PZZ - A MÚSICA TRANSMÓRFICA

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os segredos de Belém: as ruas sombreadas de mangueiras, o Largo da Pólvora, sonolento, com o Theatro da Paz, neoclássico, no meio da verdura, as casas baixas, ajaneladas, de corredor ou puxadinha, os sobrados revestidos de azulejos que brilham ao sol. Mas a recriação poética de Belém, quer como paisagem, quer como meio social - os dois aspectos formando uma só realidade - para exprimir o que ela tem de típico, de característico, de concreta universalidade, baseia-se no aproveitamento das peculiaridades linguísticas regionais. Os modismos, locuções e vocábulos privativos de consumo local, além da forma sintética que a fala nortista adota espontaneamente, permitiram, melhor do que outros aspectos mais estabilizados e mais conhecidos da cultura regional, já em estado de folclore, penetrar na psicologia do povo e na sua maneira de interpretar a vida.

Foram elementos dessa ordem, que fazem parte da linguagem popular (sendo a linguagem um modo de ser, de sentir e de agir), que Dalcídio Jurandir estilizou tanto nos diálogos quanto nas narrativas, valendo-se, ao máximo, do rendimento estético e do valor poético que podem oferecer a sintaxe melodiosa e a riqueza semântica do linguajar nortista. Disso é que se origina, talvez, a poesia elementar, bem terrestre, demasiado humana, que o seu romance transmite, dando livre curso aos sentimentos contraditórios e ao pensamento confuso que a terra amazônica, ainda não subjugada pelo homem, inspira à alma nativa, perplexa e impotente dentro de seu próprio meio. Benedito Nunes em “O Estado de São Paulo”, São Paulo. 25 março. 1961. Suplemento Literário, v.5, n. 121, p.1.

O pequeno mundo que se forma em

torno dos Alcântaras deixa-nos entrever a composição da sociedade belenense, que muito pouco se tem modificado até os dias de hoje.


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