hoje representa um divisor de águas para as experiências pautadas pela desmaterialização do objeto e pela intervenção da arte no tecido urbano. Segundo relato de Lotus,5 sua proposição para a mostra com Plantação [pp. 116–19] era a de realizar uma plantação de milho no interior do parque para que artista e público acompanhassem todo o ciclo de crescimento, da brotação à frutificação. A ação foi interrompida pela polícia e se resumiu, naquela altura, à sua primeira fase: a semeadura. No entanto, Lotus realizou um ensaio fotográfico, que pode ser entendido como um desdobramento da obra. No ensaio, vemos as linhas paralelas da plantação como desenhos sobre o solo, bem como a paisagem vegetal misturar-se à paisagem urbana. São registros de grande potência poética em que as marcas da criação humana – desenhos e cidade – compõem o quadro em conjunto com a natureza. Para a artista, o cultivo do milho significava não somente uma conexão direta com a terra e com a fertilidade que ela representa, mas uma prática cotidiana. O plantio como manifestação artística representou um gesto de intervenção no espaço público dotado do desejo de criar, simbólica e factualmente, uma fonte comum de alimento. Na obra, identificamos elementos que marcaram a revolução operada na arte contemporânea brasileira da segunda metade da década de 1960, com novas formas de criação que ultrapassavam os meios tradicionais de exposição e de produção artística individualizada. Em Plantação-intervenção,6 a cidade é entendida como suporte e parte integrante da obra; a ação do tempo é um dado fundante da concepção do trabalho, assim como a ênfase no processo e não no resultado formal; além de, mais uma vez, o público ser convidado a acompanhar e a cuidar. Por fim, é sobretudo neste trabalho que identificamos as motivações de uma artista para quem a arte sempre esteve conectada à vida, de modo intrínseco, e somente assim ela poderá ser entendida. CAMILA BECHELANY é pesquisadora, curadora e crítica de arte com foco em arte e sociedade.
5 Conversa da autora com a artista realizada por telefone em 28 jun. 2021. 6 Desde 2020, a obra vem sendo revisitada por Lotus. Sobre o assunto, ver catálogo da mostra O ventre da terra (São Paulo: Galeria Superfície, 2021).
137
Marca Litográfica LUCIANO GUSMÃO
Uma velha técnica de impressão, como a litografia, pode vir a ser uma nova técnica de imagem? O caráter de novidade de uma técnica não se verifica apenas no confronto com técnicas tradicionais: no contexto do consumo (artístico ou não). A novidade é uma questão de estrutura, um modo previsível de arranjar as coisas. Lotus apropria: o contexto dessa apropriação é a litografia industrial mineira entre 1920 e 1950. Apropria-se de marcas-embalagens de manteiga, banha, queijo para pequenos produtores, pequenos consumos, das margens do São Francisco à Zona da Mata. É toda uma geografia que se reestrutura, mapa de palavras-cidades, os caminhos do ferro, as várzeas, os bois: São Miguel de Guanhães, Almenara, Arassuaí, Patos de Minas, Cordisburgo, Januária, Dôres do Indaiá. Trabalhando na visualidade dos produtos, as marcas exploram o repertório de cultura dos consumidores, em busca de motivações: nomes de mulheres (Célia, Zina, Nhanhã, Ivone, Madalena, Marilene), de deusas (Minervina, Vênus, Artemisa), de pássaros (andorinha, gaivota branca, caturrita, avestruz, macuco), de lugares, nomes inventados (palpite, pedra azul, pinheirinha, donzela, flôr da Bahia), nomes de homenagem. As imagens descrevem paisagens de outros lugares, templos gregos, paisagens de folhinha. A obsolescência gráfica dessas marcas é cuidadosamente preservada e individualizada: preenchimento artesanal das áreas, traço, formato e composição das molduras. Lotus reelabora a imagem desnudando seu processo de fabricação: descobre o paradoxo de uma imagem artesanal proposta para ser produzida em série, segundo um modelo industrial. Esse paradoxo passa a informar o seu próprio trabalho: ao reproduzir mais uma vez, ela reproduz mais de uma vez, intensificando a expressividade, a dimensão emocional deste artesanato. A multiplicação, a inversão,
138
o desdobramento em transparência na profundidade, a superposição, traduzem para um novo contexto visual essas imagens perdidas no tempo e no espaço: e o que se recupera, na tradução, é a dimensão histórica de uma economia em processo de desgaste, de uma técnica de reprodução ultrapassada. Daí a função conotativa da cor: três embalagens de balas, por exemplo, recebem um colorido sensorial, calcado sobre três sabores: morango, laranja, limão; ou Rosa de Ouro. Manteiga, que é mórbida e cafona, em amarelo-ouro, vermelho-sangue e preto. E o que poderia não passar de um tema extravagante, ou saudosista, assume a dimensão de uma metalinguagem: Lotus opera um ato criativo de modo renovadamente crítico com relação aos signos, situações, lugares e objetos repertoriados; com relação à cultura de que eles participam; com relação à própria litografia industrial de que ela se serve para comentar essa cultura. LUCIANO DAMAZIO DE GUSMÃO (Belo Horizonte, 1943–2003), formado em física, foi artista, crítico de arte, professor e consultor na Diretoria de Planejamento e Desenvolvimento da UFMG (DIPLAN). Foi mentor intelectual do grupo formado por ele, Dilton Araújo e Lotus Lobo, com quem realizou uma série de trabalhos. Este texto foi publicado originalmente por ocasião da primeira individual de Lotus Lobo na Galeria Guignard (Belo Horizonte, 1970), e também consta nos catálogos das mostras Marca registrada (Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2006) e Da Estamparia litográfica – Lotus Lobo (Caixa Cultural, Brasília, 2018).
139
Identidades, identidade CHICO HOMEM DE MELO Lotus Lobo, uma obra movediça. Apropriação, intervenção, palimpsesto. Arte e design, indústria e comércio. Erudito e popular, assinatura e anonimato. Sincronia entre passado e presente. A fábrica juiz-forana produzia embalagens. De ponta a ponta, dominava o processo. Concepção, desenvolvimento, fabricação. Entregava embalagens, entregava mercadorias. Sem alarde, também entregava cultura. Embalagens e públicos em conexão. Desenhistas debruçados sobre as pranchetas. Ofícios exercidos com maestria. Canetas, pincéis, réguas, compassos, esquadros, tintas. Mãos em movimento. Um olhar voltado à cultura erudita. Outro voltado às ruas, às casas, às pessoas. Códigos visuais ancorados em múltiplas referências. O trato com as necessidades e com as expectativas. Códigos entrelaçados a produtos, a usos, a sonhos. Na compra da manteiga, desejos estão em jogo. Ou do biscoito, da banha, do fumo. Os artífices conheciam segredos. Linguagem gráfica e contexto cultural alinhados. Tensionando limites entre modelos e singularidades.
140
Sóis, raios, estrelas, listras, ornamentos, fauna e flora. Do cotidiano à mitologia. De Elzas e Cidinhas a Dianas Caçadoras e Tupãs. Vibrações cromáticas, tons metalizados. Mobilização de repertórios visuais e verbais insuspeitos. E letras, muitas, desenhadas uma a uma. Palavras dinamizadas que se acumulam, ocupam espaços. Massas de letras gerando formas imprevistas. Palavras para além do significado, palavras-desenho. Densidade tipográfica, textos em expansão. Lotus Lobo toma posse desse universo por meio das mãos. E o reinventa. A litografia tem peso. É preciso mais do que as mãos, é preciso acionar o corpo. A reinvenção exige envolvimento total. Por vezes, o simples deslocamento produz linguagem. Saltos acrobáticos do circuito comercial para o artístico. Há casos em que a subtração faz nascer novas imagens. Há outros em que o imprevisto surge da adição. Sempre, a multiplicação como força-motriz do trabalho. Novas identidades brotam de identidades preexistentes. A artista debruça-se sobre a bancada. Mangas arregaçadas, mãos e corpo em movimento, inteira. Desse labor forja uma identidade nova que lhe é própria. Lotus Lobo, obra única na história da arte brasileira. CHICO HOMEM DE MELO é designer e pesquisador do design gráfico brasileiro.
