John stott ouça o espírito ouça o mundo

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e depois virá todo o seu povo. Nós teremos um corpo como o seu. "Assim como somos semelhantes ao homem feito da terra (Adão), assim também seremos semelhantes ao Homem do céu (Cristo)." 151 Mas a nossa esperança para o futuro também é cósmica. Nós cremos que Jesus Cristo irá voltar em espetacular magnificência, a fim de conduzir a história à sua plenitude na eternidade. Além de ressuscitar os mortos, ele irá regenerar o universo; 152 e fará novas todas as coisas.153 Nós temos convicção de que toda a criação será libertada dessa presente sujeição à corrupção e à morte; que os gemidos da natureza são as dores de parto que prometem o nascimento de um mundo novo; 154 e que haverá um novo céu e uma nova terra, onde habita justiça.155 Portanto, a esperança viva do Novo Testamento é uma expectativa visivelmente "material", tanto para o indivíduo como para o cosmos. Individualmente, o crente tem a promessa, não de uma mera sobrevivência ou mesmo imortalidade, mas de um corpo ressuscitado e transformado. E o destino do cosmos não é um "céu" etéreo, mas um universo recriado. Mas será que existe alguma prova dessa maravilhosa declaração, de que tanto nós quanto nosso mundo seremos totalmente transformados? Sim, a ressurreição de Cristo é o fundamento de todas as nossas esperanças. Ela é a prova pública, sólida, visível e tangível do propósito de Deus de completar aquilo que começou, de redimir a natureza, de dar-nos novos corpos em um mundo novo. Como disse Pedro, Deus "nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos". 156 A ressurreição de Cristo foi o começo da nova criação de Deus. Não basta acreditar que a personalidade, a presença e o poder de Jesus persistem. Precisamos saber que seu corpo ressuscitou, pois o corpo ressurreto de Jesus foi a primeira partícula da ordem material a ser redimida e transfigurada. Ela é o penhor divino de que um dia o resto há de ser redimido e transfigurado.157 A ressurreição de Jesus nos dá, pois, a garantia do perdão, <lo poder e do triunfo definitivo de Deus. Ela nos possibilita encarar o nosso passado (por mais motivos que tenhamos para nos envergonhar dele), confiantes do perdão de Deus através daquele que morreu por nossos pecados e foi ressuscitado; encarar o nosso presente (por mais fortes que sejam as nossas tentações, e mais pesadas as nossas responsabilidades), confiantes na suficiência do poder de Deus; e encarar o nosso futuro (por mais incerto que seja) confiantes na vitória definitiva de Deus, cuja garantia é a ressurreição. A ressurreição, justamente por ter sido um ato decisivo, público e visível de Deus, dentro da ordem material, dá-nos a absoluta garantia de um mundo que, de outra forma, seria completamente inseguro.

CAPITULO CINCO

JESUS CRISTO É SENHOR O evangelho dos apóstolos não se ateve ao fato e ao significado da cruz e da ressurreição, mas foi mais além, concentrando-se no seu propósito: "Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor, tanto de mortos como de vivos".158 E fato conhecido que o mais primitivo, mais curto e mais simples de todos os credos cristãos era a afirmação "Jesus é Senhor". Aqueles que reconheciam este senhorio eram batizados e recebidos na comunidade cristã. Afinal, como escreveu Paulo, sabia-se muito bem, por um lado, que: "Se com tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo"; 159 e, por outro lado, 151 l

Co 15.49 (BLH) 19.28 153 Ap 21.5 154 Rm 8.20-23 155 2 Pe 3.13: Ap 21.1 156 1 Pe 1.3 157 O professor Oliver O'Donovan vai muito além disso no seu instrutivo livro Resurrection and Moral Order: An Outline for Evangelical Ethics (1VP and Eerdmans, 1986). Seu argumento é que a ressurreição de Jesus é o alicerce em que se baseia a ética cristã, pois ela proclama que a ordem do mundo criado foi vindicada e reafirmada por Deus; ou melhor, foi redimida, renovada e transformada. "A partir da ressurreição nós olhamos, não somente para trás, para a ordem criada que é vindicada, mas também para a frente, para a nossa participação escatológica nessa ordem" (p. 22), não somente "para trás, para o que lá se reafirma, a ordem da criação", mas também "para diante, para o que ali se antecipa, que é o reino de Deus" (p. 26) 158 Rm 14.9 159 Rm 10.9 152 Mt

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que "ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito de Deus".160 A primeira vista, pode parecer muito estranho que duas palavras gregas - Kyrios lesous "Senhor Jesus" (pois não existe nenhum verbo conectivo em nenhum dos versículos citados no parágrafo anterior) - pudessem servir como base satisfatória para se identificar e acolher alguém como cristão genuíno. Não seriam estas palavras terrivelmente inadequadas? Ou, pior ainda, não seria isto um reducionismo teológico? A resposta a estas perguntas é "não". Afinal de contas, as duas palavras em questão, que soam como

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