MASSA CRÍTICA
especial às equipas artísticas dos espetáculos, por toda a sua disponibilidade para participar dos encontros e conversas com a equipa e participantes ao longo dos 9 meses do projeto.
O projeto Massa Crítica agradece a todos aqueles que estiveram envolvidos nesta curta, mas intensa jornada de reflexão, impulsionada pelas artes performativas. Foram ao todo 8 espetáculos, assistidos e debatidos por 101 participantes ao longo de 27 encontros. Aos teatros parceiros, nomeadamente Centro Cultural Malaposta, Teatro Aberto, Teatro Maria Matos e Teatro Meridional que estiveram de portas abertas aos grupos e nos acolheram de forma sempre espeUmcial.agradecimento
Criação e Mediação Coletivo Selva (Matheus Araujo - Stephanie Cardoso - Victória Bemfica) Produção Cassefaz (Rita Guerreiro - Sofia Duarte) Teatros Parceiros Centro Cultural Malaposta - Teatro Aberto - Teatro Maria Matos - Teatro Meridional Entidade Promotora HPP - Associação Histórias para Pensar Financiado pelo governo Português através do Programa Garantir Cultura
OU COMO?
Inspirados pelo trabalho da Escola de Espectadores, de Jorge Dubatti (ARG) e com base nessa série de questionamentos, procuramos a criação de uma rede de troca e reflexão crítica sobre produções em teatro, dança e performance, em parceria com instituições que abrigassem projetos desta natureza na sua programação e instituições de ensino se cundário e artístico especializado. Tendo sempre como ponto de partida a apreciação de um espetáculo, realizaram-se encontros semanais para o debate e a reflexão acerca do que foi visto. Estes encontros basearam-se na lógica de um grupo de estudos ou de um grupo de leitura; um espaço de compartilhamento e de criação teórica em conjunto, tendo como objetivo final o desen volvimento de materiais críticos sobre as obras analisadas. O que se pretendeu foi, em conjunto, desdobrar um viés crítico e coletivo nos espectado res que já frequentam regularmente os espaços de apresentações, bem como a aproxima ção de potenciais novos públicos ao contexto cultural e crítico das artes performativas.
Como dialogam os públicos?
O que faz do público parte de uma instituição cultural? Como nós, enquanto público, nos podemos aproximar das instituições?
INTRODUÇÃOÍNDICE8TEATROS Centro Cultural Malaposta 10 Teatro Aberto 12 Teatro Maria Matos 14 Teatro MeridionalESPETÁCULOS16 Trópicos Mecânicos 18 Começar 24 Ilhas 30 A Última Hora 36 O Espectador 40 Lar Doce Lar 46 Não Me Faças Perder Tempo 50 Margem 54 PARTICIPANTES 64
Ao longo dos nossos encontros fomos chegando a algumas respostas importantes para o desenvolvimento das seguintes discussões. A primeira e, talvez, a mais essencial foi a de que o público não é, definitivamente, passivo durante o acontecimento performativo. Concordamos que o papel deste agente é igualmente compositor da cena e da dramaturgia das peças assistidas, corroborando assim com Jacques Rancière, autor que ressalta o ato de olhar como uma ação de criação, de composição; ação que seleciona, compara, articula memória com aquilo que vê, escuta, cheira… Criando, portanto, um espaço como uma via de mão dupla, ao mesmo tempo em que se observa algo se criam novos sentidos, particulares, para o que se vê, no nosso caso, o Apósespetáculo.essasindagações sobre a não-passibilidade do pú blico foi possível mergulhar no que mais nos interessava: o estabelecimento de uma zona de dúvidas operada de forma coletiva. Um lugar em que pudéssemos mergulhar nas mais diversas leituras dos espetáculos tentando fazer com que ali não houvesse espaço para o medo do não saberDE DÚVIDAS COMO MEDIAÇÃO MEDIADORES CULTURAIS - MASSA CRÍTICA
. ENCONTROS - DÚVIDAS
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MARGENS: ZONA
Um dos principais pilares da complexa arquitetura do Teatro e da Dança é a presença do corpo, mas não somente de um corpo que propõe uma ação em um determinado espaço-tempo; faz-se necessária a presença de, no mínimo, dois corpos que atuam em diferentes registos. Para que o Teatro possa acontecer é preciso o encontro, o convívio. Mas qual seria então a qualidade deste “segundo corpo”, deste que, em princípio, não propõe uma ação? Muito já se pesquisou e falou sobre o corpo performativo, sobre o que é o Teatro, o fazer teatral, o que é e o que pode ser a Dança; porém, muito pouco se pensa a respeito daquele que observa, daquele que também compõe a cena estrutural destas artes, daquele que é visto muitas vezes como agente passivo neste jogo. Pois bem, decidimos então debruçar-nos justamente sobre esse ponto: refletir sobre o papel das espectado ras, do público, sobre este lugar que já foi e é ocupado por quase todas as pessoas em determinado momento da vida.
ENVOLVIMENTOPERCEPÇÃOATENÇÃO:REQUER
Antoni Muntadas já o disse em sua obra: O espaço da crítica é também um espaço que pressupõe um olhar para dentro, para si mesmo. É necessário entender a importância do envolvimento, da atenção e do pensamento crítico sobre o que acontece quando se observa algo. Como as nossas experiências individuais e coletivas estão, também, compondo aquela obra vista? Da crítica ao encontro, ou uma pela outra, a ordem não importa, mas sim, que essa zona incerta criada no projeto foi, também, um terreno fértil para os encontros.
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Foi a partir da fruição desse não saber que começamos a pensar a crítica. O papel da mediação foi sempre o de valorizar os de poimentos e as particularidades de cada pessoa, incentivar a autonomia na criação e também levantar novas questões que pudessem, talvez, ampliar os debates, criando conexões com outros temas e outras possíveis realidades. Tornar o lugar da crítica em um lugar instável, atravessado por muitas forças, e antes de qualquer coisa - um lugar de presença.