141
Lotus Lobo: Fabricação própria MÁRCIO SAMPAIO
Há um propósito claro na criação da identidade da arte de Lotus Lobo com o lugar que ora acolhe suas obras. Nomear esta exposição Fabricação própria determina uma leitura imediata de um modo de produção que restaura a história do lugar ao mesmo tempo que concede às obras de Lotus o status de produto, sendo que elas nascem do que foi construção de imagens e de mensagens a respeito de produtos de consumo doméstico. É um modo de estabelecer conexões de ideias que se imbricam na convergência de todo um processo criativo que compôs a história do espaço arquitetônico e o que se depreende das antigas imagens recuperadas e transcriadas pela artista. A astúcia criativa, o atrevimento linabobardiano que pirraça os padrões sérios da metrópole, faz com que o re-encantamento afetivo das edificações de Pompeia tenha sido operado e aberto para a fruição da leveza em uma cidade tão embrenhada no pragmatismo e empenhada em viver o ser concreto. Tanto o Sesc Pompeia quanto a obra de Lotus Lobo pertencem ao espaço da história que carrega, de maneiras distintas, o lastro da fabricação própria. Levantam, ao seu modo, este trato social e cultural que amplia o sentido do fazer, da busca da qualidade identificada diretamente na origem do produto, e, mais ainda, entrecruza sua relação com demandas culturais e de consumo. Da antiga fábrica de tambores instalada em 1945, que operava em boa escala de produção para demandas específicas, restam os registros e exemplares encontrados em forma de imagens e objeto testemunhal, em algum lugar de abrigo, a manter o significado de todo um processo de transformação. Esse processo, por sua vez, remete à faina do trabalhador, ao labor operário e à fixação de um padrão de produção de eficiência e qualidade que ainda hoje caracteriza a cidade.
142
Ao impulsionar, por força de boa conspiração, a conexão dessas duas identidades históricas promovidas por Lina Bo Bardi e Lotus Lobo, a provocação da inteligência curatorial resulta em convite à reflexão e à recriação de sentidos das duas obras diversas, mas ambas em situação de atualidade artística. É uma forma de estabelecer a leitura de processos de rememoração do que se tornou História, e, portanto, passível de ser o lastro de lembranças de fatos e coisas atravessando o tempo por um gesto mais ou menos singular que busca ter significado para o presente. A História conecta com simplicidade e cumplicidade os espaços que alimentam o desejo de preservar a identidade da arte, bem como sua capacidade nutritiva que fortalece nossa atribuição humana. Acionada para a afirmação no presente – e talvez no futuro –, a carga de conhecimento, a inteligência criativa e a construção pelo trabalho de uma nova signosiologia (Arthur-Feinnes), em última instância, remetem ao drama existencial que hoje nos toca. Fábrica de tambores carrega o sentido de antiga indústria e mantém o registro mental de outra fabricação de produtos identificados com um nome geral, que, para nossa língua, pode significar uma e outra coisa. (E esse mesmo produto original será também aquele que em festejos populares terá sido percutido, com o poder de provocação e convocação para a festa ou para a luta.)
LOTUS LOBO: PRIMEIRÍSSIMA QUALIDADE Por sua vez, a obra artística de Lotus Lobo, a tomar esse lugar modernizado por Lina Bo Bardi como lugar da arte e do lazer criativo, constrói seu texto sobrepondo-lhe uma nova narrativa pessoal e independente. Mesmo assim, ou justamente por isso, autoriza e convoca a um desregrado comportamento poético, pelo qual o que se dá nome de exposição surpreende com um fio refinado de humor, um produto acabado que desaba no presente com uma singular projeção no jeito de traduzir em arte a arte desfeita, mas que se manteve à vista por seus numerosos produtos a que deu identidade. Distribuídas em nichos temáticos, aptos ao diálogo entre si e com seu lugar de acolhimento, as peças de Lotus Lobo respondem a uma poética da imprecisão. O roteiro é surpreendente pela intensidade e variedade de imagens e por propor uma leitura múltipla, de desdobramentos expressivos, constituindo também precioso aporte sociológico. Desde a década de 1960, Lotus desenvolve conjuntos de trabalhos cada vez mais apreciáveis. Exibe uma linha de raciocínio original que toca, sob diversas perspectivas, o específico da linguagem e das técnicas da litografia. Ao mesmo tempo, inventa um “estado artístico” com o qual
143
imprime beleza, ora pavimentada pela inteligência (re)construtiva, ora revelada pela constituição de territórios de “mistérios sensíveis”, feitos com matéria da História, da memória e das percepções da realidade. É com essa constatação que Lotus, após o aprendizado com João Quaglia e Antônio Grosso, inicia a construção de sua obra mais pessoal. De início a artista fixa sua atenção à fisicalidade de seu instrumental: a pedra litográfica com o que ela tem de peculiar, como mediadora da imagem a ser impressa no papel. Mas, para além do domínio da técnica e em consequência do reconhecimento da linguagem específica da gravura, ela abre a questão da forma; e de imediato concentra-se no estabelecimento de uma composição que traduza ou transcreva a “imagem”, a forma da pedra como uma realidade carregada de interesse expressivo. Processo de raciocínio metalinguístico que conduzirá, por algum tempo, as investigações e invenções da artista. Há um ponto de convergência de duas tendências: o território específico da comunicação, no qual a propaganda para as massas e o refinamento virtuosístico do design gráfico estariam a serviço das superestruturas da propaganda ideológica e de consumo, apoiados nos instrumentos de mídia então emergentes; e a produção de um repertório de imagens, eivado de outra substância aportada no tônus poético, uma nova formulação que abriga os sentimentos e a afetividade. Lotus Lobo cria as logotipias poéticas com a impressão de formas modulares intercambiáveis, gravadas em negro intenso; grandes signos que conduzem a uma percepção de algo além da fronteira da realidade imediata, embora a referencie, na qualidade de indicadores de coisas outras a serem inventadas e postas no circuito do consumo. Essas peças inauguram um procedimento artístico no qual Lotus persistirá, com algumas variantes estruturais e conceituais, e lhe dão, no correr dos anos, maior notoriedade e reconhecimento. Suas investigações de técnicas e possibilidades expressivas da litografia levaram-na a buscar conhecimento em todos os campos de estudo possíveis. Nas antigas estamparias, experimenta possibilidades técnico-expressivas que lhe despertam o interesse por esse campo da produção litográfica de cunho comercial, já provocado em seus contatos com as pedras da oficina litográfica da Imprensa Oficial, em Belo Horizonte, onde havia descoberto e recuperado gravações preciosas de rótulos, documentos oficiais, diplomas, bilhetes de loteria e apólices. O contato mais direto com a Estamparia Juiz de Fora revelou-lhe um universo fascinante, povoado de imagens que registravam uma cultura muito peculiar: a da produção artesanal e semi-industrial nascente ao final do século XIX e desenvolvida no início do século seguinte. Centenas de pedras e chapas de flandres guardadas no limbo de um depósito, por
144
terem sido superadas por novas técnicas de impressão, como o ofsete, mantinham intactas essas imagens, ainda impregnadas daquele sentido original – sua função de fixar a identidade de uma fábrica, a marca de seus produtos, em especial laticínios, cachaças, fumos e doces. Criados com esmero por desenhistas litógrafos trazidos da Europa e por artistas locais, esses desenhos revelavam, já à primeira vista, uma força expressiva subjacente, provinda de uma conexão do sentido original, que naturalmente se abria para o olhar moderno. As imagens, bastante familiares por se tratar de rótulos de produtos, muitos dos quais ainda circulavam na região, traziam agregado um sentido mais amplo de atualidade, absolutamente convincente. O contato com esse acervo despertaria de imediato o interesse da artista, por constituir-se perfeita tradução de um gosto que se achava arraigado no seu inconsciente, identificado como resíduo de nossa cultura afetiva. Além disso, uma nova técnica iria se abrir para a artista. A atividade na Estamparia exigia atitudes mais objetivas por se tratar de uma produção com função e endereço definidos – comunicar por meio de associações de imagem e texto a atividade da fábrica, com capacidade de convencimento da qualidade do produto: a cultura visual mineira do final do século XIX assimilando a cultura europeia mais influente, mas fazendo adaptações, uma deglutição antropofágica oswaldiana. Ao transgredir a lógica racionalista, a produção geraria deliciosas articulações, às vezes fantasiosas, senão fantásticas e surreais, porém muito apropriadas como veículo de comunicação dos produtos para um público consumidor. Festa de imagens híbridas, adaptações singelas, um singular, saboroso e caprichoso disain caipira. • Com as condições que lhe foram oferecidas para trabalhar com esse acervo, Lotus iniciou uma longa série de impressões. Recuperou imagens e as redefiniu por mudança de registros de cor, por corte, fragmentação, desdobramento, inversão, subtração, rearticulação, integrando-as no espaço moderno. Ora acentuando determinada imagem ou detalhe dela, ora promovendo intervenções até torná-las abstratas, ou criando campos pulsantes nos quais floresceriam fragmentos de textos e imagens, a artista transpôs os limites da funcionalidade da litografia comercial ao imprimir essas imagens em papel, em chapas transparentes de plástico e acrílico, sobrepostas e aptas ao movimento, impressas em toda a extensão de uma bobina de papel, que é desenrolada, recortada e levada pelo público. As imagens ganham assim novas dimensões expressivas, algo do dadaísmo e da pop art, como procedimento e conceito, incorporados ao
