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Alexandre Castro - Patrícia Helena Rubens Pallu

conhecimento, a língua seria o material fundador de nosso psiquismo e de nossa vida relacional. Dito de outra forma, ao aprender um segundo idioma em idade adulta pode parecer ao aprendiz que está adquirindo uma segunda identidade – o que pode causar temor e, em decorrência, rejeição. “Iniciar o estudo de uma língua estrangeira é colocar-se em uma situação de total ignorância, é retornar ao estágio de infans, do bebê que ainda não fala. É retornar ao estágio de impotência no se fazer entender. Isso é reforçado quando o método utilizado é o que privilegia o trabalho oral que focaliza sons e ritmos. Esse método de apropriação pela boca dos novos sons parece que não é ‘natural’, se levarmos em conta os risos que provoca em quem nos ouve e os bloqueios que suscita no aprendiz (...) Pode haver aí um sentimento de impotência que pode parecer com o desamparo. Agora já não sei dizer o que quero? Estou à mercê dos outros? Perdi minha identidade, minha autonomia?”. (Pallu, 2008: 132).

Rajagopalan (2003) também reforça que quem aprende uma língua nova está se redefinindo como pessoa nova. E é difícil para muitos adultos tornar-se um outro eu – eles temem perder a identidade materna, temem esse outro eu ainda desconhecido. O envolvimento afetivo vivido na infância na aquisição da língua materna – e que não existe em sala de aula – pode gerar desmotivação, fixidez na língua materna, preconceito contra línguas, recusa em adquirir uma outra identidade linguística, sentimento de que não vai conseguir, antipatia com o professor, entre outras.

4.2.3 Dificuldades metodológicas Outro fator que dificulta o aprendizado de uma segunda língua em idade adulta são as metodologias utilizadas por inúmeras escolas. Uma delas é a que se baseia na crença de que a aprendizagem ocorre numa sequência – ouvir, pensar, falar, ler e escrever, quando, na realidade, o pensamento e a fala estão inter-relacionados, isto é, um não se constrói separado do outro, e no adulto esse processo deve ser orientado nessa ordem. Há escolas que se assentam em metodologias tradicionais desatualizadas – como as de simples tradução de palavras e frases prontas. Em geral, tais metodologias cultivam alunos submissos e passivos, que acreditam que é o professor quem sabe e ensina, não percebendo que é o aprendiz, pelo seu próprio esforço, quem se apropria do conhecimento.

4.3 Por que Shakespeare? Poucas escolhas poderiam ter mais numerosos e sólidos motivos para adequar-se ao eixo do projeto pedagógico do Grupo de Teatro de aproximar os alunos dos grandes autores da dramaturgia mundial. Amplamente considerado o maior dramaturgo de COMUNICAÇÃO - REFLEXÕES, EXPERIÊNCIAS, ENSINO |Curitiba | v. 2| n.2|p.141-154| 1° Semestre 2009 | 151


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