Encontros de ordem que não haveria como prever de antemão, tampouco que tipo de matéria dali surgiria. Corpos que até então eram desconhecidos e que aos poucos deixaram de ser tão estrangeiros entre si. Os momentos que tivemos após os espetáculos assistidos talvez sejam um ótimo exemplo disso. Sempre pude mos contar com a presença de alguém da equipe artística da obra ou de alguém ligado ao teatro visitado. Pessoas que tínhamos visto apenas em palco, outras nem isso e, ainda assim, não houve um encontro sequer em que não se criasse uma conexão e um espaço de trocas intensas e enriquecedoras. Os rizomas são assim: inimagináveis.
MALAPOSTACENTROCULTURAL
Manuela Jorge e Joana Ferreira Direção Artística do Centro Cultural Malaposta
O edifício que hoje é a casa do Centro Cultural Malaposta nasceu em 1855 e passou por muitas transformações ao longo da sua vida. Em 27 de Dezembro de 1873 a Câmara Municipal dos Olivais requisitou alvará para fundar no local um Matadouro Municipal - localizado na Quinta do Senhor Roubado, que funcionou até meados de 1960. Após o seu encerramento, o edifício fica ao abandono du rante largas décadas, até à implementação do Centro Cultural Malaposta. O edifício foi restaurado e adaptado à realização de eventos na área da cultura: teatro, animação e formação a vários níveis. Em 1989 foi inaugurado o novo edifício que conserva a estrutura de planta em “U”, tendo-se-lhe acrescentado, ligado ao corpo central, a caixa do palco. Em 2019 o Centro Cultural Malaposta passa a ter uma nova gestão, a Minutos Redondos – Manuela Jorge e Joana Ferreira passam a dirigir o projeto artístico da programação e gestão desse espaço que tem compromisso com a multiplicidade da arte produzida em Portugal. “Queremos que este seja um lugar partilhado por todos os artistas, mas sobretudo pelo público, que encontrará uma oferta cultural eclética e diversificada.”
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Teatro Aberto
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O Novo Grupo de Teatro – Teatro Aberto foi funda do em 1982. O Teatro Aberto propõe uma linha dramatúr gica que trabalha sobretudo um repertório contemporâneo, constituído por textos de novos autores da nova dramaturgia portuguesa e estrangeira. A instituição pro move desde 1997, em conjunto com a SPA, o Grande Pré mio de Teatro Português; ação que possibilita e afirma o constante desenvolvimento desta nova dramaturgia. O teatro realizado nesta casa apresenta uma marca estética caracterizada pela interdisciplinaridade, mesclando os no vos media às mais diversas linguagens cénicas. “Acreditamos que a arte é essencial para o desenvolvimento de uma sociedade democrática, próspera, solidária, susten tável e humana. No nosso contributo para esse desenvolvi mento, criamos e produzimos ao serviço da cidade e dos cidadãos, procurando ser esse espaço Aberto onde as pessoas se encontram e se afirmam como comunidade, onde todas as pessoas têm lugar.”
MATOSMARIATEATRO
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Entre 2008 e 2018, a direção artística esteve a cargo de Mark Deputter, uma alteração que assinalou, de igual forma, uma transformação no perfil do Teatro, vocacionando-o para a contemporaneidade performativa. Em Julho de 2020 o Teatro Maria Matos inicia um novo capítulo da sua história. Com a alteração de modelo de gestão, o Teatro Maria Matos passou a ser arrendado pela Força de Produção proporcionando uma oferta cultural para o grande público.
O Teatro Maria Matos inaugurou a 22 de outubro de 1969. Em 1982, o Teatro foi adquiri do pela Câmara Municipal de Lisboa, deixando de ter companhia residente e passando para um regime de acolhimento de projetos independentes e de companhias mais pequenas de Teatro, de Dança e de Música. Em agosto de 2004, deu-se início a uma intervenção de profunda remodelação deste espaço cultural. Após a reabertura, tendo como diretor artístico Diogo Infante, o Teatro con solidou-se como uma das principais salas de espetáculos da cidade de Lisboa, apostando numa programação própria regular baseada em produções teatrais próprias e coproduções de vários dos festivais de artes performativas e de cinema em Lisboa.
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O Teatro Meridional é uma Companhia portuguesa marcada pela itinerância, pelo protagonismo do traba lho do ator, pela pesquisa e experimentação cénica. A Companhia foi fundada em 1992 e já apresentou os seus trabalhos em 20 países, para além de realizar uma itinerância anual por Portugal continental e ilhas. Dentre as mais de 30 distinções nacionais e 11 internacionais destaca-se o Prémio Europa Novas Realidades Teatrais, recebido em 2010. “As principais linhas de atuação artística do Teatro Meridional prendem-se com a encenação de textos originais (lançando o desafio a autores para arriscarem a escrita dramatúrgica), com a criação de novas dramaturgias baseadas em adaptações de textos não teatrais (com relevo para a ligação ao universo da lusofonia, procurando fazer da língua portuguesa um encontro com a sua própria história), com a encenação e adaptação de textos maiores da dramaturgia mundial, e com a criação de espetáculos onde a palavra não é a principal forma de comunicação cénica.”
