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1º DE OUTUBRO DE 2020 · EDIÇÃO 9 · ANO 1
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SOBREVIVENTES MESMO COM PANDEMIA, NEGÓCIOS CONTINUAM 70 ANOS
SÃO SÓ MITOS
No começo, tudo foi improvisado e mal feito
Malabarismo dos filmes frusta muita gente
TELEVISÃO
PORNÔS
NA GAVETA
DESARMA?
Deputado quer revogar o Estatuto. Mortes diminuíram
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editorial
destaques Porque estamos na primavera?
Vendas de bike cresceram 118% São Paulo: Armas de Fogo x Menos Mortes Uma freira em defesa do aborto
Aviso: excepcionalmente no dia 15 de novembro não circularemos por conta das eleições municipais antecipando a edição para dia 13 do mesmo mês
expediente 4
GRUPO NOVO DIA
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N
Sobreviventes
@revistaurbem
Época de milagres
12 22 30 38 58
o último dia 27 começou oficialmente a campanha eleitoral em todo o Brasil. São milhares de candidatos disputando uma vaga nas câmaras e prefeituras. Na realidade, a campanha começou bem antes, sob o título de pré-campanha, outra excrescência criada pelo nosso tribunal eleitoral. Até 15 de novembro será a temporada dos milagres, quando todos os problemas serão resolvidos. Alguns candidatos são tão ridículos que só falta prometer a cura pra dor de dente. Há candidatos folclóricos demais. E há candidatos mentirosos demais. Principalmente candidatos a vereador. Gente que vai prometer ponte, avenida, viaduto, casas populares, novos hospitais e até prostíbulos públicos. Tudo mentira. Vereador não constrói nada. Vereador não faz obras. Vereador consegue, no máximo, pedir que o prefeito faça isso ou aquilo. Já existe candidato, desaparecido durante quatro anos, exibindo fotografias em redes sociais. Um deles afirma ter construído uma escada. Ou ele é pedreiro ou manda no prefeito. No caso, nenhuma das duas hipóteses. É só uma mentira para enganar eleitores. Mas há quem acredite. Parece que o eleitor está mais consciente, mais atento aos discursos, mas mesmo assim muitos imbecis serão eleitos em todo o Brasil. Candidatos que prometem resolver os problemas de Educação, Saúde, Trabalho e Segurança. Se o candidato é imbecil, mais imbecil ainda é quem acredita e vota nesse tipo de gente. Não adianta. Sempre foi assim. A ignorância está arraigada na cultura brasileira. Eleitores que acreditaram em promessas já elegeral deputados como os cantores Agnaldo Timóteo e Moacir Franco, o cacique Juruna e o palhaço Tiririca. Mantêm no Congresso corruptos de carteirinha, como o senador Renan Calheiros, ou uma deputada chamada Flordelis, aquela que fazia sexo com os filhos e mandou matar o marido. Consideradas as proporções, as câmaras municipais não deverão ser muito diferentes. Nota-se ainda que de eleição para eleição, o nível das câmaras diminui. Foi-se o tempo dos debates, dos bons oradores. Foi-se o tempo das boas idéias.
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C
ARTIGO
Gaudêncio Torquato Jornalista e Professor
Nossas vidas no amanhã
“
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U
m exercício de paciência. Missão de per-
sempre o dos impulsos inatos aos seres vivos. Anali-
sistência. Uma vida de mais renúncias.
sando as reações do comportamento, Pavlov se vale
Essas três frases servem para circunscre-
do exemplo da ameba para explicar os reflexos do ser
ver nossas vidas no amanhã. O biólogo e pesquisa-
humano. A ameba foge do perigo, absorve alimen-
dor Átila Iamarino dá a dica: “não tem volta mágica
tos, multiplica-se, forma quistos dentro dos quais se
para 2019 sem vírus. É uma adaptação pragmática
multiplica em um enxame de pequenas amebas. Por
para 2021 com ele.” Portanto, devemos já começar
aí, podemos ter a primeira resposta para a questão
a gigantesca tarefa de fazer as mudanças que se
da metáfora de guerra, tão do gosto dos indivíduos.
fizerem necessárias para convivermos com os dias
As pessoas, como as amebas, procuram evitar o pe-
futuros. Urge termos consciência dessa necessidade.
rigo e preservar sua espécie. Se um vírus, um Covid
Não se espere pela volta pura e simples aos dias de
qualquer, aparece de repente ameaçando o fluxo vi-
ontem, com a manutenção de velhas regras, padrões
tal, o ser vivo tenta dele se afastar, matando-o ou
de comportamento, atitudes e gostos.
tomando as precauções para que ele desapareça.
A reforma na área dos costumes é uma das mais
A natureza procura conservar a vida, de acordo
árduas. Afinal, costume faz parte da tradição, car-
com dois grandes princípios: o do soma e o do gér-
rega o dna de todo um processo civilizatório. Mas
men. O primeiro, o indivíduo, conduz o segundo, a
há de se compreender que a vida segue seu curso e
espécie; o primeiro é mortal, descontínuo, e o segun-
avança na esteira das descobertas e inovações resul-
do é imortal, contínuo. Para preservar o indivíduo do
tantes das pesquisas nas áreas da biologia, biome-
aniquilamento, antes que tenha cumprido a tarefa
dicina, inteligência artificial etc. Portanto, qualquer
de transmitir o gérmen da espécie, a natureza o do-
arranjo no sentido de salvaguardar a integridade da
tou de dois mecanismos especiais; e da mesma for-
vida é e será bem-vinda, principalmente se olhar-
ma, para a preservação da espécie, proporcionou dois
mos um pano de fundo cheio de ameaças.
mecanismos. Os primeiros são os impulsos combati-
Como lembram os cientistas, o nosso foco será
vo e nutritivo; os segundos, sexual e paternal. Eis a
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base do argumento que sustenta a tese de que have-
implicará modelagem inovadora nas áreas dos di-
remos de adotar o pragmatismo para prolongar nos-
vertimentos, conservação ambiental, educação, mo-
sa preservação. A adaptação à realidade dos ciclos de
bilidade urbana, segurança pública, manifestações
vida é condição sine qua non.
coletivas, como eventos de massa. A grita será ba-
Dito isto, emergem as questões: que mudanças,
rulhenta, prevendo-se, desde já, um discurso críti-
que novos costumes adotar, quais as esferas que
co aos governantes, que estariam fazendo censura,
deverão ser mais impactadas, a individual ou a co-
opressão à liberdade de manifestação etc. Mas não
letiva? Com perdão dos amigos da área biomédica,
se faz reforma sem ponto e contraponto.
arrisco a inferir que o rol de adaptações assumirá
Como fortaleza de defesa de uma nova ordem
uma proporção circular, sistêmica, abrangente, na
mundial no campo sanitário, será necessária a che-
medida em que os elos da cadeia da saúde de um
gada ao poder de um núcleo com novas visões, olhar
povo abrigam mudanças nos padrões e normas go-
de estadista, empreendedorismo e coragem para en-
vernamentais, atitudes pessoais e comportamentos
frentar os infortúnios. Só assim a Humanidade será
coletivos. Entidades e pessoas físicas deverão en-
capaz de implantar um regramento que garanta a
trar na composição, operando as políticas de saúde,
sobrevivência da espécie, com destaque para a vida
com maior controle de cuidados sanitários, progra-
saudável do planeta, o que exigirá forte intervenção
mas intensivos de prevenção, inserção de uma visão
nas políticas preservacionistas e de melhor distri-
interdisciplinar, capaz de contemplar o Todo e não
buição de renda. A continuar a imensa disparidade
apenas as partes.
de classes, os grupos mais poderosos haverão de dar
É claro que uma eficaz revolução de costumes depende da chave da porta do futuro: a educação. Por isso, o sistema educacional, a partir do ensino de base até os níveis superiores, haverá de focar as políticas de prevenção e mudança de hábitos, o que
o tom maior e, nesse caso, a orquestra mundial ameaça continuar bastante desafinada.
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ARTIGO
Carlos Magno Professor de Medicina da Unesp
As revoltas da vacina
“
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U
m grande amigo e meu adversário filosó-
ciais por líderes populistas (incluindo, por exemplo,
fico favorito (em suas próprias palavras)
Donald Trump) e grupos militantes (os chamados
acredita ver um viés autoritário nos es-
Anti Vaxxers).
pecialistas em saúde pública que criticaram essa
Não se deve confundir o movimento antivacinal
declaração do Presidente da República. Este texto
com o motim popular conhecido como “Revolta da
pretende, amigável e popperianamente, refutá-lo.
Vacina”, que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro em
Em toda a minha vida estudantil (da pré-escola
1904 e cujo estopim foi a tentativa de instituir a
ao doutorado), fui atormentado por inúmeros pro-
imunização compulsória contra a varíola. Sabe-se
fessores (seu nome é legião). Mas nenhum deles, ao
hoje que o verdadeiro barril de pólvora incluía ou-
anunciar uma avaliação, enfatizou que “ninguém é
tros fatores, como reformas urbanas do prefeito Pe-
obrigado a estudar”. Exceto por ironia, ninguém de
reira Passos que removeram a população pobre dos
fato diria isso. Passemos da analogia aos fatos.
cortiços para os morros, criando as primeiras fave-
O movimento antivacinal não é novo. Um pan-
las. Aqui recomendo a leitura do livro de Nicolau
fleto que circulava em Londres na década de 1840
Sevcenko, “A Revolta da Vacina: Mentes insanas em
afirmava em enfáticas maiúsculas que a vacinação
corpos rebeldes” (Editora Unesp, 2018). Esse episó-
era “inútil, perigosa e desumana”. No entanto, ele
dio calou fundo no movimento sanitário brasileiro e,
ganhou dois reforços recentes. O primeiro ocorreu
por essa razão, entidades como a Associação Brasi-
quando Andrew Wakefield publicou um artigo as-
leira de Saúde Coletiva (ABRASCO) se posicionaram
sociando a imunização contra sarampo ao desen-
(e continuam a se posicionar) contra qualquer pro-
volvimento de autismo. Essa afirmação não só foi
posta de vacinação compulsória.
amplamente refutada por estudos posteriores, mas
As campanhas de erradicação da varíola, que ga-
fraudes na publicação e conflitos de interesses le-
nharam impulso após a II Grande Guerra, reforça-
varam-no aos tribunais e a ter sua licença médica
ram a importância da Organização Mundial da Saú-
cassada. O segundo reforço veio do uso das redes so-
de, contribuíram para a consolidação dos sistemas
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de informação sobre doenças e epidemias (vigilância
formidável livro “The Patient as Victim and Vector:
epidemiológica) e tiveram impacto no Brasil. Em
Ethics and Infectious Disease” (Oxford University
1973, em pleno governo militar, nasceu o Programa
Press, 2008) lembra que essa bioética individualista
Nacional de Imunização (PNI), hoje considerado um
que privilegia a autonomia nasceu em um período
exemplo até para os países de alta renda. O progra-
em que se acreditava que, pelo desenvolvimento de
ma foi impulsionado pela Constituição Federal de
vacinas e antibióticos, as doenças infecciosas epidê-
1988, que criou o Sistema Único de Saúde. Nesse
micas e endêmicas seriam logo erradicadas.
meio tempo, o mundo erradicou a varíola e o Brasil, a poliomielite.
Por essa lógica, alguém que não toma suas medicações para hipertensão arterial só prejudica a si
A excelente campanha de marketing do “Zé Go-
próprio. É seu direito. Ocorre que, em uma pande-
tinha” é estudada mundialmente como exemplo de
mia, aquele que não se vacina pode tanto adquirir a
delicadeza, humanidade e sobretudo eficácia. Incluo
doença (vítima) quanto transmitir a outros (vetor).
aqui outra sugestão: o fantástico fotolivro de Sebas-
Portanto, diversos países democráticos encontra-
tião Salgado, “O fim da pólio”, que mostra agentes
ram brechas na legislação para decretar, logo que
de saúde levando vacinas em pequenas canoas ou
necessário, a obrigatoriedade da vacinação contra
no dorso de camelos, para atingir as mais remotas e
COVID-19.
esquecidas populações. Assim também tem ocorri-
Em uma palestra realizada em 2003, durante a
do no Brasil. A imunoprevenção exemplar tem sido
epidemia de SARS (outra doença por coronavírus), a
internacionalmente reconhecida como a maior vitó-
professora Sueli Dallari, provavelmente a maior au-
ria brasileira contra as doenças infecciosas (Lancet
toridade brasileira em direito sanitário, dizia que em
2011; 377: 1877–89).
situações de catástrofe os conceitos bioéticos podem
Volto à questão, obviamente referente à COVID-19.
se modificar, retornando ao modelo de “conselho de
Ninguém é obrigado a se vacinar. Mas, quando pro-
anciãos”, que remete aos estágios tribais pré-histó-
ferido por alguém que já afirmou que não usaria va-
ricos. Isso significaria aceitar a expertise, ao mesmo
cina “daquele país”, esse discurso é um óbvio flerte
tempo em que se promove a discussão democrática.
com os movimentos antivacinais. Incluo aqui um
Ninguém é obrigado a tomar vacina. Fora de con-
detalhe curioso: a chamada “vacina de Oxford” terá
texto, essa frase é de tamanha obviedade que se-
sua fábrica de produção localizada... Na China. A
ria desnecessária. Contextualizada, é um convite à
Aztra-Zêneca, que investiu na universidade ingle-
baixa adesão a uma medida que pode salvar vidas.
sa, está também comprando a patente de uma nova
Nada que surpreenda, quando autoridades federais
vacina desenvolvida em universidade chinesa. Afi-
oscilam entre a negação psicótica e o darwinismo
nal, quem mais que aqueles que viram emergir duas
social deliberado.
coronaviroses graves tem expertise científica para produzir uma vacina? Ninguém é obrigado a tomar vacina. Isso é garantido pelo princípio bioético da autonomia, que consta na Declaração de Helsinque. Porém vale salientar (e indicar uma nova leitura) que Margaret Battin, no
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ASTRONOMIA
Por que estamos na Primavera?
A
Primavera não é somente um ítem no calendário. Sua ocorrência se dá, aqui no Hemisfério Sul, por conta de um fenômeno
astronôpmico: a luz solar incide igualmente nos dois hemisférios, fazendo com os dias e as noites tenham 12 horas cada. O equinócio acontece duas vezes por ano - num deles começa a Primavera, e no outro, o Outono.
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Tudo bem que todo mundo aprendeu isso na escola: a Terra leva um ano para dar uma volta ao redor do Sol. E enquanto vai dando essa volta, gira sobre si mesma a cada 24 horas. Mas a Terra tem uma inclinação de 23,5 graus, e isso dá origem às estações do ano. Se o eixo da Terra estivesse a 90° ou perpendicular ao plano de sua órbita, nosso planeta seria muito diferente. O nascer e o pôr do sol aconteceriam na mesma hora todos os dias. Também não teríamos estações do ano e haveria um grande impacto nos padrões climáticos em todo o mundo. No verão, o planeta está mais inclinado em direção o sol e no inverno, mais afastado dele. Durante um equinócio, nenhum dos polos da Terra está inclinado em relação ao Sol — com isso, os raios solares incidem sobre a Linha do Equador, iluminando com a mesma intensidade ambos os he-
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misférios. É por isso que a duração da luz do dia é teoricamente a mesma em todos os pontos da superfície da Terra. Daí o nome equinócio, palavra derivada do latim, que significa noites iguais.