145
que restava, nas folhas impressas, de testemunho de uma história. Mesmo perturbadas em sua inteireza original, elas não perderiam seu caráter que se tornou moderno e se recarregou de expressão poética. O trabalho de Lotus com essas matrizes antigas se desdobraria, mais tarde, no processo de apropriação de maculaturas, chapas de flandres utilizadas para acerto de registro de cores, nas quais eram superpostas várias impressões [pp. 18–19]. Essas chapas, rearticuladas, às vezes dobradas a fim de se obter tridimensionalidade, são apresentadas como objetos. A experiência com os rótulos e com as maculaturas da Estamparia iria mais longe. O interesse e a constatação da importância desses documentos que haviam sobrevivido à modernização dos recursos de impressão levaram a artista a reimprimir e a registrar todas as matrizes encontradas, além de recuperar várias delas para a preservação de sua integridade documental e artística. Décadas de trabalho árduo, levado pela confiança e certeza de sua relevância cultural. Lotus produziu álbuns nos quais sobrepôs rótulos impressos em folhas transparentes, fez desdobramentos de uma mesma matriz, decompôs informações de maneira a criar um novo “discurso publicitário” de produtos que já não são aqueles originais, mas novas composições de coisas poéticas retiradas dos anúncios das singelas fábricas artesanais. E nesse processo de alteração e manipulação das imagens destituídas de sua função original, a artista inventa então outros produtos destinados tão somente à apreciação estética. Em suas experiências posteriores – como professora da Escola de Belas Artes da UFMG e da Escola Guignard, na criação e direção da Casa Litográfica, em Belo Horizonte, e da Casa de Gravura Largo do Ó, na cidade de Tiradentes –, Lotus manteria o interesse pela preservação das matrizes antigas: a artista cria álbuns com pranchas desses registros, promove exposições, edita textos em catálogos e, finalmente, elabora projetos com o intuito de desdobrar e aprofundar suas pesquisas, registrá-las e publicá-las. A par do interesse específico da recuperação e manipulação de antigas imagens litográficas, até hoje mantido, Lotus Lobo evoluiu sua criação para outro campo, de certa maneira derivado das experiências mais radicais com o tratamento abstratizante das imagens provindas dos rótulos. Em dado momento, já não eram mais identificáveis aquelas imagens antes apropriadas, e a artista começa a promover um novo tipo de intervenção na pedra litográfica. Sua pesquisa radical com a impressão policromática propiciou-lhe aprofundar uma experiência em que a cor se tornaria o princípio e o fim mesmo da expressão. O domínio da policromia, acentuado com novas técnicas experimentadas ao curso da fase anterior, dotou a artista de um instrumental precioso com que iria inaugurar uma nova etapa de sua obra. A cor impregnando o papel com refinada sensibilidade faz vibrar o espaço em silêncio. A cor e sua poética, fragmentando-se para depois se
146
recompor, sobrepondo-se fluida, transparente. Esse movimento alimenta outras esferas de emoção e abre comportas da memória; evocativa, desperta para antigas experiências. E é ainda com a prevalência da cor que Lotus volta à figura, não naturalista, nem explícita. Ao refinar sua figuração, compõe preciosas alusões aos elementos vivos de seu jardim. Não é com a linha, mas com a cor que a artista recria o espaço mágico no qual a natureza respira, palpita.
TEMPO EXTRA: UM JOGO DE IMAGENS Os primeiros artistas litógrafos atuantes nas estamparias de Minas Gerais, quase todos formados nas academias europeias, utilizavam como fonte de inspiração o repertório visual com que estavam acostumados a lidar, adaptando-o ao universo mineiro, bem ao gosto da classe consumidora ainda embebida do ideal utópico e focada nas imaginadas belezas do Velho Mundo. É assim que as embalagens surgem com imagens de paisagens alpinas, adornadas com guirlandas de gosto rococó, entrelaçando ramos de frutas e flores, compondo-se com os nomes caprichosamente desenhados [pp. 106–07]. Já avançando nas primeiras décadas do século XX, a onda nacionalista influencia os artistas e promove mudanças estruturais, além de atualizar suas linguagens na criação de novas figurações identificadas com a natureza e o espaço brasileiros. A leveza do rococó e do neoclássico cederia lugar ao art déco mais vigoroso. Os artistas foram assumindo como positiva a presença da paisagem de Minas, bem como de figuras idealizadas de nossa gente, como os indígenas, criando marcas com nomes de mulheres, provavelmente esposas ou filhas dos fabricantes. Seria o modo de legitimar o novo conceito do nacional e de qualificar de maneira mais natural a identidade dos produtos mineiros. As cartelas de grande diversidade temática que compõem o conjunto das imagens restauradas e reativadas por Lotus Lobo possibilitam diferentes leituras, um convite ao jogo de ideias que a própria artista trata de realizar por diversos procedimentos táticos, como desmembramento, ampliação ou redução de elementos, até a completa abstração. É divertido, por nossa vez, jogar com essas diferentes figurações, imaginando as nossas próprias narrativas para um tempo que emerge com leveza e humor do campo de sombras da memória cultural e social de Minas Gerais. MÁRCIO SAMPAIO é escritor, professor, crítico de arte e artista visual.
147
cronologia por JANAINA MELO
ENTRADA TRIUNFAL Primeira nota – O ano é 1957; um grupo de transeuntes é capturado num momento feliz e descontraído. A cidade é Juiz de Fora (MG). Um dos jovens carrega uma mala; outra, uma pequena maleta, sinalizando que alguém chega ou está de partida. Pela fisionomia do grupo, trata-se de uma celebração de chegada. A artista havia acabado de completar 14 anos. À época, segundo seus pais, já era hora de realizar sua primeira viagem sozinha, importante momento de aprendizagem para observar os caminhos e as oportunidades do encontro. Lotus poderia escolher entre São Paulo, Rio de Janeiro ou Juiz de Fora, onde residiam parentes. A artista escolhe Juiz de Fora para estar com seus primos – Celina, Nívea, Décio e Paulo Bracher. O que está vivo tende a se juntar, e Lotus se une à experiência coletiva da cidade. Confiante no porvir, escreve no verso da fotografia/recordação: “Entrada triunfal em Juiz de Fora”. Segunda nota – Lotus Amanda Maria Lobo nasceu em Belo Horizonte, em 1º de abril de 1943, filha de Waldomiro Agostinho Lobo e
150
Eugênia Bracher Lobo. Conhecido como Chico Fulô, seu pai foi artista popular, compositor e cantor, trabalhou no circo como ilusionista e foi animador de programas de auditório nas rádios Guarani e Inconfidência. Mais tarde, ingressou na política. Eugênia, cantora lírica e pianista, foi concertista e professora da Escola de Música da UFMG. Artistas viajantes, percorreram países da América Latina em apresentações e imersões de pesquisa. O espírito investigador, aventureiro e artístico imantou a casa e os filhos do senhor Fulô. O avô materno, Frederico Bracher, era violinista, maestro e tipógrafo; proprietário de uma papelaria, na qual, no balcão de atendimento, Lotus costumava auxiliá-lo enquanto ele trabalhava na tipografia nos fundos. Frederico Bracher Jr., o tio Lico, era pintor; com ele, Lotus tem suas primeiras lições artísticas. Tio e avô exerceram importante papel em sua formação – os cheiros do ateliê, da oficina, das tintas óleo e gráficas; o papel, a tela e as prensas.
[p. 148] Pais de Lotus Lobo, Waldomiro e Eugênia, e seu irmão Luís, Viaduto do Chá, São Paulo, 1942. Acervo da artista Lotus com seus primos Celina, Nívea, Décio e Paulo Bracher, em Juiz de Fora (MG), 1957 Acervo da artista
“A influência familiar acontece e, Frederico Bracher com os filhos às vezes, até ocultamente. em sua tipografia, Belo Horizonte, Quando se é jovem nem sempre década de 1920. Acervo da artista
percebe-se a intensidade artística de um pai ou de uma mãe, mas a influência da casa, os livros, a conversa, as produções artísticas, tudo começa a fazer parte de nossas vidas sem termos consciência.”1
de desenho, com Maria Helena Andrés, e de xilogravura, com Yara Tupynambá. “Infelizmente não conheci Guignard, pois ele estava afastado da escola […]. A ausência de Guignard fez com que seus alunos se dedi cassem ao ensino.”