Teatro Meridional
MERIDIONALTEATRO
Criação: Felipe Bragança em parceria com Teatro GRIOT e Catarina Wallenstein
Intérpretes: Matamba Joaquim, Zia Soares, Gio Lourenço, Catarina Wallenstein e Daniel Martinho
Figurinos: Ana Carolina Lopes Música original: Selma Uamusse, Milton Gulli e 40D
Ficção científica, fábula e documentação misturam-se nesta performance visual e teatral em torno das memórias do Massacre de Mueda, ocorrido em Moçambique, em 1960. Projeto transmedia, com inspirações no afro-futurismo e no tropicalismo brasileiro, o espetáculo é também uma homenagem ao cineasta moçambicano Ruy Guerra, que completa 90 anos em 2021, autor de três filmes realizados naquele território africano: “Mueda, Memória e Massacre” (1979-80), “Os Comprometidos – Atas de um Processo de Descolonização” (1982-84) e o registo, sem título, de uma reunião entre Samora Ma chel e antigos chefes militares da Guerra de Libertação (1964-74).
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MECÂNICOSTRÓPICOS
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“Incrível mestria do realizador/encenador Felipe Bragança em documentar pela via do teatro a dor de toda uma população sofrida e traumati zada por um massacre. Dos veículos (media) eficazmente empregues, quer visuais - projeção de fotos e artigos de jornais, de reportagens televisi vas da época, ... - quer audio - discursos, sons de guerra,... - à ideia genial de viajar no tempo para o futuro, numa retrospectiva mais ponderada, imparcial e certeira poder se debruçar, analisar e tirar lições sobre os atos de agressão, à incrível performance dos atores que, vestindo a pele de personagens agentes ou catalisadoras da catarse-objectivo da história, lhes deram ênfase e grandeza através da sua corporalidade (excelentemente usada pelo Gio Lourenço na pele caricaturada do oficial colonial em comando) e oralidade - séria e profunda - e aos cenários simultaneamente futu rísticos, reflexivos e sombrios, tudo se conjugou para penetrar mente e coração e transformar percepção e concepção do publico sobre aconte cimentos históricos quase sempre vistos de um só prisma (que culturalmente os amacia a favor do agressor, falsamente suavizando a dor infligida sobre o agredido). Bravo!”
J. Guedes Ilustração do diretor Feita por uma participante
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Trópicos Mecânicos Uma memória vivida repetidas vezes por tanto tempo. Uma dor, que é identidade, é história que Mueda não esquece. Massacre que ainda machuca e na beleza de máquinas, viagens no tempo, reflexões e reflexos é contada novamente... Catarina Antonieta
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Versão: João Lourenço e Vera San Payo de Lemos Dramaturgia: Vera San Payo de Lemos Encenação e cenário: João Lourenço Vídeo: João Lourenço e Nuno Neves Figurinos: Lia Freitas Com: Cleia Almeida e Pedro Laginha
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COMEÇAR
“Começar” apresenta Laura e Daniel, dois solitários que trocaram olhares furtivos durante a festa e agora, depois de toda a gente se ter ido embora, estão frente a frente, sem saber como começar. Já sofreram desgostos, mas ainda querem acreditar. Entre silêncios, desentendimentos e confissões, atravessam juntos aquela noite no frágil equilíbrio de quem procura com medo e desejo de encontrar. Começar apresenta-se como uma história de amor dos nossos dias, um encontro cara a cara de um homem e de uma mulher que se tentam conhecer sem as máscaras, os filtros e as defesas que os encontros digitais proporcionam.
Sendo uma história de um quotidiano algo banal entre um casal, e culturalmente diversa da “nossa”, o texto precisava de complementos cenográficos e metafóricos fortes para não cair no distanciamento, na indiferença ou no “expectável”. A filmagem e projeção imediata da cena não resul tou, do meu ponto de vista, em mais-valia relevante, apenas criou uma divisão de espaços que não se traduziu num “transporte” de aproximação, transformação, movimento/cisão ou dinâmica que a peça pedia em termos de encenação... o tom monocórdico e muito martelado do ator masculino não deu calor nem energia às cenas que dela careciam... J. Guedes
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Um espetáculo irreverente e inovador pe rante o olhar do público. Penso que a ligação da tecnologia com o teatro funcionou muito bem e despertou imenso interesse junto do público.
Logo no início, quando o espetáculo come ça, assistimos a um “filme” que retrata a festa que irá desencadear todo o enredo. Achei a forma de passar do filme para o espetáculo muito inteligente, pois a tela do filme sobrepôs com o cenário e os atores, exatamente igual, e de segui da retiraram a tela e avançaram o espetáculo em si. Depois, quando menos se espera, o espetáculo volta a surpreender quando os atores sobem umas escadas que vão dar ao terraço da casa e aparece um segundo palco. Para além disso, ao longo do espetáculo uti lizam mais vezes o audiovisual para melhorar e dar mais potência ao espetáculo. Ao nível do enredo da história penso que estava muito bem desenvolvida e incorporada pelos dois atores em cena. Conseguiram surpre ender-me ao longo do espetáculo e levaram-me com eles nesta viagem de “vai não vai”. Ana Isabel Delgado
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29David Salvado
ILHAS
ILHAS é um espetáculo cujos pressupostos conceptuais de construção assentam na exploração das linguagens gestual, plástica e musical, visando - através de um olhar subjetivado e sem o recurso à palavra como principal veículo de comuni cação cénica - tornar expressivo um universo inspirado no arquipélago dos Açores.
