Uma volta a valo‑res essenciais para o desenvolvimento: as perspectivas do decrescimento e do ‘sumak kawsay’
os fluxos de matéria e de energia requeridos para a geração de bens implicam que neles se verifique uma perda de recursos úteis. O decrescimento afirma com evidência científica que nossos padrões de produção e consumo nos empurraram para além dos limites entrópicos sustentáveis. Trata-se do custo oculto, o que se perde em matéria prima e energia é por vezes superior aos ganhos obtidos. Impõe-se então recorrer à denominada ‘lógica do caracol’ postulada por Ivan Illich (como citado por Latouche, 2008:59): ‘O caracol constrói a delicada arquitetura de sua concha acrescentando uma depois da outra as espirais cada vez mais amplas; depois cessa bruscamente e começa a se enrolar desta vez em decrescimento, já que só uma espiral a mais daria à concha uma dimensão 16 vezes maior, o que ao invés de contribuir para o bem-estar do animal, o sobrecarregaria. E desde então, qualquer aumento de sua produtividade serviria apenas para diminuir as dificuldades criadas por esta ampliação da concha, fora dos limites fixados para sua finalidade.’ Esta base teórica permite a Latouche postular os 8 ‘R’ do decrescimento: •
Reavaliar: substituir a escala de valores globais, individualistas e consumistas por outra que dê proeminência a valores locais, cooperativos e humanistas.
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Reconceitualizar: adotar um novo estilo de vida baseado na suficiência e na simplicidade.
O ‘sumak kawsay’
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da nova escala de valores e do novo estilo de vida.
(bem viver) ou ‘suma qamaña’
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se baseiam no reconhecimento da interdependência recíproca existente entre todo aquele que habita a terra e entre cada habitante do planeta com a própria terra.
Reduzir: passar de uma forma de vida marcada pelo consumismo a outra marcada pela simplicidade.
latino-americanos cujas construções
Redistribuir: modificar a distribuição da riqueza desde o nível local até o global a fim de fazê-la mais eqüitativa.
associadas a povos indígenas
Relocalizar: perseguir a auto-suficiência local das necessidades prioritárias, diminuindo o consumo de bens e energia que implicam no transporte.
(viver bem) partem de cosmovisões
Reestruturar: modificar as formas de produção e as relações sociais em função
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Reutilizar e reciclar: estender ao máximo possível a vida útil dos bens.
Falamos de uma mudança que requer valorizar o lazer em relação ao trabalho, modificando em conseqüência todas as relações sociais que se estabelecem a partir das relações laborais, incluindo as que envolvem os seres humanos com a natureza (da qual são parte), construindo ‘uma sociedade capaz de não desejar coisas que é capaz de prover’ (Sachs, 1999:89). No campo do desenvolvimento, esta linha teórica conduz a políticas dirigidas a recuperar a identidade cultural dos povos, privilegiando suas próprias formas de vida e produção, superando o que Boaventura de Sousa Santos (2009) apresenta como um ‘epistemocídio’ provocado pela colonização. O desenvolvimento, por tanto, viria de uma reconfiguração das relações sociais
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