A objetividade do conhecimento nas ciências sociais: o caso dos assentamentos

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desfrutando de alguns bens (extremamente precários, na maior parte dos casos), que não estão incluídos nos cálculos por ele oferecidos. Em suma, concentração de renda, precária capacidade de resolver os problemas dos mais pobres, falta de sustentabilidade econômica, tudo isso condena a reforma agrária a uma opção pouco racional de política social e distributiva, segundo a opinião de Márcio Henrique Castro. 2.2. O estudo da FAO Vejamos então os principais dados da pesquisa da FAO. A renda total do assentado, tal como a define o estudo da FAO, é a soma de cinco categorias: renda agrícola líquida, renda animal líquida (renda total destes produtos menos despesas, tudo indexado pelo IGP/FGV-DI), renda de consumo (avaliada aos preços de venda dos produtos auto-consumidos) renda de outros trabalhos e de outras receitas. Se por um lado, relativamente ao trabalho do BNDES, a renda aqui encontra-se "superestimada" pela inclusão do auto-consumo, por outro, a FAO computa a renda líquida da atividade (o que subestimaria o total), enquanto o BNDES calcula a sua renda bruta. A tabela I resume os resultados alcançados TABELA I

Renda familiar nos assentamentos em salários mínimos Norte: Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil

4,18 2,33 3,85 4,13 5,62 3,70

Fonte: FAO, 1992:25 Desde logo fica nítida uma contradição: justamente na região em que a reforma agrária é mais necessária, os assentamentos apresentam renda menor. O primeiro ponto que a FAO (1992:26) assinala é que a renda global obtida é "...bastante significativa, se comparada com a média salarial da população de baixa renda da cidade ou com a média de renda do setor rural". Esta é provavelmente a razão pela qual, nas entrevistas, 90% dos assentados dizem que sua situação melhorou com relação à que se encontrava antes de


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