Transformar em matéria cénica a singularidade identitária deste território português, conseguir criar um modo de comunicar inspirada nos seus hábitos, ritos e mitos, é o desafio de mais esta criação do Teatro Meridional inserida no Projeto Províncias de onde nasce ram os espectáculos PARA ALÉM DO TEJO (2004), POR DETRÁS DOS MONTES (2006), POR CAUSA DA MURALHA, NEM SEMPRE SE CONSEGUE VER A LUA (2012) e CA_MINHO (2019). Encenação e Desenho de Luz: Miguel Seabra
Interpretação: Ana Santos, David Medeiros, Emanuel Arada, Joana de Verona, Miguel Damião, Rosinda Costa Espaço Cénico e Figurinos: Hugo F. Matos Música Original e Espaço Sonoro: Fernando Mota Documentário e Fotografia: Ricardo Reis Produção: Teatro Meridional (2021)
Coprodução: Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Micaelense
Dramaturgia: Natália Luiza
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O que dizer? Proposta incrivelmente diferente - um teatro que quase não tem texto - mas queatravés de uma encenação exemplar de Miguel Seabra e de um elenco talentosíssimo - conta uma história/sequência de várias cenas da vida dos habitantes de um arquipélago (Açores), de uma forma pictórica extremamente eficaz emotiva e fisicamente, “apenas” baseada em elementos telúricos ex pressos por sons e formas de “corpos que falam”. O muito difícil - em termos de partitura física co letiva exigentemente marcada/coreografada - tornado plástico, belo, (de aparência) fácil e completo. Excelentes desempenhos em particular do David Medeiros, Miguel Damião e Joana de Verona.J.Guedes
O espetáculo “Ilhas” surpreendeu-me em inúmeros aspetos, não apenas pela linha estética apresentada, que se destacava pela simplicidade dos elementos cénicos, mas também pela pureza do desenho de som e luz, que completava atra vés da inclusão e do envolvimento dos corpos e dos movimentos. Tudo em perfeita harmonia. Os gestos, as respirações, o embalo dos corpos, a dissimetria coreográfica. Em nenhum momento senti a necessidade de ouvir a palavra dita, embora a certa altura surgisse. Mas não estava em falta. Ouvia-se, como se estivesse sempre presente, num diálogo mudo entre os atores. Foi impres sionante ver espelhado o trabalho do que deve ter sido uma recolha etnográfica extensa e refletida. Estavam ali as ilhas dos Açores, estavam ali os seus habitantes e os seus costumes, as suas tra dições e as suas dores. Estava ali tudo, espelhado num momento que não precisou de palavras para dizer tudo, expondo o público a apurar mais os seus sentidos e sensibilidade. Durante todo o espetáculo, mais do que ver e ouvir, não descolei a minha atenção do sentir. Apreciei imenso o trabalho desenvolvido pelos atores, que trouxeram uma abordagem que se aproxima cada vez mais da complexidade e completude do ator contemporâneo. Um excelente trabalho, um belíssimo espetáculo. Filipa Silva
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O meu contacto com o projeto “MASSA CRÍTICA” co meçou de forma casual: Numa esplanada, num calmo fim de tarde, o Nuno falou-me entusiasmado de um grupo de alunos que estava envolvido num conjunto de atividades associadas ao teatro, nas suas múltiplas vertentes.
Assisti a uma peça no Teatro Nacional D. Maria II (Ilhas), outra no Teatro Maria Matos (Última Hora) e uma outra no Teatro da Malaposta (Margem), bastante diferen tes entre si, mas de uma qualidade óbvia, o que me mos trou as opções inteligentes adoptadas pela equipa que or ganizava este projeto. Gostei muito das peças selecionadas, mas era impe rativo participar no aspeto fundamental deste projeto, ou seja, no debate de ideias do grupo de participantes, onde pessoas com diferentes idades, percursos e visões falavam livremente sobre os espetáculos a que assistiram, num momento que permite aos jovens alunos presentes - a razão de ser do projeto -, pensar teatro, mas também refletir sobre cidadania e sociedade. E aqui foi-me dado a ver como a interação criada pelos mediadores neste tão diversificado grupo de participantes cumpria o objetivo de criar um momento de discussão civilizada e esclarecida, onde todos podiam apresentar os seus argumentos. Por fim, a sessão online com o elenco permitiu esclarecer dúvidas numa perspectiva mais próxima dos criadores do espetáculo, o que representou um momento fundamental no projeto. Em suma, “MASSA CRÍTICA” ganhou o seu espaço e, pelo seu mérito, merece toda a divulgação e continuida de! Parabéns! Isabel Flora
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Eu realizo um programa diário de rádio no grupo RTP/ RDP desde meados dos anos 80, com entrevistas orientadas para a produção cultural, pelo que foi natural o meu interesse neste projeto, do qual tinha que saber mais. Assim, entrevistei a Sofia e o Matheus, os quais mostraram uma paixão tal por este projeto que quis ver com os meus próprios olhos o que se passava.
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Texto: Rui Cardoso Martins Encenação: Gonçalo Amorim Música original: Paulo Furtado aka The Legendary Tigerman Cenografia e figurinos: Catarina Barros Desenho de luz: Cárin Geada Desenho de som e sonoplastia: João Neves Vídeo: Eduardo Breda Assistência de encenação: Eduardo Breda e Patrícia Gonçalves Assistência de cenografia: e figurinos Susana Paixão
Com: Carlos Malvarez, Catarina Couto Sousa, Cláudio Castro, Ema Marli, Inês Cóias, João Grosso, José Neves, Manuel Coelho, Maria Rueff, Miguel Guilherme, Nadezhda Bocharova e Paula Mora
A ÚLTIMA HORA
Este jornal, o Última hora, mais a sua pobre, cercada e aterrorizada redação, vive o destino de todos os periódicos: uma grave crise e a aproximação do fim. A novidade mais fresca, a bre aking news, a última hora será a notícia do seu fecho. O que mais interessa em Última Hora – uma comédia, sublinha-se – é a própria humanidade. Os magníficos defeitos, virtudes, heroísmos, canalhices, jogos escondidos, amores secretos, vícios ou altruísmos fazem o universo daqueles que vivem para contar (e moldar) a realidade do mundo. Que última decisão é preciso to mar? Que mentira, se necessária, em nome da sobrevivência? Que teatro acontece todos os dias?
