Plural #5

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de ocorrências” aconteceu nos últimos tempos. Os infratores são feridos por civis que se autodenominam “justiceiros”, e desejam fazer justiça com as próprias mãos. Não é uma cena rara, principal-

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mente nas grandes capitais. Um exemplo disso é o caso do jovem negro amarrado a um poste e agredido no Rio de Janeiro, após tentativa de furto no dia 31 de janeiro deste ano. A medida divide opiniões. Há grupos que apoiam a justiça com as próprias mãos, uma vez que, segundo eles, há uma sensação de impunidade, e grupos que são contra agressões, preferindo o julgamento das autoridades. Para Carolina Lima, professora da graduação e pós-graduação em Direito na PUC-SP com ênfase em Direitos Humanos, o que os indivíduos conhe-

consciência da sociedade sobre o seu

professora da PUC-SP sobre o histórico

cidos como “justiceiros” realizam é

papel, que deve ser cada vez mais ativo.

de violência no país. Para ela, os direi-

extremamente prejudicial para a socie-

Como tentativa de diminuir a violên-

tos humanos no Brasil foram, desde o

dade, porque gera um ciclo de violência.

cia no país, Carolina ressalta a impor-

seu início, colocados como favores ou

“Eles estão se igualando aos infratores

tância de uma educação pautada no

como caridade. Não nasceram, como na

e violando a lei, praticando crimes de

humanismo, na cidadania, na alterida-

Europa, em meio a lutas.

lesão corporal e ofensa moral.”

de e na tolerância, e destaca a impor-

Para Fernando Franco Braga Tala-

tância desse tipo de ensinamento ser

rico, professor de história no D’Incao

iniciado desde as escolas de base.

Instituto de Ensino e doutorando em

A professora afirma que, a partir da constituição do Estado Democrático de Direito, o monopólio da justiça pertence

Carolina cita o filósofo alemão The-

História Social pela Faculdade de Filo-

ao poder Judiciário. “Ele vem estrutu-

odor Adorno e seu estudo “Educação

sofia, Letras e Ciências Humanas (FFL-

rado de princípios, e o respeito à digni-

após Auschwitz”, que questiona o que

CH-USP), o fenômeno de civis dese-

dade da pessoa humana é o principal.”

é preciso fazer para que a barbárie da

jando que infratores sejam punidos e

Para não desrespeitar as leis ao pre-

Segunda Guerra Mundial não ocorra

sofram agressões é parte de uma heran-

senciar um abuso, Carolina ressalta que

novamente. Ela afirma que atos desu-

ça nacional. “O Brasil não sofreu uma

o caminho correto é entrar em conta-

manos similares se manifestam quan-

revolução burguesa como os países em

to com as autoridades policiais para

do verificamos os presídios brasileiros

que as forças produtivas e o Estado de

que elas tomem medidas. No entan-

e os atos de barbárie urbana (leia texto

Direito desenvolveram-se plenamente.

to, a professora ressalva: “Vivemos em

à pág. 32). “É a violência se repetindo

Nossa revolução burguesa foi interrom-

um estado burocrático que acaba sendo

de outra forma, em outro contexto e em

pida no meio do caminho. Por isso, nos-

ineficiente e incompetente e que não dá

outra época.”

sas instituições não são propriamente contemporâneas, são arcaicas.”

conta de manter a segurança pública, gerando a insatisfação da sociedade”.

História

Talarico comenta que é preciso mobi-

Ainda em relação à ineficiência da

“O Brasil não viveu uma revolução bur-

lização civil para pressionar os pode-

segurança pública, ela afirma que o

guesa como os países da Europa. Tive-

res públicos a cumprirem com seus

Estado não vai resolver todos os pro-

mos apenas alguns movimentos como a

deveres como solução para a violên-

blemas na área; é necessário uma

Inconfidência Mineira e a Baiana”, diz a

cia brasileira. “Juízes, promotores,


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