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O equinócio marca o início da Primavera. Estação começou oficialmente na terçafeira e vai até 21 de dezembro 13
EM CASA
Família, sinônimo de amor, mas de conflitos também Neste período de quarentena, muitas famílias estão confinadas. E conviver demais com uma pessoa pode virar motivo para alguns desentendimentos
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É
natural que a relação familiar seja uma en-
namentos sociais. O homem como espécie é um ser
grenagem complexa, pois é a união de várias
relacional. As relações sociais, nos distraem de nós
singularidades. Onde há muito amor, várias
mesmos, nos sentimos seduzidos, tentados a fazer
afinidades, muitas conexões, também há divergên-
comentários da vida alheia e acabamos por nos dis-
cias de opiniões. A neuropsicóloga Leninha Wagner
trair de nossos próprios conflitos”.
explica como estes conflitos fazem parte de nossa
Mas, diante do excesso de vida íntima familiar,
vida e são inevitáveis nas relações humanas em ra-
“nos damos conta de que nossas maiores questões
zão das diferenças individuais. Mas é fundamental
estão dentro de nós e do nosso próprio lar. Uso a
que eles sejam resolvidos antes de se transforma-
metáfora da cebola, para explicar isso de forma leve:
rem em mágoas e ressentimentos.
Quando descascamos cebolas, as primeiras camadas,
Neste período de quarentena, muitas famílias es-
são leves, superficiais. Mas conforme vamos entran-
tão confinadas. E conviver demais com uma pessoa,
do na intimidade, cortando a cebola, picando, ela
pode virar motivo para alguns desentendimentos.
solta um gás que arde os olhos e faz chorar. O amor
No entanto, antes de mais nada é importante en-
na intimidade familiar também arde e muitas vezes
tender que, no domínio das relações familiares, os
faz chorar”. Mas, calma, Leninha destaca que “a fa-
conflitos acontecem frequentemente.
mília ainda é o melhor tempero e sabor para a vida”.
Portanto, família é sinônimo de conflito. Só que
Para evitar que os conflitos tragam consequências
é preciso saber ultrapassar cada situação dessa de
piores para a família, Leninha Wagner recomenda
modo construtivo em vez de evitá-los ou ignorá-los,
que “é fundamental que se mantenha a hierarquia
explica a neuropsicóloga Leninha Wagner: “No pro-
aliada ao respeito às diferenças de cada um”. Além
cesso de pandemia, a primeira fase que tivemos de
disso, “a hierarquia observada entre os familiares
encarar foi o confinamento, a exclusão dos relacio-
(pais e filhos) evitará grandes desacordos e até mes-
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mo a implantação de restrições severas (punições),
pela maior quantidade de brigas em família. Cada
já que garantirá a prática dos espaços individuais. A
um está preso numa imagem ideal de si mesmo. Um
base da boa convivência é a ordem: a manutenção de
acha que é o mais correto, o outro o mais amoroso,
uma organização segura e flexível”, explica.
outro diz que dá de si mais do que todos, outro que é
Ao mesmo tempo que os conflitos podem surgir
o mais esperto. Assim giram as identidades falsas de
dentro de casa, é fundamental compreender a im-
si mesmos causando conflitos de poder, bloqueando
portância da mesma como a melhor forma de solu-
a generosidade e impedindo que os outros se relacio-
cionar estes problemas: “Quando a vida nos apresen-
nem para além das próprias identidades orgulhosas”.
ta ameaças, dores, desafios, sofrimentos. A solução, o amparo, a compreensão vêm sempre da família. É claro que existem famílias disfuncionais, que não se encaixam nessa normativa. Mas por via de regra, é sempre nesta aliança, que nos sentimos importantes e pertencendo a um clã, que irá nos proteger, defender, e comprar a nossa briga. Ter amigos é o maior presente que nos damos, escolher irmãos de coração, por pura a finidade é o que de melhor podemos fazer por nós. Mas a família consanguínea tem a priori o compromisso, a obrigação, a responsabilidade de nos amar e nos defender”, reforça Leninha. Quando se fala em conflito, é importante entender que esta palavra não é sinônimo de confronto, 16
é sim uma divergência de opiniões. Porém, Lenina Wagner destaca que “quando as relações familiares chegarem a um momento conflituoso em que não mais exista o diálogo como um canal aberto e norteador da relação, ou mesmo diante de qualquer adversidade própria da convivência, é o momento de buscar ajuda profissional, que pode ser um terapeuta de família ou um psicólogo para auxiliar nesses momentos”. Quando existem conflitos não resolvidos, “é muito provável que haja um maior distanciamento emocional da família, acarretando numa disfunção psicológica tanto dos pais, quanto dos filhos” ressalta. A falta de comunicação, que comumente é o fato gerador desses conflitos, somado à dificuldade de solucionar os problemas familiares, “pode desenvolver diversos fatores negativos tanto para o relaciona-
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mento amoroso dos pais como na criação dos filhos”. De toda forma, Lenina reforça para a reaproximação da família cada um dos membros deve mudar de atitude: “É comum o orgulho ser o responsável
que precisam ser levados em conta, é essencial para
colocado em pauta: “É a capacidade de se colocar no
resolver conflitos. Isso também é importante para
lugar do outro, de entender que o outro tem senti-
compreender quando os outros estão de mau humor,
mentos e passa por momentos difíceis – assim como
não querem conversar, não querem participar de ati-
você. Isso é especialmente importante para reconci-
vidades. Todo mundo tem direito a estar cansado, ir-
liar uma briga entre pessoas próximas”.
ritado ou apenas quieto às vezes. Compreender essa
E o mais importante de tudo, reforça a neuropsicóloga: “Entender que os dois lados têm seus motivos
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Além disso, a empatia também é um fator a ser
dinâmica, respeitar o seu limite e o dos outros, é parte integrante do bom convívio”, finaliza.
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PROXIMIDADE
Seu amigo está se divorciando? Você pode ser o próximo Realizado por pesquisadores das Universidades de Harvard, Brown e San Diego, estudo mostra que divórcios dentro do mesmo circulo de amizades podem ser contagiosos
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P
essoas que fazem parte do mesmo círculo
“Quando um amigo próximo se divorcia, isso nos
de amizade influenciam umas às outras em
alerta para as possibilidades”, explica a advogada
diversas situações, mas um estudo realiza-
Debora Ghelman, especialista em Direito Humani-
do por pesquisadores das Universidades de Harvard,
zado nas áreas de Família e Sucessões. “Quando isso
Brown e San Diego comprovou que isso pode ir mui-
acontece, as pessoas começam a olhar para suas
to além de restaurantes e bons livros, por exemplo.
próprias vidas e passam a avaliar seus próprios pro-
De acordo com o levantamento, homens ou mulhe-
blemas conjugais que muitas vezes incluem brigas,
res têm 75% mais chances de se divorciar quando
traições, ciúmes, monotonia, falta de interesse sexu-
algum amigo próximo toma essa decisão e, quando
al, entre outras questões”, diz.
se tem vários amigos separados, essa chance sobe para 147%.
vorciar reduz o estigma de separação dentro desse
Quando este tipo de situação ocorre dentro da pró-
círculo social. Em alguns casos, ver um amigo des-
pria família, as chances de terminar um casamento
frutando de um novo relacionamento e feliz em re-
são de 22% se o seu irmão é divorciado. Se um ami-
começar sua vida amorosa com outra pessoa gera
go de um amigo se separa, as chances de se divorciar
reflexões sobre o próprio cônjuge.
aumentam 33% e, para colegas de trabalho, esse número cresce para 50%.
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Outra possível razão é que ver outra pessoa se di-
“A maior vantagem de observar um amigo passando pelo divórcio é que isso lhe dá a oportunidade de
Intitulado Romper é difícil, a menos que todos os
ter mais comunicação em seu próprio casamento”,
outros também estejam fazendo isso, o estudo foi
diz a advogada. “Assuntos que podem ser difíceis de
feito com base nas relações de 12 mil pessoas que
abordar, agora podem ser discutidos destacando o
viviam na cidade de Framingham, na Nova Inglater-
desejo de evitar passar pelo o que amigo está pas-
ra. O efeito dominó é chamado, pelos pesquisadores,
sando”, afirma a especialista.
de agrupamento de divórcios.
O estudo também analisou o efeito do divórcio en-
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tre pessoas próximas e até mesmo entre amigos nas
ser feitos de forma remota, por videoconferência por
redes sociais e constatou que divorciados influen-
meio da plataforma e-Notariado.
ciam outros a finalizarem seus relacionamentos
“Os casais interessados em fazer pedidos de divór-
quando demonstram que sua decisão foi pessoal-
cio ou separação podem pedir o serviço pela inter-
mente benéfica (ou pelo menos tolerável) ou mesmo
net. Hoje em dia, os processos são eletrônicos, então,
fornecem suporte que permite ao indivíduo suportar
é possível que o divórcio seja feito remotamente, ha-
uma ruptura.
vendo até a possibilidade de realização de audiência
O isolamento social fez com que muitas pessoas
por videoconferência”, Debora.
ficassem mais instáveis emocionalmente e as rela-
Em números absolutos, os divórcios consensuais
ções familiares também acabaram sendo afetadas,
passaram de 4.471 em maio para 5.306 em junho
resultando em divórcio para muitos casais. Não
de 2020. Houve crescimento em 24 estados brasi-
à toa, portanto, que, desde o início da pandemia e
leiros, especialmente no Amazonas (133%), Piauí
do isolamento, as buscas no Google Brasil pelo ter-
(122%), Pernambuco (80%), Maranhão (79%), Acre
mo “divórcio online gratuito” aumentaram quase
(71%) Rio de Janeiro (55%) e Bahia (50%). Segundo
10.000% entre 13 e 29 de abril.
o levantamento, apenas três unidades federativas
Nos cartórios de notas do país, durante a quaren-
não viram crescimento neste período: Amapá, Mato
tena decretada pela pandemia do novo coronavírus,
Grosso e Rondônia. Os dados são do Colégio Nota-
entre os meses de maio e junho deste ano, o nú-
rial do Brasil, que representa os tabeliães de notas
mero de divórcios consensuais aumentou 18,7%. O
que atuam em cartórios pelo país. De acordo com o
aumento coincide justamente com a autorização na-
levantamento, junho foi o mês que mais registrou
cional que desde maio - por meio do provimento nú-
divórcios neste ano.
mero 100 - permite que divórcios, inventários, partilhas, compra e venda, doação e procurações possam
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PERSISTÊNCIA
SOBREVI Desde março, quando foi decretada a quarentena, comerciantes e prestadores de serviços precisaram se reinventar para sobreviver à crise 22
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e uma hora para outra, não podia mais nada. Há seis meses, quando o governo do Estado decretou a quarentena, muita gente
precisou fechar seu negócio. Alguns não aguentaram o baque e resolveram parar de vez. Lojas não podiam mais abrir e atendimento, mesmo nos chamados serviços essenciais, passou a ser feito com restrições. E muitos sobreviveram. Seis meses depois do fatídico dia 23 de março, eles acreditam que a situação vai melhorar, e por ora são os sobreviventes. É o caso de Ana Cláudia Pântano Dias Ferreira e Juliana Toffollo, sócias no restaurante Tempero Fresco, no Parque da Represa, em Jundiaí. O restaurante existe há cinco anos, e serve somente almoço. Nas três primeiras semanas de quarentena o movimento caiu muito, quando passaram a servir somente marmitex. “O que segurou nosso negócio foi uma reser-
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va que tínhamos, e com ela pagamos funcionários e fornecedores”, diz Juliana. “Ficamos três meses sem tirar um centavo a título de pró-labore”, emenda Ana Cláudia. Mas as duas
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IVENTES resolveram enfrentar os problemas. Não reduziram Juliana e Ana Cláudia
jornada de trabalho nem dispensaram funcionários. “Fomos para o iFood, diz Ana Cláudia. Ajudou, mas o iFood não representa nem 5% do faturamento”. Para manter a clientela, passaram a enviar o cardápio por WhatsApp, e as entregas foram feitas com seus carros particulares. “É mais trabalhoso, precisa vender mais, diz Juliana. Mas aos poucos o pessoal (clientes) está voltando. Hoje fornecemos uma média de 120 refeições por dia, de segunda a sábado. Atendemos duas empresas, mas no sábado não tem empresa”. A queixa das sócias é o aumento de preços, e por isso buscaram alternativas de fornecedores. “A carne sobe quase todos os dias, e nem por isso aumentamos o preço das marmitas”, diz Juliana. Quem precisou de adaptar também foi a loja Móveis São Jorge, que existe em Jundiaí há 60 anos. No dia 23 de março a loja precisou ser fechada, e assim ficou durante 15 dias. “Então passamos a vender por WhatsApp e com horário marcado, explica Gislaine Garone, da administração da loja. Deixamos de vender muito, mas nenhum dos funcionários foi dispensado, e não tivemos problemas de entregar o que foi vendido”. E agora, com o comércio voltando à quase normalidade, as queixas são outras. “O fornecedor não está normalizado - explica Gislaine - há atrasos de entrega e cancelamento de pedidos. Está faltando matéria prima, como espuma, tecido e até parafusos”. A mesma queixa - falta de matéria prima - é de Norivaldo Carrere e seu sócio José Della Libera. Eles
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têm uma tapeçaria no Jardim Danúbio, dedicada à reforma de estofados. No ramo há 50 anos, Norivaldo diz que é a primeira vez que passa por uma situação como atual. “Ficamos com a oficina fechada durante um mês, e as contas não pararam de vencer. Começamos devagar retomar o trabalho, mas o cliente também desapareceu”, conta Norivaldo. O movimento não é o de antes, está fraco. Para ajudar, eles prestam serviços a outras tapeçarias também. E a queixa é a falta de matéria prima. “Agora tem cliente, mas não tem matéria prima. Estão faltando ferragens, tecido e espuma. As indústrias pararam, e agora o pouco que produzem é comprado pelas grandes empresas”, explica José. A outra queixa também é comum: os preços foram às alturas. “Hoje o que temos é muito orçamento e pouca confirmação de serviço, e o preço influi muito”, afirma Norivaldo.
José Della Libera
E até quem não precisou fechar durante a quarentena tem lá suas queixas. É o caso do Posto Telles, da rede Keeper, na Marginal do Rio Jundiaí, na Vila 24
Rio Branco. “Como o pessoal precisou ficar em casa, caiu muito o consumo de combustíveis, explica Sérgio Luiz de Jesus, sub-gerente do posto. Ele diz que o movimento está melhorando, mas não voltou aos níveis anteriores a 23 de março. No posto, o setor que mais sentiu a queda foi a loja de conveniência, mesmo agora, com o consumo e frequência com restrições. Para ele, a normalização ainda vai demorar. Cita como exemplo o filho de 9 anos, desde março sem aulas: “Infelizmente a rede precisou fazer alguns cortes de pessoal, mas o que preocupa é quando as aulas vão voltar a ser nor-
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mais”.
Norivaldo Carrere
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Problemas do comércio continuarão no pós-pandemia Marcel Solimeo, economista da ACSP, vê um longo caminho antes de o setor recuperar o nível de antes da crise. Os problemas de emprego e renda dificultam a retomada do consumo Enquanto as cidades brasileiras organizam suas quarentenas e enfrentam isolamentos, os indicadores econômicos mostram o longo caminho a ser percorrido rumo a recuperação. O ano de 2020 ficou marcado pela intensa saída de capital estrangeiro da Bolsa de Valores de São Paulo, que atraiu muitos investidores em 2019 devido à queda na rentabilidade de aplicações conservadoras. O fluxo cambial total do ano até 31 de julho foi negativo em US$ 15,8 bilhões, de acordo com o Banco Central. Na opinião de Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), as incertezas no mercado em função da pandemia do novo coronavírus e o aumento da desconfiança em relação ao governo estão entre as principais razões deste movimento. Somado a isso, Solimeo cita também o tombo recorde de 12,3% da indústria, a elevada desigualdade social no país, a queda do Produto Interno Bruto (PIB), o desemprego, a alta no fechamento de empresas e a perda acumulada de R$ 279 bilhões no varejo desde o início da pandemia para justificar a ideia de que “o comércio seguirá tendo dificuldades no pós-pandemia”. Dados do Ministério da Economia mostram que mais de 351 mil empresas no país foram fechadas no primeiro quadrimestre de 2020. O economista também destaca setores que apresentam quedas importantes nas vendas, como é o caso dos eletrodomésticos, produtos de beleza, roupas, calçados e acessórios.