Parabéns desde logo ao dramaturgo Rui Cardoso Martins, por um texto inspirado, muito bem escrito e que serve o (se presta a ser dito em) teatro e “facilita” a expressão dos atores e portanto, a conexão do publico com a história. Excelente encenação simples mas muito eficaz, com grande aplauso para a ideia do “fumadouro” , que criando uma “cena dentro de cena” prende com garras a atenção do público. Mui to bem conseguida - pela simplicidade, forma clara, foco de iluminação e rapidez de transformação - a troca de cenários (em particular a do bar), para o que concorreu a destreza dos ato res envolvidos. Maria Rueff e Miguel Guilherme comprovam serem monstros da comédia (talvez o género de drama mais exigente do ponto de vista de ritmo e agilidade mental) e José Neves entrega muito bem uma personagem com tremenda exigência. Carlos Malvarez, sempre cer to na oralidade, também exímio na gestualida de de barman... quem disse que o público “não aguenta” espectáculos com mais de 1,5h de duração? Com texto e encenação supremas e ato res de envergadura condicente, 3 benditas ho ras se passaram e muito bem! VenhamJ.mais....!Guedes
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O espetáculo “Última Hora” trouxe-me uma perceção pouco surpreendente. Um enredo com uma problemática atual, mas explorada de forma previsível, num texto que, por esse motivo, se tor na demasiado longo. Os cenários procuraram es timular alguma contemporaneidade dentro do realístico, mas senti que não foi aproveitado, na sua total potencialidade, pela movimentação cénica. Os atores mostraram um nível de representação que em nada compromete, muito pelo contrário, embora me atreva a dizer que esperava algo diferente, tendo em conta a qualidade e experiência de alguns deles. Sem dúvida que é um espetácu lo de qualidade, capaz de agradar o público, mas creio que não o suficiente para o preencher e deslumbrar. Filipa Silva
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Mafalda Almeida
Um espetáculo longo que apresenta ao es pectador as dificuldades de um pequeno jornal sobreviver às novas tecnologias. O enredo desenvolve-se através das tomadas de decisão que as várias personagens têm de fazer para sobrevi ver a esta crise. Na minha opinião o espetáculo é constituído por um fortíssimo elenco, e que tem muito para nos dar e surpreender. No entanto, penso que o espetáculo devia ter sido mais curto, o que enriqueceria o mesmo. Ana Isabel Delgado
O ESPECTADOR
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“O Espectador” é uma peça de meta-teatro, que coloca o público em confronto consigo mesmo. O espetáculo conta a história de Augusto, gay, imigrante, introvertido e que vive com a sua mãe numa relação opressiva. Ele nunca atuou, apesar de ser um aficionado pelo teatro, sempre foi um espectador assíduo. Até que um dia, tudo muda! Um projeto que aborda a homofobia e a dificuldade dos artistas imigrantes de língua portuguesa conseguirem emprego, além de ser uma peça que explora a relação do público-teatro e as expetativas presentes na díade ator-espectadores.
Texto e Interpretação: Daniel Freitas Encenação e Cenografia: Juliano Luccas Direção Musical: Bruno Huca Figurinos: João Telmo Desenho de Luz: Juliano Luccas e Samara Azevedo Produção: Daniel Freitas Assistente de Produção: Lizandra Gasparro Operação de Luz, Som e Vídeo: Samara Azevedo Fotografia: Victor Trincão
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“O Espetador permitiu-me vivenciar uma expe riência mais intimista e o texto começou por me levar para questões extremamente pertinentes – qual a sinergia entre o ator e espetador? Onde começa e acaba o papel de cada um? O que sin to quando sou “chamada” pelo ator a participar ativamente da cena em palco? No entanto, esse caminho, que eu senti abrir no início do espetáculo, acabou por desaparecer e o espetáculo se guiu outra rota... como se se tivesse esquecido do tema/título que estava anunciado no cartaz – O Espetador. Não que o texto não tenha continuado interessante ou a representação muito boa. Mas seguiu um rumo que, quanto a mim, se desligou do início. E esse início tinha “matéria” de grande interesse para se explorar. O debate que se seguiu, dias depois, foi, no entanto, muito ins pirador especialmente quando o Daniel contou o seu percurso de vida e como esse percurso foi composto por batalhas, perdidas e ganhas, num exemplo de resiliência. Inês Oliveira
43Catarina Leal
O encontro de “O espectador” com os espectadores. De um lado um espetáculo inspirado na relação de um espectador com a arte teatral, do outro, um projeto pensado para fomentar e estimular a ideia de ser espectador. O encontro do espetáculo “O espectador” com o projeto “Massa crítica” não poderia deixar de acontecer, pois ambos parecem ter sido construídos um para o outro. A experiência de escrever, produzir e atuar sobre um tema e de repente ter um grupo de pessoas na plateia que estão envolvidas de forma ativa com o foco do meu espetáculo foi algo muito interes sante, instigante e desafiador. Esperei ansiosamente pelos dias em que os grupos do “Massa Crítica” estariam presentes, pois acreditava que seria muito interessante jogar com estes espectadores. No início do primeiro dia senti uma forte ansiedade e até mesmo insegurança com o primeiro grupo, al gumas pessoas pareciam estar a analisar o espetáculo de maneira bem intensa e em alguns olhares, até mesmo desconfiados, além do que, como era o primeiro grupo, não fazia ideia de como se daria a nossa relação. Com o decorrer do espetáculo tudo pareceu configurar-se, a ansiedade deu lugar ao “estado de jogo” e pareceu-me que o grupo estava mais entregue para a relação e a história contada. Vale ressaltar que este era o segundo dia de espetáculo, pois a estreia havia acontecido na noite ante rior.
