Antologia Brasil, 1890-1930

Page 79

Antes de tudo, pode-se pedir à fotografia as qualidades brilhantes e deliciosas da pintura e da arquitetura, ou da música?... Não se pode compará-las, senão a duas cousas comparáveis: ao lápis, aguada de tinta da China, à sépia, isto é, a toda imagem em negro e branco, ou em uma só cor graduada no tom mais sombrio ― quase preto ― até o mais pálido, quase alvo. Ainda se lhe pode permitir ser outra cousa e não se lhe negar o nome de arte. Se não fosse assim, ter-se-ia de o recusar às obras de Allongé, ou aos desenhos de Lhermitte, que nenhuma relação têm com o lápis de Ingres. Enfim pode-se admirar no mais alto grau a probidade de Ingres, a profundeza de Gavarni, a síntese de Forain, a análise de Caran d'Ache, sem por isso dizer que toda arte de preto e branco mantem-se entre o retrato de Thomaz Vireloque e dos desenhos subtis de Doux Pays. De feito, o nosso autor tem razão, porque a questão não versa somente em saber ― se a fotografia possui as mesmas qualidades, que os outros processos artísticos, porém se possui algumas, que sejam dignas de serem comparadas; se o papel do artista é muito importante para modificar o aspecto de uma obra; enfim, se intervem muitas vezes para aquinhoar na produção e não ter simplesmente parte na reprodução e que se tem o talento de acrescentar à beleza do sítio, que a todos pertence ― uma ideia, um sentimento exclusivamente seus. Diz o nosso autor que, examinando as operações fotográficas, reconhece que o artista intervem em três momentos diferentes. Primeiro: ele escolhe a natureza do objeto, que se tem de representar; parece simples, mas de certo não é tanto. Na natureza, diz Corot, nunca duas cousas são sempre iguais e os sectários do estudo ― après nature ― Bertin e Aligny ― consideram haver grande mérito ― em saber assentarse melhor do que ninguém. Assim é uma ciência ― o achar o ponto justo de onde o objeto deve ser visto e considerado e não só o ponto, mas a estação, a hora, o tempo, a razão de ser do motivo. ― Quis, quid, ubi, quibus auxilüs, cur, quomodo, quando. Em verdade, o mais belo objeto do mundo poderá ser um medíocre assunto para um quadro, se não for visto sob o ângulo apropriado e conveniente ― no momento estético; ― e, por outro lado, que assun-

Antologia Brasil, 1 890-1 930

75


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.