Revista subversa vol 3 n.º10 dez 2015

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NOITE E LOUCURA EBER S. CHAVES | Vitória da Conquista, BA.

Deus chamou a luz de dia, mas a escuridão chamou de noite. Houve noite e houve manhã no primeiro dia. Noite que a maioria dos seres vivos tem como período de descanso, o que não é o meu caso. Nesse período sombrio, a minha visão fica diminuída, e vêm os ruídos inexplicáveis e visões enevoadas. Naquele determinado momento, durante a rotação da Terra, naquelas horas em que o meu leito encontra-se na parte escura do planeta, vulnerável ao espectro de uma noite invernal, o orvalho forma-se como um depósito de gotas de água resultantes de condensação de vapor na superfície de objetos que permanecem ao ar livre, durante as horas e minutos em que trevas reinam, até que venha o próximo sol. Mas, enquanto não vem o sol, apago a luz do meu quarto no mesmo momento em que o silêncio da noite bate à janela, silêncio apenas quebrado pelo riso das estrelas de um céu enluarado. Desde que era menino, ouvia falar de como, em noites passadas – noites como esta que agora desaba sobre mim –, haviam aprendido a amar a luz de minha lamparina, que para eles tornara-se como uma estrela guia. E, quando os homens insanos não conseguem dormir enquanto não fazem o que é mau, conservo-me imóvel, a natureza dorme, entrego-me ao sono, e não acordarei até que não haja mais estrelas no céu. Nesse momento, Deus me deu um espírito de profundo sono, e olhos para que não vejam e ouvidos para que não ouçam a realidade desperta. Sou liberto do estado de vigília, da consciência, da vida terrena. Entorpeço-me entre imagens oníricas e submerjo

em

conteúdos

profundos

do

inconsciente:

conteúdos

afundados nas regiões abissais da mente, locais de palácios intocáveis,

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