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PRIMITIVOS MODERNOS: A ACELERADA COLISÃO ENTRE O PASSADO E O FUTURO NA ERA PÓS-MODERNA Steve Mizrach

com os tabus e o exótico, e filósofos oscilavam em direção à imagem e à liberdade do Nobre Selvagem.

Hoje, em grande parte graças a editores como Re/Search e Loompanics, Autonomedia e Amok Press, muitas pessoas estão familiarizadas com o movimento "modern primitives"[primitivos modernos]. Elas sabem que ele envolve um tipo estranho de justaposição de alta tecnologia e "baixo" tribalismo, animismo e intervenção no corpo - uma espécie de 'Tecnoxamanismo", se se quiser. Ao mesmo tempo "transe" de possessão e dança cinética. Em livros como Count Zero, de William Gibson, Inteligências Artificiais (IAs) ultra-complexas tomam a personalidade dos deuses do voudu haitiano e capturam a mente dos iniciados através de redes mentais criando uma tecnoreligião.

Enquanto uma Antropologia culturalmente mais relativista procurou limpar as idéias pejorativas associadas com "primitivismo", preferindo descrever ideograficamente mais que evolucionariamente as menos "avançadas", prémodernas, sociedades indígenas do planeta, a noção de "primitivo" continuou poderosa na cultura ocidental, que internalizou representações de "primitivos" de dentro (Nativos Americanos) e de fora (Oceanianos, Africanos etc.). Para muitas pessoas na órbita das civilizações ocidentais (que aos poucos cobrem o planeta inteiro), o "primitivo" ainda significa um pré-moderno, alternativa imaculada" para a industrialização, o capitalismo e o iluminismo europeus. Representa um passado dourado, de coisas deixadas de lado na marcha do progresso, ao qual poderia ser justaposto um futuro tecnológico distópico.

A idéia "primitivo" é, claro, uma das idéias do evolucionismo social do passado, abandonadas pela Antropologia. Embora criada com a simples função de descrever fases temporais, funcionou inevitavelmente como um termo valorativo, sugerindo que aquelas sociedades às quais eram aplicadas eram inferiores em termos de escrita, conhecimento, tecnologia, organização social ou julgamento moral - em uma palavra, de sua falta de "civilização". A noção era, claro, inescapavelmente etnocêntrica, pois assumia que todas as sociedades do planeta moviam-se numa escala para o padrão da cultura ocidental, no que diz respeito à religião (monoteísmo), casamento (monogamia), economia (mercado livre), governo (representação democrática), etc. O "primitivo" era, ao mesmo tempo, injuriado e romantizado, especialmente por artistas românticos fascinados

E, então, eis a modernidade. O que significa ser um moderno e ainda perguntar-se sobre o quanto deixamos a condição da modernidade para trás. A modernidade foi provavelmente a visão de que o futuro poderia ser radicalmente diferente (e de preferência melhor) que o presente. Certamente, nas artes, a modernidade foi associada com Futurismo, envolvendo um tendência para a ação, velocidade, poder, abstração e mudança, bem como outros movimentos de vanguarda - Surrealismo, Dadaísmo, Expressionismo etc. A Modernidade significou basicamente experimentação para muitas pessoas; uma recusa a ser constrangido pelas convenções do passado e uma demanda por chocar a moral e a tradição da burguesia. Novos territórios - a mente inconsciente, por exemplo -, estavam abertos à investigação e criação.


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