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Sérgio Luiz de Jesus
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Por outro lado, a safra recorde de grãos e o au-
de retornar à rua ou simplesmente não têm dinheiro
mento nas exportações fez do agronegócio brasileiro
para isso. Nas palavras do economista, o emprego
o setor essencial para segurar a atividade econômi-
qualificado terá ganhos, mas quem depende da cria-
ca, enquanto o restante da economia sofria nos úl-
ção de vagas com pouca qualificação sairá prejudi-
timos meses. Com números de vendas que supera-
cado, já que muitos avanços tecnológicos são pou-
ram datas importantes, como Natal e Black Friday,
padores de mão de obra intermediária nesta nova
o e-commerce passou a representar 12% das vendas
economia pós-pandemia.
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do varejo.
O home office, outra tendência intensificada pela
Traçando possíveis cenários futuros, Solimeo diz
pandemia, que exerce forte influência sobre o con-
que entretenimento (cinema, teatro e eventos), ali-
sumo, deve ser estendida até o fim do isolamento
mentação fora do lar e turismo (hotéis e viagens)
social, mas não acabará com o trabalho presencial.
são os segmentos que mais sofrem no momento e
Na opinião do economista, mesmo as empresas que
também os que devem ter a recuperação mais lenta.
migrarem para o formato a distância terão escalona-
A aposto do economista é que o comércio eletrô-
mentos presenciais, à medida que a crise sanitária
nico ainda manterá índices elevados com maior vo-
melhore retomando uma rotina similar ao padrão
lume de empresas investindo neste canal. Do ponto
anterior.
de vista econômico, Solimeo acredita numa reto-
No sistema bancário, Solimeo diz que a pandemia
mada lenta, um consumidor mais endividado com a
acelerou a procura pelos serviços digitais, benefi-
confiança ainda em patamares mais baixos, embora
ciando as fintechs, empresas simples de crédito e
venha crescendo gradualmente. “O varejo desem-
instituições financeiras antenadas com a transfor-
pregou muito e não vai reempregar na mesma pro-
mação digital. Neste sentido, projetos como PIX,
porção. E muitos empregos serão substituídos pela
sistema de pagamentos instantâneos, ganham rele-
economia digital”, diz.
vância. “Vamos gastar dois anos para recuperar nos-
Cada vez mais intermediado por tecnologias, o consumo não decolará rapidamente. Mesmo com o afrouxamento das restrições, as pessoas têm medo
sa economia. Estamos na transição entre um futuro que não chegou e um passado que não acabou”.
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Impactos sociais, econômicos, culturais e políticos da pandemia A pandemia de Covid-19 vem produzindo repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em escala global, mas também repercussões e impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e históricos sem precedentes na história recente das epidemias, segundo estudo da Fiocruz. A estimativa de infectados e mortos concorre diretamente com o impacto sobre os sistemas de saúde, com a exposição de populações e grupos vulneráveis, a sustentação econômica do sistema financeiro e da população, a saúde mental das pessoas em tempos de confinamento e temor pelo risco de adoecimento e morte, acesso a bens essenciais como alimentação, medicamentos, transporte, entre outros. Além disso, a necessidade de ações para contenção da mobilidade social como isolamento e quarentena, bem como a velocidade e urgência de testagem de medicamentos e vacinas evidenciam implicações éticas e de direitos humanos que merecem análise crítica e prudência. Partindo-se da perspectiva teórica de que as enfermidades são fenômenos a um só tempo biológicos e sociais, construídos historicamente mediante complexos processos de negociação, disputas e produção de consensos, objetivo das atividades deste eixo envolve compreender e responder parcialmente aos desafios colocados pela pandemia, organizando uma rede de pesquisadores do campo das ciências sociais e humanidades visando a investigação, resposta e capacitação como estratégias para o enfrentamento do Covid-19 no Brasil. Este eixo do Observatório Covid-19 possui três subeixos, que abordam temas centrais para o entendimento dos impactos sociais, econômicos, culturais e políticos da pandemia: Covid nas favelas, Saúde indígena e Ética e bioética.
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COMPORTAMENTO
Vendas de bikes cresceram 118% em dois meses A velha bicicleta - hoje bike - tornou-se meio seguro de evitar aglomerações. Entre junho e julho, as vendas foram às alturas 30
N
os frios meses de junho e julho, quando as recomendações para evitar aglomerações eram mais insistentes, muita gente optou
por andar de bicicleta, longe de ônibus e trens lotados. Outros, que tinham seus carros, mas sofriam no trânsito, resolveram pedalar. Resultado: em junho e julho as vendas de bicicletas foram 118% maiores
mercado crescente. Segundo a Aliança Bike, esse
que as dos mesmos meses do ano passado. A pró-
tipo de bike teve suas vendas aumentadas 34% en-
pria Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de
tre 2016 e 2019.
Bicicletas) afirma que a quarentena impulsionou as vendas.
Mas andar de bicicleta não é passar na loja, comprar e sair por aí. O Código de Trânsito prevê sua
Pra ajudar, o mercado oferece bicicletas elétricas,
condução, e é bom sempre ter equipamento de se-
que atingem até 25 quilômetros por hora e podem
gurança, como capacete e treja apropriado. E o prin-
ser recarregadas em tomadas simples, caseiras. Não
cipal, saber como a bicicleta será usada. E antes de
custam tanto - a partir de dois mil reais. E é um
comprar, é melhor se perguntar: Preciso de uma bike para utilizar como meio de transporte no dia a dia? Quanto tempo, em média,
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pretendo pedalar? Pretendo andar na cidade, trilha, estrada ou em todo tipo de terreno? Quanto dinheiro pretendo ou posso gastar em uma bicicleta? Com as respostas, é hora de escolher.
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Urbana Como o próprio nome diz, são bicicletas são ideais para na cidade, perfeitas para pedalar nas ruas, ciclovias ou parques. As bicicletas urbanas são confortáveis, podem ter bagageiro, para-lamas, farol, lanterna e buzina. Uma bike urbana tem pneus mais finos e sem cravos e isso proporciona melhor eficiência no asfalto. Além disso, seu selim é mais confortável. Este tipo de bicicleta proporciona maior estabilidade, pois o ciclista pedala um pouco mais em pé, mas isso por outro lado, dificulta vencer subidas e desempenhar uma boa velocidade. As urbanas apresentam modelos femininos que vêm equipadas com cestinha no guidão, espelhos retrovisores e desenho de quadro diferente, apropriado para uso com saia, o que facilita as mulheres subirem e descerem da bicicleta.
Dobráveis 32
uma bolsa específica. Outra vantagem é que as dobráveis podem ser embarcadas, desde que dobradas em diferentes meios de transporte, como ônibus, trens, metrôs e até barcas. Esse uso da bike atrelado a outros meios de transporte é conhecido como comutação e permite ao ciclista transpor longas distancias com a sua bike. No metrô de São Paulo e nos trens da CPTM, por exemplo, o embarque com uma dobrável é permitido
As bikes dobráveis também são muito usadas de
em qualquer horário, desde que esteja embalada e
forma urbana, pois esse tipo de bike pode ser do-
não ultrapasse a medida de 150 x 60 x 30 cm. As
brado, ocupando pouco espaço, podendo ser coloca-
dobráveis pesam 10 quilos, em média. Alguns mo-
da num cantinho da casa, no porta-malas do carro,
delos, quando dobrados, permitem que se empurre
embaixo da mesa no trabalho ou transportadas com
ou puxe a bike utilizando suas próprias rodas, como se fosse uma mala.
Bicicleta Fixa, Fixed Gear Bike ou Bike Fixa As Fixies, como também são conhecidas, têm sua origem inspirada nas bicicletas de velódromo, mas ganharam popularidade em grandes centros urbanos após serem adaptadas para as ruas por ciclistas mensageiros de Nova York e São Francisco que buscavam agilidade e rapidez na locomoção. A principal característica de uma bike fixa é ter o pinhão fixo na 1º.10.2020 |
roda traseira. Ou seja, esta bicicleta não possui roda
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livre, a roda traseira gira, os pedais também giram, tanto para frente, quanto para trás. Para andar em uma fixa é necessário pedalar o tempo todo, não tem como parar de pedalar ou ficar na banguela. Este tipo de bicicleta permite que a frenagem seja feita através do travamento dos pedais com as pernas. Por isto, outra característica marcante das fixas é ter somente o freio dianteiro e muitos ciclistas acabam até retirando este freio, optando pela frenagem, exclusivamente, com o travamento dos pedais. A fixa também permite ao ciclista o controle da velocidade da bicicleta de acordo com o ritmo da sua pedalada, podendo desacelerar pedalando mais lentamente. A bicicleta fixa, por ter mais simplicidade,
terra, neve e lama. São equipadas com pneus largos
demanda menos manutenção e é mais leve que as
com cravos que oferecerem maior estabilidade em
convencionais, pois não tem marchas e ou até siste-
terrenos irregulares ou lama. Também podem ter
ma de freios .
sistema de amortecimento, suspensão dianteira, full
Mountain Bike As Mountain Bikes ou MTBs – Bicicletas de Montanha - as mais vendidas e mais populares no Brasil, são usadas para qualquer terreno e condição, por isso, em Portugal, são conhecidas como BTT – Bicicletas para Todo Terreno. As MTBs são adequadas para trilhas em terrenos acidentados, estradas de
suspension (dianteira e traseira) ou rígida/hardtail (sem Suspensão). Para uso urbano, é ideal a utilização de pneus slick ou semi slick que proporcionam melhor eficiência no asfalto e são adequados para o ciclo turismo. O quadro e rodas são mais resistentes e câmbio, com até 27 marchas, é ideal para vencer qualquer subida.
Speed , Estrada (Road Bike) ou Corrida Speed são bicicletas feitas para velocidade, utilizadas em corridas internacionais como Tour de France e Giro de Itália. São bikes apropriadas para o asfalto ou estrada, pois, por serem leves, desenvolvem boa velocidade. Pneus finos com alta pressão diminuem a aderência ao solo, o que exige maior técnica e prática do ciclista. Não é muito recomendada para iniciantes, uso em pisos escorregadios ou em área urbana, pois o pneu fino e liso, é mais propício a furos.
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BMX O BMX do inglês Bicycle (B) Moto (M) Cross (X) também conhecido Bicicross, nasceu das crianças que imitavam seus ídolos do Motocross, construindo pistas e fazendo corridas informais. A partir dai, desenvolveu-se um tipo bicicleta própria para corrida em pistas de terra similar as de Motocross. Atualmente o BMX se divide em duas modalidades, o Race (corrida) e o Freestyle (estilo Livre / manobras). No BMX Freestyle há cinco modalidades: Street, Mini Ramp, Dirt Jump, Flatland e Vertical. As bicicletas possuem aros 20 e 24 sendo que as de BMX Race têm componentes de menor peso, buscando melhor desempenho e velocidade. Já as bikes para a prática do BMX Freestyle, como Dirt e Street, têm componentes de maior durabilidade e resistência, o que acarreta um peso maior.
Downhill ou DH No downhill, o ciclista percorre descidas agressi34
vas e técnicas, passando por diversos tipos de terreno (irregular, natural ou artificial), além de jumps (pontos de salto), gaps (vãos a serem transpostos com ou sem rampa) e drops (grandes degraus onde o ciclista se deixa cair para transpor), enfrentando
situações de bastante risco. Em resumo, o downhill não é para iniciantes. A bicicleta de downhill tem design arrojado e quadro reforçado para suportar grandes impactos, também é mais pesada que as demais e são full suspension (possuem suspensão dianteira e traseira). A bike de DH não tem câmbio dianteiro, ao invés disso, é instalada uma guia de corrente com a finalidade de manter a transmissão funcionando mesmo com todas as trepidações que a pista transmite para a bicicleta. A geometria e a posição do quadro da bike com relação ao chão diferem das de outras modalidades. Ela tem a suspensão da frente mais alta, o que provoca uma leve inclinação para trás e ajuda nas descidas acentuadas e também faz com que o ciclista tenha menos probabilidade de cair para frente.
Reclinada A reclinada é um tipo de bike no qual o ciclista não vai montado como nas bicicletas tradicionais, mas sentado ou eventualmente deitado, isto traz mais conforto, ergonomia e segurança. Por ser mais confortável, muita gente a utiliza para ciclo turismo,
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pois permite cobrir grandes distâncias sem sobrecarregar pulsos, ombros, pescoço, etc.
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As reclinadas apresentam uma grande infinidade de configurações, seja por características do quadro, do comportamento, do peso e dos fins a que se destinam. Basicamente são divididas em dois tipos: Com distância curta entre eixos (Short Wheel Base, ou SWB). Com distância grande entre eixos (Long Wheel Base, ou LWB). As LWB são mais confortáveis que as SWB e muito mais confortáveis que as bikes convencionais. As SWB têm maior curva de aprendizagem, são menos práticas e mais nervosas. Mas compensam, pela velocidade elevada na subida ou em terreno plano. Nas descidas, ambas são mais rápidas que uma bicicleta comum.
Bike Trial
saltos de lugares altos. Além disso, para melhorar o controle da bike de trial, o guidão é mais largo, o
Na modalidade Bike trial, o objetivo é transpor
quadro normalmente não tem banco, pois o prati-
obstáculos (naturais ou artificiais) com a bicicleta
cante passa a maior parte do tempo de pé controlan-
em um percurso definido, é uma modalidade deriva-
do a magrela. Os pneus são mais largos, com cravos
da do Trial de motocicleta. É praticada com bicicle-
e calibrados com baixa pressão, para ficarem mais
tas aros 20, 24 e 26, e o praticante deve passar pelos
macios.
obstáculos sem colocar os pés no chão ou as mãos nos obstáculos. O bike trial é uma modalidade que exige habilidade, equilíbrio e muita técnica. As bicicletas de bike trial têm uma única marcha
E-Bike, E-Bicicleta, Bicicleta Elétrica ou bicicleta híbrida
(com a coroa e a catraca bem pequenas) e freios pre-
As bicicletas elétricas (E-Bikes) são movidas par-
cisos. São bem resistentes para suportar trancos e
cialmente ou completamente por um motor elétrico que é alimentado por baterias recarregáveis. O objetivo dessa bike é deixar o pedal mais leve para quem não tem preparo físico, a bicicleta elétrica auxilia no percurso de subidas e pode ajudar também no transporte de mercadorias ou até de pessoas. Ela tem sensores que sustentam o esforço do ciclista somente quando ele está pedalando. Nos percursos planos, o motor pode fazer o trabalho de movimentar a bicicleta. Nas subidas, o ciclista não precisa pedalar muito, pois é auxiliado pelo motor para vencer o trajeto com menos esforço. Com velocidade média de 25 km/h, a maioria das bicicletas elétricas pode chegar de 30 km/h a 40 km/h.
