Relatório de Viagem IICA - Fortaleza

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VULNERABILIDADE, IMPACTOS E ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS REGIÕES DO SEMIÁRIDO Em uma sessão da manhã, Jürgen Kropp, do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático, da Alemanha, argumentou que há um problema de gestão do conhecimento sobre as mudanças climáticas. “Os dados coletados por si só não bastam, as experiências devem ser compartilhadas e o conhecimento complexo interpretado para uso dos tomadores de decisões”, destaca Kropp. Para Paulo Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, “os estudos sugerem que a mudança climática fará com que o Nordeste do Brasil seja mais quente e árido, com chuvas irregulares, perda de produção agrícola e tenha impactos negativos nos emprego”. Ele sugeriu respostas, tais como, programas de emprego para recuperar a paisagem natural do Bioma Caatinga, reflorestamento às margens de rios e promoção de irrigação com energia solar de culturas de alto rendimento. Otamar de Carvalho, consultor e economista, discutiu o efeito das secas, inundações e variações climáticas sobre os agricultores pobres no nordeste semiárido. Ele também explicou que grande parte da produção econômica nordestina e da população é afetada pela desertificação. Usando exemplos do Brasil, China, Haiti e África sub-sahariana, Gnadlinger Johann, do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Aplicada (IRPAA), discutiu a possibilidade de utilizar várias formas de aproveitamento das águas pluviais na adaptação às mudanças climáticas. Jagadish Baral, do Ministério das Florestas e Conservação do Solo do Nepal, discutiu os impactos positivos e negativos das mudanças climáticas na planície semiárida de Mustang, no Nepal. A IMPORTÂNCIA DA COMUNIDADE, CULTURA, IDENTIDADE E EQUIDADE EM ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS Carol Farbotko, da Universidade de Wollongong, Austrália, observou que o aquecimento do planeta aumentará a migração de refugiados do clima. Farbotko lamentou as políticas reacionárias para refugiados do clima em face de desastres naturais, especialmente aquelas que reduzem a circulação transfronteiriça. A professora observou ainda, a necessidade de ferramentas equitativas para avaliar processos de migração climática. Julian Rebotier, da Universidade do Québec, no Canadá, falando sobre questões de justiça e mudanças climáticas em cidades latino-americanas, observou que a “crença na mudança climática não advêm da fé, uma vez que a mudança climática é um fato mensurável. A falta de conhecimento detalhado do clima no âmbito ocal para assegurar uma adaptação eficaz”. Jonathan Ensor, da ONG Practical Action, do Reino Unido, sobre a adaptação baseada na comunidade e na cultura, destacou que as normas sociais e a cultura podem condicionar os processos de adaptação. “A Practical Action trabalha com comunidades da África, Ásia e América Latina no desenvolvimento de suas habilidades e conhecimento e utilização de tecnologias adequadas para ajudá-los a desenvolver uma vida mais segura, lidar com os riscos que enfrentam e adaptar as suas vidas para cumprir com êxito os desafios do futuro”, destacou Ensor. Renata Marson Teixeira de Andrade, da Universidade Católica de Brasília, e Andrew Miccolis, da Consultoria ComSensos, apresentaram dados da vulnerabilidade às mudanças climáticas no Brasil, observando que o plano de mudança climática brasileiro enfatiza o uso de combustíveis renováveis e aumenta a utilização de biocombustíveis. Renata lamentou a falta de estudos que avaliem os impactos e as vulnerabilidades existentes nas comunidades locais e a falta de recomendações sobre estratégias para uma boa adaptação.

DESENVOLVIMENTO DAS REGIÕES SEMIÁRIDAS Antônio Galvão, Diretor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), coordenou a mesa de debates o desenvolvimento das regiões ICID + 18 l 9 l Agosto 2010

semiáridas. Antônio Galvão leu uma mensagem de Ignacy Sachs, do Centro de Pesquisa para o Brasil Contemporâneo, destacando que a humanidade tem dois grandes desafios: pobreza e mudança climática. LEIA O ARTIGO ABAIXO. “O desenvolvimento do semiarido carece de um aporte mais decisivo em linhas de pesquisa para o semiárido, mas há enormes desafios para áreas emergentes”, destacou Galvão. Ivan Silva Lire, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), falando sobre as regiões semiáridas da América Latina, observou que 11% das regiões economicamente ativas geram 55% do produto interno bruto, salientando que essas regiões são caracterizadas pela desigualdade. Ele disse que as regiões com alto crescimento exploram os recursos naturais que estão ligados à economia mundial. Tania Bacelar, professora da Universidade Federal de Pernambuco, apontou que há mais oportunidades do que ameaças ao se tratar de mudanças climáticas. “As regiões semiáridas do Brasil enfrentam diminuição das colheitas e aumento da urbanização crescente”, destaca Bacelar. José Eli da Veiga, da Universidade Estadual de Campinas, chamou a atenção para a importância do intercâmbio eficaz de conhecimentos e do incentivo e transferência de tecnologia na região, a fim de aumentar as atividades econômicas das comunidades. Para Veiga, “que o preço das tecnologias deve diminuir para aumentar a aceitação e o uso de novas tecnologias”.

Artigo de Ignacy Sachs para ICID+18

EM BUSCA DE SOLUÇÕES TRIPLAMENTE VITORIOSAS Os desafios da conferência de 2012 das nações unidas sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável A segunda Conferência Mundial, programada para 2012, reunir-se-á novamente no Rio de Janeiro no limiar da terceira grande transição na longa coevolução da espécie humana com a biosfera. A primeira transição, conhecida como a “revolução neolítica” (Gordon Childe ), começou há doze mil anos e foi marcada pela domesticação de várias espécies vegetais e animais, pela sedentarização das populações humanas e pelo surgimento das primeiras cidades. A segunda transição, associada ao aumento de combustíveis fósseis, teve início no final do século XVII e conduziu à Revolução Industrial, que mudou completamente a face da nossa civilização. A atual transição deveria libertar-nos tão rapidamente quanto possível da nossa dependência excessiva do petróleo e do carvão, de modo a reduzirem-se as emissões de dióxido de carbono responsáveis pelo aquecimento da atmosfera e pelas consequentes mudanças climáticas deletérias. De acordo com Paul Clutzen, ganhador do Prêmio Nobel, entramos numa nova era geológica — o Antropoceno — na medida em que as atividades humanas têm crescido a um ponto em que elas têm um impacto significativo sobre os ecossistemas da Terra. Cabe a nós, os passageiros da “espaçonave Terra”, mostrar que somos capazes de agir como autênticos “geonautas” para preparar uma saída ordenada no século XXI fora da idade do petróleo e, possivelmente, da era da energia fóssil por completo. Mais genericamente, devemos


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