THE PRESIDENT

Page 28

audição mexicano Armando Manzanero. Sem olvidar o produto nacional: João Donato, Leny Andrade, Nana Caymmi, Nara Leão, Tamba Trio, Tom Jobim e grande elenco. Boa parte dos escolhidos era preferência pessoal de Roberto. Ele cresceu com a rebeldia do rock, mas soube dar ouvidos aos roqueiros com mais swing – como Ginger Baker, Traffic e Steely Dan – antes de atirar-se nos braços do jazz. Teria hoje em casa uma discoteca com mais de 3 mil discos de vinil, não houvesse seu irmão Cláudio, à sua revelia, vendido a coleção para um primo espertalhão. Roberto quis adquiri-la de volta. “Desisti para não comprar uma briga de uma geração inteira na família”, resume.

150. Foi Roberto Corte Real, outro dedicado fã de jazz, quem apresentou a seu xará hoteleiro um tarimbado agente de Los Angeles, Harold Jovien, que passou a fazer o meio de campo com os músicos estrangeiros. Quando queria saber se um artista veterano ainda estava ou não em boa forma, Roberto Maksoud telefonava para Leonard Feather, um dos principais historiadores do jazz, que Jovien lhe apresentara. “Desisti da Nina Simone quando me garantiram que ela era encrenqueira”, conta. Já o cantor Mel Tormé fez muitas exigências. Queria que pagassem o combustível de seu jato particular. Não veio. Havia argumentos aliciantes para viabilizar a vinda dos artistas. A começar pelo

preferindo o de serviço, fechado. Isso foi o de menos. Ainda no dia da estreia, no ensaio vespertino, ofendeu os técnicos de som com expressões que corariam Vanderlei Luxemburgo ao instruir a zaga em dia de derrota. Por fim, já com o 150 lotado, negou-se a descer para o show. Chamado a intervir por um funcionário aflito, Roberto ligou para a suíte. “Tim não queria cantar de jeito nenhum”, relembra. No desespero, Roberto queixou-se: “Poxa vida, você está me dando muito mais trabalho que o Sinatra!”. Mágicas palavras. Tim surpreendeu-se: “É mesmo, mermão?”. Em seguida, fez soar uma tonitruante gargalhada e, vingado e feliz, avisou: “Estou descendo!”

Pouco antes do início de seu show, Tim Maia se recusou a cantar. Só topou entrar no palco depois que o dono do hotel lhe disse: “Poxa vida, você está me dando muito mais trabalho que o Sinatra!” Mal sabia que as desavenças entre os Maksoud subiriam de tom até se tornarem estrondosas.

“Você tem de trazer o Bobby Short.” A dica era do consultor financeiro Geraldo Forbes, frequentador assíduo. Roberto Maksoud foi ouvir a opinião do fotógrafo americano David Drew Zingg, radicado no Brasil havia duas décadas. “Traga amanhã mesmo. É o maior saloon singer do mundo!”, referendou o eufórico Zingg. Roberto estava sempre aberto a sugestões. Zuza conta: “Lembro-me de ter indicado a ele o trompetista Les Elgart e Lionel Hampton, que continuavam tocando o fino”. De fato, os dois artistas vieram ao

28

| THEPRESIDENT | 06.2016

aval do escritório de Sinatra. Outra: as passagens aéreas eram bancadas pela Pan Am, que tinha uma parceria com o hotel e, mais tarde, seria substituída pela Varig. Despesas com hospedagem e alimentação ficavam, evidentemente, por conta do Maksoud. Ao artista, restava botar o cheque no bolso, entrar em um dos elevadores panorâmicos e descer ao subsolo, onde ficava o 150. Com ou sem o vinco nas calças. Apesar dessas facilidades, Tim Maia aprontou – quem mais? Sua temporada deveria ser de duas semanas, mas encolheu para quatro shows. O autor de “Vale Tudo” chegou ao hotel furioso. O motor do carro em que viajava do Rio para São Paulo fundiu na via Dutra, e foi preciso pedir carona na estrada. Receoso, Tim não quis subir por elevador panorâmico,

Convencer Bobby Short a vir a São Paulo foi mais fácil, embora até então o cantor e pianista só trocasse o nova-iorquino Café Carlyle, onde se apresentava desde o último degelo, pelo descanso em seu château na Côte d’Azur. Bobby sentiu-se em casa no 150, onde cumpriu nada menos que seis temporadas. “A principal exigência dele era vir ao Brasil na primavera”, diz Roberto, que se tornou amigo do cantor. “Aos poucos, fui descobrindo um Bobby muito brincalhão. Rindo muito, ele me deu de presente um cinzeiro muito cafona com a foto dele mal impressa em preto e branco, souvenir que mandou fazer no Corcovado.” Cada vez mais à vontade no Brasil, Short passou a agregar a Banda 150 às suas apresentações. Encomendou até arranjos ao maestro do grupo, Hector


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.