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No dia do segundo grupo a relação deu-se de forma diferente, penso que em primeiro lugar por conta do espetáculo já ter sido maturado um pouco mais e em segundo porque a maravilha do Teatro é mesmo esta, é sempre único e não se repete jamais da mesma forma. Pareceu-me que o jogo entre ator e espectadores estabeleceu-se já de início e com o decorrer da peça ambos estavam cada vez mais ligados.Acredito na importância deste projeto, pois foi justamente a necessidade de existirem iniciativas como esta, que meu espetáculo foi criado. Ser um espectador ativo é algo que precisa ser estimulado, pois não se trata apenas de levar as pessoas até a plateia de uma sala de teatro, trata-se também de fo mentar o refletir sobre, como se todos os espectadores se tornassem cientistas a descobrir o que a arte teatral pode fazê-los sentir. Daniel Freitas (Criador e Intérprete)
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DOCELARLAR
Texto: A partir de OQueImportaÉQueSejamFelizes!de Luísa Costa Gomes
Duas idosas que partilham um quarto na Residência Sénior Antúrios Dourados embarcam numa competição desmedida por um quarto particular após a “partida” da sua anterior ocupante. Com o brilhantismo cómico a que já nos habituaram, Maria Rueff e Joaquim Monchique desdobram-se em múltiplas personagens e levam-nos numa viagem atribulada e hilariante pelos quatro cantos deste doce lar.
Encenação: António Pires Cenário F. Ribeiro Figurinos: Dino Alves Desenho de Luz: Paulo Sabino Com: Maria Rueff e Joaquim Monchique
47 “Lar Doce Lar”, o espectáculo que juntou pela primeira vez em palco Joaquim Monchique e Maria Rueff, regressa para uma nova temporada no Teatro Maria Matos.
48 Lar Doce Lar foi a experiência que eu dificilmente teria, por achar que não me identificaria com o tipo de espetáculo embora considere de grande talento os dois atores. No entanto, revelou-se uma boa sur presa. Um texto interessante que, apesar de aparentemente “simples”, aborda questões interessantes e pertinentes. Na verdade, acabou por ser um momento de puro entretenimento. As piadas são mais simples ou diretas, mas com as quais convivi e fiz o meu filtro. Gostei das interpretações, mas consi derei que o espetáculo se prolongou demasiado. Inês Oliveira
49 Ricardo Fernandes Catarina Leal
Não Me Faças Perder Tempo, a peça distinguida com o Grande Prémio de Teatro Português 2020, re flecte a urgência de amar na era digital, apresentando o speed-dating como uma alternativa analógi ca, uma fuga para a felicidade de todos os solteiros, misfits, ímpares, singulares, carentes, solitários e atarefados que trocam as aplicações de engate pelo ambiente breve e artificial de encontros ao vivo, na expectativa de um perfect match. Num mundo onde prolifera a peste, a guerra e a solidão, o amor é cada vez mais um lugar utópico. Será que é por este meio que alguém o vai encontrar?
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NÃO ME PERDERFAÇASTEMPO
Encenação e Dramaturgia: Rui Neto Cenário e Figurinos: Marisa Fernandes Vídeos: Jorge Albuquerque Sonoplastia: Cristóvão Campos Com: Beatriz Godinho, Daniel Viana, João Tempera, Katrin Kaasa, Leonor Seixas, Luís Gaspar, Rita Cruz e Telmo Ramalho
A massa critíca é um projeto que nos tira do meio do corredor onde nos deparamos com as duas portas: a do adorei! e a do detestei comple tamente! e foi capaz de colocar a cada um de nós em frente a porta que apresenta as qualidades, o tipo de sentimentimento que a obra gera em nós, a sensação de quando saímos do espetáculo com novos ideiais formados ou com eles ideiais completamente dispersos por todo lado a tentarem chegar à algum lugar, as razões pelas quais não apreciamos a obra em questão, e muito mais através das conversas que tinhamos após cada espetáculo ao expormos as nossas opiniões e a ter acesso as opiniões, as questões, e as suas critícas de participantes do grupo de todas as idades .
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“Lar doce lar”, “Não me faças perder tem po”, e “Margem” foram os estáculos dos quais eu tive a oportunidade de assistir, e devo dizer que cada um deles tiveram muitos pontos fortes, uma vez que geraram diversas questões sobre a sociedade em que vivemos durante a conversa de grupo, em cada um destes espetáculos nos com varias ideias em relação ao topico específico de cada peça como por exemplo no “Não me faças perder tempo ” o facto de não ser impossível formar “o par perfeito” num curto periodo de tempo. No “Lar doce lar ”,por entre muitas gargalhadas, o facto de que os ido sos apesar de já terem vivido e experienciado muitas coisas durante a sua juventude não signi ficar que têm de ser tratados como menos temor ou até com pena, por não serem mais o que antes foram, mas sim para os olharmos como qualquer ser humano que ainda almeja conquistar bens, comforto, e a felicidade, apesar das dificuldades de adaptação, contudo tendo sempre um passado para o qual olhar para atrás e se lembrar dos bons e velhos dias.