Nas aulas de pintura e desenho com tio Lico também estavam seus primos-pintores Décio, Nívea e Carlos. O fazer coletivo de obserÉ na Escola Guignard que Lotus encontra pela primeira vez um var, pesquisar, desenhar, pintar e ateliê litográfico. Nas pedras, percorrer as cidades mineiras de Juiz de Fora, Tiradentes e São João doadas pela Imprensa Oficial del-Rei são acontecimentos estrutu- (MG), registros do antigo ofício: mapas, diplomas, faturas comerrantes de sua trajetória. Estudante do curso normal do ciais, bilhetes de loteria, entre Instituto de Educação (BH), no outras imagens. início da década de 1960, Lotus começa a frequentar as sessões de “Foi um acontecimento extraorcinema e debate do Centro de dinário. Uma porta que estava Estudos Cinematográficos (CEC), fechada um dia abriu-se e nela que promovia exibições, debates e havia um rapaz; passei e olhei, grupos de pesquisa sobre a produ- lá dentro, no meio da penumção cinematográfica brasileira e bra, vi duas prensas e prateleiinternacional. Em 1961, troca sua ras maravilhosas de pedras festa de formatura por uma viagem litográficas.” para a VI Bienal de São Paulo. Naquele espaço-ateliê, Natalício, Em 1962, começa a frequentar a aprendiz da Imprensa Oficial, Escola Guignard, localizada em auxiliava os estudantes e artistas no um edifício em obras do Parque manuseio e nos experimentos da Municipal, que mais tarde daria impressão litográfica. Além de lugar ao Palácio das Artes (BH). A jovem artista deixa as aulas com Lotus, frequentavam o ateliê Vicente Abreu, Cleber Gouveia e Yara seu tio pintor e inicia seus estudos Tupynambá. 1 Esta e as demais aspas em destaque são de Lotus Lobo em entrevista publicada no livro da Coleção Circuito Atelier (Belo Horizonte: C/Arte, 2001), exceto quando indicado de outra maneira.
152
UM FAZER ESSENCIALMENTE COLETIVO
Escola Guignard, convidada por Yara Tupynambá, como professora de litografia, cargo que exerce até 1993, sendo responsável pela formação de gerações de artistas. No início de seus trabalhos, Lotus realiza litografias que representam barcos e pescadores, desenhos que depois são simplificados com experimentos de abstração. Desde o início, no entanto, é a pedra que chama a sua atenção.
Em 1963, Lotus participa do curso de pintura mural oferecido por Inimá de Paula, na Escola Guignard. Nesse mesmo ano, realiza nova viagem de estudos com seus primos Carlos, Décio e Nívea para São João del-Rei. O grupo descobre que na cidade morava João Quaglia, pintor, desenhista, gravador, ilustrador e professor, que mantinha um ateliê de litografia, onde Lotus decide passar uma “Minha primeira atração foi pela temporada. Inicia-se uma parceria pedra litográfica, sua forma e e amizade duradouras. Ainda em matéria. Fiquei completamente 1963, convida Quaglia para envolvida. Desenhar em sua ministrar um curso de litografia na superfície foi um desafio. Guignard, o que inaugura essa A pedra é dura, tem volume e prática artística em Minas Gerais. mistério. Eu não senti vontade É lá que conhece Klara Kaiser e de desenhar nada, queria outros estudantes e artistas que representar a própria pedra. passam a frequentar o ateliê. Sua presença inspirava-me O fazer essencialmente colerespeito e história de um tempo muito antigo.” tivo produz o ambiente favorável para a criação, em 1964, do Os refugos, contaminações entre Grupo Oficina, constituído por imagens e memória, mobilizam Eduardo Guimarães, Frei David Ruigt, Klara Kaiser, Paulo Laender, Lotus a desenvolver uma atuação Roberto Vieira e Lúcio Weick. Com que transborda o fazer artístico, campo que se expande e fricciona a compra de uma prensa e de pedras litográficas da Metagráfica a investigação, o ato de colecioMineira, o grupo aluga uma casa nar/preservar/restaurar as matrique se tornou espaço de produção zes das pedras e pesquisar suas de gravuras, recepção de cursos imagens, marcas, registros e e encontros com artistas e críticos processos. A produção da artista convidados. Em 1965, Lotus expõe não se desvincula da pesquisa com o grupo na Galeria Grupiara sobre os sistemas de criação, (BH), participa da mostra coletiva produção industrial, circulação, Jovens gravadores (Galeria ICBEU, consumo e uso. O cuidado, o RJ) e conclui sua graduação em respeito e o encantamento pela artes plásticas. Em 1966 retorna à produção dos mestres são o
153
Grupo Oficina. Na foto, Lotus, Cristina Mata Machado, Paulo Laender, Klara Kaiser, Lucio Weick e Nívea Bracher em Belo Horizonte, 1964. Acervo da artista Lotus Lobo na oficina de litografia da Escola Guignard, Belo Horizonte, década de 1960. Acervo da artista
repositório fundamental do universo de imagens litográficas de seu fazer, e a acompanham ao longo de sua trajetória. Em 1965, Marco Antônio Menezes havia traduzido Atos sem palavras, de Samuel Beckett, e convidou o Grupo Oficina, entre outros, para realizar uma mostra coletiva no hall do Teatro Marília (mais tarde, Galeria Guignard) com obras que dialogassem com a peça. Lá, a pedra litográfica de Lotus aparece, pela primeira vez, impressa em toda a sua forma e relevo com o tríptico Transformação/Mutação/Transformação-Mutação; ela não aparece tematizada, mas ecoa em uma espécie de fecundação que reitera um ponto de vista próprio, poroso e atento. Entre 1966–68, tem início sua participação em mostras coletivas e salões: Desenhistas e gravadores de Minas Gerais (Reitoria da UFMG); Exposição do Museu de Gravura (Palácio das Artes; Segundo Prêmio e Prêmio Aquisição nas XXI e XXII edições do Salão Nacional de Belas Artes, Museu de Arte da Pampulha). Com trabalhos da série Transformação/ Mutação [pp. 22–23], no ano de 1968, participa das mostras Gravura contemporânea internacional (Galeria Encontro, Brasília), Três aspectos del grabado contemporáneo brasileño (exposição itinerante pela América Latina) e A gravura nacional (Museu Nacional de Belas Artes – MnBA, RJ).
Ainda na década de 1960, Lotus dá continuidade aos estudos e realiza diversos cursos: história da arte (Frederico Morais, 1964), composição artística (Fayga Ostrower, 1966), didática (Ângela Resende, 1968), estética (Luciano Gusmão, 1968) e gravura em metal (José Lima, 1968). Em 1968, estagia em oficina de impressão de gravuras originais com Otávio Pereira e Antônio Grosso (Gráfica Planus, RJ). “Esse período foi bastante enriquecedor, não somente pelas novas técnicas que conheci, mas principalmente pelo contato que tive com gravuras originais de artistas norte-americanos.”
A MARCA LITOGRÁFICA Ao lado de Klara Kaiser, Nívea Bracher e Roberto Vieira, em 1967 Lotus Lobo visita a IX Bienal de São Paulo acompanhada de Luciano Gusmão, que tecia comentários críticos e históricos a respeito das obras, e conhecia os trabalhos de artistas internacionais e brasileiros de linguagem pop. Após a visita, tem início uma parceria profícua entre Lotus e os também artistas Luciano Gusmão e Dilton Araújo, e o trio passa a se reunir regularmente na garagem da casa de Lotus. Em 1968, realizam seu primeiro happening coletivo, que ocorreu durante o fluxo intenso na calçada da Avenida Afonso Pena,
155
ao fim do horário comercial, e interferiu no trajeto dos transeuntes anônimos que por lá passavam e se juntavam para comer, beber e levar os animais. A ação foi interrompida pela polícia, que não conseguiu identificar os artistas, misturados à multidão [pp. 120–21]. No ano seguinte, o grupo desenvolve o projeto Territórios para o Salão da Bússola (MAM Rio), que propunha intervenções nos espaços externos do museu. Impossibilitados de efetivá-la no jardim, os artistas tentam montar a intervenção em um trecho da praia próximo ao museu, porém as condições do vento não favorecem sua realização. Inicia-se, a partir daí, uma importante interlocução com o crítico Frederico Morais. No I Salão Nacional de Arte Contemporânea (Museu de Arte da Pampulha – MAP, BH) – à época, o antigo Salão Nacional havia passado por uma transformação conceitual conduzida pelo crítico e artista Márcio Sampaio –, a obra coletiva é mais uma vez apresentada, além de um trabalho individual que consistia em faixas de plástico transparente impressas a partir de rótulos industriais (ambos levam o Prêmio Aquisição, pp. 122–31). Territórios redefine a paisagem do museu. Ocorria ali a diluição entre o dentro e o fora, bem como o convite ao público a uma experiência integral com os espaços – jardim, luz, percurso e tempo eram reorganizados em territórios experimentais.
