Revista Mulher Mais - 2ª Edição

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Em 2012, a cada hora, dez mulheres escondidos. Poucos desconfiavam do que foram vítimas de violência doméstica acontecia, já que eu não tinha coragem no Brasil. O estado da Bahia ficou em de dá a entender ou contar tudo para terceiro lugar no ranking anual do Ligue alguém. Escondia porque tinha vergonha 180, com 931 registros para cada 100 que as pessoas descobrissem a realidade mulheres. A Delegacia Especializada no que eu vivia e também, porque tinha Atendimento a Mulher (Deam), de Feira medo, pois ele me ameaçava.” de Santana, atende uma média de 20 Para, Morana Scher, psicóloga do mulheres por dia. Segundo mostra o Centro de Referência Especializado de Mapa da Violência 2012, em 70% dos Atendimento à Mulher (CREAM) Maria registros de violência contra a mulher Quitéria, em Feira de Santana, a vergonha no Brasil, o agressor é resultado da violência Eu apanhava é o companheiro ou psicológica, a qual pode o cônjuge da vítima. ser considerada uma das praticamente toda Acrescentando os demais mais graves, pois atinge semana, às vezes mais, a autoestima da mulher, vínculos afetivos, como ex-marido, namorado e impedindo-a de sair do outras vezes menos, ex-namorado, o número relacionamento e procurar era um sofrimento sobe para 89%. Ainda, de ajuda. “Muitas vezes, nessas acordo com o estudo, a silencioso. Ele me batia situações, a mulher não residência da mulher é o se sente capaz e também em casa, no quarto, local onde preponderam não encontra nenhum tipo as situações de violência. ninguém sabia, não era de apoio positivo. Tem 71,8% dos incidentes mulheres que passam pelo para ninguém saber. ocorrem dentro de casa, problema sem ninguém permitindo entender que Ele me batia nas costas, da família saber, porque é no âmbito doméstico sentem vergonha de barriga e pernas, sempre terem perdido o sonho onde se geram a maior parte das situações de do casamento perfeito, escolhia os locais violência vivida pelas do ‘felizes para sempre’. mais fáceis de serem mulheres. A comerciante, A maioria delas quando A.S., 45 anos, conviveu chegam ao Centro de escondidos. com esse drama durante Referência, estão muito 12 anos. abaladas psicologicamente, “Foram 12 anos de sofrimento e então trabalhamos a autoestima, o humilhações. No início as agressões autoconceito, para incentivar a saída do aconteciam menos, mas com o passsar ciclo de violência em que elas vivem.” do tempo, elas se tornaram frequentes. Em segundo lugar, a via pública, Eu apanhava praticamente toda semana, com 15,6% dos atendimentos, também às vezes mais, outras vezes menos, era aparece como local de ocorrência dos um sofrimento silencioso. Ele me batia incidentes violentos. Foi assim com em casa, no quarto, ninguém sabia, não C.M., 28 anos, que conviveu cinco anos era para ninguém saber. Ele me batia sofrendo agressões do companheiro e nas costas, barriga e pernas, sempre muitas vezes a violência foi em público. escolhia os locais mais fáceis de serem “Ele sempre foi agressivo, mas na rua

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