Revista PARQUES E VIDA SELVAGEM n.º 43

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68 EXÓTICOS

Rã-de-unhas-africana

fungo cítrico “Está uma rã amarela na ribeira, já viste?”, comenta a técnica do CEARGaia. “Não será uma rã-verde mais amarelada?” ma pesquisa visual pela ribeira do Espírito Santo (Miramar, Vila Nova de Gaia) não deu resultados. Para além das habituais rãverde (Pelophylax perezi), só tinham sido identificados no local o tritão-de-ventrelaranja (Lissotriton boscai) e a salamandra-depintas-amarelas (Salamandra salamandra). Alguns dias passados e surge uma família na exposição “Fauna e Flora das Ribeiras de Gaia” interessada em saber se existia alguma rã amarela na nossa anfibiofauna, pois tinham acabado de observar uma lá fora na ribeira. Analisada a foto, compreende-se a urgência em capturar aquela rã amarela, uma espécie exótica, ou seja, não nativa do nosso país. Galochas nos pés e camaroeiro na mão, a rã de coloração amarela clara e olhos vermelhos confirmou ser um adulto albino com 10 cm de Xenopus laevis, a rã-de-unhas-africana. Com honras de selo na Tanzânia e Ilhas Comores, e tendo sido o primeiro animal a ser clonado, esta é uma rã originária da África subsariana facilmente identificável. Se não fosse albina apresentaria cor castanha ou olivácea com pequenas manchas. Não possui pálpebras, língua, dentes ou ouvido externo, captando as vibrações pela linha lateral, tal como os peixes. O corpo achatado dorsoventralmente adquire uma forma hidrodinâmica ajudando-a a ser uma boa nadadora, visto ser uma rã aquática. Tem garras negras em três dedos das patas traseiras para ajudar a despedaçar

68 • Parques e Vida Selvagem verão 2013

João L. Teixeira

U

o alimento e uma boca larga que atesta a sua voracidade, alimentando-se de insetos, moluscos, lagostins, peixes e anfíbios. Atingem os 13 cm, sendo as fêmeas maiores que os machos. Devido ao exaustivo estudo e conhecimento da sua biologia é largamente utilizada como modelo em estudos científicos e também para testes de gravidez em humanos (anos 40 e 50), o que explica a sua exportação, dispersão pelo mundo e existência de populações não controladas iniciadas por indivíduos que escaparam de laboratórios. Atualmente, encontra-se dispersa como espécie exótica invasora em França, Sicília, Reino Unido, Alemanha, Holanda, Israel, Chile, México, EUA, Venezuela, Brasil e Indonésia. A introdução desta espécie na natureza representa uma ameaça à conservação dos anfíbios nativos, não só através da competição e da predação mas também por ser um vetor do fungo cítrico (Batrachochytrium dendrobatidis) que provoca

ameaça à a quitridiomicose, fatal para os anfíbios e ao qual esta espécie é imune. Por estes motivos, qualquer indivíduo desta espécie encontrado na natureza deverá ser capturado, mantido em cativeiro e a ocorrência comunicada ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Em Portugal foram já localizadas populações invasoras, em duas ribeiras no concelho de Oeiras, cujo plano de erradicação e deteção de quitridiomicose foi posto em prática pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) desde 2010. Indivíduos albinos desta espécie podem ser encontrados à venda em lojas de aquariofilia, por um módico preço, sem que haja informação de base e teste prévio ao fungo


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