156
“O que imaginamos na época é que alguém dentro do museu, fazendo uma visita à exposição, iria encontrar uma pedra com cordas amarradas que desciam pela janela […]. Foi essa a proposta. Imaginamos alguns lugares em torno do MAP e criamos nomes simbólicos: lugar-lugar, lugar-traço, corpo da terra, atalho… Colocamos lonas coloridas, plástico, cordas, hastes de ferro e também acrílicos com uma bolha em que a pessoa poderia andar com ela, passear em volta do Museu para ver a paisagem de cor vermelha, amarela, azul, verde.”2 Territórios foi o último trabalho realizado pelo grupo, mas a interlocução entre os artistas continuou. Na sequência, as investigações de Lotus se direcionaram para as pesquisas e a apropriação de antigos rótulos da litografia industrial. Tanto as pedras litográficas da Escola Guignard quanto aquelas que Lotus adquiriu com o Grupo Oficina, e para o seu próprio ateliê, chegavam carregadas de imagens relacionadas a seus antigos usos. Ao apropriar-se das marcas-embalagens produzidas por artistas e designers da primeira metade do século XX, situadas num ciclo de produção e con-
Lotus Lobo realizando os trabalhos para a Pré-Bienal de Paris, 1969 Acervo da artista
2 Entrevista de Lotus Lobo realizada por Gabriela Moulin e Marcelo Drummond. Revista BDMG Cultural, op. cit.
Telegrama que anuncia o Prêmio Aquisição do I Salão de Arte Contemporânea de Belo Horizonte, 1969. Acervo da artista
Notas nos jornais Estado de Minas [acima] e Diário de Minas [abaixo] sobre o happening de 1968, na Avenida Afonso Pena, Belo Horizonte [pp. 120–21] Acervo da Hemeroteca do Estado de Minas Gerais Litografia em exposição na Galeria Guignard, Belo Horizonte, 1970 Acervo da artista
sumo local das regiões entre o rio São Francisco e a Zona da Mata mineira, cujo repertório iconográfico visitava tanto os trópicos quanto as paisagens idílicas de montanhas, casas e costumes do norte, sua produção da década de 1970 se debruça sobre o ciclo de produção litográfica industrial. No período, a artista se mantém atenta à preservação da história e da memória do conjunto ao mesmo tempo em que se compromete com uma investigação que flexiona o recuperar e o desaparecer, um estado de conversação com os traços e imagens anteriores, agora revisitados em novas gravuras que articulam um trânsito de significações de um nível de realidade para outro. Dobras contemporâneas de um mundo em extinção. Em 1969, Lotus é convidada a participar da Pré-Bienal de Paris e produzir obras na Estamparia Juiz de Fora – Indústrias Reunidas Fagundes Netto [pp. 156–57]. Se até então seus trabalhos eram essencialmente em preto e branco, o contato com a fábrica, com seus artífices e designers, inaugura sua relação com as cores. As matrizes de pedra e zinco, bem como as tintas gráficas de todas as cores usadas para a composição das marcas industriais, oferecem inúmeras possibilidades de investigação. Lotus não foi escolhida para participar da Bienal, mas a recepção de suas gravuras e os comentários positivos por parte da
crítica impulsionaram seu mergulho no universo da litografia industrial. No mesmo ano, participa da X Bienal de São Paulo (Prêmio Itamaraty) e retorna à Estamparia Juiz de Fora para realizar impressões em grandes placas de acrílico e construir três lito-objetos manipuláveis pelo público [pp. 114–15]. Em 1970, realiza sua primeira mostra individual na Galeria Guignard (BH), onde apresenta, além de todas as experiências desenvolvidas até ali, as Maculaturas, apropriações de folhas de flandres usadas diversas vezes no processo de impressão para o ajuste das máquinas [pp. 18–19]. Ainda em 1970, participa da mostra O processo evolutivo da arte em Minas (org. Mari’Stella Tristão, Palácio das Artes) e do evento Do corpo à Terra, coordenado por Frederico Morais, que ocupou o Palácio das Artes e se estendeu nos arredores do Parque Municipal até a Serra do Curral e os ribeirões de Belo Horizonte. Nesse evento, a proposta de observação, cuidado e desaceleração do tempo de cultivo de milho numa área do parque acaba por não se concluir [pp. 116–19]. A planta, nativa do continente americano, usada nos rituais de celebração e base de alimento das civilizações originárias e do homem do campo, constitui vínculo e identidade – com a roça, a terra, a mãe. O ano de 1970 é marcado, por fim, por duas premiações concedi-
159
das pelo VI Salão de Arte Contemporânea de Campinas (SP) e pelo Salão Nacional da Aliança Francesa (BH). O último concede à artista uma bolsa de estudos na École d’Arts Plastiques et Science d’Art da Universidade Paris 1 (seu mémoire sobre a arte na França pós-1945 em semiologia e história da arte é orientado pelo professor Jean Laude). Em 1972, Lotus Lobo retorna ao Brasil e continua suas investigações em torno dos rótulos industriais. Agora, porém, ela os apresenta em novo formato, o de álbuns: gravura à altura da mão, que significou um retorno ao papel e à pesquisa da memória e do inventário da gravura industrial. No período, participa da 8ª Bienal Internacional da Gravura (Tóquio) e da mostra Arte/ Brasil/Hoje – 50 anos depois (curadoria de Roberto Pontual, MAM Rio). Em 1974, dedica-se ao planejamento e à montagem do ateliê de litografia da Escola de Belas Artes da UFMG, onde leciona por um ano. Mais uma vez com os álbuns, a artista participa de Arte Agora I (MAM Rio, 1976; Prêmio de Aquisição). Cotação realizada pelo Conselho de arte do Jornal do Brasil, indicando os artistas mais relevantes da representação brasileira na X Bienal de São Paulo, 1969. Acervo da artista Recibos de inscrição para a X Bienal de São Paulo, 1969 Acervo da artista
ARQUIVO, MEMÓRIA: A GRAVURA INDUSTRIAL E O ATELIÊ COLETIVO DE GRAVURA Durante a década de 1970 participa das mostras: Panorama da arte atual (MAM-SP, 1971); Artistas mineiros 60/70 (org. Pierre Santos, V Festival de Inverno da UFMG, Palácio das Artes, 1971); Mostra da Gravura Brasileira (XII Bienal Internacional de São Paulo, 1974); Um ponto qualquer entre alfa e ômega e A paisagem mineira (curadoria de Márcio Sampaio, Palácio das Artes, 1977 e 1978); Grabados brasileños de Minas Gerais (Salon de Arte CANTV, Caracas, Venezuela, 1978); Gravadores mineiros (Galeria Homero Massena, Vitória, 1978); II Mostra Anual de Gravura (Curitiba, 1979); Lotus Lobo e Antônio Grosso (Galeria Angelus, Teatro da Paz, Belém do Pará, 1979); Litografia brasileira (curadoria da Casa Litográfica e participação do grupo Oficina Guaianases de Olinda e da Escola de Artes Visuais do Rio de Janeiro, 1979). Como professora, ministra cursos de litografia no X Festival de Inverno da UFMG (1976) e na Casa Litográfica, com Antônio Grosso (1977). Em 1976, o trabalho de resgate da memória dos rótulos industriais desdobra-se em uma parceria com Sônia Labouriau e Ângelo Marzzano, alunos da Escola Guignard. Entre 1976–78, o grupo desenvolve o projeto O design de
161
rótulos litográficos de estamparia mineira, patrocinado pelo Centro Nacional de Referência Cultural de Brasília, com a realização de impressões de originais, entrevistas com artistas, designers e mestres da gravura industrial, além de gravações do ambiente de trabalho da fábrica e seus trabalhadores e trabalhadoras. Ao lado de Thais Helt, George Helt e Marina Nazareth, em 1978, Lotus Lobo inaugura a Casa Litográfica (BH), que propõe uma nova experiência de produção coletiva em torno da litografia. A Casa funciona até 1982. No fim dos anos 1970, o trabalho da artista passa por novas reflexões, o que culmina na série Anotações, apresentada em sua segunda exposição individual na Galeria Gravura Brasileira (RJ, 1979), na sala especial do IV Salão Nello Nuno, no VI Salão Global de Inverno (Palácio das Artes), na II Bienal Ibero-Americana de Arte e em Desenho e Gravura (Instituto Cultural Domecq, Cidade do México, 1980). Aos poucos, as informações contidas nas antigas matrizes cedem espaço a novas construções abstratas. Na V Bienal del Grabado (San Juan, Porto Rico, 1981), a artista realiza as Maculaturas de papel (Grande Prêmio). Assim como nas maculaturas do início dos anos 1970, em que os papéis eram usados no processo de impressão litográfica e na produção das embalagens da indústria como camas para ajustes de cor e
162
imagem, no trabalho da fábrica a reutilização promove um acúmulo e uma sobreposição de imagens “oferecendo fértil inquietude ao misterioso fenômeno da aparição das imagens”.3 No mesmo ano, participa da mostra itinerante Destaques Hilton de Gravura (1981). Na apresentação do catálogo homônimo, Márcio Sampaio aponta para a importância da cor, que atua como um acontecimento nas gravuras da artista.4 Entre 1981–83, Lotus é premiada no IV Salão de Artes Plásticas do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais e integra as mostras I Encontro de Gravadores Nacionais (Penápolis, SP) e Six Artists From Minas Gerais (Dixon Gallery, Londres).
