Grão Vizir

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Patrícia Franconere passado inglória.Eu vivia de lembranças amargas.Mesmo sabendo que eu estava hospedado na pensão meu pai não me procurou.Acho que foi melhor assim.As pessoas que moravam na pensão eram amistosas,alegres e hospitaleiras.Tudo era motivo para comemorações, mas eu nunca estava com espírito para festas.Não foram poucas as vezes que o pessoal da rua se reuniam na calçada para tocar samba e chorinho com alguns rapazes que tocavam na bateria da escola de samba Vai-Vai.O seu Giacomo era mestre no cavaquinho e o seu João era número um no pandeiro.Outros rapazes tocavam cuica e surdo.Sempre que o grupo tocava os vizinhos faziam uma roda emtorno deles.Algumas moças mais desinibidas sambavam alegres exibindo seus corpos esculturais.O que eles mais cantavam eram as músicas do cantor Paulinho da Veula e dos Demôneus da Garoa.Cheguei a conhecer o saudoso Adoniram Barbosa e seu amigo Ernesto em uma dessas rodas.Os italianos da comunidade também se reunião para tocar tarantella.Cheguei a tocar meu violino algumas vezes a pedido da dona Catarina.Mas isso foram raras excessões.Apesar de gostar do pessoal da pensão eu não conseguia achar graça em um monte de gente rindo e conversando ao mesmo tempo.Eu achava irritante,por esse motivo quando eu dava o “ar da graça”era coisa de dez minutos.Não mais que isso. Um certo dia,voltando de mais uma das minhas inúmeras idas a uma agência de emprego no bairro da Liberdade,acabei entrando na rua Treze de Maio.Apesar de ser paralela com a rua dos Ingleses onde ficava a pensão ainda não tinha tido a oportunidade de conhece-la.Eu caminhava lentamente pela calçada me sentindo derrotado, confuso,o pior dos mortais.Não aguentava mais ouvir a palavra não.Estava disposto a trabalhar em outro ramo caso não aparecesse logo um trabalho como alfaiate.Reparei que havia um movimento de pessoas nas ruas.Estavam montando várias barracas.Perguntei a um senhor que passava o que estava acontecendo. — É a festa da nossa Senhora da Achiropita que começa amanhã.— respondeu o homem com sotaque italiano. — Nossa senhora da Achiropita? — Sim.Festa da Igreja da Achiropita. — Mas aqui no Brasil tem igreja da Achiropita? — perguntei confuso. — Mas é claro! Você ainda não conhece a igreja rapaz? — Não.— Respondi. — Sabe,a devoção a Nossa Senhora da Achiropita acompanhou os imigrantes calabreses até aqui e criaram raizes através das novas gerações de devotos.E para nosso orgulho, no mundo só existem duas igrejas dedicadas a nossa senhora da Achiropita.Essa do Bixiga e a de Rossano. Fiquei pensando.Por que será que meu pai omitiu esse detalhe nas cartas? O homem pegou no meu braço gentilmente e me apontou uma direção. — Olhe lá.Aquela é a igreja de Nossa Senhora da Achiropita.Você está a menos de cem metros dela. Mais uma vez a imagem da minha mãe veeu preencher minha mente.Quantas vezes ela me revelou que queria conhecer a catedral em Rossano.Agradeci o bom homem e caminhei lentamente.Apesar de ter me afastado de Deus,não pude perder a oportunidade de conhecer a a igreja.Se não por mim,por minha mãe.Continuei caminhando pela calçada.Me deparei com um edifíco de arquitetura barroca.Um predeu tetangular de fachada branca coberto com uma cúpula dourada.A igreja estava aberta ao público.Hsitei ao entrar.Senti o peso de uma mão em meu ombro direito.Olhei para trás e vi a figura de um padre.Ele era de estatura mediana,calvo quase careca e usava óculos.

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