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BONS ÍNDICES
São Paulo tem mais armas de fogo, mas menor número de mortes 38
Vendas de armas de fogo aumentaram, mas o Atlas da Violência 2020 do IPEA e Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que São Paulo tem menos homicídios
A
rmas matam? Não. O que mata são as pes-
do, o assaltante terá dúvida e poderá desistir de sua
soas. Na falta de uma arma de fogo, quem
empreitada.
quer matar usa o que tiver à frente, seja
Bene Barbosa, especialista em segurança pública,
faca, machado ou a própria força física. O Atlas da
afirma que “de acordo com pesquisa realizada pelo
Violência 2020, preparado pelo Instituto de Pesqui-
Instituto Paraná Pesquisas, quase 70% dos brasilei-
sa Econômica Aplicada (IPEA), em parceria com o
ros querem menos restrições para compra e porte
Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que o
de armas de fogo; destas, 52,7% se mostraram fa-
estado de São Paulo tem a menor taxa de homicídios
voráveis ao fim de qualquer restrição”. Um quadro
dolosos provocados por armas de fogo. De 2008 a
semelhante ao de 2005, quando houve o referendo
2018, a taxa caiu 53,5% (4,4 casos por grupo de 100
sobre o Estatuto do Desarmamento, e cujo resultado
mil habitantes). O resultado é quatro vezes menor
foi solenemente ignorado pelo governo da época. Em
que a taxa nacional.
2005, 64% dos brasileiros foram contra o desarma-
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Com números tão baixos, volta à discussão a ques-
mento.
tão se o cidadão deve ou não estar armado. Defen-
Com a maioria favorável à compra e à posse de
sores do armamento têm argumentos de sobra para
armas de fogo, Bene Barbosa chama a atenção para
que o cidadão esteja armado. Um deles é que hoje
os dados. “Dos dados, o que mais me chamou a aten-
o assaltante tem praticamente certeza que não en-
ção é de que a maioria dos entrevistados se mostrou
contrará resistência. Se o cidadão puder estar arma-
favorável ao fim de qualquer restrição. A resposta
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para esse posicionamento é simples: todas a restri-
cia; declaração que comprove a necessidade do por-
ções existentes até hoje no Brasil fracassaram em
te de arma; comprovar a idoneidade, apresentando
retirar dos criminosos o acesso às armas de fogo e
certidões negativas de antecedentes criminais da
isso leva à conclusão – correta – que tais restrições,
Justiça Federal, Justiça Estadual, Militar e Eleitoral;
por si, não são capazes de “desarmar” os criminosos.
comprovante de que não responde a processo cri-
Algo do tipo: “se o bandido não tem qualquer restri-
minal; comprovante de capacidade técnica e psico-
ção para comprar qualquer tipo de armas, porque o
lógica para uso de arma de fogo (assinado por um
cidadão tem?”, diz ele.
instrutor de tiro e um psicólogo credenciado pela
Um dos maiores defensores do armamento é o de-
Polícia Federal e cópia do certificado do registro da
putado federal por Santa Catarina Rogério Mendon-
arma. Tudo isso, incluindo a arma, pode custar por
ça, o Peninha. Em 2012 ele apresentou projeto revo-
volta de R$ 10 mil.
gando o Estatuto do Desarmamento, que ainda não foi votado (veja entrevista nesta edição). Hoje, para alguém comprar uma arma de fogo são observadas regras nem sempre coerentes. Além de documentos pessoais e foto, o interessado deve: Ter mais de 25 anos; comprovar que tem residência fixa e ocupação lícita; comprovante de residên-
Deputado tenta revogar Estatuto desde 2012
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Para entender as razões da briga de muita gente com o Estatuto do Desarmamento, a Urbem Magazine entrevistou o deputado Rogério Mendonça, o Peninha, de Santa Catarina, que apresentou projeto revogando o Estatuto do Desarmamento em 2012, mas que ainda não foi votado. Quando o senhor apresentou o projeto que revoga o Estatuto do Desarmamento?
que passasse pelo Congresso, seria barrado pela Pre-
O projeto foi apresentado por mim no ano de 2012,
Agora, temos abertura junto ao Governo, eleito com
em meu primeiro mandato como deputado federal.
a pauta armamentista. O trabalho é no Congresso,
Foi escrito com amplo embasamento teórico e, para
com os deputados e senadores.
sidência da República. Mesmo assim, foi importante ter sido apresentado, pois mobilizamos a sociedade, que tem apoiado cada vez mais o direito à defesa.
isso, contei com a ajuda de grandes nomes da área, como Bene Barbosa, especialista em Segurança Pública, e Fabrício Rebelo, pesquisador na área.
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Por que ele não foi votado até agora?
A imprensa em geral faz crer que a raiz da violência está na posse de armas. O senhor concorda com isso. Se não, por que?
Aprovar um projeto que revoga um Estatuto im-
A raiz da violência está na bandidagem. O bandido
posto com base em interesses políticos e obscuros
comemorou a implantação do Estatuto do Desarma-
não é tão simples. Na época do governo PT, mesmo
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mento, afinal foi o cidadão de bem quem teve de
Transportes Públicos (ANTP) mostrando que num
entregar suas armas. Agora, o assaltante sabe que a
período de 20 anos, entre 1998 e 2018, os acidentes
vítima é presa fácil e dificilmente vai estar armada.
de trânsito fizeram 734 mil vítimas no Brasil. As
O mundo ideal seria aquele em as armas não fossem
armas ficaram atrás deste número, foram 726 mil
necessárias, mas a realidade não é essa. Então, que
óbitos no período. A cada 15 minutos, em média, é
o cidadão tenha o direito de se defender de igual
registrada uma morte em ruas e estradas do país.
para igual.
Em Santa Catarina, o trânsito mata duas vezes mais que as armas de fogo, segundo o Instituto Geral de Perícias. E olha que Santa Catarina está entre os es-
Desconfia-se que o maior número de mortes se dá em acidentes de trânsito. O senhor teria algum dado sobre isso? É fato que o trânsito mata mais que as armas de fogo. Eu tenho dados da Associação Nacional de
tados mais armados do Brasil. Deveríamos proibir os carros também? Claro que não. Os veículos são úteis, assim como as armas também são.
Como o senhor afirmou em outras entrevistas, as armas antes legais,
registradas, foram para a clandestinidade. O senhor sabe a porcentagem de armas que foram entregues, na época, e as que simplesmente desapareceram? A campanha do desarmamento recolheu mais de 700 mil armas no Brasil. O número de armas ilegais
no Federal, por meio do Ministério da Justiça e Segurança Pública e Exército, tem atuado fortemente. No início deste ano, foram investidos R$ 26 milhões para reforçar a segurança nas fronteiras, que abrange o combate ao tráfico de armas, drogas e ilícitos. Como resultado, tivemos um recorde de apreensões neste primeiro semestre de 2020. Foram 14 mil armas apreendidas e 48 mil prisões efetuadas. Vejo que estamos no rumo certo.
no Brasil, segundo um estudo do Ministério da Justiça de 2010, chegava a 7,6 milhões. Embora não existam indicadores apontando a relação, justamente por se tratar do mercado clandestino e obscuro, eu não tenho dúvidas de que grande parte destas armas que foram entregues acabaram parando nas mãos de traficantes, bandidos e assaltantes depois de roubos, corrupção e outras causas.
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O cidadão de bem não pode ter uma arma porque o Estatuto dificulta sua posse, exigindo demais. O que o senhor tem a dizer sobre o tráfico de armas? Vemos constantemente traficantes armados com armas modernas, como fuzis e metralhadoras, que em hipótese alguma foram compradas legalmente. Não seria necessário também combater o tráfico de armas nas fronteiras? Quem realmente está interessado em diminuir a
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criminalidade no Brasil sabe que o problema não se resolve tirando as armas de quem comprou legalmente, mas sim das mãos do crime organizado que consegue no mercado ilegal. Neste sentido, o Gover-
A redução da maioridade penal também ajudaria a combater a clandestinidade das armas, uma vez que quadrilhas sempre imputam os crimes de morte (latrocínio, por exemplo) a integrantes menores de 18 anos? A redução da maioridade penal é uma urgência no Brasil. Em 2015, eu fiz campanha para que a PEC 171/95, que reduz a maioridade para 16 anos, fosse aprovada. Hoje ela está aguardando andamento dos senadores. No mesmo sentido, eu apoio a Proposta de Emenda à Constituição que reduz de 16 para 14 a idade mínima para que o jovem possa ingressar no mercado de trabalho. É claro, sem abandonar os estudos. Nessa idade, o jovem precisa ocupar a mente com atividades produtivas, que vão moldar seu caráter, e não ficar na rua e aprender a malandragem. Se tem idade pra aprontar, tem idade pra trabalhar e responder pelos seus atos.
O senhor acredita que, conseguindo aprovar seu projeto revogando o Estatuto do Desarmamento, o STF pode interferir e considerá-lo ilegal?
ral que facilitaram a compra de armas legalmente.
quando se trata do Supremo Tribunal Federal. Bas-
Parte da imprensa noticiou a grande quantidade de
ta tomar como base decisões que geraram grandes
armamento que os brasileiros importaram – 37 mil
controvérsias, como a derrubada da prisão em se-
armas – como algo negativo. Mas pelos dados, o sal-
gunda instância. Para evitar que membros do STF se
do foi positivo. O PL 3722 tem esse objetivo: fazer
tornem uma casta intocável, eu apresentei uma PEC
com que o cidadão de bem, aquele que quer ter uma
que estipula mandatos de 10 anos, pois discordo que
arma para defender sua residência, seu estabeleci-
o cargo seja vitalício, e também muda a forma de es-
mento e sua família, não tenha tantos entraves e
colha dos ministros. É inadmissível que os ministros
não precise gastar uma fortuna para ter direito à le-
da mais alta corte do País sejam escolhidos a dedo
gítima defesa.
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Qualquer previsão que façamos é um mero palpite
pelo presidente da República, tornando-se cargos políticos.
Qual a posição de seus colegas na Câmara e no Senado sobre a revogação do Estatuto do Desarmamento? De acordo com o último levantamento feito por mim, na Câmara são 33.1% dos deputados a favor, 25.5% contra e 40.4% indecisos. Já no Senado, o placar está em 25.9% a favor, 60.5% contra e 13.6% indecisos. Por isso o projeto não pode simplesmente ser pautado. Precisa ter este trabalho nos bastidores que estamos fazendo, senão corre o risco de ser desfigurado e perder o seu objetivo original.
O senhor tem alguma estatística sobre a queda do número de mortes por armas de fogo? O Centro de Pesquisa em Direito e Segurança (CEPEDES) apresentou, nos últimos dias, um estudo com bases em dados do Ministério da Saúde, apontando que o ano de 2019 apresentou a maior queda histórica nos homicídios do país, principalmente os cometidos com armas de fogo. Foram 22,99% menos mortes que o ano anterior – melhor desempenho em 40 anos. Em contrapartida, 2019 foi um ano marcado por decretos e medidas do Governo Fede-
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Estatísticas mostram queda da criminalidade em São Paulo Ano
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FV (**)
RV(***)
1999 35,27 1.073,39 604,33 2000 34,18 1.073,59 581,97 2001 33,30 1.175,54 586,53 2002 31,25 1.222,21 589,82 2003 28,57 1.406,38 647,89 2004 22,58 1.447,66 568,11 2005 18,05 1.441,18 565,84 44
2006 15,29 1.393,99 538,80 2007 12,19 1.309,33 542,71 2008 10,96 1.210,88 539,26 2009 11,18 1.296,55 629,72 2010 10,49 1.229,03 564,96 2011 10,08 1.301,45 566,44 2012 11,53 1.300,37 567,27 2013 10,50 1.283,28 607,66 2014 10,06 1.210,48 729,29 2015 8,73 1.150,69 714,09 2016 8,12 1.187,51 745,58 2017 7,54 1.180,54 693,00 2018 6,70 1.147,67 598,08
1º.10.2020 |
2019 6,27 1.178,31 576,32
1999
2004
1º.10.2020 |
(*) - HD Homicídios dolosos por grupo de 100 mil habitantes (**) - FV Furtos por grupo de 100 mil habitantes (***) - RV Roubos por grupo de 100 mil habitantes Fonte: Secretaria de Segurança Pública de São Paulo
45
2009
2014
2019
BONS ÍNDICES
Mortes por acidentes de trânsito registram menor índice da história Número de vítimas fatais recuou 26% entre 2015 e 2020, segundo dados do Infosiga SP. Queda também se refletiu em mortes por atropelamento envolvendo automóveis 46
O
s novos números do Infosiga SP, gerenciado
no trânsito paulista. E agora, o sistema assumirá
pelo Respeito à Vida, programa da Secre-
uma importância ainda maior, na medida em que
taria de Governo coordenado pelo Detran,
estará diretamente vinculado a nossas campanhas e
mostram que o índice de mortes por acidentes de
ações para tornar o trânsito menos violento”, afirma
trânsito no estado chegou ao patamar mais baixo da
o presidente do Detran SP, Ernesto Mascellani Neto.
série histórica. Entre janeiro e agosto de 2020, São
Em todo o Estado, no mês de agosto deste ano, fo-
Paulo registrou 3.183 vítimas fatais, 26% a menos
ram registrados 447 óbitos contra 480 no ano passa-
do que no mesmo período de 2015, quando a medi-
do, queda de 7%. Acidentes de trânsito, que incluem
ção teve início, com 4.327 óbitos.
ocorrências sem vítimas fatais, registraram redução
A queda também se reflete no número de atro-
de 7,1% em vias urbanas e rodovias do Estado (14,7
pelamentos, que chegou a 758 vítimas fatais neste
mil acidentes em maio deste ano contra 15,8 mil
ano, contra 1.196 em 2015, ou seja 37% a menos
em 2019).
de óbitos. O mesmo ocorre nos acidentes com ví-
De acordo com os dados do Infosiga SP, houve que-
timas fatais envolvendo automóveis, que chegou a
da de 3,9% nos acidentes fatais em vias municipais,
755, queda de 30%. Dessa forma, apresentando no-
que concentram 50,1% dos casos. Nas rodovias, a
vamente o menor índice da série histórica.
queda foi de 11%. Em nove regiões administrativas
1º.10.2020 |
“Esse acompanhamento nos permite tomar deci-
do Estado houve redução dos índices.
sões mais assertivas, desenvolvendo políticas públi-
O sistema, primeiro do Brasil a fazer acompanha-
cas mais consistentes para a diminuição de mortes
mento mensal das estatísticas de trânsito, revela
1º.10.2020 |
172
184 2019
2020
127 116
117 99
40 26
motocicleta
automóvel
pedestre
bicicleta
47
ainda que no mês de agosto deste ano quase 40%
29 anos representaram 25,3% das vítimas. Entre os
dos acidentes ocorreram por conta de colisões en-
motociclistas, essa proporção sobe para 40,2%. Em
tre veículos. Logo atrás vêm os acidentes por cho-
62,6% dos casos, as vítimas fatais são os próprios
que contra objetos fixos (20,8%) e atropelamento
condutores dos veículos. Homens seguem como as
(22,6%).
principais vítimas dos acidentes (86% do total), e as
A análise do programa Respeito à Vida indica ain-
ocorrências estão concentradas no período noturno
da queda nas fatalidades em todos os modais, com
(54,8%) e no fim de semana (51%). Cerca de 48,5%
exceção dos motociclistas, em agosto. Ocorrências
das vítimas faleceram no local do acidente.
envolvendo motos lideram as estatísticas, com 184 casos em agosto deste ano, aumento de 7% na comparação com 2019 (172 óbitos). Em seguida, aparecem os automóveis com 117 ocorrências contra 116 em 2019, variação de 0,9%. A maior redução ocorreu entre as bicicletas: foram registradas 26 fatalidades contra 40 em agosto do ano passado (-35%). A queda também foi significativa entre os pedestres, com 99 ocorrências fatais em agosto contra 127 em 2019 (-22%). No mês de agosto, jovens com idade entre 18 e
NOVOS TEMPOS
Uma freira em defesa do aborto Assunto volta à tona após episódio de criança de 10 anos, violentada pelo tio, que teve aborto autorizado pela Justiça
Q 48
uando a história veio a público, houve re-
Não é de agora que a freira tem posições contrá-
volta num primeiro momento - uma crian-
rias e polêmicas. Ela, que é feminista, teóloga e fi-
ça de dez anos havia sido estuprada duran-
lósofa, já esteve em outras confusões, e chegou a
te quatro anos por um tio, e estava grávida. Com o
ser punida pela Igreja Católica. Mas não mudou seus
tio preso, os ânimos se acalmaram, mas começou
conceitos. Em seu artigo, continuou:
outra confusão, quando a Justiça autorizou o aborto,
“Em plena crise pandêmica da covid-19 onde dife-
previsto em lei por se tratar de estupro. O primeiro
rentes tipos de manipulação política não faltam, en-
hospital procurado se recusou a fazê-lo. Na segunda
frentamo-nos a uma outra perniciosa e mortal que
tentativa, o aborto ocorreu, mas num hospital dis-
se expressa em ‘amar mais ideias e princípios do que
tante.
a frágil vida que temos’, ‘amar mais as leis religiosas
Não tão distante dos conservadores, que protesta-
caducas do que as dores reais que assolam meninas
ram em frente ao hospital. Religiosos incentivaram
e mulheres’, ‘amar e defender mais interpretações
os protestos, e o presidente da CNBB (Conferência
sacrificiais da Bíblia do que a vida real e provisória’,
Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Walmor Oliveira
‘amar mais as vidas futuras do que as presentes’ e
de Azevedo, publicou nota oficial, afirmando que a
com isso condenar vítimas de estupros e acusar me-
interrupção da gravidez era crime hediondo e que a
ninas, jovens e mulheres estupradas de infanticídio”.