TIRADENTES E A CASA DE GRAVURA LARGO DO Ó Em 1984, incentivados por Yves Alves, Lotus Lobo, Fernando da Rocha Pitta e Maria José Boaventura inauguram uma nova experiência de ateliê coletivo, um espaço de pesquisa, formação e 3 Renata Marquez, “Lotus Lobo e os territórios desmemoriados”. Lotus Lobo – Território gravado. São Paulo: Galeria Superfície, 2019. Disponível em: <http:// www.galeriasuperficie.com.br/app/ uploads/2020/04/territorio-gravadocatalogo-digital.pdf>. 4 Márcio Sampaio, “Lotus Lobo – A cor e a sua poética”. Destaques Hilton de gravura. Mostra itinerante, 1981.
Lotus na Casa Litográfica, Belo Horizonte, 1979 Acervo da artista Pereira e Malta, impressores da Casa de Gravura Largo do Ó, Tiradentes (MG), 1988. Acervo da artista Fernando da Rocha Pitta, Yves Alves, Maria José Boaventura e Lotus. Casa de Gravura Largo do Ó, Tiradentes (MG), 1988 Acervo da artista
criação: a Casa de Gravura Largo do Ó (1984–90, Tiradentes, MG), para a qual Yves adquire pedras e prensas litográficas no Rio de Janeiro e em Juiz de Fora (Indústrias Reunidas Fagundes Netto). O grupo então propõe à secretaria estadual de Cultura o projeto Memória da Litografia em Minas Gerais. Coordenado por Lotus, a ação viabiliza o restauro do acervo de pedras com imagens de rótulos industriais, bem como a publicação de doze álbuns com gravuras originais distribuídos às escolas de arte, museus e bibliotecas de Belo Horizonte. A terceira etapa, que não se efetivou, previa a realização de uma mostra itinerante sobre a litografia industrial e a publicação de um livro. Na Casa, Lotus também orientava artistas e desenvolvia seu trabalho pessoal, que naquele momento refletia a cidade, suas luzes, suas pedras e a serra São José. Mais uma vez ao lado de Fernando da Rocha Pitta e Boaventura, realiza a curadoria de 25 anos de litografia de arte em Minas Gerais (Espaço Cultural Bernardo Mascarenhas, Juiz de Fora, e Palácio das Artes, BH, 1986). Em 1988, é curadora da mostra Memória da litografia em Minas Gerais. Parceria entre a Casa de Gravura e o Museu Mineiro, a exposição contemplou a memória da litografia industrial de Juiz de Fora e de Belo Horizonte, e contou com texto de Márcio Sampaio.
164
Com o intuito de promover a gravura nacional no exterior, Lotus organiza uma série de encontros. Entre eles: a conferência sobre a produção brasileira no St. John’s College da Universidade do Novo México (Santa Fé, EUA, 1986) e a mostra Brazilian Contemporary Prints (galerias do St. John’s, 1986, e Tate Student Center, Universidade da Georgia, 1987). À época residente em Tiradentes, Lotus realiza cursos de litografia em chapas de alumínio com Rosângela Ferreira (1984), recebe o Prêmio Aquisição pela IV Mostra Panamericana de Gravura (Curitiba, 1984) e integra as mostras A gravura brasileira (curadoria de Oficina Goeldi, DCE da UFMG, 1984); Casa de Gravura Largo do Ó e Oficina Guaianases: dois núcleos de litografia brasileira (Espaço Cultura, Cemig, BH, 1986); 9ª Bienal Internacional de Gravura (Bradford, Inglaterra, 1986); Gravuras do Largo do Ó (Galeria da Embaixada da França, 1987) e Aspectos da litografia (curadoria de Antônio Grosso, Sala Carlos Oswald, MnBA, RJ, 1987).
O RETORNO A BELO HORIZONTE E À ESCOLA GUIGNARD Em 1990, após o encerramento das atividades da Casa de Gravura Largo do Ó, Lotus Lobo retorna a Belo Horizonte e reassume o cargo de professora de litografia da Escola Guignard.
“Minha atuação como professora foi uma das atividades mais gratificantes que exerci. O trabalho na oficina de litografia propicia uma proximidade com os alunos, pois existe uma cooperação mútua necessária para o desenvolvimento da técnica.”
dos Contos, Ouro Preto, MG); retrospectiva do Fernando Pedro Escritório de Arte (Museu Mineiro); Imagem derivada – Um olhar acerca da gravura hoje (coord. Mabe Bethônico e Marconi Drummond, Palácio das Artes, 1995); Formação da arte contemporânea em Belo Horizonte (curadoria de Marília Andrés Ribeiro, MAP, vinculada ao projeto Um século de história das artes plásticas em Belo Horizonte, 1997); Pensar gráfico: a gravura da linguagem (curadoria de Rubem Grilo, Paço Imperial, RJ, 1998); Centro Cultural UFMG – 10 anos (curadoria de Fernando Pedro e Marília Andrés Ribeiro, Centro Cultural UFMG, 1999).