confrontamos
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E por último mas não menos importante “Margem” o que me ficou encravado na minha galáxia mental pela imensidão da sensação de relatividade na história, e pela maneira como esta foi passada ao público pelos atores, num tom intimidante, fervoroso e comovente. Digo isto com coração genuíno como uma apreciadora de dança, que foi realmente um espetáculo que me fez perceber o conceito de movimento e como o movimento pode aflorar os nossos desejos e sentimentos mais profundos, quer seja pelo ou tro ou por aquilo que está a acontecer num certo instante. Soraya Lourenço
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Direção: Victor Hugo Pontes Texto: Joana Craveiro Cenografia: F. Ribeiro Música: Marco Castro e Igor Domingues (Throes + The Shine) Direção técnica e desenho de luz: Wilma Moutinho Consultoria artística: Madalena Alfaia
Interpretação: Alexandre Tavares, David S. Costa, Inês Azedo, Ivo Santos, João Nunes Monteiro, José Santos, Magnum Soares, Marco Olival, Marco Tavares, Rafael Belinha, Sebastião Quintela, Tiago Ferreira
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Margem tem como inspiração o romance de 1937 de Jorge Amado, “Capitães de Areia”, que retrata um grupo de crianças e adolescentes abandonados que vivem nas ruas de São Salvador da Baía, roubando para comer, e dormindo num trapiche – um armazém onde, como uma espécie de família, se protegem uns aos outros e sobrevivem a um dia de cada vez. 80 anos depois da publicação do livro, quisemos questionar quem são os novos capitães de areia, inspirando-nos na realidade social destas crianças, e conscientes de que nem sempre há finais felizes. Quem são estas pessoas que são colocadas à margem, e quando é que essa marginalização começa? Na casa de partida da vida, temos todos as mesmas hipóteses ou alguns partem para a luta já em défice? Há formas de quebrar isso? Quais? A sério? De certeza? Será realmente admirável o mundo novo que conseguimos construir com todos os nossos ideais de igualdade para todos? Numa ideia de teatro documental, e em colaboração com Joana Craveiro, este projeto é alicerçado num trabalho junto de jovens que foram privados do ensino, da alimentação, de carinho, de um pai, de uma mãe, jovens que cometeram crimes, jovens que partiram em défice ou que se viram em défice por razões que muitas vezes lhes são alheias.
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Desenho inspirado nas peças “Não me faças perder tem po” e “Margem”. O tema do desenho é o amor inalcançável. Um fator comum que pude entender ao ver estas duas peças foi o desejo de encontrar amor, o desejo de ser amado por uma figura familiar, amigável ou desco nhecida. Daí a inspiração para este desenho em que as personagens procuram o amor que está trancado por um cadeado sem chave.” Luís Brandão
Patrícia Guerreiro
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mitir os conhecimentos propostos nos currículos programáticos, mas também como um processo de construção de cidadãos, através de um conjunto mais vasto de atividades enriquecedoras que permitam aos jovens ter uma maior abertura a novas ideias e uma maior amplitude de perspectivas. Eu, enquanto professor, defendo um ensino que não se esgota na sala de aula, mas antes que acrescenta, através de projetos complementares e atividades culturais, todo um conjunto de experiências e sabe res que permitam aos nossos alunos crescer enquan to Assim,pessoas.um projeto como o “Massa Crítica” enquadra-se na visão que tenho do ensino e permite adicionar algo mais à aprendizagem curricular.
Enquadrando-se num contexto académico da nossa escola, onde procuramos proporcionar aos nossos alunos atividades nas áreas dos media, espetáculo e artes - incluindo pintura, escultura, cinema e teatro -, este projeto tem características que o diferenciam: As sessões de preparação e debate antes do espetáculo propriamente dito, bem como o encontro posterior com o elenco e/ou equipa de produção enriquecem muito este processo e são uma mais valia considerável. Acho que este método apresenta vantagens que importa realçar, tanto em termos de diversidade como de debate de ideias. A riqueza dos participantes, com as suas diferentes visões, proporcionaram debates estimulantes e desafiadores.
Os alunos que acompanhei, integram turmas da Secundária Marquês de Pombal, nomeadamente do 10º ano de Artes, do 10º ano de Línguas e Humanidades e dos 11º e 12º anos do Curso Profissional de Técnico de Multimédia, tendo registado um excelente retorno da sua participação. Foi gratificante ouvir os seus comentários e ver como se tornavam espectadores deEmborateatro! algumas dificuldades logísticas tenham impedido que todos os alunos estivessem fisicamente na totalidade dos espetáculos propostos, tivemos sempre alunos presentes nos 7 espetáculos a que o nosso grupo assistiu, num total variável dos cerca de 15 alunos que voluntariamente decidiram participar.
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dois professores, a San dra Coelho e o Alexandre Macedo, abraçaram com entusiasmo este projeto, procurando acompanhar estes alunos sempre que possível. “At last, but not least” (como diria a Sandra...), uma palavra para os mediadores, a Sofia, a Vitória, a Stephanie e o Matheus, que souberam conduzir esta difícil empreitada, mantendo o interesse genuíno dos nossos jovens companheiros de percurso: Obrigado e continuem! Um forte e carinhoso abraço!Nuno Albano
Por motivos vários, uns foram mais regulares, outros menos, mas todos se referiram às peças a que assistiram de forma Adicionalmente,positiva.outros
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O Teatro é um espectáculo, nos vários sentidos da palavra. É uma das muitas maravilhas culturais com que o ser humano se brinda a si próprio, é uma obra de arte que se move, que fala, que chora, que grita, que acontece no momento em que está a ser contemplada pelo espectador.
Tal como em nós próprios, em que por trás do que somos existe uma construção que acontece todos os dias, no teatro há muito trabalho invisível aos olhos do espectador, de encenação, de ensaios, de cenografia, de luzes, etc. No Teatro Aberto, na Praça de Espanha em Lisboa, mediante marcação, é possível visitar os bastidores de um teatro moderno, em que tudo é pensado para que o espectáculo possa proporcionar uma experiência única aos espectadores, mas também de forma que todos os que contribuem para a construção do espectáculo possam fazer o melhor trabalho possí vel. Para quem já gosta de teatro, ficará a gostar mais, para quem ainda não descobriu o teatro, há grandes hipóteses de ficar com vontade de assistir a um espec táculo depois desta visita.