1º.10.2020 |
violência do aborto não se explica.
A freira é corajosa. Citou nominalmente o presi-
A posição do bispo e de conservadores não encon-
dente da CNBB e se intitula como uma desobedien-
trou tanto eco na Igreja Católica. A freira Ivone Ge-
te. “Minha idade já não me permite o antigo respeito
bara, da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora,
formal às autoridades civis, militares e eclesiásti-
não esperou muito para publicar um artigo conde-
cas. Não posso calar diante de tantos fatos que me
nando os que insultaram a menina. “Os incautos e
apavoram e por isso denuncio uma velha pandemia
ingênuos defensores da vida assim como os perver-
viral entre os humanos muito presente em nosso
sos políticos extremistas entram e alimentam o jogo
tempo, especialmente entre religiosos”, escreveu.
político montado e armam uma nova polêmica em torno do aborto”, escreveu ela.
As confusões da freira vêm de longe. Em 1993 ela foi a entrevistada das Páginas Amarelas da revista
1º.10.2020 |
Veja. “A mãe tem, sim, algum direito sobre a vida
“está escrito na Bíblia”. Então praticamente nos im-
que ela carrega no útero. Se ela não tem condições
pediam de dar algum passo porque sempre diziam
psicológicas de enfrentar a gravidez, tem o direito
“sinto muito, mas essa não é a vontade de Jesus”,
de interrompê-la”, destacou a revista, atribuindo as
“sinto muito, mas não é isso que Deus estabeleceu”.
frases à freira. “Aborto não é pecado. O Evangelho
Isso começou a criar incômodos crescentes. Devo
não trata desse assunto”. O Vaticano, ao tomar co-
dizer que as pioneiras que trabalharam nessa pers-
nhecimento da revista e das declarações da freira,
pectivas foram as norte-americanas, as inglesas, as
condenou-a ao chamado silêncio obsequioso, e ela
alemãs. Então eu estudei na Bélgica, em Louvain,
deixou o país, ficando dois anos sem dar aulas ou
em um tempo em que a Teologia da Libertação co-
entrevistas. Atualmente vive sozinha num aparta-
meçava a se desenvolver.
mento, na Capital, sem deixar sua congregação, onde
Fiquei absolutamente encantada e apaixonada
está há 22 anos. Está com 75 anos, e não mudou de
e comecei a entrar dentro desse universo, que me
opinião.
atraiu e eu fui de certa forma integrada no movi-
Ela explicou à BBC News o que é a teologia fe-
mento da Teologia da Libertação, participei de mui-
minista: “Muitas mulheres, de diferentes igrejas,
tos congressos, muitos encontros. Então fui conside-
começaram a perceber [em suas religiões] o mesmo
rada uma das primeiras teólogas da libertação. De
processo de exclusão e de diminuição de direitos, de
repente, me encontrava com as feministas do Recife,
falta de representatividade, de centralidade em fi-
do Rio de Janeiro…”
guras masculinas e sempre essas figuras masculinas
Ivone fala também sobre sua punição: “Fui punida,
determinando qual é o papel das mulheres e orde-
sim, por um tempo de silêncio. E me fizeram sair
nando e submetendo os corpos das mulheres.
do Brasil e estudar de novo em Louvain. Agora eles
Essas mulheres, essas teólogas começaram a per-
não fazem punições assim declaradas, mas têm ou-
ceber como as igrejas e em particular as igrejas cris-
tras formas de punir que continuam tão atuantes
tãs reproduziam a mesma hierarquia e a mesma fal-
como antes, talvez menos drásticas. Agora não mais
ta de direitos porém com um agravante: encobriam
a partir do poder central mas dos poderes episcopais
essa falta de direito como vontade divina ou como
locais que vão também cerceando suas falas e suas
49
apresentações. Eu dei aquela entrevista para a Veja, o jornalista me fez a pergunta e me disse “estou perguntando em off”, mas o off dele se tornou público. E também houve uma manipulação na ordem das perguntas, colocaram [na edição] uma acima da outra para fazer eu dizer no texto o que eu não tinha dito. E foi um título muito chamariz. Aí o bispo local de Recife [onde ela morava na época] me pediu uma retratação pública. Eu não podia fazer uma retratação pública, porque parte do que estava escrito correspondia. Me neguei. Então ele abriu um processo contra mim no Vaticano e o resultado foi que eu tinha de voltar aos estudos. E um silenciamento por um tempo. Fiz um doutorado lá na Bélgica, um outro doutorado. Foi um tempo de muita solicitação, nunca escrevi tanto, nunca falei tanto. Mandaram eu calar mas eu não calava — nunca recebi tanta carta, tanta coisa. Foi um momento de muita graça”. A freira continua defendendo a legalização do aborto: “Eu não defendo o aborto, eu estou falando da legalização, que é outra coisa. Por exemplo, quan50
do você fala da legalização da maconha, você está falando que precisa de leis para o uso da maconha. Você tira a maconha da criminalidade. Estou falando a mesma coisa, é preciso legalizar o aborto. É preciso legalizar, especialmente pensando nas mulheres pobres, porque as mulheres ricas fazem e não perguntam, e tem muito profissional de medicina que faz e ganha dinheiro fazendo isso, enquanto para mulheres mais pobres, mais vulneráveis, não há proteção
1º.10.2020 |
legal — há criminalização”.
51
1ยบ.10.2020 |
MISÉRIA
Nove milhões de brasileiros deixaram de comer por falta de dinheiro Levantamento feito pelo Ibope e Unicef aponta que, além da mesa vazia, lares com crianças e adolescentes sofreram com alimentação de pior qualidade, que contribui para obesidade
1º.10.2020 |
52
A
pandemia influiu na qualidade e na quan-
esse percentual sobe para 8%.
tidade de comida que as crianças e adoles-
O estudo ainda mostra que a comida, quando tem,
centes brasileiros estão consumindo. Além
é de pior qualidade em muitos casos. Quase metade
disso, em diversos outros aspectos, os lares onde eles
(49%) dos brasileiros sofreu alguma mudança nos
vivem foram mais afetados pela crise econômica e
hábitos alimentares neste período de quarentena.
social que se instalou após a chegada do vírus no
Entre as famílias que vivem com crianças ou ado-
Brasil. É o que concluiu pesquisa do Ibope e Uni-
lescentes o impacto foi ainda maior: 58%. Isso inclui
cef feita com adultos que vivem com adolescentes e
o aumento do consumo de alimentos industrializa-
crianças entre 4 e 17 anos.
dos, refrigerantes e fast food, o que contribuiu para
Segundo o levantamento, 21% dos entrevistados
a evolução de uma outra epidemia, explica Cristina
afirmaram que viveram momentos em que os ali-
Albuquerque, chefe de saúde do Unicef Brasil. “A co-
mentos acabaram e não havia dinheiro para com-
vid-19 pode trazer um agravamento da epidemia da
prar mais. Entre os que vivem com crianças e ado-
obesidade entre crianças, adolescentes e nas famí-
lescentes em casa, esse percentual foi de 27%. Sem
lias”, afirma.
ter a quem recorrer, como programas de distribui-
A mesa vazia é reflexo direto da crise econômica
ção de alimentos, 6% disseram que a única saída foi
que abalou principalmente as famílias mais pobres
deixar de comer, o que representa nove milhões de
durante a pandemia. Mais da metade dos entrevis-
brasileiros deixando de ter alguma refeição por falta
tados (55%) disse que o rendimento caiu desde o
de dinheiro. Nos lares com crianças e adolescentes,
início da pandemia. Em muitos casos, a redução se
1º.10.2020 |
53
deu por causa das demissões, já que 64% afirmaram
mantido remotamente nos últimos meses. “A gran-
que estavam trabalhando antes da chegada do co-
de questão é entender a qualidade com que essa fre-
ronavírus ao Brasil, mas, no momento da pesquisa,
quência de atividades tem sido realizada”, afirmou
realizada em julho, este percentual havia caído para
Ítalo Dutra, chefe de educação do Unicef Brasil.
50%. Já os lares com crianças e adolescentes foram
Desse grupo que seguiu realizando as atividades
especialmente afetados também neste campo: nes-
escolares mesmo de casa, a pesquisa registrou dispa-
sas casas, 63% afirmaram que o rendimento caiu.
ridade entre a rede pública e a particular. Enquanto
Em 25% desses lares, a renda diminui pela metade.
94% dos alunos da escola privada seguiu realizando
Já nas casas sem crianças, a mesma redução foi ob-
as atividades, na rede pública foram 89%. A Internet
servada por 14%.
foi o meio utilizado por 97% dos estudantes da rede
O levantamento mediu também o impacto da
particular para seguir estudando, e para 81% da rede
pandemia na educação e revelou um dado um tan-
pública. As aulas e atividades remotas, no entanto,
to surpreendente: 91% afirmaram que as crianças e
não demandaram dedicação somente dos estudan-
adolescentes continuaram realizando as atividades
tes. A maioria (73%) afirmou que eles tiveram aju-
escolares durante a pandemia. O percentual chamou
da de alguém em casa para realizar as atividades. E
a atenção das autoridades do Unicef que apresenta-
63% receberam tarefas cinco dias por semana para
ram os dados para a imprensa na manhã desta ter-
serem cumpridas.
ça-feira. Mas, por outro lado, foi frisado que é preciso questionar a qualidade desse vínculo escolar que foi
1ยบ.10.2020 |
54
55
1ยบ.10.2020 |
MISÉRIA
Os olhos também envelhecem É preciso estar atento aos sinais de envelhecimento dos olhos para melhor qualidade de vida. Como todo o corpo, o peso da idade chega a eles 56
A
terceira idade pede por mais atenção à
tante em qualquer fase da vida, mas especialmente
saúde, especialmente a ocular. Isso porque
após os 40 anos é fundamental consultá-lo regular-
com o passar dos anos, as estruturas dos
mente para check-ups e avaliações do desempenho
olhos acabam apresentando alterações importantes
visual. Como é comum o auxílio dos óculos nessa
na visão. Daí a necessidade de intensificar as visi-
idade, o profissional poderá indicar os melhores ti-
tas ao oftalmologista depois dos 40 anos, já que a
pos de lentes e adequá-las conforme as necessida-
partir dessa idade os primeiros sintomas do enve-
des individuais.
lhecimento dos olhos começam a ser percebidos. E mesmo quem nunca precisou usar óculos até então, talvez necessite recorrer ao acessório.
Evitar álcool e cigarros Sabe-se que o consumo de bebidas alcoólicas e o
Além do desgaste natural e gradual dos múscu-
tabagismo estão diretamente associados a diversas
los da visão, alguns fatores externos podem acelerar
alterações que podem, inclusive, acometer a saúde
esse processo de envelhecimento, como o tabagis-
dos olhos. Esses hábitos causam modificações na
mo, sedentarismo e até maus hábitos alimentares.
camada de fibras da retina, diminuindo a produção
Aqui, algumas dicas para melhor qualidade de vida,
lacrimal que é responsável pela lubrificação do olho,
principalmente na terceira idade, quando é preciso
e reduzindo o desempenho do órgão.
cuidar da saúde ocular e estar atento aos sinais do
1º.10.2020 |
envelhecimento dos olhos.
Boa noite de sono é importante Um verdadeiro milagre para regular as funções
Visita regular ao oftalmologista O acompanhamento desse profissional é impor-
biológicas, dormir 8 horas por noite também é fundamental para a manutenção da visão, já que é du-
luz, se regenera. Para uma noite bem dormida, que eleve o bem-estar, é necessário um ambiente calmo,
1º.10.2020 |
rante o sono que a rodopsina, pigmento sensível a
confortável e escuro. Adquirir novos hábitos Comer de forma saudável, manter a hidratação corpórea e ter uma rotina de atividades físicas formam a tríade ideal de hábitos que colaboram com o bom funcionamento ocular. Alimentos como peixes, por exemplo, que são ricos em Ômega 3 e vitaminas A, B, D e E, oxigenam as células e combatem o envelhecimento precoce da visão. Já a ingestão de água e práticas físicas ativam neurônios do córtex visual e melhoram seu desempenho. Uma leve caminhada já pode ajudar nisso. Atenção à higiene dos olhos Coçar os olhos parece um ato inofensivo, mas que deve ser evitado. Os microorganismos de sujeira, presentes nas mãos, causam irritações e alterações no globo ocular. Para aliviar a coçeira, uma boa higienização das pálpebras e cílios, com água corrente e xampu já é o suficiente. Especialmente para quem gosta de usar maquiagem, pois a limpeza correta é fundamental para não deixar resíduos de produtos. Proteger-se da exposição solar Assim como o restante do corpo, os olhos também devem ter proteção quando expostos à luz solar. Por isso, o uso dos óculos de sol é importante, já que traz conforto visual ao ar livre, protege a visão e evita que as células da região dos olhos se degenerem prematuramente. Daí a importância de usar sempre acessórios legítimos, com filtro solar UVA, UVB e UVC.
