Rasgos Culturais: Consumo Cinéfilo e o Prazer da Raridade

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país – nada mais é que uma busca pela reconquista imaginativa dos espaços públicos. O cineclube nesse modelo não é apenas uma lógica propulsora irracional de expansão do consumo, mas um parâmetro de como é possível criar formas de democratização alternativas e gratuitas de consumo não afuniladas ou determinadas por atestados econômicos. É uma oposição à programação que hierarquiza os bens culturais por sua rentabilidade. Trata-se de uma iniciativa que toma a realidade e a formação de identidades como uma cadeia onde os códigos compartilhados se ramificaram para além da ideia de etnia, classe ou nação. Se o mito de igualdade e democracia direta gerada pelas comunidades virtuais pode terminar minando as práticas de representação e participação política real, se a cinefilia é uma maneira de politizar a individualidade, o cineclubismo é a maneira de coletivizar esses anseios, possibilitar o agrupamento das individualidades num grupo geograficamente e afetivamente unido. Os cinéfilos saem de seus quartos, deixam de lado o computador, levam consigo suas coleções e projetam os seus filmes raros para o maior número de pessoas. O cuidado final é o de não instituir a raridade como um valor em si, a raridade pela raridade, mas colocá-la como mote no esboço de um consumo autoral.

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