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Um espectáculo é uma construção contínua, não acaba nos ensaios, nem termina quando o pano cai. Haverá sempre pequenas variações, seja nas posições dos artistas, em algum tom de voz, no improviso que às vezes acontece, ou alguma alteração que o encenador precise de fazer, isto porque somos humanos, não so mos estanques, todos os dias aprendemos, crescemos, evoluímos. E quando o pano cai, cada espectador leva consigo a sua visão, as suas ideias, do que foi para ele o espectáculo. E esta perspectiva é única em nós, porque depende das nossas próprias vivências. Por isso não há espectáculos de teatro bons ou maus, há teatro para todos os gostos. Em “Lar Doce Lar”, no Teatro Maria Matos, ao pé da Av. de Roma em Lisboa, numa casa cheia, a plateia gargalhou durante duas horas quase ininterruptamente, com uma história com que todos nos identificamos. Todos temos ou tivemos avós e um dia todos havemos de chegar à velhice, que espero que seja tão divertida como a que a Maria Rueff e o Joaquim Monchique nos trouxeram. Em “Não me faças perde tempo”, no Teatro Aberto, num cenário também ele uma obra de arte, fomos confrontados com a realidade dos dias de hoje, em que tudo acontece, começa e acaba, demasiado depressa, inclusivamente as relações amorosas. Por último, em “Margem”, no Centro Cultural Malaposta em Odivelas, num casamento muito feliz entre o teatro e a dança, somos bruscamente transportados para uma realidade que nem sempre nos lembramos que existe, mas que está lá e é dura, a das crianças que passam dificuldades e que muitas vezes têm de fazer pela vida como con seguem, mesmo que não seja da maneira mais correcta aos olhos da sociedade. Três espectáculos diferentes, mas todos eles são teatro, todos eles nos deixam a pensar sobre, e nos proporcionam uma experiência de vida. E como todos as experiências de vida, transformam-nos. Vamos ao teatro, porque, quer sejamos artistas ou espectadores, somos todos teatro. Ariana Martins
Eduardo
“A economia colonial latino-americana valeu-se da maior concentração de força de trabalho até então conhecida, para tornar possível a maior concentração de riqueza com que jamais contou qualquer civilização na história mundial.” Galeano
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Estamos sempre na margem de algo novo, de um espe táculo que nos mova, de uma conversa que nos paralise, de uma fronteira que é movediça. Talvez a margem seja esse espaço de não saber que buscamos explorar ao longo dos nove meses e é, afinal, uma margem que se transforma o tempo todo, definindo novos espaços, novos territórios, fazendo-se descobrir o que antes era desconhecido. Mediadores Culturais - Massa Crítica
Galeano escreveu isso nas linhas que chamou muito bem de “veias abertas da américa latina” e é nesse contexto que se estabelece o que é conhecido por “triângulo do atlântico”, relação trágica da nossa história e dos nossos encontros, das nossas margens. África - Brasil - Europa. Curiosa palavra é a “margem”. Pode ser entendida como uma linha que delimita fronteiras, determina espaços que começam e terminam segundo ela. Ao mesmo tempo é também uma referência a algo ou alguém que foi deixado de lado. Alguns dos espetáculos que pudemos assistir ao longo do projeto falaram-nos muito sobre essas margens, sobre as feridas do passado colonial europeu que ainda estão abertas. Este texto, que é tocado fortemente por nosso último espetáculo, não poderia deixar de lado este tema tão importante. É preciso estar atento e olhar para dentro, sempre. Foi isso o que as obras que vimos nos puseram a fazer, a olhar para dentro de nós mesmos e para dentro de nossas pró prias histórias. A história é feita dessa matéria que não pede o esquecimento, pelo contrário, há que lembrá-la, e relembrá-la, e mais quantas vezes possível voltar os olhos à ela, sobretudo para evitar muitos dos ismos que ocorreram e infelizmente ainda ocorrem.
Espetáculos - Encontros - Dúvidas - Margens
64 PARTICIPANTES Adelino Lobo Jacinto Afonso CláudioClaraCinderellaCátiaCatarinaCatarinaCatarinaCarolinaCarolinaCarolinaCarolinaCarolinaCarlotaCaioBiancaBelmiroBeatrizBeatrizArianaAndréAnaAnaAméliaAliciaAlexandreJerónimoMacedoMonteiroMonteiroIsabelDelgadoNogueiraAmorimMartinsGuerreiroMarquesSousaRosaAlmeidaSoaresDavidFerrãoNhaoocaneSousaLealAntonietaLealMedronhoSilvaÉvoraNunesFaustino David Salvado Diogo JoanaJoanaJasmineIvanIsisIsabelleIsabelIsaacInêsInêsHugoFranciscoFilipaFilipaFernandoFelipeFátimaEstevãoEsterÉricaEnzoEduardoEduardoDuarteDouglasLopesPessanhaPimentadaCruzFranciscoFrazãoBaratoRatoMacielRolimDantasToledoQueirozMatosRosaSilvaLouroMatiasLogradoOliveiraSantosFloraScardovelliFragaFernandesSilvaCorreiaCaladoMoutinho Joaquina Rita Mendes José Guedes José Luís Rocha Julia Botti Lirio Leonor Brito Levina Valentim Luane PedroPedroPedroPedroPaulaPatríciaNunoMónicaMarianaMariaMariaMariaMafaldaMargaridaMargaridaMadalenaMadalenaLuísLuneLucianaSantosBarbosaRodasBrandãoAntunesLopesPedroViamonteAlmeidaInêsGuerreiroJoanaBentoLeonordeCarvalhoAndradeSofiaFrancoAlbanoGuerreiroGomesMendesDeusEmauzFernandesPedrosoRibeiro Rafael VanessaTiagoSusanaSorayaSofiaSaraSandraSalifRuiRuiRodrigoRitaRicardoRicardoRaquelRamimRaphaelRafaelaRaffaellaLacerdaErgunMatosG.dosSantosRhamanSalomãoFernandesMorgadoMoreiraBalseiroMiguelRodriguesMechaNunesCristinaCoelhoLouroDuarteLourençoPintoAzenhaMarques