57
VERGONHA
Plástica no nariz vai além da estética
S 58
egundo a Sociedade Internacional de Cirur-
de ar pelas narinas e, consequentemente, melhora
gia Plástica Estética (Isaps), o Brasil é um
do padrão respiratório do nariz. Após o procedimen-
dos países onde mais se realiza cirurgia plás-
to, os pacientes deixam de ter a sensação constante
tica no mundo, sendo que os procedimentos no na-
de nariz entupido, e vão deixando de respirar pela
riz (rinoplastia) ocupam a sétima posição no ranking
boca”, relata Luís Felipe Maatz.
nacional. De acordo com a Associação Americana de
Entretanto, segundo Maatz, apesar de a rinoplas-
Cirurgia Plástica, 55% das plásticas no nariz são re-
tia solucionar problemas de respiração, é possível
alizadas por motivos estéticos.
que a cirurgia não tenha uma resposta satisfatória
“No entanto, além de harmonizar o nariz, a rino-
nas seguintes condições: pacientes com característi-
plastia também corrige alterações na função respi-
cas anatômicas desfavoráveis, não diagnóstico pré-
ratória nasal. Neste caso, o cirurgião deve sempre
vio de problemas respiratórios, má execução técnica
objetivar a manutenção da função nasal associada
do procedimento ou resposta inesperada do paciente
à melhoria dos aspectos estéticos”, explica Luís Feli-
no pós-operatório (particularmente produção exces-
pe Maatz, cirurgião plástico, com especialização em
siva de fibrose). “Nestes casos, será preciso tomar
Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital das
medidas específicas para reverter ou amenizar o
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
problema gerado”.
de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de
1º.10.2020 |
Cirurgia Plástica (SBCP).
A recuperação de uma cirurgia plástica nasal costuma ser tranquila e rápida. Há necessidade de uso
Segundo ele, a rinoplastia não é considerada uma
de curativo externo por cerca de uma semana, assim
cirurgia de risco, desde que seja realizada pelo ci-
como uso de medicações por boca e por via nasal. “O
rurgião especialista, em hospitais ou clínicas com
paciente pode retornar às suas atividades habituais
estrutura adequadas e o paciente esteja com boas
após um período relativamente curto. A média é de
condições de saúde (incluindo exames pré-operató-
7 a 14 dias para o retorno ao trabalho, e de um mês
rios normais). “É uma cirurgia de curta duração (cer-
para realização de atividades físicas. Nos primeiros
ca de 2 horas) e a alta hospitalar ocorre geralmente
dias, devido ao inchaço secundário à cirurgia, pode
no mesmo dia ou no dia seguinte ao procedimento”.
haver uma dificuldade na respiração pelo nariz, que
Dos problemas respiratórios, os mais comuns são
costuma melhorar com o uso das medicações pres-
desvio de septo e hipertrofia das conchas nasais. “Quando realizada a cirurgia, há aumento do fluxo
critas pelo cirurgião”, finaliza Luís Felipe.
59
1ยบ.10.2020 |
ROUBADA
Jovens trocariam sexo pelo celular Estudo revela que maioria dos jovens da geração Z ficaria com o smartphone e abriria mão das relações sexuais
U 60
ma pesquisa mostra que algumas pessoas
A porcentagem cai 10 pontos quando se pergunta
abririam mão do álcool, do café e até mes-
sobre o uso da redes sociais, totalizando 60% do
mo do cachorro em vez de ficar um mês
número pessoas que ficariam sem elas por 30 dias.
sem o celular. Num curioso experimento, a agência
Saindo do streaming e das redes, mas ainda den-
de marketing Simple Texting perguntou se os par-
tro do entretenimento, 41% deixariam de consumir
ticipantes preferiam o celular ou alguns elementos
produções da TV, podcasts e até músicas – tudo isso
da rotina atual. Dentre as condições consideradas, o
para continuar com o smartphone.
álcool é facilmente trocado pelo telefone por 72%
Houve uma importante diferença entre gerações
das pessoas entrevistadas. O café resiste um pouco
quando o sexo entrou na pesquisa. Em linhas gerais,
mais, já que a porcentagem dos que deixariam de
60% dos participantes deixariam o smartphone de
consumi-lo cai para 64%.
lado para ter relações sexuais. No entanto, o núme-
Apesar de alguns dizerem que sacrificariam a
ro se inverte nas respostas da geração Z (os nasci-
companhia de cachorros para ter o aparelho por per-
dos entre 1995 e 2010), em que 60% priorizariam o
to, os animais de estimação ainda têm mais crédito
smartphone.
do que os humanos. Em números concretos, 40% das
As condições foram alteradas num segundo mo-
pessoas trocariam os cães pelo uso do dispositivo,
mento da pesquisa. As perguntas passaram a compa-
mas quando se considera a companhia de um ente
rar a preferência de uma escolha permanente entre
querido, a predileção pelo celular sobe para 42%. A
uma determinada opção e o smartphone. A pesquisa
pesquisa recrutou mil usuários de smartphones nos
mostrou que 39% abririam mão de férias para sem-
Estados Unidos.
pre em vez de abandonar o celular. Ainda sobre as
O estudo também revelou que 70% dos entrevistados deixariam de utilizar plataformas de streaming
1º.10.2020 |
por um mês para manter o uso regular do celular.
preferências, 54% das mulheres e 42% dos homens deixariam de fazer exercícios definitivamente.
61
1ยบ.10.2020 |
SÓ ATRAPALHA
Mitos do cinema pornô que prejudicam as relações sexuais reais 62
O
Filmes pornôs transmitem a ideia de que tudo é fácil e simples, e malabarismos na cama fazem parte da rotina sexual. E tem gente frustrada por causa disso
cinema pornô está em alta. Banalizado até
Algo que certamente não ocorre no sexo real. “Nem
certo ponto, o que antes era filme erótico
todas as relações sexuais incluem ou terminam com
hoje é só uma diversão, disponível em pra-
um orgasmo e nem por isso deixam de ser prazero-
ticamente todos os meios eletrônicos. Na falta de
sas”, explica a sexóloga Lola González. Segundo ela,
uma educação sexual adequada, muita gente acaba
não é só que nos filmes se esqueça de que nem sem-
acreditando que o que acontece num pornô é possí-
pre nosso corpo está no melhor momento para um
vel em sua vida real. Não é assim. Pornô é só ficção.
orgasmo, mas também ignoram que às vezes a razão
E isso cria mitos, difícil de lidar para muitos. Alguns
para fazer sexo não é só chegar ao clímax. “Às vezes
dos mitos:
se pode buscar o prazer na forma de orgasmo; em outras talvez se queira uma aproximação em relação
O orgasmo sempre chega Os filmes pornôs têm roteiro como qualquer outro filme, embora o final nunca costume ser uma
1º.10.2020 |
surpresa. Os protagonistas sempre chegarão ao or-
ao outro para sentir a segurança ou a proteção do parceiro, por exemplo”.
Facilidade do sexo casual
gasmo. Não terão um dia ruim, nem se sentirão des-
O entregador de pizza, um colega de trabalho ou
concentrados, nem começarão a sentir desconforto e
uma aventura dentro do carro no lava-rápido. Qual-
preferirão deixar para outro dia. O orgasmo é sempre
quer hora, lugar e até mesmo pessoa parecem per-
a meta e, aconteça o que acontecer, sempre chegará.
feitos para o sexo casual. E também um sexo que
63
1ยบ.10.2020 |
não seja desajeitado e atropelado, mas o melhor da
seja, se um plano não convence o diretor ou se os
sua vida. Quem teve essa experiência? Quase nin-
atores e atrizes simplesmente se cansam, a cena é
guém. Ou, pelo menos, não sem evitar todo tipo de
cortada e depois na montagem parece que esse cor-
complicações. “No pornô, tudo parece muito fácil
te não aconteceu, diz Valverde. Não devemos tentar
e descomplicado”, explica a também sexóloga Ire-
imitar algo que nunca foi real”.
ne Valverde. “Na verdade podemos sair uma noite e desfrutar do sexo casual, sim, mas com certos cuidados”, principalmente no sexo com desconhecidos. O mesmo acontece com fantasias como sexo a três ou orgias, que parecem estar na ordem do dia.
Excitação, um passe de mágica
64
Se há algo de bom no pornô é que nos mostra a diversidade. De idade, raça ou orientação sexual. No entanto, algo que se repete com frequência é a questão do tamanho. Principalmente do pênis. Quanto maior, mais prazer parece obter a protagonista. Na vida real, se você perguntar às mulheres, muito pou-
Antes de colocar o bolo no forno é preciso aquecê-
cas dirão o mesmo. “Quanto maior o tamanho e/ou
-lo previamente. E antes de passar a fazer sexo com
profundidade da penetração, às vezes o que se con-
alguém, precisamos de um aquecimento. Não se tra-
segue é desconforto ou dor”, diz Lola González sobre
ta apenas das mal chamadas preliminares, mas da
esse mito tão difundido. A sexóloga esclarece ainda
sedução prévia, dos gestos que mostram o desejo do
que “a vagina só tem sensibilidade no primeiro ter-
outro e, obviamente, da estimulação de mais partes
ço, por isso é irrelevante que a penetração realizada
do corpo antes de passar aos genitais. Mesmo es-
seja mais ou menos profunda e o pênis maior ou
tando excitada, às vezes é possível estar lubrifica-
menor. De fato, no caso de pênis muito grandes, as
da rapidamente, e outras vezes nosso corpo precisa
mulheres podem sentir os golpes na pelve, mas isso
de um pouco mais de ajuda. “Embora a lubrificação
não significa que seja satisfatório”.
e a excitação costumem aparecer juntas, isso não significa que sejam inseparáveis. São fenômenos independentes. Você pode estar excitada, mas não lubrificada, e pode estar lubrificada, mas não sentir excitação”, diz a também sexóloga Estela Buendía.
Atletas, sem cansaço
1º.10.2020 |
Quanto maior o tamanho...
Violência excitante Cinquenta Tons de Cinza colocou no imaginário coletivo o prazer de algumas chicotadas. A pornografia há muito defende a mistura de sexo e violência, especialmente de homens contra mulheres. Tanto que os jovens parecem acreditar que isso é normal,
Há dias em que as sessões de sexo duram horas e
como nos lembraram algumas cenas da série juvenil
podem ser repetidas. Em outros nos damos por sa-
Euphoria. E não é normal de forma alguma. “Den-
tisfeitos com uma rapidinha. E, na maioria das ve-
tro do nosso imaginário de fantasias eróticas pode
zes, nos dedicamos um momento somente ao pra-
ser agradável para nós pensar em um encontro em
zer, sem pressa, mas sem pausa, porque se gastamos
que o sexo seja violento, como, por exemplo, ser pu-
muito tempo com isso não só acabamos nos esgo-
xada pelos cabelos ou jogada na cama. Agora, fazer
tando fisicamente, mas também a penetração acaba
é outra questão”, diz Irene Valverde. Ou seja, uma
sendo um incômodo. Algo que na pornografia não
coisa é a fantasia e outra é a realidade. Seja como
parece importar. “Devemos lembrar que, como em
for, qualquer jogo sexual deve ser discutido e con-
qualquer filme, as cenas são cortadas no pornô. Ou
sensual para que seja realmente um bom momento
lógico que não façamos algo com outra pessoa sem seu consentimento e o mesmo acontece no sexo”.
1º.10.2020 |
para ambos. “Se pararmos para pensar, é bastante
Todas gritam Se existem dois clichês nos filmes pornôs, além daquele dos pênis grandes, o outro seria o dos planos de mulheres com rostos avermelhados gritando como loucas. É a visão que muita gente tem do orgasmo. Tanto que há mulheres que são incapazes de se identificar com ele. Porque existem orgasmos que são como um tsunami, mas outros são mais suaves ou simplesmente existem pessoas que não são tão expressivas na hora de mostrar seu clímax. Por isso, segundo Estela Buendía, “não podemos concluir que o nosso parceiro está gostando baseando-nos em sinais como a ofegação, a respiração ou o movimento. A única maneira segura de saber como está sendo é perguntar”.
Anal sem preparação O pornô é um dos motivos pelos quais existe tanta curiosidade sobre o sexo anal. O problema é que quando se tenta na vida real, não parece tão simples. “O ânus não é como a vagina, não se adapta como a vagina e precisa ser dilatado e lubrificado (não se lubrifica sozinho). Caso se aja com brutalidade e não houver preparação, podemos acabar com fissuras e feridas”, afirma Valverde. Portanto, “o ideal é erotizar o processo anterior à penetração anal”, primeiro estimulando com o dedo, usando um lubrificante especial para a região, experimentando um brinquedo para ir dilatando e garantindo o tempo todo que estejamos confortáveis antes de dar um passo em falso. “As atrizes pornôs fazem o mesmo, litros de lubrificante e preparação prévia. O que acontece é que isso não é visto na câmera”.
65
LIVROS
Unesp torna disponível o Guia das Profissões. On line Guia tem informações sobre carreiras oferecidas; canal no Youtube terá dicas de graduanda 66
A
edição revista e atualizada do Guia de Pro-
Unesp, o canal oficial da Universidade no YouTube
fissões da Unesp já está disponível online
vai divulgar vídeos semanais e agendar lives para
no portal da Universidade, com informa-
ajudar os vestibulandos com informações do vesti-
ções de 68 profissões de nível superior oferecidas no
bular e também das carreiras oferecidas pela Uni-
Vestibular 2021, cujas inscrições serão realizadas de
versidade.
1º de outubro a 27 de novembro de 2020. A Unesp oferece neste exame vestibular 184 op-
triz Dean Rizzo, estudante de Ciências Biológicas do
ções de entrada, em todas as grandes áreas do co-
câmpus do Litoral Paulista, localizado na cidade de
nhecimento (Biológicas, Exatas e Humanidades). No
São Vicente, na Baixada Santista. Em 2019, Beatriz
total, são 7.630 vagas em cursos de graduação dis-
Rizzo foi selecionada para participar do Programa Lí-
tribuídos por 23 cidades paulistas.
deres Emergentes nas Américas (Elap), por meio do
O exame segue sendo realizado em duas fases de
qual fez um intercâmbio na Universidade de Saska-
provas, mas mudou o formato em razão da pande-
tchewan (UofS), no Canadá. Depois disso, tornou-se
mia de Covid-19. As 90 questões de múltipla esco-
divulgadora científica.
lha da primeira fase serão aplicadas em dois dias diferentes (30 e 31 de janeiro de 2021). A segunda fase será realizada em dia único (28 de fevereiro) e com 60 questões de múltipla escolha, além de uma 1º.10.2020 |
Os vídeos serão produzidos pela graduanda Bea-
redação. Além da edição online do Guia de Profissões da
1º.10.2020 |
A princesa que não assumiu o trono Historiadores analisam textos autobiográficos da Princesa Isabel e reúnem 20 anos de pesquisa em maior obra já publicada sobre a personagem Alegrias e Tristezas, título da obra dos historiadores Bruno da Silva Antunes de Cerqueira e Maria de Fátima Moraes Argon, é a tradução de como D. Isabel descreveu sua vida em uma pequena autobiografia em 1908. O lançamento é a maior obra já publicada sobre a personagem e tem 888 páginas. Bruno e Fátima desfazem mitos, explicam e esmiúçam muitas informações erradas e contraditórias sobre a Princesa Isabel com base em mais de 20 anos de pesquisas. Com mais de 70 ilustrações, a produção apresenta a força da personagem histórica e aborda o golpe militar que implantou a República e impediu D. Isabel de assumir o Terceiro Reinado. Outro destaque da produção é a análise sobre a própria expressão “Princesa Isabel”: os autores revelam que contém uma armadilha teórica que mini-
A saga dos judeus que imigraram para o Brasil
miza a participação dela no processo da Abolição da
Em livro, Eva Alterman Blay esmiúça as
Escravatura no Brasil.
