Revista Foco 206

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O dente do Chico

rangelcavalcante@uol.com.br

O Domingos, funcionário aposentado da Base Aérea de Fortaleza, montou um bar num terreno cheio de árvores, onde hoje funciona a TV Cidade. Próximo a redações de jornais e emissoras de rádio e TV, o boteco, apelidado de “Copo Sujo”, logo se tornou ponto de encontro de jornalistas e radialistas. Todos os dias, no final do expediente, à sombra de uma grande mangueira, em bancos quebrados e caixotes de madeira, a turma enchia a cara no estabelecimento. Corriam soltos a cachaça, o uísque e a cerveja, sempre acompanhados de tira-gosto de galinha caipira, especialidade da casa. As galinhas faziam parte do cenário, espalhadas pelo terreno, ciscando e colhendo migalhas sob as poucas mesas, por entre as pernas dos frequentadores. Certo dia o jornalista Chico Alves, editor da “Tribuna do Ceará” e um dos assíduos fregueses do “Copo Sujo”, chegou exibindo um sorriso que destacava um luzidio dente de ouro, recentemente colocado. Pois ao morder uma coxinha de galinha o Chico ouviu um estalo e viu o seu precioso canino de ouro caindo ao chão no terreiro e sendo logo engolido por uma das galinhas que ciscavam ao lado e que logo saiu em disparada, metendo-se entre as outras. Foi aí que o Nelson Fahena, o Cirênio Cordeiro, o Pires Saboia, o Newton Sales e vários outros coleguinhas, à frente o próprio Chico, saíram em busca da penosa para resgatar o precioso dente. Não dava para identificá-la em meio às outras, todas parecidas. A solução foi iniciar uma matança de galináceos. Só ao abaterem a sexta galinha foi possível resgatar o precioso dente, encontrado em meio a caroços de milho na moela da vitima. Coroada de êxito a missão-resgate, o Chico Alves aproveitou para anunciar que não iria mais recolocar o dente de ouro. Entendeu, disse, que isso era mesmo muito cafona.

Contando as mangas O Jorge Apparecido Gomes (exige os dois pês), conhecido por Jorge Caçapava, nome da cidade onde nasceu, foi militar, radialista, jogador e árbitro de futebol, comentarista, produtor e repórter, além de muitas outras coisas. E tem muitas histórias para contar. Uma delas tem como cenário o 2º Batalhão de Engenharia de Combate, do Exército, em Pindamonhagaba (SP), onde ele servia em 1968. O quartel era cercado por frondosas mangueiras, que nos finais de ano ficavam carregadas de frutos saborosos. O subcomandante da unidade, o major Novaes, tinha um carinho especial pelo pomar e chegou a baixar uma ordem expressa proibindo qualquer pessoa de colher os frutos sem sua autorização. A punição para os transgressores era dura. Num sábado à tarde, o major resolveu dar uma passada pelo quartel, uma daquelas “incertas”, para ver como corriam as coisas por lá e principalmente para dar uma olhada no mangueiral. Logo ao chegar mandou chamar o comandante da guarda. Enquanto esperava, o major resolveu passear por baixo das mangueiras, que estavam carregadas de mangas madurinhas. Foi quando ouviu um barulhinho estranho. Olhou para cima e deparou-se com o sargento comandante da guarda trepado no alto de uma das árvores. Surpreso, perguntou: – O que o senhor está fazendo aí, Sargento? E o sargento, com a cara mais lisa do mundo, só tentou uma saída: – Major, eu estou contando as mangas para ver se não tiraram nenhuma... Desceu direto para uma temporada de 30 dias no xadrez.

rangel cavalcante

De generais e futebol

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Esta também é do Jorge Caçapava. Conta que serviu com o capitão engenheiro Venâncio, no 6º Batalhão de Engenharia e Construção, na Amazônia. O oficial era um sujeito querido por todos na tropa, um quebra-galho da moçada que dava duro no meio do mato construindo estradas. Era também um craque no futebol, chegando a titular do melhor time da área, o Baré. Também brilhava no futebol de salão. Pois o tempo passou e anos depois de deixar a Amazônia, o Caçapava encontra o engenheiro Venâncio, já coronel, numa reunião social em Brasília. Foi um encontro festivo, muito abraço e muita lembrança. No meio da conversa o jovem coronel revelou que abandonara há tempos o futebol, e principalmente o futebol de salão. Era agora um famoso tenista, chegando até a professor da Academia de Tênis de Brasília, onde servia atualmente, e tinha medalhas de campeão das Forças Armadas. Surpreso, o Caçapava quis saber o que levou o craque de futebol a tornar-se num tenista de renome. O coronel Venâncio fez um sorriso maroto e esclareceu: – Ora, Caçapava, você já viu General jogando futebol? Parecia que estava adivinhando. Pouco tempo depois foi promovido a general.


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