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ENTREVISTA

REVISTA FARMÁCIA PORTUGUESA (RFP): O país entrou na moda nos roteiros internacionais. Lisboa é a capital do mundo mais segura para se viver. Os portugueses vivem melhor? RAMALHO EANES (RE): Penso que sim. Olhando hoje para o país, há uma coisa muito interessante que se deve, nomeadamente, a este Governo. Tínhamos aceitado um pouco acriticamente o princípio da inevitabilidade: éramos um país pobre, tínhamos de continuar a sê-lo, estávamos na cauda da Europa, tínhamos de continuar aí. Esse princípio de inevitabilidade foi posto em causa por esta solução política que mostrou existirem outras soluções e soluções eficazes. Além disso, conseguiu fazer uma coisa fundamental: reconstituir, de alguma maneira, a unidade popular, sem a qual a mobilização em torno de um projecto colectivo e significativo da vida em comum não é possível. Mas não nos podemos esquecer de que há ainda muitos portugueses sem o essencial e é por eles – e por todos – que devemos continuar a defender um Portugal com maior desenvolvimento e estabilidade financeira, com mais justa solidariedade e mais desenvolvimento social. RFP: Preocupa-o o envelhecimento da população? RE: É um problema gravíssimo. A natalidade é baixíssima, o que nos vai trazer problemas de toda a ordem, incluindo económica e social. Dentro de alguns anos, não teremos população suficiente para satisfazer as necessidades de trabalho que a economia determina. E, se não temos população jovem, preparada e capaz, como vamos responder aos desafios da economia digital, da economia verde, da economia circular? Como vamos manter a segurança social? Dentro de poucos anos haverá três trabalhadores para dois reformados. É extremamente preocupante. RFP: Temos também um desequilíbrio territorial. RE: Concentrámos a nossa população no litoral, como se o interior não existisse. E continuamos com uma competitividade extremamente baixa em relação à média europeia. Modificá-la não é fácil, porque exige coisas que não fizemos e investimentos de vulto. Temos infra-estruturas relativamente boas, mas um sistema de educação insuficiente. O desemprego jovem mantém-se alto e, não havendo emprego motivante, os jovens vão para o exterior. Os que vão são os melhores, possivelmente não os melhores academicamente, mas os que têm mais capacidade de arriscar, mais ousadia, uma vocação empreendedora maior.

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ACTUAL SOLUÇÃO POLÍTICA CONSEGUIU UMA COISA FUNDAMENTAL: RECONSTRUIR A UNIDADE POPULAR»


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