Entre os mestres de ofício, alunas e alunos com quem Lotus trabalhou ao longo dos anos, num fazer coletivo e compartilhado, alguns deles desenvolveram trabalho artístico próprio com a litografia. A década de 1990 é marcada pelo desenvolvimento de um trabalho mais intimista da artista. Em 1994, realiza a sua terceira individual, com gravuras e aquare- CONSTELAÇÕES DE LOTUS LOBO las do período (Fernando Pedro Escritório de Arte, BH, 1994). A partir de 1998, envolve-se em um Participa, ainda, das coletivas: novo projeto de preservação e Ícones da utopia (curadoria de conservação da memória da José Alberto Nemer, Palácio das litografia industrial: Litografia Artes, 1992); Núcleo de litografia industrial em Minas Gerais, coorda Guignard (Centro Cultural denado pelo professor José Márcio UFMG, 1993); A formação da de Barros, da Guignard, em que contemporaneidade 1960–1980 organiza o acervo de pedras (curadoria de Walter Zanini, Bienal litográficas e o ateliê da escola. Brasil Século XX, Pavilhão da Em 2000, desenvolve projeto de Bienal, SP, 1994); Tinta litográfica: pesquisa, catalogação e registro produção e aplicação (Centro da coleção de desenhos originais de Cultural UFMG, Atelier Livre da rótulos de bebidas litografados de prefeitura de Porto Alegre e hall da Guilherme Rüdiger (1930–40) e de reitoria da UFSC, Florianópolis); outros litógrafos que trabalharam Guignard – 50 anos de uma escola como desenhistas na União Indusde arte (Galeria Vidyã, BH); trial em Juiz de Fora. A investigaOs Bracher (Sala Affonso Ávila, ção, que resultou na criação do site Mariana, MG); Identidade virtual Litorotulos (hoje fora do ar) desen(curadoria de Paulo Schmidt, Casa volvido em parceria com Liliane e
165
Santana Dardot, Augusto Magno e Gustavo Timponi, desvela seu trabalho como pesquisadora e guardiã da memória de um ambiente por vezes invisível / anônimo da produção industrial de artistas e artífices, os quais, bem como as imagens, corriam o risco de desaparecer. Ainda no ano 2000, seus trabalhos são apresentados nas exposições Arts Brasilis (curadoria de Paulo Schmidt, Galeria de Arte do Minas Tênis Clube, BH) e Investigações: a gravura brasileira (Itaú Cultural, SP). Em 2001, participa de Do corpo à Terra. Um marco radical na arte brasileira (Itaú Cultural, BH), mostra organizada por Frederico Morais para celebrar os 30 anos da realização do primeiro evento. No mesmo ano, publica o Livro-depoimento Lotus Lobo, parte integrante da Coleção Circuito Atelier, e realiza uma individual na galeria da Escola Guignard. Entre 2004–09 participa de: Gravura (Léo Bahia Arte Contemporânea, BH, 2003); Perfil de uma coleção – Coleção Randolfo Rocha (Centro Cultural Usiminas, Ipatinga, MG, 2004); Anos 70 – Arte como questão (curadoria de Glória Ferreira, Instituto Tomie Ohtake, SP, 2007); Entre Salões – Museu de Arte da Pampulha (curadoria de Marconi Drummond, 2009). Em 2005, Lotus inicia uma profícua parceria de trabalho e amizade com Guilherme Machado, com quem desenvolve uma série de projetos, sendo o primeiro deles a
166
individual Marca registrada (Palácio das Artes), que apresenta pesquisas da artista no campo expandido da litografia, trabalhos desenvolvidos no ateliê, parte de sua coleção de pedras litográficas, além de documentação que relaciona a história de Lotus com a litografia. “Marca registrada foi um nome pensado com muito cuidado porque se relaciona com todo o universo da litografia – a marca industrial de produtos e a marca do ateliê de gravura onde o trabalho do artista é impresso, porque toda litografia tem que ter um registro da sua construção –, e na exposição fiquei muito feliz, porque foi meu filho que fez o catálogo e o convite a partir de uma pequena pedra que eu gostava muito. Essa foi a minha primeira parceria com Guilherme; trabalhamos um ano, entre 2005–06 para criar o projeto. Foi importante porque apresentamos muitas pedras que tinham formas que estavam relacionadas com o meu trabalho, e o espaço de consulta no final da exposição, junto à parede de vidro que se abre para o parque, o ambiente era como um convite para sentar, contemplar a natureza, enquanto consultava documentos.”5
5 Depoimento da artista para a autora em jul. 2021.
Lotus Lobo em processo de montagem da exposição Constellação, Galeria Manoel Macedo Arte, Belo Horizonte, 2016 Exposição Litografia Lotus Lobo, Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube, Belo Horizonte, 2018
Marca registrada se relaciona com o ofício da litografia e reuniu o trabalho autoral que não estava diretamente relacionado à litografia industrial, mas ao acervo de matrizes que Lotus construiu por mais de cinco décadas – um repositório da litografia, uma litoteca, além de cinco pedras dispostas ao lado da forma utilizada nos trabalhos apresentados na exposição, permitindo o acesso ao fazer da artista. Em 2007, realiza nova mostra individual na Casa de Cultura Professor Wilson Chaves (Nova Lima, MG) e participa das coletivas Gravura em campo expandido (Pinacoteca do Estado de São Paulo), Minas território da arte (Palácio das Artes, 2014) e Guignard e a paisagem mineira: o antes e o depois (curadoria de Priscila Freire, Centro Cultural Minas Tênis Clube, 2017). Em 2014, Lotus busca parte de sua coleção de pedras que permanecia em Juiz de Fora sob a guarda de sua prima Nívea, e, ao lado de Guilherme Machado, propõe um projeto de pesquisa e conservação que resulta na produção do DVD da Estamparia litográfica (apresentação de Liliane Dardot; acervo de 120 pedras remanescentes da Estamparia Juiz de Fora restauradas e catalogadas e impressões sobre papel das imagens de matrizes em zinco) e da exposição de sua coleção de pedras e matrizes litográficas – desenhos de antigas marcas de manteiga, balas, biscoitos, fumo, banha embalados
168
em folhas de flandres –, ambos lançados em 2015 no galpão da Galeria Manoel Macedo Arte (BH). A pesquisa sobre a memória e a história da litografia constitui processo no qual a artista encontra-se envolvida até hoje. Neste ponto, é necessário ressaltar que, a partir de diferentes investigações da gravura e de formas de atuação cariada (arquivista, pesquisadora, colecionadora, curadora, professora, criadora e estudiosa), Lotus Lobo cria um campo orgânico e dinâmico, feito e refeito na relação entre pessoas e fazeres, e se reserva o direito de modificar a tradição e incorporar novos elementos, ao mesmo tempo em que mantém um profundo respeito com os rastros, refugos e memórias relacionados às imagens preexistentes com as quais trabalha. No ano de 2016, Manoel Macedo a convida para realizar a individual Constellação, nome advindo da marca de manteiga cujo rótulo integra a coleção da artista. “Para mim, fazer uma exposição é como lançar um livro e, ao virar a página, coisas novas acontecem; em Constellação desenvolvi um diálogo com as maculaturas achadas na fábrica na década de 1970, só que agora com impressões minhas, desenhos que produzi como uma embalagem aberta, uma abstração da lata a partir de seu corpo e tampa.”
A partir de 2017, novas individuais: Lotus Lobo (Galeria Mendes Wood, SP, 2017), da Estamparia Litográfica Lotus Lobo (Caixa Cultural Brasília, 2018) e Lithograph Lotus Lobo (curadoria de Guilherme Machado, Marcelo Drummond, Márcia Rennó e texto de Márcio Sampaio, Centro Cultural Minas Tênis Clube, 2018). A última apresenta o filme Solnhofengermany Limestone Quarry & Use of Limestone in Lithography, que registra o processo de extração da pedra litográfica pelos trabalhadores daquela mina. Também leva ao público as Maculaturas (década de 1970-atuais), parte da coleção de matrizes litográficas de pedra e zinco e embalagens originais de folhas de flandres. Na Galeria Superfície (SP), realiza a individual Território gravado – Lotus Lobo (curadoria de Marcelo Drummond e texto de Renata Marquez, 2019) e participa das coletivas Obras recentes (2020) e O ventre da terra (2021). Nesta última, realizada durante a pandemia de Covid-19, uma plantação de milho é cultivada na galeria ao mesmo tempo em que a artista se dedica ao cultivo e ao registro da planta em sua casa (BH), resultando em um arquivo de mais de 900 imagens. No seio dessa trajetória-processo: a pedra, a indústria, a criação, a circulação e o uso e o reuso das imagens e da cultura do alimento. A operação com infinitas possibilidades reaparece em suas
pesquisas mais recentes. Em diálogo para a elaboração desta cronologia, que também revisita e restaura um encontro entre pesquisadora e artista, Lotus conta sobre uma pedra que, diferente dos rótulos antigos ou de qualquer outra, tem uma imagem que lhe intriga, que com quase 80 anos segue suas pesquisas e reconhece as mesmas marcas em pedras litográficas de outros ateliês mundo afora. A forma circular comum, intui Lotus, relaciona-se com ferramentas e bases usadas no processo de extração e manejo das pedras ainda na pedreira, cujo tempo geológico reporta a mais de 100 milhões de anos. Ao polir a pedra e entrar em contato com imagens reminiscentes de gestos anteriores ao seu, Lotus estabelece relações entre todos esses tempos. O movimento circular de polir a pedra no preparo da matriz é, portanto, um testemunho da aderência desses tempos – zona de contato suficientemente porosa que impele todos a um estado de contínua conversação. Entre outubro de 2021 e janeiro de 2022 aconteceu uma individual da artista na cidade de São Paulo, esta Fabricação própria, com curadoria de Marcelo Drummond, e recepcionada pelo Sesc Pompeia. JANAINA MELO atua como gestora e educadora em museus, curadora e pesquisadora nos campos da arte, educação e cultura.
