#30 Poder

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da Força Aérea, o National Mall em Washington, a Oak Ridge e outras obras dependeram - de uma forma ou de outra - de contratos com o governo. Nos últimos anos, houve um retorno ao trabalho para o governo. Recentemente, a SOM indicou Ed Feiner, que durante muitos anos foi o arquitecto encarregado dos General Services Administration (responsável pelas instalações governamentais), para o seu escritório em Washington, DC. Este é, claramente, um sinal do forte interesse em competir por contratos com o governo. De facto, Ed Feiner é agora representante do lobby da SOM. No que diz respeito aos maiores jogadores económicos, a SOM tem uma longa e próxima relação com o mercado americano. Afinal, a SOM é o maior construtor das sedes corporativas americanas dos anos 50 e 60. Estas têm tendência a confiar na SOM para executar grandes trabalhos, a tempo e dentro do orçamento. Este tipo de eficiência é sempre bem-vindo. Terá a SOM uma imagem a manter? Quais são as suas preocupações estilísticas? Claro. Mas, é muito complexo para uma organização falar de preocupações estilísticas em geral. Pode-se explicar em linguagem banal: eles querem fazer boa arquitectura. É verdade que muitos dentro da SOM querem fazer arquitectura experimental e avançada – mas também é verdade que quem está no planeamento do sector dos transportes, por exemplo, quer fazer arquitectura discreta e eficiente. Logo, há um grupo que quer atrair a atenção para si próprio e outro que se afasta desse desejo. Da mesma maneira que, pelos menos até há pouco tempo, havia um grupo que não se intimidava perante fazer um tipo de arquitectura mais comercial e que pensava que fazer essa arquitectura populista era adequado. É realmente difícil - na verdade, impossível – categorizar a organização da forma que vocês sugerem. A SOM não tem produção teórica. Os seus edifícios podem por isso ser considerados vazios de conteúdo? Não há qualquer discurso teórico que apoie o seu trabalho… Incrível, não é? Mas como é que o capital se explica a ele próprio? Ele actua. Não chega? Eu penso que essa é certamente uma parte da razão pela qual, historicamente, há muita pouca coisa escrita acerca da arquitectura da SOM por arquitectos da SOM. Não é que não haja nada. Nathaniel Owings escreveu um pouco sobre o trabalho de arquitectura e Myron Goldsmith fez um trabalho notável

sobre a natureza da escala. Walter Netsh desenvolveu a sua ideia de Teoria de Campo. Há também alguns textos de Adrian Smith sobre a maneira como desenvolve um sentido de contexto em torno do qual desenha os seus edifícios. Então, não diria que não há nenhuma, mas sim que há pouca produção teórica. Não penso que isso queira dizer que os arquitectos da SOM não coloquem questões com implicações teóricas. David Childs trouxe um novo nível teórico na análise de certos assuntos, quando se mudou de Washington para Nova Iorque. E, certamente, Roger Duffy tem convidado à discussão teórica com a criação do SOM Journal. Mas, é justo dizer, que a maioria dos arquitectos não são teóricos notáveis. Dito isto, posso afirmar que a SOM foi desenvolvida para ser uma máquina eficiente de construção e nesse sentido os seus edifícios falam mais alto do que outra coisa qualquer. Em 1935 Owings disse: “Combinando trabalho de grupo, projectos de qualidade, mudança social e sentido de espectáculo, mergulhámos as nossas exigências arquitectónicas num banho de economia razoável, para satisfazer os critérios dos críticos mais cépticos – que não acreditavam ser possível obter simultaneamente economia e estética – provando que eram a mesma coisa”. Ainda hoje, muitos arquitectos conservadores não reconhecem este lema. É a SOM capaz de o manter hoje em dia? Ser económico e esteticamente satisfatório é um desafio difícil. As tentações são todas contrárias: a estética custa dinheiro. Pessoalmente, admiro trabalhos como a Escola de Burr Street de Roger Duffy (2002) ou o Centro de Transportes na Randolph Street (2003) de Peter Ellis, que provam que não é preciso gastar grandes quantias de dinheiro para produzir trabalhos esteticamente satisfatórios. Também me parece que, muito do trabalho realizado na área dos transportes pela SOM para as estações Amtrak, nos Estados Unidos, segue o mesmo lema: estes não são edifícios caros mas conseguem ser elegantes. Mas não devemos iludir-nos: também há edifícios baratos e odiosos ou caros e odiosos. Estes edifícios ficam tristemente anónimos, porque o arquitecto não podia perder tempo suficiente com ele, ou porque o cliente não queria gastar um pouco mais. Se se construir tanto como a SOM, pode-se ver de tudo. E tudo se torna possível.

[março 2007] 18.19


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