causas desse processo, seus percalços e
O livro apresenta ainda a cronologia da vida da
motivações
princesa e tabelas com todos os homens e mulheres a quem D. Isabel conferiu títulos de nobreza. Ale-
“Como seres humanos somos todos iguais, e como
grias e Tristezas: estudos sobre a autobiografia de D.
humanos somos todos diferentes: nas crenças, nas
Isabel do Brasil é indicação fundamental para histo-
línguas, na política, na ideologia, no gênero. É preci-
riadores, cientistas sociais, jornalistas e para todos
so explicar a diversidade do povo judeu, e a persis-
os amantes da História do Brasil.
tência das diferencças entre uns e outros”, afirma a
O livro traz, ainda, cadernos de imagens inéditas
socióloga Eva Alterman Blay, autora do livro O Brasil
e mais de mil notas de rodapé, genealogias dos an-
como destino, que ganha segunda edição em par-
cestrais e descendentes de D. Isabel, manuscritos
ceria da Editora Unesp com a Imprensa Oficial do
originais dos seus textos e análise de todas as bio-
Governo do Estado de São Paulo.
grafias já produzidas sobre ela. Preço: R$199 - Link
Após três décadas de trabalho coletando dados
de venda: https://www.linodigi.com.br/produto/ale-
e relatos sobre a imigração judaica para o Bra-
grias-e-tristezas-29
sil proveniente de 17 países –a maioria da Europa Ocidental– e de diferentes classes sociais, a autora reconstrói os cenários da população ao longo dos
67
tempos, questionando o estereótipo do judeu rico e bem sucedido. Revisitando e reformulando o significado de diáspora, a pesquisa refaz uma trajetória
Sono: uma história de terror que não assusta ninguém
que vai desde as preconceituosas imposições à vida
Livro de Luciana Romão ensina a lidar com
comunitária nos shtetlach da Romênia, da Polônia
o medo na hora de dormir, na figura de uma
e da Rússia, passando pelo impacto da publicação
garotinha que tenta vencer os fantasmas
dos apócrifos Protocolos dos sábios de Sião, bem
atormentando seu sono
como pelo itinerário que figuras conhecidas como Armando Kaminitz, Ema Klabin e Tatiana Belinky
“Boa noite”, diz a mamãe. É aí que tudo começa!
precisaram percorrer para garantir a sobrevivência
Afinal, quem nunca teve medo de dormir quando as
até sua chegada ao Brasil, onde preservaram suas
luzes se apagaram? Quem nunca conferiu embaixo
raízes culturais mesmo em um mundo completa-
da cama para checar se não tinha nada assustador
mente diferente.
por lá, além de poeira? O livro Sono, lançamento da
A coleção de histórias que Eva Blay reúne no livro –permeado por inúmeras fotos– ilumina como
68
todos temos.
os judeus “foram empurrados como a maioria dos
O enredo narra a dificuldade para dormir de uma
imigrantes pelos mesmos motivos e sempre busca-
pequena garotinha, que passa a imaginar monstros
ram a tão sonhada paz”. Para tanto, explicita de onde
na escuridão depois do beijinho de boa-noite da sua
vieram os judeus que escolheram o Brasil como des-
mãe. Ela precisa encontrar, dentro de si, uma forma
tino, como e onde viviam anteriormente, e por que
de transpor a noite sem que o medo seja mais forte
vieram.
que a vontade de descansar e ter uma boa noite de
Indo além, questiona por que era necessário afir-
sono e de sonhos.
mar-se como judeu ou por que, para alguns, ser ju-
Sono é um livro para ser lido e visto. As ilustra-
deu poderia ser interpretado como uma “vergonha”.
ções complementam o que as palavras não dizem e
São as respostas sobre o que realmente significa ser
vice-versa. As sensações e os sentimentos, tão pro-
judeu e o que é integrar a classe no país que o leitor
tagonistas quanto a garotinha cuja história se conta,
vai encontrar nesta obra que registra exemplos de
aparecem em ilustrações surpreendentes de Luciana
perseverança na luta pela preservação da diversi-
Romão, também autora do texto.
dade das existências e pela tolerância entre povos.
A obra se apresenta como uma espécie de terror
Neste sentido, configura-se como uma referência
infantil – mas que, claro, não assusta ninguém. A
para se compreender os problemas migratórios atu-
história pode ser ouvida em leitura compartilhada
ais que o mundo apresenta.
por crianças a partir de dois anos, como uma forma
Eva Alterman Blay é bacharel, mestre e doutora
de afastar medos sobre o escuro, sobre o dormir e,
em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP).
por que não, ajudar os pequenos a se livrarem de
Professora titular dessa universidade, recebeu diver-
outros fantasmas. Preço: R$ 19,90 - Link de venda:
sos prêmios, advindos especialmente de sua atuação
https://amzn.to/38JwLKR.
na área da Sociologia das Relações de Gênero. Tem inúmeros livros publicados. Trabalhou na ONU, em Viena, como Inter-Regional Adviser no Departamen1º.10.2020 |
Saíra Editorial, dialoga com esse e outros medos, que
to de Assessoria à Mulher. Foi senadora da República. Atualmente é professora Emérita Titular Sênior da USP. Preço: R$ 88 - ISBN: 978-85-393-0802-6.
1º.10.2020 |
69
Para a criançada
walkman, e até as paquerinhas da época do colégio,
Década nostálgica é o gancho da Série
que viveram os anos 80 com intensidade.
Chocrível, uma reunião de produções da
Márcia Marques também atrai os adultos saudosos A série é interação pura: para os pequenos é a
escritora maranhense Márcia Marques que
oportunidade de desenhar e se divertir com a carte-
atrai leitores de todas as gerações
la de adesivos, outra grande tendência na época. Já os mais grandinhos vão rir e chorar com o diário de
Para os bem pequenininhos, Márcia Marques re-
Maia de Oliver, a grande protagonista da série.
comenda o lançamento Chocrível Kids. Já para os
Além da diversão garantida, a coleção de Márcia
maiorzinhos, de 08 a 12 anos, o Diário Chocrível –
Marques, a verdadeira Garota Chocrível, deixa a ins-
1º temporada é o mais indicado. Se o leitor for um
piração para que, no futuro, diários da década de
adolescente, Eu – Diário de uma garota Chocrível é
2020 sejam também ponto de partida para novas
produção ideal para mergulhar em uma época super
produções nostálgicas como é a Série Chocrível.
divertida mesmo sem internet. Todas essas obras,
Márcia Marques nasceu em 1973 e presenciou o
além do aplicativo de realidade virtual, conecta a
surgimento das grandes bandas rock e pop dos anos
história dos anos 80 com a galerinha do novo milê-
80. Ama ler e tem mania de fazer rimas e criar his-
nio por meio da tecnologia e da literatura.
tórias. Decidiu escrever para incentivar os leitores a
Ao relembrar os brinquedos inesquecíveis da época – a mola colorida, cubo mágico, ioiô e o famoso
terem paixão pelos livros.
TELINHA
E a TV brasileira chegou aos 70 anos Em setembro (18) de 1950 começou a história oficial da televisão Brasileira, com a primeira transmissão da TV Tupi. Tudo improvisação - não havia programação para o dia seguinte
70
A televisão brasileira, fundada pelo empresário e
jornalismo (Repórter Esso), programas de humor (Os
jornalista Assis Chateaubriand, começou aos trope-
Trapalhões), de auditório (Programa Silvio Santos) e
ços. De nada adiantou o então bispo auxiliar de São
infantis (Capitão Aza). A primeira novela entrou no
Paulo, Dom Paulo Rolim Loureiro, benzer as câme-
ar no ano seguinte. Seu título era Sua Vida me Per-
ras (três) e sobre elas jogar água benta. Uma delas
tence. Foi escrita, dirigida e protagonizada por Wal-
não funcionou. Hebe Camargo, escalada para can-
ter Forster e tinha 15 capítulos de 20 minutos cada.
tar o Hino da Televisão, não apareceu e precisou ser
Não era diária - dois capítulos por semana. Essa no-
substituída às pressas pela apresentadora Lolita Ro-
vela entrou para a história da TV não só por ser a
drigues. A desculpa de Hebe era um resfriado, mas
primeira - foi também a primeira a exibir um beijo.
tempos depois descobriu-se que ela preferiu naquela
A atriz Vida Alves, que fazia par com Walter Fors-
noite a cama do namorado.
ter, precisou pedir autorização por escrito do marido
A programação da Tupi naquele dia durou duas horas e meia, e no final, Cassiano Gabus Mendes,
Até 1959, todos os programas eram ao vivo, não
que era diretor artístico da Tupi, virou-se para o
havia gravação. Comerciais e novelas também. Em
ator LIma Duarte e perguntou:: “Ô, Lima, e amanhã,
1959 a TV Continental importou o primeiro apare-
hein? Não temos nada para colocar no ar...”. Não ha-
lho de videotape. A Tupi foi retirada do ar no dia 18
via mesmo. Ninguém havia pensado em grade de
de julho de 1980, dois meses antes de completar 30
programação. A transmissão foi vista nos 200 apa-
anos. Sua última novela foi Como salvar meu casa-
relhos contrabandeados por Chateaubriand e coloca-
mento, escrita por Carlos Lombardi. A 20 capítulos
dos nos principais pontos da Capital. Somente no dia
do final, deixou de ser exibida. Pouco sobrou de seu
27 de setembro os Diários Associados, que também
acervo. O espólio ficou com Silvio Santos, que fun-
eram de Chateaubriand, publicou a programação da
dou o SBT, e Adolfo Blch, que fez a TV Manchete.
noite na TV. 1º.10.2020 |
para a cena.
Em quase 30 anos (enquanto durou), a Tupi lançou cinco dos mais importantes formatos da TV brasileira: : teledramaturgia (O Direito de Nascer), tele-
1º.10.2020 |
Não foi por acaso Desde o começo do século 19, os cientistas estavam preocupados com a transmissão de imangens à distância. Foi com o invento de Alexander Bain, em 1842, que se conseguiu a transmissão telegráfica de uma imagem (fac-símile), que depois ficou conhecida como fax. Em 1817, o químico sueco Jakob Berzelius descobriu o selênio, mas só 56 anos depois, em 1873, o inglês Willoughby Smith comprovou que o selênio tinha a propriedade de transformar energia luminosa em energia elétrica. Em 1892, Julius Elster e Hans Getiel inventaram a célula fotoelétrica. Em 1906, Arbwehnelt desenvolveu um sistema de televisão por raios catódicos, o mesmo acontecendo na Rússia por Boris Rosing. Em 1920, aconteceram as primeiras transmissões graças ao inglês John Logie Baird, por meio do sistema mecânico baseado no invento de Paulo Nipkow. Em 1924, Baird transmitiu contornos de objetos à distância, e no ano seguinte, fisionomia de pessoas.
71
OPINIÃO
Ilusão, realidade, paixão, amor e ódio
P
72
rovavelmente poderemos passar mais algu-
pela apresentação, pelo interesse que seu público
mas décadas sem conseguir responder à per-
tem em determinados fatos. A televisão impõe a
gunta: qual a finalidade da televisão? Talvez
quem ouve e vê um formato. Se não agradar, o con-
a televisão seja o meio de comunicação mais estuda-
trole remoto é seu maior desafio - nada impede de
do desde seu surgimento, no século 20. Talvez seja
quem a vê trocar de canal.
também o meio de comunicação que possui maior
Canal é outra novidade que chegou com a tele-
número de teses e teorias, mas nenhuma conclusiva.
visão. O rádio, seu precursor, ainda hoje é ouvido e
Ou conclusivas demais: a televisão serve para tudo.
conhecido pela frequência, e mesmo as mais com-
Como qualquer novidade, quando a televisão sur-
plicadas, como as de FM (Frequência Modulada),
giu era só uma novidade. Seus inventores tinham
com até quatro dígitos, ou as de OC (Ondas Curtas),
em mente um objetivo, o de reproduzir uma ima-
com faixas específicas e quilociclos que precisam se
gem à distância. Conseguiram, e então surgiram os
encaixar com perfeição no capacitor variável que as
empreendedores, os visionários, que discutiram uma
recebe, estão memorizadas pelo público. A televisão
aplicação para o evento. Entenda-se por aplicação
facilitou - está nos canais.
sua transformação em negócio. Negócios são o Norte da imensa bússola que é o
também a televisão o meio de comunicação que
mundo. Em nome deles acontecem as guerras e a
mais teve suporte técnico para chegar ao maior nú-
paz. Em nome deles há diversão, cultura, informa-
mero de lugares possível. As concessões para tevês
ção. Tal como o rádio, a televisão deslanchou quan-
de sinal aberto são, via de regra, para VHF (Very
do virou negócio, e como negócio passou a se fazer
High Frequency), mas obstáculos naturais e distân-
presente nos lares, nos escritórios e nos lugares com
cias são facilmente vencidos com a retransmissão
concentração de público. A equação era e continua
em UHF (Ultra High Frequency) ou via cabo. Agora
sendo simples: para cada minuto de diversão, cultu-
digitais.
ra ou informação, alguns segundos de puro negócio - a publicidade.
1º.10.2020 |
Em nome da audiência e dos negócios, talvez seja
A televisão produziu também tantos aliados quanto inimigos em seu tempo de existência. Foi alçada
Ao contrário da mídia impressa, a televisão soma
à condição de algoz do cinema, mas a ele se abraçou
críticos, teóricos e profetas, além de, a cada dia, ga-
para exibir filmes. Foi além, quando passou a dividir
nhar inimigos tão ferozes quando seu poder de con-
as estantes primeiro com o vídeocassete, e depois
vencimento. Um jornal editado e impresso é aquilo
com os DVDs. Foi profetizada como a substituta do
que está nas bancas e ponto final. A televisão exige
rádio, mas, curiosamente, saiu do rádio boa parte de
mudanças a cada sinal de queda na audiência, e seu
seus profissionais, e raramente quem controla uma
humor pode mudar de um minuto a outro.
emissão não tem também uma estação de rádio.
A mídia impressa atrai o leitor pelo ineditismo,
Os maiores conglomerados se formaram a partir
Anos depois, solitária, uma câmera acoplada a um
bém se aliou. À sua volta existe um mercado tão
tratorzinho de brinquedo, o Mars Pathfinder, mos-
grande, que se um dia a televisão deixar de existir
trou a bilhões de terráqueos como é a superfície de
não como medir o impacto na economia de pratica-
outro planeta, Marte. A paisagem desolada, inóspi-
mente todos os países.
ta, sepultou de vez a suspeita de escritores e outros
Por causa da televisão existem as agências de publicidade com tecnologia de ponta, as revistas que
crentes em vida extra-terrestre de criaturas verdes dispostas a invadir a Terra.
informam seu conteúdo e levam ao público o que
As mesmas câmeras estão presentes nos shoppin-
acontece quando as câmeras e refletores estão des-
gs controlando as multidões que acorrem às com-
ligados; produz-se equipamentos para tudo, desde
pas. Nos elevadores, nas lojas, nos caixas eletrôni-
lâmpadas que corrigem cores a computadores que
cos, nos bancos, gravando tudo o que se passa. Estão onde está o público, seja numa grande
criam ilusões que a própria televisão já
casa de espetáculos, sujeita a van-
pariu; vive-se num mundo a parte
dalismo de turbas enfurecidas,
do mundo real, formado por artistas,
seja na portaria de edificíos,
apresentadores,
para que o morador saiba
técnicos e até pelo portei-
quem o procura.
ro da emissora da moda - nada como um crachá
O mundo aprendeu
para ser identificado
lições com as guerras, e
como tal.
dentre elas está a que
E quando parecia ha-
a própria guerra, consi-
ver terminado o “o que
derada um ato estúpido,
fazer com a televisão?”,
irracional, significa anos de
apareceram novas técni-
avanço
tecnológico.