169
LEGENDAS DOS PLANOS DETALHES PP. 6, 8, 10, 12 Frames do documentário Lotus Lobo 1. Realização: Pablo Lobato e Solange Pessoa. Video, um canal, cor, stereo, 16:9, HD, Brasil Imagem, som e montagem: Pablo Lobato Desenho de som: Raphael Lupo Correção de cor: João Gabriel Riveres Finalização: Giordano Lima P. 17 Sem título, 1930–60. Estamparia Juiz de Fora (MG). Embalagem original em folha de flandres, aprox. 30 × 70 cm. Acervo da artista PP. 20–21, 24–25, 32–33, 52–53, 60–61, 64–65, 100–01, 104–05 Maculatura, 1970 [ver obra em pp. 18–19] PP. 28–29 Sem título, 1970. Litografia sobre papel. Coleção da artista PP. 36–37 Sem título, 1970 / 2021 [ver obra na p. 39] PP. 40–41 Pedra matriz litográfica, 1930–60. Estamparia Juiz de Fora (MG). 55 × 45 × 6 cm. Acervo da artista PP. 44–45, 48–49, 80, 97, 108–09 Sem título, 1930–60. Embalagem original em folha de flandres. Estamparia Juiz de Fora (MG) PP. 56–57, 68–69 Sem título, 1930–60. Estamparia Juiz de Fora (MG). Matriz de zinco. Dimensões variáveis. Acervo da artista PP. 72–73 Sem título, 1976. Da Estamparia litográfica. Litografia sobre papel e poliéster. 40 × 75 cm. Coleção da artista PP. 76–77 Sem título, 1970 / 2021 [ver obra em pp. 74–75] P. 112 Sem título, 2018. Litografia sobre papel. 66,4 × 54 cm. Coleção da artista P. 113 Lito-objeto (Fábrica de balas M. Cruz, 3A), 1969. Litografia sobre poliéster e placas de acrílico montadas em caneletas de alumínio. 120 × 120 cm (variável até 250 cm)
170
PP. 81–96 NOTAS MARGINAIS foi especialmente concebida pela artista para esta exposição e impressa a uma cor em papel Ivory Slim 58g/m2. Para sua composição foram utilizadas informações técnicas localizadas às margens das matrizes litográficas em pedra e zinco, integrantes do acervo da artista. São marcações de cores e outras orientações técnicas registradas pelos desenhistas litógrafos, e dirigidas ao processo de impressão e acabamento das embalagens de folha de flandres fabricadas na Estamparia Juiz de Fora (MG).
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS PP. 6, 8, 10, 12 Pablo Lobato e Solange Pessoa PP. 14–16 Pedro Motta PP. 17–29, 31‒37, 39‒80, 97‒112, 166‒67 Lucas Galeno PP. 113, 117‒25 Lotus Lobo PP. 114‒15 Koiti Mori PP. 126‒29, 131 Maurício Andrés PP. 148, 151, 154 Autor desconhecido PP. 156‒57 Luciano Gusmão P. 158 Celio Meira P. 163 George Helt e Carlos Bracher PP. 172‒76 Ângelo Marzano
FICHA TÉCNICA SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional ABRAM SZAJMAN Diretor do Departamento Regional DANILO SANTOS DE MIRANDA Superintendentes Técnico-social JOEL NAIMAYER PADULA Comunicação social IVAN GIANNINI Administração LUIZ DEOCLÉCIO M. GALINA Assessoria técnica e de planejamento SÉRGIO JOSÉ BATTISTELLI Gerentes Artes visuais e tecnologia JULIANA BRAGA DE MATTOS Estudos e desenvolvimento MARTA RAQUEL COLABONE Artes gráficas HÉLCIO MAGALHÃES Sesc Digital FERNANDO AMODEO TUACEK Sesc Pompeia MONICA CARNIETO
Lotus Lobo dedica a exposição Fabricação própria ao filho João e ao neto Miguel.
LOTUS LOBO – FABRICAÇÃO PRÓPRIA Curadoria MARCELO DRUMMOND Equipe Sesc ALCIMAR FRAZÃO, ANDRÉ APARECIDO DA CONCEIÇÃO, ANDRÉ LEITE COELHO, BÁRBARA IARA HUGO, BARBARA RODRIGUES, CARLOS ALBERTO DA ROCHA, CAROLINA BARMELL, DANTE MIKAEL, DIH LEMOS, DORA FELICIANO TEIXEIRA, ERICA DIAS, GABRIELA BORSOI, GUILHERME BARRETO, JOÃO PAULO GUADANUCCI, JOSÉ RENATO ALEGRETI DIAS, KARINA MUSUMECI, MARCEL VERRUMO, MAURO MARÇAL, NILVA LUZ, PABLO PEREZ, PAULO DELGADO, RAFAEL DELLA GATTA SOARES, RAQUEL LOPES PY, ROGÉRIO RODRIGUES, SÉRGIO PINTO, SILVIO BASILIO, SUELLEN BARBOSA, THAYS CABETTE, WILLIAM GALVÃO E YURI CUMER Assistente de curadoria HORTÊNCIA ABREU Coordenação de produção ELETRA SERVIÇOS CULTURAIS – GUILHERME MACHADO E MÁRCIA RENÓ Coordenação de projeto N+1 ARTE CULTURA – TÊRA QUEIROZ Produção FABIANA FARIAS Assistente de produção LUCAS ZAMAIA Projeto expográfico HELENA CAVALHEIRO Assistente de projeto expográfico RAQUEL ANDRADE Projeto luminotécnico GRISSEL PIGUILLEN E CAMILA JORDÃO Identidade visual e projeto gráfico ELAINE RAMOS, FLÁVIA CASTANHEIRA E JULIA PACCOLA Produção gráfica MARINA AMBRASAS Textos CAMILA BECHELANY, CHICO HOMEM DE MELO, JANAINA MELO, LUCIANO GUSMÃO, MARCELO DRUMMOND E MÁRCIO SAMPAIO Audiovisual MIT ARTE – PATRICIA MESQUITA
Projeto multimídia VOLTZ DESIGN Videodocumentário LOTUS LOBO 1 PABLO LOBATO, SOLANGE PESSOA Equipe de montagem MAURICIO ROSSI, RICARDO PEREIRA, RONALDO BRÁZ E ROSINHA MINHA CANÔA – SILVIO DE CAMILLIS E ZAGATTI Coordenação da ação educativa PIÑA CULTURA – DANIELA AVELAR Equipe educativa ALICE YURA, FELIPE BITTENCOURT, KELLY DOS SANTOS SOUZA, MARIANA VALICENTE MOREIRA, MAY AGONTINME, SELMA MARIA BARRETO, THALES MARRETI ROSA E TIAGO LUZ Coordenação editorial ELOAH PINA E JULIANA BITELLI Digitalização e tratamento de imagem ARTMOSPHERE FINE ART Registro fotográfico ÂNGELO MARZANO, LUCAS GALENO, PEDRO MOTTA E SOLANGE PESSOA Ensaio fotográfico e Registro cinelitográfico ÂNGELO MARZANO Montagem do vídeo Registro cinelitográfico CAMILA MATOS Vetorização de imagens ANTONIO VINÍCIUS CARDOSO SANTOS Conservação e restauração ALICE GONTIJO, ÂNGELA FREITAS, DULCINEIA DA PAZ ROCHA, KÁTIA SALVO E RAQUEL TEIXEIRA Assistentes de ateliê AFRÂNIO PRADO, ALEXANDRE DA SILVA COSTA, FERNANDA COIMBRA E OSWALDO PEREIRA DIAS Editoria web SIMÕES NETO Assessoria de imprensa A4 & HOLOFOTE COMUNICAÇÃO Agradecimentos ATELIÊ ESPAI, JOÃO DE SOUZA LEITE, ARQUIVO CENTRAL DO IPHAN / BIBLIOTECA ALOISIO MAGALHÃES, RONA EDITORA E TODOS OS COLECIONADORES / EMPRESTADORES
171
Ensaio fotográfico, 1978 por Ângelo Marzano Estamparia Juiz de Fora (MG) Acervo do artista, Niterói (RJ) Este ensaio integra o projeto “O design de rótulos litográficos da estamparia mineira”. A pesquisa iniciada em 1976 e coordenada por Lotus Lobo ao lado de seus alunos Sônia Labouriau e Ângelo Marzano contou com o apoio do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), criado no ano anterior por Aloisio Magalhães. O registro acompanha o trabalho do senhor Nelson, transportador litógrafo da Estamparia Juiz de Fora, com a produção gráfica de rótulos, função que exigia, além de força braçal, a sensibilidade de um mestre de ofício.
PAPEL Superbond 75 g/m2, Alta alvura 120 g/m2 e Ivory Slim 58 g/m2 FONTE Sud, Nord e Futura TIRAGEM 3 000 IMPRESSÃO E ACABAMENTO Ipsis
SESC POMPEIA Rua Clélia, 93 - São Paulo tel. +55 11 3871 7700 sescsp.org.br