Revista Plano B #02

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Enio e a Maloca MÚSICA

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Filho de um cearense e uma paulista, Enio nasceu em São Paulo, mas veio viver e conviver na Bahia. Aqui, se juntou aos "maloqueiros" e criou uma banda. Aos 33 anos, faz questão de lembrar que, além de músico, é pai – sua mais recente e inspiradora experiência: a risonha Liz. Durante a entrevista, faz uma exigência em tom sério: “Pode colocar o nome dela aí!”, e sorri serenamente. Preparando o novo álbum, "Uma Parte do Todo", seis anos depois do disco de estreia, ele diz ter, hoje, os pés no chão. Quando partiu do sudeste brasileiro com sua família, Enio veio morar em um bairro de classe média de Salvador, num condomínio predominantemente residido por brancos. Ainda criança, já conseguia enxergar o que estava a sua volta e criou laços com os meninos da favela do Bate-Facho, que estavam do outro lado do muro. Desenvolveu, assim, uma visão híbrida da vida. “Eu era um cara negro que estava na classe média e só andava misturado com os favelados. Minha mãe falava sempre pra mim: ‘- Enio, pare de andar com esses maloqueiros’”, relembra. Ele cresceu, virou músico e tocou com Netinho, Negra Cor, Alexandre Peixe, Jauperi... Foi daí que tirou seu sustento. Apesar de fazer isso com muito amor, ele tem muito a dizer e, por isso, não poderia ficar calado o tempo todo. Como “Músico também é maloqueiro” (palavras do próprio artista), e lembrando os amigos dos tempos de menino, surgiu a banda independente ‘Enio e a Maloca’. A experiência vivida na infância inspirou o primeiro disco, "Unidade Móvel", lançado em 2006, colocado entre os melhores do ano no cenário musical da Bahia. “Gosto de escrever sobre o cotidiano, as letras das músicas retratam o momento”, afirma Enio. Se no disco de estreia estavam presentes músicas com tom de protesto, agora, seis anos depois, se vê um artista mais tranquilo e convicto de sua arte. Na vida pessoal, ele vive a experiência de ser pai. E diz que já escreveu mais de 30 letras inspiradas na sua pequena Liz. “Estou em um momento da vida que não sou mais tão sonhador. Hoje eu tenho muito 'pé no chão'. Não quero chegar lá na frente sem dar o primeiro passo”, desabafa. Enio explica que a falta de maturidade, não musical, mas para enfrentar o mercado, foi a maior responsável pela lacuna entre o primeiro álbum e o segundo, "Uma Parte do Todo", ainda em fase de produção. “Eu, enquanto artista, tenho dificuldade em transformar a música, que é arte para mim, em produto”, justifica.

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