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Victor Lisita

G

“Foi difícil, realmente. Mas minha família sempre me apoiou muito, mesmo com as distâncias. Eles perceberam que eu tinha talento. Claro que existiam preocupações, mas, sem essa rotina, eu não teria chegado até aqui.” Como se já não bastasse o cronograma lotado, Adhonay ainda precisou fazer uma dieta balanceada. Oito quilos foram embora. Não por pressão do meio artístico, mas sim como um desafio pessoal. “Eu mesmo tomei a iniciativa. Ainda criança, foi muito complicado mudar a forma de comer. Chorava muito por isso.” O resultado? Perceptível não apenas na aparência, como também no desempenho. “A forma de me movimentar e a leveza dos passos ficaram mais fáceis. Ajudou, inclusive, com a autoestima, porque vi do que eu era capaz. Lembro que até minha mãe entrou comigo na dieta.” Dos 9 aos 16 anos, o balé tornou-se a profissão de Adhonay. Quanto mais aulas ele fazia, mais ele se dedicava a entregar

o inesperado. Reconhecido pela professora pelo talento nato e trabalho duro, foi colocado em uma turma mais avançada aos 10 anos. O amadurecimento na dança e a experiência possibilitaram-lhe participar de competições em São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro. “O dinheiro também não era fácil. Sou muito grato por ter ganhado passagens e hospedagens em todas as competições.” Foi após a primeira competição internacional que o bailarino começou a conjecturar novos horizontes. Finalista do Youth America Grand Prix, em Nova York, Adhonay conseguiu várias bolsas de estudo com apenas 14 anos. Dentre elas, uma em Princess Grace Academy, em Mônaco, outra no American Ballet Theatre, em NY, e no Stuttgart Ballet, na Alemanha. Novo e ainda sem a maturidade necessária para morar sozinho em outro país, ele acrescentou em sua rotina a dança no Teatro Escola Basileu França e manteve o cronograma de disputas internacionais. FOTO: CARLOS QUEZADA

ratidão. Conjunto de oito letras que define como está o estado de espírito de Adhonay Soares da Silva atualmente. Um único sentimento, capaz de refletir todo o caminho percorrido pelo bailarino de 22 anos. Longe de Goiânia, sua cidade natal, há seis primaveras, ele encontrou não apenas responsabilidades quando deu o passo mais importante de sua carreira, mas descobriu o que mais nos dá força para continuar caminhando: sonhos podem se tornar realidade. Em meio às lembranças mais antigas, foi o comprometimento e os sacrifícios que o fizeram chegar ao importante título de Primeiro Bailarino, em Stuttgart, na Alemanha. “O que mais recordo da minha infância são as músicas que eu ouvia e os momentos com a dança. Na época, tudo era apenas um sonho distante.” Adhonay cresceu no Jardim Curitiba 2, na região noroeste da Capital, conhecida pelos altos índices de violência. Longe dos centros urbanos da cidade, em que era preciso pegar um ou mais ônibus para chegar ao colégio, ele ficava quase o dia inteiro fora de casa. Transitando, chegando e partindo. Não tinha como saber na época, mas um simples convite mudaria sua vida para sempre. Professora de ensino fundamental, a mãe de Adhonay lecionava para muitos alunos no Colégio Gálatas, no Jardim Nova Esperança. Uma em questão dançava balé no Centro Cultural Gustav Ritter e presenteou a Sra. Selma Inácia com dois ingressos para um show da dança. “Eu tinha nove anos quando fomos assistir à apresentação. Não lembro bem dos detalhes, mas tudo o que vi foi suficiente para me apaixonar.” Sempre apoiadora dos sonhos do filho, ela o levou para um teste no mesmo espaço cultural, onde foi analisado o histórico do pequeno Adhonay e sua perspectiva na arte. “Passei de cara! Quase não dava para acreditar! Foi uma das minhas primeiras conquistas nesse universo.” Atividade nova. Rotina nova. Do Jardim Curitiba 2 ao Jardim Nova Esperança. Do Jardim Nova Esperança a Campinas. De Campinas, de volta ao Jardim Curitiba 2. Com apenas 9 anos, o cronograma diário de Adhonay começava cedo e terminava mais tarde que o de muitos adultos. Ele acordava antes das 6h para chegar a tempo da primeira aula, saía da escola e almoçava rápido para não se atrasar para o balé. Com início às 14h, o ensaio no Gustav Ritter durava todo o período vespertino e ainda pegava parte do noturno, terminando sempre às 22h. Sozinho, seu horário comum para chegar em casa era às 23h.

O BAILARINO REALIZA O MOVIMENTO “PENCHÉ” DURANTE O SHOW “THE SECOND DETAIL”

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