Revistabang 14

Page 67

barco a vapor trouxe-nos de Constantinopla até à costa da C iilha de Prinkipo, onde desembarcámos. Não eram muitos os passageiros. Havia uma família polaca, pai, mãe, filha e o noivo desta, e nós os dois. Oh, sim, e não posso esquecer-me de que quando já estávamos na ponte de madeira que liga o Corno Dourado a Constantinopla, se juntou a nós um grego, um rapaz bastante jovem. Era provavelmente um artista, a avaliar pela pasta que trazia debaixo do braço. Os cabelos longos, pretos e ondulados, flu-

car-se dela. Apoiava-se no noivo quando caminhava e ficava sentada com bastante frequência para descansar, enquanto uma pequena tosse seca e persistente interrompia os seus murmúrios. Sempre que tossia, o seu acompanhante parava atenciosamente a caminhada. Olhava sempre para ela com um ar de comiseração sofredora, mas ela devolvia-lhe o olhar e dizia: – Não é nada. Estou feliz! Ambos acreditavam na saúde e na felicidade. Por recomendação do grego, que se separou de nós assim que chegámos

que não pudéssemos ver os seus desenhos – disse eu. – E nem precisamos de os ver – disse o jovem polaco. – Temos à nossa frente paisagem suficiente para admirar. – Um pouco depois, acrescentou: – Parece-me que nos está a retratar como uma espécie de pano de fundo. Bem, é deixá-lo! Tínhamos realmente paisagem suficiente para onde olhar. Não existe canto do mundo mais bonito ou mais feliz do que Prinkipo! A mártir política, Irene, contemporânea de Carlos Magno, viveu ali durante um mês, quando estava no exílio. Se pudesse ali viver durante um

tuavam-lhe até aos ombros, o rosto era pálido e os olhos negros estavam profundamente enterrados nas órbitas. O rapaz despertou o meu interesse desde o início, principalmente pela sua delicadeza e conhecimentos das condições locais. Só que falava demasiado e acabei por me afastar dele. A família polaca era bastante mais agradável. O pai e mãe eram pessoas bondosas e simpáticas, o noivo um rapaz jovem e bonito, de modos directos e refinados. Dirigiam-se a Prinkipo para passar os meses de Verão por causa da filha, que se encontrava um pouco combalida. A bonita e pálida rapariga estava ou a recuperar de uma doença grave ou então uma doença séria estava a acer-

ao cais, a família instalou-se no hotel da colina. O encarregado do hotel era um francês e todo o edifício estava confortável e artisticamente equipado, seguindo o estilo francês. Tomámos o pequeno-almoço juntos e quando o calor do meio-dia esmoreceu um pouco, decidimos subir para as colinas, onde no bosque de pinheiros siberianos nos deliciámos com a vista. Mal tínhamos acabado de encontrar um lugar adequado para nos instalarmos quando o grego reapareceu. Cumprimentou-nos levemente, olhou em redor e sentou-se a poucos passos de nós. Abriu a pasta e começou a desenhar. – Acho que ele se sentou propositadamente de costas para as rochas para

mês, viveria feliz com as memórias daquele lugar para o resto dos meus dias! Jamais esquecerei aquele único dia que passei em Prinkipo. O ar era tão límpido como um diamante, tão suave e meigo que a nossa alma pairava nele, elevando-se na distância. À direita, para lá do mar, elevavam-se os acastanhados picos asiáticos; à esquerda, ao longe, estendiam-se as violáceas costas íngremes da Europa. A vizinha Chalki, uma das nove ilhas do Arquipélago do Príncipe, erguia-se com as suas florestas de ciprestes até à pacífica altura como um sonho lamentoso, coroada por uma grandiosa estrutura – um asilo para aqueles cujas mentes estavam doentes.

BANG! /// 65


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.