Assim foi com as bombas
cas e ideias. Se é possível
da série “V” da Alemanha (V-1,
transmitir imagem à distância,
V-2, V-3), consideradas o princípio
por que não usar essa facilidade
do enorme foguete Saturno que levou o
para saber o que se passa no interior do corpo humano? Depois da pergunta, técnicos e cien-
homem à Lua. Assim foi com o rádio que falava à
tistas não demoraram para criar sondas dotadas de
distância, por meio de células durante a Guerra do
minúsculas câmeras - hoje comuns - para saber o
Vietnã, o precursor do telefone celular.
exato tamanho de uma úlcera ou a condição de uma artéria.
1º.10.2020 |
do rádio ou de jornais. com os quais a televisão tam-
A televisão não se fez de rogada. A necessidade de informar levou-a usufruir da tecnologia militar.
Se transmite imagem à distância, nada melhor
Satélites antes empregados para vigiar possíveis ini-
que uma câmera para mostrar aos terráqueos pri-
migos - com câmeras de televisão - passaram a ser
meiro o que era a Lua, nosso único satélite. Em ju-
usados para transmitir sinais de informação para o
lho de 1969, quando Neil Armstrong desembarcou
público.
no Mar da Tranquilidade, teve a acompanhar seus
Não se sabe onde isso vai parar. O míssel To-
passos uma câmera, ligada a um equipamento, que
mahwk, por exemplo, é guiado por uma câmera, que
provou a milhões de pessoas, em todo o mundo, com
envia imagens do que “vê” para sua memória. As
olhos grudados nos receptores, que o homem havia
imagens são confrontadas e a rota para o alvo pod
saído do seu mundo.
ser corrigida sem que o homem intervenha. Outras
73
câmeras, projetadas para resistir à água e à salini-
A televisão leva para dentro das casas, em qual-
dade, vasculham o fundo dos ocesanos em busca de
quer dia e horário, tudo o que o mundo oferece e
novidades.
o dinheiro pode comprar. Carros são cobiçados,
Novidades que para a Ciência se traduzem em for-
mulheres são desejadas, e até o remédio de gosto
mas de vida, ou para exploradores, em descobertas
amargo e efeito duvidoso transmite a garantia que
de tesouros, como o navio Titanic. Não, o Titanic
os males serão curados. A televisão desperta paixões
não era a meca dos exploradores. Há antigos navios
que se transformam rapidamente em amor ou ódio.
ingleses, franceses, espanhóis e portugueses cujos
Cria histórias vividas por personagens que ser-
manifestos de carga despertam cobiça maior - ouro
vem de modelo para uma temporada toda, lançando
e prata.
moda e criando novos hábitos e costumes. São as
Uma das últimas novidades foi a internet. Como tanto outros inventos, nasceu com fina-
novelas, nascidas no rádio, que na televisão ganharam imagem. O que antes era sentido nas palavras passou a ser visto.
lidade militar, disfarçou-se em ins-
A alegria é comemorada, e o
trumento para o meio acadê-
sofrimento repartido entre
mico e terminou sem dono.
todos os que se sentam
Ou sem dono ou com mi-
74
lhões de donos. A inter-
frente à sua tela para
net, moderninha e inte-
as incontáveis horas de
rativa, tinha tudo para
amores impossíveis e
sepultar a televisão. A
aventuras quase.
televisão agiu antes, e
“Quem matou Salo-
tornou a internet sua
mão Ayala/” - A per-
aliada também. Redes de
gunta que não queria calar durante os meses
televisão do mundo todo
em que a novela Pai Herói
tem seus sites na internet e
esteve no ar. Resposta só no
usam seu sinal para transmitir,
último capítulo. A malvada Odete
a partir de um celular, de qualquer lugar do mundo. Nada escapa à televisão,
Rótman foi talvez a mais odiada das vi-
tudo se transforma num grande negócio.
lãs produzidas pelas novelas. Sua intérprete, Beatriz
Pastores e religiosos que a defenestravam por
1º.10.2020 |
transmitir cenas ousadas, íntimas ou de violência,
Segall, chegou a ser agredida nas ruas, tamanho era o convencimento do seu papel.
hoje dividem espaço com as mesmas cenas. Apren-
O rádio produziu um fenômeno chamado Repór-
deram rapidamente usar o poder da televisão para
ter Esso, que levado para a televisão não sobreviveu
arrebanhar novos fiéis e conservar os que já se con-
aos interesses de quem comandava o negócio. Saiu
verteram. Alguns juram milagres, curas e trans-
do ar e deu lugar ao Ultra Notícias, na extinta TV
formações para vender a passagem para o Paraíso.
Tupi, que também sucumbiu à avalanche do Jornal
Outros se limitam a falar incansavelmente sobre as
Nacional, da Globo. No Rádio, o Repórter Esso era a
vantagens do Reino prometido. Falam, mas o risco
garantia que o que se falava era notícia e não boato.
de não serem ouvidos os obriga a inserir um qua-
Era preciso que o Repórter Esso disse algo para se
dro menor com alguém traduzindo a pregação, para
tornar verdade.
que os surdos-mudos também possam salvar suas almas.
O Jornal Nacional - hoje totalmente desacreditado - também teve esse papel. Chegou a anunciar
altos salários. A maioria chega no máximo à fama.
anunciasse. Presidentes sucumbiram durante anos
Uma ex-sem terra desnudou-se ao público mas-
à influência da TV Globo e da família Marinho nos
culino tentando provar que não era tão rude como
destinos do País.
os invadores de bandeirinha vermelha, depois de ser
Poder. Este é o resumo da televisão. Se existiu um
entrevistada pela televisão. Nua, ganhou as paredes
Roberto Marinho dizendo o que devia ou não ser fei-
de oficinas mecânicas e borracharias. Voltou à tele-
to, é sinal que o exemplo de Assis Chateaubriand
visão, onde teve um programa só seu, mas depois foi
frutificou. Herói para muitos, bandido para outros
pilotar caminhão de corrida na Fórmula Truck, na
muitos, o pioneiro da televisão no Brasil, em 1950,
condição de ilustre desconhecida.
sabia exatamente o que queria. Se com rádios, re-
Como negócio, a televisão é cruel para seus servos.
vistas e jornais marcava e desmarcava audiências,
Se alguém proporciona audiência, seja comendo ca-
influía nos negócios do governo, anteviu que com a televisão fatalmente teria mais poder. Teve todo o poder que quis, e como vidraça, recebeu pedras dos esti-
cos de vidro seja engolindo lâminas de barbear, o teatro dos horrores fica indefinidamente no ar. Só dará lugar a outro quadro quando o público disser não.
lingues que lhe atribuem
Nessa hora a televisão
histórias e fatos até os
é impediosa. Demite,
dias de hoje. Nem tudo
expulsa, massacra. Não
o que falam é verdade.
lhe importa o tamanho
Nem tudo é mentira.
do capacho. Quem esteve na te-
Como negócio, a tele-
levisão sabe o que sig-
visão vende o que for colocado no mercado. Walter Clark, que durante muitos anos foi o chefe supremo da televisão brasileira, na Globo, profetizava que se um dia tivesse um negócio
1º.10.2020 |
ministros antes que a Presidência da República os
nifica abandono, esquecimento.
Hilton
Franco
uma vez se queixou que tinha dinheiro suficiente para viver até o fim da vida, mas que ninguém mais
gastaria tudo o que pudesse anunciando na própria
se lembrava dele. Justo ele, Hilton Franco, autor de
Globo. Ele sabia o que dizia. Afastado da televisão
idéias tão “produtivas” omo O Povo na TV, exibido
por ganhar muito dinheiro e ostentar ainda mais,
fora do horário nobre, mas que tinha audiência de
colecionar mulheres e inimigos, tentou a vida em
Jornal Nacional. Houve quem afirmasse que tal es-
outras emissoras, sem o mesmo sucesso. Deixou
quecimento era merecido. Cruel e impiedosa, foi
à história um livro, cheio de ranço, onde se auto-
por sua causa - a televisão - que se criou o retiro
proclama um herói. Foram seus quinze minutos de
dos artistas. Solidariedade ou necessidade, o retiro
fama que duraram anos.
é uma espécie de garantia de sobrevivência, no final
Mulheres disputam aos tapas os segundinhos para
da vida, aos que foram massacrados pela televisão,
mostrar o rosto e a plástica em programas de gosto
e, imprevidentes, gastaram tudo o que ganharam
duvidoso. Da televisão podem chegar às páginas de
quando estavam na moda.
inúmeras revistas dirigidas ao público masculino, e
A televisão, agora com 70 anos de Brasil, levou
do sucesso voltar à televisão para um trabalho mais
menos de 50 para aprender que havia público para
estável. Com o tempo, podem chegar à fama e aos
todos os gostos e gastos. Se repartiu em segmentos.
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Há canais para filmes, divididos por gênero, canais dedicados ao agricultor, aos clipes musicais, e até à venda pura e simples de produtos de eficiênci questionável. Quem imaginaria que haveria espaço para um canal que transmitisse notícias - e somente notícias - dia e noite sem parar? Ted Turner, ex-senhor Jane Fonda, saiu na frente e criou, nos Estados Unidos, a CNN (Cable News Network), passando da condição de milionário para a de biliardário. E foi a CNN que transformou a guerra num show. O jornalista Peter Arnet, da CNN, transmitiu da janela de um hotel de Bagdá, capital do Iraque, a chegada dos mísseis que os americanos jogavam na cabeça do inimigo Sadam Hussein. Era para ser uma guerra, mas mais parecida um espetáculo 76
pirotécnico.
Hoje a CNN tem outros donos, e está em outros países, inclusive no Brasil. Produziu suas crias, como a Globo News, aqui no Brasil, ou a Al Jazira, no Cattar. Diferente do Vietnã, o show de hoje prima pela imagem de destruição e eficiência dos artefatos para matar. A televisão é um show, que atrai atenção, emudece a conversa de visitas, convoca torcida para a final de campeonato. Produz hábitos estranhos, como o de acordar de madrugada por causa de uma corrida de Fórmula Um, ou de diminuir as horas de sono por causa da entrega do Oscar. Transmite sentimentos que calam a consciência. Traz o superlativo como
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algo normal. É o show da vida.
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CENSURADO
Chico Malvadeza Sou o que você quiser
Glorinha Ipê-Roxo
M
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aria da Glória em família. Glorinha entre os amigos. Ipê Roxo para todos. Assim era Glorinha na flor de seus 17 anos, estudante do curso colegial (hoje seria Ensino Mèdio) com notas regulares, e conhecida em toda a escola por usar saia curta demais para o gosto das beatas. E ela não estava nem aí. Não usava sutiã e diziase, nem calcinha. Em casa uma coisa, na rua outra bem diferente. Naqueles anos, a diversão da chamada juventude rebelde era o cinema - havia cinco naquela cidade - ou os bailinhos na garagem, chamados de brincadeiras dançantes. Havia até uma espécie de acordo não escrito: bailinhos no sábado, dia em que casais comprometidos, famílias inteiras até, iam ao cinema. No domingo, cinema pra molecada, onde predominava a bagunça. Glorinha não perdia o fim de semana. No sábado, entregava-se ao esfrega-esfrega com os bonitões que sabiam dançar. No domingo, escolhia outro bonitão para sentar-se ao seu lado. Glorinha não dava pra ninguém. Beijava, deixava que lhe passasem as mãos nas pernas e nos seios e tocava uma punheta para o felizardo na noite. E todo mundo tirava sua casquinha. Acontece que na época surgiu uma teoria, dessas
de almanaque, de que a casca do ipê-roxo curava praticamente todos os males. Pra aumentar a lenda, teve médico que foi à televisão falar das vantagens do chá com com casca de ipê-roxo. Velhas senhoras garantiam que após tomar o chá não sentiam mais as dores do velho reumatismo. Até o gordo Chicão garantia que o chá havia curado sua impotência. A moda pegou, e não demorou para que Juca, companheiro de classe de Glorinha, lhe desse o apelido: já que todo mundo tirava uma casquinha com ela, nada melhor que ipê-roxo. O apelido pegou. Ninguém mais se referia a ela como Glorinha. Era Ipê-Roxo. Na melhor das hipóteses, Glorinha Ipê-Roxo. E ela tinha lá suas regalias. No cinema não precisava pagar ingresso. Sempre havia alguém disposto a bancar a entrada na esperança de ganhar uns afagos. Na escola, Glorinha trocava chocolate por uma punheta no banheiro. Até que um dia a prefeitura resolveu começar uma obra e contratou uma construtora. Vieram os engenheiros, os chefes, os peões. Peão ficava num alojamento feito de madeira, com beliches e refeitório. Chefes e engenheiros ocuparam um hotel que já era mal visto. E num domingo
na padaria, e aí notava os olhares desconfiados das fofoqueiras. Até o padeiro arriscou uma cantada. Glorinha deixou a escola no último ano do Colegial. Precisou ir trabalhar como doméstica, emprego arrajnado pela mãe com uma conhecida, cujo marido era gerente do Banco do Brasil. E ganhava bem. No dia da formatura de sua classe, após o Hino Nacional e os discursos de costume, a rapaziada lembrou que Glorinha fazia falta. E Juca, sarcástico como sempre, teve uma explicação para o destino da mocinha: se ela tivesse ficado só na punheta, não teria engravidado e teria continuado sendo a alegria dos amigos. Juca chegou a dizer que ela era burra, e seus comentários chegaram ao ouvido de Glorinha. Foi então que ela planejou sua vingança. Convenceu a mãe de ficar com o filho num fim de semana e resolveu sair. Foi ao bailinho na casa da Cida, dois quarteirões distante de sua casa. Sua chegada surpreendeu todo mundo. Foi então que Glorinha parou a música, e no silêncio que se seguiu, passou a falar do tamanho do dote de cada um dos presentes. Feito o discurso, arrematou: De pau eu entendo! E o menor era o do Juca, justamente o Juca...
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de cinema, um dos engenheiros, o Samuel, se encantou com a loirice de Glorinha, sem conhecer a história. Investiu na mocinha. Propôs até lhe ensinar matemática, matéria que não era íntima de Glorinha. E os encontros começaram. No começo era na praça. Semanas depois, encontrava-se no fim de semana num restaurante, tomavam chopp e cada um dia para o seu lado. Mais algumas semanas e Glorinha já repartia a cama com o engenheiro no seu hotel. Dizia à mãe que iria dormir na casa de uma amiga. Os antigos amigos sentiram sua falta. Ela, nessa altura, dava total preferência ao engenheiro, que até falava em casamento. Meses depois, a construtora transferiu o engenheiro para uma cidade distante. Glorinha ficou na mão. Pra piorar as coisas, descobriu que estava grávida. Fez o teste numa farmácia de uma cidade vizinha. Entrou em desespero. Procurou o engenheiro, mas não conseguia encontrá-lo. Foi ao alojamento, falou com seus amigos, e nada. A barriga começou a aparecer e aí não teve jeito. Todo mundo soube da gravidez de Glorinha, que quase não saía mais de casa. O pai queria colocá-la pra fora de casa, mas a mãe impediu. Pra mostrar um pouco de remorso, passou a ir às missas no domingo de manhã, junto com a mãe e uma irmã mais nova. Mas os comentários eram de matar. Até que nasceu a criança. A cara do engenheiro, afirmavam as beatas. Só faltou a criança ter nascido com bigode pra ficar igual ao pai. Com criança pequena, foi aí que ela não saiu mais de casa. Vez ou outra ia buscar leite e pão
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